• Nenhum resultado encontrado

2021 Janeiro - Ed. 22 Vol. 1. Págs

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "2021 Janeiro - Ed. 22 Vol. 1. Págs"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

2021

Janeiro - Ed. 22

Vol. 1. Págs. – 93-105

JNT-FACIT BUSINESS AND TECHNOLOGY

JOURNAL - ISSN: 2526-4281 QUALIS B1

https://www.google.com/url?sa=i&url=http

s%3A%2F%2Finfonet.com.br%2Fnoticias

%2Feducacao%2Fparceria-entre-capes-e-a-

franca-preve-15-mil-bolsas-para-brasileiros%2F&psig=AOvVaw3nvSlw_nBq9

PB

REFLEXÕES SOBRE O PENSAMENTO

ÉTICO CONTEMPORÂNEO: SUAS

APLICAÇÕES E USOS NO ENSINO

SUPERIOR

REFLECTIONS ON CONTEMPORARY

ETHICAL THOUGHT: ITS

APPLICATIONS AND USES IN

HIGHER EDUCATION

Geraldo Alves LIMA

Faculdade Católica Dom Orione

E-mail:

limageraldoalves1@gmail.com

(2)

93

RESUMO

Este artigo aborda como as novas gerações estão utilizando as teorias sobre ética com suas respectivas aplicações em trabalhos de término de curso em especial no curso de Direito da faculdade Católica Dom Orione. O objetivo geral desta pesquisa foi fazer uma revisão teórica no pensamento ético na contemporaneidade, buscando descrever sua aplicabilidade na formação acadêmica dos discentes no curso de Direito. A metodologia utilizada neste artigo foi pesquisa com perfil denominado estado da arte que se caracteriza como pesquisa com caráter bibliográfico, para discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares. Foi também utilizada a análise de conteúdo. Foi usado o método de abordagem dedutivo, qualitativo, para verificar documentação pertinente às teorias relacionadas. Foram utilizados os Livros: Pensamento ético contemporâneo, da autora Jacqueline Russ e Textos básicos de ética de Platão a Foucault, do autor Danilo Marcondes, como esqueleto estrutural na organização dos(as) pensadores(as) pesquisados(as), além do método fenomenológico para descrever o processo de elaboração e realização dos trabalhos de conclusão de curso-TCC. Destacamos um olhar utilitarista dos(as) acadêmicos(as) para o assunto ética como pesquisa teórica, valorizando a ética como processo deontológico, pesquisar como aplicar ou antecipar o exercício da profissional do respectivo assunto.

Palavras-chave: Ética. Contemporaneidade. Direito. Reflexão. ABSTRACT

This article discusses how the new generations are using the theories on ethics with their respective applications in end-of-course work, especially in the Law course at the Catholic college Dom Orione. The general objectives of this research was to make a theoretical review of contemporary ethical thinking, to describe its applicability in the academic training of students in the Law course. The methodology used in this article was research with a profile called state of the art that is characterized as research with a bibliographic character, to discuss a certain academic production in different fields of knowledge being highlighted and privileged in different times and places. Content analysis was also used. The deductive, qualitative approach method was used to verify the relevant theories related documentation. The books: Contemporary ethical thought by author Jacqueline Russ and Basic texts of ethics from Plato to Foucault by author Danilo Marcondes were used as a structural framework in the organization of the thinkers researched, in addition to the phenomenological method to describe the process of elaboration and realization of conclusion of course work - TCC. We highlight a utilitarian view of academics on the

(3)

94

subject of ethics as theoretical research. Valuing ethics as a deontological process, researching how to apply or anticipate the professional exercise of the respective subject.

Keywords: Ethics. Contemporaneity. Law. Reflection.

INTRODUÇÃO

Atualmente existem dois caminhos da filosofia: o primeiro é um mergulho nas teorias filosóficas que podemos chamar de metafísica, concretizado nos cursos de filosofia; o outro caminho está relacionado com a popularização da filosofia, uma forma de difusão da filosofia.

O problema gerador deste artigo foi entender como as novas gerações estão utilizando as teorias sobre ética com suas respectivas aplicações em trabalhos de término de curso, em especial no curso de Direito da Faculdade Católica Dom Orione.

