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Educação patrimonial do Projeto Escolas na Ilha do Campeche: interfaces entre memória e identidade

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MARIANE JÚLIA DOS SANTOS

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL DO PROJETO ESCOLAS NA ILHA DO CAMPECHE: INTERFACES ENTRE MEMÓRIA E

IDENTIDADE

Florianópolis Agosto/2018

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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL DO PROJETO ESCOLAS NA ILHA DO CAMPECHE: INTERFACES ENTRE MEMÓRIA E

IDENTIDADE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Linha de Pesquisa: Sociologia e História da Educação.

Orientadora: ProfªDrªClaricia Otto.

Florianópolis Agosto/2018

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. Santos, Mariane Júlia dos

Educação Patrimonial do Projeto Escolas na Ilha do Campeche : interfaces entre Memória e Identidade / Mariane Júlia dos Santos ; orientador, Clarícia Otto, 2018.

178 p.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação,

Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2018.

Inclui referências.

1. Educação. 2. Educação Patrimonial. 3. Patrimônio Cultural. 4. Memória e Identidade. I. Otto, Clarícia. II. Universidade Federal de Santa Catarina.

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À minha querida mãe, minha maior fonte de incentivo e auxílio para que meus sonhos e planos se tornem realidade.

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“The wise man said „just walk this way To the dawn of the light‟

The wind will blow into your face As the years pass you by

Hear this voice from deep inside It's the call of your heart Close your eyes and you will find The passage out of the dark […]” Scorpions – Send Me An Angel

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Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGE-UFSC) pela oportunidade de realização dessa etapa acadêmica.

Sou imensamente grata à professora Dra. Claricia Otto pela oportunidade de orientação neste trabalho, por seus conselhos e pela concessão de valiosos aprendizados. Suas ponderações, apontamentos, esclarecimentos e incentivos à reflexão contribuíram muito para que eu pudesse amadurecer como pesquisadora, como pessoa e, assim, buscar tecer da melhor forma este trabalho acadêmico, conforme suas sábias palavras, tal como se tece uma colcha de retalhos. Muito obrigada por sua paciência, dedicação e amparo.

Agradeço à minha banca, que desde a etapa de qualificação contribuiu com valiosos apontamentos e incentivos, os quais serviram como base norteadora para repensar e finalizar este trabalho. À Professora Dra. Karina de Araújo Dias, ao professor Dr. Elison Antônio Paim e à professora Dra. Giani Rabello sou grata por aceitarem acompanhar o desenvolvimento desta dissertação na condição de membros da banca avaliativa, incluindo, nesta etapa final, a Dra. Lara Rodrigues Pereira.

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de estudos que me permitiu dedicação exclusiva a este trabalho durante 24 meses.

Agradeço ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN pela aprovação de meu Projeto de pesquisa e pela disponibilidade de acesso ao acervo, bem como pelas idas à Ilha do Campeche para acompanhamento das turmas. Nesse sentido, agradeço, sobretudo, à Cíntia Aparecida Pereira Costa Chamas.

Agradeço à Escola Básica Municipal Dilma Lúcia dos Santos pelo acolhimento da secretaria, ao diretor prof. Felipe e principalmente à Marta Justino, coordenadora pedagógica. Do mesmo modo, expresso minha gratidão aos professores participantes das etapas de palestra e visitação do ―Projeto Escolas‖ no ano de 2016, com os quais pude estabelecer diálogos significativos no campo de pesquisa. Também agradeço aos alunos que tive o privilégio de acompanhar nessa trajetória investigativa, sobretudo por responderem aos questionários de pesquisa e terem me encantado durante toda a atuação em campo.

Agradeço aos monitores da Ilha do Campeche, Douglas e Diego Albano, pela paciência e por compartilharem comigo seus saberes e observações.

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companheiros de orientação da Linha ―Sociologia e História da Educação‖ e orientandos da professora Dra. Claricia Otto: Raquel de Mello Giacomini, Cláudio Scherer Júnior, Marlise Nunes de Pieri, Suellen de Souza Lemonje e Fabiano Batista Rodrigues. À colega Lisley Canola Treis Teixeira, pela atenção e dedicação em ler meu texto em momentos de tensão e dúvidas, nos quais contribuiu com seus apontamentos sobre minha empiria. À Luíza Vieira Maciel, pela colaboração com a formatação do texto, pelos conselhos e pela inspiração proveniente de sua dissertação exemplar. Esse grupo é nota mil e marcou demais essa fase. Sempre foram fonte de incentivo e potenciais exemplos a serem seguidos.

Um agradecimento especial à professora Dra. Michelle Bete Petry, por quem carrego grande estima e admiração desde a época da graduação quando tive o privilégio de ser sua aluna. Sou grata por sugerir o PPGE-UFSC, por sua orientação na elaboração do projeto de pesquisa e pela força e incentivos atribuídos em toda a trajetória.

Denoto aqui meu carinho e gratidão aos grandes amigos e amigas com quem divido essa existência com muita satisfação. Me expresso de maneira breve, pois discorrer sobre cada um resultaria em infindáveis parágrafos. Agradeço a: Cristiane Gonçalves, Manoela Leal de Souza, Bárbara Alves, Guilherme Filipe Andrade dos Santos, Diego Neves, Douglas Luiz dos Santos, Danielle Pacheco Campos, Arielle Rosa Rodrigues, Natália Costa, Junior Fontana, Jorge Martins, Leonardo Stabile, Eduardo dos Santos, Carolini Alves, Marcelo Augusto, Fernanda Mantelli, Gabriela Brito, Yuri Brah, ShahlaOthmann, Letícia Morgana Muller, Fábio Vieira da Silva e Júlio César Marins. Cada um, de perto ou de longe, esteve presente e colaborou de alguma forma especial, seja apoiando, ouvindo meus desabafos sobre a pesquisa ou colaborando com materiais, livros, textos, ideias, favores e principalmente com incentivo e afeto.

Agradeço às minhas afilhadas, Karoline, Maria Eduarda e Anya, que por existirem já são um grande incentivo, mesmo sem saberem direito o que a ―dinda‖ está fazendo. À minha comadre, Natália Mello e prima e comadre Laura, pela torcida! Às madrinhas, Carmen e Nina, pelos incentivos aos estudos e pela busca por minha felicidade.

Aos meus amados avós maternos (in memoriam), que de onde estiverem espero que saibam que todos os meus dias são embalados pelas memórias de afetividade que me proporcionaram e pela honra de ser neta de pessoas tão especiais.

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concessão à vida, pelas oportunidades de estudo, cobranças, investimentos e por sempre apostar todas as suas fichas em mim.

Gratidão ao universo, à espiritualidade cigana que me guia e aos guias espirituais que me conduzem nesta jornada a que chamamos vida.

