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Saberes interdisciplinares aplicados em coleção de moda inclusiva para portadores de monoplegia / Interdisciplinary knowledge applied in an inclusive fashion collection for people with monoplegia

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Saberes interdisciplinares aplicados em coleção de moda inclusiva para

portadores de monoplegia

Interdisciplinary knowledge applied in an inclusive fashion collection for people

with monoplegia

DOI:10.34117/bjdv6n11-060

Recebimento dos originais: 04/10/2020 Aceitação para publicação: 04/11/2020

Danielle Silva Simões-Borgiani Doutora

Instituição De Atuação Atual: UFPE – Universidade Federal De Pernambuco Endereço: Av. Marielle Franco, S/N-Km 59–Nova Caruaru, PE, 55014-900

E-mail: danielle.ssimoes@ufpe.br Aldair da Silva Santos

Graduando

Instituição De Atuação Atual: SENAC – PE

Endereço: 2ª travessa Antônio da Costa Azevedo, N 37, peixinhos/Olinda E-mail: aldairssantos37@gmail.com

Helen Gomes Frade Mestrado

Instituição De Atuação Atual: UFPE

Endereço: Avenida Professor Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária, Recife/PE E-mail: helen.frade@gmail.com

Jessica Maria Thayane Sales Rocha Graduanda

Endereço: Rua general Joaquim Inácio ,830 - Ilha do leite - Recife E-mail: jessicaffiori@gmail.com

Mônica Cristina Tanaka Bacharel

Endereço: Rua Visconde de Barbacena, 299/004 Várzea - Recife - PE CEP - 50740-445

E-mail: monicatanaka2010@gmail.com Rafaela Vandevelde Bezerra Cavalcanti

Bacharel

Endereço: rua Dr Odilon Lima, 101, Afogados E-mail: rafaelavandevelde@gmail.com

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 RESUMO

Este artigo apresenta o resultado de uma coleção experimental de moda inclusiva para portadores de monoplegia. Foi desenvolvida uma coleção com 20 croquis atendendo aos segmentos festa, casual, praia, e moda intima. Realizou-se estudo de caso com portadora de monoplegia para entender melhor desejos, limitações e rotina em relação as roupas e manejo. Na concepção da coleção utilizou-se conhecimentos integrados de forma interdisciplinar de ergonomia, tecnologia têxtil, estética da indumentaria, modelagem tridimensional e desenho de moda. Destaca-se aqui o uso da metodologia OIKOS na avaliação da usabilidade das peças.

Palavras-chave: moda inclusiva, prática interdisciplinar, ergonomia aplicada a moda. ABSTRACT

This article presents the result of an experimental collection of inclusive fashion for people with monoplegia. A collection with 20 sketches was developed, catering to the party, casual, beach, and underwear segments. A case study was carried out with a monoplegic patient to better understand desires, limitations and routine in relation to clothes and handling. In designing the collection, interdisciplinary integrated knowledge of ergonomics, textile technology, clothing aesthetics, three-dimensional modeling and fashion design were used. The use of the OIKOS methodology in the evaluation of the usability of the parts is highlighted here.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 1 INTRODUÇÃO

De acordo com o IBGE (2010), 23,9% dos brasileiros apresentam alguma deficiência (auditiva, visual, motora ou mental) e desses, 7% (13,2 milhões de pessoas) apresentam deficiência motora. Dentre as deficiências motoras, selecionamos para estudo a monoplegia (paralisia de apenas um membro).

Amplamente se discute inclusão, formas, caminhos, mas ainda é preciso ampliar o olhar, as pesquisas, os produtos e espaços destinados a pessoas com deficiência ou sem.

Quando se fala de inclusão, deve se atualizar conceitos e reflexões que inicialmente eram de integração ou segregação, mas não propriamente inclusão. A inclusão ideal é aquela em que transitam juntos nos mesmos ambientes, com as devidas adaptações as suas necessidades todas as pessoas (Figura 1).

Figura 1. Infográfico de inclusão, exclusão, segregação e integração.

Fonte: RABELO, 2015.

Rabelo (2015) reflete sobre inclusão (ideal)

“A sociedade assume que cada pessoa tem as suas necessidades próprias, muito mais se tem características especiais, como é o caso dos deficientes (independentemente do tipo ou grau de deficiência, motora ou cognitiva). Recebe-os e adequa-se a cada um, evoluindo sempre para o bem-estar de todos. Não olha de forma diferente para ninguém, sabendo à partida que é na diversidade que está a riqueza. Aqui, o esforço é feito por todos os cidadãos, com e sem deficiência”.