O objetivo geral desta pesquisa foi fazer uma revisão teórica no pensamento ético na contemporaneidade, buscando descrever sua aplicabilidade na formação acadêmica dos discentes no curso de Direito.

Especificamente: mapear os significados sobre ética dos discentes; analisar a escolha dos(as) acadêmicos(as) do curso de Direito nos temas de Trabalhos de Conclusão de Curso-TCC; entender como são trabalhadas a ética e a moralidade nas disciplinas da matriz curricular do curso de Direito, além da orientação no momento da realização do trabalho de término de curso.

A metodologia utilizada neste artigo foi pesquisa com perfil denominado estado da arte para o levantamento de dados.

De acordo com Ferreira (2002, p. 258):

[...] pesquisa com caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares.

Foi também utilizada a análise de conteúdos que, na visão de Vergara (2012, p. 7) “[...] é considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema”, com o uso do método de abordagem dedutivo, qualitativo, para verificar documentação pertinente às teorias relacionadas. Foram utilizados os Livros: Pensamento ético contemporâneo, da autora Jacqueline Russ, e Textos básicos de ética de Platão a Foucault, do autor Danilo Marcondes, da editora Zahar, como esqueleto estrutural na organização dos(as) pensadores(as) pesquisados(as), além do

(4)

95

método fenomenológico para descrever o processo de elaboração e realização dos trabalhos de conclusão de curso-TCC.

A fenomenologia não é o estudo de certas essências puramente abstratas, como as formas de Platão.

As essências que a fenomenologia estuda são antes instrumentos em nossa tentativa de entender nossas próprias vidas no mundo. Compreender os conceitos que usamos é captar o papel que desempenham em nossas vidas. Buscar as essências da percepção é compreender o funcionamento das percepções em nossas relações com o mundo (MATTEWS apud MERLEAU-PONTY, 2011, p. 29).

A fenomenologia como método de pesquisa pode ser caracterizada como ciência descritiva. Ela trata de descrever, não de explicar nem analisar. A fenomenologia é originada do campo da filosofia. A ênfase da fenomenologia recai sobre o mundo da vida, o mundo cotidiano. É considerado um dos grandes Métodos do pensamento (VERGARA, 2012).

Este artigo foi construído da seguinte forma: Ética para todos. Eu quero uma pra viver; A moralidade e a ética no nosso tempo civilização do espetáculo e Dilemas morais; Uma nova ética possível; Ética como antônimo de corrupção e Apreciação de trabalhos de conclusão de cursos.

ÉTICA PARA TODOS. EU QUERO UMA PRA VIVER

Atualmente vivemos uma hiperespecialização do conhecimento humano. Um processo de mercantilização da subjetividade. Precisamos popularizar a ética em todas as suas dimensões, respeitando como filosofia prática e aplicada à consciência comum.

A Ética precisa sair dos discursos de difícil acesso e voltar-se para a vida cotidiana. Falta ética na vida da política, na educação, nas organizações, entre as pessoas e, às vezes, até nas faculdades de filosofia. “O lugar da filosofia também é no mundo da prática, ela pode e deve estar no mundo o tempo todo” (PALMA, 2016, p. 1). A ética não pode ficar refém dos filósofos, legisladores ou dos religiosos. Ética é para todos.

“A vulgarização pode ser o meio de operar uma abordagem crítica das grandes filosofias e determinar o que valem esses sistemas complexos e sutis em face às interrogações e das exigências da consciência comum” (BOSCH,1998, p. 266). O termo aplicado, hoje, acompanha várias divisões do conhecimento humano. Para Nedel (2004, p. 11) “[...] a ética aplicada não é uma novidade que caracterize apenas a filosofia moral contemporânea”. Surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1960, com a explosão de novos campos de interrogação ética no seio da sociedade; após 10 anos, foi estabilizada com a bioética, ética ambiental, além da ética profissional. Mas em nenhum momento pensamos

(5)

96

neste artigo como possibilidade de construção de um manual de aplicação sobre o pensamento ético contemporâneo e seus usos. Toda prática exige o recurso da ação de modo a guiar os comportamentos, com isso não temos o interesse de resolver os problemas de ambiguidades dos dilemas morais.

