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Produção cartográfica: mapeando os múltiplos territórios

Capítulo 2 .Metodologia de Pesquisa: cartografando os múltiplos territórios de Paulínia

2.2. Produção cartográfica: mapeando os múltiplos territórios

Para compreender como se dão e como se materializam os múltiplos territórios de Paulínia, foi necessário fazer uma busca minuciosa junto a órgãos públicos e administrativos do município. Isso porque, através dessa averiguação, foi possível adquirir dados para a construção de uma base de dados geográficos. Atualmente, Paulínia corresponde a um dos 20 municípios, como mostra a Figura 2.1, componentes da Região Metropolitana de Campinas (RMC). De acordo com a AGEMCAMP (2013), a RMC foi criada em 2000 por possuir grandes potencialidades econômicas, apresentando uma diversificada produção industrial, além de contar com um amplo sistema viário.

Os temas elencados e mapeados foram aqueles que apresentam uma divisão territorial zonal, isto é, um território possível de ser cartografado e posteriormente comparado e sobreposto, possibilitando examinar as simetrias e assimetrias dos territórios presentes em Paulínia. Entende-se que territórios simétricos são aqueles que compartilham áreas comuns, equivalentes, resultante do compartilhamento da mesma posição no espaço geográfico, diferentemente dos territórios assimétricos, que são aqueles que não compartilham a mesma posição ou somente compartilham em partes, o que para efeito de estudo pode ser devidamente cartografado e comparado por meio de funções analíticas de geoprocessamento.

Inicialmente, buscou-se dados de diversos agentes formadores de territórios em Paulínia, como por exemplo, empresas prestadoras de serviços municipais, como coleta de lixo e transporte público, entre outros, porém a busca e aquisição desses dados foi inviável e

inacessível, e em consequência, optou-se por trabalhar com temas relacionados ao planejamento urbano municipal. Assim, a escolha dos temas se deu pela possibilidade de acesso aos dados, ou seja, aqueles agentes que permitiram a aquisição de sua base de dados e colaboraram para a construção de uma base cartográfica, além da sua relevância no que diz respeito ao planejamento e gestão do município.

Os mapas finais irão contemplar os territórios de Paulínia e sua possível multiplicidade. Como menciona Sposati (2001) a respeito da relevância de se mapear o território, “[...] o mapa nos permite um conjunto de ferramentas para pensar e decidir sobre os destinos das condições de vida que entendemos dignas para todos os pedaços da cidade” (SPOSATI, 2001, p. 152).

A Figura 2.2 mostra a organização do expediente de pesquisa adotado para a sistematização do trabalho ao longo dos semestres, no qual o levantamento de dados tanto bibliográficos quando cartográficos representam o ponto de partida, uma vez que esses procedimentos formam o principal eixo para o recolhimento de informações prévias sobre o tema (MARCONI e LAKATOS, 2003).

Figura 2.2. Fluxograma da metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa

A fim de elaborar a base de dados cartográficos, foram feitas diversas reuniões junto às Secretarias Municipais (Secretaria da Educação, de Saúde, de Planejamento e de Finanças e Administração) e também a outros órgãos públicos, tais como Guarda Municipal e Polícia

Militar. Além de visitas à Prefeitura, também foram consultados sites de Instituições de Pesquisa e Planejamento como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que forneceu dados referentes ao censo demográfico de 2010 e também o site da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), na qual foi possível consultar informações sobre as Unidades de Territorialização (UIT’s, 2005). As visitas e a busca por dados cartográficos foram importantes para começar a traçar os múltiplos territórios presentes no município.

As visitas aos órgãos municipais de Paulínia como Secretaria de Saúde, Secretaria de Educação e Secretaria de Planejamento, assim como as visitas feitas a Guarda Municipal e Política Militar, tinham como objetivo compreender como são feitas a distribuição dos respectivos serviços no município, além de colher informações e dados de como se dá, por parte desses sujeitos, o uso e planejamento do território. As visitas foram realizadas ao longo dos anos de 2014 e 2015, junto aos representantes dos diversos órgãos.

Inicialmente foram adquiridos dados provenientes de websites como do IBGE e Emplasa. No website do IBGE foi possível acessar os limites dos setores censitários (2010) especificamente para o município de Paulínia já no formato digital (arquivos tipo shapefile). Esses dados correspondem somente às divisões poligonais dos setores censitários, as características de cada setor censitário adquiridas pelo censo demográfico foram adicionadas ao shapefile posteriormente, já que o shapefile com as malhas censitárias não continha essas informações. Para relacionar os polígonos dos setores censitários com as informações do censo, primeiramente foi necessário fazer o download das planilhas em formato xls (Microsoft Excel) com as variáveis desejadas. No caso dessa pesquisa, as informações dos setores censitários que julgamos pertinentes foram referentes à: população total residente no setor, quantidade total de domicílios por setor, renda nominal por pessoa e densidade demográfica. A utilização de dados censitários fundamenta-se no sentido em que eles são a menor unidade territorial que dispõem de dados sociodemográficos, essenciais para a compreensão do território de Paulínia.