Diante dessa necessidade de incluir, evoluir enquanto sociedade, é urgente repensar práticas, políticas públicas, ambientes, vestuário possíveis de atender aos que possuem a deficiência ou não. O

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 objetivo deve ser inclui-los sem distinção, para que de fato se sintam parte e não segregados ou integrados como recorrentemente essas pessoas se sentem.

A moda inclusiva tem como finalidade aproximar pessoas de forma a humanizar a moda (GONÇALVES, 2013).

Para Simões-Borgiani et al (2015, p.2):

“na perspectiva de um novo olhar, a necessidade de incluir ultrapassou a barreira do modismo, se tornando uma necessidade real e até mesmo uma oportunidade de negócio, a moda inclusiva torna-se imperativa nas sociedades atuais”.

Existe no mercado, uma escassez de produtos destinados a estas pessoas portadoras de alguma deficiência. Ao iniciar a pesquisa, identificou-se poucos ou quase nenhum produto disponível, ficando então essas pessoas à mercê de adaptações a serem feitas após a aquisição do produto. Ou optando por encomendar roupas sob medida, sem poder ao menos, vivenciar a experiencia da compra em lojas comuns.

Assim, essa pesquisa foi se delimitando em atender a necessidade especial de portadora de monoplegia decorrente de um AVC, tendo como objetivo principal respeitar as características e necessidades de pessoa, usabilidade, manejos, acondicionamentos. Para tanto, de forma integradora e interdisciplinar constitui-se o arcabouço da mesma com saberes da ergonomia, tecnologia têxtil, modelagem, história e estética da indumentaria e desenho de moda.

Como resultado desenvolveu-se uma coleção para vários segmentos da moda (casual, festa, praia, lingerie) com fins de atender os portadores de monoplegia. Aqui será apresentada a coleção moda festa, com referências da indumentária egípcia. E considerando o conceito de moda inclusiva, essa coleção pode vestir as portadoras de monoplegia mas também pode ser utilizada por mulheres que não possuam essa deficiência.

Os principais aspectos que nortearam a criação da referida coleção são: autonomia, conforto e elegância. Buscou-se o resgate da autoestima por intermédio do produto de vestuário pela sua viabilidade como uma alternativa para minimizar os impactos que os padrões de beleza podem causar, dentre eles, o preconceito e os estereótipos quanto ao corpo ‘não perfeito’.

2 UM OLHAR HOLÍSTICO ATRAVÉS DA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR: O PROJETO DE MODA INCLUSIVA NA GRADUAÇÃO EM DESIGN

O projeto de moda inclusiva, teve início em 2012 como prática interdisciplinar de tema transversal na graduação em Design de Moda. Aplicado no primeiro período do curso, tinha como

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 objetivo levar os alunos ao amadurecimento, reflexão e prática de saberes relacionados as disciplinas cursadas no primeiro período, bem como, fomentar uma visão responsável, contemporânea e social do mundo contemporâneo sob a perspectiva do campo de atuação do designer.

A prática interdisciplinar integrada na formação curricular que propõe aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos em situações que estimulam a prática profissional. É uma sistematização dos conceitos estudados através do desenvolvimento de competências construídas durante o período letivo (FALCÃO, C.; SIMÕES-BORGIANI, D. S., 2016).

A proposta apresenta a aprendizagem mediada, foco no aprendiz, construção coletiva do conhecimento para conduzir o aluno a ‘aprender a fazer’, ‘aprender a conviver’, ‘aprender a conhecer’ e ‘aprender a ser’, segundo pressupostos de Delors (1998) [Figura 1].

Figura 1. Pressupostos de Delors (DELORS, 1998).

Vasconcelos & Borgiani (2020, p.78454) apontam que “fazer o outro aprender por competências que são desenvolvidas é lhe aproximar de seu mundo real, conectar saberes, oportunizar o pensamento crítico, vivências pessoais”.

O desenvolvimento de competências, é uma necessidade vital e pode ser aprimorada quando os saberes são integrados, interdisciplinares ou multidisciplinares. Na prática pedagógica, isso também favorece a construção de conhecimentos mesmo em disciplinas e/ou conteúdos que o aluno possa ter menos afinidade ou interesse por questões de gosto ou interesse pessoal. Como ele percebe que aquele

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 conteúdo faz parte do todo e é importante, naturalmente ele tem que conhecer e se apropriar para seguir o projeto.

