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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA Nº HABEAS CORPUS

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

HABEAS CORPUS Nº 108319 - RJ

RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO

PACTE.(S) : MAURO BEZNOS

IMPTE.(S) : RAFAEL LUIZ DUQUE ESTRADA E OUTRO(A/S)

COATOR

: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Senhor Ministro-Relator:

1.

Trata-se de habeas corpus impetrado contra acórdão da Quinta Turma

do Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem no HC nº 131836/RJ, nos

termos da seguinte ementa:

HABEAS CORPUS’. QUADRILHA E CORRUPÇÃO ATIVA (ARTIGOS 288 E 333 DO CÓDIGO PENAL). APONTADA DISCREPÂNCIA ENTRE OS OFÍCIOS ENVIADOS ÀS OPERADORAS DE TELEFONIA E AS DECISÕES JUDICIAIS QUE AUTORIZARAM AS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. INOCORRÊNCIA. REQUERIMENTO EXPRESSO DE FORNECIMENTO DE CONTAS REVERSAS E DADOS CADASTRAIS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. PEDIDO DEFERIDO PELO MAGISTRADO. NULIDADE NÃO CONFIGURADA.

(2)

1. Extrai-se dos autos que desde a primeira manifestação do Ministério Público no sentido de obter dados telefônicos sigilosos, foram requeridas cópias de contas reversas, que nada mais são do que o detalhamento dos números a partir dos quais foram efetuadas ligações para determinado telefone, providência reiterada nas demais solicitações de diligências feitas pelo órgão ministerial.

2. A identificação dos terminais que mantiveram contato com os telefones interceptados, além do fornecimento dos respectivos dados cadastrais, constituíram medidas que foram efetivamente autorizadas pela decisão judicial, que acolheu todos os pedidos formulados pelo ‘Parquet’, dentre os quais se inseria o envio, por parte das operadoras de telefonia, das contas reversas de vários números, que, como dito alhures, constituem o detalhamento das linhas a partir das quais foram efetuadas ligações para determinado telefone.

3. Não há que se falar, portanto, em nulidade das informações cadastrais do paciente obtidas a partir da identificação de conversas que manteve com corréu cujo

sigilo das comunicações telefônicas estava afastado, e que culminaram com a interceptação de seu telefone e com a sua inclusão nas investigações e na ação penal em questão.

4. Em arremate, frise-se que o inciso XII do artigo 5º da Constituição Federal assegura o sigilo das comunicações telefônicas, nas quais, por óbvio, não se inserem os dados cadastrais do titular de linha de telefone celular. Precedente.

INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS REALIZADAS PELA COORDENADORIA DE INTELIGÊNCIA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DA SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - CISPEN. APONTADA INCOMPETÊNCIA DO ÓRGÃO PARA EFETIVAR A MEDIDA, CUJA ATRIBUIÇÃO SERIA EXCLUSIVA DA AUTORIDADE POLICIAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ARTIGO 6º DA LEI 9.296/1996. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE.

1. Dos artigos 6º e 7º da Lei 9.296/1996, não há como extrair que a autoridade policial seja a única autorizada a proceder às interceptações telefônicas, até mesmo porque o legislador não teria como antever, diante das diferentes realidades encontradas nas unidades da Federação, quais órgãos ou unidades administrativas teriam a estrutura necessária, ou mesmo as maiores e melhores condições para executar a medida.

2. Esta Corte Superior já decidiu que não se pode interpretar de maneira restrita o artigo 6º da Lei 9.296/1996, sob pena de se inviabilizar a efetivação de interceptações telefônicas. 3. Na hipótese dos autos, no pedido de interceptação formulado pelo Ministério Público, o próprio órgão ministerial indicou o Centro de Inteligência do Sistema Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro - CISPEN como responsável pelo monitoramento e gravação das comunicações telefônicas, o que foi deferido pelo Juízo, constando expressamente dos ofícios expedidos.

4. Verifica-se, ainda, que embora a CISPEN tenha centralizado a efetivação das interceptações telefônicas, houve a participação de delegado de polícia nas diligências. BUSCA E APREENSÃO REALIZADA POR POLICIAIS MILITARES. ARGUIÇÃO DE NECESSIDADE DE EFETIVAÇÃO DA MEDIDA POR AUTORIDADE POLICIAL. INDIGITADA OFENSA AO ARTIGO 144 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MÁCULA NÃO CONSTATADA. ORDEM DENEGADA.