A ética é voltada à reflexão sobre os fundamentos do que seja “o bem”, “o mal”. Segundo Russ (1999), o papel da ética é desconstruir as regras de conduta moral, na busca de estruturas basilares mais profundas e, a partir daí, construir-se. Já a moral é o conjunto de regras que se dão na prática; é o que ocorre nos relacionamentos humanos; é o objeto e pesquisa da ética.

A MORALIDADE E A ÉTICA DO NOSSO TEMPO

Vivemos uma confusão entre os termos ética e moral; um desejo de transformação da ética em discurso de autoajuda; além de uma busca de um impossível denominador comum sobre uso e conceito da ética. Da mesma maneira, devemos ter um temor com uso da palavra ética que, na visão de Romano (2011, p. 41), “É preciso cuidado com o uso indiscriminado da palavra e com as doutrinas sobre ética. Hoje o uso abusivo do termo, servindo-o como espécie de ‘abre-te sésamo’ para resolver problemas humanos antiquíssimos como os do mal da corrupção”.

Russ (1999) conclui que a ética do pensamento do nosso tempo está voltada para a razão universal, ou seja, na possibilidade de se discursar argumentos racionais e achar um consenso. Essa característica é, de acordo com a autora, um dos núcleos mais ricos e fecundos da ética contemporânea (RUSS, 1999).

Mas, contrapondo-se à referida autora, podemos destacar que: “a propósito de uma nova tendência contemporânea a da relativização absoluta ou individualização radical da ética, em oposição ao caráter universal, que a tradição filosófica do século XVIII emprestou-lhe” (MIRANDA, 2011, p. 13).

A ética tem como objeto de estudo a moralidade humana, construída de forma histórica. “A ética parte do fato da existência da história da moral, isto é, toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com seus respectivos valores, princípios e normas. A ética não cria a moral” (VÀZQUEZ, 2017, p. 22).

Estudar o pensamento ético contemporâneo não é simplesmente definir uma única linha teórica, mas observar contribuições de autores na perspectiva de um entendimento geral sobre a Ética. Com isso, não temos o interesse de relatar a historiografia do termo ou fazer uma genealogia da palavra.

Por questões de entendimento geral sobre ética, utilizaremos o conceito do Dicionário básico de filosofia, dos autores Japiassú e Marcondes (2006, p. 97):

(6)

97

Parte da filosofia pratica que tem por objetivo elaborar uma reflexão

sobre os problemas fundamentais da moral (finalidade e sentido da vida humana, os fundamentos da obrigação e do dever, natureza do bem e do mal, o valor da consciência moral, etc), mas fundada num estudo metafísico do conjunto das regras de conduta consideradas como universalmente válidas. Diferentemente da moral, a ética está mais preocupada em detectar os princípios de uma vida conforme à sabedoria filosófica, em elaborar uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça e a harmonia e sobre os meios de alcançá-las.

Todas as relações humanas são geradoras de conflitos e dilemas morais. Nossas ações aos dilemas morais do século atual nos apresentam uma nova caminhada que se distancia das velhas políticas e culturas tradicionais. “Com efeito, tudo e qualquer relacionamento humano estão sempre fundados na ética. Logo, todos os problemas que enfrentamos em nosso dia a dia podem ser, de fato, abordados e resolvidos como base na ética” (JIMÉNEZ, 2009). Com isso, podemos afirmar que as decisões dos problemas éticos não têm uma receita única universal e adequada para todas as situações. “Na realidade, nenhum homem é capaz de atuar de tal modo que seu ato se converta em exemplo universal, já que todo homem atua sempre como individuo concreto e numa situação concreta” (HELLER, 1989, p. 34). Nem a ética e muito menos a moralidade podem ser universalizáveis.

Precisamos entender que a ética é um instrumento de resistência contra a barbárie. Ela é uma forma de religação, uma restauração do sujeito com responsabilidade pessoal.

Além da ética, precisamos demarcar o que seria moral, na busca de amenizar as confusões entre os termos. Para Vázquez (2017, p. 84):

A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual é regulamentado as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção intima, e não uma maneira mecânica, externa ou impessoal.

CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO E DILEMAS MORAIS

As sociedades contemporâneas estão tipificadas como civilização do espetáculo, na visão de Mario Vargas Liosa, e Sociedade do Espetáculo, definida por Debord. “O livro de Debord contém achados e intuições que coincidem com alguns temas ressaltados em meu ensaio, tal como a ideia de substituir a vivência pela representação” (VARGAS, 2013, p. 22). É nesse cenário que observaremos os dilemas éticos atuais. Em nossa sociedade, os valores subordinantes são, principalmente, o entretenimento e a diversão, a ditadura das imagens nas redes sociais que se consagraram como caminho direito para o paraíso.

Os problemas dos dilemas morais, em nossa sociedade atual, chegaram a níveis nunca imagináveis aos escritores éticos, filósofos e intelectuais, sujeitos da história dos

(7)

98

estudos sobre a ética. “Se abriu a possibilidade de uma compreensão radicalmente nova dos fenômenos morais” (BAUMAN, 1997, p. 8). Os dilemas morais brotam das relações humanas, em todos os lugares do mundo, mesmo sabendo que a moralidade não é universalizável, de acordo com o referido autor.

Vivemos uma vida globalizada. Inicialmente, isso foi efetivado na economia, depois essa globalização se fortaleceu no campo da cultura. “Nossas interconexões e nossa interdependência já são globais. O que quer aconteça em um lugar influencia a vida e as oportunidades de vida das pessoas em todos os outros” (BAUMAN, 2011, p. 32). As relações humanas no cotidiano estão sendo vividas como se fossem por procuração.

Atualmente, estamos inseridos em relações humanas irrefletidas, sem projetos de logos prazos, desvalorizadas pelos consumos automáticos, uma eterna correria. Uma verdadeira sociedade de consumidores, portanto, não existindo ética em uma economia orientada para o consumo. “Promove ativamente a deslealdade, solapa a confiança e aprofunda o sentimento de insegurança, é a causa principal da variedade liquido-moderna de infelicidade” (BAUMAN, 2008, p. 63).

Vivemos uma transformação do ser humano em cliente, um cidadão do mundo, um consumidor universal. Sem vínculos locais. Sempre à espera de realizar um sonho construído em uma cultura-mundo. “Uma hipercultura universal que, transcendendo as fronteiras e confundindo as antigas dicotomias (economia/ imaginário, real/virtual, produção/representação, marca/arte, cultura comercial/alta cultura), reconfigura o mundo em que vivemos e a civilização por vir” (LIPOVETSKY; SERROY, 2011, p. 7).

A sociedade moderna vive o autoritarismo do conceito de utilidade. Todo o agir humano está de acordo, direta ou indiretamente, aos princípios dos valores econômicos, gerando uma busca agitada pelo poder. Isso, no sentido que Nietzsche (apud FOLEY, 2011, p. 34) dizia: “Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder”.

Falando em Poder, será necessário resgatar o pensamento de Foucault relacionado com a ética. “A problematização da ética no pensamento do referido autor, está situada nas formas de resistência contra as diferentes formas de poder” (ANOR; FALABRETTI; BOCCA, 2009, p. 222). Essas relações de poder são construções históricas. Os seres humanos regulados, governados através de jogos de certo e errado, sendo utilizadas invenções teóricas e as ciências e suas técnicas. “É parte da história dos modos pelos quais os seres humanos têm regulado os outros e a si mesmo à luz de certos jogos de verdade” (ROSE, 2011, p. 25). Com isso, podemos afirmar que a conduta humana é fruto de especialista vinculado a uma política cultural anticoletiva com base nas tecnologias de consumo. Logo, o mercado virou a fonte da moralidade das pessoas.

(8)

99

A conduta humana surge sempre de um preceito ético em pujança que articula os agrupamentos humanos.

O sistema ético em vigor na sociedade exerce sempre a função de organizar ou ordenar a sociedade, em vista de uma finalidade geral. Não existe ordem social desvinculada de um objetivo último, pois é justamente em função dele que se pode dizer se o grupo humano é ordenado ou desordenando-se está diante de uma reunião ocasional de pessoas, ou uma coletividade (COMPARATO, 2016, p. 23).

