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Os caminhos da exclusão no processo de inclusão escolar: um estudo de caso de autismo

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

ANGELICA REGINA WEECK FREITAS

OS CAMINHOS DA EXCLUSÃO NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO DE AUTISMO

Ijuí – RS 2016

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

ANGELICA REGINA WEECK FREITAS

OS CAMINHOS DA EXCLUSÃO NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO DE AUTISMO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação nas Ciências, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Celso José Martinazzo

Ijuí – RS 2016

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Catalogação na Publicação

Gislaine Nunes dos Santos CRB10/1845

F866c Freitas, Angelica Regina Weeck.

Os caminhos da exclusão no processo de inclusão escolar: um estudo de caso de autismo / Angelica Regina Weeck Freitas. – Ijuí, 2016.

86 f.: il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí e Santa Rosa). Educação nas Ciências.

“Orientador: Celso José Martinazzo”.

1. Educação especial. 2. Inclusão escolar. 3. Autismo. 4. Exclusão. I. Martinazzo, Celso José. II. Título. III. Título: Um estudo de caso de autismo.

CDU: 376

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RESUMO

Em uma sociedade onde a busca pela igualdade, em todos os aspectos, tem cada vez mais destaque, a inclusão escolar de pessoas com necessidades educacionais especiais é um dos aspectos de grande relevância quando se discorre sobre direitos iguais. O direito de todos à educação é previsto em lei, na Constituição Brasileira, e não é possível negligenciar o direito dessas pessoas, nem de ninguém, ao acesso à instituição escolar e ao ensino. Porém, o acesso desses alunos só está sendo posto em prática recentemente e, em razão disso, muitos estudos ainda estão sendo feitos sobre esta temática devido às diferentes realidades e necessidades educacionais especiais. É ineficaz, pois, pensar as diferentes necessidades especiais de uma maneira generalizadora, utilizando com todas as crianças os mesmos métodos de ensino. Agindo desta maneira corre-se o risco de excluir as crianças ao invés de incluí-las. Neste trabalho estudo a inclusão escolar de um aluno com autismo, tendo como objetivo principal analisar como este processo se desenvolveu numa escola de ensino regular, buscando compreender quais aspectos foram, deveriam ser realizados e não foram, e como este processo poderia ter sido mais significativo para o aluno. Tendo em vista estes objetivos, utilizo como metodologia para o desenvolvimento deste trabalho o estudo de caso. Assim, analiso uma experiência de inclusão escolar na rede regular de ensino, dando destaque para a história da inclusão escolar, às leis e aos decretos que amparam este processo; e ainda reflito sobre o autismo pela via da psicanálise que é a necessidade especial envolvida neste trabalho e busco compreender como o processo de inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais deveria acontecer para que seja efetivo tanto para o aluno quanto para a escola. Em relação ao caso estudado, como resultado deste trabalho, penso que é válido avaliar se a inclusão escolar na rede regular de ensino é a melhor opção para todos os casos de pessoas com necessidades educacionais especiais. É possível perceber que muitos aspectos poderiam e deveriam estar melhor desenvolvidos para que o educando fosse recebido na escola regular. Assim, é necessário avaliar se no processo de inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais, há a real inclusão dos mesmos e não a sua exclusão.

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ABSTRACT

In a society where the search for equality in all aspects, has increasingly highlighted the school inclusion of people with special educational needs is an aspect of great importance when it talks about equal rights. The right of everyone to education is provided by law, in the Brazilian Constitution, and you can’t neglect the right of these people, or anyone, access to educational institution and teaching. However, access of these students are just being put in place recently and because of this, many studies are still being done on this issue because of the different realities and special educational needs. It is ineffective because, think different special needs of a generalizing way, using all children with the same teaching methods. Acting in this way the risk it runs of excluding children rather than include them. In this study work the school inclusion of a student with autism, with the main objective to analyze how this process developed into a mainstream school, trying to understand which aspects were, should be undertaken and have not been, and how this process could have been more significant for the student. In view of these objectives, I use as a methodology for the development of this work the case study. So, I analyze a school experience of inclusion in the regular education system, highlighting the history of school inclusion, the laws and decrees that support this process; and even reflect on autism by way of psychoanalysis which is the special needs involved in this work and seek to understand how the process of school inclusion of students with special educational needs should happen to be effective both for students and for the school. Regarding the case study as a result of this work, I think it is valid to assess whether the school inclusion in the regular education system is the best option for all cases of people with special educational needs. You can see that many aspects could and should be further developed so that the student was received in regular school. Thus, it is necessary to assess whether the process of school inclusion of students with special educational needs, there is the actual inclusion of them and not their exclusion.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1. REFLEXÃO SOBRE A HISTÓRIA DA INCLUSÃO ESCOLAR ... 12

1.1 Atendimento Educacional Especializado ... 23

1.2 Formação, Capacitação e Qualificação dos Professores ... 29

1.3 Transdisciplinaridade e Inclusão Escolar... 34

2. AUTISMO: HISTÓRIA E CONSIDERAÇÕES ... 41

2.1 Constituição Psíquica de um Sujeito Autista. ... 47

2.2 Estádio do Espelho e Instauração do Circuito Pulsional. ... 52

3. INCLUSÃO / EXCLUSÃO: DUAS FACES DA MESMA REALIDADE – UM ESTUDO DE CASO ... 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 79

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[...] todos nós podemos constatar que, muitas vezes, os alunos estão na escola mas a sua participação nas rotinas e nas aprendizagens é quase inexistente

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INTRODUÇÃO

Atualmente ouvem-se muitos discursos sobre diversidade, inclusão, direitos iguais, entre outros e estes dizem respeito a vários campos de nossa sociedade, dentre eles o campo da Educação. Nesta área, atualmente tem-se pautado pela busca de direitos iguais, o acesso de todas as pessoas sem que haja discriminação ou exclusão à educação. A educação escolar é, e sempre foi, um assunto de grande importância. Por ser um assunto recorrente, os estudos que envolvem o processo educacional serão contínuos e serão relevantes.

A temática principal desta dissertação, a inclusão escolar, é um destes assuntos. Tema de grande destaque e importância no cenário da educação atual, que desde sua efetivação, causou grandes divisões, havendo grupos favoráveis e grupos contrários à sua implementação, diversos estudos, textos, diálogos.

Apesar de todo estudo sobre a temática da inclusão escolar ainda encontramos pessoas, tanto em escolas como fora delas, totalmente contrárias ou favoráveis a este processo de incluir pessoas com necessidades educacionais especiais nas classes regulares de ensino, com os mais diversos discursos e justificativas. Podemos em ambas as posições encontrar aspectos relevantes.

Todas as pessoas, com deficiência ou não, têm direito à educação. Isto está previsto em documentos de referência para a educação como a Conferência Mundial de Educação para Todos, de 1990 e a Conferência Mundial sobre a Educação Especial – Declaração de Salamanca – de 1994, e também na Constituição Brasileira (1988). Contudo foi apenas com a efetivação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9.394/96 que foi dado enfoque à Educação Especial.

