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Práticas de leitura e escrita & ensino: produções e saberes dos jovens

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Academic year: 2021

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PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA & ENSINO: PRODUÇÕES E SABERES DOS JOVENS

Larissa Camacho Carvalho Resumo:

O presente texto apresenta uma análise das práticas de leitura e escrita de jovens na contemporaneidade a partir de dois trabalhos (dissertação e tese) da autora. Analisando as práticas de leitura de jovens leitores fãs da obra O Senhor dos Anéis do autor inglês J. R. R. Tolkien e as práticas de escrita publicadas na internet denominadas fanfictions, conclui-se que os jovens, na atualidade, leem e escrevem muito e de diversificados modos compartilhando suas leituras com outros jovens fãs e publicando suas escritas que alcançam muitos países e jovens do mundo inteiro. No entanto, são práticas de leitura e escrita que ultrapassam o papel e o lápis, embora não prescindam deles, mas que se proliferam em outros meios como o computador e a internet e que, por vezes, faz parecer que o acesso dos jovens à leitura e a escrita encontra-se limitado a livros didáticos e paradidáticos. Buscando as raízes dessas transformações na história das práticas de leitura e escrita, é possível concluir que as modificações atuais fazem parte da longa história do livro, da leitura e escrita. Para além, os professores poderão perceber que seus jovens alunos são leitores e escritores, mas é necessário que nos questionemos que leituras encantam esses jovens que possuem uma intimidade ímpar com as novas tecnologias.

Palavras-chave: Práticas de leitura e escrita. Jovens. Fanfictions. Abstract:

This paper presents an analysis of reading and writing practices of young people nowadays from two studies (dissertation and thesis) of the author. Analyzing the reading practices of young readers fans of the book The Lord of the Ring from english author J.R.R. Tolkien English and writing practices published on the internet called fanfiction,it is concluded that young people today, read and write a lot from diferent ways and sharing his readings with other young fans and publishing his writings reaching many countries and youth of the world. However, they are reading and writing practices that go beyond the paper and pencil, but not forgot them, and it is proliferate in other media such as computer and the internet and that sometimes makes it appear that young people's access to reading and writing is limited to textbooks and scholar books. Seeking the roots of these transformations in the history of reading and writing practices, we conclude that the current changes are part of the long history of the book, reading and writing. In addition, teachers may realize that their young students are readers and writers, but we need to ask ourselves what readings itenchant young people that have a unique intimacy with this new technologies.

Key Words: Reading practices and writing. Youth. Fanfiction

Em pesquisa realizada entre os anos de 2008 a 2012, as fanfics foram alvo de análise1. Primeiramente, as fanfictions ou simplesmente fanfics:

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constituem-se em histórias ficcionais criadas por fãs dessas obras originais. Os fãs se valem dos cenários, dos personagens, do universo, da história em si destas obras para modificarem partes do enredo ou seu final, ou então para continuarem as tramas, dar visibilidade a um personagem coadjuvante, inserir novos personagens em interação com os personagens originais, entre outras possibilidades de criação a partir do universo apreciado. (Carvalho, 2012:11)

Essas práticas de escrita são protagonizadas, em geral, por jovens dos mais diferentes lugares do mundo, membros de classes sociais distintas, de descendências diversas, filhos de pais com formação leitora ou não, frequentadores do Ensino Básico ou já universitários, mas que possuem em comum o acesso às tecnologias de comunicação e informação, à internet e são fãs de algum ou alguns dos objetos descritos na citação acima. As fanfics baseadas no universo ficcional do bruxo Harry Potter, personagem da série de livros de mesmo nome, da autora J. K. Rowling, são as mais numerosas em nosso país.

Essas práticas de escrita e de leitura estão se tornando populares e são a manifestação de uma cultura do ler e do escrever virtual que se utiliza da colaboração entre seus adeptos para a produção de um universo escriturístico (Certeau, 1994) complexo e de grandes dimensões, envolvendo uso da língua materna e de outras línguas incluindo aprendizado de língua estrangeira, conhecimento de obras ficcionais e de obras de referência para a construção dos cenários e das histórias dos fãs, utilização das ferramentas computacionais e deslocamento no ambiente virtual, além de sociabilidades a partir da interlocução com outros escritores e leitores de fanfics, entre outros.

Recuando um pouco mais no tempo, no ano de 2005 até meados de 2007, outra pesquisa dava a conhecer o universo das fanfictions partindo de outra prática juvenil apreciada: as práticas de leituras, especialmente de literatura de fantasia ou fantástica2. Na dissertação de mestrado intitulada Jovens leitores d’O Senhor dos Anéis:

produções culturais, saberes e sociabilidades3 as práticas de leituras de jovens foram 2 “A expressão ‘literatura fantástica’ se refere a uma variedade da literatura ou, como se diz normalmente, a um gênero literário.” (Todorov, 1981:5), “O que significa esta estrutura do relato? No campo do fantástico, o acontecimento estranho ou sobrenatural era percebido sobre o fundo do que se considera normal e natural; a transgressão das leis da natureza nos fazia cobrar uma maior consciência do fato. ” (Todorov, 1981:90).

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investigadas a partir de provocação quanto a não leitura, por parte dos jovens, realizada por professores, educadores, pais.

A pesquisa elegeu o livro O Senhor dos Anéis do autor inglês J. R. R. Tolkien como observatório privilegiado das práticas de leituras de jovens. Mas especialmente a comunidade de seus leitores no Brasil. Foram encontrados muitos grupos que não só admiram essa leitura, mas estudam a obra de Tolkien e produzem cultura a partir de suas experiências de leitura. Primeiramente descobriu-se o livro, seu autor, já falecido, companheiro de C. S. Lewis na universidade de Oxford, com vasta obra muito estudada na Inglaterra e em países de língua inglesa, professor, lingüista, filólogo. Aqui, no Brasil, poucos o conhecem, principalmente professores e isso, por vezes, acarreta um preconceito quanto à sua literatura. Mas as comunidades de jovens leitores d’O Senhor dos Anéis no Brasil o conhecem e o estudam. Isto não somente enquanto estudantes (alguns de nível superior da área de Letras), mas como fãs de sua obra, do mundo por ele criado: A Terra Média, onde se passa toda a história do livro acima citado e também d’O Hobbit, estas duas obras que ganharam adaptações cinematográficas, acrescidos de outras menos conhecidas do grande público brasileiro. PARTINDO DO PRINCÍPIO

Desde o ano de 2005 inquieta-me questões levantadas por professores, pedagogos, pais, formadores de opiniões de diversas áreas de que os jovens não lêem. Quanto à escrita, os pré-julgamentos parecem ser ainda mais ferrenhos: os jovens não escrevem e quando o fazem, não é bom. Ou ainda que, agora, os jovens escrevem como o fazem no computador e que, assim, estariam deixando de aprender a escrever corretamente, pois há muitas abreviações, supressão de letras e substituições na escrita virtual. No entanto, vemos as prateleiras das livrarias repletas de inúmeras obras, muitas delas voltadas para o público juvenil. São histórias fantásticas, romances adolescentes, romances históricos, aventuras históricas, terror, poesias, clássicos da literatura brasileira e mundial. Estantes lotadas e sites das lojas virtuais que oferecem uma variedade muito grande de obras para o público consumidor de todas as idades.