UMA NOVA ÉTICA POSSÍVEL

Mesmo com todas as colocações anteriores, precisamos acreditar na possibilidade de uma nova ética; uma ética da responsabilidade, valorizando novos comportamentos, indo além de um conceito de ética tradicional antropocêntrica. “Isso significaria procurar não só o bem humano, mas também o bem das coisas extra-humanas, isto é, ampliar o reconhecimento de ‘fim em si’ para além da esfera do humano é incluir o cuidado com estes no conceito de bem humano” (JONAS, 2006, p. 41). A responsabilidade expõe a atitude ética do indivíduo.

A crença na busca de uma nova ética não é absoluta, em relação aos autores que refletem essa temática. Vejamos o caso de Morin (2005), o qual define o problema ético como um conflito de valores; portanto, um problema de contradição de valores. O problema ético são, de fato, problemas de conflitos entre imperativos. Para o mencionado autor, estamos condenados a procurar uma moral provisória, não acreditando, absolutamente, numa nova ética.

Estamos mergulhados em uma sociedade em crise, onde a violência transformou-se em bem de consumo. A barbárie substitui a solidariedade entre as pessoas.

Para enfrentar este descalabro humano faz-se urgente uma revolução ética mais que revolução política, vale dizer, despertar um sentimento profundo de irmandade e de familiaridade que torne intolerável essa desumanização e impeça os vorazes dinossauros do consumismo de continuarem em vandalismo individualista (BOFF, 2003, p. 53).

No máximo, vivemos uma solidariedade que virou um espetáculo através de pseudoações. Uma ausência de pensamento de nossas ações gera uma ausência de ética. A pobreza de nossa experiência é a pobreza da ética em nosso tempo. Essa pobreza da experiência traduz-se como vazio da ação. “[...] O cotidiano é o lugar das ações simplesmente repetidas, a ética é o que interrompe a repetição redimensionando a ação” (TIBURI, 2014, pp. 111-113).

Precisamos da ética porque somos todos vulneráveis, somos finitos. Com isso, precisamos dos outros, somos protagonistas do encontro, do caminhar juntos. “Não se trata de viver de maneira muito original nem de fazer coisas muito extravagantes, mas sim de

(9)

100

examinar os motivos pelos quais agimos, nossas metas e se deveríamos buscar objetivos melhores ou mudar nossa maneira de proceder” (SAVATER, 2014, p. 19).

Continuando com o pensamento do referido autor, podemos destacar que o principal pecado do mundo moderno é o fundamentalismo: econômico, social, religioso, estatal e privado, além da corrupção. Isso está registrado no livro Os sete pecados capitais.

Nenhuma ética é puramente individual. Está sempre em processo de aperfeiçoamento, buscando, através da reflexão de uma nova ética. “Logo, uma vida ética que subjaz e deve ser guiada pela ideia de renovação individual e comunitária cultural. Ela remete às forças formativas e criativas do indivíduo que se contrapõem à crise da cultura e da ciência” (CESCON, 2016, p. 27).

ÉTICA COMO ANTÔNIMO DE CORRUPÇÃO

A expressão corrupção se apresenta em inúmeras diversidades de atos, tais como a trapaça, a ilegalidade, a falsificação, a fraude, a concussão, suborno, peculato, dentre tantos outros caminhos que levam a obter vantagens para si ou para outrem.

Precisamos ter restrições do uso da palavra ética como antônimo de corrupção. Principalmente nos meios de comunicação de massa, que transformaram corrupção em bem de consumo, uma substituição das catástrofes naturais que vende notícias e mobiliza a opinião pública.

Segundo Aristóteles (1991, p. 87), o homem é um animal político por natureza, mas “à medida que está inserido nesse campo político o homem também se corrompe no sentido em que se deixa influenciar pelo poder”. O homem se entrelaça no dia a dia com atos ilícitos até atingir o mais alto grau de corrupção, por isso, é raro verificar alguém que nunca tenha cometido pequenos desvios de conduta no cotidiano. Mesmo assim, esses comportamentos não excluem a vontade e a necessidade de lutar contra a corrupção.