Percebemos que este assunto, a inclusão escolar de pessoas com necessidades educacionais especiais, por mais recorrente que seja ainda é um tema novo, polêmico e que requer estudo. Destacando este ponto podemos destacar a relevância deste projeto para a área da educação.

Assim, quero analisar o processo de inclusão escolar, que neste trabalho é abordado através de um sujeito autista, frisando a importância de conceder um lugar para esse sujeito e de reconhecê-lo e não apenas depositá-lo em uma sala de aula. É possível partir dos seguintes questionamentos: na condição de sujeitos, as crianças incluídas estão sendo respeitadas nas suas particularidades ou estão sendo padronizadas em sala de aula? Está acontecendo somente o cumprimento da lei sem que todos seus

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desdobramentos estejam sendo atendidos, o que ao invés de incluir os educandos pode estar excluindo-os?

É necessário prestar atenção e fazer estes questionamentos para que se possa avaliar o processo de inclusão em que os alunos estão inseridos. Assim como buscar as melhores maneiras para desenvolvê-lo.

Destaco estas perguntas como preocupações importantes para o desenvolvimento deste trabalho, assim como a análise de como este processo se desenvolveu numa escola de ensino regular, buscando ainda compreender o que deveria ter acontecido, o que não aconteceu, e como esse processo poderia ter sido mais significativo.

Este trabalho tem como objetivos a análise crítica do processo de inclusão escolar de um aluno autista na rede regular de ensino e dos aspectos que envolvem e integram este processo, e por fim, analisar se ele é a melhor opção para todos os alunos com necessidades educacionais especiais, com destaque para o aluno autista.

Para que pudesse realizar este trabalho, buscando refletir sobre os objetivos citados acima, a metodologia para desenvolver o mesmo foi o estudo de caso, baseado em minha experiência de trabalho com a inclusão escolar, como monitora de um aluno com autismo na rede regular de ensino.

Buscando melhor entender os objetivos apresentados, compreendo que seria importante fazer um breve estudo do processo de inclusão escolar, de como este se estabeleceu e como se desenvolveu a sua efetivação. Começo o primeiro capítulo deste trabalho com esta reflexão, e também dou destaque a algumas leis e decretos, para um melhor entendimento do papel dos professores e da escola no processo de inclusão escolar.

Um dos fatores de grande importância que encontro e destaco nessas leis e decretos é o atendimento educacional especializado nas escolas que têm alunos matriculados e que são portadores de necessidades educacionais especiais. Concomitantemente com o atendimento educacional especializado, destaco a importância da adaptação da estrutura física da escola. Assim como dou destaque para a capacitação constante dos profissionais que trabalham com os alunos com necessidades educacionais especiais. Tanto os professores das classes regulares quanto os responsáveis pelo atendimento educacional especializado precisam ter formação específica para desenvolver a inclusão, como devem receber capacitações sobre seus alunos incluídos e sobre as necessidades especiais que apresentam. Destaco, também,

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que as leis que amparam este processo enfatizam o aspecto da formação acadêmica e constante dos responsáveis pelos alunos no ambiente escolar.

Além disso, como são vários profissionais que estão envolvidos, ou deveriam estar, com a inclusão escolar, me proponho a pensar a transdisciplinaridade nesse processo de inclusão escolar, pois apesar de cada profissional ter sua especialidade, as disciplinas não devem ser estabelecidas como limites para o diálogo. Assim as barreiras disciplinares são diminuídas. Na inclusão escolar todos devem trabalhar em conjunto, de maneira transdisciplinar, para que os objetivos estabelecidos sejam alcançados com sucesso.

No segundo capítulo do trabalho, me detive no estudo e compreensão da necessidade educacional especial que o aluno deste estudo de caso apresenta: o autismo. Como qualquer outra criança com necessidades educacionais especiais, os autistas têm o direito de estar em sala de aula na classe regular e cabe aos órgãos competentes a fiscalização deste processo. Entretanto, é preciso considerar todos os aspectos que envolvem o educando autista para avaliar se a inclusão escolar será bem sucedida.

Na primeira parte do referido capítulo enfatizo a história do autismo, assim como a constituição psíquica do sujeito, tendo como referencial teórico a psicanálise, onde se destaca a importância, desde o nascimento, do reconhecimento desta criança pelos referenciais paternos e do investimento dispensado por eles para que o recém-nascido possa se constituir psiquicamente. Quando há falhas nesse processo de constituição psíquica, é possível encontrar o autismo. Desta maneira, destaco o estádio do espelho e a instauração do circuito pulsional e o que é possível encontrar de falha neles para que uma criança se desenvolva autista.

No terceiro capítulo analisei especificamente o caso que estudei neste trabalho, do aluno autista de quem fui monitora. Apesar das leis e diretrizes que estabelecem este processo nas escolas regulares, percebi muitos questionamentos por parte dos profissionais que trabalham diretamente com a inclusão escolar. Devido a isso, refleti sobre a inclusão escolar do aluno autista, tendo como base todos os fatores que analisei nos capítulos anteriores, assim como a minha experiência de inclusão escolar com um aluno autista. Desta maneira, foi possível avaliar se a inclusão escolar deste aluno foi bem sucedida ou não.

Acredito que cada caso deveria ser estudado e avaliado separadamente, já que o leque das necessidades especiais é amplo e cada patologia possui sua especificidade.

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Assim como, após esse estudo, ser avaliado se a inclusão escolar é a opção mais adequada para os alunos.

De maneira alguma, com este trabalho, me coloco contra a inclusão escolar, pelo contrário, acredito em sua importância tanto para as pessoas com necessidades educacionais especiais quanto para a sociedade. Porém, acredito ser importante a avaliação dos casos para definir se esse processo é viável e significativo em todos os casos, e esta é uma pergunta que pouco se faz. Além de cumprir o que está em lei, é necessário pensar nessa criança como um sujeito dentro da escola, sem reduzi-la a um número ou a um resultado estatístico.

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1. REFLEXÃO SOBRE A HISTÓRIA DA INCLUSÃO ESCOLAR

Na primeira parte deste capítulo abordarei sobre o histórico da inclusão escolar e sobre as normas e orientações legais que regem este processo e que garantem que os alunos com necessidades educacionais especiais estejam nas escolas regulares.

A inclusão escolar, apesar de estar implementada há alguns anos, ainda é um tema bastante debatido e digno de estudo, pois, relacionado a este assunto, é possível encontrar muitas particularidades que precisam ser consideradas, estudadas e avaliadas. O discurso da inclusão tem como princípios uma escola para todos, capaz de atender a diversidade de alunos e assegurar o seu acesso e permanência no ensino regular. Contudo, desde a efetivação deste processo alguns grupos se posicionaram a favor e outros contra, ambos com seus argumentos.

Dentre estes argumentos, algumas pessoas alegam que incluir crianças com necessidades educacionais especiais é atrasar ainda mais um sistema de ensino já com muitas dificuldades, que os educadores ficariam ainda mais insatisfeitos com seus salários, que em alguns lugares as condições já são precárias, que falta material didático, que os profissionais não estão preparados. Mas também há aqueles que defendem que incluir é uma boa atitude, pois esse processo seria levado para além das escolas transformando nossa sociedade, que é bom que as crianças convivam com as diferenças desde pequenas porque isso faz com que não venham a ser preconceituosas quando maiores, que a relação dos alunos com necessidades especiais com as demais crianças auxiliaria no desenvolvimento das suas habilidades, dentre outros.