Os números também atestam a veracidade dessa afirmação. A terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2011, realizada pelo Instituto

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Pró-livro4, evidencia que o maior percentual de leitores brasileiros encontra-se na faixa etária entre 5 e 17 anos de idade. Este dado pode estar associado à escola básica, pois esta faixa etária enquadra-se no perfil escolar. No entanto, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil conceitua livro como os “tradicionais, livros digitais/ eletrônicos, áudio livros digitais-daisy, livros em braile e apostilas escolares. Estamos excluindo manuais, catálogos, folhetos, revistas, gibis e jornais” (Instituto Pr-o-livro, slide 31), em excluindo-se gibis, por exemplo, podemos inferir que, para além das apostilas escolares, há leituras realizadas por essas crianças e jovens que não são privilegiadas nem quantificadas na pesquisa em análise e não correspondem a números insignificantes.

A Editora Panini, que publica as histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, dentre outras, divulga em seu site5 que seus produtos atingem mais de 2 milhões de leitores diretos mensalmente. Não fica claro que essa afirmação refere-se a todos os países em que atua ou apenas ao Brasil, mesmo assim, é um número expressivo, considerando-se que esses leitores mensais não são, necessariamente, sempre os mesmos e que a faixa etária que mais consome quadrinhos pertence às crianças e jovens.

Outra pesquisa importante sobre o mercado editorial brasileiro é a Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro6, relativa ao ano de 2013, que mostra um aumento no número de títulos ofertados pelo mercado editorial brasileiro, embora as tiragens tenham diminuído. Mas isto não atesta que se esteja lendo menos. Comparando os dados de 1990, ou seja, há 24 anos, o número de títulos publicados no Brasil chegava a 22.479, o que somava 239.392.000 exemplares de livros em circulação. Já em 2000, dez anos depois, o número de títulos teve um aumento significativo alcançando a marca de 45.111, enquanto que o número de exemplares chega a 329.519.650. Em 2013 esses

4 Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, última edição de 2011 , disponível no site

http://www.abrelivros.org.br/home/images/abrelivros/arquivos/2834_10.pdf, acesso em 10/04/2015.

5 Site da editora Panini Comics, disponível em http://www.paninicomics.com.br/web/guest/who, acesso em 10/04/2015.

6 Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) em parceria com a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) com periodicidade anual desde 1990. Disponível em http://www.snel.org.br/wp-content/themes/snel/docs/Apresentacao_pesquisa_FIPE_imprensa_2013.pdf, acesso em 03/12/2014.

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números crescem. Os títulos somam 62.235 e o número de exemplares passa para 479.970.3107. Em pouco mais de 20 anos o número de exemplares de livros produzidos no Brasil dobra.

Façamos uma ressalva neste ponto relativa aos livros didáticos ou os exemplares de livros produzidos para o governo. O acesso a esses números só é livre para os anos de 2012 e 2013, anos anteriores necessitam de uma senha de associado ao Sindicato Nacional dos Editores de Livros para o acesso às pesquisas. Com base nestes dados disponíveis, o número de exemplares vendidos para o governo cresceu de 166.355.660 no ano de 2012 para 200.307.911 em 2013, mas o número de exemplares vendidos somente para o mercado também expandiu no mesmo período passando de 268.564.404 para 279.662.399. Sendo que o faturamento advindo dos livros vendidos para o mercado é maior do que a venda para o governo. Em 2012, faturou-se mais de 3,6 milhões de reais nas vendas para o mercado e mais de 1,3 milhões com as vendas para o governo. Já em 2013 os números são, respectivamente, 3,8 milhões e 1,4 milhões para o mercado e governo. Estes números são bastante significativos e isso está em plena consonância com a multiplicação de leitores no Brasil.

A presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Karine Pansa, em artigo da sessão Opinião do site da Câmara, de julho de 2014, escreve a respeito dos primeiros resultados (compreendendo os meses de janeiro a junho de 2014) relativos à utilização do Vale Cultura8. Segundo a autora:

88,01% dos R$ 13,65 milhões consumidos no período pelos portadores dos 215.249 cartões emitidos referem-se à compra de livros, jornais e revistas. Seguem-se o cinema (9,26%), instrumentos musicais e acessórios (1,32%), CDs e DVDs (0,66%) e artes cênicas, espetáculos e demais atividades culturais (0,75%). (Pansa, 2014)

7 Dados extraídos da pesquisa sobre o painel das vendas de livros no Brasil, realizada anualmente pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros e pela Câmara Brasileira do Livro. Disponível em

http://www.snel.org.br/dados-do-setor/producao-e-vendas-do-setor-editorial-brasileiro/. Acesso e, 03/12/2014.

8 Programa do Ministério da Cultura constituindo num cartão magnético pré-pago no valor de R$ 50,00 para ser utilizado com entradas ao teatro, cinema, museus, espetáculos, shows, circo ou mesmo na compra de CDs, DVDs, livros, revistas e jornais (para maiores informações ver: http://www.cultura.gov.br/valecultura).

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Esses números atestam o crescimento do público leitor no Brasil. Muito embora possa indicar, também, que os mesmos brasileiros que liam antes estão lendo mais agora e comprando mais livros. Não é o que indica a terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2011. Uma das preocupações dos pesquisadores que escrevem a partir dessa pesquisa no livro de mesmo título (Failla, 2012) é com relação à diminuição do público que se considera leitor no Brasil. De 55% em 2007 para 50% em 2011. Num país que tem investido muito na formação leitora com vários programas de incentivo à leitura, formação de mediadores de leitura e promoção do livro, esse número não deveria diminuir.

Os textos presentes no livro publicado a partir da pesquisa dão conta de várias análises como as diferentes épocas do ano em que a pesquisa foi realizada, o curto intervalo entre as pesquisas. O certo é que o dado é preocupante. Claro que as pesquisas quantitativas de grande abrangência possuem a tarefa de nos apresentar um panorama geral sobre as temáticas de interesse de pesquisadores de diversas áreas, gestores políticos, com vistas ao fomento e promoção da leitura, neste caso específico, e implementação de políticas públicas, investimentos em projetos e etc., mas fazem-se necessárias pesquisas acadêmicas qualitativas que possam desvendar outras variáveis que influenciam nas práticas leitoras dos brasileiros. Desta forma, as comunidades de leitores d’O Senhor dos Anéis e as fanfictions também têm algo a dizer sobre leitura e leitores no Brasil.

O SENHOR DOS ANÉIS E AS FANFICTIONS

As duas pesquisas apresentadas anteriormente (leitores d’O Senhor dos

Anéis e Fanfictions) tiveram como escopo teórico os estudos da História Cultural, mais

especialmente centrados no historiador francês Roger Chartier e suas pesquisas sobre a História do Livro, História das Práticas de Leitura e Escrita, História da Leitura e todos os elementos envolvidos como autor, editor, circulação, leitor, e etc. Além de Chartier, Roberto Darnton, Peter Burke, Umberto Eco, Martyn Lyons, Henry Jenkins, Pierre Lévy, Don Tapscott entre outros, também serviram como base para as análises teóricas da pesquisa.

O livro e a leitura possuem uma longa história. A escrita como sistema codificado surgiu por volta de 4 mil anos a.C (Lyons, 2011:16). O livro como conhecemos hoje é do século II ou III. Desde sua invenção ele passou por algumas

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importantes revoluções. Não apenas o objeto, o suporte dos textos, mas também as leituras e os leitores viveram essas revoluções. A primeira e mais importante revolução do livro e das práticas de leitura e escrita foi a passagem do antigo rolo para o formato que conhecemos até hoje denominado códice ou códex.

