MINISTÉRIO DA FAZENDA
18
SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL
SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DA RECEITA FEDERAL
10ª REGIÃO FISCAL
PROCESSO Nº
SOLUÇÃO DE CONSULTA SRRF/10ª RF/DISIT Nº
350, de 19 de outubro de 2004
INTERESSADOCNPJ/CPF
DOMICÍLIO FISCAL
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ONSULENTE(arts. 99 e
100 do Decreto nº 7.574, de 29 de setembro de 2011).
Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados -
IPI
Ementa: CAMPO DE INCIDÊNCIA. OPERAÇÃO
DE INDUSTRIALIZAÇÃO. PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO SUJEITO AO ISS. IRRELEVÂNCIA.
As
operações
de
restauração,
conserto
e
beneficiamento de produtos, realizadas mediante
galvanoplastia, classificam-se como industrialização,
consoante o art. 4º do RIPI/2002, somente escapando
ao campo de incidência do IPI nos casos em que
restar configurada alguma das hipóteses plasmadas no
art. 5º do mesmo regulamento. O fato de uma
operação constar da lista anexa à Lei Complementar
nº 116, de 2003, caracterizando, dessarte, prestação
de serviço para efeito de incidência do ISS, não
impede que essa mesma operação seja enquadrada
como industrialização, estando incluída, também, no
campo de incidência do IPI.
Dispositivos Legais: Lei Complementar nº 116, de
2003; Decreto nº 4.544, de 2002, arts. 4º, 5º e 7º;
Parecer Normativo CST nº 253, de 1970; Parecer
Normativo CST nº 83, de 1977.
RELATÓRIO
A pessoa jurídica epigrafada atua no ramo de “prestação de serviços e
beneficiamento de produtos, cuja atividade principal é exatamente a prestação de serviços de
restauração e consertos (galvanoplastia), com incidência do Imposto sobre Serviços - ISS e
beneficiamento (galvanoplastia) de mercadorias para fins de revenda, cujas as operações são
tributadas pelo Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS e pelo Imposto
sobre Produtos Industrializados - IPI”.
1.1.
A interessada formula consulta acerca de interpretação da legislação tributária
federal visando a esclarecer se o advento da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003,
modificou de alguma forma o entendimento da Secretaria da Receita Federal a respeito da
incidência do IPI relativamente às operações de galvanoplastia por ela realizadas, quando os
bens assim beneficiados sejam destinados a comercialização posterior. O questionamento
advém da premissa, fixada pela consulente, segundo a qual uma mesma operação não pode ser
enquadrada, cumulativamente, como industrialização e prestação de serviço, o que afastaria o
IPI de todas as operações por ela realizadas, em razão da abrangência da atual lista de serviços
constante da Lei Complementar nº 116, de 2003. São os seguintes os exatos termos das
perguntas aduzidas:
“1. Tendo em vista a legislação (Lei Complementar Federal nº 116/03
e da correspondente Lei Complementar Municipal – [...] , pergunta-se:
A União (Fazenda Nacional) estaria, ainda, a exigir o IPI sobre as
operações de beneficiamento (galvanoplastia) realizadas pela
Consulente nas mesmas condições anteriores, ou seja, levando em
linha de conta os fins (industrialização e comercialização posterior) a
que se destinem estas mercadorias (bens)?
2. Se a hipótese anterior for afirmativa, ou seja, a União (Fazenda
Nacional) estará a exigir o imposto (IPI) e tendo em vista que o
Município [...] também está a exigir ISS sobre a operação de
Beneficiamento (galvanoplastia), pergunta-se: tal situação significaria
bi-tributação?
3. Enquanto não haja uma solução definitiva para a controvérsia qual
deveria ser a conduta da Consulente, no sentido de não sofrer prejuízo
econômico e ao mesmo tempo não vier a ser surpreendida com
autuação por parte da União, considerando que não tem qualquer
condição de pagar duas vezes o tributo?”
FUNDAMENTOS LEGAIS
2.