1. Da decisão judicial que autorizou a busca e apreensão e do respectivo mandado não se retira a exclusividade da execução da medida por autoridade policial, a quem inclusive se franqueia a requisição de auxílio.

2. A realização de busca e apreensão por policiais militares não ofende o artigo 144 da Constituição Federal, não podendo ser acoimada de ilícita a prova que resulte do

cumprimento do mandado por referidas autoridades. Precedentes do STF. 3. Ordem denegada.”

(3)

2.

O paciente foi denunciado por infração aos artigos 288 e 333, ambos do

Código Penal. Segundo a peça acusatória, teria se associado a outros 45 (quarenta e

cinco) corréus com o propósito de praticar crimes, em especial delitos contra a ordem

tributária. Impetrado habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de

Janeiro, a ordem foi denegada. Posteriormente, impetrou-se habeas corpus no

Superior Tribunal de Justiça, que também denegou a ordem e cujo acórdão ora se

impugna.

3.

Alegam os impetrantes, em suma, que no início das investigações o

magistrado deferiu a quebra do sigilo telefônico de apenas três investigados, dentre os

quais não figurava o paciente. Todavia, em cumprimento a essa decisão, o cartório

judicial expediu ofício requisitando, além da interceptação das conversas mantidas por

meio das linhas indicadas, a localização dos telefones alvos; a interceptação em tempo

real das mensagens de texto enviadas e recebidas; a emissão da conta detalhada; e a

identificação dos terminais que mantivessem contato com os telefones interceptados,

fornecendo os dados cadastrais das linhas. Assim, entendem que a medida não foi

autorizada pela autoridade competente e, em consequência, a ilegalidade das

interceptações telefônicas realizadas na linha utilizada pelo paciente.

4.

Aduzem que as interceptações foram realizadas pela Coordenadoria de

Inteligência do Sistema Penitenciário da Secretaria de Administração Penitenciária do

Estado do Rio de Janeiro – CISPEN, órgão desprovido dessa atribuição, que é

exclusiva da autoridade policial (Lei nº 9.296/1996). Asseveram, por outro lado, que a

busca e apreensão realizada na residência do paciente foi feita tão somente por

policiais militares, sem acompanhamento de delegado de polícia, razão pela qual seria

nula, já que a polícia militar não teria a atribuição da polícia judiciária. Pretendem,

assim, a anulação da quebra do sigilo telefônico, das interceptações telefônicas e das

buscas e apreensões operadas em desfavor do paciente.

(4)

5.

Não assiste razão aos impetrantes.

6.

Quanto à apontada discrepância entre os ofícios encaminhados às

operadoras de telefonia e a decisão judicial que deferiu as medidas requeridas pelo

órgão ministerial, a impetração não merece acolhida. Observa-se dos autos que o

órgão ministerial requereu a interceptação telefônica dos acusados, bem como as

cópias de contas reversas, que nada mais são do que o detalhamento dos números que

efetuaram ligações para o telefone interceptado, o que foi deferido pelo magistrado de

primeiro grau. Dessa forma, não há que se falar em nulidade na obtenção das

informações cadastrais do paciente, pois decorrente da identificação de conversas que

manteve com corréu, cujo sigilo das comunicações telefônicas estava afastado, o que

permitiu revelar o envolvimento daquele na quadrilha. Nesse sentido: “Persistindo os

pressupostos que conduziram à decretação da interceptação telefônica, não há

obstáculos para sucessivas prorrogações, desde que devidamente fundamentadas,

nem ficam maculadas como ilícitas as provas derivadas da interceptação.

Precedente. Recurso a que se nega provimento” (RHC 85575/SP, rel. Min. Joaquim

Barbosa, DJ de 16.03.2007).

7.

Portanto, como bem asseverou o Superior Tribunal de Justiça, ao

contrário do que entendem os impetrantes, a identificação dos terminais que

mantiveram contato com os telefones interceptados, além do fornecimento dos

respectivos dados cadastrais, constituíram medidas que foram efetivamente

autorizadas pela decisão judicial, que acolheu todos os pedidos formulados pelo

Parquet , dentre os quais se inseria o envio, por parte das operadoras de telefonia,

das contas reversas de vários números, que, como dito alhures, constituem o

detalhamento das linhas a partir das quais foram efetuadas ligações para

determinado telefone. Bem como que, os posteriores requerimentos ministeriais (fls.

