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Cartografia dos múltiplos territórios em Paulínia (SP) : perspectiva do planejamento urbano municipal

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Academic year: 2021

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Instituto de Geociências

SOPHIA DAMIANO RÔVERE

CARTOGRAFIA DOS MÚLTIPLOS TERRITÓRIOS EM PAULÍNIA (SP): PERSPECTIVA DO PLANEJAMENTO URBANO MUNICIPAL

CAMPINAS 2016

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CARTOGRAFIA DOS MÚLTIPLOS TERRITÓRIOS EM PAULÍNIA (SP): PERSPECTIVA DO PLANEJAMENTO URBANO MUNICIPAL

DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE

GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

ORIENTADOR: PROF. DR. LINDON FONSECA MATIAS

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA SOPHIA DAMIANO RÔVERE E ORIENTADA PELO PROF. DR LINDON FONSECA MATIAS

CAMPINAS 2016

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Geociências Cássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

Rôvere, Sophia Damiano,

R769c R_ECartografia dos múltiplos territórios em Paulínia (SP) : perspectiva do planejamento urbano municipal / Sophia Damiano Rôvere. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

R_EOrientador: Lindon Fonseca Matias.

R_EDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

R_E1. Planejamento urbano - Paulínia (SP). 2. Territórios. 3. Geotecnologia. I. Matias, Lindon Fonseca,1965-. II. Universidade Estadual de Campinas.

Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Cartography of the multiple territories in Paulínia (SP) : perspective of the municipal urban planning

Palavras-chave em inglês: Urban planning - Paulínia (SP) Territories

Geotechnology

Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Mestra em Geografia

Banca examinadora:

Lindon Fonseca Matias [Orientador] Claudete de Castro Silva Vitte Danúbia Caporusso Bargos Data de defesa: 10-11-2016

Programa de Pós-Graduação: Geografia

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL AUTORA: Sophia Damiano Rôvere

CARTOGRAFIA DOS MÚLTIPLOS TERRITÓRIOS EM PAULÍNIA (SP): PERSPECTIVA DO PLANEJAMENTO URBANO MUNICIPAL

ORIENTADOR: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias

Aprovado em: 10 / 11 / 2016

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias

Profa. Dra. Claudete de castro Silva Vitte

Profa. Dra. Danúbia Caporusso Bargos

A Ata de Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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AGRADECIMENTOS

Começo meu agradecimento citando a pessoa que me encorajou a conversar com o professor Lindon, que me passou o seu contato e que me fez acreditar no meu potencial, Rafaela Soares Niemann, muito obrigada.

Agradeço imensamente a toda a minha família, principalmente meus pais e meus avós pelo amor e suporte durante todo o processo.

Agradeço ao Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias pelas orientações e “puxões de orelha” que me fizeram amadurecer e crescer enquanto geógrafa. Agradeço também ao grupo de pesquisa que ele lidera o GEOGET, e a todos os seus integrantes e ex-integrantes (Cinthia, Danúbia, Débora, Dércia, Fernanda, Júlio, Maria Isabel, Natália, Silas e Sueli) que me ajudaram, aconselharam, e me apoiaram durante a iniciação científica, bolsa de treinamento técnico e mestrado, e também a todos os outros alunos da pós-graduação da Geografia com os quais eu tive contato nesse período.

Aos professores da minha graduação e pós-graduação, além dos pesquisadores da Embrapa Monitoramento por Satélite que contribuíram e auxiliaram na minha formação acadêmica.

As minhas amigas queridas de longa data que sempre estiveram do meu lado me incentivando e me dando forças para seguir sempre em frente. Aos meus amigos e amigas, parceiro(a)s de escalada que fizeram com que todo o processo fosse mais prazeroso graças aos momentos de esporte e lazer que passei junto a eles escalando no GEEU (Grupo de Escalada Esportiva da Unicamp) e na rocha. Ao meu namorado, que também está na pós-graduação e entende todos os meus medos e anseios e sempre está por perto para me apoiar e estimular.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento dessa pesquisa. E, por fim, mas não menos importante, a todos os integrantes da secretaria de pós-graduação do Instituto de Geociências por todo suporte durante o mestrado.

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urbano municipal

Resumo

O município de Paulínia encontra-se na Região Metropolitana de Campinas (RMC) e tem apresentado índices significativos de crescimento urbano e industrial. Isso porque, com a chegada da refinaria de petróleo (REPLAN) na região na década de 1970, Paulínia começou a ganhar destaque no que se refere à situação econômica. Um dos principais fatores que levaram a esse crescimento populacional e econômico foi a instalação do polo petroquímico, o qual atraiu um contingente populacional representativo para servir como mão de obra. Ao longo do processo recente de urbanização e industrialização, o espaço de Paulínia passou por intensas modificações no que se refere à produção do seu espaço urbano, o que resultou em diversos recortes do seu território. Assim, o município é marcado por uma multiplicidade de divisões territoriais, decorrentes dos distintos usos que se faz do urbano, tanto no tocante da sua gestão quanto às diferentes formas de apropriação resultantes da ação dos diferentes grupos sociais. Nesse sentido, o principal objetivo dessa dissertação consiste em compreender como se dão os múltiplos territórios presentes em Paulínia, seus agentes, seu desenvolvimento e as possíveis relações existentes, a fim de contribuir para uma melhor compreensão do processo de produção do espaço urbano de Paulínia e, desta forma, auxiliar o planejamento e a gestão municipal para a promoção de um espaço urbano mais equitativo. Os resultados da pesquisa apontam que apesar de diferentes agentes fazerem múltiplas divisões do território de Paulínia, variando conforme seus interesses, esses agentes usam critérios relacionados à distribuição da população e ao uso e ocupação da terra para dividir o território paulinense, ocasionando em delimitações que quando comparadas entre si, são bastante similares. Tal análise foi realizada a partir da construção e interpretação de material cartográfico, com suporte em geotecnologias, entrevistas com sujeitos chave e reconhecimento de campo. Palavras-chave: planejamento urbano, território, geotecnologias, Paulínia (SP)

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planning Abstract

The municipality of Paulínia is located in the Metropolitan Region of Campinas. It has shown high indices of urban and industrial economic and population growth, gaining a prominent economic position in the region. Mainly due to the arrival of an oil refinery in the 70’s.One of the main factors that led this municipality to population and economic growth was the construction of the petrochemical polo, that attracted many people to serve as labor. During the recent process of urbanization and industrialization, Paulínia’s space suffered intense modifications regarding the production of its urban space that resulted in several territory divisions. Thus, the municipality was marked by multiples territorial divisions, due to distinct uses made of the urban, it regards both the management and the different appropriation forms of the urban resulted from the action of different social groups. Therefore, it is important to understand the multiplicities, its agents, developments and the possible relationship between them, with the aim of a better comprehension on the process of Paulínia’s urban space production. It, also, aimed to promote a more equal urban space. The research indicated that although different agents propose multiple divisions of Paulinia’s territory, which vary according to its interests, in order to make their divisions, these agents use as criteria the population distribution and land use occupation, resulting on delimitations which when compared to each other seen quite similar. This analysis was performed based on the construction and interpretation of cartographic material, supported in geotechnologies, interviews with key subjects and field work.