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No ano 2000, a Ilha do Campeche, por meio de processo de tombamento, tornou-se Patrimônio Arqueológico e Paisagístico da União. Desde então, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/SC), órgão oficialmente responsável por sua salvaguarda, tem promovido projetos de educação patrimonial, direcionados à sua preservação. Nesta pesquisa, identifico memórias de alunos dos 6º anos(faixa etária entre 11 e 13 anos) doEnsino Fundamental da Escola Básica Municipal Dilma Lúcia dos Santos, localizada no Sul da cidade de Florianópolis, sobre o patrimônio arqueológico da Ilha do Campeche, decorrentes da participação desses sujeitos no processo de educação patrimonial do ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖, promovido pelo IPHAN/SC em parceria com a Escola. O principal objetivo é compreender o processo constitutivo das memórias e relações identitárias entre estes sujeitos, a Ilha e seu patrimônio arqueológico considerando o antes e depois das visitas guiadas. O conceito de memória é compreendido na direção proposta por Halbwachs (2003), e o vínculo entre memória e identidade apresenta-se de acordo com Pollak (1992). Também serviram de base reflexiva os conceitos que regem as temáticas do patrimônio cultural e arqueológico e as definições de educação patrimonial, conforme Delgado &Duarte(2015); Horta(1999); Grunberg (1999/2007) Grunberg & Monteiro (1999); Oliveira & Oliveira (2004/2008), dentre outros, serviram como base teórica.A etnografia foi o caminho metodológico e os dados foram coletados em três espaços: no acervo da 11ª Superintendência do IPHAN/SC, no qual pesquisei o histórico do Projeto; na referida Escola; e, na Ilha do Campeche quando, em 2016, acompanhei as visitas. Nessa metodologia produzi um Caderno de Campo, apliquei 51 questionários aos alunos que visitaram a Ilha e participei da Mostra Pedagógica, na qual os alunos expuseram trabalhos produzidos depois da visita guiada à Ilha. Esses trabalhos retratam aspectos de suas memórias relacionadas ao processo de educação patrimonial promovido pelo IPHAN/SC e instituição de ensino e ressaltam a saída de estudos. Dentre os resultados foi possível perceber, além disso, os desdobramentos da educação patrimonial exercida no Projeto, tais como a constituição e apropriação dos conceitos de patrimônio pelos alunos, a construção da relação identitária para com o bem patrimonial arqueológico visitado, envolvendo os sentidos e valores a ele atribuídos.

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do Campeche; Patrimônio Arqueológico; Memória e Identidade; E.B.M. Dilma Lúcia dos Santos.

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In 2000, the Campeche Island (Ilha do Campeche), through a process of tipping, became the Archaeological and Landscape Heritage of the Union. Ever since, the Institute of National Historical and Artistic Heritage (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN/SC), the officially agency responsible for its safeguarding, has promoted patrimonial education projects, aimed at preserving the island. In this research, we identified elementary school of the 6th grade students (ages between 11 and 13 years old) memories from the Escola Básica Municipal Dilma Lúcia dos Santos, located in the South of Florianópolis City, Santa Catarina State, about the archaeological heritage of Campeche Island, resulting from their participation in the patrimonial education process of "Schools in the Campeche Island Project" (“Projeto Escolas na Ilha do Campeche”), promoted by IPHAN of Santa Catarina in partnership with the School. The main objective is to understand the constitutive process of memories and identity relationsbetween these subjects, the Island and its archaeological heritage considering the before and after guided tours.The concept of memory is understood according to Halbwachs (2003), and the link between memory and identity is presented according to Pollak (1992). The concepts that govern the themes of cultural and archaeological heritage and the definitions of heritage education have also served as a reflexive basis,according Delgado & Duarte (2015); Horta (1999); Grunberg (1999/2007) Grunberg & Monteiro (1999); Oliveira & Oliveira (2004/2008), among others, served as theoretical basis. The methodological path was ethnography and the data were collected in three spaces: in the collection of the 11th Superintendence of IPHAN/SC, where we researched the project history; at the School and atCampeche Island, when, in 2016, we accompany the visits. In this methodology, we produced a Field Notebook, we applied 51 questionnaires to the students who visited the Island and we participated of the Pedagogical Exhibition, where the students presented works produced after the guided tour of the Island. The papers showed aspects of his memories related to the patrimonial education process promoted by IPHAN/SC and educational institution. Between the results, it was possible perceive, beyond this, the unfolding of patrimonial education made in Project, such the constitution e appropriation of concepts of patrimony by the students, the construction

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Keywords: Heritage Education; Schools in the Campeche Island Project; Archaeological Heritage; Memory and Identity; E.B.M. Dilma Lúcia dos Santos.

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Figura 1 - Alunos visitando sítio arqueológico na Ilha do Campeche. Ao

meio, a monitora Elisa...24

Figura 2 - Localização geográfica da Ilha do Campeche, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil...46

Figura 3 - Ilha do Campeche na perspectiva de sua praia...48

Figura 4 - Oficina lítica localizada no setor norte da praia da Ilha do Campeche...58

Figura 5 - Monitor realizando explicação aos alunos diante de oficina lítica no início da trilha...113

Figura 6 - Monitor e professores no sítio arqueológico Letreiro. Ao centro, a gravura rupestre conhecida...113

Figura 7 - Alunos, professores e monitores ao redor do painel rupestre denominado ―Máscara Gêmea‖. Sítio arqueológico Letreiro, Ilha do Campeche, SC...114

Figura 8 - Monitor e alunos em atividade de visitação ...115

Figura 9 - Gravura rupestre ―Máscara gêmea‖...126

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APAAPS - Associação de Pescadores Artesanais da Armação do Pântano do Sul

AMAISC - Associação dos Monitores Ambientais da Ilha de Santa Catarina

AP – Antes do Presente

Acompeche – Associação Couto de Magalhães de Preservação da Ilha do Campeche

E. B. M. – Escola Básica Municipal

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IIC – Instituto Ilha do Campeche

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

PPGE – Programa de Pós Graduação em Educação P.P.P – Projeto Político Pedagógico

PMF – Prefeitura Municipal de Florianópolis TCLE - Termo de Consentimento Livre Esclarecido UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

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1 INTRODUÇÃO...23 2 ILHA DO CAMPECHE: PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO E PAISAGÍSTICO NACIONAL...45 2.1 ASPECTOS GERAIS E HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA ILHA...45 2.2 PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO RUPESTRE DA ILHA DO CAMPECHE...45 2.3 DEPREDAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO: A ILHA DO CAMPECHE ANTES DO TOMBAMENTO...61 2.4 TOMBAMENTO DA ILHA DO CAMPECHE E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL...64 3 PROJETO “ESCOLAS NA ILHA DO CAMPECHE” NA E. B. M. DILMA LÚCIA DOS SANTOS...74 3.1 ESTRUTURAÇÃO E HISTÓRICO DO ―PROJETO ESCOLAS‖ DE 2012 A 2015...74 3.2 CONTATO INICIAL PARA SAÍDA DE ESTUDOS À ILHA DO CAMPECHE EM 2016...85 3.3 PALESTRA REALIZADA PELO IPHAN AOS ALUNOS EM 2016 ...86 3.4 OBSERVAÇÃO DO PROCESSO DE VISITA NA ILHA DO CAMPECHE EM 2016...92 3.5 ELABORAÇÃO DOS TRABALHOS INTERDISCIPLINARES E MOSTRA PEDAGÓGICA...107 4. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL DO “PROJETO ESCOLAS NA ILHA DO CAMPECHE”...116 4.1 ―A ILHA DO CAMPECHE É DE TODOS NÓS‖: NOÇÕES DE PATRIMÔNIO PELOS ALUNOS...119 4.2 MEMÓRIA E IDENTIDADE EM RELAÇÃO AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DA ILHA DO CAMPECHE NAS INTERFACES

COM A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL DO ―PROJETO

ESCOLAS‖...134 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...147 REFERÊNCIAS...159 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO...167 ANEXO A - PRODUÇÕES DOS ALUNOS SOBRE A ILHA DO CAMPECHE...171

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa é fruto do desenvolvimento de um sentimento especial sobre o universo plural a que chamamos educação patrimonial. É decorrente de um misto de interesses e emoções acerca da Ilha do Campeche, suas belezas e a singularidade de seu patrimônio arqueológico e paisagístico, a curiosidade eminente por saber melhor sobre o funciona mento da gestão de um bem tombado e seus desdobramentos, tais como as ações educativas daí provenientes. Nesse mar dos bens patrimoniais e da área da Educação resolvi navegar. Como resultado desse ―mergulho‖, acabo por conhecer muito mais sobre mim mesma, sobre meus limites e capacidades enquanto pesquisadora e, consequentemente acabo por desenvolver certa proximidade pelo objeto estudado. É com fé em dias melhores para as políticas públicas e práticas que regem o patrimônio cultural brasileiro, sua proteção e preservação que trago aqui a trajetória de minha dissertação de mestrado.