Uma das primeiras revoluções do livro foi a invenção do códice, originário do mundo cristão dos séculos II e III, quando o livro deixou de ser um rolo, ou volumen, e tornou-se uma coleção de folhas individuais frouxamente unidas entre si. O códice era um livro com páginas a serem viradas em vez de uma longa tira de material a ser desenrolada. (Lyons, 2011:8).

Uma segunda revolução das práticas de leitura e escrita foi a lenta passagem da leitura oralizada para uma leitura silenciosa:

Essa revolução diz respeito à longa Idade Média, quando a leitura silenciosa, antes restrita aos scriptoria monásticos, entre os séculos VII e IX, ganha o mundo das escolas e das universidades no século XII, e dois séculos mais tarde, as aristocracias leigas. Sua condição é a introdução da separação entre as palavras, feita por escribas irlandeses e anglo-saxões da alta Idade Média, e seus efeitos são consideráveis, criando a oportunidade de se ler mais rápido, logo, de se lerem mais textos, bem como de se lerem textos mais complexos. (Chartier, 1999:98)

Essa revolução permite outras leituras, mais leituras, leituras de fórum privado, de livros longos, complexos, leituras proibidas realizadas sorrateiramente, como também leituras de diferentes autores, leituras não compartilhadas ou compartilhadas em comunidades de leitores após uma primeira leitura silenciosa. Uma leitura silenciosa, que também acompanha os progressos da alfabetização, ocorridos, principalmente, com a Reforma Protestante e mesmo em preparação a ela, permite que os leitores, assim mais numerosos, tenham acesso a leituras antes restritas a poucos intelectuais leigos ou clérigos, permite que se conheça outras partes do mundo, outras filosofias, ciências, permite um alargamento da visão de mundo dos leitores que, embora ainda não em maioria, já são numerosos. A terceira revolução das práticas de leitura dá continuidade a esta última e refere-se à invenção da prensa por Gutemberg.

A prensa de Gutemberg associada à outras invenções tecnológicas como a revolução industrial que barateou a distribuição dos livros e a produção do papel, dentre outras, tiveram a função de baratear os livros e fazê-los chegar a mais pessoas e em muitos lugares que antes conheciam apenas os principais livros distribuídos no Mundo Ocidental como a Bíblia, os livros de Horas e Vidas de Santos.

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A última revolução das práticas de leitura e escrita dá-se na contemporaneidade e tem como principal figura o texto eletrônico que modifica não só a materialidade de leitura e escrita dos textos como as práticas. Aliado às redes de computadores, essa revolução também modifica as formas de circulação, os modos e prioridades de edição, as relações dos editores com os autores, destes com os leitores e vice-versa. É uma revolução que transforma todas as práticas mas também os objetos, as materialidades relativas aos impressos.

LEITORES-ESCRITORES-JOVENS: a revolução das práticas de leitura e escrita na contemporaneidade: os sujeitos das práticas

A partir de minhas pesquisas posso concluir algumas questões importantes quanto à leitura e escrita de jovens com o intuito de dar visibilidade a práticas realizadas por muitos jovens mas que, por vezes, parecem imperceptíveis à escola por não serem leituras e escritas legitimadas no ambiente escolar. Para fins didáticos, resumirei aqui em 9 itens:

1. Formação leitora

Como os jovens iniciam suas práticas de leitura? Como os jovens começam a ler. A pesquisa sobre os leitores d’O Senhor dos Anéis identificou que as primeiras marcas de leituras dos jovens são relativas a ouvir ler e ver ler. Ou seja, eles narram que viam a mãe lendo, ou o pai lia no ônibus, ou então um irmão lia para eles, ou o pai contava histórias antes de dormir as quais eles ouviam ler:

Meu pai contava histórias pra mim, antes de dormir e ele não contava do livrinho, ele inventava as histórias pra mim. Então, tinha personagens que ele criava que eu pedia pra ele continuar as histórias. Então ele criava os personagens pra mim (Luisa9).

Na história do livro e da leitura, essa prática indica a continuidade de uma antiga tradição que refere-se às leituras em voz alta: “a leitura em voz alta é uma das práticas que reforçam outro setor da vida privada: o da intimidade da família” (Chartier, 1991, p. 153). A família é sempre vista como um ambiente propício à leitura. Os jovens

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leitores d’O Senhor dos Anéis narram, todos, as experiências familiares com as leituras. Embora muitos pais não fossem afeitos à leitura, é possível encontrar nas memórias dos jovens momentos leitores em família, da presença do livro em casa.

Mas nem todos leitores possuem marcas de memórias de pais lendo, de ouvirem ler seus pais ou irmãos. Acompanho, atualmente, alguns canais do youtube de jovens falando sobre livros. São apaixonados por livros que mantém uma assiduidade comentando desde histórias clássicas até os best sellers de venda atuais, passando por experiências pessoais de leituras, como quando iniciaram a ler, o que pensam de obras aclamadas pela crítica , mas que, às vezes, não lhe agradaram e também o fascínio dos livros campeões de vendas, muito embora a crítica os julgue como má literatura. Alguns destes canais abordam, igualmente, questões sociais que envolvem o livro e o leitor.

Um destes denomina-se Perdido nos livros, e o interessante desses produtos culturais é que são de fabricação caseira (os jovens filmam em suas casas, seus quartos), produzidos pelos jovens, o que temos como comprovar já que eles apresentam os episódios. Num dos episódios do canal, o jovem Eduardo Cilto fala sobre como começou a ler10 e neste, enfatiza que seus pais não o estimularam à leitura quando ainda pequeno e conta como sua principal experiência de iniciação à leitura um episódio em que um vendedor de livros chega em sua escola com uma maleta de contos clássicos e procede a uma contação daquelas histórias que motivaram o jovem (ainda criança) a ler.

No entanto, perscrutando sua fala com olhar pesquisador, percebe-se que o jovem comenta que lia em casa gibis, folheava-os, pensando entender algo, mas na verdade não compreendendo nada do que via. Embora isso, e mesmo contra sua fala, ao narrar suas memórias, expondo que não foi estimulado pelos pais para o hábito de ler, havia gibis em casa. O fato de ver algo a ser lido, a presença próxima do escrito e, mas especialmente, um escrito que contém figuras, próprio à sensibilidade infantil, familiariza o sujeito com o universo escriturístico. Assim, acrescento ao ver ler e ouvir ler o potencialmente lido, ou seja, embora não lido pelos pais, não compreendido pela criança, o objeto escrito está presente como leitura em potencial.

É a presença do livro, do gibi, do objeto escrito que aqui falo. Um jornal, um gibi, uma revista, papéis espalhados pela casa, receitas, bulas, são as letras que se esparramam perante os olhos curiosos dos pequenos. O jovem Eduardo pode não considerar o estímulo à leitura pelos seus pais, mas narra de suas memórias, a presença

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do gibi em sua própria casa. Talvez não seja possível medir se há relação entre a formação de leitores e a intensidade com que a leitura é apresentada ao sujeito em seu ambiente familiar, mas é certo que nenhum jovem leitor escapa às memórias dos mais diversos escritos presentes em seu cotidiano na vida infantil.