Todos os argumentos são válidos e me fazem refletir que atualmente luta-se tanto pela inclusão e faz-se tanta “propaganda” a seu respeito, que é possível primeiramente perguntar, por que as pessoas com alguma diferença foram excluídas?

Encontra-se ao longo da história da constituição de nossa sociedade situações em que aqueles que apresentavam alguma diferença (física ou intelectual) eram alvos de discriminação. Em muitas situações a discriminação era ser abandonado, ser mantido escondido da sociedade, e, em alguns casos a “sentença”, por ser diferente, era a morte.

Nas sociedades antigas, quando crianças nasciam com alguma anormalidade era uma prática comum o infanticídio. Nesse sentido, segundo Pan (2008, p. 79, 80), pode-se perceber que,

[...] desde as práticas presentes nas sociedades antigas e medievais, que pregavam a eliminação ou o abandono dos deficientes mentais, considerados

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subumanos, passando pelo cristianismo, quando, então, eles ganham alma no plano teológico. A marca CARIDADE-CASTIGO define a atitude medieval diante da deficiência. A caridade protege o deficiente no asilo e também o esconde e o isola; por outro lado, o castigo o protege, é a forma de salvar sua alma. Com o Renascimento, a ênfase no conhecimento científico torna-se a principal diretriz dos procedimentos médicos realizados com aqueles que começam, naquela época, a ser vistos como doentes. A deficiência passa a ser entendida como uma moléstia física, sendo suas manifestações comportamentais os seus sintomas.

A citação acima faz referência somente aos deficientes mentais, mas compreendo que isso acontecia com os deficientes físicos também, como é o caso de comunidades nômades, que, por exemplo, abandonavam ou eliminavam os deficientes. A maioria das pessoas com algum tipo de deficiência, ou alguma outra condição especial, era considerada indigna inclusive da própria vida e indigna de educação. Ainda podem-se encontrar tribos indígenas primitivas no Brasil que praticam o infanticídio. Isso nos mostra que estas situações ainda acontecem, mesmo que em algumas realidades extremas e sem que isso seja noticiado ou venha a público.

Quando se fala em pessoas excluídas somos remetidos às minorias em nossa sociedade, e penso assim porque isso está estabelecido como paradigma na nossa cultura. Por paradigma tomamos o acordo social que é feito sobre algum tema, por exemplo, sobre o que é ser normal. Enquanto esta definição estiver fazendo função, estiver fazendo sentido para a maioria, não há necessidade de quebra de paradigma. Sendo assim, o que não se enquadra neste acordo social (de normalidade) é excluído (não é normal). Nas palavras de Mattos e Facion (2008, p. 13, 14),

[...] o conceito de exclusão se pauta sobre a subjetividade, sentimento, vulnerabilidade, ausência, discriminação, desafiliação, entre outros aspectos. Nessa perspectiva, a exclusão pode ser entendida como um constante processo de “ruptura”, de rompimento com a situação de estabilidade ou com a situação de instabilidade: a ausência do ausente, a desafiliação do desafiliado, a exclusão do excluído, a discriminação do discriminado, o fracasso do fracassado etc.

Com uma breve reflexão é possível perceber que nossa sociedade é baseada em classes, em categorias, e nessas todos somos “encaixados”. Assim, quem não se “encaixa” acaba sendo excluído. Considerando esses aspectos de enquadramento, entendo que a exclusão, ainda de acordo com Mattos e Facion (2008, p. 17), “[...] é um construto ideológico que “enquadra” “certas pessoas” em certos parâmetros para determinados fins”. E é desta maneira que hoje nossa sociedade opera (apesar de nos dias atuais haver várias manifestações contra este enquadramento, contra as rotulações e

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contra o preconceito), porém tem-se buscado constantemente novas formas de operar, como por exemplo, a inclusão escolar.

Historicamente as posições sociais ocupadas pelas pessoas são “decididas” ou estão estabelecidas pela sociedade. É comum ouvir alguém dizer que se uma pessoa nasce em determinada condição social possivelmente passará toda sua vida vivendo da mesma maneira. Para Cruz (2014, p. 26) as posições sociais são delimitadas pela sociedade, assim,

A sociedade delimita historicamente as posições sociais a serem ocupadas por cada um, exercendo um poder que visa a controlar as experiências e as relações. O ser humano deve ajustar-se ao sistema e não o sistema às necessidades humanas e, nesse jogo, se consolida a exclusão para todo aquele que se desvia do percurso esperado, como ocorre com indivíduos que apresentam alguma deficiência.

Se em nossa sociedade temos um acordo sobre o que é ser normal, certamente que temos o seu oposto, um acordo sobre o que é ser diferente, não normal. Além de classes sociais e raças, aqui quero abordar especificamente sobre pessoas com deficiência. Essas pessoas foram por muito tempo alvo de preconceito e exclusão por terem algo que não permitisse a elas o “título” de normais, que não as encaixasse no conceito do que é ser normal.

A imagem que era passada destas pessoas era a de que precisavam de um cuidado/auxílio especial em algumas áreas ou em relação a todas as áreas de suas vidas, e que não teriam possibilidade alguma de desenvolvimento de suas habilidades ou de aprendizagem, assim, por serem diferentes, eram/continuavam excluídas. Quando ainda se acreditava que não possuíam direito algum pelas suas diferenças, eram mortos, e de fato não tinham nem direito à vida.

Com o passar dos anos, o infanticídio diminuiu drasticamente, porém, para as pessoas consideradas “anormais” ainda não lhes eram concedidos seus direitos, muitos ainda eram escondidos, maltratados ou submetidos a viver em situações precárias. Durante a Idade Média, a Igreja atribuiu suas anormalidades a causas sobrenaturais e após passam a ser estudadas: “Se antes elas perambulavam pelas aldeias, eram deixadas para que “o bom Deus”, a caridade cristã ou mesmo a morte cuidasse delas, passam, sobretudo a partir do início do século XIX, a existir em categorias, passam a ser objeto de estudos” (KUPFER; PETRI, 2000, p. 111). No século XVII estas pessoas eram totalmente segregadas, sendo internadas em manicômios, orfanatos, porém, aos poucos foram sendo percebidas como sujeitos com direitos, inclusive o direito à educação.

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Encontramos nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica que,

Os indivíduos com deficiências, vistos como “doentes” e incapazes, sempre estiveram em situação de maior desvantagem, ocupando, no imaginário coletivo, a posição de alvos de caridade popular e da assistência social, e não de sujeitos de direitos sociais, entre os quais se inclui o direito à educação. Ainda hoje constata-se a dificuldade de aceitação do diferente no seio familiar e social, principalmente do portador de deficiências múltiplas e graves, que na escolarização apresenta dificuldades acentuadas de aprendizagem (BRASIL, 2001, p. 19).