A motivação para esta investigação surgiu no desenvolvimento de minha monografia para o curso de História da UDESC, concluído em 2014. Em outubro de 2013, no primeiro dia de pesquisa de campo na Ilha do Campeche, estabeleci contato pela primeira vez com este local e seu patrimônio arqueológico. Nesse momento tive a oportunidade de acompanhar duas turmas de alunos do Ensino Fundamental durante processo de visitação guiada nesta Ilha. Os estudantes, provenientes da Escola Básica Municipal Dilma Lúcia dos Santos, localizada próximo à Praia da Armação no sul de Florianópolis visitavam os sítios arqueológicos Letreiro e Pedra Preta do Sul. Ali estavam por participarem de um projeto de educação patrimonial promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/SC) denominado ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖.

Ao observar os educandos nessa atividade e percebendo seus olhares e indagações diante do patrimônio arqueológico visitado, minha curiosidade aguçou quanto às suas percepções acerca dos sítios arqueológicos e de todo o aprendizado proveniente daquele momento (Figura1). Tentei imaginar o quanto essa atividade extraclasse os marcaria como sujeitos e que memórias esse momento gerava em cada um deles como indivíduos e como grupo. A partir dessa observação aumentaram meus interesses pessoais sobre ações de educação patrimonial e, especificamente pelo ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖, pelo qual desenvolvi entusiasmo em conhecer e compreender sua estruturação, funcionamento e desdobramentos.

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Figura 1 - Alunos visitando sítio arqueológico na Ilha do Campeche. Ao meio, a monitora Elisa

Fonte: Mariane Júlia dos Santos (2013)

Ao buscar informações e referências sobre o assunto em livros e na internet, pude constatar a ausência de produção acadêmica sobre o Projeto, havendo carência de análises aprofundadas sobre aspectos específicos como seu desenvolvimento, seu histórico e resultados de sua ação. A educação patrimonial, colocada em ação pelo IPHAN/SC por meio dessa iniciativa específica, se mostrou um tema instigante para trabalhar o patrimônio arqueológico da Ilha do Campeche, por uma ótica que me gerasse maior proximidade com o campo educacional.

Maturei as possibilidades de proximidade com a área da Educação, a qual concederia arcabouço necessário às minhas intencionalidades em relação ao objeto de pesquisa que tinha em mente. Desse modo, no decorrer da escrita do projeto de mestrado por indicação da amiga e ex-professora Michelle Bete Petry. reconheci no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC, especificamente na Linha de Pesquisa ―Sociologia e História da Educação‖ o caminho para produzir o trabalho almejado.

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Após o ingresso na pós-graduação em Educação da UFSC foi dado início ao cumprimento dos protocolos que envolvem o campo da pesquisa acadêmica. Desse modo, mediante aprovação do projeto de pesquisa pelo IPHAN/SC e obtenção da carta de aceite emitida pela Escola Dilma Lúcia dos Santos aprovando minha atuação como pesquisadora nessa instituição, foi formulado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) a fim de regularizar o início da exploração do campo investigativo.

Devido às paralisações dos servidores públicos da rede municipal de ensino de Florianópolis ocorrida no primeiro semestre de 2016, as atividades do ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖ foram adiadas para o fim do segundo semestre do ano letivo na referida Escola. Por fim, esse adiamento me foi benéfico, pois possibilitou a realização da maior parte da pesquisa de campo já no primeiro semestre do mestrado, tendo assim um tempo maior para a produção e localização das fontes. Além disso, permitiu o amadurecimento de meu olhar para sua análise.

Contatos e certa proximidade foram estabelecidos com alguns sujeitos que serviram como ―portas abertas‖ ao campo de investigação, como é o caso da coordenadora pedagógica da Escola e do ―Projeto Escolas‖, Sra. Marta Justino, a qual me manteve informada sobre o agendamento e reagendamento das visitações no caso de cancelamento, assim como deu explicações pertinentes ao Projeto. A comunicação via e-mail ou telefonemas, quando necessário, com a coordenadora do Projeto pelo IPHAN/SC, Cíntia Chamas, assim como a interação com professores envolvidos e principalmente com os monitores foi de exímia importância. Essa rede de comunicação possibilitou maior envolvimento com o Projeto e maior oportunidade de acesso a informações a ele relacionadas, que vão além do que se encontra na internet, em documentos oficiais ou vias públicas de divulgação.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, na medida em que envolveu proximidade da pesquisadora com o campo investigativo e observação dos sujeitos dentro do contexto de análise. Na busca por uma metodologia com enfoque voltado a pesquisas educacionais, a etnografia permite a compreensão da situação cotidiana e descrição cultural da escola (ALVES-MAZOTTI, 2001a.apud TEZANI, 2004). Nesse tipo de estudo, os dados coletados são, em maior parte, descritivos. É preciso que o pesquisador se atente para os significados das ações dos pesquisados. Para efetuar essa investigação foi importante me atentar às falas e à expressividade dos estudantes durante o acompanhamento das etapas do Projeto, percebendo as reações, sobretudo, no que tange à visitação aos sítios arqueológicos. Ao

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pensar sobre o método etnográfico como instrumento capaz de enriquecer a intervenção educativa, Fonseca (1999) afirma que o ponto de partida da etnografia consiste na interação entre o pesquisador e seus objetos de estudo, que de certo modo são o protótipo do ―qualitativo‖.

Segundo Tezani(2004) essa abordagem metodológica possibilita analisar aspectos sociais, condutas, sentimentos e relações, considerando as subjetividades do pesquisador e dos pesquisados. Sendo assim, afirmo que, nesse tipo de abordagem ocorre de haver uma aproximação com o universo da pesquisa, com os sujeitos que por vezes nos confundem a ponto de nos sentirmos como sendo parte do contexto ao qual observamos. A pesquisa etnográfica envolve surpresas e emoções, envolve uma interação com pessoas diferente da que se tem com uma análise documental, por exemplo. Penso que ela amplifica as relações humanas e os olhares dos sujeitos que se propõem a utilizar esse método em suas produções. Conversar com uma mãe que acompanhou sua filha na visitação, interagir com algumas alunas e alunos foi bastante edificante em minha relação com os sujeitos centrais de minha investigação. A familiaridade e proximidade desenvolvidas em campo permitiram sentir-me parte da visitação, bem como das demais etapas do ―Projeto Escolas‖.

É necessário situar os sujeitos dentro de seu espaço. Esse movimento interpretativo, que vai do particular ao geral, é o que permite que o pesquisador crie um relato etnográfico. Sem tal ―contextualização‖, o ―qualitativo‖ não teria grande valia e contribuição à reflexão acadêmica (FONSECA, 1999). É preciso, então, compreender os alunos participantes do ―Projeto Escolas‖ dentro de seu contexto, considerando os aspectos sociais e históricos que os regem e cercam o patrimônio cultural em foco. Esse ―mapeamento‖ é variável de acordo com a interação dos sujeitos envolvidos, bem como com uma série de outras particularidades. As observações e, sobretudo, os diálogos estabelecidos em trabalho de campo possibilitaram desenvolver um olhar voltado para a pluralidade e diversidade no perfil das turmas e até mesmo da particularidade dos sujeitos. Assim, no processo de coleta de dados já supunha a predominância de heterogeneidade na empiria resultante, assim como a sua complexidade.

