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O impacto da atuação do núcleo de inteligência na efetividade das decisões proferidas pela justiça eleitoral brasileira no julgamento das contas da campanha eleitoral de 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

DENISE GOULART SCHLICKMANN

O IMPACTO DA ATUAÇÃO DO NÚCLEO DE INTELIGÊNCIA NA EFETIVIDADE DAS DECISÕES PROFERIDAS PELA JUSTIÇA ELEITORAL BRASILEIRA NO JULGAMENTO DAS CONTAS DA

CAMPANHA ELEITORAL DE 2016

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Florianópolis 2018

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DENISE GOULART SCHLICKMANN

O IMPACTO DA ATUAÇÃO DO NÚCLEO DE INTELIGÊNCIA NA EFETIVIDADE DAS DECISÕES PROFERIDAS PELA JUSTIÇA

ELEITORAL BRASILEIRA NO JULGAMENTO DAS CONTAS DA CAMPANHA ELEITORAL DE 2016

Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de Mestre em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Orides Mezzaroba

Florianópolis 2018

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Aos meus queridos pais, Silvino (in memoriam) e Rogéria, que me cercaram de amor a vida inteira e me fizeram quem sou. Aos meus filhos amados, Victor e Henrique, que encerram o melhor de

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AGRADECIMENTOS

Meu agradecimento à Justiça Eleitoral Brasileira, a quem sirvo com orgulho no Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina e no Tribunal Superior Eleitoral. Estas valorosas instituições me franquearam o acesso às informações utilizadas nesta pesquisa e me possibilitaram o aperfeiçoamento de minha formação.

Aos colegas e amigos Eron Júnior Vieira Pessoa, titular da Assessoria de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias do Tribunal Superior Eleitoral e Thiago Bergmann de Queiroz, assessor técnico, minha gratidão pela extração das inúmeras e valiosas informações estatísticas que fundamentam esta dissertação.

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A aprovação da presente dissertação não significará o endosso do Professor Orientador, da Banca Examinadora e da Universidade Federal de Santa Catarina à ideologia que a fundamenta

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RESUMO

SCHLICKMANN, Denise Goulart (2018). O impacto da atuação do Núcleo de Inteligência na efetividade das decisões proferidas pela Justiça Eleitoral brasileira. 174 f. (Dissertação em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2018.

Considerando a atuação do Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral (NIJE), examina-se o impacto da sua atuação na efetividade das decisões proferidas pela Justiça Eleitoral Brasileira no julgamento de contas da campanha eleitoral de 2016. Objetiva-se analisar o efeito da atuação do NIJE e identificar as consequências da detecção de indícios de irregularidade para coibir infrações detectadas no processo eleitoral. Para tanto, são apresentados dados obtidos mediante pesquisa nos repositórios de dados eleitorais da Justiça Eleitoral Brasileira a respeito das informações sobre as prestações de contas entregues por partidos políticos e candidatos, bem como sobre indícios de irregularidade detectados pelo NIJE, identificando aqueles de maior repercussão no processo eleitoral e sua concentração nas diversas regiões do país. Verifica-se se os indícios de irregularidade encontram correspondência no sistema sancionatório brasileiro, de molde a interferir de forma efetiva nos julgamentos proferidos pela Justiça Eleitoral Brasileira. A abordagem metodológica é a dedutiva, com estudo de caso, sendo o resultado da pesquisa exploratória, descritiva e qualitativa. Desse modo, observa-se que o NIJE congrega diversos níveis de controle ao encargo de instituições públicas hábeis à aferição da integridade das informações prestadas nas contas eleitorais. Reúne valiosos elementos de instrução concentrados em tipologias específicas com a finalidade de identificar indícios de irregularidade relativos às regras estabelecidas pela Lei nº 9.504/1997 no âmbito do financiamento eleitoral. São expressivos os indícios de irregularidade identificados, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto do montante de recursos envolvidos. Os indícios de irregularidade detectam desvio de recursos de campanha eleitoral e registro indevido de gastos eleitorais nas contas prestadas, viabilizando a apuração de desvirtuamento de recursos das contas de campanha para fins particulares e a prática de ilícitos eleitorais. Constata-se que a atuação do NIJE possui estreita relação com a efetiva legitimidade das próprias eleições. O efetivo cumprimento das regras de arrecadação de recursos e realização de gastos eleitorais por todos quantos concorram

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ao pleito é essencial para estabelecer-se o padrão de igualdade de condições que consolida os fundamentos da Democracia Representativa. A contribuição do NIJE no afastamento das condições de captação ilícita de recursos e de realização ilícita de gastos eleitorais, identificando indícios de irregularidades diretamente vinculados a essas práticas ainda durante o período eleitoral, inverte a lógica do exame posterior dos fatos, permitindo à Justiça Eleitoral Brasileira suspender ilícitos em franca execução ou restabelecer a legalidade da disputa. A excelência do controle de regularidade das contas de campanhas eleitorais é fortemente impactada pela existência de estrutura robusta de controle e fiscalização concomitante. Contudo, embora o NIJE tenha alcançado importantes resultados na identificação de indícios de irregularidades, as consequências da identificação desses indícios dependem da ação específica e direcionada de outros órgãos. Embora a Justiça Eleitoral Brasileira possua competência para prestar a jurisdição no que diz respeito à avaliação de regularidade das contas eleitorais e também de regular seus processos decisórios, não dispõe, se atuar isoladamente, de estrutura de controle hábil à instrução de seus processos ou de instrumentos sancionatórios que garantam a efetividade de suas decisões.

Palavras-chave: Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral. Indícios de irregularidade. Eleições municipais de 2016. Prestação de contas. Justiça Eleitoral Brasileira.

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ABSTRACT

Considering the performance of the Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral1 (NIJE), it examines the impact of its performance on the

effectiveness of the decisions rendered by the Brazilian Electoral Court in the judgment of the electoral campaign´s accounts of 2016. The objective is to analyze the performance of the NIJE´s effect and identify the consequences of detecting evidence of irregularity to prevent infractions detected in the electoral process. To do so, data obtained by searching the electoral data repositories of the Brazilian Electoral Justice are presented on information on the accounts rendered by political parties and candidates, as well as on evidence of irregularity detected by NIJE, identifying those with the greatest repercussion in the electoral process and its concentration in the various regions of the country. It is verified if the indications of irregularity find correspondence in the Brazilian sanction system, in order to effectively interfere in the judgments pronounced by the Brazilian Electoral Justice. The methodological approach is the deductive one, with case study, being the result of the exploratory, descriptive and qualitative research. Thus, it can be observed that NIJE brings together various levels of control to the charge of public institutions that are skilled at gauging the integrity of the information provided in the electoral accounts. It brings together valuable elements of instruction focused on specific typologies in order to identify signs of irregularity related to the rules established by Law nº. 9.504/1997 in the context of electoral financing. The evidence of irregularity identified, both from a quantitative point of view and from the amount of resources involved, is significant. Evidence of irregularity indicates that election campaign resources have been diverted and that electoral expenses have been unduly recorded in the accounts provided, making it possible to determine the misuse of funds from campaign accounts for private purposes and the practice of electoral illicit acts. It is observed that the performance of the NIJE has a close relation with the effective legitimacy of the elections themselves. Effective compliance with the rules for collecting resources and conducting electoral expenditures by all who participate in the election is essential to establish the standard of equality of conditions that consolidates the Representative Democracy´s foundations. The NIJE's contribution to the removal of illicit funding of funds and illicit execution of electoral

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expenses, identifying signs of irregularities directly linked to these practices during the electoral period, reverses the logic of subsequent examination of the facts, allowing the Brazilian Electoral Court suspending illicit activities in full execution or restoring the legality of the dispute. The excellence of control of the regularity of electoral campaign accounts is strongly impacted by the existence of a robust structure of control and concomitant supervision. However, while NIJE has achieved important results in identifying evidence of irregularities, the consequences of identifying such evidence depend on the specific and targeted action of other bodies. Although the Brazilian Electoral Court has the competence to provide the jurisdiction with regard to the evaluation of regularity of electoral accounts and also to regulate its decision-making processes, it does not have, if it acts in isolation, a control structure that is capable of instructing its processes or instruments sanctions that guarantee the effectiveness of their decisions. Keywords: Nucleus of Intelligence of the Electoral Justice. Evidence of irregularity. Municipal elections 2016. Accountability. Brazilian Electoral Justice.