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SUMÁRIO

Introdução ... 14

Capítulo 1 . Produção do espaço urbano em Paulínia e seus múltiplos territórios: Concepções Teórico- Metodológicas... 18

1.1. A produção do espaço urbano ... 18

1.2.Relações de poder e a formação de territórios ... 27

1.3.Múltiplos Territórios ... 33

1.4. Geotecnologias como instrumento de mapeamento territorial ... 40

Capítulo 2 .Metodologia de Pesquisa: cartografando os múltiplos territórios de Paulínia ... 44

2.1.Levantamento e revisão bibliográfica... 44

2.2. Produção cartográfica: mapeando os múltiplos territórios ... 45

Capítulo 3 .Caracterização da Área de Estudo: o município de Paulínia ... 56

3.1. Contexto Histórico ... 56

3.2.Aspectos físicos do território Paulinense ... 63

3.3. Contexto Atual ... 66

Capítulo 4 .Os múltiplos territórios de Paulínia. ... 76

4.1. Territórios da Segurança ... 76

4.2.Territórios dos Serviços ... 85

4.3. Territórios do Planejamento ... 96

4.4. Os múltiplos territórios de Paulínia ... 104

Capítulo 5 .Considerações Finais ... 110

Referências ... 112

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1. Equipamentos urbanos da nova centralidade de Paulínia (SP) ... 25

Figura 2.1. Mapa de Localização do município de Paulínia ... 47

Figura 2.2. Fluxograma da metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa ... 48

Figura 2.3. Feição industrial na representação vetorial, raster e em campo ... 52

Figura 2.4. Esquema para analisar os múltiplos territórios ... 53

Figura 3.1. Fachada da Igreja São Bento em 1903 e nos dias atuais ... 57

Figura 3.2. Estação Ferroviária José Paulino em Paulínia ... 58

Figura 3.3. Mapa de hidrografia do município de Paulínia ... 60

Figura 3.4. Entorno antigo e recente da Igreja São Bento em Paulínia (SP) ... 61

Figura 3.5. Modelo Digital de Elevação do município de Paulínia ... 64

Figura 3.6. Áreas de vegetação nativa em Paulínia ... 66

Figura 3.7. Vista parcial da Replan-Paulínia (SP) ... 66

Figura 3.8. Vetores de Expansão Urbana na Região Metropolitana de Campinas ... 68

Figura 3.9. Mapa de delimitação dos bairros de Paulínia ... 71

Figura 3.10. Mapa do atual uso intraurbano de Paulínia ... 72

Figura 3.11. Mapa de Densidade Demográfica de Paulínia (hab./km²) ... 74

Figura 3.12. Mapa da distribuição da população de Paulínia pelo valor do salário mínimo atual em Reais (R$) ... 75

Figura 4.1. Prédio da Administração da Guarda Municipal em Paulínia (SP) ... 77

Figura 4.2. Mapa dos Territórios da Guarda Municipal em Paulínia (SP) ... 79

Figura 4.3. Prédio Administrativo da Polícia Militar em Paulínia (SP) ... 80

Figura 4.4. Territórios da Polícia Militar em Paulínia (SP) ... 82

Figura 4.5. Múltiplos Territórios da Segurança em Paulínia (SP) ... 84

Figura 4.6. Fachada da escola Vitor Szczepanski e Souza Silva em Paulínia (SP) ... 85

Figura 4.7. Mapa dos Territórios Escolares em Paulínia (SP) ... 87

Figura 4.8. Fachada do Hospital Municipal de Paulínia (SP) ... 88

Figura 4.9. Unidade Básica de Saúde (UBS) Centro em Paulínia (SP) ... 89

Figura 4.10. Mapa dos Territórios da Saúde em Paulínia (SP) ... 91

Figura 4.11.Mapa dos múltiplos territórios dos serviços públicos em Paulínia (SP) ... 94

4.12.Mapas da distribuição da população por faixa etária em Paulínia (SP) ... 95

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Figura 4.15. Mapa dos Territórios da Emplasa em Paulínia (SP) ... 100 Figura 4.16. Mapa dos Múltiplos territórios do Planejamento em Paulínia (SP) ... 103 Figura 4.17. Uso da Terra presente na situação de alta multiplicidade territorial em Paulínia (SP) ... 105 Figura 4.18. Uso da terra presente na situação de média e baixa multiplicidade territorial em Paulínia (SP) ... 107 Figura 4.19. Mapa de Multiplicidade Territorial em Paulínia (SP) ... 109

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 3.1. Variáveis climáticas de Paulínia ... 65

Gráfico 3.2. Área em km² dos usos intraurbanos ... 70

Gráfico 4.1. Distribuição dos múltiplos territórios da segurança em porcentagem ... 83

Gráfico 4.2 Distribuição dos múltiplos territórios dos serviços em porcentagem... 93

Gráfico 4.3. Distribuição dos múltiplos territórios dos serviços em porcentagem... 102

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1.O sistema territorial. ... 35 Tabela 3.1. Total de população e população rural e urbana de Paulínia ... 62 Tabela 3.2.Taxa de Crescimento Populacional em Paulínia, Campinas e RMC ... 62

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Introdução

O espaço urbano de Paulínia começou a ganhar outra dinâmica, que antes era marcada, sobretudo, pela atividade agrícola, com o advento das indústrias na década de 1970, principalmente com a instalação da Refinaria de Paulínia (Replan) que impulsionou o surgimento de outras empresas do ramo petroquímico. Como consequência da instalação dessas indústrias no município, Paulínia é marcada por uma intensa taxa de urbanização, correspondendo a 99,91% (FUNDAÇÃO SEADE, 2014) apresentando uma dinâmica industrial bastante relevante no que se refere não somente aos outros municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC), da qual ela faz parte, mas também em relação a todo o Estado de São Paulo. O intenso processo de industrialização fez com que a cidade crescesse e reconfigurasse o seu espaço urbano.

Produzir o espaço urbano (de Paulínia) diz respeito a agentes sociais que vão se apropriar desse espaço e transformá-lo segundo diferentes interesses dos diversos agentes que atuam ali. O espaço urbano torna-se então lócus das mais diversas transformações da natureza pela sociedade, pois é nele que a sociedade vai buscar moradia, produção de mercadoria, acumulação do capital, entre outras relações. A transformação do espaço de Paulínia acontece, principalmente, na passagem do rural para o industrial, que em decorrência da instalação do polo petroquímico no município, fez com que cada vez mais áreas rurais fossem suprimidas e substituídas por áreas urbanas.

Nesse aporte, os agentes econômicos representados aqui pelas atividades do segundo setor tiveram um papel relevante na produção do espaço urbano de Paulínia. Dentro da lógica capitalista, a necessidade constante de reprodução do capital transfigura-se em um ator singular no que concerne às mudanças ocorridas no urbano, contudo é importante sublinhar que não só o capital atua e modifica a estrutura urbana, diversos agentes sociais, juntamente com o capital influenciam e geram no espaço urbano um campo de força, de poder, em busca dos melhores espaços dentro do urbano.

O poder exercido por diversos agentes territorializam o espaço urbano de Paulínia e com isso criam-se diversos territórios dentro do município. Esses territórios se sobrepõem, se cortam, convergem ou divergem variando conforme os interesses dos agentes. Cada agente comporta-se no espaço, por meio de relações de poder, territorializando-o. Isso quer dizer que a cidade com as suas várias funções e formas de organização, como habitação, serviços, indústrias, entre outros, configuram o desenho estrutural do urbano, onde esses elementos resultam em uma forma específica de ocupar o espaço e criar territórios, para organizar os

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usos que se tem na cidade, resultantes de objetivos distintos, já que cada agente tem uma característica e interesses próprios.

Nessa perspectiva, a importância de se estudar os territórios de Paulínia reside no fato de que seu entendimento pode levar a formulação de um arcabouço teórico e metodológico que auxilie na compreensão do município e na sua gestão municipal. A construção de um material cartográfico pode subsidiar o conhecimento dos diferentes territórios, visto que, como vários agentes interpretam o território de Paulínia de uma maneira peculiar para distribuir seus serviços, a divisão desses territórios pode se apresentar de forma bastante diversa. Em virtude disso, a pretensão do trabalho foi de identificar os territórios em Paulínia a fim de entender a relação desses agentes com o território.

