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Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo
2730-132 Barcarena © 2009, Allan Percy
Edição portuguesa publicada por acordo com Sandra Bruna Agencia Literaria, SL. Todos os direitos reservados
Título original: Nietzsche para Estresados Autor: Allan Percy
Tradução: Ana Filipe
Direitos de tradução cedidos por Editora Pergaminho Revisão: Anabela Macedo/Editorial Presença
Paginação: Maria João Gomes Capa: Vera Braga/Marcador Editora Imagem da capa: © Shutterstock
Impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda. Depósito legal n.º 438 076/18
Índice
Prólogo: Filosofia Radical para o Dia a Dia ... 11
99 Comprimidos para Despertar a Mente ... 13
Anexo: A filosofia como terapia ... 115
11
Prólogo
Filosofia Radical para o Dia a Dia
Este manual reúne noventa e nove máximas do génio alemão e revela a sua aplicação prática em cenários e situações do quoti-diano. A filosofia de Nietzsche é altamente eficaz para encontrar a saída de qualquer encruzilhada quer no mundo dos negócios, quer na vida pessoal.
Cada capítulo do livro começa com um aforismo do pensa-dor, seguido de uma interpretação adaptada aos nossos dias para melhorar a nossa qualidade de vida.
Este breve curso de filosofia quotidiana foi concebido como uma ajuda para tomar decisões, levantar os ânimos, reencontrar o rumo perdido e relativizar a importância de todos aqueles incó-modos que nos assolam no dia a dia.
Estamos perante um manual de auto ajuda sábio – graças à figura que o inspira –, provocador e estimulante. Um livro para aqueles que procuram inspiração no pensamento do filósofo mais influente da era moderna, que nos ensina a combater as angústias e os medos dos nossos dias.
A somar aos noventa e nove rasgos de lucidez da filosofia de Nietzsche, o manual termina com um texto que explica a filosofia enquanto terapia, popularizada pelo sucesso do livro Mais Platão,
Menos Prozac!, e as suas aplicações para a vida quotidiana. Assim,
ficaremos a conhecer o trabalho dos consultores filosóficos e veremos como as máximas dos pensadores de todos os tempos podem ser uma ajuda terapêutica de primeira ordem.
Antes de dar a palavra ao filósofo que inspirou este ma nual de auto ajuda, façamos uma breve visita à biografia do mestre.
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844 na cidade de Röcken, na Alemanha. Filho de um pastor evangélico que mor-reu quando Nietzsche tinha apenas cinco anos, o filósofo cresceu num ambiente de pietismo protestante dominado por mulheres.
Depois de frequentar um colégio interno, onde teve o primei-ro contacto com a Antiguidade Grega e Romana, estudou Filosofia Clássica nas Universidades de Bona e de Leipzig. Foi nesta últi-ma que descobriu a filosofia de Schopenhauer e a música de Wagner, compositor que admirava e que depois viria a conhecer pessoalmente.
Em 1869, com apenas 25 anos, Nietzsche já era professor de Filosofia Clássica na Universidade de Basileia. No entanto, a sua atividade enquanto docente nesta instituição foi interrompida em 1870 devido ao início da guerra franco -prussiana.
Nietzsche participou no conflito na qualidade de enfermeiro, até que teve de abandonar a frente de batalha por sofrer de disen-teria, uma doença da qual nunca chegaria a curar -se completa-mente.
Em 1881 conheceu Lou Andreas -Salomé, uma mulher por quem se apaixonou perdidamente, mas que acabou por casar -se com um amigo seu. Este desgosto acabaria por consolidar a sua proverbial misoginia.
As sequelas da sua doença forçaram -no a reformar -se preco-cemente e foi viver para a Riviera Francesa e para o Norte de Itália, para pensar e escrever. Sozinho e frustrado por as suas obras não serem acolhidas como esperava, um Nietzsche pratica-mente cego foi vítima dos primeiros acessos de loucura em Turim, corria o ano de 1889.
Depois de longos períodos de internamento em clínicas em Basileia e Jena, Nietzsche passaria o resto da vida em casa da sua mãe, que cuidou dele até falecer, altura em que Nietzsche ficou a cargo da sua irmã. O filósofo deixou este mundo em 1900.