O Brasil passa a compreender o direito de todas as pessoas ao acesso à escola e este movimento tem início, primeiramente, em estados isolados através de campanhas assistenciais até a aprovação da Constituição de 1988, onde vemos estabelecidos, em forma de normas e orientações legais, os direitos e deveres de todas as pessoas, inclusive das pessoas com deficiência. A Constituição Brasileira estabelece que todas as pessoas são iguais perante a lei, sem nenhuma distinção. Todos têm direito à igualdade, educação, moradia, dentre outros, assim, todos têm direitos iguais. De acordo com Padilha e Oliveira (2013, p. 12),

Nas últimas décadas, o pressuposto do direito de todos à educação tem dado origem a uma série de ações por parte do governo federal para possibilitar o acesso à escola e a permanência nela de grupos historicamente excluídos desse espaço, como os afrodescendentes, as populações do campo, os ciganos, os sujeitos com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento, com altas habilidades e com superdotação, além dos jovens e dos adultos que não concluíram a educação básica.

São encontrados ao longo da história vários momentos em que somente classes privilegiadas tinham acesso à educação, em outros momentos somente as pessoas do sexo masculino. Porém, nestes casos a exclusão das pessoas do processo educacional estava legitimada pelas práticas sociais.

Entretanto, mesmo quando todas as pessoas passaram a ter acesso à escola, ainda estava presente a exclusão, pois, a mesma continuava excluindo pessoas e grupos que eram considerados fora dos padrões escolares.

Até recentemente as pessoas com necessidades educacionais especiais eram atendidas somente em escolas e classes especiais, ou até mesmo recebendo educação domiciliar ou sendo mantidas em casa, assim, eram separadas do restante da população. O que resultava no aumento do preconceito e na exclusão.

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Iniciou-se, então, a luta pela igualdade nas escolas, processo esse que vem ocorrendo há um período de tempo considerável. Levy e Facion (2008, p. 144) apresentam parte desta história, quando escrevem que,

A trajetória da escolarização de pessoas com transtornos mentais é repleta de ajustes e direcionamentos [...] Esse processo se iniciou no final do século XVII, na França, com a fundação de instituições especializadas para a educação de surdos e cegos. Em 1777, Pestalozzi democratizou o ensino, revelando que todos, apesar de apresentarem características diferentes, tinham condições de aprender.

Tentando eliminar o preconceito e integrar as pessoas com deficiência nas classes regulares, começou o movimento de integração escolar. Atualmente, não se busca a integração, mas almeja-se a inclusão dos grupos historicamente excluídos, não importando sua condição. Considerando estes aspectos as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica destacam que,

Na era atual, batizada como a era dos direitos, pensa-se diferentemente acerca das necessidades educacionais dos alunos. A ruptura com a ideologia da exclusão proporcionou a implantação da política de inclusão, que vem sendo debatida e exercitada em vários países, entre eles o Brasil (BRASIL, 2001, p. 21).

Na área educacional, o Estado está comprometido com vários documentos internacionais que chegaram ao país, ou por documentos que foram elaborados aqui os quais dizem respeito ao direito de todos à educação.

Em nosso país foi na época do Império que teve início o atendimento das pessoas com deficiências a partir da criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854 e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, respectivamente os atuais Instituto Benjamin Constant - IBC e o Instituto Nacional da Educação de Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro.

Entre 1960 e 1980, surgiram escolas especiais com princípios de normalização e integração. Porém, anos antes já haviam sido desenvolvidas escolas deste tipo, de acordo com Levy e Facion (2008, p. 144),

No Brasil, em 1904, foi desenvolvida a primeira escola desse tipo - Escola de Crianças Anormais – no Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro. Franco da Rocha, no ano de 1921, criou o serviço de menores, dando origem ao primeiro núcleo de classes especiais no estado. Já em 1925, Tiago Wurth funda a escola Pestalozzi e, em seguida, surgem a Pestalozzi – Canoas (1926), a Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais (1935) e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – Apae – RJ (1952).

Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 4.024/61 passou a prever o atendimento educacional dos “excepcionais” e garantiu seu direito à

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educação no sistema geral/regular de ensino, preferencialmente. A Lei nº 5.692/71 altera a lei de 1961 ao abranger o atendimento aos alunos com deficiências físicas e mentais, com atrasos consideráveis e superdotados.

Contudo, foi na década de 1990 que a educação inclusiva e seus princípios ganharam destaque na educação. A Conferência Mundial de Educação para Todos, de 1990, e a Conferência Mundial sobre a Educação Especial – Declaração de Salamanca – de 1994, são documentos muito importantes da luta pelo direito de todos à educação.

No artigo três da Conferência Mundial de Educação para Todos consta que, As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo (1990, p. 4) .

Na Conferência Mundial sobre a Educação Especial os princípios de Jomtien são reafirmados e o conceito de educação especial é rediscutido.

Segundo Melo, Lira e Facion (2008, p. 56, 57),

[...] embora as nações do mundo tenham afirmado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, há mais de 50 anos, que “toda pessoa tem direito à educação” e apesar dos esforços realizados por países do mundo inteiro para assegurar esse direito a todos, ainda persiste uma realidade muito distante daquela idealizada. Quando tais garantias legais são postas à prova no cotidiano da comunidade, da escola e do aluno, percebemos que o direito que garante o acesso escolar não é o mesmo que garante o ensino de qualidade, ou ainda, que a “escola para todos” não é a “escola de todos”.

Nem sempre garantir o direito a frequentar a escola garante uma educação de qualidade ou a educação em si. É necessário muito mais. Ainda fazendo referência a Melo, Lira e Facion (2008, p. 57),

Em 1990, a Declaração Mundial sobre Educação para Todos já recomendava medidas que garantissem “a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo”. Porém, foi em 1994, com a Declaração de Salamanca, na Espanha, que o projeto de escola inclusiva foi mais precisamente delineado.

Consta também em nossa Constituição que a educação é um direito de todos e que é dever do Estado e da família. Porém, sabe-se que muitas crianças ainda ficam em suas casas e não frequentam escola alguma, por diversos fatores.

Algumas crianças tinham acesso às APAES – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – porém, não eram todas. Mesmo quando já se buscava educação para todos; muitas crianças ainda estavam em suas casas. Desta maneira, a realidade de que todos têm direito à educação estava longe do pretendido.

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Entretanto, no Brasil foi o ano de 1996 que teve extrema importância para a educação. Neste ano foi promulgada a Lei Nº 9.394, em 20 de dezembro, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional, inclusive para a educação especial, “Entre outras disposições, destaca-se nesta lei o enfoque até então não claramente mencionado para a Educação Especial” (SILVA, 2012, p. 1). Após a promulgação desta lei, ainda foram criados o Plano Nacional da Educação, em 2001 e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, nesse mesmo ano.

