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ECLI:PT:TRP:2012: P1.2C

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ECLI:PT:TRP:2012:374.2001.P1.2C

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRP:2012:374.2001.P1.2C

Relator Nº do Documento

Amaral Ferreira rp20120503374/2001.p1

Apenso Data do Acordão

03/05/2012

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação confirmada

Indicações eventuais Área Temática

3ª Secção . Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

A redução das liberalidades inoficiosas não é de conhecimento oficioso, devendo ser suscitada pelo interessado no respectivo processo de inventário.

Decisão Integral:

TRPorto

Apelação nº 374/2001.P1 - 2012. Relator: Amaral Ferreira (696). Adj.: Des. Deolinda Varão. Adj.: Des. Freitas Vieira.

Acordam no Tribunal da Relação do Porto: I. RELATÓRIO.

1. Nos autos de inventário instaurados, em 25/5/2001, por óbito de B…, falecido a 22/02/2001, a correr termos no Tribunal Judicial de Bragança, nas declarações prestadas, declarou a cabeça de casal C…, em 1/10/2001, que o inventariado faleceu no estado de casado com a declarante

segundo o regime da comunhão de adquiridos, tendo o casamento sido contraído em 27/11/1967, e que deixara como herdeiros, para além dela, a filha do casal D…, mais referindo que o inventariado outorgara testamento mas que desconhecia a identidade da testamentária, supondo, contudo, tratar-se de pessoa com quem vivera maritalmente.

2. Com a relação de bens, apresentada em 12/11/2001, a cabeça de casal, além de relacionar os bens a partilhar, da qual constam um prédio urbano - verba nº 1 - e cinco prédios rústicos - verbas nºs 2 a 6 -, atribuindo-lhes os valores de, respectivamente, Esc. 209.664$00, Esc. 202$00, Esc. 13.760$00, Esc. 202$00, Esc. 202$00 e Esc. 378$00, juntou o testamento outorgado pelo inventariado em 5/08/1994, no Cartório Notarial de Bragança, no qual lega a E…, a sua casa de morada, com todo o recheio e terreno circundante, sita na …, no lugar de “…”.

3. Citada, a interessada E… deduziu reclamação contra a relação de bens, requerendo que dela fosse excluído o imóvel que constitui a verba nº 1, com o fundamento de que o testamento tivera como objectivo compensá-la pela assistência que prestara ao testador durante os cerca de 20 anos que com ele vivera, em união de facto.

4. Tendo respondido a cabeça de casal a sustentar o indeferimento da reclamação, proferido despacho, transitado em julgado, a julgar improcedente a reclamação, designada data para a conferência de interessados, que teve lugar a 12/5/2003, nela os interessados acordaram na adjudicação dos prédios rústicos que compunham as verbas nºs 2 a 6 da relação de bens, mas dissentiram quanto à adjudicação da verba nº 1 daquela relação - prédio urbano objecto do

testamento -, pelo que pela Mmª juiz foi ordenado que se procedesse a licitações e iniciadas estas, tendo-se a legatária oposto à licitação da verba nº 1, pela cabeça-de-casal foi requerida a sua avaliação.

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5. Avaliada a verba nº 1 em € 12.500, tendo a cabeça de casal, na subsequente conferência de interessados, e por falta de acordo entre as herdeiras, manifestado intenção de licitar as verbas nºs 2 a 6, o que veio a fazer oferecendo a quantia de € 5 a mais relativamente ao valor que havia sido atribuído a cada uma na relação de bens, requereu a legatária E…, prevenido a hipótese de ocorrer inoficiosidade do legado, que se procedesse à avaliação das verbas nºs 2 a 6, o que foi deferido, tendo sido avaliadas pelos valores de, respectivamente, € 600, € 10.000, € 500, € 500 e € 1.000. 6. Em conformidade com o despacho de forma à partilha, após elaboração de mapa informativo, de que resultava que o legado excedia a quota disponível em € 8.312,50, foi elaborado o respectivo mapa, objecto de reclamações não atendidas, e nos termos do qual a legatária é devedora de tornas nos montantes de, respectivamente, € 4.125 e de 4.187,50 às herdeiras C… e D….