O resultado desta pesquisa, que ao final fornecerá material analítico sobre o município, poderá servir como instrumento de auxílio aos gestores municipais, e também para a população em geral, podendo ampliar o entendimento acerca de Paulínia, possibilitando condições para uma organização territorial mais equitativa que beneficie toda sociedade paulinense.

Tendo em vista esses fatores, e pensando nas potencialidades da Cartografia como uma forma de apoiar a compreensão do município paulinense é que buscou-se cartografar seus territórios. Inicialmente a pesquisa tentou identificar os diversos territórios presentes no município, aqueles ligados, por exemplo, a prestação de serviços municipais como transporte, coleta de lixo, entre outros, também a órgãos ligados ao planejamento urbano municipal e territórios formados por grupos sociais variados. A tarefa de pesquisar dados que fornecessem um material possível de produzir uma Cartografia territorial apresentou dificuldades no que diz respeito à aquisição de dados. Destarte, a dissertação procurou evidenciar os agentes que tinham uma base de dados formada e que principalmente disponibilizaram suas informações. Portanto, foram investigados dados relacionados ao poder público local, representado pelas suas secretarias municipais e a órgãos que produziram material cartográfico e analítico sobre o planejamento urbano do município, posto que esses órgãos viabilizaram o acesso e aquisição dos seus dados, fazendo com que a pesquisa priorizasse os temas associados ao planejamento urbano municipal.

Os territórios são criados por esses agentes como um espaço de organização, para controlar e distribuir os serviços no território de Paulínia. Esses agentes são variados e têm objetivos diferentes no que tange a apropriação e formação do território, diante disso, eles atuam de forma a priorizar seus próprios interesses, formando territórios com limites específicos para o seu determinado objetivo dentro do município de Paulínia.

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Dessa forma, podem ser elencados como agentes formadores de territórios o poder executivo local, representado pela Prefeitura Municipal e suas várias Secretarias (Secretaria de Educação, Secretaria da Saúde e Secretaria de Planejamento, por exemplo), entidades prestadoras de serviços como Polícia Militar, Guarda Municipal, e órgãos ligados principalmente ao planejamento urbano, como é o caso da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (EMPLASA), que embora seja uma instituição de planejamento metropolitano delimitou ações para Paulínia por fazer parte da Região Metropolitana de Campinas. Esses agentes foram selecionados principalmente por que apresentam territórios zonais, capazes de serem mapeados, além de serem atuantes no que diz respeito ao planejamento municipal.

O objetivo geral deste trabalho é entender como se formam os territórios em Paulínia, principalmente aqueles relacionados à ação de planejamento urbano municipal, averiguando como são postas as relações entre os diferentes agentes envolvidos, englobando os seguintes objetivos específicos: identificar os territórios de Paulínia, partindo principalmente dos territórios ligados a ações do planejamento urbano municipal. Compreender por que essas divisões são diferentes nas suas formas de apropriação do território e na maneira como elas influenciam o desenvolvimento urbano. E, por fim, elaborar material cartográfico dos diferentes territórios ligados a ações do planejamento urbano municipal presentes no município, analisando essas múltiplas divisões territoriais existentes em Paulínia, quais entidades, oficiais ou não, e quais grupos sociais a produziram, e como estas são geridas, a fim de compará-las entre si com a intenção de verificar as simetrias e assimetrias desses múltiplos territórios.

O trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo intitulado de “Produção do espaço urbano de Paulínia e seus múltiplos territórios: Concepções Teórico-Metodológicas” buscou compreender a fundamentação teórica que circunda a dissertação, apresentando também esclarecimentos e discussões que tangem a temática do espaço urbano, poder e múltiplos territórios, indispensáveis para o conteúdo em questão.

No segundo capítulo nomeado de “Metodologia de Pesquisa: Cartografando os Múltiplos Territórios de Paulínia”, foram apresentados os procedimentos metodológicos realizados para o desenvolvimento da pesquisa, aqueles relacionados ao uso de Sistema de Informação Geográfica (SIG), além da descrição a respeito da busca das referências bibliográficas que alicerçaram a teoria e a análise empírica que sustenta a dissertação.

No terceiro capítulo “Caracterização da área de estudo: o município de Paulínia” foi exposto a contextualização da área de estudo, tanto no que se refere aos seus aspectos históricos quanto as suas características atuais, apresentando dados históricos e estatísticos

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que auxiliaram na compreensão das peculiaridades do município.

Por fim, no último capítulo intitulado de “Os Múltiplos Territórios de Paulínia” foram apresentados os resultados da pesquisa sobre diversos territórios materializados no município e as considerações sobre a Cartografia desses múltiplos territórios.

E finalmente foram apresentadas algumas considerações finais sobre a pesquisa, discutindo os principais resultados e contribuições adquiridas, verificando se os objetivos traçados inicialmente foram atingidos.

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Capítulo 1 . Produção do espaço urbano em Paulínia e seus múltiplos territórios: Concepções Teórico-Metodológicas

O espaço urbano e a cidade conformam-se como resultado da ação social e são o substrato para a formação de territórios. Compreender a produção do espaço urbano significa verificar como a sociedade se apropria desse espaço segundo seus interesses e necessidades variadas, nos quais muitas vezes vão gerar um campo de força e de poder por melhores espaços no urbano. Essa relação de poder no espaço urbano leva à criação de territórios. Dentro dessa perspectiva, avaliar quais são os agentes produtores do seu espaço urbano e como se dá a formação de territórios em Paulínia torna-se indispensável para aferir sobre a gestão do poder público municipal no município paulinense.

1.1. A produção do espaçourbano

O conceito de produção do espaço vai muito além do conceito trivial entendido como o ato de fazer coisas, ele é complexo e se torna indispensável quando se deseja estabelecer um debate sobre o espaço urbano. Entender esse processo que engloba a produção do espaço é necessário quando se deseja identificar os agentes que o engendram e que o modificam, o que vai além de um enfoque organizacional.

Para iniciar a reflexão sobre o processo de produção do espaço urbano é importante que se aborde o conceito de produzir. A acepção que irá nortear essa discussão será a proposta por Lefebvre (1999) que considera que este conceito pode apresentar duas interpretações e que a sua definição de produção não se restringe somente a uma atividade que fabrica coisas. Como dito anteriormente, uma das definições do conceito de produção tem um significado mais complexo, remontando a ideia de criação, ou seja, refere-se ao processo relacionado à produção de obras, de ideias, de tudo que faz uma sociedade e uma civilização. No outro sentido, refere-se à existência de produção de bens, de alimentação, de coisas, sendo que essa última acepção apoia a primeira e designa sua base material.

Para tanto, o processo de produção do espaço urbano é derivado e diretamente relacionado com o processo de (re) produção das relações sociais. As relações sociais, que são as relações que acontecem naturalmente entre as pessoas ou pautadas através de interesses, vão ocasionar na construção de ideologias, de conhecimentos e também de predileções que podem atuar na forma como a sociedade se apropria e, consequentemente, produz o espaço

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urbano. Sustentando essa exposição, Lefebvre (1973) nos mostra que as práticas sociais implicam em uma ideologia, e que o espaço é o lugar de reprodução das relações de produção, mas também é mais do que isso, é “[...] simultaneamente instrumento de planificação (ordenamento territorial) do espaço”. (LEFEBVRE, 1973, p.109-110)

Também se faz oportuno comentar sobre o entendimento do conceito de espaço, que em muito corrobora com o de produção exposto acima. Da mesma forma que Lefebvre (1973,1976) discute que o conceito de produção relaciona-se com o processo de produção das relações sociais, o mesmo acontece quando o autor apresenta a definição do conceito de espaço. Para este autor, o espaço é o pressuposto de toda a produção e está essencialmente vinculado com a reprodução das relações sociais.