A tarefa da inclusão escolar, apesar de nobre, pode ser considerada como um grande desafio, pois na medida em que busca incluir os alunos com necessidades educacionais especiais se depara com realidades totalmente diferentes das famílias, com os inúmeros desafios que estão postos para as escolas e para seus professores. Assim, para Padilha e Oliveira (2013, p. 11, 12), a inclusão escolar,

[...] constitui um grande desafio porque nos coloca diante das condições por vezes aviltantes a que famílias, alunos, professores e gestores da instituição escolar têm sido submetidos. Aponta-nos os anseios frustrados das famílias e a impotência de crianças e jovens diante de uma escola que, muitas vezes, não os reconhece como sujeitos, com pleno direito de acesso aos conhecimentos sistematizados, os quais é dever dela transmitir e a todos, indistintamente. Evidencia-nos o desencanto de professores no exercício de uma profissão que os coloca diante do trabalho hercúleo de instruir crianças e jovens, sem que, muitas vezes, haja condições materiais e recursos humanos apropriados para isso; sem uma formação consistente que lhes permita análises mais amplas das condições em que exercem o seu trabalho e que os instrumentalize para efetivamente ensinar a todos aqueles matriculados na escola; e sem a correspondente valorização profissional.

Atualmente, a legislação brasileira tem por princípio o atendimento de todas as pessoas com necessidades educacionais especiais, preferencialmente nas classes comuns das escolas, nos diversos níveis (fundamental, médio, técnico e superior). O que, segundo o que podemos observar na citação acima, é uma tarefa difícil, pois “põem à prova” todos os envolvidos com o processo de inclusão escolar, assim como o sistema de ensino em si.

No Plano Nacional de Educação de 2001 encontramos algumas “tendências do sistema de ensino”. Dentre elas: a integração ou inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino e quando isso não for possível em classes ou escolas especializadas e a melhoria da qualificação dos professores para que possam atender estes alunos.

Cabe ressaltar a diferença entre integração escolar e inclusão escolar. Na primeira categoria, eram os alunos que deveriam estar preparados para ingressar no

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ensino regular. Isso acontecia na medida em que os educandos estudavam, primeiramente, em classes especiais e se fossem considerados aptos poderiam se juntar a classe regular, para que esta não sofresse alteração alguma com a entrada do aluno com necessidades educacionais especiais.

Na inclusão escolar, o foco é transferido do aluno para a escola. É esta que precisa fazer as adaptações necessárias, tanto curriculares quando de estrutura física, para receber os alunos. É a instituição escolar responsável pela educação de qualidade para todos os alunos, não importando se eles têm alguma deficiência ou não.

Em um caso específico, alguns anos atrás, uma cidade possuía uma escola para todos os alunos considerados especiais, quando surgiu a APAE do município, os alunos que frequentavam a instituição escolar em particular foram separados em treináveis e educáveis. Os educáveis permaneceram na escola por possuírem melhores condições de ser incluídos e os treináveis foram para a escola especial.

Cunha (2016, p. 34) destaca que

[...] achava-se que as práticas integradoras traziam benefícios tanto para os alunos com deficiência quanto para aqueles sem deficiência. Dentre os consideráveis benefícios para alunos com deficiências, estaria a oportunidade de se integrarem a ambientes de aprendizagem mais desafiadores e viverem em contextos mais normalizantes e realistas, a fim de alcançarem aprendizagens mais significativas. O que se pretendia era a integração no ensino regular, usando meios normativos para adaptá-los aos comportamentos considerados normais.

Essa normalização pretendia que normas comportamentais fossem seguidas para atender o padrão considerado ideal, de acordo com os critérios estabelecidos. Para que os alunos pudessem frequentar a classe regular era necessária sua adaptação aos padrões comportamentais impostos.

Ainda segundo Cunha (2016, p. 35)

Efetivamente, essas transições raramente aconteciam, tornando o ambiente escolar segregante. Era preciso, portanto, que o educando se adaptasse às práticas escolares. Diferentemente, o conceito de inclusão pressupõe que as práticas, os espaços e os modelos de ensino se adaptem as aprendente. O Plano Nacional da Educação também contempla as várias ações que precisam ser realizadas pelas escolas para que o processo de inclusão aconteça. Podemos citar desde as adaptações curriculares, adaptações físicas das escolas, qualificação dos professores até a sensibilização dos demais alunos e comunidade escolar.

No capítulo V da Lei de Diretrizes e Bases – LDB - encontram-se todas as diretrizes necessárias para que a inclusão escolar aconteça, tanto no que compete à

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escola quanto aos professores. Mas, mesmo com a promulgação desta lei, o preconceito tanto dos pais dos alunos já nas escolas regulares, dos professores, quanto dos pais dos alunos com necessidades especiais fez com que essas crianças demorassem a frequentar a escola regular.

Por muito tempo considerou-se que eram as crianças que deveriam “moldar-se” aos padrões estabelecidos, ao que está posto e o que não se enquadra era tomado como algo que não é normal, como problema. Entretanto, nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica encontramos o contrário, observamos que,

Em vez de se pensar no aluno como a origem de um problema, exigindo-se dele um ajustamento a padrões de normalidade para aprender com os demais, coloca-se para os sistemas de ensino e para as escolas o desafio de construir coletivamente as condições para atender bem à diversidade de seus alunos (BRASIL, 2001, p. 6).

Assim é possível observar que o foco para a mudança não está mais no aluno, não é mais ele que precisa adaptar-se à instituição escolar, mas é de responsabilidade da escola e de seus componentes as mudanças necessárias para atender os alunos.

Em geral, essa legislação estabelece que o atendimento de alunos com necessidades educacionais especiais deve acontecer preferencialmente na rede pública, no ensino regular, contando, ainda, com o Atendimento Educacional Especializado e todo o apoio necessário para que esse processo se constitua devidamente.

O processo de inclusão como um todo, não é um caminho fácil e nas escolas não seria diferente. Ele implica a quebra de paradigma, que, como já mencionei, é bem marcado em nossa sociedade. Neste caso, o paradigma do que é ser normal. O processo de inclusão implica na mudança de costumes, conceitos e paradigmas que estão bem presentes em como pensamos as escolas e os conteúdos curriculares.

Essa mudança de paradigmas, conceitos e costumes não pode e não acontece somente dentro das escolas, na medida em que alunos com necessidades especiais vão sendo incluídos; todas as áreas que estão envolvidas neste processo de inclusão escolar são afetadas, inclusive as famílias dos educandos. A inclusão escolar, não diz respeito apenas às escolas e ao que fica para dentro de seus muros, é algo muito mais complexo que envolve toda a sociedade. E esse processo pretende justamente isto, não se deter ao ambiente escolar.

A intenção de operacionalizar a inclusão escolar é de que todos os alunos possam receber educação de qualidade, independente de raça, gênero, classe,

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necessidade educacional especial, demonstrando assim, respeito às diferenças e promoção dos direitos humanos.

De acordo com a Declaração de Salamanca (1994, p. 1), o processo de inclusão começa dentro das escolas buscando um efeito maior na sociedade, “escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos”. Não permanecendo a inclusão dentro das instituições escolares somente, mas alcançando todos os setores da sociedade.

Nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, também é feita menção à Declaração de Salamanca onde encontramos que o mérito das escolas ao incluir e educar os alunos com necessidades educacionais especiais não está somente na capacidade para fazer tais tarefas, mas diz respeito ao efeito que isso tem na sociedade;

[...] desenvolver uma pedagogia centralizada na criança, capaz de educar com sucesso todos os meninos e meninas, inclusive os que sofrem de deficiências graves. O mérito dessas escolas não está só na capacidade de dispensar educação de qualidade a todas as crianças; com sua criação, dá-se um passo muito importante para tentar mudar atitudes de discriminação, criar comunidades que acolham a todos [...] (BRASIL, 2001, p. 15).