A sala de aula deve ser um espelho da sociedade. KÜLLER & RODRIGO (2012) alertam que a convivência em sociedade, o trabalho, problemas inusitados da vida e até os cotidianos requerem competências e estas são formadas por vários saberes, não por conhecimentos/áreas isoladas.

O que distinguirá a situação de aprendizagem dos desafios reais da existência, do trabalho e da convivência é o fato de que, na aprendizagem, a vivência é controlada e protegida. Nela, a consequência do erro ou do acerto é uma oportunidade de reflexão e de melhoria. A situação de aprendizagem deverá permitir o ensaio descompromissado com resultados imediatos, a reflexão constante sobre a ação e a experimentação repetida e aperfeiçoada. (KÜLLER & RODRIGO, 2012, p. 6)

Partindo destes pressupostos e baseados nas competências desenvolvidas ao longo do primeiro período nas disciplinas: ergonomia aplicada ao vestuário, metodologia científica, tecnologia têxtil, desenho de moda, modelagem tridimensional e história da arte e estética da indumentária, os alunos têm um arcabouço de conteúdos e reflexões para desenvolver o projeto de moda inclusiva.

Ao iniciar o período, os alunos recebem as diretrizes do projeto que contemplam as etapas do projeto, a relação com cada disciplina, o processo avaliativo, as condições da formação das equipes, a indicação do professor líder, além dos objetivos do projeto. Os alunos trabalham em equipes de 5 alunos, o que também é um dos propósitos do projeto: desenvolver o senso crítico e com maturidade diante de grupos de trabalho (Quadro 01).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Quadro 1. Relação das unidades temáticas nos objetivos específicos do projeto (parte do documento que contempla diretrizes gerais do projeto).

Objetivo Geral

Planejar uma coleção de moda inclusiva com referências históricas.

Objetivos Específicos

Unidade Temática Objetivo Específico

História da Arte e Estética da Indumentária

Contribuir para a reflexão da construção do vestuário do ponto de vista da história, bem como fornecer elementos estéticos para a criação de uma mini-coleção.

Ergonomia aplicada ao Vestuário

Fornecer ferramentas para o planejamento e desenvolvimento de uma mini-coleção de moda inclusiva. Essa mini-coleção deverá atender às necessidades especiais do vestuário de um determinado público alvo.

Metodologia da Pesquisa

Fornecer bases para redação acadêmica do projeto

Desenho de Moda Subsidiar o desenvolvimento dos croquis de uma mini-coleção de

moda inclusiva. Os croquis serão desenhados utilizando as ferramentas do desenho de moda estilizado.

Modelagem Tridimensional

Construir a modelagem adaptada às necessidades especiais do vestuário.

Tecnologia Têxtil Fornecer ferramentas para identificação de tecidos adequados às

necessidades especiais do vestuário.

Fonte: (FALCÃO, C.; SIMÕES-BORGIANI, D. S., 2016).

A moda inclusiva é o conteúdo transversal apresentado como um problema que os alunos devem desenvolver através da junção destes conhecimentos das disciplinas. Cada equipe escolhe uma necessidade especial permanente para estudar, interpretar e avaliar condições de uso da peça a ser desenvolvida e apresentada ao final.

“A moda inclusiva não pode ser tratada como segregadora, diante disso a proposta é usar tecidos e estéticas similares aos da moda tradicional a fim de que a pessoa com necessidade especial sinta-se tão parte quanto qualquer pessoa comum na sociedade.” (FALCÃO, C.; SIMÕES-BORGIANI, D. S., 2016).

Um pré-projeto (primeira fase) é desenvolvido e consiste em um resumo expandido, no qual o aluno expõe as referencias da necessidade especial, moda inclusiva e a referência histórica estética da coleção. Ainda são apresentados 5 croquis de roupas de festa para a necessidade especial estudada. Na pesquisa à necessidade especial, os alunos aplicam o método OIKOS e apresentam o resultado do mesmo no texto

Na segunda fase os alunos iniciam a execução de uma das peças apresentadas no pré-projeto. Existe uma escolha embasada de materiais têxteis respeitando as condições da necessidade especial, bem como da modelagem, tipos de costura e afins. Sempre o conforto e adequação ao uso são os guias para escolhas, adaptações e decisões do grupo.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 3 METODOLOGIA

Partindo dos desafios da prática interdisciplinar na formação do primeiro período do curso de Design de Moda, foi escolhida a monoplegia como necessidade especial a ser estudada e atendida pelo projeto.