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LISTA DE SIGLAS

NIJE – Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral TSE – Tribunal Superior Eleitoral

TRE – Tribunal Regional Eleitoral

MPF – Ministério Público Federal

TCU – Tribunal de Contas da União

COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras DETRAN – Departamento Estadual de Trânsito

ASEPA – Assessoria de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias do Tribunal Superior Eleitoral

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LISTA DE ABREVIATURAS

CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil CPF – Cadastro de Pessoas Físicas

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas

CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

GRU – Guia de Recolhimento da União

RHC – Recurso em Habeas Corpus

AgR – Agravo Regimental

REspe – Recurso Especial

SPCEWeb – Sistema de Prestação de Contas Eleitoral, versão Web, para uso interno da Justiça Eleitoral

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 21

1 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA, ESTADO DE

PARTIDOS E O DEVER DE CONTROLE IMPOSTO À JUSTIÇA ELEITORAL BRASILEIRA: O PAPEL DO NÚCLEO DE INTELIGÊNCIA... 29 1.1 Democracia Representativa e o exercício do poder político.. 29 1.2 Os partidos políticos e o Estado de Partidos... 36 1.3 O dever de controle da Justiça Eleitoral Brasileira,

a natureza e o papel do Núcleo de Inteligência... 42

2 A EVOLUÇÃO DOS MECANISMOS DE CONTROLE

E FISCALIZAÇÃO NO FINANCIAMENTO DAS CAMPANHAS ELEITORAIS: OS RESULTADOS OBTIDOS PELO NÚCLEO DE INTELIGÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL BRASILEIRA NAS

ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2016... 61 2.1 A evolução dos procedimentos de controle e fiscalização... 61 2.2 A integração dos mecanismos de controle: o Núcleo de

Inteligência da Justiça Eleitoral Brasileira... 66 2.3 Indícios de irregularidade detectados pelo Núcleo de

Inteligência da Justiça Eleitoral Brasileira nas eleições de 2016: resultados obtidos...70

3 EFETIVIDADE DAS DECISÕES PROFERIDAS PELA

JUSTIÇA ELEITORAL BRASILEIRA NO JULGAMENTO DAS CONTAS DE PARTIDOS POLÍTICOS E CANDIDATOS... 107 3.1 Natureza das decisões proferidas pela Justiça Eleitoral

Brasileira... 107 3.2 Sanções derivadas das decisões que aprovam com

ressalvas, desaprovam ou julgam não prestadas as contas de campanha eleitoral... 125 3.3 Natureza das infrações detectadas pelo Núcleo de

Inteligência e sanções potencialmente aplicáveis...137 3.3.1 Tipologia 1 - Fornecedores com número reduzido de

empregados, indicando indícios de falta de capacidade

operacional... 138 3.3.2 Tipologia 2 - Fornecedor com sócios ou representantes

e seus familiares recebedores do Bolsa Família, indicando indícios de falta de capacidade operacional... 140

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3.3.3 Tipologia 3 - Empresa constituída em 2015 ou 2016 e que possui sócio filiado a partido político, indicando possibilidade de constituição de empresa com desvio de

finalidade para uso em campanha eleitoral... 141 3.3.4 Tipologia 4 - Doador inscrito como beneficiário em

programas sociais do governo, indicando indícios de falta de capacidade econômica do doador... 143 3.3.5 Tipologia 5 - Doador cuja renda conhecida é incompatível

com o valor doado, indicando indícios de falta de capacidade econômica do doador... 145 3.3.6 Tipologia 6 - Doador sem vínculo empregatício conhecidos

nos 60 dias anteriores à data da doação, indicando indícios de falta de capacidade econômica do doador... 147 3.3.7 Tipologia 7 - Doador de campanha registrado no Sistema

de Controle de Óbitos, indicando indícios de lavagem de

dinheiro em campanha... 149 3.3.8 Tipologia 8 - Fornecedor sem registro ativo na Junta

Comercial ou na Secretaria da Receita Federal, indicando indícios de falta de capacidade operacional... 151 3.3.9 Tipologia 9 - Cessão de uso de veículo que não está

registrado em nome do doador, indicando indícios de fraude na doação estimável em dinheiro de veículo... 153 3.3.10 Tipologia 10 - Fornecedor tem relação de parentesco com

candidato ou seu vice, revelando indícios de suspeita de desvio de recursos... 154 3.3.11 Tipologia 11 - Doador sócio ou dirigente de empresa que

recebeu recursos da administração pública, indicando a possibilidade de repasse indireto de recursos públicos à

campanha... 156 3.3.12 Tipologia 12 - Concentração de doadores em uma mesma

empresa a determinado candidato, revelando indício de doação empresarial indireta... 158 CONCLUSÃO... 161 REFERÊNCIAS... 169

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação foi desenvolvida na linha de pesquisa Sociedade, Controle Social e Sistema de Justiça, contemplando o tema Atores Políticos.

O tema foi delimitado para tratar da atuação do Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral (NIJE)2 nas eleições municipais de 2016.

Delimitado o tema da pesquisa, seu problema central é examinar o impacto3 da atuação4 do NIJE na efetividade5 das decisões proferidas6 pela Justiça Eleitoral Brasileira7 no julgamento de contas da campanha eleitoral de 20168.

Busca-se no estudo realizado analisar o efeito da atuação do Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral nas eleições de 2016 sobre as decisões por ela proferidas relacionadas ao exame de regularidade das

2 Doravante denominado nesta dissertação pela sigla. Natureza e funções do Núcleo de

Inteligência serão abordadas no capítulo 2 desta dissertação.

3 Compreendido o impacto, para os fins desta dissertação, como o efeito causado pelos

resultados obtidos pelo NIJE nas decisões judiciais sobre prestação de contas das eleições municipais de 2016. O efeito, também para os fins desta dissertação, diz respeito às sanções potencialmente aplicáveis pela Justiça Eleitoral a partir dos resultados obtidos pelo NIJE.

4 Para os fins desta dissertação, a atuação do NIJE é compreendida como o exercício

regular da detecção das tipologias de cruzamento de informações entre os diversos órgãos que o compõem, a partir das informações sobre doações recebidas e gastos eleitorais realizados, encaminhadas por candidatos e partidos políticos à Justiça Eleitoral. Vide, a respeito das tipologias do NIJE, o item 2.1 desta dissertação.

5 Para os fins desta dissertação, adota-se o conceito de efetividade como a realização do

Direito, o desempenho concreto de sua função social (BARROSO, 2006, p. 81 a 84) ou, nas palavras de Miguel Reale (2000, p. 112-116), eficácia social, ou seja, conversão em comportamento concreto.

6 Para os fins desta dissertação, o conceito de decisões proferidas não está voltado

especificamente à decisão de qualquer uma das instâncias específicas da Justiça Eleitoral tomada frente a caso concreto, mas às possibilidades legais de decisão ante as infrações detectadas pelo Núcleo de Inteligência e as sanções passíveis de aplicação previstas na legislação, a partir do seu trânsito em julgado.