Mesmo que o objetivo de impactar toda a sociedade com a inclusão escolar, não esteja presente no “pensamento” de quem está envolvido com o processo, no dia a dia, ele acontece. Quando se tem uma criança com necessidades especiais em uma sala de aula, os professores, funcionários da escola, os demais alunos e suas famílias, todos são marcados por essa convivência, todos passam a experimentar a inclusão mesmo que indiretamente, e passam a levá-la para as outras áreas de suas vidas, seja positiva ou negativamente.

Os professores, indiretamente ou com alunos sem esta titulação de alunos incluídos, sempre trabalharam com inclusão escolar, pois todas as crianças têm diferenças e particularidades e precisarão ser incluídas, seja em algum momento em que uma turma recebe um aluno novo ou quando um colega tem mais dificuldade em um conteúdo do que os outros.

Aqui ressaltamos que alguma parte dos alunos, em algum momento da sua vida escolar vai apresentar alguma necessidade educacional. Porém, com estas necessidades os professores já estão habituados e conhecem estratégias para solucioná-las. Contudo,

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com as necessidades educacionais especiais não, e isso faz com que os professores se sintam despreparados, pois exige uma qualificação diferenciada, um maior preparo.

A inclusão escolar é um conceito muito amplo que abrange vários fatores importantes para a efetivação deste processo. Com referência as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica encontra-se que,

[...] em vez de focalizar na deficiência da pessoa, enfatiza o ensino e a escola, bem como as formas e condições de aprendizagem; em vez de procurar, no aluno, a origem de um problema, define-se pelo tipo de resposta educativa e de recursos e apoios que a escola deve proporcionar-lhe para que obtenha sucesso escolar; por fim, em vez de pressupor que o aluno deva ajustar-se a padrões de “normalidade” para aprender, aponta para a escola o desafio de ajustar-se para atender à diversidade de seus alunos (BRASIL, 2001. p. 33).

A partir desta citação podemos perceber e reafirmar que no processo de inclusão que vivemos atualmente, é a escola e a comunidade escolar que fazem os ajustes necessários para receber os alunos com necessidades educacionais especiais. Não são estes alunos que precisam se adaptar, se “encaixar” a escola, mas é esta que deve prover um ambiente favorável para que todos os alunos, independentemente de necessidade especial ou não, para que possam desenvolver ao máximo suas potencialidades.

Com base no percurso realizado até aqui, e com as evidências do dia a dia em sala de aula e nas escolas, é possível confirmar a importância da inclusão escolar, tanto para as crianças com necessidades educacionais especiais quanto para os demais integrantes do ambiente escolar. Porém, é preciso questionar se apesar de válida, a inclusão escolar é a melhor escolha para todos os casos de crianças com necessidades educacionais especiais? Não se vê essa pergunta com frequência, porém, certamente, este aspecto deveria ser considerado. E como esse processo tem ocorrido em relação à matrícula, permanência na escola, como é feito o atendimento a estas crianças? Quais adaptações a escola deve fazer?

Para que os alunos com necessidades educacionais especiais tenham suas habilidades desenvolvidas a escola deve estar preparada para recebê-los. Preparada em todos os âmbitos escolares, desde a formação dos funcionários até as adaptações na estrutura física do ambiente escolar. Uma das formas de a escola estar melhor preparada é disponibilizar o atendimento educacional especializado.

Na próxima parte deste capítulo analisarei fatores que, de acordo com as leis e decretos, precisariam ser trabalhados no momento em que a escola recebe um aluno com necessidade educacional especial e que necessitam continuar acontecendo na

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medida em que novos desafios vão surgindo no dia a dia, assim como o Atendimento Educacional Especializado – AEE – que tem fundamental importância na inclusão escolar. Proponho-me a pensar o AEE não somente como uma parte do processo de inclusão escolar, mas como um conceito amplo que envolve toda a escola, para que o atendimento educacional especializado ultrapasse as barreiras da sala de recursos e seja o objetivo da instituição escolar.

1.1 Atendimento Educacional Especializado

Na inclusão escolar de crianças com necessidades educacionais especiais o atendimento educacional especializado tem grande destaque. É um processo que visa apoiar a escola e os alunos que estão vivenciando esta inclusão, assim como atender individualmente estes alunos no intuito de melhor desenvolver suas habilidades.

Levy e Facion (2008) fazem referência à Declaração de Salamanca, que foi aprovada na Conferência Mundial da Educação Especial, relembrando que esta propõe a matrícula nas escolas regulares das pessoas com necessidades educacionais especiais, democratizando o ensino e desenvolvendo progressiva e continuamente a cidadania.

O ano de 1996 foi importante para o Brasil, pois é a partir desta data que as escolas vêm recebendo alunos “normais” e alunos com necessidades educacionais especiais, sendo implantado assim, o processo de inclusão no nosso país.

A inclusão escolar, atualmente, é um fato e não há como retroceder. Feita de acordo com o previsto e seguindo tudo que está estabelecido este processo acontece de maneira adequada e eficaz, entretanto é fundamental considerar os casos de inclusão escolar que não poderão frequentar o ambiente escolar, seja por faltas na escola ou por parte do aluno que não se adapta. A educação especial tem por prioridade a matrícula dos alunos com necessidades especiais em idade de escolarização na rede regular de ensino, devendo ser ofertado o Atendimento Educacional Especializado – AEE - (em turno inverso e em salas de recursos multifuncionais) concomitantemente, como consta no documento Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado para a Deficiência Mental:

O objetivo do atendimento educacional especializado é propiciar condições e liberdade para que o aluno com deficiência mental possa construir a sua inteligência, dentro do quadro de recursos intelectuais que lhe é disponível, tornando-se agente capaz de produzir significado/conhecimento (BRASIL, 2006, p. 21).

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Nesta citação, observamos que são mencionados alunos com deficiência mental, porém este é o objetivo a ser trabalhado com todos os educandos com necessidades especiais, propiciar-lhes condições e liberdade para que possam construir ou desenvolver sua inteligência, tentando assim, garantir a aprendizagem de todas as crianças e a sua permanência nas escolas.

As escolas têm grande importância no desenvolvimento do AEE, pois, é neste ambiente que devem ser oferecidas situações que façam parte da vida e cotidiano do aluno ou em que esse tem ativa participação. Assim, os educandos terão oportunidades de melhor desenvolver suas habilidades. Ainda segundo o documento sobre a Educação Inclusiva,

A escola (especial e comum) ao desenvolver o atendimento educacional especializado deve oferecer todas as oportunidades possíveis para que nos espaços educacionais em que ele acontece, o aluno seja incentivado a se expressar, pesquisar, inventar hipóteses e reinventar o conhecimento livremente. Assim, ele pode trazer para os atendimentos os conteúdos advindos da sua própria experiência, segundo seus desejos, necessidades e capacidades (BRASIL, 2006, p. 20).