205/206, 212/215, 219/220, 226/228, 234/237, 242/245) contiveram o pedido

expresso de fornecimento de contas reversas de vários números de telefone,

(5)

providência que restou autorizada pelos respectivos provimentos jurisdicionais que

deferiram as diversas medidas solicitadas pelo órgão acusador (fls. 207, 215, 221,

229, 239 e 246), razão pela qual não se vislumbra qualquer discrepância entre os

ofícios encaminhados às operadoras de telefonia e as decisões judiciais emanadas.

Desse modo, a inclusão do paciente nas investigações em virtude da obtenção de seus

dados cadastrais pelo fato de ter conversado com um dos corréus cujo sigilo das

comunicações telefônicas estava quebrado deu-se de maneira lícita (fls. 252/255), a

partir de pedidos do Parquet para que lhe fossem fornecidas cópias de contas

reversas, o que foi deferido pelos magistrados responsáveis pelo feito. Em arremate,

frise-se que o inciso XII do artigo 5º da Constituição Federal assegura o sigilo das

comunicações telefônicas, nas quais, por óbvio, não se inserem os dados cadastrais

do titular de linha de telefone celular. Em hipótese semelhante, na qual se discutiu a

abrangência das informações protegidas pelo sigilo fiscal e bancário, esta colenda

Quinta Turma entendeu que dados como endereço, número de telefone e qualificação

dos investigados nela não se inserem.

8.

Quanto à alegação de que a Coordenadoria de Inteligência do Sistema

Penitenciário da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Rio de

Janeiro - CISPEN não teria atribuição para realizar as interceptações telefônicas

judicialmente autorizadas, melhor sorte não assiste aos impetrantes. O art. 6º da Lei nº

9.296/96 não exclui a requisição do auxílio de outros agentes estatais para realização

da diligência, mesmo porque a Polícia Judiciária nem sempre conta com o aparato

técnico necessário à implementação da escuta. Tanto assim que o art. 7º da Lei de

Interceptações prevê a possibilidade de requisição dos serviços técnicos das

concessionárias de telefonia: "Para os procedimentos de interceptação de que trata

esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos especializados às

concessionárias de serviço público."

(6)

9.

Consignou o Superior Tribunal de Justiça: Na hipótese dos autos, no

pedido de interceptação formulado pelo Ministério Público, o próprio órgão indicou

o Centro de Inteligência do Sistema Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro -

CISPEN como responsável pelo monitoramento e gravação das comunicações

telefônicas (fl. 195), o que foi deferido pelo Juízo (fl. 198), constando expressamente

dos ofícios expedidos (fls. 200/201, 202/203, 208/209, 210/211, 217/218, 222/223,

224/225, 230/231, 232/233, 240/241, 247/248 e 249/250). De acordo com os ofícios

constantes às fls. 277/278, 282/283, 291/292, 293/294 e 301/303, e com os relatórios

de fls. 279/281, 284/286, 287/290, 295/300, verifica-se que, embora a Coordenadoria

de Inteligência do Sistema Penitenciário - CISPEN tenha centralizado as diligências,

houve a participação de delegado de polícia nas diligências.

10.

Em relação ao cumprimento dos mandados de busca e apreensão, que

teria sido realizado por policiais militares, também não se verifica a nulidade alegada,

conforme precedentes dessa Suprema Corte:

AÇÃO PENAL. Prova. Mandado de busca e apreensão. Cumprimento pela Polícia Militar. Licitude. Providência de caráter cautelar emergencial. Diligência abrangida na competência da atividade de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública. Recurso extraordinário improvido. Inteligência do Art. 144, §§ 4º e 5º da CF. Não constitui prova ilícita a que resulte do cumprimento de mandado de busca e apreensão emergencial pela polícia militar.

(RE 404593, rel. Min. Cezar Peluso, DJe 23.10.2009).

BUSCA E APREENSÃO - TRÁFICO DE DROGAS - ORDEM JUDICIAL - CUMPRIMENTO PELA POLÍCIA MILITAR. Ante o disposto no artigo 144 da Constituição Federal, a circunstância de haver atuado a polícia militar não contamina o flagrante e a busca e apreensão realizadas.”

(HC 91481/MG, rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 24.10.2008).

12.

Isso posto, em consonância com o acórdão impugnado, opino pela

denegação da ordem.

Brasília, 17 de abril de 2012.

EDSON OLIVEIRA DE ALMEIDA

SUBPROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

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