7 Assim compreendida para os fins desta dissertação como o conjunto dos órgãos

jurisdicionais que atuam neste ramo de justiça especializada: o Tribunal Superior Eleitoral, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Juízes Eleitorais.

8 Por julgamento de contas da campanha eleitoral de 2016, para os fins desta dissertação,

compreende-se o julgamento de regularidade de referidas contas atribuído às instâncias da Justiça Eleitoral em abstrato, sem referir-se a nenhum caso concreto posto em julgamento.

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contas de campanha dessas eleições, estas compreendidas como última etapa a legitimar o processo eleitoral.

Compreendido o processo eleitoral como outorga do poder político àqueles que vão representar o governo democraticamente eleito, a avaliação eficaz das contas de campanha eleitoral é instrumento de grande importância. Sua importância decorre de que o sufrágio – direito constitucional de votar e ser votado – pode não ter materializado a livre expressão da vontade do eleitor, pois a influência do poder econômico pode tê-la alterado sensivelmente.

A pesquisa busca identificar as consequências da detecção de indícios de irregularidade9 e de infrações no financiamento eleitoral, com vistas à compreensão de sua efetividade ante a estrutura existente no ordenamento jurídico para coibir eventuais infrações detectadas no processo eleitoral.

Para tanto, serão apresentadas as informações obtidas mediante pesquisa nos resultados alcançados pelo Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral na identificação de indícios de irregularidade na campanha eleitoral de 2016 e no ordenamento jurídico em vigor10.

A pesquisa levada a efeito está centrada em três hipótese que podem ser assim delineadas:

1. a excelência do controle de regularidade das contas de campanhas eleitorais é fortemente impactada pela inexistência de estrutura robusta de controle e fiscalização concomitante a serem exercidos pela Justiça Eleitoral Brasileira no curso do processo eleitoral e não apenas ao final desse mesmo processo com o julgamento de regularidade dos processos de prestação de contas de campanha eleitoral;

2. conquanto o Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral possa ter alcançado resultados na identificação de indícios de irregularidades

9 Para os fins desta dissertação, adota-se o conceito de indícios de irregularidade do

Glossário de Termos do Controle Externo do Tribunal de Contas da União (2012, p. 12) que, no exercício de suas funções de auditoria, define indícios de irregularidade como a “discordância entre a situação encontrada e o critério que ainda não foi devidamente investigada nem está suficientemente suportada por evidências a ponto de caracterizar-se como achado ou constatação”. Na hipótese do processo judicial, a identificação de evidências para o indício encontrado, no curso de sua apuração, alça o indício à categoria de prova. Ainda para o Tribunal de Contas da União, “um conjunto robusto de indícios que permita a formação de juízo sobre uma questão pode ser admitido, em determinadas circunstâncias e com a devida cautela, como meio de prova indireto”.

10 Legislação eleitoral aplicável às eleições de 2016, ou seja, Leis n° 4.737/1965,

9.504/1997, 9.096/1995, Leis Complementares n° 64/1990 e 135/2010, e Resolução TSE n° 23.463/2015.

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relativos ao financiamento das campanhas eleitorais de 2016 durante o processo eleitoral, as consequências da identificação desses indícios não produziram incremento significativo na efetividade das decisões da Justiça Eleitoral Brasileira;

3. embora a Justiça Eleitoral Brasileira possua competência para prestar a jurisdição na matéria que diz respeito à avaliação de regularidade das contas eleitorais e também de regular seus processos decisórios, não dispõe de instrumentos que garantam a efetividade de suas decisões, quer pelas regras de processamento dos feitos judiciais eleitorais, quer pela fragilidade do sistema sancionatório diretamente vinculado a suas decisões nessa matéria.

A pesquisa considera, ainda, como variáveis que podem interferir nos estudos levados a efeito a detecção de atuação determinante concentrada apenas nos órgãos da própria Justiça Eleitoral Brasileira e em período posterior à realização das campanhas eleitorais; a constatação de consequências expressivas nas decisões proferidas pela Justiça Eleitoral Brasileira relacionadas ao exame de regularidade de contas em função dos indícios de irregularidade detectados pelo NIJE; e a identificação de instrumentos na Justiça Eleitoral Brasileira que garantam a efetividade de suas decisões, mediante um sistema sancionatório robusto vinculado às decisões que profere em matéria de prestação de contas.

Delineado o objetivo geral da pesquisa, o seu desdobramento em objetivos específicos contempla, em primeiro plano, a análise da relação entre o Estado de Partidos, a Democracia Representativa e o dever de controle imposto à Justiça Eleitoral Brasileira no que diz respeito ao processo eleitoral e a competência que lhe foi atribuída institucionalmente. Dentre tais competências, não apenas para regulamentar as disposições da legislação eleitoral, mas para executar importantes atribuições de controle e fiscalização11 da atuação de candidatos e partidos políticos durante a campanha eleitoral.

Em segundo momento, o objetivo geral da pesquisa desdobra-se no exame crítico, em perspectiva histórica, a partir das eleições de 2014, da evolução dos mecanismos de controle e fiscalização concomitante no financiamento das campanhas eleitorais, culminando nas eleições de

11 À Justiça Eleitoral incumbe decidir sobre a regularidade das contas de campanha,

segundo dispõe o art. 30 da Lei n° 9.504/1997, competindo-lhe aferir as regras dispostas no mesmo diploma legal sobre arrecadação de recursos e gastos eleitorais. Exerce o controle sobre a concessão de números de inscrição no CNPJ e abertura de contas bancárias, por exemplo, e fiscaliza as fontes de arrecadação de recursos e a sua destinação.

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2016 com a instituição do Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral, identificando os resultados obtidos por esse núcleo em sua primeira atuação naquelas eleições municipais.

Por fim, também como objetivo específico da pesquisa, procura-se examinar o ordenamento jurídico primário (Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB12 e leis ordinárias) e o alcance do poder regulamentar da Justiça Eleitoral Brasileira, com vistas à coibição das infrações que identifica no julgamento das contas e a eficácia dos instrumentos disponíveis para dar efetividade às sanções aplicadas pela Justiça Eleitoral Brasileira no julgamento das contas de partidos políticos e candidatos.

A importância do estudo ora empreendido tem por fundamento o fato de que o direito eleitoral constitui um sistema de normas de direito público que regulam o dever e, sobretudo, o direito que detém o cidadão de participar na formação do governo. Protege e garante, pois, a prerrogativa que é conferida ao cidadão do exercício do direito que lhe foi assegurado constitucionalmente: o de votar e ser votado.

Ao par disso, e no intuito de preservar a legitimidade13 de cada processo eletivo, a cada eleição que se realiza, há a instituição de normas específicas que devem ser seguidas por todos os que, de uma forma ou de outra, se envolvem no processo eletivo.

Dentre as inúmeras regras que disciplinam o processo eleitoral, desde a realização de convenções partidárias para escolha de candidatos até a diplomação dos eleitos, aquelas referentes à arrecadação de recursos e realização de gastos eleitorais revestem-se de extrema importância. Isso porque nessas regras concentram-se os parâmetros que conferem o atributo de legalidade ou não aos recursos que financiam as campanhas e que permitem a sua aplicação na busca dos votos necessários à consagração nas urnas. A forma pela qual os votos foram alcançados pode ser apurada e julgada regular ou não em relação a cada candidato e a cada partido político.

A todos quantos concorrem às eleições idênticas regras são fixadas, preservando a igualdade de condições na disputa e buscando coibir a prática de ilícitos que descompensem a favor deste ou daquele candidato ou partido político as condições materiais para a conquista de votos.