2. Formação escritora

O grande prazer de ler, leva, em muitos casos, à escrita. Com relação às fanfics, os jovens recebem um grande estímulo exterior quando buscam na internet materiais sobre suas leituras favoritas ou séries televisivas, mangás, bandas musicais entre outros e acabam encontrando as histórias de fãs. Constatam que foram escritas por pares, jovens apreciadores dos mesmos livros, bandas e etc., e pensam - “Por que não?”: Eu não sei se você lembra, mas teve a febre daquela banda mexicana chamada RBD e eu era fã dela *ainda gosto das músicas até os dias atuais* e eu descobri um site onde havia diversas histórias sobre a banda e eu tinha muitas ideias na cabeça, então pensei: Por que não? (Mônica, entrevista recebida em 24/10/2011)

Assim como Mônica, muitos jovens iniciaram suas escritas quando viram o textos de seus pares e os comentários às histórias escritas aos capítulos já postados estimulam ainda mais as escritas. Essa possibilidade de interação dos leitores com os jovens escritores de fanfics permite uma escrita colaborativa, aquela que é realizada por muitas mãos ou que há interferência direta ou indireta, em forma de ideias, sugestões e correções de outros sujeitos na produção escrita ou, pelo menos, que os escritores saibam o que seus leitores pensam de suas escritas para que possam aperfeiçoa-la, o que constitui um desejo destes jovens escritores.

Antes dos fanfics os jovens escreviam diferentes materiais, no entanto, já escreviam. Diários, letras de músicas com suas respectivas traduções, quando necessário, questionários com perguntas de todo tipo para serem respondidas pelos colegas e amigos, livros de recordações ou de lembranças, cartas, bilhetes a escrita faz-se prefaz-sente no cotidiano das crianças e fez-faz-se no desfaz-ses jovens escritores de fanfics, antes das escritas de fãs. E são escritos manuscritos, importante salientar. Da mesma forma é a escrita manuscrita que está presente nas práticas iniciais de escrita dos jovens escritores de fanfics:

Sempre gostei de colocar no papel as loucas ideias que tinham em minha cabeça e acabou virando um vício. (Amanda, entrevista recebida em 1°/11/2011)

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As vezes, as escritas seguem sendo compostas de forma manuscrita:

Quando eu pensei nessa fanfic eu queria colocar yaoi, mas eu escrevo minhas fanfics no caderno e minha irmã enxerida sempre tentar ler minhas coisas… (Kirinolove, disponível em

http://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-inazuma-eleven-kirino-no-pais-das-maravilhas-2997157/capitulo1)

As escritas iniciais dos jovens ficwriters dão-se, então, por diversão, prazer, por vontade de expressarem o que gostariam de ver nos livros que são fãs. E a continuidade das escritas se dá a partir dos comentários que os leitores dos textos de fãs fazem das fanfics publicadas ou, simplesmente, porque os jovens continuam querendo escrever histórias que gostariam de ler e porque ainda querem ser escritores de textos originais. Motivações para as continuações são várias, mas o que impressiona é que a iniciação ocorre quase como um insight: lê-se fanfics de outros jovens fãs e os jovens pensam: eu também posso fazer isso. São escritas dos pares que fazem que os jovens percebam que também possuem potencial de criar histórias e a possibilidade de ser lido por outros jovens é o que garante boa parte da continuação das fanfics.

3. Leituras amigas ao longo da vida

Já alfabetizados, agora os jovens leem silenciosamente histórias em quadrinhos (HQ’s). Os gibis são as primeiras leituras individuais realizadas por grande parte dos jovens leitores e escritores. Na pesquisa sobre os leitores d’O Senhor dos

Anéis as HQ’s da Turma da Mônica são as mais citadas pelos jovens. Entre os ficwriters

isso não é muito diferente. Para todos eles também encontramos títulos da Disney e das editoras DC Comics e Marvel que publiam os gibis dos super-heróis Homem-Aranha,

X-Men, Super-Homem. O fato é que quase a totalidade dos jovens citam os gibis.

No entanto, essa informação não foi conseguida de forma espontânea. Principalmente com os jovens leitores do SdA, para os quais tive que reformular algumas questões. Ao serem quetionados sobre suas primeiras leituras, os jovens respondiam citando livros, títulos e autores. Mas percebia-se que essas memórias não eram tão recuadas no tempo. No entanto, quando questionados sobre os gibis, especificamente, memórias mais antigas surgiam:

Eu comecei a ler gibi da Turma da Mônica, gibi da Disney. (...) Ela [mãe] comprava e dava pra eu ler por tabela. (...) comecei basicamente com isso (...). Não tenho uma lembrança exata de

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quando, mas foi naquele início da infância. Eu acho que eu me alfabetizei, basicamente, lendo gibis” (Ederson)

O sociólogo Pierre Bordieu, em debate com Roger Chartier publicado em livro, traz a questão do efeito de legitimidade das leituras e de que os sujeitos dizem o que leem a partir das expectativas daqueles que perguntam sobre suas leituras, chamando atenção para um cuidado que se deve ter em aprofundar as pesquisas que buscam, em entrevistas, investigar o que as pessoas leem:

De fato, evidentemente, a mais elementar interrogação da interrogação sociológica ensina que as declarações concernentes ao que as pessoas dizem ler são muito pouco seguras em razão daquilo que chamo de efeito de legitimidade: desde que se pergunta alguém o que ele lê, ele entende: “o que é que eu leio que mereça ser declarado?” Isto é: “o que é que eu leio de fato de literatura legítima”

Assim, questionando os jovens de forma atenta que foi possível perceber as leituras de gibis, mas aqui também entra a leitura de fanfics. Apenas uma jovem na pesquisa sobre SdA falou-me dessa prática. Aliás, foi através dela que tive conhecimento das escritas de fãs e pesquisei sobre ela encontrando fanfictions nos sites dos leitores fãs de SdA. Possivelmente, os jovens entrevistados conheciam a fanfics, ao menos em potencial, pois já faziam parte do universo de fãs em que se movimentavam. Mas na época, não os questionei sobre escritas, tão pouco de fãs pois não as conhecia, assim, eles não falaram sobre elas. No entanto, na pesquisa específica sobre fanfictions, pude perceber que leitores fãs podem tornar-se escritores e muitos jovens declararam que nem os pais tinham conhecimento dessa suas prática de escrita. A legitimidade da prática dá-se no universo de fãs em que circulavam, mas fora dele deu-se no momento em que eu, como pesquisadora, legitimei a prática questionando suas especificidades e atribuindo valor de conhecimento a elas.

Os mangás (histórias em quadrinhos japonesas) também são citados pelos jovens como primeiras leituras. Na pesquisa de 2007 (leitores do SdA) eles aparecem timidamente nas falas dos jovens, menos da metade os citam. Mas na pesquisa de 2012 sobre as fanfictions eles aparecem em mais da metade das falas dos jovens. Até mesmo porque muitos fanfics são sobre mangás e animês. Em pouco mais de cinco anos assistimos a entrada da cultura japonesa em nosso país, na verdade um fenômeno mundial que também atesta a rapidez com que as culturas juvenis se refazem na

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atualidade. Há sites de postagens de fanfics que iniciaram especialmente para conter fanfics de mangás e animês como é o caso do Nyah!Fanfiction, mas que, atualmente, postam fanfics das mais diversas temáticas.