O Censo Escolar do Rio Grande do Sul/2013 apresenta a matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino em uma crescente, em contrapartida a matrícula destes alunos em classes especiais e em escolas especiais vem diminuindo. Constatou-se um aumento de 2,8% nas matrículas do ensino regular de 2012 (820.433) para 2013 (843.342).

Ainda de acordo com o Censo Escolar, em 2007 62,7% matrículas da educação especial eram das escolas públicas e 37,3% das escolas privadas. Já em 2013, as matrículas nas escolas públicas alcançaram 78,8% e nas escolas privadas 21,2%, mostrando assim, que cada vez mais os alunos com necessidades educacionais especiais estão tendo acesso à educação inclusiva e estão sendo matriculados nas escolas regulares.

Com o crescente aumento das matrículas, ganha grande importância o atendimento educacional especializado. O AEE é o atendimento das crianças com necessidades educacionais especiais nas salas de recurso visando à complementação ou suplementação das atividades escolares e até das atividades do dia a dia. Porém, não pode ser visto (e não é) um reforço escolar. No texto sobre a Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado para a Deficiência Mental está escrito que

O atendimento educacional especializado garante a inclusão escolar de alunos com deficiência, na medida em que lhes oferece o aprendizado de

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conhecimentos, técnicas, utilização de recursos informatizados, enfim tudo que difere dos currículos acadêmicos que ele aprenderá nas salas de aula das escolas comuns. Ele é necessário e mesmo imprescindível, para que sejam ultrapassadas as barreiras que certos conhecimentos, linguagens, recursos representam para que os alunos com deficiência possam aprender nas salas de aulas comuns do ensino regular. Portanto, esse atendimento não é facilitado, mas facilitador, não é adaptado, mas permite ao aluno adaptar-se às exigências do ensino comum, não é substitutivo, mas complementar ao ensino regular (BRASIL, 2006, p. 26).

O AEE não pode ser pensado apenas como as atividades que são desenvolvidas dentro da sala de recursos, a escola, com todos os seus profissionais, precisa desenvolver um atendimento especializado assim que passa a matricular e receber alunos com necessidades educacionais especiais. A começar pela efetuação da matrícula destes alunos, isso porque, é a partir deste primeiro contato que a escola carece oferecer um ambiente favorável à inclusão e disponibilizando todos os serviços que a escola possui. De acordo com Smith (2008, p. 55), “As crianças e os jovens com necessidades especiais devem ter acesso a uma variedade de serviços que ofereçam o suporte necessário para que desenvolvam seu potencial”, desta maneira a inclusão escolar pode ser possível.

Porém, esse ambiente favorável que se deseja nem sempre aconteceu ou acontece. Antes do processo de inclusão escolar ser estabelecido com os princípios que hoje conhecemos, surgiu, com o movimento de integração escolar, a possibilidade de eliminar o preconceito e integrar os alunos que apresentavam alguma necessidade educacional especial na rede regular de ensino.

A integração escolar tinha como princípio “modificar” o aluno com necessidades educacionais especiais para que ele pudesse se identificar com os demais, para que assim estivesse apto, ou pudesse ser inserido na sociedade. Estes educandos também deveriam se adaptar/adequar à escola em que eram inseridos, ao seu funcionamento, como se suas particularidades se apagassem. Padilha e Oliveira (2013, p. 62) destacam a integração escolar observando que este processo aconteceria quando os alunos deficientes pudessem acompanhar os “normais” em sala de aula,

Destacamos a “integração” como um momento importante na história da educação especial nos últimos anos. Em meados da década de 1960, a discussão na área da educação brasileira girava em torno da ideia de que o processo de educação especial poderia ser feito na perspectiva da integração, em que o acesso de alunos com deficiência no ensino comum seria admitido aos que acompanhavam as atividades curriculares programadas no mesmo ritmo que os ditos “normais”.

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Esta integração escolar, como já mencionado, era caracterizada pela integração parcial. Eram utilizadas classes especiais (para os alunos com necessidades educacionais especiais) para a preparação destes alunos afim de que pudessem ingressar nas classes regulares, o que seria a integração total (quando e se o aluno tivesse capacidade de acompanhar o currículo da classe regular). Era o aluno que deveria se ajustar ao ambiente escolar estabelecido. Silva e Facion (2008, p. 189) escrevem que “Na segunda metade do século XX, especialmente a partir da década de 1970, a pessoa com necessidades especiais começou a ter acesso à classe regular desde que se adaptasse sem causar qualquer transtorno ao contexto escolar”, é possível identificar um exemplo desta situação quando os alunos eram separados entre treináveis e educáveis para caracterizar quais poderiam ter a possibilidade de frequentar a rede regular de ensino. Porém, com esta atitude ainda se encontrava presente a exclusão, pois, desta maneira as crianças que frequentavam essas classes eram rotuladas, alvos de preconceito e ainda excluídas.

No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, a integração principiou a enfraquecer e o termo inclusão começou a ganhar força. Termo que tem por pressuposto a inclusão de todos nas escolas sem nenhum tipo de distinção.

Atualmente as classes especiais, do modo como eram utilizadas na proposta de integração escolar, não existem mais, pois, para o processo de inclusão atual, a lei posiciona-se a favor do atendimento dos alunos com necessidade educacional especial em salas regulares, concomitante com o atendimento especializado na sala de recursos. Desta forma o desafio das escolas regulares é grande. É garantir o acesso de todos os alunos, com necessidades educacionais especiais ou não, aos conteúdos básicos da escolarização.

Para que todas essas necessidades pudessem ser atendidas é/foi necessária uma reestruturação dos sistemas de ensino. Passando pelos direitos dos alunos até a capacitação dos professores, tudo revisto para que, assim, se pensasse a educação especial.

Segundo Padilha e Oliveira (2013, p. 63). “O direito à educação para esses alunos está garantido na legislação nacional, a saber, pela Constituição Federal do Brasil de 1988, pela lei n. 9.394/96 – as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) -, e em vários outros documentos legais”. Conforme esses documentos é dever do poder público garantir o acesso de crianças e pessoas com deficiência condições iguais as demais pessoas para que sejam incluídas no sistema regular de ensino.

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A LDB define a educação especial, no título V capítulo V Art. 58 da seguinte forma:

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013).

Ao mesmo tempo em que o aluno é matriculado na rede regular de ensino é, também, feita sua matrícula no AEE, porém este não visa substituir a matrícula e o acesso dos alunos nas classes regulares. De acordo com o documento sobre a Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado para a Deficiência Mental:

É importante esclarecer que: a) esse atendimento refere-se ao que é necessariamente diferente da educação em escolas comuns e que é necessário para melhor atender às especificidades dos alunos com deficiência, complementando a educação escolar e devendo estar disponível em todos os níveis de ensino; b) é um direito de todos os alunos com deficiência que necessitarem dessa complementação e precisa ser aceito por seus pais ou responsáveis e/ou pelo próprio aluno; c) o “preferencialmente” na rede regular de ensino significa que esse atendimento deve acontecer prioritariamente nas unidades escolares, sejam elas comuns ou especiais, devidamente autorizadas e regidas pela nossa lei educacional. A Constituição admite ainda que o atendimento educacional especializado pode ser oferecido fora da rede regular de ensino, já que é um complemento e não um substitutivo do ensino ministrado na escola comum para todos os alunos; d) o atendimento educacional especializado deve ser oferecido em horários distintos das aulas das escolas comuns, com outros objetivos, metas e procedimentos educacionais. e) as ações do atendimento educacional são definidas conforme o tipo de deficiência que se propõe a atender. Como exemplo, para os alunos com deficiência auditiva o ensino da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, de Português, como segunda língua, ou para os alunos cegos, o ensino do código “Braille”, de mobilidade e locomoção, ou o uso de recursos de informática, e outros; f) os professores que atuam no atendimento educacional especializado, além da formação básica em Pedagogia, devem ter uma formação específica para atuar com a deficiência a que se propõe a atender. Assim como o atendimento educacional especializado, os professores não substituem as funções do professor responsável pela sala de aula das escolas comuns que têm alunos com deficiência incluídos (BRASIL, 2006, p. 9).