12 Doravante, a Carta Magna será denominada nesta dissertação pela sigla CRFB. 13 Para os fins deste projeto de pesquisa, adota-se o conceito de legitimidade de Cesar

Luiz Pasold (1986, p. 21), como condição de pré-rito da legalidade, ou seja, pressuposto que confere à norma a força necessária ao respeito indubitável por parte da Sociedade.

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Assim, quando tais regras são descumpridas, ou seja, quando a arrecadação de recursos para campanhas eleitorais ocorre mediante o uso de fontes vedadas pela legislação eleitoral ou utilizando-se de meios que impossibilitam o controle eficaz de legalidade pela Justiça Eleitoral Brasileira, de que é exemplo o Caixa 2, a eleição conquistada perde em legitimidade.

De igual sorte, quando a realização de gastos durante a campanha eleitoral não observa as restrições que a lei impõe para evitar, por exemplo, o uso de recursos para o cometimento de crimes eleitorais, de que é exemplo a compra de votos, também resta comprometida a legitimidade da eleição.

No entanto, até o surgimento do NIJE, a Justiça Eleitoral Brasileira limitou-se a aferir a legalidade ou não da arrecadação de recursos e realização de gastos em campanha apenas após o encerramento das eleições, nos exatos termos e prazos em que a legislação eleitoral fixou a obrigação de prestar contas para candidatos e partidos políticos14. Neste momento, o do exame de regularidade ou não das contas após a eleição, a constatação volta-se apenas e exclusivamente para o passado.

O NIJE, contudo, inverteu a lógica do exame posterior dos fatos para detectar eventuais indícios de irregularidades cometidos em relação ao financiamento das campanhas eleitorais ainda durante a campanha. Essa lógica permite a atuação da Justiça Eleitoral Brasileira para suspender ilícitos em franca execução ou, ainda, restabelecer a legalidade da disputa.

Dessa forma, conhecer os resultados da atuação do NIJE em sua primeira eleição e procurar examinar o impacto dessa atuação sobre as possibilidades de julgar a regularidade das contas na Justiça Eleitoral Brasileira reveste-se de importância ímpar para buscar compreender o alcance dessa atuação e as consequências possíveis dos indícios apurados.

A relevância da pesquisa, portanto, está no aspecto de que os controles instituídos para o exame de regularidade das contas prestadas à Justiça Eleitoral Brasileira traduzem a validação do último ato a legitimar o processo eleitoral como mecanismo de outorga do poder político.

14 Trina dias após as eleições, publicando-se o julgamento das contas dos candidatos

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Com a finalidade de abordar, com a amplitude possível, os aspectos essenciais ao estudo, a pesquisa está estruturada conforme segue:

Abordando o primeiro aspecto da pesquisa, o estudo busca identificar o vínculo entre democracia representativa e o exercício do poder político. A partir do estabelecimento da relação entre esses dois institutos, procurará examinar a importância da atuação dos partidos políticos como agentes fundamentais à realização da democracia representativa, na verdadeira concepção do Estado de Partidos que caracteriza o regime democrático em vigor no Brasil.

Estabelecida a importância crucial dos partidos políticos no próprio processo eleitoral e tendo em conta a fixação das normas legais que o disciplinam, a pesquisa buscará verificar –sob o aspecto da obrigação legal de controle de regularidade da disputa atribuída à Justiça Eleitoral Brasileira – qual a natureza e o papel do NIJE.

Uma vez identificada a natureza e o papel do NIJE, a pesquisa discorrerá sobre a evolução dos procedimentos de controle e fiscalização a partir das eleições de 2014 até a integração dos mecanismos de controle que culminaram com a criação do Núcleo de Inteligência da Justiça Eleitoral Brasileira. Discorrerá sobre seus resultados, buscando identificar os indícios de maior repercussão no processo eleitoral e sua concentração nas diversas regiões do país.

Ato contínuo, o exame será voltado à compreensão da natureza das decisões proferidas pela Justiça Eleitoral Brasileira em matéria de prestação de contas, buscando identificar quais são as consequências derivadas dessa espécie de julgamento.

O propósito desse exame será verificar se os resultados detectados pelo NIJE relacionados aos indícios de irregularidade ocorridos durante a campanha eleitoral encontram correspondência no sistema sancionatório brasileiro, de molde a interferir de forma efetiva nos julgamentos proferidos pela Justiça Eleitoral Brasileira.

Com base nas evidências científicas selecionadas e mencionadas neste estudo, espera-se que o estudo auxilie na identificação do impacto que a atuação do NIJE causou sobre a efetividade das decisões proferidas pela Justiça Eleitoral Brasileira no julgamento das contas de campanha eleitoral de 2016.

Espera-se evidenciar o alcance dos resultados obtidos pelo Núcleo em contraposição às sanções efetivamente aplicáveis pela Justiça Eleitoral Brasileira em função dos resultados por ele obtidos, bem como a suficiência ou insuficiência da atuação daquele órgão para alavancar os instrumentos que garantam maior efetividade às decisões judiciais,

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considerando a consistência do sistema sancionatório diretamente vinculado a decisões dessa natureza e a sua possibilidade de aplicação às infrações por ele detectadas.

A natureza do resultado desta pesquisa será dissertativa, com abordagem de estudo de caso, exploratória, descritiva e basicamente qualitativa.

A abordagem metodológica será a dedutiva.

A coleta de dados primários e secundários está estruturada mediante busca nos repositórios de dados eleitorais da Justiça Eleitoral Brasileira a respeito das informações sobre as prestações de contas entregues por partidos políticos e candidatos, bem como sobre indícios de irregularidade detectados pelo NIJE nas eleições de 2016.

Posteriormente à análise documental, o estudo realizará a análise estatística dos dados coletados, buscando identificar sua concentração e impacto nas eleições municipais em todo o país.

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1 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA, ESTADO DE PARTIDOS E O DEVER DE CONTROLE IMPOSTO À JUSTIÇA ELEITORAL BRASILEIRA: O PAPEL DO NÚCLEO DE INTELIGÊNCIA

Neste primeiro capítulo serão abordados os conceitos fundantes de Democracia Representativa e sua relação com o exercício do poder político, examinando-se a importância da atuação dos partidos políticos nas estruturas de poder indispensáveis à própria democracia.

Partindo-se do conceito de Estado de Partidos, traço marcante do regime democrático brasileiro, este capítulo tratará da importância do processo eleitoral para a consolidação da Democracia Representativa e das atribuições de controle conferidas à Justiça Eleitoral Brasileira sobre a observância das regras que regulamentam o processo eleitoral.

No exercício do dever de controle que lhe foi conferido pela própria CRFB, o capítulo abordará o surgimento do NIJE, sua natureza e seu papel no processo eleitoral.

1.1 Democracia Representativa e o exercício do poder político A conformação do Estado está diretamente relacionada à organização do poder: “... a totalidade do poder temporal se reúne para integrar a sua personalidade, fruto de uma vontade coletiva, de uma concepção de unidade formal e ideológica, sem a qual não existe o Estado” (CAVALCANTI, 1969).

Também Kelsen (2001), em sua obra Teoria Pura do Direito, discorre sobre a relação entre Estado e poder para afirmar que, litteris:

Assim como se reconhece o ordenamento coercitivo do direito do Estado como ordenamento e na personificação da unidade desse ordenamento do Estado se reconhece a pessoa, pode-se compreender na eficácia do ordenamento jurídico tudo o que se costuma designar como “poder do estado” ou o Estado como “poder”. (KELSEN, 2001, p. 138)

Por traduzir uma necessidade absoluta para a convivência social, a legitimidade do poder torna-se também essencial à estrutura da própria Sociedade. Para tanto, as normas que conduzem ao poder refletem os

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instrumentos dos quais se utilizam os grupos sociais para conferir o chamado “poder institucional” a este ou àquele extrato da Sociedade que constituem, em um lapso temporal, o que convencionamos chamar de “governo”.