Esta pesquisa quanto a natureza foi aplicada, uma vez que “objetiva gerar conhecimentos para aplicação de práticas dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais” (Silva & Menezes, 2003).

A abordagem do problema foi qualitativa. Consistiu também de estudo de caso. Do ponto de vista dos objetivos, esta pesquisa foi exploratória, que segundo Gil (1991 apud Silva & Menezes, 2001) proporciona familiaridade com problema para torná-lo explicito. E envolve levantamento bibliográfico, entrevistas, análise de exemplos e estudo de caso.

A Delimitação metodológica e protocolos utilizados consolidaram a coleção de moda festa para portadores de monoplegia aqui apresentada.

Foi realizada entrevista com portadora de monoplegia do membro superior direto, decorrente de um AVC, analisamos suas dificuldades quanto ao vestuário. Foi identificado que a queixa principal da entrevistada era vestir-se e despir-se, necessitando receber, portanto, ajuda de familiares. Essa coleta de informações foi utilizada como parâmetro para as adaptações das modelagens das peças criadas na coleção de moda festa. Bem como, foi utilizada na interpretação da metodologia OIKOS.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante dos levantamentos teóricos sobre a monoplegia, estudo de caso, bem como junção dos conhecimentos de ergonomia, modelagem, têxtil e história e estética da indumentaria iniciou-se o delineamento da coleção que foi apresentada como resultado do projeto integrador.

Foi produzida uma coleção que permite ao usuário perceber visualmente suas propriedades, como: detalhes de tecidos, aviamentos, modelagens, caimento, elasticidade e função a que se destina. Segundo Matos et al. (2007) e Pucci (2010), portadores de deficiência motora possuem grande interesse pela estética do vestuário, sendo esse elemento um fator decisivo na aquisição da peça (Figura 2).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Figura 2.Croquis da coleção moda festa para portadoras de monoplegia.

Fonte: autores da pesquisa.

Segundo Barnard (2002), o ato de vestir-se é uma atividade simples da vida diária, na qual o sujeito com deficiência não tem autonomia, pois depende de familiares e amigos ou de profissionais que o auxilie.

Entender o uso de um artefato e quais características influenciam a usabilidade e a percepção de desconforto/esforço permite obter parâmetros mais robustos para o design e que satisfaça as necessidades e expectativas do usuário (PASCOARELLI, et all, 2019).

Para os portadores de monoplegia o comprometimento das funções táteis do membro afetado pela paralisia confere uma diminuição da autonomia e dificuldade de manejo em alguns materiais (tecidos).

Essas são funções táteis fundamentais na experiência do vestuário com relação aos tecidos, costuras, acabamentos, entre outros, e sua falta compromete as funções motoras, como fechar um botão, ou puxar um zíper (BROGIN et al.,2015).

Outras dificuldades observadas foram roupas que possuem tecidos “moles”, exemplo a malha; dificuldades em abotoar, fechar zíperes; dificuldades em vestir roupa de peça única, como alguns vestidos, devido ao seu “peso” e “maleabilidade”.

A coleção proposta foi inspirada na indumentária egípcia, caracterizadas com fendas, roupas justas e com decotes, cortes retos, drapeado, foram utilizados para a composição da coleção. As cores escolhidas fazem uma alusão as cores mais utilizadas na maquiagem egípcia (quadro 02).

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Quadro 2.Adaptações das roupas, da coleção moda festa, para portadores de monoplegia.

Roupas Adaptações Tecido

Blusa e saia para facilitar o vestir e desvestir. Saia envelope, drapeada, fechamento com botões de

pressão embutidos no drapeado frontal. Pala/pelerine móvel que

veste pela cabeça.

Blusa: crepe Saia: crepe Pelerine: veludo de seda

Blusa com velcro e colchetes na lateral direita e saia envelope, drapeada, com botão de pressão por baixo

do drapeado

Blusa: shantung e tela Saia: crepe

Corselete: fechamento por botões com casa elástica.

Apoiado por velcro internamente.

Saia envelope com botões de pressão embutidos no lado

esquerdo e direito.