4. O caminho do escritor ao autor

O objetivo de muitos jovens que escrevem fanfics é tornarem-se escritores de obras originais. A fanfic é percebida como um treino para, posteriormente, virem a escrever suas próprias histórias. Partir de uma história já montada, elaborada, pensada por outro autor, pode ser um meio mais fácil de atingir uma inspiração original. Além do mais, o texto que se copia, geralmente, é um texto que se aprecia e se conhece, facilitando a concepção de uma história baseada neste texto. Quando o sujeito lê uma obra de que é fã ele, em geral, conhece a obra, os personagens, o enredo e, não raras vezes, ao ler, imagina que outros finais, que outros desenrolares poderia, ele próprio, compor.

Essa vontade de escrita não é fruto de nossos tempos, mas faz parte da longa duração da história das práticas de leitura:

Os gêneros literários e pictóricos são criados por imitação e influência. Vamos pegar um exemplo. Um escritor começa, pioneiramente, a compor um bom romance histórico que faz certo sucesso: vê-se imediatamente plagiado. (...) Assim como na latinidade formou-se o cenáculo dos poetas que falavam de amor, como Catulo e Propércio. (...) E quando se descobre que mister Richardson contando a história de uma camareira ganha dinheiro, imediatamente apresentam-se outros ao trono. (CARRIÈRE e ECO, 2010, p.83)

Os reviews recebidos dos leitores fãs também são estímulos para que os jovens continuem escrevendo, consolidem essa prática, aperfeiçoem-na e pela quantidade de reviews recebidos os jovens ficwriters também podem perceber seu público leitor. Essa percepção dá ao escritor de fanfics uma ideia de como seria a aceitação de um livro original escrito por ele:

Depois que você conquista alguns "fãs" do seu trabalho, tudo fica mais fácil. Se hoje por exemplo, eu decidir lançar um livro, sei que se eu divulgá-lo nas minhas fanfics muitas pessoas vão comprá-lo. Isso é ótimo. (Julia, entrevista recebida em 26/10/2011)

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tradutores de obras. E há alguns trabalhos acadêmicos inspirados nos textos de que são fãs. Em vinte e nove de novembro de 2007 é anunciado no site da Valinor, dedicado aos fãs de Tolkien no Brasil: “É com prazer que volto às páginas da Valinor para anunciar mais um trabalho acadêmico de qualidade a abordar a obra do Professor. Trata-se de uma dissertação de mestrado que mostra como funciona a tradução do Livro Vermelho em ‘O Senhor dos Anéis’.”11 O autor escreve que anuncia mais um trabalho acadêmico, pois ele também foi autor de uma dissertação de mestrado abordando a obra de Tolkien.

5. O papel dos pais na formação de jovens leitores e escritores

São os pais, mas também os irmãos, tios, avós, que leem para os jovens quando estes ainda não o fazem por conta própria. Também são eles que os jovens veem ler. Em muitos casos são eles que oferecem as primeiras leituras aos jovens. Os pais, os familiares, também possuem leituras não-legitimadas que são conhecidas dos jovens: Minha mãe não, minha mãe lê junto comigo, eu trago livro, o livro que eu trouxer ela... depois que eu leio ela pede pra ler. Ela gosta muito de ler essas leituras Júlia, Sabrina, literatura de fantasia ela adora, ficção, suspense. E assim, na infância foi ela que me [iniciou] na leitura. Acho que se não fosse ela… (Celso)

Os jovens escritores de fanfictions não relataram suas primeiras práticas de

ver ler e ouvir ler, muito provavelmente porque as perguntas do questionário que enviei

a eles não abordavam especificamente essa questão. Não havia questões a respeito de ver os pais lendo ou ouvir histórias contadas por familiares. Assim, os jovens relataram suas primeiras experiências de leituras individuais, em geral. Mas buscando nos sites de fanfics, é possível encontrar várias declarações que atestam as práticas de leituras dos pais dos jovens para seus filhos, e esses relatos são motivados por comentários às fanfics de outros ficwriters ou suas próprias:

… eu já conhecia Harry Potter antes mesmo de saber ler (minha mãe lia pra mim). (Hidden M, como resposta do autor a fanfic Quando ela conta a história)12

11 Disponível em http://www.valinor.com.br/7495. Acesso em 06/03/2015.

12 Disponível em http://m.fanfiction.com.br/reviews/historia/84440/capitulo/422093, acesso em 09/03/2015.

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As leituras realizadas pelos pais e familiares dos jovens marcam suas memórias. Quando ela é presente e quando os jovens são questionados sobre essa questão elas aparecem de forma positiva nas falas e escritas dos jovens. Nos leitores do SdA essas marcas de leituras são lembradas com carinho, sorriem ao falarem, às vezes com expressões que demonstram acharem as leituras que os pais realizavam ingênuas, não legítimas, mas com sorrisos nos lábios, indicando que constituem boas lembranças: O meu pai vinha, ônibus cheio... cansei de sair com ele... ele vinha em ônibus cheio, aí ele vinha me segurando por uma mão e o livro na outra, sabe! Os dois escoradinhos no fundo do ônibus lendo” (Gabriela)

No caso de Gabriela, há um fatos muito interessante que pode ser depreendido de sua fala. Ela narra que iam escorados no fundo do ônibus o pai e ela… lendo. Os dois, lendo. Quem lia era o pai, mas em sua fala percebermos que o ver ler também é uma leitura, constitui um modo de estar no texto, de lê-lo. ver as imagens, acompanhar o folhear de páginas, o ritmo em que isto ocorre, são experiências de leitura, muito embora não exista decifração de palavras, letras, frases. Está presente nas memórias dos jovens, igualmente, as memórias de leituras religiosas:

Quando eu era bem pequena mesmo, antes de aprender a ler, meu pai me lia a Bíblia (Julia, entrevista recebida em 26/10/2011).

A fala de Julia atesta a presença de práticas de leitura de textos religiosos como uma iniciação, um mundo de estreita relação entre leitura e moral cristã, por conta da Bíblia. Uma prática que remonta à formação religiosa da Europa do século XVII e XVIII, e que persiste, com inúmeras diferenças, nos dias de hoje. Chartier, em suas pesquisas sobre as práticas de leitura na França do Antigo Regime, identifica essas práticas no reduto familiar:

Por fim, a leitura em voz alta é uma das práticas que reforçam outro setor da vida privada: o da intimidade da família. (...) Pai e filho lêem entre si, Dugas, o Lionês, nos fornece muitos exemplos disso “Passei um tempo considerável com meu filho, lendo em grego e algumas odes de Horácio” (22 de julho de 1718); “Li com meu filho mais velho o Tratado das Leis de Cícero, e Salústio com o segundo” (14 de setembro de 1719); “À noite jogo xadrez com meu filho. Começamos lendo um bom livro, isto é, um livro de devoção, durante uma meia hora” (19 de dezembro de 1732). (CHARTIER, 1991:153)

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iniciam outras práticas que poderão acompanhar os jovens em suas vidas. As marcas de leituras familiares são, também, iniciação à escrita para além de formarem leitores.