Já conhecia a Escola Dilma Lúcia dos Santos desde os tempos da pesquisa para a monografia da graduação. A proximidade estabelecida com essa instituição de ensino me gerou simpatia e interesse por suas ligações com a Ilha do Campeche e com o IPHAN/SC. Foi importante já estar um tanto ambientada na Escola, pois, como os sujeitos desta pesquisa estão nesse ambiente inseridos, o conhecimento e proximidade

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com esse espaço possibilita uma melhor compreensão destes sujeitos e do contexto ao qual pertencem.

AE. B. M. Dilma Lúcia dos Santos conta atualmente com 467 estudantes, matriculados no Ensino Fundamental do 1° ao 9° ano, divididos entre dois turnos: matutino e vespertino. De acordo com o Projeto Político Pedagógico da instituição, a maior parte de seus alunos são oriundos de Florianópolis, especialmente dos bairros: Armação, Costa de Dentro, Lagoa do Peri e Matadeiro. Um menor número de estudantes provém de outras cidades do estado de Santa Catarina, bem como de estados vizinhos, como Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, sem contar os que são filhos de uruguaios ou argentinos.

Sua fundação remete à década de 1950, sendo que em 1955 funcionava como Escola Isolada1, numa sala alugada em uma casa particular contando com apenas 22 alunos, sendo a primeira professora Dona Dilma Lúcia dos Santos. Mais tarde passou a ser Escola Reunida2 e funcionava no prédio do Departamento de Caça e Pesca próximo ao trevo da Armação. No ano de 1971 foi construído o Grupo Escolar Municipal Presidente Castelo Branco, que atendia alunos (as) de 1ª a 4ª série, tendo como diretora a professora Dilma Lúcia dos Santos. Tratava-se de um prédio com quatro salas, gabinete, secretaria, cozinha, pátio coberto e banheiro.

Em 1974 3 passou a se chamar Escola Básica Municipal Presidente Castelo Branco e ampliou seu atendimento a turmas de 1ª a 8ª série.No decorrer do tempo seu espaço físico se tornou insuficiente para suprir a quantidade de alunos e as propostas pedagógicas. Assim, iniciaram as lutas por sua ampliação e melhorias.

Com o passar dos anos a Escola passou por reformulações diversas, sendo que em 2004 mediante inauguração de um novo prédio passou a se chamar Escola Básica Municipal Dilma Lúcia dos Santos, em homenagem à ex-professora e diretora.

De acordo com Duarte e Delgado (2015), essa instituição de ensino vem realizando, nos últimos anos, importantes projetos relacionando o ambiente escolar, o meio acadêmico e as comunidades do sul da Ilha de Santa Catarina, dentre os quais, iniciativas de educação patrimonial envolvendo o patrimônio histórico e arqueológico local

1 Conforme consta no Projeto Político Pedagógico, Escola Isolada

representava uma única turma, dispondo de uma só professora.

2 Escola Reunida representava as quatro primeiras séries do 1° Grau. 3 Nesse contexto, a Escola localizava-se na Rodovia SC 406, n. 6050, na

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incluindo a Ilha do Campeche. É o caso do projeto de ensino de História ligado ao Programa Institucional de Bolsas de iniciação à Docência (PIBID), com inclusão do tema ―O patrimônio arqueológico e histórico da Ilha do Campeche‖ e também o próprio ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖. Além disso, os vínculos dessa instituição de ensino com o IPHAN vão além.

No auditório da Escola realiza-se, anualmente, a parte teórica do curso gratuito para formação de monitores da Ilha do Campeche, o que reforça a relação dessa instituição escolar com a comunidade. Tal curso é um dos desdobramentos da educação patrimonial a qual o IPHAN está incumbido de realizar na condição de órgão gestor desse patrimônio. Esse curso, além de possibilitar a proximidade de moradores de Florianópolis à Ilha do Campeche (principalmente aos moradores do sul da Ilha de Santa Catarina), dissemina conhecimentos sobre esse bem, promovendo o reconhecimento dos sujeitos em relação a ele e o desenvolvimento de sentimentos de pertencimento, de identidade e da importância sobre os cuidados com esse bem patrimonial nas comunidades do entorno. Além disso, para aqueles que são aprovados e selecionados no curso, tornando-se monitores, constitui uma fonte de renda.

Segundo seu Projeto Político Pedagógico, a Escola conta com projetos e programas educativos, tais como: o Programa de Reciclagem, Projeto Entorno Escolar: uso e ocupação pública da área do entorno escolar DLS, Plantar e Colher (Projeto de horta), Floripa Karatê: Esporte e Cidadania, Rádio na Escola, Boi de Mamão e o ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖. Esses foram pensados a partir dos dois eixos norteadores, tendo como parceria alguns órgãos Municipais, Federais e Estaduais, dentre os quais o IPHAN.

A saída de estudos para a Ilha do Campeche inerente ao ―Projeto Escolas‖ faz parte dos pressupostos pedagógicos da referida instituição de ensino, pois pelo que consta em seu PPP, a escola postula que saídas de estudos tendem a provocar envolvimento e interesse dos discentes, bem como contribuem para produzir mais sentidos aos conteúdos estudados na escola, de modo a conectarem diversas áreas do conhecimento.

A Ilha do Campeche localiza-se a 1,4 km da Praia do Campeche, ao sul da Ilha de Santa Catarina. Desde o ano 2000 é considerada patrimônio arqueológico e paisagístico nacional, sendo que tal condição se deve ao processo de tombamento realizado pela 11ª Superintendência do IPHAN em Santa Catarina. Atualmente esta Ilha encontra-se fortemente marcada pelo turismo, que se dá especialmente durante a alta

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temporada turística4. Sua gestão é coordenada pelo IPHAN com apoio do Ministério Público Federal e outras instituições públicas, contando também com a participação de diversos grupos civis envolvidos (RELATÓRIO, 2016). A Ilha permanece aberta a visitação pública durante todo o ano e ―no período de visitação intensa, verão, recebe em torno de 50 mil visitantes aos quais são oferecidas trilhas terrestres e subaquáticas guiadas‖ (Relatório ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖ – Acervo do IPHAN, 2016), mediante taxa de pagamento. No caso das trilhas terrestres o valor é de dez reais para cada trilha que se opte fazer, sendo que a contribuição é cobrada por pessoa e, ao fim, os lucros são tornados aos monitores.

Os guias ou monitores da Ilha do Campeche são ligados a Associação dos Monitores Ambientais da Ilha de Santa Catarina (AMAISC) e credenciados pelo IPHAN por meio do curso de formação de monitores da Ilha do Campeche5, o qual é oferecido anualmente à comunidade desde 2001. Há um limite preestabelecido para que receba no máximo 800 pessoas ao dia, a fim de se manter o controle e amenizar os impactos decorrentes da intervenção antrópica no local. Os turistas e visitantes podem lá permanecer por no máximo três horas, lembrando que esse controle contribui para o bom funcionamento do sistema de monitoramento da Ilha e a preservação de seu patrimônio arqueológico (SANTOS, 2014). Os monitores são responsáveis pela moderação no número de visitantes, assim como recepcionam os turistas e realizam importante papel interventivo de educação patrimonial.

O processo depatrimonialização da Ilha do Campeche teve início em 1998 por meio de documento elaborado pelo IPHAN, para fins de justificar as necessidades emergentes dessa medida que teve como principal causa as intervenções antrópicas em sua paisagem e sítios arqueológicos, provenientes do intenso fluxo de visitações turísticas sem controle algum no decorrer de vários anos. De acordo com a referida proposta de tombamento, se sua vegetação e sítios arqueológicos

4 Ocorre no verão, entre os meses de novembro e março.

5 O curso de formação para monitores para a Ilha do Campeche é oferecido

anualmente à comunidade pelo IPHAN/SC desde o ano de 2001. É voltado também para aqueles que se interessam por patrimônio cultural. O curso é dividido em duas partes: teórica e prática. Na parte teórica, as aulas são ministradas geralmente no auditório da E.B.M. Dilma Lúcia dos Santos. Na porção prática as aulas ocorrem já na Ilha. Ao final do curso, aqueles que apresentarem a frequência exigida e forem aprovados nas avaliações podem ser selecionados a atuarem como monitores da Ilha do Campeche.