7. Proferida sentença homologatória do mapa da partilha, e dela discordando, apelou a interessada E… que, nas alegações que apresentou, formula as seguintes conclusões:

1ª: Por testamento público, outorgado no Cartório Notarial de Bragança, em 5 de Agosto de 1994, junto aos presentes autos a fls. 32 e 46, o testador B…, autor da herança, aqui partilhada, legou a E…, a sua casa de morada, com todo o recheio e terreno circundante, sita na …, no lugar de “…”, limite da freguesia de …, concelho e comarca de Bragança.

2ª: A herança, aberta por óbito do testador, foi aceite pelas interessadas, face ao requerimento de inventário, em 25/05/2001, a fls. 2, e subsequentes declarações de cabeça-de-casal.

3ª: As herdeiras legitimárias não intentaram a acção de redução desta liberalidade, dentro de dois anos a contar da aceitação da herança, como expressamente determina o artº 2178º do Código Civil.

4ª: Ergo, in casu sub judice, inexistindo acção/requerimento das herdeiras legitimarias para a redução do valor do legado à legatária adjudicado, não tem o Tribunal legitimidade para, oficiosamente, incrementar o procedimento e declaração de inoficiosidade do legado, de que a apelante é beneficiária.

5ª: Foi legado à apelante o bem relacionado sob a verba nº 1, sem ser por conta da quota disponível nem pela legítima, sendo certo que

6ª: A cabeça-de-casal e sua filha convalidaram, tacitamente, o testamento, de que tiveram conhecimento, logo após o falecimento do testador B…, ocorrido em 22 de Fevereiro de 2001. 7ª: E acresce que na conferência de interessados, em 12/5/2003, a fls. 83, a legatária opôs-se à licitação do bem legado, que a ela foi adjudicado, in totto, ex vi do convalidado testamento, que manifesta a última vontade do testador.

8ª: Sic stantibus, não pode o Tribunal, oficiosamente, reduzir uma eventual inoficiosidade da liberalidade, consubstanciada no bem legado, repete-se, já que

9ª: Estas herdeiras legitimárias não intentaram a competente acção judicial para poder ser reduzida a pretendida inoficiosidade desta liberalidade, como supra dilucidado e mais uma vez se reitera, pois que “repitia iubent”.

10ª: Salvo o respeito formal de sempre pela pessoa e figura da Mmª Juiz a quo, a douta sentença homologatória da partilha terá que ser declarada nula e de nenhum efeito legal, no concernente ao bem legado.

11ª: Consequentemente, tal liberalidade não deve ser reduzida no seu valor, em virtude de as herdeiras legitimárias não terem intentado a competente acção judicial nesse sentido.

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quaisquer tornas, a cargo da legatária, aqui apelante, a favor das herdeiras legitimarias. 13ª: Não detinha o Tribunal a quo legitimidade para, oficiosamente, declarar inoficiosa a liberalidade, consubstanciada no bem legado à legatária.

Termos em que, com o mui douto suprimento de Vªs Exªs, sendo dado provimento ao presente recurso de apelação, outrossim, em douto acórdão do Venerando Tribunal ad quem, porém, sendo revogada a sentença homologatória do mapa da partilha do Tribunal a quo, será excluído do mapa da partilha o bem legado, consequentemente, será decidido que não haverá lugar a pagamento de quaisquer tornas às herdeiras legitimárias, por parte e/ou a cargo da legatária, aqui apelante, face à nulidade da oficiosa decisão da inoficiosidade da liberalidade do legado, por ser de inteira Justiça! 8. Não tendo sido oferecidas alegações, colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

II. FUNDAMENTAÇÃO.

1. A factualidade a ter em consideração na decisão do recurso é a que se deixou relatada e que aqui se dá por reproduzida.