A escola pode ser a única muitas vezes, e dependendo da classe social dos sujeitos, a introduzir práticas de leitura, mas para grande parte dos jovens esse fato não se comprova. A família é onde dá-se início à formação de leitores e escritores. Mas com relação à continuidade das práticas de leitura e escrita? Muitos jovens ficwriters relataram que os pais não sabem nada a respeito de suas escritas:

Eles nem sabem de minhas fanfics, nunca leram uma página do que escrevo, não porque eu escondo, longe disto, apenas porque não tem interesse. (Mariana, entrevista recebida em 08/11/2011)

Só quem sabe que escrevo fanfics é a minha tia que eu já mencionei. Mas acho que ela pensa que eu parei, faz muito tempo desde a última vez que eu mostrei uma fic a ela. (Bianca, entrevista recebida em 29/10/2011)

Os jovens escrevem fanfics em seus computadores, tablets, smartphones, em seus quartos, na sala de suas casas, na escola, faculdade, no trabalho, várias horas por dia, na madrugada, leem fanfics nesses tempos, também, mas estas práticas ainda constituem-se desconhecidas para muitos pais e mães e mesmo para quaisquer familiares. Alguns jovens relataram que os pais sabem que eles escrevem, mas não sabem o quê escrevem. Algumas falas atestam uma vontade de valorização dos jovens relativamente aos pais:

Não acho que minha mãe tenha opinião a respeito, é só mais um item na lista de coisas que a filha dela faz. (Cintia, entrevista recebida em 24/10/2011)

Mas meus pais por muito tempo menosprezaram essa atividade, como algo sem importância que eu fazia para me divertir quando não tinha nada para fazer, sendo que para mim era muito mais importante. (Sofia, entrevista recebida em 24/10/2011)

Práticas de escrita que constituem os sujeitos jovens na contemporaneidade.

Harry Potter, Supernatural, Rebeldes, O Senhor dos Anéis, Percy Jackson são

consideradas literaturas infanto-juvenis. Mas para grande parte dos jovens são leituras de vidas, que possuem tramas complexas merecedoras de estudo, continuidade, de fanfics. São práticas de leitura que levam à escrita e ocupam grande parte dos tempos dos sujeitos. São práticas inspiradoras para os jovens, leituras que inspiram e suas práticas de escrita, para além do lazer, constituem-se em práticas a serem levadas a sério.

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6. O papel da escola na formação de jovens leitores e escritores

A escola também é lembrada pelos jovens como lugar de memórias de leituras. Principalmente a biblioteca da escola. E biblioteca, aqui, não tem que ser necessariamente um grande espaço recortado em corredores com prateleiras cheias de livros desde aqueles com capas duras dos séculos passados até os atuais pequenos livros de bolso, passando por muitas enciclopédias. Pode ser apenas uma estante, ou a lembrança de um único livro:

Desde que estava na primeira série a gente fazia a hora do conto, aí tinha uma das bibliotecárias que sentava e lia uma história. E era muito engraçado porque quando a gente estava na primeira série ela leu um livro chamado A Roupa Nova do Rei, e era a história de um rei que não tinha orelha, não O Segredo do Rei, A Roupa Nova do Rei é outro, O Segredo do

Rei era um rei que não tinha orelha então ele usava peruca pra disfarçar que ele não tinha

orelha. E eu não sei porque aquela história ficou tão popular que até a quarta série toda a vez, uma vez por ano, ela tinha que ler aquele livro pra nós. E não deu outra, teve uma Feira do Livro, assim, eu já devia ter uns dezoito anos, eu achei o livro [?], eu comprei o livro, eu tenho esse livro até hoje.(Luisa)

Ainda na 3ª [série] que eu me lembro (...). Tinha no fundo da sala (...) uma estante, uma prateleira com vários livros, de tudo que é tipo, tanto didáticos, várias faixas etárias, os da faixa etária maior eram justamente os da Série Vagalume. (...) mas eu comecei a me interessar ali, as capas, os títulos, mas só fui ler mesmo um ano depois. (Ederson)

As estantes de livros nas escolas foram as primeiras bibliotecas escolares. Na França, foi na década de 1860 que, procurando vencer as más condições em que repousavam os materiais e o mobiliário escolar o Ministro da Instrução Pública e dos Cultos Gustave Rouland desejava que os prefeitos de França envidassem esforços para “instalar, nos muros novos de sua escola, o mobiliário necessário e, em primeiríssimo lugar, ‘uma pequena biblioteca-armário, destinada à conservação dos livros, dos cadernos e dos quadros impressos para uso da escola’.” (Hébrard, 2009:7). Assim, as estantes de livros, ou biblioteca-armário, nas escolas constituem-se nas primeiras bibliotecas acessadas pelos alunos, desde a mais tenra idade. No entanto, com a instituição do espaço separado da biblioteca, as memórias falam de estantes de livros. Mas a função dessa estante de livros com obras de todos os tipos ainda é de biblioteca.

E a leitura de livros da biblioteca também constitui-se em prática que remonta a período recuado da história da educação. Incentivar o gosto por livros, por

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determinados livros em detrimento de outros, pode ser uma finalidade a ser conquistada a partir da leitura de livros da biblioteca:

Certos professores primários, assinala o pedagogo, fazem melhor ainda. Desenvolvem o prazer de ler com seus alunos consagrando, a cada semana, quinze minutos a uma leitura magistral em voz alta, habilmente interrompida no instante mais interessante. [...] Ter-se-á reconhecido aí as formas mais elaboradas da convivência leitora. A biblioteca, assim imaginada, é realmente concebida como instrumento pedagógico maior. (Hébrard, 2009: 72)

E as memórias dos jovens leitores e escritores trazem as bibliotecas e seus livros como marcas de memórias iniciáticas à leitura. Não somente os livros das bibliotecas, mas a biblioteca enquanto espaço, mobiliário que armazena livros. Mas não apenas a materialidade da biblioteca, como também a figura que a representa, que a administra, a bibliotecária. Na primeira fala, de Luisa, ela não cita um armário, estante, ou uma sala da biblioteca, mas somente a bibliotecária. O que logo nos remete à biblioteca. Se há uma bibliotecária, há uma biblioteca, e essa pode não ser especificamente referida, mas se manifesta na figura do bibliotecário e do livro lido por ele. E pode se expressar tanto em uma biblioteca-armário como em um grande espaço com paredes forradas de prateleiras. Em tempos de bibliotecas virtuais, as memórias escolares dos jovens ainda conservam essas figuras como importantes em sua formação leitora e escritora.

A presença do livro disponível, de ter acesso àqueles que só serão lidos em outros momentos, outros anos, um espaço dedicado ao culto de guardar livros para serem vistos e lidos, constitui-se como importante ferramenta na formação leitora. Podemos não ler todos os livros da biblioteca, mas a presença deles no ambiente em que nos movimentamos diz de uma intimidade com os livros que pode manifestar-se numa feira de livros onde adquiro aquele que me foi ofertado e marcou minhas memórias de infância na biblioteca da escola.

7. O que dizem os jovens de suas práticas de leitura e escrita?

(...) ler é estar alhures, onde não se está, em outro mundo; é constituir uma cena secreta, lugar onde se entra e de onde se sai à vontade; é criar cantos de sombra e de noite numa existência submetida à transparência tecnocrática e àquela luz implacável que, em Genet, materializa o inferno da alienação social. Já o observava Marguerite Duras: “Talvez se leia sempre no escuro... A leitura depende da escuridão da noite. Mesmo que se leia em pleno dia, fora, faz-se noite em redor do livro” (CERTEAU, 1994:269)

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Ler é adentrar um mundo particular, solitário, individual e subjetivo. Repleto de indivíduos ao redor, a leitura permite abstrair-se de todos eles, não mais percebê-los, e mesmo que todos falem, nem mais escutá-los. Ler permite que o sujeito adentre um espaço diferenciado de sua realidade objetiva e que saia dele quando lhe apraz.