Esse poder institucional, momentaneamente conferido a um estrato social pelo grupo, precisa de regras também para a determinação de seus limites e, mais que isso, para disciplinar as circunstâncias em que deve ocorrer a sua devolução à Sociedade. Isto porque a garantia do respeito aos direitos da Sociedade como um todo reside, fundamentalmente, no espírito democrático que contraria em essência qualquer estrutura autocrática. Ou seja: o poder político conferido é temporário e, como tal, deve ser devolvido à Sociedade que, através de mecanismos próprios, o confere a um outro estrato social, ao qual caberá administrar os conflitos sociais por um novo período de tempo. A democracia é, nesse aspecto, uma forma de governo, como ensina Hans Kelsen (1993).

A democracia legitima-se pela rotatividade do poder, pela sua renovação periódica. Reside nos fundamentos da democracia a diferença singular entre o poder político e as demais nuances de poder: aquele emana do povo (tal qual prescreveu a Declaração dos Direitos Humanos de 1789) e, como tal, atinge em magnitude o conceito da legitimidade, o que lhe confere a possibilidade de resolver os problemas sociais e harmonizar a convivência humana.

Destarte, configura-se indispensável à convivência social a existência deste poder político, organizado e legítimo, constituído dentro das normas e preceitos que estruturam a Sociedade.

Na amplitude e magnitude do poder político reside a obrigatoriedade do estabelecimento de seus limites, que, na prática, define-se pela coexistência de poderes distintos e autônomos, originários constitucionalmente (art. 2° da CRFB).

O embate que provém do exercício independente dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário limita, permanentemente, o poder político conferido pela Sociedade a cada um deles, que, por isto, não é irrestrito, mas vigiado.

A complexidade de cada sistema político vigente é determinada pela distribuição do poder. No Brasil, o sistema federativo estatuído no caput do art. 1° da CRFB realiza a distribuição da competência horizontal e verticalmente.

Se, por um lado, a própria complexidade do sistema federativo transfere-se à estruturação do poder político, é ela que garante o fracionamento do poder e, consequentemente, a possibilidade de

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participação mais direta e efetiva pela Sociedade na administração de seus próprios interesses. A vontade coletiva traduz-se, então, na prática, ao somatório das vontades individuais consideradas de per si.

Inconteste é a afirmação de que nos regimes democráticos o poder político emana da Sociedade e é exercido através de seus representantes, legal e legitimamente constituídos.

No entanto, o exercício do poder exige o estabelecimento de regras que disciplinem a representatividade e, ao mesmo tempo, garantam que a vontade coletiva, entendida esta como a vontade da maioria, seja exercida em plenitude.

Não se pode ignorar, no entanto, que a Sociedade, concebida como um ente único, é composta de indivíduos que pensam e agem diferenciadamente e que, portanto, expressam sua vontade de forma igualmente diversa.

Kelsen (1993) ensina que o povo, constituindo uma massa de indivíduos distintos, não possui vontade uniforme. Antes, é a sua vontade individual real que se manifesta e o governo do povo, de que tanto se diz, é aquele do qual o povo participa direto ou indiretamente, exercido pelas decisões majoritárias colhidas com a sua participação ou pela eleição de um indivíduo que o represente, intermediando eleitorado e eleitor. E as eleições serão tanto mais democráticas quanto mais se fundamentem no sufrágio universal, igualitário, livre e secreto. Neste sentido, é a participação no governo a característica essencial da democracia.

Telmo Vieira Ribeiro (2015, p. 16) caracteriza democracia como sendo “... sempre um sistema, um método, um processo de composição dos órgãos dirigentes do Estado”, trazendo em seu bojo, de forma implícita o conceito de exercício do poder político pelo povo. Não é a democracia, nesse passo, um fim em si mesma. Antes, é o meio pelo qual o povo exerce a soberania e constrói a ordem estatal.

Canotilho (1941, p. 288), por sua vez, ensina que o exercício democrático do poder aponta para o sentido participativo. A participação direta e ativa dos cidadãos é instrumento fundamental da consolidação do sistema democrático. Vale dizer: o Estado Democrático de Direito consagra a dimensão representativa do princípio democrático.

A Sociedade é detentora do poder político puro, sem rótulos e preferências institucionais, características da organização partidária. Por isso, ainda que as diversas concepções sociais se expressem na formação dos partidos políticos, cabe aos indivíduos que compõem a Sociedade (independentemente de filiação partidária) conferir a um ou outro estrato social o poder político, através do voto.

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É importante perceber, desta forma, que a Sociedade elege aqueles que, organizados partidariamente, colocam-se à sua disposição para tutelar seus interesses. E, neste caso, não se pode afirmar que o poder político é conferido àqueles que representam de forma mais completa e eficiente a vontade da maioria, mas sim, àqueles que vencem o pleito eleitoral, de acordo com as circunstâncias que o determinam momentaneamente.

O regime democrático é, pois, nas palavras de Cavalcanti (1969, p. 268) “... uma organização política que transfere ao povo, não somente o exercício pleno da soberania, mas também imprime certo estado de espírito à consciência coletiva...”.

É, nesse sentido, o princípio da representação política que alicerça o regime democrático que operacionaliza a distribuição do poder político.

Em qualquer de suas formas de expressão, que evoluíram ao longo da história, o sistema representativo de governo exige e pressupõe um sistema eleitoral que garanta a legitimidade do ato de votar, expresso na liberdade de manifestação da maioria e na organização de cargos eletivos que viabilizem o exercício do mandato eletivo. Constitui-se este sistema em um mecanismo de controle de que dispõe a Sociedade para a fiscalização do exercício legítimo do poder.

O sistema representativo, como expressão de um ato de delegação de poder, permite estabelecer limites àqueles que exercem, em nome de um grupo, a administração de seus interesses, porquanto estabelece, dentre outros limites, a obrigatoriedade da renovação dos mandatários, que o grupo exerce através dos pleitos eleitorais.

A participação do indivíduo de forma direta ou representativa, na definição de Kelsen (1993), nada mais representa do que o processo de criação e aplicação da ordem social que constitui a comunidade, o critério propriamente dito do sistema político democrático.

Assim, é de observar-se que por ocasião dos pleitos é que a democracia garante à Sociedade a possibilidade de mudança e, por assim dizer, da avaliação dos mandatários que estiveram no poder. Reside, então, nos pleitos eleitorais e no sistema eleitoral como um todo a responsabilidade de garantir a legitimidade do regime democrático, fundado no Estado Constitucional de Direito sobre o qual leciona Ferrajoli (2015, p. 61), ao tratar das profundas alterações que este modelo de Estado operou sobre o Estado de Direito, litteris:

Não se tratou apenas da subordinação ao direito do próprio poder legislativo, mas também da

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subordinação da política a princípios e direitos estipulados nas Constituições como razão de ser de todo o artifício jurídico. Tratou-se, portanto, de uma transformação e de uma integração, além das condições de validade do direito, também das fontes de legitimidade democrática dos sistemas políticos, vinculados e funcionalizados à garantia de tais princípios e direitos (FERRAJOLI, 2015, p.61).

O denominado sistema de representação das opiniões acentua o pluralismo político da democracia partidária. Ao mesmo tempo que confere a cada voto, independentemente da condição individual de cada eleitor, valor idêntico, dinamiza a vida política e permite, de modo adequado, a representação dos grupos de interesse.