Atualmente, estamos vivendo uma cultura da corrupção. “A corrupção, quando nasce, tem caráter político, e não moral, e o combate a ela se faz com instrumentos políticos, com medidas políticas” (MARTINS, 2008, p. 35). Sabe-se, no entanto, que a corrupção não atinge todo corpo político.

Com o objetivo de falar sobre cultura da corrupção, precisamos entender seu funcionamento na mudança de comportamento das pessoas em determinados grupos humanos. É sabido por muitos o grau de dificuldade em estudar a conceituação de cultura. Nesse sentido, Bauman (2012, p. 83) nos diz que:

É conhecida a inexorável ambiguidade do conceito de cultura. Além de não aceitável a ideia de que essa ambiguidade provém nem tanto da maneira como as pessoas definem a cultura quanto da incompatibilidade

(10)

101

das numerosas linhas de pensamento que se reuniram historicamente

sobre o mesmo termo.

Por isso, a necessidade de observarmos o desejo de pesquisa sobre as teorias contemporâneas sobre ética, por jovens acadêmicos de um curso de Direito. Ou simplesmente assuntos relacionados à ética, mesmo sabendo que ética não caminha sozinha, sendo relacionada com a política, justiça e liberdade, entre outras.

APRECIAÇÃO DOS ARQUIVOS DE TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSOS

A defesa do trabalho de conclusão de curso - TCC é condição cinequanon para os(as) acadêmicos(as) concluírem toda a carga horária dedicada à formação integral do curso de bacharel em ciências jurídicas.

Para construção do TCC, os(as) acadêmicos(as) têm uma carga horária de 160 h/aula divididas nas seguintes disciplinas: 40h/a Metodologia do trabalho cientifico, no 1º período; 40h/a metodologia da pesquisa em Direito, no 8º período; 40h/h na disciplina Orientação I, no 9º período e 40h/a na disciplina de Orientação II (FACULDADE CATÓLICA DOM ORIONE, 2020a).

Após defesa pública, o Artigo (ou monografia) é cadastrado em CD-ROM, disponibilizado ao público como parte do acervo da Biblioteca São Luís Orione e mantido pela Faculdade Católica Dom Orione.

Foi recebido o arquivo em formato de Excel, no dia 25 de junho de 2020, via e-mail, pedido feito ao bibliotecário responsável pela biblioteca da faculdade Católica Dom Orione. Logo, todas as informações foram extraídas desse arquivo, que é usado como cadastro de todos os trabalhos de conclusão de curso-TCC (Direito e Administração). O período analisado foi entre os anos de 2010 a 2019, com um total de 2066 títulos TCC´s. Utilizamos a palavra Ética para busca na lista dos títulos dos respectivos trabalhos de pesquisa. Para essa palavra, foram encontrados 08 títulos abaixo descriminados por nome, título e ano, que equivale a 2,5% do total.

Sobre os títulos, podemos destacar que 33% refletiram sobre a publicidade e comunicação do exercício da advocacia; 16% discorreram sobre aplicação do código de defesa do consumidor e instituições financeiras; 33% falaram sobre as práticas e linguagens e os referenciais teóricos do código de ética do advogado e 16% relacionaram a ética e a cidadania, aludindo ao ensino da constituição no ensino médio. E, por fim, 2% referente à importância da ética em nossa sociedade e a relação com a corrupção da administração pública.

(11)

102

Decorrente dessa apreciação, podemos destacar que o tema Ética não foi interessante para pesquisa em Trabalho de Conclusão de Curso - TCC´s, no curso de Direito, no período compreendido entre 2010 a 2019. 66% dos títulos observados estão relacionados com a prática da advocacia, fortalecendo um conceito de Deontologia, onde a ética é aplicada a uma profissão ou oficio. De acordo com o pensamento de Japiassú e Marcondes (2006), deontologia significa o que é obrigado, termo criado Jeremy Bentham, em 1834, para designar sua moral utilitarista, mas que passou a significar posteriormente, o código moral das regras e procedimentos próprios a determinada categoria profissional.