A leitura transporta o leitor para outro mundo, fazendo-o percorrer caminhos conhecidos a partir de outras leituras. Embora isso aconteça, essa viagem é sempre nova. Ler não é um ato que ilumina o ambiente, pelo contrário, quem lê cria a noite ao seu redor. Quando todos os outros pensam que nada há ali onde se encontra um leitor com seu livro, à exceção das materialidades, pois a escuridão da cena ao redor torna inacessível o que se passa entre leitor e livro, faz-se luz somente entre ambos. Essa afirmativa não é contrária à reflexão de Certeau na epígrafe acima, pois a escuridão que envolve o leitor e o livro equivale as luzes e as cores que se fazem dentro do mundo particular para onde viajou o leitor guiado pelo livro.

E para os jovens leitores e escritores? Qual a importância da leitura para eles? Qual o papel exercido por essa prática na vida dos jovens? Os jovens fãs de livros e aqueles que seguem para as escritas a partir das leituras leem muito. A leitura é prática cotidiana, os livros são presenças constantes em suas vidas. Mas não pensemos em encontrar somente literatura brasileira consagrada, ou mesmo internacional, nas prateleiras de seus quartos. Provavelmente encontraremos algo assim, mas a leitura dos sujeitos jovens é bastante plural, heterogênea e conta com inúmeros títulos de livros não indicados pela escola, nem ganhadores de prêmio nobel.

Não quero com isso dizer que livros premiados e os cânones literários não façam parte da leitura dos jovens. Grande parte deles lê estas obras, também. E em geral não começaram por elas, mas por gibis, literatura infanto-juvenil, como indicado acima. E umas leituras levam às outras, os jovens leem os clássicos da literatura brasileira indicados pela escola, os grandes livros da moda de literatura juvenil, encontram fanfics, leem-nas e podem acabar encontrando Machado de Assis ou reencontrando-o: Eu li Dom Casmurro com 11 anos. Eu não entendia absolutamente nada, mas eu li. Então por exemplo quando eu fui ler com 15, meus colegas não entendiam nada do que estava acontecendo no livro, eu não só entendi como comecei a gostar, sabe quando começa a cair a ficha assim, então aconteceu justamente isso, eu fui aumentando, comecei a pegar a coisa, comecei a ver que aqueles livros que eu achava que era uma coisa absurda, não eram tão absurdas assim. Principalmente literatura brasileira, falavam em Machado de Assis e eu achava que era uma coisa incompreensível, aí quando eu li Dom Casmurro pela primeira vez eu disse,

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bom, realmente é incompreensível Quando eu li pela segunda vez, não, dá para entender um pouquinho. (Luisa)

Quando esses jovens leitores e escritores contam suas experiências de leituras revelam suas dificuldades, também, mas, principalmente, apresentam-nos os obstáculos superados. Nem toda a leitura é fácil, e eles não procuram isso nos livros que leem. Suas narrativas apresentam incompreensões dos textos lidos, dificuldades de seguir leituras. Mas a grande marca em suas falas sobre suas próprias leituras são as narrativas da superação das dificuldades, o que lhes causa, igualmente, grande satisfação.

Celso, narrando sua experiência de leitura d’O Senhor dos Anéis, afirma que leu apenas uma vez o livro e que estava tentando, há muito tempo, ler uma segunda vez, pois esse é um livro, segundo o jovem, que ele não pretende esquecer. Na sequência, falando sobre o modo como leu o livro de Tolkien, diz que:

muitos capítulos eu tive que chegar no fim e voltar. A literatura do Tolkien acho que foi a literatura mais exigente que eu já li. Tolkien é muito descritivo. Não tem como tu não ver o que ele está descrevendo. (Celso)

Por outro lado, a maioria dos jovens relatam leituras realizadas de forma fluida, em geral, leituras intensas, de um dia inteiro, com a finalidade de chegar ao fim do livro rapidamente. Mas essa busca não se refere à finalização de uma obrigatoriedade escolar, ou do grupo de amigos, mas a um motivo pessoal. Querer chegar ao final do livro para ver como termina, pelo menos aquele volume que está sendo lido. A leitura envolve, faz que nos percamos das horas no turbilhão de frases e capítulos que começam a povoar nossas mentes:

Inclusive eu lembro que eu fiquei com dor de cabeça de ler muito, muito, muito, muito e aí tu acaba cansando, né, os olhos e tal, me lembro que eu fiquei com bastante dor de cabeça até. Mas esse eu li direto. Porque eu queria descobrir o quê que tinha nele... (Hugo)

Ler direto, sem parar, ou melhor, apenas parar para o que é inevitável, para quando o corpo reclama, quando há fome, sede, dor. O corpo lê, também se ressente da leitura. Mas mesmo assim, após satisfeitas as necessidades que impedem, fisicamente, a leitura, volta-se a ela, pelo prazer que ela proporciona, que o corpo também sente. Gabriela narra, comparando-a a um amigo que estava cursando a faculdade de Letras:

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- “Ah, eu tenho que ler isso, eu tenho que ler aquilo, eu tenho que ler aquilo outro”. Ah, eu nunca vou fazer Letras na minha vida porque eu não quero perder o prazer da leitura! O ter que ler, a obrigação de ler, eu não... eu quero sempre ter esse gosto “ah! Agora eu vou sentar e vou ler”. (Gabriela)

Os jovens falam que suas leituras são por prazer e mesmo que doa o corpo, a vontade de saber o que há no final da história, como ele será, supera a dor. Mesmo que não se tenha muito tempo pra ler, os tempos livres são de leitura. Os jovens falam de suas leituras como parte importante de seus cotidianos. Não porque tenham que ler, mas porque o querem fazer.

8. O que tem de saber histórico nessas escritas?

Especificamente no texto de Tolkien, há muita mitologia. De modo particular, mitologia celta e nórdica. Por conta disso há bibliografias sobre este aspecto da obra de Tolkien. E os livros biográficos de Tolkien falam da relação da obra de Tolkien com mitologia. A criação desse autor inglês tem como incentivo a mitologia. A Inglaterra possui poucos registros de sua mitologia antoga. O mais antigo é o poema

Beowulf, e que se passa quase todo na Escandinávia. Tolkien queria uma mitologia

inglesa e a criou com fortes e destacadas influências da mitologia nórdica e celta. Como exemplo, vemos que há estudiosos dessa última que chegaram a estudá-la a partir de Tolkien.

É o caso de Claudio Quintino, autor de O livro da mitologia celta e A

religião da grande deusa, que tem uma palestra sobre J.R.R Tolkien e os mitos celtas13.