2. Tendo presente que o objecto dos recursos é balizado pelas conclusões das alegações dos recorrentes, não podendo o Tribunal apreciar e conhecer de matérias nelas não incluídas, a não ser que se imponha o seu conhecimento oficioso, que nos recursos se apreciam questões e não razões e que os recursos não visam criar decisões sobre matéria nova, sendo o seu âmbito delimitado pelo conteúdo do acto recorrido, a questão suscitada no recurso é a de saber se não podia o legado ser reduzido por inoficiosidade, em virtude de as herdeiras não terem instaurado, no prazo legal de dois anos, acção de redução de liberalidades inoficiosas.

No caso em apreço, como resulta do presente relatório, estamos perante processo de inventário instaurado por óbito de B…, em que o inventariado, que deixou como herdeiras legitimárias o cônjuge sobrevivo - a requerente do inventário e cabeça de casal C… -, com ele casado no regime da comunhão de adquiridos, e a filha D…, dispôs, por testamento, de parte do seu património a favor de E…, que não era sua herdeira, a quem legou a verba nº 1 da relação de bens, sem referir se era, ou não, imputada na sua quota disponível.

Os legados podem ser feitos por força da quota disponível, por conta ou em substituição da legítima.

No legado por conta da quota disponível ou com dispensa de colação, consentido pelo disposto no artº 2113º, nº 1, do Código Civil (diploma a que pertencerão os demais preceitos legais a citar, sem outra indicação de origem), há da parte do testador a manifestação da vontade no sentido de beneficiar o legatário e este nada confere, sem prejuízo de o legado poder vir a ser reduzido por inoficiosidade - cfr., neste sentido, Lopes Cardoso, Partilhas Judiciais, 4ª ed. , Vol. II, pág 370. A inoficiosidade consubstancia-se na ofensa da legítima dos herdeiros legitimários por via de

liberalidades do autor da herança que excedam o âmbito da sua quota disponível sendo susceptível de abranger as que ocorram por vida, como é o caso das doações, ou por morte, como é o caso dos legados, nos termos do artº 2168º.

Na concretização dessa protecção dos herdeiros legitimários, estabelece o artº 2169º que as liberalidades inoficiosas são irredutíveis, a requerimento daqueles herdeiros, ou dos seus sucessores, em tanto quanto for necessário para que a legítima seja preenchida.

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A legítima, que no caso dos autos é de dois terços da herança - artº 2159º, nº 1 -, é a porção de bens de que o testador não pode dispor, por ser legalmente destinada aos herdeiros legitimários, devendo, para o respectivo cálculo atender-se ao valor dos bens existentes no património do autor da sucessão à data da sua morte, ao valor dos bens doados, às despesas sujeitas a colação e às dívidas da herança - artº 2162º, nºs 1 e 2.

Nos termos destes preceitos legais, a quota indisponível, e consequentemente a quota disponível, determinam-se, tendo em atenção o valor dos bens existentes no património do autor da herança, à data da sua morte, e, para se achar o valor da legítima, atende-se ao valor que os bens têm na data da abertura da herança, mesmo em relação aos bens doados, aplicando-se também aos legados. Sendo, como se referiu, de dois terços a legítima das herdeiras do inventariado B.., é

inquestionável, quer face ao valor que foi atribuído na relação de bens, quer face aos valores resultantes da avaliação que teve lugar, que o legado ofende a legítima das herdeiras.

Mas, resultando do disposto no citado artº 2169º, que a redução das liberalidades inoficiosas está dependente de requerimento dos herdeiros legitimários, ou dos seus sucessores, a questão colocada na apelação é a de saber se caducou o direito de as herdeiras requererem a essa

redução, como defende a apelante, que sustenta que as apeladas deviam instaurar a acção a que se refere o artº 2178º, e se o Tribunal conheceu oficiosamente da inoficiosidade do legado.

Adiantando-se da improcedência da questão, vejamos porquê.

Como se referiu, a redução das liberalidades inoficiosas está dependente de requerimento dos herdeiros.

Efectivamente, distinguindo-se o direito de peticionar a herança - artº 2075º e segs. -, do direito de suceder - artº 2050º e segs. -, existe o ónus jurídico de aceitar ou repudiar a herança, sob pena de caducidade do direito de suceder - artº 2059º.