Já para Harvey (2012) o espaço é visto com um tripartido que é composto pelas características absoluto, relativo e relacional. Sucintamente, o espaço absoluto é aquele espaço fixo, o espaço da matemática, é o espaço dos Estados, das unidades administrativas. Já o espaço relativo é aquele que apresenta uma relação entre os objetos, principalmente a relação entre espaço e tempo. Por fim, o espaço relacional é aquele que é contido nos objetos, ou seja, “os processos não ocorrem no espaço, mas definem seu próprio quadro espacial” (HARVEY, 2012, p.12).

Retomando a discussão de que as práticas sociais constroem uma ideologia, Lefebvre (1991) apresenta que a produção e reprodução de relações sociais engendram além de uma determinada ideologia, um determinado conhecimento que vai conduzir a forma como a sociedade ocupa o espaço geográfico, podendo, portanto, produzir as cidades. Nesse sentido, “[...] é como se a cidade reunisse efetiva e concretamente as duas acepções do termo central, produção” (LEFEBVRE, 1999, p. 48). É na cidade capitalista moderna que se produzem as obras diversas, além de ser o lugar no qual os bens são produzidos, trocados e consumidos (LEFEBVRE, 1999). A cidade é a materialidade do conceito de produzir, tornando-se um produto concreto dessas várias relações de produção e através dela é possível compreender e observar os vários meios de produção.

A industrialização induziu inúmeros processos que modificaram a estrutura da cidade, juntamente com a imposição do capitalismo isso porque inicialmente o capitalismo colocou a cidade como um centro, tanto no que diz respeito a sua organização quanto às decisões políticas e a concentração de riqueza (LEFEVBRE, 1973). Esse processo de centralização da cidade fez com que houvesse a valorização de lugares e o espaço ganha valor de troca. Por conseguinte, fica evidente que o processo transformador da cidade se deu por meio da industrialização e do capitalismo. Esse processo de industrialização engendra modificações na

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estrutura da cidade que busca reunir os mercados e os meios de consumo e os meios de produção. Esses processos fornecem uma configuração espacial para permitir a reprodução do capital e garantir a fluidez do ciclo de reprodução (CARLOS, 1999).

Nessa acepção, as cidades se tornam lócus relevante para a perpetuação do processo de produção do espaço urbano e circulação e acumulação do capital. Verifica-se que a industrialização foi um fenômeno decisivo para a transformação da cidade nos moldes materializados atualmente. Historicamente a industrialização reformulou o uso e ocupação da terra que se tinha nas cidades. Quando a cidade industrial estava se formando, isso no século XIX, em decorrência dos efeitos das transformações econômicas, o número de habitantes vivendo em áreas urbanas mudou a sua distribuição no território, isso porque, com a chegada da industrialização, muitas famílias dos distritos agrícolas se deslocaram para os bairros próximos as oficinas fazendo com que a cidade crescesse desmedidamente (BENEVOLO, 1973). Esse crescimento nem sempre se deu em bases iguais, já que se emoldurou na lógica capitalista onde “[...] as cidades emergiram da concentração social e geográfica do produto excedente” (HARVEY, 2008, p. 2) e, portanto, esse processo relacionado à urbanização é uma relação de classe majoritariamente desigual, uma vez que a distribuição e o controle estão nas mãos de poucos (HARVEY, 2008).

Como concluiu Lefebvre (1973) sobre o conceito de produção e capitalismo:

[...] as relações de produção, características da sociedade capitalista, carecem elas mesmas de ser reproduzidas. Uma sociedade é uma produção e uma reprodução de relações sociais e não só uma produção de coisas [...]. Ora, as relações sociais não se produzem e não se reproduzem apenas no espaço social em que a classe operária age, pensa e se localiza, isto é, a empresa. Reproduzem-se no mercado, no sentido mais amplo do termo, na vida quotidiana, na família, na “cidade”, reproduzem-se também onde a mais valia global da sociedade se realiza e se reparte e é dispendida, no funcionamento global da sociedade, na arte, na cultura, na ciência e em muitos outros setores, mesmo no exército (LEFEBVRE, 1973, p.109-110).

Assim, a produção do espaço urbano assistida atualmente não pode ser dissociada do modo capitalista, do processo de acumulação do capital, uma vez que, a maneira como ele determina a divisão técnica do trabalho, reinventa continuamente as bases gerais para a sua respectiva acumulação. O processo de produção e reprodução engloba meios de circulação, distribuição, troca e consumo, referindo-se ao desenvolvimento da vida humana (CARLOS, 1994).

A ação do capital enquanto agente produtor do espaço, valorizando ou não lugares, é apresentada por Lefebvre (1999) quando argumenta que o espaço urbano é um espaço

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repressivo, espaço do crime social, já que, quem não tem capital nem dinheiro é omitido. Isto é, “[...] o novo modo de produção (a sociedade nova) se apropria, ou seja, organiza para seus fins, o espaço preexistente, modelado anteriormente. Modificações lentas penetram uma espacialidade já consolidada [...]” (LEFEVBRE, 1991, p. 13).

Ainda nessa linha de argumentação, Carlos (1994) apresenta que o processo de produção e reprodução do espaço urbano é um produto capitalista, já que,

[...] a reprodução do espaço urbano recria constantemente as condições gerais a partir das quais se realiza o processo de reprodução do capital. Se de um lado aproxima a indústria, as matérias-primas (e auxiliares), os meios de circulação (distribuição e troca de mercadorias produzidas), a força de trabalho e o exército industrial de reserva, de outro lado, “aproxima” pessoas consideradas como consumidoras (CARLOS, 1994, p. 83).

Nesse aporte, o homem se apropria da natureza, ocupando-a e modificando-a segundo a divisão técnica e social do trabalho, consolidando uma determinada estrutura física, social e cultural, podendo ser representada pela cidade. No entanto, a cidade e o urbano aparecem com um modo dialético dentro do processo de produção, isso porque se apresentam ao mesmo tempo como produto do processo de produção do espaço e também como obra, isso nos mostra que esses dois elementos, o urbano e a cidade, ora podem ser considerados como o resultado do processo de produção e ora podem ser a própria circunstância para o seu próprio meio de produção. Ao mesmo tempo em que o urbano e a cidade são a materialidade do processo de produção do espaço, são elas que fornecem as bases, o substrato para a continuidade do processo de (re)produção do espaço. Nesse sentido, é que Lefebvre (1991, p.7) argumenta que:

[...] o espaço não pode mais ser concebido como passivo, vazio, ou então, como os “produtos”, não tendo outro sentido senão o de ser trocado, o de ser consumido, o de desaparecer. Enquanto produto, por interação ou retroação, o espaço intervém na própria produção: organização do trabalho produtivo, transportes, fluxos de matérias-primas e de energias, redes de repartição de produtos.

No entanto não se pode usar o conceito de cidade como sinônimo do conceito de urbano, eles são distintos e devem ser apreendidos de uma forma a elucidar suas próprias características. Iniciando a discussão com Harvey (1980, 2005), ele discorre que o urbano não é simplesmente uma estrutura espacial, mas sim está diretamente relacionado com ideologias e pode vir a moldar o modo de vida de uma população, ou seja, o urbano é o modo de vida, já a cidade seria a forma edificada. A urbanização é uma resposta com relação as suas formas

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espaciais ao capitalismo e concentra as forças produtivas e de trabalho, mas mais do que isso, também concentra o poder político e econômico.

Na mesma linha pensamento, Castells (1983, p.19) defende que o urbano é um “sistema cultural característico da sociedade industrial capitalista”, caracterizando-se por um determinado tipo de técnica de produção, essencialmente industrial e uma forma de organização do espaço, configurando então a cidade.

Lefebvre (1991, p.49) também propõe diferenciar o que é cidade e o que é urbano. O autor discute que a cidade é “realidade presente, imediata, dado prático-sensível, arquitetônico” e o urbano é “realidade social composta de relações a serem concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento”. Nessa perspectiva, Lefebvre (1991) salienta que o urbano não está associado a uma determinada morfologia material, ele desenha-se conforme um modo de existência, modo aqui entendido como capitalista.