Aí reside o fundamento da representação, segundo ensina novamente Kelsen (1993): a eficácia, como condição de existência do próprio Estado, constituído sob uma ordem jurídica válida e, portanto, eficaz, que torna possível a existência também dos órgãos do Estado.

José Afonso da Silva (1995) ensina que o regime político que alicerça o sistema eleitoral culmina por constituir um conjunto de instituições políticas que operam em dado momento e país e em cuja base se pode encontrar o fenômeno essencial da autoridade, do poder e da própria distinção entre governantes e governados.

Assim, pode-se afirmar que a democracia é, antes de um conceito, um processo popular de garantia de seus direitos fundamentais, cujos princípios gerais são os da maioria, da igualdade e da liberdade.

Tais princípios traduzem-se em outros fundamentos, quais sejam: o da soberania popular (segundo o qual o povo é a única fonte do poder) e o da participação direta ou indireta (para que o poder expresse de forma efetiva a vontade popular).

O regime democrático representativo pressupõe um conjunto de instituições para a disciplina da participação popular no processo político, que, em última instância, garantem o exercício pleno da cidadania.

[...] o termo “representação” pode reivindicar o significado não apenas de representação do Estado, mas, ao mesmo tempo, de representação do povo do Estado, única e exclusivamente se

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remeter à representação por órgãos eleitos por via democrática. (KELSEN, 1993, p. 151)

O mesmo Hans Kelsen (1993) ensina que apenas a ordem jurídica válida é capaz de determinar os representantes e apenas a ordem jurídica relativamente eficaz é ordem válida. Daí a importância da norma, pois “não são os órgãos que são eficazes, mas sim as normas que, em conformidade com uma ordem jurídica válida, eles criam e aplicam” (KELSEN, 1993, p. 156)

No Brasil, o regime político funda-se no princípio democrático, consagrado constitucionalmente. Consoante prevê a Carta Magna, em seus arts. 1º e 3º, destina-se a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma Sociedade fraterna, livre, justa e solidária, fundada na soberania popular, na cidadania, na dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e no pluralismo político.

O sistema eleitoral brasileiro que suporta a estrutura partidária utiliza-se das duas formas conhecidas de representação: o sistema majoritário (para a eleição de senadores e titulares do Poder Executivo) e o sistema proporcional (para a eleição de deputados e vereadores).

Pelo sistema majoritário, a representação política cabe ao candidato que obtiver a maioria (absoluta ou relativa) dos votos. O direito constitucional brasileiro consagra o sistema majoritário por maioria absoluta para a eleição dos titulares do Poder Executivo e por maioria relativa para a eleição de senadores.

Pelo sistema proporcional, a representação política distribui-se proporcionalmente aos partidos políticos. Para a definição da proporcionalidade da distribuição, determina-se o número de votos válidos, o quociente eleitoral, o quociente partidário, a técnica de distribuição das sobras e a definição final dos eleitos.

É de José Afonso da Silva (1995) a lição de que a Democracia Representativa é exercida no Brasil de forma indireta, periódica e formal, por intermédio das instituições eleitorais que objetivam disciplinar e legitimar a escolha dos representantes do povo. A importância da materialização formal do processo democrático e de sua estrutura fundada no Poder Judiciário reside no próprio conceito do ato de votar: eleger significa “... expressar preferência entre alternativas, realizar um ato formal de decisão política” (SILVA, 1995, p. 138).

A decisão política do povo é que irá constituir, no processo político, o governo que o representará.

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As instituições fundamentais dos direitos políticos são aquelas que constituem o próprio direito eleitoral, ou seja: o direito de sufrágio (de votar e ser votado), os sistemas e os procedimentos eleitorais.

E novamente o mesmo mestre José Afonso da Silva ensina que a igualdade do direito de votar “se manifesta, em seu sentido mais rigoroso, no reconhecer a cada homem, a cada eleitor, um único voto (one man, one vote), pois cada cidadão tem o mesmo peso político e a mesma influência qualquer que seja sua idade, suas qualidades, sua instrução e seu papel na Sociedade” (SILVA, 1995, p. 337).

O sufrágio, conforme ensina Bonavides (1994, p. 228), “é o poder que se reconhece a certo número de pessoas (o corpo de cidadãos) de participar direta ou indiretamente na soberania, isto é, na gerência da vida pública”. Caracteriza a oportunidade da designação de representantes que exercem o poder e constroem a democracia indireta. Faculta a participação democrática a todos, indistintamente, sem preterir ninguém em função da riqueza, grau de instrução, raça ou sexo.

O direito de sufrágio é exercido através do voto, que o materializa. Através do ato de votar e ser votado o indivíduo exerce uma função social e política, função esta que se origina da soberania popular, fundamento da Democracia Representativa.

Ao mesmo tempo em que é a expressão do direito individual de participação do processo democrático, o sufrágio é também um dever da manifestação desta vontade, sem a qual não há como dar sustentação ao Estado Democrático de Direito.

A doutrina, a esse respeito, ensina:

[...] o Estado de Direito é um estado cujas leis são expressão da soberania popular e se direcionam à garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos. [...] a conquista dos valores jusfundamentais se realiza através de processos normativos e em conformidade com a estrutura organizativa da divisão dos poderes políticos. (CADEMARTORI; DUARTE, 2006, p. 3515)

Nesse contexto, é o Estado Constitucional “realidade política e jurídica preocupada, essencialmente, com a implementação efetiva dos direitos fundamentais proclamados nos estados liberal e social” (CADEMARTORI; DUARTE, 2006, 3513), de onde se extrai a extrema importância de conferir validade e eficácia ao princípio da primazia da Constituição, à reserva não legal, mas constitucional e ao controle

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jurisdicional da constitucionalidade. Vale dizer: os princípios constitucionais fundantes do Estado Democrático de Direito apostos na CRFB são os pilares também do Direito Eleitoral, que a ele deve estar circunscrito rigidamente, sob pena de afrontar-se ao que de mais caro se verifica. Não são meros ideais, mas realidade cogente. O propósito não pode ser outro senão o de garantir que as normas constitucionais e os princípios que lá estão sejam de fato expressos não apenas no regramento infraconstitucional, mas na concretude dos direitos que representam.

1.2 Os partidos políticos e o Estado de Partidos

São os partidos políticos as instituições que viabilizam o exercício do direito político de votar e ser votado, condição estruturante de todos os direitos políticos e fundamento da Democracia Representativa. Agregam as diferentes correntes de opinião e permitem o fracionamento ideológico da Sociedade que, então, pode fazer a escolha daqueles que a irão representar e administrar seus interesses, representando, segundo ensina Kelsen (1993) instituições mediadoras que contribuem decisivamente para a própria substância da representação.

Os partidos políticos asseguram a autenticidade do sistema representativo, pois organizam e preparam as diversas candidaturas para a disputa que se consagra no pleito eleitoral.

Uma das consequências da função representativa dos partidos é que o exercício do mandato político, que o povo outorga a seus representantes, faz-se por intermédio deles, que, desse modo, estão de permeio entre o povo e o governo, mas não no sentido de simples intermediários entre dois pólos opostos ou alheios entre si, mas como um instrumento por meio do qual o povo governa. Dir-se-ia – em tese, ao menos – que o povo participa do poder por meio dos partidos políticos (SILVA, 1995, p. 388).

Na lição de Duverger (1967), a doutrina da representação foi profundamente transformada pelo desenvolvimento dos partidos políticos, que se interpuseram entre eleitor e eleito, nação e parlamento, modificando por completo a natureza das suas relações. O candidato, antes de ser escolhido pelo eleitor, é escolhido pelo partido político.

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Ainda que se trate de um regime em que vigora o pluralismo político, embora possam ser muitos os candidatos em quem o eleitor pode votar, todos foram, antes disso, escolhidos pelo próprio partido político a que estão vinculados.