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continuassem sofrendo deteriorações no ritmo, até então, apresentado, em poucos anos se desintegrariam, sem possibilidade de reconstituição. A partir das necessidades de proteção e preservação, apresentadas por meio de dossiê, foram tomadas medidas jurídicas de proteção à Ilha do Campeche a fim de garantir sua integridade. De acordo com Chamas (2008), a precária organização da visitação turística, as características da ocupação da Ilha, a fragilidade do ambiente insular, bem como de seus sítios arqueológicos culminaram na necessidade de intervenção por uma proteção legal específica.

O dossiê IPHAN de 1998, denominado ―Ilha do Campeche/SC, maior conjunto de inscrições rupestres do litoral brasileiro‖ é o primeiro trabalho sobre gestão pública e privada sobre a Ilha do Campeche, incluindo em seu texto inventários, mapas e pareceres. Foi destinado a abrir seu processo de tombamento e foi elaborado por Cíntia Aparecida Pereira Costa Chamas, atualmente responsável pela gestão da Ilha do Campeche no IPHAN. (CHAMAS, 2008).

Dentre as implicações decorrentes da patrimonialização houve também certo distanciamento de pessoas que anteriormente frequentavam esta Ilha, ou seja, sujeitos das comunidades locais, como é o caso dos pescadores artesanais e seus familiares. Isso se deu como consequência de medidas promovidas pelo IPHAN, a fim de manter o controle do contingente turístico diário no local e da quantidade de trilhas realizadas diariamente, dentre outras medidas preservacionistas. A partir daí, houve uma padronização e moderação das embarcações que realizam o transporte marítimo à Ilha do Campeche.

De acordo com o Guia Floripa6,atualmente há três pontos de saída de embarcações à Ilha do Campeche. Da Barra da Lagoa leva cerca de 1 hora e 20 minutos. A partir da Praia do Campeche o transporte é realizado por botes infláveis e leva-se em torno de 10 minutos na travessia, já que esta praia está localizada em frente à Ilha. Do trapiche da Praia da Armação do Pântano do Sul o transporte é realizado por embarcações de pesca artesanal7,licenciadas pela Capitania dos Portos. Nesse caso o trajeto varia entre meia hora e quarenta minutos. Os valores estão variando entre R$ 75,00 e R$ 150,00.

6 Disponível em:

<http://www.guiafloripa.com.br/turismo/ilhas-florianopolis/ilha-do-campeche>. Acesso em: 16 jun.2018.

7 Todas as embarcações de pesca artesanal que saem da Praia da Armação

para a Ilha do Campeche estão ligadas à APAAPS – Associação de Pescadores Artesanais da Armação do Pântano do Sul.

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Geralmente na baixa temporada turística o preço desse transporte é inferior devido à menor procura.

Tais valores monetários são comumente considerados altos pela população do entorno, o que consequentemente tem culminado uma elitização desse bem patrimonial nos últimos anos e torna-o mais acessível aos turistas do que aos sujeitos mais próximos. Outro fator contribuinte para esse distanciamento dos sítios arqueológicos da Ilha do Campeche é que sua visitação deve ser obrigatoriamente guiada por monitores.

Duarte e Delgado (2015, p. 95) apontam que:

A Ilha do Campeche é caracterizada por importantes ligações históricas com as comunidades do sul da Ilha de Santa Catarina, havendo além da aproximação geográfica participação da comunidade pesqueira da armação em seu processo de ocupação.

É preciso considerar a importância de haver uma eminente relação de proximidade e identificação dos sujeitos pertencentes às comunidades locais com esse bem patrimonial que faz parte da história local, do processo de ocupação do entorno e até mesmo da história de suas vidas e de seus antepassados, sobretudo para aqueles cujos familiares ali nasceram e cresceram. Nesse sentido, este lugar faz parte das histórias de vida dos pescadores e outros sujeitos que a ela tinham livre acesso e servia como local de pesca e sustento de suas famílias por meio da pesca e, do já, transporte turístico. Saliento que aqueles que frequentaram a Ilha antes de seu processo de patrimonialização puderam ter acesso direto aos sítios arqueológicos e com eles, possivelmente estabeleceram certo grau de proximidade, empatia e identidade que se difere das atuais relações dos sujeitos com esse patrimônio. Hoje, o que se tem é uma proximidade velada, monitorada, a qual ocorre apenas pelo contato visual e pelos conhecimentos adquiridos por meio das explicações dos monitores na realização das trilhas.

Segundo apontamentos de Cíntia Chamas, registrados em meu Caderno de Campo (2016), as pessoas que moram na região sul de Florianópolis, em sua maioria, nunca visitaram a Ilha do Campeche. Esse dado é resultante de levantamento realizado pelo IPHAN e este fato é, possivelmente, decorrente, ao menos em partes, da gestão realizada a partir do tombamento, a qual instaurou o controle do

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contingente de pessoas ao dia no local e o sistema de visitação guiada a fim de manter o controle sobre a proteção e preservação desse patrimônio. De acordo com o IPHAN, essa foi uma das motivações que levaram à elaboração de um projeto de educação patrimonial que possibilitasse a proximidade de pessoas das comunidades locais. Todavia, esse é legalmente um dos compromissos do IPHAN: promover ações que visem aproximar os sujeitos das comunidades aos bens patrimoniais locais, promovendo medidas que objetivam (re)aproximá-los do patrimônio em questão.

Um dos exemplos dessas iniciativas são ações educacionais como o ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖, que é realizado pelo IPHAN em parceria com o Instituto Ilha do Campeche – ICC e consiste numa medida de educação patrimonial pensada e elaborada no ano de 2006 pela11ª Superintendência do IPHAN/SC, porém, iniciou, de fato, em 2012, devido a questões burocráticas e, especialmente, financeiras. Em princípio, o projeto foi pensado a fim de beneficiar a comunidade do sul de Florianópolis, privilegiando primeiramente as pessoas idosas. Porém, para atingir esse público, as dificuldades e complexidades se apresentavam maiores. Então, surgiu a ideia de se trabalhar com jovens, sobretudo crianças, e a possibilidade de parceria com escolas da rede pública de ensino pareceu mais viável, tornando-se efetiva. Desde então, estabeleceu-se parceria com a já citada E. B. M. Dilma Lúcia dos Santos, na qual se optou por trabalhar com turmas de alunos do Ensino Fundamental. O Projeto tem buscado beneficiar outras escolas, a exemplo da Escola Básica Municipal Batista Pereira, localizada no bairro do Ribeirão da Ilha8, que também tem sido privilegiada por essa iniciativa. Tentativas com outras escolas do sul de Florianópolis, bem como parcerias com instituições particulares de ensino também ocorreram e serão melhor detalhadas no segundo capítulo deste trabalho. Na página oficial do IPHAN/SC9, no item específico sobre o ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖ há informações pertinentes sobre sua estruturação e consta que se trata de uma interação de ação educativa composta por três etapas. A primeira delas consiste em palestra realizada pelo IPHAN sobre a Ilha do Campeche às turmas participantes. A segunda etapa é a visitação à Ilha e a terceira é a

8 Bairro localizado ao Sul da Ilha de Santa Catarina e, portanto, nas proximidades da Ilha do Campeche.

9 Disponível em:

<http://portal.iphan.gov.br/sc/noticias/detalhes/3863/iphan-santa-catarina-realiza-o-projeto-escolas-na-ilha-do-campeche>. Acesso em: 18 maio 2017.