50% dos títulos encontrados na pesquisa foram orientados por um mesmo professor da disciplina de Filosofia e Ética geral lecionada no 2º período e Filosofia jurídica vista no 5º período. As duas disciplinas juntas valem uma carga horária de 160 horas/aulas e, fechando o ciclo da ética, a disciplina de Ética profissional vista no 10º período, no final do curso, com 40 horas/aulas de estudos. Foi constatado que o referido professor orientador tem licenciatura em Filosofia em sua graduação, por isso, destacamos uma relação de escolha pelo orientador, fechando o total de 200 horas/aulas sobre ética, de forma direita ou indireta, em um universo de 4.000 horas/aulas semanais em 10 períodos (FACULDADE CATÓLICA DOM ORIONE, 2020a).

Dessa forma, podemos destacar que um dos motivos da baixa porcentagem de TCC´s encontrados sobre Ética, no curso de Direito, foi a distribuição das horas dedicadas ao referido assunto em lide, mesmo sabendo que os elaboradores da matriz curricular do curso tenham consciência da valorização da ética para a formação dos acadêmicos do curso de Direito. Além disso, os acadêmicos(as) são orientados(as) no 9º e 10º períodos, necessitando de definição do assunto a ser pesquisado em seu TCC.

Muito embora a pesquisa jurídica no Brasil seja muito tímida, a Católica Orione quer promover o avanço em estudos jurídicos, dado o seu conteúdo curricular valorizar o conhecimento interdisciplinar das ciências humanas para contribuir para a formação do aluno independente e autônomo, com capacidade para se posicionar diante de problemas jurídicos, com o devido enfretamento científicos e com o objetivo de contribuir para uma ordem jurídica socialmente mais ética e justa (FACULDADE CATÓLICA DOM ORIONE, 2020b).

Podemos destacar a crise ética que envolve toda nossa sociedade. Conseguimos observar o pensamento de Oliveira (2010), quando fala que hoje vivemos um desrespeito escandaloso dos direitos humanos, guerras civis, corrupção e desgoverno, fome, pobreza, subdesenvolvimento econômico, cultural e político, grandes movimentos migratórios; ou como preleção de Lipovestsky (apud BAUMAN, 1997): que estamos na era do vazio em uma época pós-deontológica.

(12)

103

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste momento que se finda este artigo, podemos destacar que o problema norteador foi analisado e identificado: como as novas gerações estão utilizando as teorias sobre ética com suas respectivas aplicações em trabalhos de término de curso, em especial no curso de Direito da Faculdade Católica Dom Orione.

O objetivo geral desta pesquisa foi atingido através de uma reflexão sobre a utilização da ética, de forma geral, além de descrever sua aplicabilidade na formação acadêmica dos discentes.

Especificamente, analisamos a carga horária dedicada ao assunto Ética nas disciplinas do curso de Direito, totalizando 200h; os motivos das escolhas dos(as) acadêmicos(as) do curso de Direito dos(as) seus(suas) respectivos(as) orientadores(as) estarem ligados a uma qualificação específica, no caso, graduação em Filosofia, para os temas teóricos, além da escolha de orientadores(as) do mundo da prática para os temas da aplicação da ética no exercício da profissão de advogado(a).

Destacamos um olhar utilitarista dos(as) acadêmicos(as) para o assunto ética como pesquisa teórica, valorizando a ética como processo deontológico; pesquisar como aplicar ou antecipar o exercício do(a) profissional do respectivo assunto.

De forma fenomenológica, a ética é colocada como antônimo de corrupção, definindo como solução para mesma. Durante a revisão de literatura sobre ética, observamos um desejo nas entrelinhas de cientificar a ética. Em outras palavras, transformar a ética em ciência, adequando a lógica da mercadoria.

Precisamos entender que a ética é um instrumento de resistência contra a barbárie. Ela é uma forma de religação, uma restauração do sujeito com responsabilidade pessoal.

Observamos que, em maior escala, a procura sobre o assunto ética está no universo feminino. Com 62,50%, somente no ano de 2017, teve uma maior atividade em defesas de TCC e uma ausência total de defesas no período de dois semestres no ano de 2016.

Por fim, destacamos que o assunto ética, mesmo fazendo parte, com muita frequência, nos meios de comunicação relacionados principalmente à política e aos mercados, não tem atrativo para os acadêmicos, no ensino superior, no curso de Direito.

