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Capítulo 1 Produção do espaço urbano em Paulínia e seus múltiplos territórios:

1.4. Geotecnologias como instrumento de mapeamento territorial

A compreensão das geotecnologias vai muito além de funcionalidades computacionais e representação espacial de fenômenos sociais e ambientais e pode ser muitas vezes instrumento de controle e gestão do território. Por isso, ela apresenta um caráter crítico que não pode ser ignorado. As análises feitas por Matias (2005) já apontam para isso.

Assim sendo, as geotecnologias que também englobam o Sistema de Informação Geográfica (SIG) são

[...] um sistema de informação [...] para a produção de informação e não meramente para os seus mecanismos técnicos. Aí reside sua verdadeira implicação social e política, servindo de instrumento tanto para a guerra como para as ações estratégicas mais gerais no/do espaço geográfico. [...] Traduzindo, o SIG, como qualquer outro instrumento técnico, pode revelar ou ocultar informações, tal questão não deve ser atribuída ao sistema, mas a quem faz uso dele e interpreta as informações resultantes. (MATIAS, 2005, p.8889).

Tendo em vista essa preocupação, é importante que o pesquisador que lance mão de usar dessa tecnologia, saiba que é antes de tudo, um instrumento político que pode ajudar na leitura da realidade influenciando na maneira como a gestão do território é realizada. Como salienta Souza (2006), as geotecnologias podem ser um suporte para ações de planejamento já que suporta estudos de avaliação, monitoramento e simulação garantindo agilidade e precisão, porém, concordando com a observação de Matias (2005), não se pode entusiasmar em relação a essa tecnologia, já que as geotecnologias são apenas um meio de execução.

De forma literal, “as tecnologias ampliam nossa capacidade de obter, representar, armazenar, processar e disseminar o conhecimento (MATIAS, 2005, p. 8885)”. No caso das geotecnologias, elas propiciam a representação, armazenamento, processamento, disseminação e conhecimento de dados geográficos (MATIAS, 2005). Sendo assim, genericamente, utilizar geotecnologias é usar tecnologia computacional para representar fenômenos espaciais referenciados.

Importante ressaltar que as geotecnologias formam um arcabouço instrumental que agrega a Cartografia Digital, Sensoriamento Remoto, Sistema de Posicionamento Global (GPS) e o Sistema de Informação Geográfica (SIG) (MATIAS, 2005). Elas também podem ser compreendidas como as tecnologias das geociências trazendo avanços em pesquisas, planejamento e gestão do espaço geográfico (FITZ, 2008).

De acordo com Matias (2002) existem duas formas de interpretar as geotecnologias. O primeiro diz respeito ao uso das geotecnologias como um banco de dados, mas não qualquer banco de dados, sobretudo um banco de dados que apresentam uma característica espacial, já a outra interpretação corresponde à visão cartográfica que as geotecnologias carregam que diz respeito à manipulação de mapas e a Cartografia. É oportuno destacar que dados espaciais diferem de outros tipos de dados, pois uma característica inerente a eles é a sua localização geográfica. (D´ALGE, 2001).

O uso das geotecnologias se dá de forma bastante interdisciplinar permitindo a integração de diversas ciências, além disso, a própria geotecnologia em si engloba práticas tecnológicas provenientes de várias áreas do conhecimento. Porém para:

[...] utilizar um SIG, é preciso que cada especialista transforme conceitos de sua disciplina em representações computacionais. Após esta tradução, torna-se viável compartilhar os dados de estudo com outros especialistas (eventualmente de disciplinas diferentes). Em outras palavras, quando falamos que o espaço é uma linguagem comum no uso de SIG, estamos nos referindo ao espaço computacionalmente representado e não aos conceitos abstratos de espaço geográfico (CAMARA e MONTEIRO, 2001).