Os partidos dão forma à base das massas que anseiam por expressar a sua opinião no foro representativo da democracia. São eles que cristalizam e elaboram a opinião bruta, lhe dão sustentáculo, atenuando as profundas divergências individuais. Nas palavras de Duverger (1967, p. 413), “é só ele [o partido político] que permite a existência de eleições e de representação política [...]”.

São os partidos políticos que definem as plataformas eleitorais e ao sintetizar as mais diversas correntes de opinião as difundem, com o objetivo de atrair o maior número possível de eleitores, canalizando as mais distintas opiniões para dar-lhes objetividade, adaptando-as aos interesses dos eleitores. Os partidos políticos conjugam os seus próprios e especiais objetivos com os anseios dos eleitores. Os partidos tanto criam a opinião quanto a representam. (DUVERGER, 1967).

São os partidos políticos que viabilizam o exercício do voto, expressão material do regime democrático representativo e, por fim, do mandato que representará a vontade do eleitor. Sobre o mandato, elucidativa a lição de Vânia Aieta (2006, p. 304), ao afirmar que “[...] o mandato perfaz-se como uma construção coletiva de interesses e não simplesmente como uma iniciativa individual.”

É a mobilização coletiva que elege, por intermédio da instituição partido político, que reflete a racionalização do poder, situando os partidos políticos no universo da teoria democrática (AIETA, 2006).

Mario Justo Lópes (1982, p. 18) ensina que os partidos políticos não apenas são indispensáveis para o regime democrático representativo como o próprio regime democrático representativo é obra que decorre diretamente das agremiações partidárias.

Ademais, a CRFB já estatui, em seu art. 1º, ao reconhecer o Brasil como Estado Democrático de Direito fundado nos princípios da soberania e do pluralismo político, a representação política como recurso próprio no processo de formação da vontade política. A Carta Magna fixou, desde então e formalmente, a Democracia Representativa partidária no país (MEZZAROBA, 2005).

Também Baracho (1983) afirma serem os partidos políticos o principal meio instrumental para que a Sociedade possa atuar como nação, realizando o próprio objetivo do regime democrático.

A matriz constitutiva do partido político está, desta forma, na própria CRFB, seja pela personificação do pluralismo político que dá

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forma à democracia de base representativa, já no artigo inaugural da lei máxima, seja pela dicção do art. 17 da mesma Carta, que direta e especificamente autoriza a criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos.

Aos partidos políticos foi conferido o monopólio da representação, mediante a escolha dos candidatos que concorrem aos pleitos, uma vez que é condição de elegibilidade a própria filiação partidária (CAMPOS NETO, 2017).

De fato, tanto o nascimento quanto o desenvolvimento dos partidos políticos estão diretamente relacionados ao progressivo aumento da demanda de participação no processo de formação das decisões políticas, pelos mais diversos extratos que compõem a sociedade. E é exatamente por dar voz aos mais diversos extratos sociais que suas funções somente podem ser compreendidas quando examinadas na estrutura econômica, social e política em que estão diretamente inseridos (OPPO, 1998).

É, pois, pelos partidos políticos que se conforma o poder político em si, que se caracteriza pelo uso da força, materializando o poder soberano, “cuja posse distingue, em toda Sociedade organizada, a classe dominante” (BOBBIO, 2000, p. 221).

Não seria possível o avanço da Democracia Representativa,

conforme ensina BOBBIO, 2000), sem aumentar-se

progressivamente a participação eleitoral até o alcance do sufrágio universal, o que tornou os partidos políticos absolutamente necessários, como titulares da representação política. O partido político acabou por assumir lugar central nos sistemas representativos, representando importante figura intermediária entre o eleitor e o eleito, simplificando e tornando possível o sistema representativo de governo.

Ainda que os partidos sejam canalizadores de opinião, deve-se considerar que sua composição interna corresponde a apenas parte de uma Sociedade. Sua função, contudo, excede a mera representação de seus membros. Seu papel no jogo político passa a ser mais amplo, de modo que é ele o responsável por traduzir e converter as reivindicações setoriais em projetos políticos globais, de onde se pode asserir que a democracia é o regime exclusivo dos partidos.

Na verdade, a própria função de intermediar Sociedade e governo teve lugar após a crise de representação do Estado Liberal, sendo o novo modelo o “aperfeiçoamento do sistema de representação política” (MEZZAROBA, 2004, p. 84).

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Os partidos políticos, no modelo do Estado de Partidos que se configurou a partir de então, passaram a constituir não apenas intermediadores entre a Sociedade e o Estado, mas entre aquela e seus próprios representantes, eleitos pelo sistema representativo. Tornaram-se elementos importantes a reunir as vontades individuais, concentrá-las no seio interno de suas estruturas e, depois, efetivamente transformá-las em verdadeiras metas programáticas, plataformas políticas direcionadas ao embate político que se dá no processo eleitoral (MEZZAROBA, 2004).

No modelo do Estado de Partidos é no seio das agremiações partidárias que se forma a vontade popular, cuja vontade pessoal dos indivíduos que a compõem passa a constituir uma verdadeira relação com os princípios e programas partidários. O próprio mandato passa a ser partidário.

São eles, os partidos políticos, os “personagens indispensáveis ao debate democrático e têm por finalidade interferir direta ou indiretamente no poder, por influência ou participação efetiva” (MACHADO, 2016).

Peças essenciais ao funcionamento do complexo mecanismo democrático no mundo contemporâneo, os partidos políticos detêm o monopólio do sistema eleitoral, sendo responsáveis, não raras vezes, pela própria definição do perfil do Estado, pois são eles mesmos que acabam por definir o sentido das ações empreendidas pelo Estado. Daí porque se pode afirmar que não existe, efetivamente, representação popular e exercício do poder estatal sem a intermediação partidária (GOMES, 2017).

Não há como prescindir, hodiernamente, dos partidos políticos para o funcionamento da democracia, daí porque pode-se dizer que o Estado atual é um verdadeiro Estado de Partidos (MEZZAROBA, 2004).

Se nas democracias representativas é pelo voto que se outorga e exerce o poder político, os catalizadores da vontade política que viabilizam o exercício do sufrágio e do próprio poder, que agregam as diferentes correntes de opinião e permitem o fracionamento ideológico da Sociedade que, então, pode fazer a escolha daqueles que a irão representar e administrar seus interesses, são fundantes da própria democracia.

Ao organizar e preparar as diversas candidaturas para as mais diversas disputas eleitorais, os partidos políticos asseguram a autenticidade do sistema representativo. É consequência direta da função representativa dos partidos que o exercício do mandato político,

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conferido pelo povo a seus representantes, faça-se apenas e exclusivamente por seu intermédio. Fazem os partidos, pois, o verdadeiro elo de ligação entre dois polos – povo e governo – e, mais que isso, não funcionam apenas como elo de ligação, mas como verdadeiro instrumento por meio do qual o povo governa e participa do poder (SILVA, 1995).

E o sistema representativo está diretamente vinculado ao conceito de Estado Democrático de Direito. Na lição de Gomes (2012), o próprio conceito de Estado Democrático pressupõe tanto a participação dos cidadãos, quanto a incumbência a eles delegada de criar as emanações do Estado e serem delas os principais destinatários. Ou seja, o governo é de fato formado pelos cidadãos e a formação do governo pressupõe a escolha livre pelo voto direto e universal. Em última análise, são os próprios cidadãos que detêm a responsabilidade pela formulação e execução das políticas públicas. E estes se fazem representar no jogo democrático por intermédio do direito de votar e ser votado, o que somente se concretiza pela atuação dos partidos políticos.