O relacionamento entre os dados dos setores censitários em arquivos xls e o arquivo shapefile das malhas dos setores foi feito no software ArcGIS 10.3 através da função para junção de tabelas (join). De acordo com Ormsby et al, (2010) a ferramenta join serve para unir uma tabela com informações não espaciais a uma tabela de atributos de um shapefile, mas para tanto é necessário que haja em ambas as tabelas um atributo comum, isto é, um campo de atributos comum, que no caso do shapefile dos setores censitários e da sua tabela xls é o código do setor censitário. Feito isso, foi possível então conhecer os dados sociodemográficos em sua distribuição espacial conforme cada setor.

Em seguida, no website da Emplasa, foi adquirido o documento que apresenta os padrões urbanísticos da RMC, no qual contém também as delimitações das UIT (2005) para Paulínia. Porém, esse documento estava disponível somente no formato de arquivo pdf (Portable Document Format), no entanto o software ArcGis 10.3 não reconhece esse formato e, por isso, foi necessário transformar esse documento pdf para o formato tiff (Tagged Image File Format) que é um arquivo raster para imagens digitais, cujo o software ArcGis aceita. A transformação, do arquivo pdf para o arquivo tiff, se deu através das ferramentas de conversão, no software ArcGis 10.3 por meio da função pdf para tiff. Feito isso, o documento das UITs agora no formato tiff serviu como base para a realização da digitalização em tela, na qual foi possível desenhar as feições cartográficas (pontos, linhas e polígonos) a partir do documento original (MATIAS e SANTOS, 2006). Esse procedimento fez com que fosse criado um arquivo com as feições das UITs no formato shapefile. Por fim, o arquivo shapefile pôde ser georreferenciado, que significa atribuir uma localização espacial a um documento, isto é, tornar suas coordenadas adequadas e conhecidas para o projeto em execução (LONGLEY et al., 2005). Por conta do georreferenciamento foram atribuídas as coordenadas geográficas compatíveis aos do município de Paulínia no shapefile final com os limites das UITs.

Em visita a Prefeitura Municipal de Paulínia, na Secretaria de Planejamento, foi disponibilizado já em formato shapefile o arquivo da divisão oficial dos bairros, limite do perímetro urbano, limite do zoneamento municipal e limite das regiões. Também foram realizadas visitas junto à Guarda Municipal e à Polícia Militar a fim de adquirir informações sobre suas áreas de atuação. Os dados obtidos na Guarda Municipal e a Polícia Militar já estavam no formado shapefile, na feição poligonal. A disponibilidade desses dados em shp facilitou uma parte do desenvolvimento metodológico do trabalho.

No caso dos dados da Polícia Militar e da Guarda Municipal apenas foi necessário fazer a correção do limite municipal de Paulínia, que não correspondia com o oficial proposto pelo IBGE. O procedimento realizado para compatibilizar os limites municipais dos shp da Polícia Militar e da Guarda Municipal foi feito através da edição de dados vetoriais no software ArcGis 10.3, que permitiu corrigir, usando a ferramenta de clip (LEGATES, 2005), as bordas que não correspondiam ao limite proposto pelo IBGE. Também foi atualizada a projeção que estava em WGS (World Geodetic System) 84 para SIRGAS (Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas) 2000, dentro do software ArcGIS 10.3.

Já os dados da Secretaria da Educação e Secretaria da Saúde tiveram que ser digitalizados em ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica), pois não havia informação compatível com o software ArcGis 10.3. Esses dados foram fornecidos pelos órgãos em questão de forma analógica, isto é, ou as informações estavam em mapas impressos, ou não havia um mapeamento anterior.

No caso da Secretaria da Educação em reunião junto aos responsáveis, foi possível adquirir informações que alimentassem o banco de dados geográficos através da tabela de atributos do programa ArcGIS 10.3 sobre a base cartográfica já disponibilizada pela Prefeitura e assim construir um mapa com seus respectivos limites de gestão.

No caso da Secretaria de Saúde já havia um mapeamento prévio em formato analógico, e por isso, foi necessário realizar a digitalização em tela, ou, vetorização que de acordo com Matias e Santos (2006) corresponde ao processo de “digitalização das feições cartográficas” passando as informações do mapa analógico para o formato digital. Os dados da Secretaria da Saúde puderam ser obtidos por meio de visitas junto aos responsáveis da Prefeitura, o que permitiu colher informações atualizadas para a construção da Cartografia digital.