Não há nenhuma indicação em seu site oficial da obra de Tolkien ou O Senhor dos

Anéis14, mas Ronald Kyrmse, estudioso de Tolkien, em artigo disponível no site

tolkienbrasil.com publica uma foto do que ele considera a primeira reunião, no Brasil, de fãs de Tolkien que ocorreu em seu domicílio no ano de 1989. Claudio Quintino é o rapaz a esquerda15:

13 A notícia da palestra está disponível em http://www.valinor.com.br/5290

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Em falas dos jovens fãs d’O Senhor dos Anéis aparecem esses elementos de mitologia celta e nórdica. Os jovens identificavam a mitologia na obra de Tolkien e, por vezes, buscam referenciais históricos que os auxiliem a compreender a Terra-Média, criada por Tolkien. O jovem Beto, na entrevista para a pesquisa sobre os leitores de Tolkien declarou que

Naquela época a informação que eu tinha é que ele tinha criado, depois não, ele juntou de mitologias diversas. Daí eu já comecei a me interessar por mitologia, fui pra mitologia. Isso mitologia é outra coisa que é a base, a base da literatura quando eu comecei, porque Tolkien escreveu sobre mitologia, Cavaleiros do Zodíaco é sobre mitologia, mitologia greco-romana. Então, daí tu também vai atrás de material que fale sobre mitologia, eu sempre gostei muito de ler e o mundo fantástico realmente está ligado a essas coisas de mitologia.(Beto)

Cavaleiros do Zodíaco também possuem elementos de mitologia greco-romana, Harry Potter está povoado de Antiguidade e Idade Média. Há um livro

Almanaque de Harry Potter e outros bruxos16, de Ana Paula Corradini que traz as raízes

históricas e mitológicas de algumas criaturas e objetos do mundo de Harry Potter como a vassoura voadora, o espelho mágico, a bola de cristal, o tapete mágico, o caldeirão, o pentagrama entre outros. A própria autora dos livros da série Harry Potter, J. K.

15 Foto disponível no link

http://tolkienbrasil.com/artigos/colunas/ronald-kyrmse-colunas/heren-hyarmeno-fas-tolkien-brasil-comecou-ate-2003-ronald-kyrmse/

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Rowling, conterrânea de Tolkien, lançou o livro Animais fantásticos e onde habitam tendo em vista o grande número de criaturas fantásticas que povoam seus livros.

Os jovens escritores de fanfics pesquisam história para compor suas histórias. De acordo com universo ficcional que escrevem, além de conhecê-lo muito bem, devem saber algo de onde foram criados. As produções escritas surgem, sempre, das experiências de leituras de seus escritores, das vivências, das competências leitoras e, como disse o jovem Beto, acima, o mundo fantástico está povoado “dessas coisas” de mitologia e de história, também.

À GUISA DE CONCLUSÃO: CARTA AOS PROFESSORES

Finalizando o texto, e como escrevi acima sobre o que há de saber histórico nestas leituras e escritas dos jovens leitores/escritores contemporâneos destaco, aqui, alguns apontamentos para os professores:

Sim, os jovens leem e escrevem. Claro que não são todos os jovens que leem e escrevem, mas precisamos ter o cuidado para não rotularmos os sujeito quanto às suas práticas de leitura e escrita apenas pelo que pensamos ver em nossas salas de aula. Talvez aquele livro didático de história ou a obra literária indicada seja lida, mas não habilite os jovens a responderem as questões da avaliação com habilidade, ou mesmo não seja lida. Mas é interessante que procuremos saber o que é lido pelos jovens com afinco, com prazer, de que leituras eles sabem falar, que mundo imaginário conhecem, ou por qual período histórico se interessam.

Já questionava Paulo Freire: “Por que não estabelecer uma ‘intimidade’ entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos?” (Freire, 1996, p. 30). Sabemos que Freire fala sobre as experiências de pobreza, descuido do poder público, violência, más condições de saúde dos sujeitos como material para discutir-se os saberes curriculares, direitos e deveres, política, ideologia, mas por que não usarmos a experiência social de leitura e escrita dos jovens alunos como material para o estudo dos saberes curriculares?

16 Disponível, em parte, em https://books.google.com.br/books?

id=s7FDoirquD4C&pg=PA198&lpg=PA198&dq=harry+potter+e+idade+m

%C3%A9dia&source=bl&ots=PvP94-aPvV&sig=ph4Dh83sCyWzPpxKNClkZbLjT6Q&hl=pt-BR&sa=X&ei=PTEQVb_yMMeYgwTC0oKoBw&ved=0CE4Q6AEwCA#v=onepage&q=harry %20potter%20e%20idade%20m%C3%A9dia&f=false, acesso em 23/03/2015.

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O mangá e animê Hetalia: Axis Powers, por exemplo, é uma sátira de eventos da Segunda Guerra Mundial. Os países envolvidos na guerra são apresentados antropomorficamente. Brigam, disputam atenções, possuem personalidades distintas, forças, fraquezas e são apresentados evento do grande confronto mundial. Talvez fosse uma boa mídia para apresentar o conflito aos jovens. O game Assassin’s Creed, adaptado para livro pelo historiador britânico Oliver Bowden se passa em vários tempos espaços diferentes e os jogadores são levados a conhecer eventos decisivos, personagens e períodos da nossa história como a Queda da Bastilha na França, a família Bórgia e a Itália do século XV, descrições detalhadas sobre Roma na Renascença, a Revolução Americana de 1776. Além de mitologia grega, romana, nórdica, celta.

Gibis, romances, mangás, livros em geral, estão repletos de trabalhos potenciais a serem feitos com seus alunos. E também encontramos materiais em documentos não impressos. A internet está repleto deles: comunidades nas redes sociais com muito material escrito produzido por jovens para ser lido pelos seus pares e que produzem grande debates históricos, filosóficos, literários. Além do que os jovens leem artigos, panfletos, assistem animês, séries, filmes, jogam games que exploram mesmo conteúdos curriculares. Acredito que conhecer esses materiais, questionar os jovens sobre o que leem, o que escrevem, do que gostam e buscar conhecê-los seja um passo importante para estabelecer uma íntima relação entre essas experiências sociais dos jovens e os saberes curriculares que são fundamentais para eles na escola. Neste quesito, gostaria muito de conhecer experiências escolares para pesquisar… e escrever sobre eles num provável item 10.

REFERÊNCIAS

CARRIÈRE, Jean-Claude, ECO, Umberto. Não contem com o fim do livro. Rio de Janeiro: Record, 2010.

CARVALHO, Larissa Camacho. Práticas de leitura e escrita na contemporaneidade: jovens & fanfictions. 201 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 12, mar. 2012.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. artes de fazer. Tradução de Ephrain Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

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CHARTIER, Roger. As práticas da escrita. In.: ARIÉS, Philippe e CHARTIER, Roger (org.). História da vida privada, 3: da renascença ao século das luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

_____. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999.

FAILLA, Zoara (Org.). Retratos da leitura no Brasil 3. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Instituto Pró-Livro, 2012.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

HEBRÁRD, Jean. As bibliotecas escolares: entre leitura pública e leitura escolar na França do II Império e da III República. Campinas: Mercado de Letras, 2009.

INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Apresentação Retratos da Leitura no Brasil. São Paulo,

2011. 185 slides. Disponível em

http://www.abrelivros.org.br/home/images/abrelivros/arquivos/2834_10.pdf, acesso em 10/04/2015.

LYONS, Martyn. Livro: uma história viva. Tradução Luís Carlos Borges. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.

PANSA, Karine. Quem disse que brasileiro não lê. In.: Câmara Brasileira do Livro. Sessão Opinião. 15 de julho de 2014. Disponível em <http://www.cbl.org.br/telas/opiniao/opiniao-detalhes.aspx?id=2067>. Acesso em 03/12/2014.

TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. México: Premia Editora de Livros, 1981. Versão brasileira a partir do espanhol: Digital Source. Disponível em http://www.literatura.bluehosting.com.br/fantastica.pdf, acesso em 14/04/2015.

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