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elaboração de trabalhos pelos alunos com orientação dos professores tendo a Ilha do Campeche como tema. De acordo com a página oficial do IPHAN, o objetivo desta prática é:

[...] proporcionar aos alunos e professores uma experiência de ensino-aprendizagem que busca fortalecer as relações afetivas dos alunos com a Ilha, favorecendo o potencial multiplicador que eles podem ter como agentes de preservação desse patrimônio cultural.

Durante o percurso no trabalho de campo, ao observar as etapas de desenvolvimento do ―Projeto Escolas‖, o percebi como sendo composto por cinco etapas. Desse modo, o classifico e analiso de acordo com tal perspectiva. A primeira etapa é referente à sinalização dos professores aos alunos em sala de aula sobre a palestra e futura visitação à Ilha do Campeche, das quais irão participar. Nessa primeira fase fala-se brevemente a respeito da Ilha, indicando os próximos passos do Projeto. A segunda etapa consiste na palestra realizada pelo IPHAN às turmas participantes. A terceira etapa é a visitação, sendo o ponto culminante dessa ação e o mais bem explorado nesta pesquisa. A quarta etapa remete à produção dos trabalhos interdisciplinares pelos alunos com temáticas pertinentes ao patrimônio visitado, sob orientação dos docentes responsáveis, e a quinta e última consiste na apresentação desses trabalhos na Mostra Pedagógica, findando o processo.

Quanto ao ápice do Projeto, ou seja, a visitação das turmas à Ilha do Campeche, as embarcações que os transportam partem do trapiche da Praia da Armação. Durante todo o processo da saída de estudo os alunos são conduzidos por professores responsáveis pelo grupo, bem como são guiados por monitores e vivenciam uma aula prática sobre o histórico do Sul da Ilha de Santa Catarina, saberes acerca do entorno da escola e, é claro, sobre a Ilha do Campeche. Os estudantes realizam uma trilha, obrigatoriamente guiados pelos monitores e em seu trajeto visitam sítios arqueológicos de gravuras rupestres, podendo também avistar oficinas líticas no entorno dos costões rochosos da Ilha.

Nas semanas seguintes à visitação, os professores trabalham temas transversais relacionados ao patrimônio visitado e planejam, conjuntamente aos alunos, os trabalhos a serem produzidos e apresentados na Mostra Pedagógica da Escola, a qual consiste em

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atividade aberta a toda comunidade. Dentre as atividades interdisciplinares resultantes está a elaboração de trabalhos manuais (mosaicos, pinturas, desenhos), produção textual (poesias, contos), peças teatrais, programas de rádio, maquetes e desenhos, conforme consta no histórico do Projeto e nos resultados das elaborações das turmas no ano de 2016.

É tomando este conjunto de ações que esta pesquisa tem como objetivo identificar e compreender as memórias e identidade dos alunos participantes do ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖ em relação à Ilha do Campeche, sobretudo ao patrimônio arqueológico visitado. Analiso o processo de educação patrimonial exercido, refletindo sobre suas contribuições para a Escola, para os sujeitos da pesquisa (alunos), para as comunidades locais e, por fim, para o campo educacional.

Processos educativos semelhantes que consideram o patrimônio cultural como referencial vão além do espaço escolar e podem ser compreendidos como potencializadores identitários, trabalhando com a constituição do sentido de pertencimento a um dado lugar, nesse caso específico, à Ilha do Campeche, a qual está presente direta ou indiretamente na vida desses estudantes e da comunidade em que se inserem. As experiências educativas se fazem mais efetivas ao serem integradas às demais dimensões da vida e do cotidiano das pessoas (HORTA, 2014). Nesse sentido, para compreender as percepções dos alunos sobre o patrimônio arqueológico no advento da referida saída de estudos, é preciso primeiramente conhecer os espaços que fazem parte do seu cotidiano e buscar compreender o contexto no qual se inserem como sujeitos. Nessa direção, os conhecimentos da pesquisadora acerca dos locais de pesquisa e o contato com os alunos se faz estritamente importante e necessário no processo investigativo que visa analisar a percepção desses sujeitos, a qual está imbricada em suas memórias e relações com o local visitado.

Sobre as ações educativas que fazem parte do rol de demandas da salvaguarda dos bens patrimoniais, o IPHAN aponta oficialmente uma série de premissas. Afirma que as comunidades devem ser participantes efetivas dessas ações educativas, ao passo que os bens culturais estão inseridos nos seus espaços de vida. Dessa forma, a instituição reputa educação patrimonial como um processo de mediação, considerando o patrimônio cultural um campo de conflito na medida em que se constitui em direito e dever de todos. Desse modo, é imprescindível conceituar patrimônio e analisá-lo mediante essa perspectiva. As demandas dele decorrentes repercutem nos mecanismos a serem utilizados para se fazer e se compreender a educação patrimonial.

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O patrimônio no Brasil resulta da construção de uma política oficial do Estado desenvolvida pelo órgão federal do Patrimônio Nacional, o qual se chamou, inicialmente, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual IPHAN. Seu marco inicial foi dado por meio da publicação do Decreto Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937, o qual objetivava desencadear um processo de preservação dos bens culturais por intermédio de uma política de tombamento, buscando preservar o patrimônio ―como sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciado pela indústria humana‖ (SOARES, 2003, p.19).

Grunberg (2007) define patrimônio cultural como as manifestações e expressões criadas pelos homens e pela sociedade, acumuladas no decorrer dos anos por gerações. Cada geração as recebe, usufrui e modifica de acordo com sua história e suas necessidades e preserva ou esquece tal herança. Esse patrimônio, ao ser reconhecido pela sociedade e protegido por legislações, revela os múltiplos aspectos que a cultura viva de uma comunidade pode apresentar, os quais nos levam a um constante processo de conhecimento e descoberta.

Andrade (2010) afirma que o estudo do patrimônio indica que geralmente buscamos nos orientar por meio do espaço, pessoas, imagens e objetos, e essa busca por orientação advém da necessidade de dar sentido e concretude ao sentimento de pertença, marcando nossa passagem ou duração temporal pela vida. Por sermos sensíveis e históricos, a experiência do vivido acaba sendo produtora de significados e narrativas. Portanto, esse olhar remete considerá-lo como orientador identitário e desse modo tem papel fundamental num grupo específico ou sociedade, na condição de provedor do sentido de unidade entre os sujeitos, como é o caso de uma nação. Não por acaso patrimônio é produto do processo de criação e consolidação do Estado Moderno, o qual precisa reiterar seu sentido unívoco para se manter como tal. Ainda, aponta que essas vivências podem ser recuperadas pelo trabalho com a memória, a qual se constitui numa importante chave que nos revela os laços que estabelecemos com o patrimônio (ANDRADE, 2010).

Otto (2016; 2012) entende que o patrimônio se vincula a bens, a objetos de valor, a pessoas, individualmente ou coletivamente, remetendo ao que foi construído e permanece no presente a influenciar os modos como os seres humanos significam, reconhecem e se vinculam a determinados espaços. Ou seja, patrimônio são resquícios do passado existentes no tempo presente, no qual fazem parte do cenário atual e são

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ressignificados, considerados, são intermediários entre o hoje e o ontem, ligando-nos ao passado e às memórias.