A discussão entre a diferenciação cidade versus urbano também foi realizada, entre outros, por Rodrigues (2004), que segundo suas explanações apresenta que a cidade pode ser entendida como uma forma espacial, lugar de concentração da produção, e também concentração e difusão do urbano, é a sede político administrativa dos municípios. Já o urbano compreende um modo de vida da atualidade, sendo assim uma realidade inacabada.

Tais observações levam a concluir que a cidade é o concreto, marcado por uma organização espacial, como ruas, avenidas, praças, enfim, definidas pela divisão técnica do trabalho, e já o urbano relaciona-se com algo mais abstrato, é uma qualidade, uma característica.

É nesse aporte, de que o urbano é algo mais abstrato, que é algo que conceitua, ou seja, algo que adjetiva, que Lencioni (2008) faz uma contribuição importante sobre cidade e urbano. Para esta autora, a cidade aparece como um substantivo, isso quer dizer, “uma palavra que serve para nomear um objeto determinado” (2008, p.113), já o urbano “caracteriza o substantivo”. Lencioni (2008) apresenta um apontamento interessante sobre as palavras urbano e cidade. Estas nomenclaturas só apareceram no vocabulário da sociedade quando um fenômeno se concretiza, quando acontece. Logo, a palavra cidade remonta ao século XVIII, já a palavra urbano só foi aparecer posteriormente (LENCIONI, 2008). Essa exposição nos mostra, portanto que a cidade, entendida como aglomeração, edificação, organização espacial entre outras características apresentadas anteriormente, precede o conceito de urbano.

Assim como Castells (1983) e Lefebvre (1999), Lencioni (2008) também entende que o urbano é um fenômeno relacionado com a sociedade capitalista industrial. Embora Castells (1983) e Lefebvre (1999) tenham feito suas análises na ótica de sua realidade europeia, essa

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relação também cabe à sociedade brasileira, porém se apresentou posteriormente já que a industrialização no Brasil se deu tardiamente comparada com a Europa, e muito “[...] embora tenhamos cidades no Brasil desde a colônia, a constituição do urbano, a partir das referências examinadas, lhe é posterior.” (LENCIONI, 2008, p.120). Portanto a cidade é o palpável, são as ruas, avenidas, casas, aglomerações, enfim, e o urbano é a forma de viver em cidade, mas não o modo de vida em qualquer cidade, é na cidade formada a partir da industrialização e do capitalismo que o urbano se apresenta.

A sociedade e os vários aspectos (econômicos, políticos, culturais, científicos, entre outros) que ela engloba são preponderantes e determinantes para o processo de produção do espaço urbano, nesse sentido, Corrêa (2011) defende que a produção do espaço é consequência das ações de agentes sociais concretos inseridos na temporalidade e espacialidade capitalista, dotados de interesses, políticos, econômicos e sociais e estratégias que vão suprir com esses interesses diversos. Então, a produção do espaço e a sua reprodução dizem respeito a um processo histórico de construção não só de conhecimento, mas também da relação entre sociedade-natureza, capital-trabalho, materializada cotidianamente pela sociedade, e na sociedade, sobretudo influenciada pela lógica capitalista que valoriza ou desvaloriza os lugares, provendo meios para a sua produção e/ou reprodução do espaço urbano.

A fim de elucidar o conceito de produção do espaço urbano, então é posta a pergunta: quais são os principais atores produtores do espaço urbano? Em um dos primeiros ensaios sobre o tema, Corrêa (1989) aponta cinco agentes sociais que produzem o espaço urbano, que são: os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, promotores imobiliários, o Estado e grupos sociais excluídos. Em um trabalho posterior do mesmo autor (2011, p. 43) ele discute que esses agentes produtores do espaço urbano são “[...] dotados de interesses, estratégias e práticas espaciais próprias, portadores de contradições e geradores de conflitos entre eles mesmos e com outros segmentos da sociedade”.

Como cada um desses agentes tem propósitos e objetivos diversos, eles vão ocupar o espaço urbano a fim de suprir seus próprios interesses. A atuação desses vários agentes produzirá o espaço urbano através de elementos concretos, como ruas, bairros, áreas comerciais etc. (CORRÊA, 2011). A atuação desses agentes no espaço urbano de Paulínia pode ser identificada, pois em sua maioria das vezes, eles são encontrados na sua forma mais concreta. Tendo como exemplo, os agentes proprietários de terras, que como cita Corrêa (2011), deixam ociosas áreas agricultáveis principalmente nas periferias das cidades à espera de valorização, ocorrendo o mesmo com empresas do ramo imobiliário.

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Já no caso dos proprietários dos meios de produção, representados pelos proprietários industriais, que são grandes consumidores do espaço urbano, no caso de Paulínia, ocupam uma extensa área, fazendo com que haja uma desvalorização das áreas do seu entorno, já que estas podem se tornar insalubres e desagradáveis (CORRÊA, 1989, 2011). Em Paulínia, foi o caso da instalação do polo petroquímico, a nordeste do município, nas quais as áreas do seu entorno imediato correspondem a bairros com uma população mais carente, dotados de poucos equipamentos urbanos necessários àquela população. Esse primeiro momento de industrialização do município, foi um marco para o processo de produção do espaço urbano, reorganizando o território paulinense, fazendo com que áreas fossem mais valorizadas em detrimento de outras.

As práticas desses diversos agentes, podem se sobrepor, gerando uma ação integrada entre eles, ou não, criando um campo de forças contrárias variando conforme os seus propósitos, onde o principal objeto de interesse desses diferentes agentes é a terra urbana e tendo como principal mediador desse processo o Estado. É o Estado que regula o marco jurídico da produção do espaço urbano, e é ele também que controla o mercado fundiário e as taxas das propriedades, apresentando múltiplos papeis no que se refere à produção do espaço urbano, no entanto a sua ação mesmo enquanto regulador nunca é neutra, já que o Estado vai interagir com os outros agentes produtores do espaço urbano, podendo interferir na divisão social do espaço da cidade (CORRÊA, 2011).

Além dos proprietários industriais, outro agente ativo na produção do espaço urbano de Paulínia pode ser elencado como os promotores imobiliários, são eles os responsáveis por promover o tamanho, localização, qualidade dos novos empreendimentos imobiliários, o que resultará em uma valorização do uso da terra de determinada área da cidade. Em Paulínia a transferência do Paço Municipal para outra área, antes localizada na região central do município e agora a oeste, fez que houvesse uma valorização do entorno dessa nova centralidade, sobretudo com a incorporação de aparelhos urbanos ao lado do Paço Municipal como o Teatro Municipal e o Complexo da Rodoviária e Shopping (Rodo-Shopping) (Figura 1.1). O trabalho de Wassal (2011) estudou essa nova centralidade criada em Paulínia e constatou que:

[...] a presença da nova centralidade [...] a facilidade de acesso dada pela ampla estrutura viária disponível foram sinalizações do poder público que área era propícia à atuação de empreendimentos imobiliários. Os empreendedores apenas aproveitaram a oportunidade criada pelo governo e investiram massivamente na região. A prefeitura colaborou com a iniciativa privada ao aprovar diversos loteamentos fechados e, portanto, consentir na formação de um território composto de espaços segregados (WASSAL, 2011, p. 101).