REFERÊNCIAS

ANOR, Sganzerla; FALABRETTI, Eriscson Sávio; BOCCA, Francisco Verardi (orgs.).

Ética em movimento. São Paulo: Editora Paulus, 2009.

ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. São Paulo: Nova Cultura, 1991. BAUMAN, Zygmunt. Ética pós-moderna. São Paulo: Editora Paulus,1997.

(13)

104

BAUMAN, Zygmunt. A vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.

BAUMAN, Zygmunt. A ética é possível num mundo de consumidores? Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.

BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de cultura. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.

BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. BOSCH, Philipe Van den. A filosofia e a felicidade. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998.

CESCON, Everaldo (org). Ética e subjetividade. Petropolis (RJ): Vozes, 2016.

COMPARATO, Fabio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 1997. FACULDADE CATÓLICA DOM ORIONE. Matriz curricular. 2020a. Disponível em: https://www.catolicaorione.edu.br/cursos/graduacao/direito/matriz-curricular. Acesso em: 25 out. 2020.

FACULDADE CATÓLICA DOM ORIONE. Trabalho de Conclusão de Curso. 2020b. Disponível em: https://www.catolicaorione.edu.br/paginas/trabalho-de-conclusao-de-curso. Acesso em: 22 jun. 2020.

FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas "estado da arte". Educ. Soc. [online], v. 23, n. 79, p. 257-272, 2002.

FOLEY, Michael. A era da loucura: como o mundo moderno tornou a felicidade uma meta (quase) impossível. São Paulo: Alaúde, 2011.

HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1989.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2006.

JIMÉNEZ, Serrano Pablo. Ética aplicada: moralidade nas relações empresarias e de consumo. Campinas (SP): Editora Alínea, 2009.

JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2006.

LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A cultura mundo: resposta a uma sociedade desorientada. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.

(14)

105

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

MIRANDA, Danilo Santos (org). Ética e cultura. São Paulo: Editora Perspectiva, 2011. MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2005.

NEDEL, José. Ética aplicada: pontos contrapontos. São Leopoldo (RS): Unisinos, 2004. PALMA, Paula Felix. Filosofia. Revista: Ciência e Vida, n. 23, 2016.

ROSE, Nikolas. Inventando nossos selfs: psicologia, poder e subjetividade. Petropolis: Vozes, 2011.

RUSS, Jacqueline. Pensamento ético contemporâneo. São Paulo: Editora Paulus, 1999. (Coleção filosofia em questão).

SAVATER, Fernando. Ética urgente. São Paulo: Edições SESC, 2014.

TIBURI, Márcia. Filosofia prática: ética, vida cotidiana, vida virtual. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2014.

VARGAS, Llosa. Mario. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2013.

VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 37. ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2017.

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de pesquisa em administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

Referências

Documentos relacionados

A solução adotada para o desenvolvimento do Sistema Padronizado de Leitura e Parametrização de Medidores de Energia (PLPM) foi a integração dos dados através de um modelo comum

possuírem os primeiros 47 (quarenta e sete) números para sorteio a partir do número base inicial, excluindo aqueles já utilizados para a ocupação das vagas reservadas para

A seleção pública terá validade de 24 (vinte e quatro) meses, a partir de sua homologação, podendo ser prorrogada por igual período, desde que haja interesse

Assim, com o intuito de melhorar o desempenho e a aplicabilidade em relação às abordagens já existentes, este trabalho propõe um SRI baseado em Algoritmos

Para a avaliação do algoritmo de contorno ativo foram utilizadas três abordagens, na primeira não é aplicado nenhum tipo de pré-processamento nas imagens, na

O bloco de exploração, responsável pela criação do mapa a partir de uma região desconhecida; o de detecção, responsável pela identificação do objeto através da análise de

Nos capítulos seguintes serão revisados os conceitos das áreas de conhecimento relacionados com o desenvolvimento do projeto, como por exemplo, estão os conceitos

A Tabela 8 mostra um quadro resumo das variações de valores das métricas de similaridade tanto para a estabilidade quanto para a autoridade de acordo com cada algoritmo estudado.