É o processo que visa apoiar, suplementar, complementar o serviço educacional comum, para garantir que todas as pessoas incluídas tenham suas potencialidades desenvolvidas e completem o ensino regular. Consta ainda nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica que a sociedade deve ter orientação para a inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais, desta maneira,

Entende-se por inclusão a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo na equiparação de oportunidades de

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desenvolvimento, com qualidade, em todas as dimensões da vida (BRASIL, 2001, p. 20).

Considerando ambas as citações, é possível perceber que com a inclusão escolar, ambiciona-se a inclusão na sociedade como um todo, começando nas escolas, almeja-se transformar a mesma para que seja mais receptiva às diferenças. E pretende-se que os portadores de necessidades especiais depretende-senvolvam suas potencialidades para que possam gozar plenamente de todos os seus direitos.

Assim como, também, é possível observar que o leque de alunos que pode ser recebido pelas escolas é muito grande. Nas instituições escolares encontramos dois ‘momentos’ de trabalho com os alunos especiais, um deles é o trabalho do professor em sala de aula, na classe regular, e o outro é o do professor especialista na sala de recursos. Este segundo é, especificamente, o atendimento educacional especializado.

Na resolução que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial considera-se público-alvo do AEE:

I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial.

II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação.

III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade (BRASIL, 2009, p. 1).

Ressalto a grande quantidade possível de alunos envolvidos nesse processo, pois esta mesma lei e diretrizes afirmam que os professores, tanto da classe regular quanto da sala de recursos, estarão qualificados e preparados para desenvolver um trabalho adequado com essas crianças.

Devido a isso, quero dispensar atenção especial à formação dos professores que trabalharão com o processo de inclusão escolar. Pois este é o fator que chama maior atenção quando se está em uma escola regular, a formação e capacitação ou a falta delas.

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1.2 Formação, Capacitação e Qualificação dos Professores

Os professores desempenham papel fundamental para o sucesso das ações inclusivas, e para isso é fundamental que eles saibam com o que estão trabalhando. Nas escolas regulares é possível encontrar educadores que pensam de maneiras distintas. Há os favoráveis a inclusão escolar, como há aqueles que são totalmente contra este processo. Cunha (2016, p. 17) escreve que

Há educadores que não conhecem a legislação educacional; há aqueles que a conhecem, mas trabalham como se ela não existisse; há educadores que desejariam conhecê-la e, mais importante ainda, desejariam aplicá-la, mas estão destituídos de estruturas mínimas para o seu exercício. Há educadores que desejariam ser capacitados por instâncias formativas superiores. Há outros, porém, que a capacitação representa mais enfado e mais canseira. Há educadores sonhadores, idealistas e realistas otimistas. Porém, se há realistas otimistas, há realistas pessimistas. Há também os cansados, estressados, desesperançados, mas, por sorte, há sempre aqueles que jamais se entregam. A formação do educador e sua capacitação pedagógica possibilitarão uma educação adequada, e é de extrema importância que os professores realmente estejam preparados para ensinar na diversidade, não apenas para que saibam sobre o aluno, suas potencialidades e dificuldades ou a maneira como conduzir o trabalho, mas para que não sejam tomados pelo sentimento de piedade, que muitas vezes está presente neste processo, “[...] como se os alunos com necessidades educacionais especiais fossem dignos de piedade” (BRASIL, 2001, p. 24). Para que, desta forma, este sentimento não os impeça de realizar seu trabalho no ambiente escolar, transformando a instituição de ensino em uma instituição de assistência social.

O sentimento de piedade vindo de todas as pessoas da escola é algo muito presente. Em muitas situações, nas quais os outros alunos são repreendidos, ao aluno com necessidades educacionais especiais não acontece nada. Ou quando a atendente se ausenta, grande parte dos professores pergunta o que devem fazer; de que formas devem agir, pois não conhecem seu aluno, não sabem sobre ele.

A formação, a preparação e a capacitação docente é fundamental para que os professores possam desenvolver suas atividades de maneira a incluir os alunos com necessidades educacionais especiais. Muito do que acontecia no caso que está sendo estudado neste trabalho, a inclusão de Harry, é que, no início do processo de inclusão, os professores mal sabiam a necessidade especial do aluno, e desta maneira, não estavam preparados, pois, também não sabiam o que esperar.

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Há má comunicação entre os profissionais sobre os alunos incluídos. Era evidente que estes estavam ali por conta do processo inclusivo, mas como os professores poderiam trabalhar suas potencialidades se não lhes chegava informação alguma? E na medida em que as informações surgiam, ainda havia pouco interesse dos professores em buscar atividades que realmente incluíssem o aluno. Raramente o aluno era incluído em atividades da turma, devido à falta de preparo dos educadores.

Muito dos discursos dos professores, a respeito da inclusão escolar, que escutamos é que eles não estão preparados, pelo fato de, na sua formação de nível superior, não terem escolhido ou por não lhes ter sido oferecido disciplinas, ou conteúdos que abordassem o tema, ou discussões a respeito do que não é “normal”. Isso, explicaria por que muitos educadores se sentem despreparados para trabalhar com a inclusão escolar.

Na LDB encontramos tópicos que serão assegurados aos alunos com necessidades educacionais especiais, um dos fatores refere-se aos professores. Professores das classes regulares capacitados e professores para o atendimento especializado com especialização em nível médio ou superior. Na LDB consta que haverá nas escolas “professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns” (BRASIL, 1996), também, nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, é apresentado que “Atenção especial deverá ser dispensada à preparação de todos os professores para que exerçam sua autonomia e apliquem suas competências na adaptação dos programas de estudo e da pedagogia [...]” (BRASIL, 2001, p. 17). Essa formação precisa atender aos princípios inclusivos e estar voltada para as práticas da educação que não excluem os alunos. Porém, pouco se fazia na instituição escolar a respeito da formação de professores.

Ainda nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, são considerados professores capacitados para trabalhar com o processo de inclusão nas classes regulares aqueles que comprovem que foram incluídos conteúdos ou disciplinas sobre a educação especial e que foram desenvolvidas competências, tais como: perceber as necessidades dos alunos, avaliação contínua da eficácia do processo educativo, atuação em equipe, na sua formação em nível médio ou superior. E os professores especializados em educação especial devem comprovar o estudo de competências

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