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Figura 1.1. Equipamentos urbanos da nova centralidade de Paulínia (SP)

Fonte: Ortofoto IGC (2010). Org. Rôvere, S.D. (2016)

Como cita Wassal (2011), o Estado se coloca como um agente decisivo na produção do espaço urbano de Paulínia. Neste caso, ele atuou como regulador de empreendimentos que ocasionaram a valorização do uso da terra na área do entorno da nova centralidade. Como nos mostra Corrêa (1989, p.24) “o Estado é um agente de regulação do uso do solo” e mais, atua de acordo com um conflito de interesses dos diferentes membros da sociedade. Além do trabalho de Wassal (2011) outro trabalho que mostra a atuação de agentes produtores no espaço, sobretudo imobiliário, é o trabalho de Farias (2014) que analisou a valorização do uso da terra em Paulínia, que será apresentado mais detalhadamente adiante.

Por isso, no que tange a discussão do processo de produção e a sua relação com a cidade é que Lefebvre (1999) apresenta que as cidades concentram capital e pessoas, mas também, como completa Castells (1983, p.19), reúnem os “[...] centros religiosos, administrativos e políticos, expressão espacial de uma complexidade social determinada pelo processo de apropriação e de reinvestimento do produto do trabalho”. Da mesma forma que Lefebvre (1999), Castells (1983) entende que a cidade torna-se a centralidade de todas as relações, não só das relações de produção do capital, mas também das organizações que vão ditar a sua gestão.

Rodo-Shopping

Prefeitura Teatro

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Então, a cidade aparece como a centralidade de todos os processos capitalistas, mas não só centralidade do capital, ela concentra também os instrumentos da população, as necessidades e os prazeres, tudo o que faz uma sociedade ser sociedade, e por isso origina a necessidade de uma administração política, distribuindo em organizações e instituições (LEFEVBRE, 1999).

E por que a cidade torna-se tão importante nesse processo? Porque é ela que tem hegemonia dos meios de produção, dos centros consumidores, das organizações administrativas, mas mais do que isso, como acrescenta Castells (1983, p. 23), “[...] as cidades atraem a indústria devido à [...] mão de obra e o mercado e, por sua vez, a indústria desenvolve novas possibilidades de empregos e suscita serviços”. Deste modo, a argumentação de Castells (1983) é relevante para a discussão sobre o município de Paulínia. Genericamente, o autor argumenta que a indústria é um dos elementos dominantes que podem organizar a paisagem urbana e que é a expressão lógica capitalista que está na base da industrialização.

Essa exposição visa elucidar a produção do espaço urbano da área de estudo deste trabalho, Paulínia (SP), dado que a implantação de refinarias e indústrias do ramo petroquímico no município significou um aumento da população residente na cidade, logicamente formada por uma força de trabalho necessária para essas novas indústrias, o que gerou uma transformação efetiva no seu território, assunto discutido mais detalhadamente nos próximos capítulos.

Portanto, a cidade tem um arranjo de vários elementos que vão se regular para organizá-las. Podemos dizer que a exposição feita por Castells (1983, p. 20) apresenta quatro níveis estruturais que compõem a cidade. Sendo eles:

Primeiro, um sistema de classes sociais. Segundo, de um sistema político permitindo ao mesmo tempo o funcionamento do conjunto social e do domínio de uma classe. Terceiro, de um sistema institucional de investimento, em particular no que concerne à cultura e à técnica. Quarto, de um sistema de troca com o exterior.

Esse espaço urbanizado, caracterizado por uma determinada técnica de produção, essencialmente industrial, um sistema de valores e uma forma específica de organização espacial, a cidade (CASTELLS, 1983), é gerido segundo normas e regras ditadas pelo Estado e por órgãos administrativos que preveem o seu ordenamento. Tal ordenamento nem sempre se concretiza de uma forma conjunta e uniforme, seguindo uma lógica diferente dependendo de quem o faz.

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Nesse contexto, uma direção que se pode tomar para estudar a produção do espaço urbano em Paulínia é a respeito da identificação dos agentes que formam múltiplos territórios, que através do entendimento do principal substrato dos territórios, o espaço, é possível desenhar ações de planejamento e gestão que contribuam com a organização espacial do município. Porém discutir o conceito de território exige uma prerrogativa, discutir a relação do poder posta através da territorialização desse espaço.

1.2. Relações de poder e a formação de territórios

Para iniciar a discussão sobre relações de poder e formação de territórios, se faz necessário esclarecer o conceito de território, no qual nem sempre tomou as mesmas acepções e os mesmos significados na Geografia. No sentido clássico, o conceito de território surge com uma acepção de delimitação de uma área feita por qualquer grupo, para garantir seu acesso ao alimento e a moradia. Ou seja, o território no seu significado mais comum nada mais é que a demarcação de uma determinada área conjuntamente com a aplicação de alguma autoridade para controlar atividades e/ou serviços. No entanto, com organizações humanas mais complexas e com a revolução industrial e, consequentemente, com a estabilização da política econômica capitalista, o território foi se tornando cada vez mais intrincado.

Para tanto, o conceito de território pode ser considerado um conceito polissêmico que de acordo com a época e com as diversas correntes geográficas pode variar e ganhar muitas interpretações. A discussão, neste texto, será iniciada com o geógrafo francês Gottman (2012), que apresenta um conceito de território mais sucinto, mostrando que o território aparece como uma porção do espaço geográfico, ou seja, ele é concreto e é fruto da repartição e organização, e em teoria ele deve ser limitado. Ainda de acordo com Gottman (2012), o território tem uma acessibilidade controlada através da intervenção política, restringindo ou aumentando sua capacidade de acesso,o território é um conceito político.

O sentido de território político não foi apresentado só por Gottman (2012), o também geógrafo Haesbaert (2006) expõe a noção de território como entidade política sendo caracterizada por uma área limitada e controlada, através, na maioria das vezes, do exercício de uma relação de poder. Nesse contexto, corrobora a fala de Souza (2000) que expõe que o poder é inerente à existência de qualquer comunidade política e por isso é um componente presente na formação do território (SOUZA, 2000). Isto é, “[...] todo espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder é um território” (SOUZA, 2000, p.111). Moraes (2005) também discorre sobre sua definição de território, no sentido da geografia clássica,

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como uma área de soberania estatal, delimitada por uma jurisdição, sendo qualificado pelo domínio político de uma porção da superfície terrestre.

Com algumas diferenças, mas ainda concordando que o território se materializa em uma base política, formado a partir das suas relações de poder, Santos e Silveira (2001) explanam que o território é um nome político dado para o espaço de um país, é a extensão do espaço apropriada e usada, impondo-se a noção de espaço territorial, no qual o território usado aparece como sinônimo de espaço geográfico, dessa forma, para a acepção de Santos e Silveira (2001) um Estado sempre terá um território. Brevemente, o conceito de território usado é definido por abrigar ações passadas, já cristalizadas nos objetos e normas, além das ações que se realizam atualmente (SILVEIRA, 2011). Ou seja,

[...] o território usado é tudo aquilo que o constitui materialmente, isto é, infraestruturas que chamamos sistemas de engenharia, a agricultura, a indústria, o meio construído urbano, as densidades demográficas e técnicas, mas também o que constitui imaterialmente, as ações, normas, leis, cultura, movimentos da população e fluxos de toda ordem, incluindo ideias e dinheiro (SILVEIRA, 2011, p. 156).

A interpretação de território como ente político é bastante difundida e aceita por diversos autores. De fato, o território enquanto espaço mediado por relações de poder fica claramente compreensível quando pensado no escopo de relações de poder configuradas pela política, isso por que relações de poder projetadas pelo Estado são mais permanentes e apresentam uma abrangência, um controle muito maior. Além disso, um dos componentes fundamentais para a existência de um Estado é a delimitação de um território; embora possa haver conflitos nos limites feitos pelo Estado, em sua maioria, esses limites apresentam um grau de estabilidade maior do que limites feitos por outras entidades. No entanto, não é só o Estado que fixa e forma territórios, há de se admitir outros agentes que atuam na formação dos mesmos. Porém, uma ressalva importante a se fazer, refere-se ao fato de que nem todo Estado necessariamente possuí um território, vide o caso da Palestina.