Além dos dados obtidos, uma Cartografia relevante para a discussão posta refere-se ao uso intraurbano do município. O conhecimento do uso da terra de Paulínia auxilia na compreensão da produção do espaço urbano paulinense e subsidia as bases para compreender a territorialização desse espaço e os diversos agentes que atuam na elaboração do território. A construção da Cartografia intraurbana de Paulínia contou com dois mapeamentos prévios realizados por Farias (2009) e Fagundes (2011) que, assim como este trabalho, utilizaram a base cartográfica cedida pela Prefeitura Municipal em escala 1:2.000 contendo os limites das quadras, e imagens de satélite ALOS sensor PRISM, resolução espacial 2,5 metros adquirida junto ao IBGE (2009), e também ortofotos digitais (2010) cedidas pelo IGC, resolução espacial 0,45 metros. Concomitantemente, para auxiliar na atualização dos mapeamentos já realizados foi utilizado o software Google Earth, com a função Street View, para a conferência dos usos (residencial, comercial, serviços etc.) atribuídos na classificação para cada quadra urbana.

A metodologia que norteou o mapeamento foi baseada em interpretação visual e digitalização em tela segundo Manual Técnico de Uso da Terra do IBGE (2006) e proposta de Matias (2014). A legenda do mapeamento urbano (Apêndice 01) orientou a classificação das atividades urbanas predominantes de cada quadra, usando as funções de edição e definição de atributos na tabela do banco de dados associada para cada polígono (quadra).

entendimento sobre as dinâmicas espaciais podendo sustentar decisões governamentais (JENSEN, 2009). Ao realizar os procedimentos de interpretação de imagem de sensores remotos deve se levar em consideração “[...] localização, tonalidade e cor, tamanho, forma, textura, padrão sombra, altura e profundidade, volume, declividade, aspecto, sítio, situação, e associação” (JENSEN, 2009, p. 134) dos alvos a serem mapeados.

A Figura 2.3 representa como se dá, por exemplo, a feição industrial na imagem do sensor remoto, no caso, a ortofoto; na representação vetorial, representada pelo shape de quadras do município de Paulínia; e no real, por meio de uma foto registrada em campo.

Figura 2.3. Feição industrial na representação vetorial, raster e em campo

Org.: Rôvere, S.D. (2015)

Tendo em mãos os temas das divisões territoriais: setores censitários, Unidade de Informação Territorializada, bairros, perímetro urbano, setores da Guarda Municipal, Área de Interesse de Segurança Pública da Polícia Militar, setores da Secretaria de Saúde, setores da Secretaria de Educação, Zoneamento e Regiões, foi possível mapear em Paulínia esses diversos territórios presentes no município e identificar suas simetrias e assimetrias. As análises contaram com técnicas de geoprocessamento baseadas em operações de sobreposição (overlay tools) entre os diferentes temas visando produzir temas compostos, com o objetivo final de se ter um mapa síntese dos territórios estudados de Paulínia. Essas técnicas são um aglomerado de ferramentas capazes de gerenciar, analisar e exibir dados espaciais, onde essas análises compreendem um exame sistemático das características geográficas presentes na área de estudo, podendo gerar resultados capazes de auxiliar na gestão e tomada de decisões (LEGATES, 2005).

As funções de sobreposição identificam contiguidades entre dois temas e criam um conjunto de dados no qual as linhas de contiguidades/justaposições definem novas características (ORMSBY et al, 2010). Outra funcionalidade importante usada no procedimento metodológico foi a função interseção que preserva somente a geometria de sobreposição, e a tabela de atributos tem características de ambos os temas sobrepostos. Ou seja, apenas a área de sobreposição é preservada, consistindo em um tema único (ORMSBY et al, 2010). A função utilizada para fazer o reconhecimento das simetrias e assimetrias dos territórios se deu através da análise de contenção, presente no software ArcGIS 10.3 que, como expõe LeGates (2005), auxilia no conhecimento do que tem dentro de uma área com o objetivo de se entender o que acontece nela, além de ser possível comparar uma área com outra em termos geométricos. A Figura 2.4 representa de forma esquemática os procedimentos realizados com os temas.