Logo, as geotecnologias abrangem uma diversidade de recursos e potencialidades que são capazes de facilitar uma leitura da sociedade com mais precisão e eficácia, auxiliando no processo de mapeamento. Assim, buscando um conhecimento dos múltiplos territórios de Paulínia é imprescindível a utilização de técnicas que auxiliem na leitura da realidade, como é o caso da Cartografia digital através da produção de mapas temáticos e de síntese.

Como evidencia D´Alge (2001), estabelecendo uma relação entre Cartografia e geotecnologias, a:

Cartografia preocupa-se em apresentar um modelo de representação de dados para os processos que ocorrem no espaço geográfico. Geoprocessamento representa a área do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais, fornecidas pelos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), para tratar os processos que ocorrem no espaço geográfico. Isto estabelece de forma clara a relação interdisciplinar entre Cartografia e Geoprocessamento. (D´ALGE, 2001, p.1).

A representação gráfica da sociedade, através dos mapas é de suma importância para a compreensão dos territórios. De acordo com Raffestin (1993, p. 167) “o mapa é um instrumento ideal para definir, delimitar e demarcar a fronteira”. A representação de um território através de um mapa formaliza os seus limites impostos pelos agentes produtores desse território, no caso de Paulínia, aqueles territórios formados pelo poder público municipal, onde essa demarcação permite o exercício das funções legais de controle e fiscalização.

A elaboração de mapas temáticos fornece uma linguagem cartográfica que mostra as divisões territoriais viabilizando um conhecimento do lugar que é elemento fundamental para a participação e conquista da cidadania (KOGA, 2003).

Nessa perspectiva, fazer um mapa segundo Martinelli (1991, p.16) “significa explorar sobre o plano as correspondências entre todos os elementos de um mesmo componente de informação”. No entanto, a Cartografia não pode ser considerada como uma simples técnica indissociada dos fenômenos que estão sendo representados. A representação por meio da Cartografia de determinado evento exige que se tenha o conhecimento da essência dos fenômenos (MARTINELLI, 1991). Ou seja, assim como no caso das geotecnologias, a Cartografia também implica uma postura cuidadosa de quem a realiza, uma vez que, é um recurso de compreensão da realidade.

A Cartografia temática torna-se instrumento importante para a Cartografia de territórios, pois é capaz de ilustrar a manifestação de diferentes fenômenos para um mesmo território, considerando escalas diferentes. Sendo assim, “o mapa temático reportaria certo número de conjuntos espaciais resultantes da classificação dos fenômenos que integram o objeto de estudo de determinado ramo específico, fruto da divisão de trabalhos científicos” (MARTINELLI, 1991, p. 37).

Um dos recursos da Cartografia que pode ser usado para representar múltiplos territórios e aferir sobre as suas simetrias é o uso da Cartografia de síntese. O mapa de síntese apresenta-se como uma representação não só da justaposição de elementos, mas da fusão entre eles em tipos, por meio do agrupamento de unidades espaciais evidenciando esses agrupamentos de lugares, onde os mais similares formam um conjunto de variáveis (MARTINELLI, 1991). O mapa de síntese correlaciona dois ou mais elementos, que podem ser quantitativos ou qualitativos, com a intenção de se produzir uma nova informação, proporcionando uma nova interpretação acerca dos elementos iniciais.

Ainda de acordo com Martinelli (1991), existem alguns componentes que englobam a produção de um mapa, sendo eles: o componente locacional, as coordenadas geográficas (onde?), e os componentes temáticos que dizem respeito ao que? Em que ordem? E quanto? Os fenômenos serão representados.

As geotecnologias evoluíram e atualmente compõem um vasto campo de conhecimento, que serve, entre outras coisas, para produzir mapas temáticos e de síntese colaborando para o manuseio de dados geográficos garantindo uma comunicação mais rápida e precisa (GOODCHILD, 2000). O uso das geotecnologias viabiliza que vários dados espaciais sejam trabalhados conjuntamente, operacionalizando diversas variáveis ao mesmo tempo, na qual essa tecnologia atrelada à Cartografia propicia a produção de novos dados levando a uma melhor compreensão da realidade cartografada.