Fora do escopo da discussão do território clássico e político, outra acepção do conceito é a que é proposta por Guattari e Rolnik (1996, p. 323) que discorrem que:

[...] o território é sinônimo de apropriação, subjetivação fechada em si mesma. Ele é o conjunto dos projetos e das representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos.

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O conceito de território exposto por Guattari e Rolnik (1996) difere da exposição dos autores anteriores. As proposições feitas por eles é rizomática, como cita Haesbaert (2006), o que significa que o conceito de território é múltiplo, transitório e, portanto, o território é posto como subjetivo, construído pelas redes e sistemas sociais. A grande dificuldade desta articulação para a aplicação do conceito neste trabalho é que os autores demonstram que o território supera o espaço geográfico, sobrepassa a materialidade do conceito de território, no qual qualquer objeto pode ser territorializado. Nesse sentido, a principal contribuição do desenvolvimento deste trabalho no que diz respeito ao conceito de território é a de cartografar os territórios presentes no município de Paulínia, e trabalhar com uma acepção mais subjetiva dificultaria e até impediria realizar a cartografação desses múltiplos territórios, pois territórios mais fluídos, com uma definição mais abstrata muitas vezes não têm um contorno, um limite formal, palpável, impossibilitando aferir sobre as suas simetrias e assimetrias cartográficas.

Contudo, grande parte das acepções sobre território, especialmente as adotadas neste trabalho, preveem um elemento importante para a sua constituição, sendo este elemento as relações de poder projetadas no espaço. O espaço aparece como matéria-prima, que por meio das relações de poder, formam os territórios, nos quais a criação de territórios e dos serviços distribuídos nesse espaço se dá através de um agente pontual, o poder.

Dessa forma, um dos principais elementos que compõem o território são as relações de poder projetadas no espaço. Esse poder pode ser projetado tanto pelo Estado quanto pela sociedade, e ele exerce uma ação em um espaço determinado, delimitado, ou seja, territorializando e estruturando um espaço através de grupos e/ou classes sociais que se apropriam desses espaços a partir das várias relações de poder (TONUCCI, 2013).

O poder é imprescindível para a construção dos territórios, pois é ele que garante a existência da esfera pública; o poder origina-se da relação entre os homens, por isso as cidades ganham tanta importância nessa discussão, pois é na convivência próxima dos homens nas cidades que é posta a condição material mais importante do poder (ARENDT, 2007).

Interessante completar, ainda de acordo com Arendt (1985), que discute que o poder se refere à habilidade humana de agir sempre em conjunto, não existe um indivíduo poderoso, o poder sempre existe em um grupo e seu caráter concerne a um instrumento de dominação. O que significa que quanto mais organizados forem os grupos que exercem o poder, mais eficiente ele se tornará. Essa afirmação respalda a ideia de que o Estado é um dos agentes mais poderosos em uma sociedade, já que corresponde a um grupo bastante organizado e articulado, e em sua maioria com objetivos em comum.

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O Estado enquanto principal organização detentora de poder, age com o intuito de gerenciar e regular o espaço geográfico, aplicando seu poder em determinados espaços controlando seu acesso e definindo seu limite, transformando esse espaço em território para melhor gerenciá-lo e distribuir os serviços, além de exercer o seu poder com a finalidade de aplicar e criar leis para balizar marcos regulatórios. E por que esses espaços se tornam territórios? Por que apresentam um limite, têm uma determinada área, não necessariamente com o acesso controlado, mas existe um limite de caráter organizacional feito pelo Estado. As relações de poder projetadas pelo Estado produzem o território que por sua vez é organizado a fim de distribuir os serviços e/ou mercadorias que circulam naquele espaço.

Mas o poder também pode ser um “[...] conjunto de recursos, de natureza psicológica, material ou econômica, existentes na sociedade, que os indivíduos põem a serviço de uma autoridade suprema, para manter a ordem pública” (ALBUQUERQUE, 1995, p. 107). Todo indivíduo e todas as entidades públicas ou privadas são capazes de projetar poder, são capazes de ser um agente de poder e é nesse sentido que também examina Foucault (2006), para o qual o poder em si não existe, o que existe são práticas ou relações de poder. A argumentação continua dizendo que:

[...] o poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona. E que funciona como uma maquinaria, como uma máquina social que não está situada em lugar privilegiado ou exclusivo, mas se dissemina por toda a estrutura social. Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação (FOUCAULT, 2006 p. XIV).

Posta então essa discussão de que o poder se exerce, ou seja, que advém de relações, e não de um agente específico, Foucault (2006) então questiona o que é esse exercício de poder? Qual o seu mecanismo de funcionamento? Em uma interpretação balizadora, pode-se dizer que o poder é, nas palavras de Foucault (2006), “essencialmente repressivo” e esse seria o seu principal mecanismo. Outra hipótese desenvolvida pelo mesmo autor, é que o poder seria a guerra prolongada por outros meios, isso quer dizer que historicamente nas sociedades as relações de força e de poder têm origem na guerra, pela guerra.

Sendo assim, o poder poderia ser analisado em duas vertentes, a análise clássica que articularia o poder como um direito que se cede, formador de soberania, apresentando como matriz o poder político (contrato-opressão), e a outra na qual o esquema seria o de guerra-repressão, e a repressão seria uma relação de dominação perpétua de força (FOUCAULT, 2006).

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Uma das formas de poder que existem e podem ser identificados em Paulínia são os poderes associados ao judiciário. O poder judiciário municipal tem o dever de julgar os conflitos gerados no município. Esse poder judiciário tem relação direta com o Direito, como argumenta Foucault (2006), ele é o conjunto de leis, aparelhos e instituições regulamentadas que aplicam o direito. Esse sistema de direito e do campo judiciário são os meios permanentes das relações de dominação, sendo uma forma regulamentada e legítima de poder. É interessante salientar que a análise de Foucault (2006), assim como a deste trabalho, não se preocupa somente em compreender como essas redes de poder(es) formais se formam e se articulam, mas sobretudo “[...] captar o poder na extremidade cada vez menos jurídica de seu exercício” (FOUCAULT, 2006, p. 182).

Concomitantemente com essa elucidação, de que existem vários mecanismos e ações de poder, Raffestin (1993) apresenta sua teoria demonstrando que o poder pode ser marcado por duas interpretações diferentes, o poder e o Poder. O Poder seria o equivalente a interpretação mais clássica de Foucault, aquele que diz que ele é repressivo, relacionando-se ao Estado no qual “[...] se manifesta por intermédio dos aparelhos complexos que encerram o território, controlam a população e dominam os recursos” (RAFFESTIN, 1993, p. 52). Já o poder seria, para Raffestin (1993), a parte intrínseca de toda relação, originando-se das múltiplas relações de força e, assim como Foucault (2006), Raffestin (1993) reconhece esse poder como um processo, sendo toda relação um lugar de poder.

Se todas as relações geram um campo de força, e a sociedade e as suas variadas formas de organização interagem entre si e com a natureza através de relações mediadas por formas de poder, a sociedade ao relacionar-se com o espaço pode projetar um poder capaz de organizar e/ou controlar esse espaço e com isso transformá-lo em território. Como explica Saquet (2007, p. 34) “[...] o território é um lugar de relações a partir da apropriação e produção do espaço geográfico, com o uso de energia e informação, assumindo, desta maneira, um novo significado, mas sempre ligado ao controle e à dominação social”. Esse controle e essa dominação social são exercidos através das múltiplas formas de poder.

