Próximo ponto (3.3): Transplantes jurídicos Texto: Fedtke, artigo + Maldonado, pp. 11-28 Perguntas:
1. Por que acontecem transplantes?
2. Quais são os principais desafios para a realização de transplantes?
Transplantes jurídicos
Outros termos possíveis: “empréstimos jurídicos”, “migração jurídica”, “circulação jurídica”
Transplantes jurídicos
Maldonado – “discurso comum” sobre transplantes:
> Ocorrem de países desenvolvidos para países subdesenvolvidos > Ocorrem com autorização formal do estados
> Apenas regras são transplantadas
A lei, em geral, é a razão
humana... e as leis civis de cada nação são apenas casos
particulares de aplicação da razão humana. Devem ser tão
próprias ao povo para o qual foram feitas que seria um acaso
muito grande se as leis de uma nação pudessem servir para
Transplantes jurídicos
Razões para transplantes:
> Percepção do sucesso do objeto transplantado
(obs: transplant bias)
> Implementação de acordos internacionais > Pressão política e econômica
Transplantes jurídicos
Obstáculos ao sucesso de transplantes: > Risco de deturpação na prática
> Difícil acesso à jurisprudência e doutrina originais
> Harmonização do transplante com o resto do sistema > Preferência política por soluções nacionais
Transplantes jurídicos
Afinal, transplantes costumam dar certo ou não?
Outra maneira de formular a questão:
O que explica a evolução de sistemas jurídicos: inovações ou empréstimos?
Transplantes jurídicos
Três observações importantes:
Obs1: Transplantes não precisam ser abruptos.
Transplantes jurídicos
Obs2: regras de direito privado são mais facilmente
transplantadas? (Alan Watson)
Código Civil turco de 1926
Transplantes jurídicos
Obs3: Overfitting transplants (M. Siems) Ex: júri civil
Resumo
> A “visão comum” sobre transplantes
> O extremo oposto: ceticismo sobre transplantes > “A verdade está no meio”:
evidências históricas de transplantes bem-sucedidos + reconhecimento dos obstáculos
Próximo ponto (3.4): Controle de constitucionalidade Texto: Merryman, Cap. 18
Perguntas:
1. Qual é a diferença entre constituições formalmente e funcionalmente rígidas?
2. O que há de peculiar no (antigo) sistema francês de controle de constitucionalidade?
Controle de constitucionalidade
“Constitucionalismo global”: 1. Constituições escritas rígidas
2. Controle de constitucionalidade das leis pelo judiciário (judicial review)
Controle de constitucionalidade
Constitucionalismo global:
1. Constituições escritas rígidas
2. Controle de constitucionalidade pelo judiciário (judicial review)
Controle de constitucionalidade
1 implica 2?
Merryman diz“não” –
rigidez formal x rigidez funcional
Controle de constitucionalidade
Razões para a disseminação do judicial review:
Exs: Alemanha 1949; Itália 1948; Japão 1947; Espanha 1978; Portugal 1982; América Latina nos anos 90.
Controle de constitucionalidade
Outras razões:
> Pressão das instituições europeias
> Na Inglaterra: transformações no regime parlamentar (Gardbaum, 2014)
Entre 1832 and 1945, 17 PMs ingleses renunciaram; desde 1945, apenas 1.
Controle de constitucionalidade
Modo de instituição do judicial review: > Previsão constitucional (mais comum) > Decisão judicial
Marbury v. Madison (1803)
Controle de constitucionalidade
Diferentes modelos de controle Modelo forte x modelo fraco
I---I
1) O Parlamento ou o legislativo provincial pode declarar expressamente através de um Ato do Parlamento ou do legislativo que um tal Ato ou disposição deve operar a despeito do disposto na seção 2 ou entre as seções 7 e 15 desta Carta de Direitos. [...]
(3) Uma declaração feita de acordo com a subseção (1) perderá seus efeitos cinco anos depois de entrar em vigor ou antes disso, de acordo com o que estiver especificado na declaração.
(4) O Parlamento ou o legislativo provincial pode tornar a decretar a declaração feita de acordo com a subseção (1).