Para compreender educação patrimonial é necessário atentarmo-nos para as peculiaridades de suas referências patrimoniais dentro de um contexto educativo (AZEVEDO NETTO, 2008).Os territórios eleitos para práticas educacionais voltadas aos bens patrimoniais são espaços educativos e seu exercício deve levar em conta a intersetorialidade das políticas públicas, sendo necessária uma abordagem transversal e dialógica da educação patrimonial. Esta nos remete a um mundo de possibilidades quanto a seus conceitos e práticas. Segundo a definição de Horta, Grunberg e Monteiro (1999, p.6), educação patrimonial é:

[...] um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização da sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural.

Como um processo permanente ela assume um importante papel dentro do espaço escolar, no qual todas as ações de ensino e aprendizagem são voltadas para a formação dos indivíduos como cidadãos. Nessa condição, colabora significativamente para a compreensão dos estudantes sobre a pluralidade cultural dentro do espaço escolar no qual estão inseridos, no bairro onde moram, na cidade a que pertencem, enfim, no mundo. Esse desenvolvimento se dá de modo processual no decorrer de suas vidas, de acordo com os avanços em seu cognitivo e no ideário e senso crítico construído gradativamente no processo de formação escolar. Para o IPHAN,

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Todas as vezes que as pessoas se reúnem para construir e dividir conhecimentos, investigar para conhecer melhor, entender e transformar a realidade que as cerca estão realizando uma ação educativa. Quando tudo isso é feito levando em conta algo relativo ao patrimônio cultural, então trata-se de Educação Patrimonial.10

Lima (2003 apud AZEVEDO NETTO, 2008) explica e conceitua Educação Patrimonial como um conjunto de ações com metodologia própria e finalidade de promover conhecimento acerca dos bens culturais, permitindo acesso direto a eles e propiciando atitudes voltadas a sua preservação. Para Grunberg (2007), educação patrimonial é processo permanente e sistemático de trabalho educativo, que tem o patrimônio cultural em todas as suas manifestações como ponto central e ponto de partida ao mesmo tempo. Diante dos variados conceitos acerca do mesmo ponto, é possível concluir que a educação patrimonial é caminho para obtenção de saberes e conhecimentos sobre bens patrimoniais que estejam ligados ou interessem a um grupo específico, o qual por meio da participação de ações educativas acaba por promover aproximação e identificação dos sujeitos com o que se define como bens culturais.

Duarte e Delgado (2015, p.104) especificam que ―a educação patrimonial como proposta interdisciplinar propicia o desenvolvimento e problematização acerca dos conhecimentos históricos e relação das comunidades com seu patrimônio cultural‖. Já Otto (2016) a conceitua como uma metodologia de estudo que relaciona o conhecimento do patrimônio local com o fortalecimento identitário dos sujeitos e também da cidadania.

Uma das finalidades da educação patrimonial é a identificação dos sujeitos com seus bens patrimoniais. A melhor maneira de despertar o interesse e curiosidade dos alunos pelo patrimônio se dá estabelecendo contato entre ambos (SOARES, 2003), conforme o que se promove no ―Projeto Escolas‖. Delgado (2006) aponta que a identidade se constitui a partir de um sentimento de vinculação e experiência comum entre os sujeitos, sendo essas identidades ao mesmo tempo constituídas por um

10 Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/343>. Acesso

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mecanismo contrastante de afirmação das diferenças e reconhecimento das similitudes.

Um dos principais objetivos de ações educacionais voltadas ao patrimônio cultural é promover a preservação desses bens por parte dos sujeitos próximos, os quais são geralmente o público alvo desse tipo de iniciativa. Nesse sentido, os autores Machado; Hargert e Possel (2003, p.47) apontam:

Na questão da preservação, a Educação Patrimonial tem papel fundamental, pois surge como uma nova maneira de encarar o mundo que nos rodeia, como uma nova forma de observar as diversidades de cada região e manter viva a tradição de cada local. É por meio dela que a comunidade toma conhecimento do potencial natural, histórico e cultural que possui seu município. Sendo inserida nos currículos escolares, vai ao encontro de quem tem maior potencial para adquirir e, futuramente, transmitir essas noções de preservação e manutenção da sua cultura.

Na busca por compreender a educação patrimonial desenvolvida pelo ―Projeto Escolas‖ efetuei o trabalho de campo entre o segundo semestre de 2016 e o primeiro semestre de 2017. Os participantes do ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖ no ano de 2016 foram três turmas de alunos dos sextos anos do Ensino Fundamental da referida escola, totalizando sessenta alunos pertencentes às turmas denominadas 61, 62 e 63. O primeiro contato com os sujeitos da pesquisa deu-se no auditório da escola no dia quatro de outubro de 2016, ao acompanhar a palestra do IPHAN, ministrada às turmas pela Cíntia Chamas e pela monitora Letícia Pires, do grupo de monitores da Ilha do Campeche, que vinham atuando nesta função nos últimos anos.

Uma das turmas assistiu à palestra no período matutino e as outras duas turmas no período vespertino. A metodologia empregada possibilitou aos alunos exercerem intervenções e indagações diversas de acordo com o assunto abordado, abrangendo temas semelhantes e suprindo suas possíveis necessidades e dúvidas durante as palestras. O conteúdo da apresentação foi abordado tendo como recurso didático apresentação de slides contendo informações pontuais e fotografias

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relacionadas ao histórico do sul da Ilha de Santa Catarina e principalmente à Ilha do Campeche. Foi ressaltada a importância de participarem desse projeto e da experiência11 de visitação a um patrimônio dessa singularidade. Dependendo das características gerais que cada turma apresentava, os modos de intervenção das palestrantes se diferenciavam e as dinâmicas se modificavam.

Além disso, foram apontadas algumas das motivações que levaram o IPHAN à elaboração do ―Projeto Escolas‖ e suas pretensões futuras relacionadas a sua expansão a outras instituições de ensino e maior alcance às comunidades locais. Sinalizamos aos alunos a importância de se manterem atentos durante a visitação, pois no local devem coletar dados que posteriormente serão utilizados na elaboração dos trabalhos interdisciplinares. Devem, pois, fazer anotações e tirar fotografias da Ilha, sobretudo do que mais gostarem.

Durante as palestras, bem como nas demais etapas de observação, efetuei as anotações no Caderno de Campo. Na produção bibliográfica sobre o método etnográfico, o Diário de Campo é apontado como inevitável e indispensável por consistir numa ferramenta em que o pesquisador registra os dados observados sobre o que encontra em campo. É um tipo de rascunho a ser lapidado(TEZANI, 2004). As falas, os gestos, comportamentos e indagações de maior destaque ou que se fizeram mais instigantes e emblemáticas foram devidamente registradas. Os registros incluem também fotografias. Os desafios e dúvidas encontradas no início do processo de observação no campo investigativo contribuíram para que os objetivos da pesquisa fossem repensados e reformulados de acordo com as circunstâncias encontradas, as quais, em alguns momentos, divergiram do planejamento inicial.

Esse momento do trabalho foi crucial por consistir no primeiro contato que obtive com as turmas. À medida que ia observando refletia sobre a dimensão do ―Projeto Escolas‖ e das demandas que o envolvem,

11É válido mencionar que no decorrer do texto, ainda que por vezes utilize a

expressão ―experiência‖ para designar o ato da visitação das turmas à Ilha do Campeche por meio da participação no ―Projeto Escolas‖ não trabalho aqui na perspectiva do conceito de experiência desenvolvido por autores como Thompson ou Benjamin, por exemplo. Apenas me utilizo da palavra para designar a vivência do momento do contato desses sujeitos com o patrimônio cultural visitado. Na condição de uma atividade isolada, experienciada em um único dia, não se tratando de uma rotina ou algo vivido ciclicamente no grupo, optei por não concebê-lo pelo viés do conceito de experiência.