Saquet (2007, p. 33) concorda que “[...] o poder está presente nas ações do Estado, das instituições, das empresas..., enfim, em relações sociais que se efetivam na vida cotidiana, visando ao controle e à dominação sobre os homens e as coisas”. Da mesma forma, apoiando essa ideia de múltiplas formas de poder, Ambrozio (2013) comenta que o Estado, as empresas e os próprios indivíduos são produtores do território tendo um poder de “ação territorial não simétrico” (AMBROZIO, 2013, p. 4).

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Isso significa que cada agente produtor do território tem um limite para exercer o seu poder e assim territorializar um espaço, e conforme mudam os significados do território, se altera a compreensão das relações de poder (SAQUET, 2007). Esse limite de exercício de poder é explicado por Raffestin (1993) como sendo as tessituras, que são “[...] um enquadramento do poder ou de um poder”. A escala da tessitura determina a escala dos poderes. Há os poderes que podem intervir em todas as escalas e aqueles que estão limitados às escalas dadas. Finalmente, a “tessitura exprime a área de exercício dos poderes ou a área de capacidade dos poderes”. (RAFFESTIN, 1993, p. 154).

Portanto, esses poderes através de suas relações de bases material econômica e social:

Investido nas elites locais e nos movimentos sociais diversos são relações que definem práticas territoriais e, consequentemente, na gestão territorial de uma maneira peculiar, o que por sua vez expressa que em determinados momentos, essas relações definem a configuração territorial, que corresponde aos interesses relacionados tanto com as empresas, quanto com as elites ou movimentos sociais na busca por seus interesses (CUNHA e SILVA, 2007, p. 4).

Se uma das características da formação de territórios é a presença de um limite, de uma demarcação de uma fronteira, esta, só pode advir de relações de poder, onde a “essência do poder é a efetividade do domínio” (ARENDT, 1985, p. 23), o que quer dizer que um território só é território por que existe um limite bem definido, uma fronteira onde a definição e, sobretudo a manutenção desse limite, se dá majoritariamente pelo poder. Por isso, compreender como se dão as relações de poder é tão relevante para entender os territórios.

Os poderes são materializados em Paulínia de maneira formal e informal, assim como Raffestin (1993) e Foucault (2006) apresentam em suas definições dois âmbitos de poder. O primeiro deles se dá nos poderes formais, institucionalizados, como aqueles ligados a Prefeitura e suas secretarias, referindo-se ao poder formalizado. Já o segundo diz respeito a um poder informal, como aquele exercido, por exemplo, pela Igreja Católica e grupos sociais organizados, empresas, pautado em uma relação de poder mais social e cultural. Embora os poderes venham de instâncias diferentes, ambos se manifestam criando territórios que visam controlar um determinado produto, acesso ou serviço, e consequentemente vão gerenciar e distribuir os serviços presentes em Paulínia.

Nesse sentido é que Raffestin (1993), apoiado na teoria de Foucault (2006), entende que o poder advém de relações, não sendo caracterizado como um objeto pontual. O controle do espaço socialmente apropriado e produzido formam os territórios. Isso quer dizer que o território é construído enquanto intermédio das relações de poder desde sua característica

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política até uma esfera mais simbólica. No entanto, a compreensão de formação dos territórios em Paulínia será analisada na ótica dos poderes mais formais, aqueles ligados a esfera política, sobretudo produzida pelo poder público municipal, uma vez que, o poder e consequentemente a formação de territórios produzidos por esses agentes, fundamentalmente relacionados ao planejamento urbano municipal, viabilizam o mapeamento dos territórios presentes em Paulínia.

Sendo assim, assimilar como os territórios são formados e reformados, como perdem ou ganham poder econômico e, principalmente, como o poder do Estado pode tornar em si uma barreira para a acumulação livre de capital ou centro estratégico (HARVEY, 2005) se faz de grande importância para entender a multiplicidade territorial em Paulínia.

1.3. Múltiplos Territórios

Como é possível observar nas elucidações prévias o conceito de território é bastante polissêmico, e ganha diversas interpretações dependendo de quem o elabora e/ou utiliza. Muito embora o conceito tenha essa diversidade de apreensões um autor pode ser destacado quando se trata do conceito de território na Geografia, o geógrafo Claude Raffestin, uma vez que este autor considera na sua análise sobre o território o caráter político-administrativo.

As elucidações expostas por Raffestin (1993) formam um arcabouço teórico que norteiam as suposições deste trabalho. Raffestin (1993) discorre sobre o conceito de território fazendo uma discussão política centrada no conceito de poder, explorando os componentes formadores do território. Adotar a abordagem de Raffestin (1993) direciona a análise do território baseada na escola francesa1 que leva em conta a dimensão política e econômica. Além de Raffestin (1993), dois autores brasileiros são relevantes para a abordagem de território apropriada neste trabalho, são eles Haesbaert (2006) e Saquet (2007). Para Haesbaert (2006) o território aparece com várias interpretações e defende o conceito de multiterrritorialidade, que será explicado adiante. Já Saquet (2007) lê o território como um processo histórico, no qual existe uma associação de aspectos econômicos, políticos, culturais e da natureza que ele chama de E-P-C-N, que através de relações de poder projetadas no espaço formam os territórios.

1

Brevemente, a escola francesa nasce em resposta ao determinismo alemão. De acordo com Fabrício e Vitte (2011), Paul Vidal de La Blache formula sua ideia centrada em uma nova perspectiva, onde o homem não é somente influenciado pela natureza, mas ele também atua como fator geográfico, transformando a natureza através das possibilidades que cada meio oferece. “Enquanto que, para o determinismo o homem era só um meio entre outros (FABRÍCIO e VITTE, 2011, p. 320-321).”

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Embasando a argumentação exposta anteriormente, de que não é só o Estado que forma territórios, Raffestin (1993) argumenta que desde o próprio Estado até o indivíduo encontram-se atores que “produzem” o território como, por exemplo, o Estado que encontram-sempre organiza o território nacional através de novos recortes, bem como, um indivíduo que constrói uma casa. Porém, as organizações de origem política criadas pelo Estado, em geral, são mais permanentes. O significado dessa afirmação de Raffestin (1993) é que todas as sociedades têm a necessidade de se organizar, e com isso o território é posto como um espaço de organização, e qualquer prática espacial mediada por relações de poder, projetada pela sociedade induzirão na produção, mesmo que incipiente, de territórios.

A formação desses territórios se dá através de um sistema territorial que por meio de interações políticas, econômicas, sociais e culturais leva a um sistema de malhas, nós e redes, que compõe essa trama territorial (RAFFESTIN, 1993). Interessante notar, que assim como Raffestin (1993), que apresenta a formação de territórios através da interação de vários elementos, Saquet (2007) também corrobora com a mesma ideia, na qual o território se forma através da interação de vários elementos presentes na sociedade, chamando de E- P- C-N, muito embora este segundo autor também considere o aspecto imaterial da formação dos territórios, elemento pouco presente na obra de Raffestin (1993).

Além disso, uma contribuição importante de Raffestin (1993) sobre território foi a sua descrição sobre o sistema territorial. Ele expõe que as interações sociais, econômicas e culturais imprimem no espaço um sistema de malhas, de nós e de redes que de alguma forma compõe o território. É justamente nesse sistema territorial que as relações de poder se projetam e são identificadas.

O sistema de malhas, nós e redes, como mostra a Tabela 1.1, têm uma diferenciação funcional e hierárquica que serve para ordenar o território, assegurando controle sobre aquilo que é distribuído, alocado e/ou possuído de acordo com os diversos grupos e suas ações (RAFFESTIN, 1993), e ela existe independente do grupo que a aplica, podendo ser econômica, política, social ou cultural. Segundo as palavras do próprio autor “[...] esses sistemas de tessituras, de nós e de redes [...] permitem ainda impor e manter uma ou várias ordens. Enfim, permitem realizar a integração e a coesão dos territórios. Esses sistemas constituem invólucro no qual se originam as relações de poder” (RAFFESTIN, 1993, p. 151).

Referências

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