Controle de constitucionalidade
Força do modelo (quantidade de poder concedido a juízes/legisladores)
x
Eficácia do modelo (frequência de invalidação e importância das leis invalidadas)
Resumo
> Constitucionalismo global
Constituições escritas rígidas + judicial review > Judicial review forte, fraco e intermediário
Próximo ponto (3.5): Acesso à justiça e devido processo legal
Texto: Merryman, Caps. 16 e 17 Perguntas:
1. Como é que a existência do júri moldou o processo em países de common law?
2. O que significa dizer que o processo na common law é mais “adversário” ou “adversarial” que o nosso?
Acesso à justiça e devido processo
1. Grau de litigiosidade
2. Tamanho e influência das categorias profissionais 3. Duração do processo
Acesso à justiça e devido processo
Blankenburg (1990s)Processos civis na primeira instância (p/ ano, p/ 100 mil habitantes) Áustria 5.020 Bélgica 4.800 Alemanha Ocidental 3.561 França 1.950 Itália 1.640 Holanda 1.430
Acesso à justiça e devido processo
1. Litigiosidade
> Fatores culturais
> Fatores jurídicos e institucionais - indenizações punitivas
- ações coletivas
- alternativas à disputa judicial - número de advogados
Acesso à justiça e devido processo
2. Tamanho e influência das categorias profissionais Obstáculos à comparação: “advogado” e “juiz” são termos ambíguos
> “barrister” x “solicitor” > juiz leigo x juiz togado
Acesso à justiça e devido processo
Ainda assim, diz-se que na Europa continental a razão juiz/advogado é maior do que nos EUA,
Inglaterra e Canadá. Por quê?
Acesso à justiça e devido processo
3. Duração do processo
Tema caro aos estudiosos do “acesso à justiça”...
... junto com:
> procedimento simplificado para pequenas causas > ações coletivas
Acesso à justiça e devido processo
Djankov et al. 2003: despejo do inquilino x cobrança de cheque sem fundos do inquilino
França 226/181
Alemanha 331/154
Polônia 1.080/1.000 Reino Unido 115/101
Acesso à justiça e devido processo
World Justice Project 2012Acesso à justiça civil Efetividade da justiça criminal Brasil 0,55 0,49 EUA 0,65 0,65 Suécia 0,78 0,82 Índia 0,45 0,44
Acesso à justiça e devido processo
4. “Adversarialidade”
Tradicionalmente, o processo é dito mais adversarial na common law.
Isto é, lá o juiz mantém uma postura mais passiva no que diz respeito à produção de provas.
Acesso à justiça e devido processo
Obs: distinção suspeita -adversarial x “inquisitorial”
Argumentos pela adversarialidade Proteção contra o arbítrio judicial Liberdade para omissão de provas vexatórias Livre competição melhor maneira de atingir a verdade Réplicas Contraditório como remédio Na prática, isso é limitado pelo “discovery” As partes não têm igual poder econômico/investi-gativo
Acesso à justiça e devido processo
Thibaut e Walker, 1975: maior satisfação das partes (vencedoras ou não) com o processo adversarial.
Resumo
1. Grau de litigiosidade
2. Tamanho das categorias profissionais 3. Duração do processo
Próximo ponto (3.6): Liberdade de expressão Texto: artigo Dias, no site.
Pergunta:
Há, no argumento de Dias, uma importante contradição. Identifique-a.
Liberdade de expressão
Diferentes maneiras de interpretar e aplicar direitos fundamentais:
> Aplicação vertical x aplicação horizontal > Direito negativo x direito positivo
→ M é “idônea”, “adequada”, “racional” para promover DF?
→ M é “necessária”? Não há outra medida, M’, que cumpra DF sem interferir em DF’?
→ O cumprimento de DF é proporcional à interferência em DF’?
2016/2 – Um professor da PUC pretende palestrar sobre a permissibilidade de caricaturas que representem Maomé. A PUC impede a palestra para evitar que alunos muçulmanos se ofendam. A Constituição reconhece tanto a liberdade de expressão quanto a liberdade de consciência religiosa. O professor leva o caso à justiça. No processo, surgem controvérsias sobre se (i) direitos fundamentais devem ser aplicados apenas verticalmente, sobre se (ii) eles são negativos ou positivos e sobre se (iii) ele devem ser ponderados por meio do teste de proporcionalidade. Explique como o advogado do professor deveria se posicionar quanto a (i), (ii) e (iii) para aumentar as chances de sucesso do seu cliente.