No contexto da outorga de poder político, é o procedimento eleitoral o meio pelo qual são desenvolvidos sucessivamente os atos que culminam com a escolha dos eleitos: a apresentação das candidaturas, a organização e realização do escrutínio e o contencioso eleitoral.

E nesse processo que culmina com as eleições e a outorga do poder, de base representativa, torna-se evidente que os partidos políticos são atores essenciais, pois é por seu intermédio que as alianças políticas são formadas e são escolhidos aqueles que disputarão as eleições15.

A democracia de base representativa pressupõe o procedimento eleitoral, o qual se desenvolve pela sucessão de atos que culminam com a escolha dos eleitos: a apresentação das candidaturas, a organização e realização do escrutínio e o contencioso eleitoral.

A apresentação das candidaturas ao eleitorado compreende os atos de designação dos candidatos em cada partido (que se inicia com as convenções partidárias), seu registro nos órgãos da Justiça Eleitoral

15 A possibilidade de candidaturas avulsas no Brasil está em discussão no ARE

1.054.490, Relator o Ministro Roberto Barroso, cuja repercussão geral foi reconhecida, mas o mérito ainda não foi apreciado pelo Supremo Tribunal Federal.

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Brasileira competentes e a propaganda eleitoral, que busca dar conhecimento à Sociedade do programa de governo proposto.

É a elegibilidade a instituição que define a capacidade eleitoral passiva, ou seja, a capacidade de ser eleito. Estabelece condições, definidas constitucionalmente e regulamentadas em legislação ordinária para que o indivíduo postule o exercício do poder político, ou seja, o mandato.

É condição básica para a elegibilidade o exercício pleno de todos os direitos políticos, além de outras condições específicas delimitadas pela Carta Magna em seu art. 14.

Objetiva o art. 14 da CRFB de 1988 regular a proteção à normalidade e legitimidade das eleições contra, dentre outros aspectos, a influência do poder econômico, instrumentalizando a ação pública com o instituto da inelegibilidade.

Sobre o instituto da inelegibilidade, há que se registrar que não se trata de limitar a cidadania, mas de conferir-lhe a necessária legitimidade de forma a fazer dela instrumento real de promoção política do povo. Seu escopo, seja pela restrição da capacidade política ativa ou passiva, tem por finalidade preservar o funcionamento normal das instituições da influência de pessoas que busquem os mandatos eletivos (LOPES, 1990).

Conforme prescreve a Lei de Inelegibilidade (Lei Complementar 64/1990), constituem fatos geradores da inelegibilidade a inalistabilidade; a indignidade funcional, moral ou administrativa; a participação em funções de governo ou na direção de entidades privadas de atividade econômica ou representativas de classes, capazes de influenciar no processo eleitoral; a irreelegibilidade; a sucessão em qualquer tempo ou substituição, dentro dos seis meses que antecedem o pleito, de titulares do Poder Executivo; e as relações de parentesco com os titulares do Poder Executivo ou de seus substitutos.

Dentre os fatos geradores de inelegibilidade classificados como de indignidade funcional, moral ou administrativa enquadra-se a representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral Brasileira, transitada em julgado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual o candidato concorra ou tenha sido diplomado, bem como para as que se realizarem nos três anos seguintes.

Em momento posterior, já reconhecidas pela Justiça Eleitoral Brasileira as candidaturas, segue-se o escrutínio, que compreende todas as atividades eleitorais que envolvem a votação e a apuração dos votos.

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O contencioso eleitoral cabe à Justiça Eleitoral Brasileira e objetiva a eficácia das normas de garantias eleitorais e, em última instância, a legitimidade dos pleitos, daí porque torna-se esta instituição essencial à própria garantia da representatividade democrática e sua atuação determinante para aferir a lisura dos pleitos em todas as suas fases.

1.3 O dever de controle da Justiça Eleitoral Brasileira, a natureza e o papel do Núcleo de Inteligência

Para compreender-se a atuação da Justiça Eleitoral Brasileira, é importante compreender o Direito Eleitoral como um sistema de normas de direito público que têm por núcleo as relações, ora de dever, ora de direitos, entre o cidadão, a união política nacional e o próprio Estado a que pertence.

Estas normas regulam o direito e o dever do cidadão de participar na formação do governo constitucional, além do exercício dos direitos eleitorais.

Regulam, ainda, as infrações, tanto de natureza penal como administrativa, às normas eleitorais. Nas palavras de Costa (1994, p. 5), “o crime eleitoral constitui um tipo com características particulares, daí porque o ordenamento jurídico brasileiro tipifica as infrações eleitorais como figuras penais autônomas, instituindo, ademais, um processo específico de julgamento”.

Integram o sistema eleitoral, conforme exposto anteriormente, o sufrágio, que exprime o direito de votar e ser votado; o voto, como expressão do exercício deste direito, e a própria Justiça Eleitoral Brasileira, como instrumento de efetividade eleitoral.

No Brasil, a Justiça Eleitoral atua como Justiça Especializada, a quem compete, em um dos aspectos de sua atuação, dirimir o contencioso eleitoral, apurando e julgando os crimes eleitorais.

A Justiça Eleitoral Brasileira foi criada com o Código Eleitoral de 1932 e consagrada pela CRFB de 1934. Surgiu como fruto da Revolução de 1930, objetivando, então, conferir ao processo eleitoral brasileiro maior autenticidade, restringindo ao Poder Judiciário a função de verificar a legalidade dos fatos eleitorais.

A esse ramo de justiça especializada competem atos tanto de natureza jurisdicional quanto de natureza administrativa. Da lavra de Costa (1994, p. 5), extrai-se:

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O próprio processo eleitoral consta de atos que nada de contencioso apresentam e que mais se aproximam dos atos de jurisdição voluntária, na medida em que a presença do órgão judiciário, sobretudo nos atos procedimentais do alistamento, da votação e da apuração e mesmo da diplomação se destina mais a dar certeza e legalidade àqueles atos e aos efeitos jurídicos deles decorrentes do que a promover a concretização de qualquer direito subjetivo.

É assim que incumbem à Justiça Eleitoral Brasileira tanto as funções de presidir ao alistamento, à votação, à apuração dos votos e à proclamação dos resultados, atos específicos de organização das eleições e, ao mesmo tempo, julgar condutas praticadas por candidatos, partidos políticos e eleitores, decidir sobre conflito de interesses partidários e também expedir normas regulamentares sobre as matérias que lhe são afetas.

Certo é que a Justiça Eleitoral Brasileira, ao par do exercício de sua competência jurisdicional, julgando as ações propostas durante o processo eleitoral, desempenha intensa função administrativa. Sua função administrativa desenvolve-se desde a realização do alistamento eleitoral e manutenção do cadastro eleitoral, até a diplomação dos eleitos, incumbindo-lhe preparar as eleições por intermédio das mais diversas instruções e podendo também exercer o poder de polícia previsto no art. 41, § 1°, da Lei n° 9.504/199716 (MACHADO, 2016).

É elucidativo, a respeito, excerto do voto proferido pelo Ministro Henrique Neves no Respe n° 316-96.2012.6.17.00381/PE:

[...] a dupla natureza da Justiça Eleitoral faz com que ela, ao contrário dos outros órgãos do Poder Judiciário, não tenha a sua atividade-fim apenas na prestação jurisdicional, uma vez que no âmbito da Justiça Eleitoral a atividade finalística de sua atuação é a realização e supervisão dos pleitos eleitorais.

No Brasil, a Justiça Eleitoral organiza-se hierarquicamente nos seguintes níveis de competência: Tribunal Superior Eleitoral, Tribunais

16 A denominada Lei das Eleições, como é comumente designada na doutrina

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