A definição de industrialização, para fins de incidência do Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI), estabelecida pela Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964 –
lei básica do IPI –, está, hoje, reproduzida no art. 4º do Decreto nº 4.544, de 26 de dezembro de
2002 (Regulamento do IPI - RIPI). Particular atenção merecem o caput desse dispositivo, e seu
parágrafo único, por demonstrarem, de modo insofismável, a amplitude do conceito, conforme
abaixo se lê:
“Art. 4º Caracteriza industrialização qualquer operação que
modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a
apresentação ou a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para
consumo, tal como (Lei nº 4.502, de 1964, art. 3º, parágrafo único, e
Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, art. 46, parágrafo único):
I - a que, exercida sobre matérias-primas ou produtos intermediários,
importe na obtenção de espécie nova (transformação);
II - a que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma,
alterar o funcionamento, a utilização, o acabamento ou a aparência do
produto (beneficiamento);
III - a que consista na reunião de produtos, peças ou partes e de que
resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma
classificação fiscal (montagem);
IV - a que importe em alterar a apresentação do produto, pela
colocação da embalagem, ainda que em substituição da original, salvo
quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da
mercadoria (acondicionamento ou reacondicionamento); ou
V - a que, exercida sobre produto usado ou parte remanescente de
produto deteriorado ou inutilizado, renove ou restaure o produto para
utilização (renovação ou recondicionamento).
Parágrafo único. São irrelevantes, para caracterizar a operação como
industrialização, o processo utilizado para obtenção do produto e a
localização
e
condições
das
instalações
ou
equipamentos
empregados.” (Grifou-se.)
3.
A consulente, em sua petição, desenvolve raciocínio segundo o qual uma
operação de industrialização por encomenda exigiria, para sua caracterização, que “o bem fosse
destinado à venda posterior, como mercadoria da tomadora dos serviços”. Ainda, consoante
sua tese, propugna que, no caso de os bens terem outra destinação, diversa da “comercialização
ou industrialização posterior”, a operação encomendada enquadrar-se-ia somente como
prestação de serviço, estando sujeita exclusivamente à incidência do Imposto sobre Serviços
(ISS), de competência municipal, não ao IPI. Esse entendimento da consulente não encontra
amparo na legislação tributária federal, sendo inteiramente contrário à posição, há muitos anos,
adotada pela Secretaria da Receita Federal.
4.
Com efeito, não existe nenhum dispositivo legal que determine a não incidência
do IPI em operações que possam ser, concomitantemente, caracterizadas como industrialização
e prestação de serviço. Pelo contrário, a abrangência da definição legal de industrialização,
acima reproduzida, deixa claro que, em muitas situações, uma determinada operação será
simultaneamente enquadrada como industrialização e como prestação de serviço. As operações
que estão fora do campo de incidência do IPI, por não serem consideradas industrialização, nos
termos da lei, estão arroladas no art. 5º do RIPI/2002. Somente no caso de alguma das
operações de galvanoplastia realizadas pela interessada enquadrar-se nesse artigo, deixará de
incidir o IPI; o fato de a operação estar sujeita ao ISS é inteiramente irrelevante para
determinar a incidência, ou não, do IPI. Impende destacar os seguintes dispositivos do
Regulamento do IPI:
Art. 5º Não se considera industrialização:
...
III - a confecção ou preparo de produto de artesanato, definido no art.
7º;
...
V - o preparo de produto, por encomenda direta do consumidor ou
usuário, na residência do preparador ou em oficina, desde que, em
qualquer caso, seja preponderante o trabalho profissional;
...
XI - o conserto, a restauração e o recondicionamento de produtos
usados, nos casos em que se destinem ao uso da própria empresa
executora ou quando essas operações sejam executadas por
encomenda de terceiros não estabelecidos com o comércio de tais
produtos, bem assim o preparo, pelo consertador, restaurador ou
recondicionador, de partes ou peças empregadas exclusiva e
especificamente naquelas operações (Lei nº 4.502, de 1964, art. 3º,
parágrafo único, inciso I);
XII - o reparo de produtos com defeito de fabricação, inclusive
mediante substituição de partes e peças, quando a operação for
executada gratuitamente, ainda que por concessionários ou
representantes, em virtude de garantia dada pelo fabricante (Lei nº
4.502, de 1964, art. 3º, parágrafo único, inciso I);
...