Figura 2.4. Esquema para analisar os múltiplos territórios

Os dados cartográficos produzidos foram inicialmente agrupados em três categorias a fim de sistematizar e organizar o geoprocessamento entre os temas representando os diferentes limites dos territórios para a formação do mapa final, numa abordagem cartográfica de síntese, que de acordo com Martinelli (2003) vai proporcionar não somente a sobreposição dos elementos, mas também a fusão deles em tipos, evidenciando conjuntos espaciais, considerando principalmente a dimensão relacional entre os territórios para fazer o agrupamento, ou seja, os territórios ligados ao planejamento municipal – principalmente os temas que regularizam e organizam o território de Paulínia - foram incorporados no mesmo grupo, já os relativos a segurança municipal, formaram outro conjunto de dados e, por fim, aqueles territórios associados a prestação de serviços, foram agrupados entre si.

O primeiro grupo referente aos temas de planejamento que levaram em consideração os territórios criados pela Emplasa, com a divisão das UITs e os territórios da Secretaria Municipal de Planejamento, englobando os territórios referentes ao zoneamento urbano municipal e os territórios das regiões. Esses temas foram agrupados, pois relacionam-se com as políticas públicas municipais que determinam o uso da terra de Paulínia, com o objetivo de organizar o território do município.

O segundo conjunto diz respeito à segurança municipal e considerou os territórios criados pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal. Enfim, o terceiro grupo tem relação com a prestação de serviços públicos no município e reuniu os territórios criados pela Secretaria Municipal de Saúde e pela Secretaria Municipal de Educação. Os shapefiles dos territórios do grupo de planejamento, segurança e serviços foram sobrepostos e submetidos à função de interseção que justapôs os diferentes territórios, contendo os vários limites existentes dentro do território paulinense.

Ao final de cada interseção foi obtido um mapa dos múltiplos territórios do planejamento, segurança e dos serviços, respectivamente. Esses mapas finais continham informações de todos os territórios de entrada e compuseram um mapa síntese dos múltiplos territórios de Paulínia. No entanto o objetivo do trabalho é identificar as simetrias e assimetrias dessas diferentes Cartografias do território de Paulínia, e este procedimento só foi possível através da edição dos dados pela tabela de atributos. A classificação dessas simetrias se deu criando um novo campo (coluna) na tabela de atributos do shapefile resultante de cada interseção, nomeado de “simetria”, no qual foi associado a cada polígono a sua classificação correspondente.

A esse novo campo da tabela de atributos chamado de simetria, foram relacionados três níveis de classificação: alta, média e baixa, que foram definidas da seguinte forma: se um

determinado território no shapefile final estiver contido na mesma divisão territorial de todos os shapefiles de entrada, então, a sua simetria é alta, pois todos aqueles agentes entendem aquela determinada área como sendo um território múltiplo, ou seja, é um mesmo espaço compartilhado por diferentes agentes. A outra situação pode ser, se um território no shapefile final corresponde a apenas uma parte da divisão territorial de um dos shapefiles de entrada, então, nesse caso, a sua simetria é média, porque só uma parte daqueles agentes entendem aquela área como sendo um território compartilhado. E por fim, se um território no shapefile final é delimitado por somente um único agente, então a sua simetria é baixa, pois aquele território não é compartilhado por múltiplos agentes, ao contrário, é entendido e delimitado exclusivamente por um agente.

Analisando os mapas finais e a classificação de suas simetrias foi possível aferir sobre o significado dessas simetrias e sua relação com a multiplicidade territorial. Quando temos a situação de alta simetria significa que vários agentes entendem e compartilham aquela determinada área em particular, isso quer dizer que vários territórios estão presentes nessa determinada área e, portanto, há uma multiplicidade territorial. Isto é, vários agentes atuam naquela determinada área do território de Paulínia de forma compartilhada, e por isso demarcar um território que do ponto de vista exclusivo de sua delimitação e extensão é igual para mais de um agente. Ao contrário no caso de baixa simetria, em que somente um agente delimita uma área em especial como seu território e, sendo assim, não há multiplicidade territorial.

Esses procedimentos foram relevantes, pois propiciaram a produção de uma Cartografia de síntese dos diversos territórios presentes em Paulínia promovendo um reconhecimento do território de Paulínia de forma integrada a fim de auxiliar na tomada de decisões. Muito embora existam outros agentes que demarquem territórios em Paulínia, neste trabalho foram elencados aqueles agentes referentes ao poder público municipal, sobretudo, agentes que fazem uma demarcação territorial e que possibilitaram o acesso à informação para a construção de uma base cartográfica.

Vale ressaltar que o software ArcGIS 10.3 compõe uma das muitas possibilidades existentes dentro dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) que reúne formas de aquisição, produção de análises e representação de informações sobre o espaço geográfico (MATIAS, 2003). E esses sistemas, como afirma Sposati (2011), corroborando com a ideia de Koga (2003), são uma linguagem indispensável quando se deseja representar o território e o uso que se faz dele.