O seu legado filosófico possui uma fama enorme que não per-deu, na atualidade, o seu poder inspirador e provocador.
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1
Quem tem um «por que» viver pode enfrentar
qualquer «como» viver.
O
stresse e a desorientação fazem de nós as suas presas quan-do perdemos de vista os nossos objetivos vitais. A sensação de «trabalharmos muito para nada» e o esgotamento que a dis-persão produz têm o seu antídoto numa meta clara, que dê sen-tido ao que estamos a fazer, com todos os seus bons e maus momentos.Sobre esta questão, considerava Viktor Frankl que bastava ao indivíduo encontrar um sentido para a sua vida para conseguir superar a maior parte dos problemas que o afligiam. A logotera-pia procura fazer precisamente isso: em vez de se desenterrar o passado do paciente, explora -se o que se pode fazer com o que se tem aqui e agora. Ou, simplificando, o que se pretende é encon-trar um motivo para nos levantarmos da cama pela manhã.
O drama de muitas pessoas insatisfeitas com a sua vida é nem sequer se perguntarem qual a vida que desejariam viver. E a pri-meira condição para deixarmos de estar perdidos é saber, pelo menos, onde queremos chegar.
Tal como Frankl faria meio século depois, também Nietzsche realça a importância de se encontrar um «por que viver». Quando a vida se enche de sentido, de repente os esforços já não são sacri-fícios, mas sim passos necessários na direção da meta a que nos propusemos.
2
O destino dos seres humanos é feito
de momentos felizes – todos os temos ao
longo da vida –, mas não de épocas felizes.
A
felicidade é frágil e volátil porque apenas podemos senti--la em determinados momentos. De facto, se pudéssemos senti -la ininterruptamente perderia todo o seu valor, uma vez que apenas nos apercebemos dela por contraste.Depois de uma semana com o céu encoberto, um dia de sol parece -nos um milagre da Criação. Da mesma forma, sentimos a alegria mais radiante ao sairmos do poço da tristeza. As duas emoções complementam -se e necessitam uma da outra, porque nem a melancolia é eterna nem conseguiríamos suportar cem anos de felicidade.
Este é um dos fatores de stresse na sociedade moderna: acre-ditarmos que temos a obrigação de sermos felizes a toda a hora e em qualquer lugar. A negação da tristeza faz disparar o recurso a antidepressivos e a terapias e o consumo excessivo de substân-cias das quais não necessitamos. É como se não exibir um sorriso permanente fosse um motivo de vergonha.
Contra esta perspetiva falsa e infantil, Nietzsche lembra -nos que a felicidade acontece só como um vislumbre e que, ao tentar-mos perpetuá -la, obliteratentar-mos inclusivamente esses mestentar-mos instantes que nos ajudam a avançar no longo e tortuoso cami-nho da vida.
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3
O facto de nos sentirmos tão à vontade
no meio da natureza deve ‑se a esta não ter
uma opinião sobre nós.
O
s seres humanos do século xxi estão desligados da natureza e isso faz com que nos sintamos muitas vezes como extrater-restres no nosso próprio planeta. Embora acreditemos que a cul-tura e a civilização superaram o nosso lado mais animal e instintivo, continuamos a precisar do contacto com o meio natural.Quadros de ansiedade originados pelo excesso de trabalho e pela permanência na selva urbana durante demasiado tempo podem ser tratados mais eficazmente com uma escapadela de dois ou três dias para o meio da natureza do que com uma ava-lanche de medicamentos.
Ao sentirmos o cheiro da terra molhada, o ar puro, o silêncio apenas perturbado por pequenas criaturas que zumbem e piam à nossa volta, reencontramo -nos com a nossa essência há muito abandonada.
Tal como Nietzsche refere, na cidade representamos um papel, porque nos importamos muito com aquilo que os outros pensam de nós. Ao regressarmos à natureza, em contrapartida, podemos dar -nos ao luxo de sermos nós próprios. Não temos de nos ves-tir, de falar ou de agir de uma maneira especial. Basta que nos deixemos guiar pela natureza até ao centro de nós próprios, onde um oásis de tranquilidade nos espera.