Art. 7º Para os efeitos do art. 5º:
I - no caso do seu inciso III, produto de artesanato é o proveniente de
trabalho manual realizado por pessoa natural, nas seguintes
condições:
a) quando o trabalho não conte com o auxílio ou participação de
terceiros assalariados; e
b) quando o produto seja vendido a consumidor, diretamente ou por
intermédio de entidade de que o artesão faça parte ou seja assistido.
II - nos casos dos seus incisos IV e V:
a) oficina é o estabelecimento que empregar, no máximo, cinco
operários e, caso utilize força motriz, não dispuser de potência
superior a cinco quilowatts; e
b) trabalho preponderante é o que contribuir no preparo do produto,
para formação de seu valor, a título de mão-de-obra, no mínimo com
sessenta por cento.”
5.
Apenas para corroborar a assertiva de que a caracterização de uma operação
como prestação de serviço sujeito ao ISS é irrelevante para determinar se a mesma operação
sofre, ou não, incidência do IPI, transcrevem-se trechos do Parecer Normativo CST nº 253, de
1970, editado na época em que vigorava a lista de serviços anexa ao Decreto-Lei nº 406, de 31
de dezembro de 1968, lista esta que foi substituída pela lista constante da Lei Complementar nº
116, de 2003, hoje vigente. Frise-se que o entendimento perfilhado neste parecer em nada foi
prejudicado pelo advento da Lei Complementar nº 116, de 2003:
“Improcedente, ainda, a alegação de que se estaria invadindo a área
do ‘Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza’, de competência
dos Municípios, cuja incidência excluiria a de qualquer outro tributo,
inclusive a do IPI, por força do DL nº 406, de 31.12.68. Primeiramente,
esse diploma legal, conforme sua ementa, ‘estabelece normas gerais de
direito financeiro aplicáveis aos impostos sobre operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre serviços de qualquer natureza’.
Restrito, pois, ao ICM e ISS.
De acordo com o disposto no Art. 8º, desse decreto-lei o ISS tem como
fato gerador a prestação de serviço constante de uma lista que anexa,
declarando o §1º, do citado artigo: ‘os serviços incluídos na lista ficam
sujeitos apenas ao imposto previsto neste artigo’ (omissis),
evidentemente no sentido de excluir o ICM, que é o outro imposto
regulado no referido decreto-lei. Não assim o IPI ou outros tributos
federais”
6.
Mais explícito ainda é o Parecer Normativo CST nº 83, de 1977 (DOU de
23.12.1977), também editado sob a vigência da lista de serviços anexa ao Decreto-Lei nº 406,
de 1968, outrossim em nada prejudicado pela edição da Lei Complementar nº 116, de 2003.
Em razão de sua clareza, o parecer mencionado segue reproduzido na íntegra:
“O fato de quaisquer dos serviços catalogados na lista anexa ao
Decreto-lei nº 406/68, ou que foram ou venham a ser posteriormente
incluídos,
se
identificarem
com
operações
consideradas
industrialização, ‘ex vi’ do RIPI, é irrelevante para determinar a não
incidência do IPI.
1 - Embora o PN nº 253/70 já tenha, ainda que ‘en passant’, disposto
sobre a matéria, persiste dúvida quanto à incidência ou não do IPI
sobre produtos resultantes de processos de industrialização que se
possam identificar com os relacionados na ‘Lista de Serviços’ anexa ao
diploma legal que dispões sobre o imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza (ISS).
2 - Segue-se a transcrição dos dispositivos legais em torno dos quais
tem assento a referida indagação.
‘Decreto-lei nº 406, de 31 de dezembro de 1968’
Estabelece normas gerais de direito financeiro, aplicáveis aos impostos
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre serviços
de qualquer natureza, e dá outras providências.
Art. 8º - O imposto, de competência dos Municípios, sobre serviços de
qualquer natureza, tem como fato gerador a prestação, por empresa ou
profissional autônomo, com ou sem estabelecimento fixo, de serviço
constante da lista anexa.
§ 1º - Os serviços incluídos na lista ficam sujeitos apenas ao imposto
previsto neste artigo, ainda que sua prestação envolva fornecimento de
mercadorias.