Corselete: shantung, crepe, renda

Saia envelope: crepe

Vestido: com elástico na parte superior das costas, aberto na parte de trás do pescoço e com botão de pressão para fechar. O cinto é

ajustável, também com botões de pressão.

Vestido: crepe Cinto: shantung

Fonte: elaborado pelos autores.

Como apresentado no quadro 2, houve substituição de zíperes, adaptação dos botões, divisão da roupa em duas peças.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 O desenvolvimento das peças envolveu a etapa de prototipagem realizada pela técnica da modelagem tridimensional (figura 2).

Figura 2. Modelagem de uma das roupas da coleção, baseada na indumentária egípcia.

Fonte: autores da pesquisa.

Após aprovação da modelagem, foi desenvolvido o protótipo (figura 3) com os tecidos propostos para a peça final. Assim foi possível perceber se seriam necessários ajustes ou modificações no modelo proposto.

Figura 3. Peça realizada em tecido final.

Fonte: fotografia de Idiane Oli

Neste projeto, utilizou-se a metodologia OIKOS para desenvolver a peça considerando também a ergonomia de concepção. Segundo Martins (2008), o vestuário ergonomicamente correto deve contemplar 5 propriedades ergonômicas de usabilidade e conforto. Considerando as propriedades e a avaliação da usabilidade nas peças propostas nesta coleção, apontamos vários itens como realizados (quadro 3).

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Quadro 3.Avaliação da usabilidade das peças. Adaptado da metodologia OIKOS.

Propriedades ergonômicas – usabilidade e conforto

Avaliação de usabilidade Relação na coleção

1. Facilidade de manejo

Facilidade em vestir Blusa e saia deixam a roupa mais leve que vestido. Abertura total da peça facilita vestir.

Facilidade em desvestir Blusa e saia deixam a roupa mais leve que vestido. Abertura total da peça facilita vestir.

Acionamento e pega dos aviamentos

Utilização de botões de pressão para facilitar a pega e acionamento.

Pega e manuseio dos aviamentos

Utilização de botões de pressão para facilitar a pega e acionamento.

Exige pouco esforço na manipulação

Por serem peças separadas, saia e blusa, tem menos peso e são mais fáceis de manipular

Materiais dos aviamentos Escolhidos os melhores disponíveis no mercado local Materiais adequados para

uso

Tecido e acabamentos adequados para roupas de festa. Tecido leve adequado a necessidade especial. Acabamento dos aviamentos -

Facilidade para acondicionar Leves, peças separadas. Fáceis de acondicionar o corpo, respeitam as medidas antropométricas. Facilidade durante o uso Fácil de vestir e desvestir e usar. Mobilidade durante o uso. Fendas permitem maior

mobilidade. Blusas sem mangas dão liberdade aos movimentos. 2. Facilidade

de

manutenção

Facilidade de limpeza Tecidos retém pouca sujeira. Fáceis de lavar e manter por conservar as cores e formas. Qualidade dos aviamentos e

componentes

Escolhidos os melhores disponíveis no mercado local Eficácia na limpeza Não retém resíduos.

As instruções contidas no produto são claras

Etiqueta explicativa de conservação e uso acompanham a peça 3. Facilidade de assimilação A forma do produto, aviamentos e componentes sugerem sua função

Sim.

Dispensa instruções de uso Sim Os cuidados indicados de manutenção para a peça

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nas etiquetas

4. Segurança Resistencia a fungos, ácaros, bactérias e umidade

Não Aviamentos sem bordas vivas

Sim Tecido não inflamável - Cós, punhos e golas não prejudicam a circulação

Não se aplica. A modelagem permite

mobilidade e alcance

Sim Tecido que permite transpiração Sim 5. Indicadores de usabilidade (Jordan)

Consistência (em relação as tarefas realizadas)

Sim. Compatibilidade com

usuário (em relação ao uso)

Sim. Clareza visual em relação ao

produto

Sim

Priorização da informação Não se aplica Transferência da tecnologia

(aplicação adequada)

Sim. 6. Conforto Contato do tecido com a pele

– toque

Tecidos macios. Contato do tecido com a pele

– abrasão.

Não Contato do tecido com a pele – maciez Tecidos macios. Peso Em harmonia. Caimento Atende. Corte Apropriados. Flexibilidade Sim Elasticidade Sim Cizalhamento Não

Fonte: elaborado pelos autores.