Direitos
Liberdade de expressão, lib. de movimento dentro do país, direito ao voto... Igualdade de gênero e idade, lib. de expressão comercial...
Outros tipos de igualdade, lib. de movimento fora do país...
Condições de limitação
O fim do governo deve ser urgente; o meio,
necessário e bem ajustado ao fim.
O fim deve ser importante e o meio deve ter relação substancial com o fim.
O fim deve ser legítimo e o meio, racional.
Liberdade de expressão
Liberdade de expressão
Variações textuais: liberdade de opinião, comunicação, fala (speech) e imprensa...
Liberdade de expressão
Nos EUA, “fala” tem sido entendida em sentido amplo (não sem controvérsia):
United States v O’Brien (1968) – queima de cartão de alistamento militar
Liberdade de expressão
“Excepcionalismo americano” Exemplos:
1. Discurso discriminatório e intolerante (hate speech)
Liberdade de expressão
1. Hate speech
Desde Brandenburg v. Ohio (1969) só a incitação à violência iminente é proibida, não a manifestação de ideias intolerantes.
R.A.V. v. City of St. Paul (1992) Virginia v. Black (2003)
Liberdade de expressão
Outros países...> Canadá: R v Keegstra (1990)
> Alemanha: 90 BVerfGE 241 (1994)
> Brasil: HC 82424 (2003) (Caso Ellwanger)
A Constituição da África do Sul, exclui do âmbito da liberdade de expressão toda
“advocacy of hatred based on race, ethnicity, gender or religion...”
Liberdade de expressão
2. Difamação
Desde New York Times Co. v Sullivan (1964) o ônus probatório do autor é pesado:
Deve provar que o réu conhecia a falsidade da alegação ou não tomou precauções para evitar a falsidade.
Revisão
> Direitos fundamentais: distinções básicas
Aplicação vertical x aplicação horizontal Direito negativo x direito positivo
Proporcionalidade x “fixed tiers”
> Excepcionalismo americano
Próximo ponto (3.7): Direitos autorais Texto: artigo Alves, no site.
Pergunta:
Segundo Alves, a função social da propriedade
intelectual (PI) não tem recebido tanta ênfase quanto a função social da propriedade em geral. Quais são os
sinais de que PI é entendida de maneira cada vez mais individualista?
Direitos autorais
Propriedade intelectual
> Propriedade industrial (L. 9279/96) > Direitos autorais (L. 9610/98)
LDA, Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em
qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;
II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;
III - as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma;
V - as composições musicais, tenham ou não letra;
VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; [...]
Direitos autorais
Vocabulário “novo” Direitos patrimoniais Direitos morais Domínio público Bem públicoDireitos autorais
Direitos patrimoniais: direitos relativos à reprodução e exploração econômica da obra.
Direitos morais: direitos relativos à imagem do autor e à preservação da integridade da obra.
Obs1: apenas os DPs são alienáveis.
Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica.
Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer
modalidades, tais como:
I - a reprodução parcial ou integral; II - a edição;
III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações;
IV - a tradução para qualquer idioma;
V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;
VI - a distribuição, quando não intrínseca ao
contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra; [...]
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: I - a reprodução:
[...]
b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas de qualquer natureza; [...]
II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos
trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;
III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada
para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra;
LDA, Art. 24. São direitos morais do autor:
I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional
indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;
III - o de conservar a obra inédita;
IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a
quaisquer modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;
VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a circulação ou
utilização implicarem afronta à sua reputação e imagem;
VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de outrem [...]
Direitos autorais
Comparação:
Tradicionalmente, países de common law só reconheciam DPs.
Essa diferença foi mitigada depois que EUA e Inglaterra aderiram à Convenção de Berna (1886).
Direitos autorais
Direitos autorais
Alves, p. 152:
“O crescente interesse econômico envolvido e a concentração
provocada pela indústria cultural vão gerar um contexto ainda mais
propício ao lobby das editoras e produtoras e à consequente ampliação do escopo do direito autoral, que durante o século XX aumentou as
penas e punições, o rol de proteção (incluindo obras derivativas, softwares, bancos de dados, etc.), e também o prazo de gozo do monopólio.”
Direitos autorais
Bens públicos