A aceitação a benefício de inventário faz-se requerendo inventário judicial, nos termos da lei de processo, ou intervindo em processo pendente - artº 2053º, nº 2.

O testador não pode impor encargos sobre a legítima contra a vontade dos herdeiros - artº 2063º. Daí que, apenas os herdeiros podem colocar o problema da necessidade de redução dos encargos por atingirem a sua legítima, pelo que não é admissível o conhecimento oficioso da redução das liberalidades inoficiosas.

Como se refere no Ac. da RL de 17/6/2009, CJ, Tomo I, pág. 124, a questão da eventual redução do legado, estando a correr processo de inventário, e inexistindo caso julgado anterior, tem

necessariamente de ser solucionada no inventário, a partir do momento em que ele foi instaurado, por ser nele que se põe termo à comunhão hereditária, nos termos previstos no artº 1326º, nº 1, do Código de Processo Civil.

É, aliás, entendimento comum que o processo próprio para o cálculo da quota disponível e da legítima dos herdeiros e da discussão da eventual redução por inoficiosidade de liberalidade feita pelo testador é o processo de inventário - cfr., neste sentido, os acórdãos do STJ de 17/11/1994, CJ/STJ, Tomo III, pág. 145, e sumariado em www.dgsi.pt., e deste Tribunal de 26/01/2004, no referido sítio da Net.

Como se escreve no primeiro dos citados arestos, «o processo adequado para se discutir a redução de liberalidades feitas pelo de cujus é o processo de inventário, e é-o porquanto se está apenas perante uma das muitas sub operações que integram uma outra operação, esta altamente complexa, que é a operação de partilha de um património hereditário».

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por definição, uma relação de valor entre dois factores: os bens doados, por um lado, a legítima, por outro. Se a doação é de bens certos e determinados, há que pôr os bens doados em equação com os restantes bens da herança do doador; para esse efeito têm de relacionar-se, descrever-se e avaliar-se todos os bens. Estas operações são próprias do processo de inventário».

Portanto, ao contrário do defendido pela apelante, não era mister que as apeladas (herdeiras legitimárias), instaurassem a acção prevista no artº 2178º (“A acção de redução de liberalidades inoficiosas caduca dentro de dois anos, a contar da aceitação da herança pelo herdeiro

legitimário”), para verem reduzido o legado, pois que o podiam fazer no processo de inventário. Nos termos do disposto no artº 1353º do Código de Processo Civil (na redacção anterior às

alterações introduzidas pelo DL nº 303/2007, de 24/8, que é a aqui aplicável), é na conferência de interessados que compete deliberar das reclamações deduzidas sobre o valor atribuído aos bens relacionados e sobre a aprovação do passivo e forma de cumprimento dos legados e demais encargos da herança.

Na conferência de interessados, tendo as partes dissentido quanto à adjudicação da verba legada, iniciada a licitação, tendo-se a legatária oposto, pela cabeça de casal foi requerida a sua avaliação. Ora, este requerimento de avaliação do bem legado não pode deixar de ser entendido como o suscitar da redução do legado, por quem tinha legitimidade para o efeito, que era a herdeira legitimária, pelo que não foi oficiosamente ordenada a redução da liberalidade nem ocorreu a caducidade do direito de acção respectivo.

Com efeito, no caso em apreço não está em causa o recurso ao disposto no citado artº 2178º porquanto, tanto como a mera interpretação literal do preceito permite, e não existem outros elementos sistemáticos que o contradigam, nele o legislador trata da acção judicial própria para declaração da redução, cujo decurso do prazo estabelecido preclude o respectivo direito, e,

portanto, não se aplica ou confunde com a resolução da matéria do excesso de legados constatada no decurso do processo de inventário, como é o caso em apreço.

III. DECISÃO.

Pelo exposto, acordam os juízes que constituem esta Secção Cível do Tribunal da Relação do Porto, em julgar improcedente a apelação e confirmar a decisão recorrida.*Custas pela

apelante.*Porto, 3/5/2012 António do Amaral Ferreira

Deolinda Maria Fazendas Borges Varão Evaristo José Freitas Vieira

Referências

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