Segundo Watkinson (2013), a ergonomia e a usabilidade quando estão presentes nos produtos possibilitam que o consumidor satisfaça seus objetivos e expectativas com o produto. A peça pode ser utilizada tanto para portadoras de monoplegia, quanto para pessoas sem deficiência. O vestir e desvestir, além de facilidade de manejo, foram testados pela modelo simulando a limitação em um dos braços (figura 4).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Figura 4. Usabilidade da peça .

Fonte: fotografia de Idiane Oli

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A moda inclusiva é o tema de várias pesquisas que vêm surgindo na atualidade, mas ainda apresenta resultados tímidos em relação as opções de roupas disponíveis no mercado. Esse fato vem gerando muita preocupação no meio científico e educacional, pois é a realidade de uma grande parcela da população, que não encontra vestuário com o design apropriado.

As soluções que os deficientes encontram rotineiramente são fazer as roupas sob medida, o que lhe tolhe a autonomia de comprar roupas em lojas comuns.

Com este estudo experimental, percebe-se que não distante, a moda inclusiva pode sim estar presente em diversas peças do vestuário, incluindo a estética adequada ao meio comum. O que motivou também a pesquisa foi que outras soluções de moda inclusiva, muitas vezes evidenciavam deficiências e tornavam as roupas caricatas ou não comuns comparadas as outras usadas por pessoas sem deficiências, podendo contribuir para segregação social ao invés da inclusão plena.

Percebeu-se que a pratica interdisciplinar integradora de conteúdo e saberes, foi fundamental para o desenvolvimento do projeto da coleção bem como para aprendizagem efetiva do grupo de discentes envolvidos na pesquisa. Um olhar holístico sobre a necessidade especial, características ergonômicas para suprir a modelagem tridimensional, estudo de tecidos, representação visual, e referências históricas para concepção da coleção foram fomentadoras do projeto final apresentado.

Como toda pesquisa, em qualquer área, é fundamental ampliar e atualizar as discussões, para o engrandecimento de soluções cada vez mais eficazes.

A partir do momento que ampliarmos a pesquisa e discussão na área, estaremos fomentando integrar essas pessoas com alguma deficiência em uma sociedade inclusiva. Além disso, é um possível modelo de negócio com grande potencial à espera de seu desenvolvimento.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 REFERÊNCIAS

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GONÇALVES, L. P.. Roupas para pessoas com deficiência, estudo de caso sobre a influência das roupas no comportamental dessas pessoas, uma reflexão sobre inclusão e moda.In: Colóquio de moda, 9, Fortaleza, Anais: Fortaleza, 2013.

KÜLLER, J. A.; RODRIGO, N. de F. Uma metodologia de desenvolvimento de competências. B. Tec. Senac. Rio de Janeiro, v.38, n 1, jan-abr, 2012.

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MATOS, A. L. B.; SILVA, C.M.S. da; SILVA, M.L.; CUNHA, J. Elaboração de vestuário para portadores de desabilidade física sob a perspectiva do design. Universidade do Minho, 2007. Disponível em: <http://fido.palermo.edu/ servicios_dyc/encuentro2007/02_auspicios_ publicaciones/actas_diseno/articulos_pdf/A6 002. pdf>. Acesso em: 17 abr. 2016.

PASCOARELLI, L.C.; MEDOLA, F. O.; BOTURA JR, G.; GARCIA, L.J.; OLIVEIRA. J.; FIGLIOLIA, A. C.; SANTOS, A. D.P. Avaliação de usabilidade e percepção de esforço/desconforto durante a operação de artefato de uso doméstico: a influência do design do produto. Brazilian Journal Development. Curitiba, v.5, n.8, p. 12788 – 12804., 2019. DOI: https://doi.org/10.34117/bjdv5n8-107. PUCCI, Claudio R. S. Moda para deficientes físicos une ciência e estilo. 2010. Disponível em:

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.85014-85029, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Design Proceedings, vol. 2, num. 1]. São Paulo: Blucher, 2015. ISSN 2318-6968, DOI

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WATKINSON, Matt. The ten principles behind great customer experience. UK: Publishing Financial Times, 2013. 240 p.

Imagem

Figura 1. Infográfico de inclusão, exclusão, segregação e integração.
Figura 1. Pressupostos de Delors (DELORS, 1998).
Figura 2.Croquis da coleção moda festa para portadoras de monoplegia.
Figura 2. Modelagem de uma das roupas da coleção, baseada na indumentária egípcia.
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