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concebendo a complexidade de meu objeto de pesquisa, o que me conduziu a realizar algumas modificações na metodologia inicialmente pretendida. Digamos que deixei o campo investigativo ―guiar‖ meus passos.

É importante ressaltar que em pesquisas voltadas a ambientes educacionais a observação em campo não é algo intensivo como outros casos de utilização do método etnográfico. Trata-se, pois, de outro nível de imersão no campo investigativo. Em momentos oportunos busquei explorar o espaço escolar e observar o contexto cotidiano dos sujeitos da pesquisa, as salas de aula frequentadas por aquelas turmas, seus professores, a sala de professores. Observava e fotografava. Era preciso compreender as dinâmicas daquele espaço, a rotina dos alunos para que pudesse compreendê-los, aguçar o olhar.

Indago sobre quais identidades são essas, de que maneira são construídas ao participarem do ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖ e a relação das mesmas no processo de construção de significados advindos da prática da educação patrimonial. Os educandos desenvolvem memórias sobre a Ilha do Campeche, que são constituídas por meio de suas lembranças a partir da visitação guiada por monitores. Parte desses alunos é proveniente de famílias que estão há muitas gerações nas comunidades do entorno. As gerações anteriores ao tombamento possivelmente contam histórias e experiências sobre a Ilha do Campeche relatando sobre o que se pensava ou se pensa a respeito de seus sítios arqueológicos, de como era o cotidiano com a Ilha antes do tombamento e sobre sua realidade atual. Permeados pelas memórias de outrem esses sujeitos vão constituindo novas memórias e estabelecendo uma relação identitária com esse bem patrimonial ainda sem conhecê-lo diretamente. A identidade pode formular-se de acordo com o reconhecimento dos sujeitos como pertencentes a um lugar específico, a um patrimônio e à importância dada àqueles que com eles convivem ou os consideram importantes. Dessa forma, estabelece-se uma inter-relação entre as memórias de diferentes gerações sobre um mesmo lugar. Já outros alunos pertencem a famílias originárias de outras localidades, que possivelmente conhecem pouco da história e do patrimônio local e têm uma outra relação com a Ilha do Campeche de acordo com suas particularidades.

Para analisar as memórias desses sujeitos apliquei um questionário com seis questões dissertativas (Apêndice A) com indagações sobre o que recordam da Ilha do Campeche com ênfase em seu patrimônio arqueológico. Esse método visa também uma investigação sobre o que já sabiam anteriormente à visita com a Escola e

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o que conheceram a partir dessa vivência. Assim, busquei compreender as pertinências e desdobramentos da educação patrimonial e sua contribuição no processo de construção da memória e identidade do ―público-alvo‖ do ―Projeto Escolas‖ referente ao bem patrimonial em evidência. Procurei investigar o que esses sujeitos sabiam sobre a Ilha antes dessa visitação e o que aprenderam a partir daí, bem como o quanto suas memórias estão ligadas ao patrimônio arqueológico visitado e como se dá a constituição e reelaboração de novas memórias. Ainda, investiguei a relação identitária com o patrimônio cultural visitado.

Quanto ao questionário aplicado, as duas primeiras questões referem-se às memórias e conhecimentos dos alunos sobre a Ilha do Campeche e seu patrimônio arqueológico antes da visitação, buscando com que lembrem por quais meios obtiveram esses conhecimentos, seja por meio de familiares, conhecidos, meios de comunicação, entre outros. As questões três, quatro e cinco são voltadas para os novos aprendizados adquiridos na saída de estudos à Ilha por meio do Projeto, com enfoque nos sítios arqueológicos visitados. Na sexta e última questão, busquei investigar e compreender suas noções de patrimônio.

Assim, em abril de 2017 foram aplicados os questionários às turmas da E.B.M. Dilma Lúcia dos Santos que visitaram a Ilha do Campeche por meio do ―Projeto Escolas‖ no ano anterior. O período entre a visitação e a aplicação dos questionários foi de quatro meses, incluindo as férias escolares. Essa demora se explica pelo fato de que a última turma a visitar a Ilha o fez na penúltima semana ao encerramento do ano letivo escolar, impossibilitando disponibilidade de tempo para aplicar o questionário. Assim, a última turma, por não dispor de tempo suficiente para produção dos trabalhos, acabou não podendo produzi-los a tempo para exibi-los na Mostra Pedagógica. Eis aí um dos efeitos colaterais do reagendamento das saídas das turmas à Ilha devido a fatores imprevisíveis, como os climáticos.

Na somatória dos questionários, 20 deles foram respondidos pela turma 71 do período matutino, 11 pela turma 72 e 7 pela turma 73, totalizando 51 questionários. Excepcionalmente, na turma 73, dois alunos não participantes do ―Projeto Escolas‖ optaram por responder afirmando interesse em contribuírem com a pesquisa, já que ambos já visitaram a Ilhado Campeche.

Quanto ao aporte teórico sobre o conceito de Memória recorri a Halbwachs (2003)e acerca da Memória e Identidade me guio em Pollak (1992). Tais categorias proporcionam suporte para entendimento das relações que vão sendo construídas entre esses sujeitos e o patrimônio arqueológico visitado e estudado por meio do ―Projeto Escolas‖. Utilizo

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também autores que conceituam patrimônio cultural, patrimônio arqueológico e educação patrimonial, os quais são temas transversais nesta pesquisa. Dentre as fontes analisadas está o Caderno de Campo, o qual foi organizado em quatro partes: pesquisa no acervo do IPHAN/SC ao histórico do ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖; palestras na E.B.M. Dilma Lúcia dos Santos promovidas pelo IPHAN/SC; visitação das turmas de alunos à Ilha do Campeche e, por fim, observações da Mostra Pedagógica.

Outra fonte investigativa são os trabalhos interdisciplinares produzidos pelos alunos que consistem em desenhos e produções textuais em que esses sujeitos reproduzem/representam o patrimônio visitado em seus diversos aspectos. Essas produções foram divulgadas abertamente à comunidade durante a Mostra Pedagógica, em um sábado, ao fim do semestre letivo de 2016. Averiguei, principalmente, o foco dado aos trabalhos que evidenciam conhecimentos e interesses acerca do patrimônio arqueológico, bem como suas noções de patrimônio.

Seguindo os objetivos específicos deste trabalho, busquei nas respostas dos questionários e nas produções dos alunos perceber quais ensinamentos dos monitores durante a visitação possivelmente lhes chamaram mais atenção, bem como quais os possíveis resultados das abordagens realizadas durante todo o projeto de educação patrimonial que envolve o patrimônio arqueológico da Ilha. Nesse conjunto de interpelações estão inclusas as explicações das palestrantes, dos professores em sala de aula e a abordagem dos monitores. Estas parecem culminar o despertar de interesse pelo patrimônio arqueológico visitado e estudado, de acordo com as evidências dos resultados de suas produções. Por meio das conclusões resultantes da síntese dessa análise, é possível pensar em possibilidades para o ―Projeto Escolas na Ilha do Campeche‖ e refletir sobre a pertinência de ações de educação patrimonial na atualidade, as quais são explanadas no último capítulo. Por fim, expresso as possíveis contribuições deste trabalho ao campo de pesquisa.

Conhecer como se deu e se pensou a criação do ―Projeto Escolas‖, assim como ter contato com seus relatórios anuais e com parte dos resultados obtidos até então, contribuiu para a criação de um panorama de informações e ideias que o permeiam. Esses conhecimentos são necessários para uma melhor compreensão das fontes no ato de análise e também para o leitor que aos poucos vai se familiarizando e adentrando num ―universo‖ em que educação patrimonial, Ilha do Campeche e ―Projeto Escolas‖ são indissociáveis. Essa etapa exploratória contribuiu também para a obtenção de respostas

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