§ 2º - O fornecimento de mercadorias com prestação de serviços não
especificados na lista fica sujeito ao imposto sobre circulação de
mercadorias’.
3 - Conforme Aliomar Baleeiro, in ‘Direito Tributário Brasileiro, 1ª
edição, página 265, ‘o Decreto-lei nº 406, na ementa, assumiu
expressamente o caráter de diploma de normas gerais de direito
tributário e, nessa posição, reservou ao Estado os serviços não
previstos na lista, quando envolvem fornecimentos de mercadorias’.
3.1 - Dispõe a norma transcrita, após definir o fato gerador do ISS,
especificamente sobre conflitos de competência entre Estados e
Municípios que envolvam problemas de incidência referentes àquele
tributo e ao ICM. Diante disto, somente se poderia admitir, implicações
daquela disposição em outras espécies de tributos, sobretudo federais,
que constassem expressamente do texto legal.
4 - Portanto, a locução constante do § 1º, ‘apenas ao imposto previsto
neste artigo’, significa unicamente não incidência do ICM, enquanto
que a do § 2º, ‘ao imposto de circulação de mercadorias’, esclarece a
não sujeição ao ISS.
5 - Conseguintemente, o fato de quaisquer dos serviços catalogados na
lista anexa ao Decreto-lei nº 406/68, ou que foram ou venham a ser
posteriormente
incluídos,
se
identificarem
como
operações
consideradas industrialização, ‘ex vi’ do RIPI, é irrelevante para
determinar a não incidência do IPI.”
CONCLUSÃO
7.
Ante o exposto, conclui-se que as operações definidas como industrialização,
nos termos do art. 4º do RIPI/2002, estão sujeitas à incidência do IPI, salvo se se enquadrarem
em alguma das hipóteses descritas no art. 5º do mesmo diploma normativo, artigo este que
enumera operações que, nos termos da lei, não são consideradas industrialização. O fato de
uma operação constar da lista anexa à Lei Complementar nº 116, de 2003, caracterizando,
dessarte, prestação de serviço para efeito de incidência do ISS, não impede que essa mesma
operação seja enquadrada como industrialização, estando incluída, também, no campo de
incidência do IPI. As operações de restauração, conserto e beneficiamento de produtos,
realizadas mediante galvanoplastia, classificam-se como industrialização, consoante o art. 4º do
RIPI/2002, somente escapando ao campo de incidência do IPI nos casos em que restar
configurada alguma das hipóteses plasmadas no art. 5º do mesmo regulamento.
ORDEM DE INTIMAÇÃO
Publique-se no Diário Oficial da União extrato da ementa desta Solução de
Consulta, no prazo máximo de noventa dias, contado da data da solução, em atendimento ao
disposto no art. 48, § 4º, da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, e no art. 13 da Instrução
Normativa SRF nº 230, de 25 de outubro de 2002.
Encaminhe-se este processo à [...] para ciência desta Solução de Consulta à
interessada, mediante cópia, e adoção das medidas adequadas à sua observância, nos termos do
art. 6º, inciso IV, da IN SRF nº 230, de 2002.
Na forma do disposto no art. 48 da Lei nº 9.430, de 1996, os processos
administrativos de consulta são solucionados em instância única, não comportando, assim, a
presente solução, recurso voluntário ou de ofício, nem pedido de reconsideração.
Excepcionalmente, se a interessada vier a tomar conhecimento de outra solução de consulta,
divergente desta, relativa à mesma matéria e fundada em idêntica norma jurídica, caberá
recurso especial, sem efeito suspensivo, para a Coordenação-Geral de Tributação (Cosit), em
Brasília (DF), em conformidade com o art. 16 da IN SRF nº 230, de 2002. O prazo para
interposição do recurso é de trinta dias, contado da ciência desta solução, ou da solução
divergente, se publicada posteriormente à ciência desta, competindo à interessada comprovar a
existência das soluções divergentes acerca de idênticas situações, mediante juntada das
correspondentes publicações.
VERA LÚCIA RIBEIRO CONDE
Chefe da Divisão de Tributação
Delegação de Competência Portaria SRRF10 nº 64, de 20.04.2000
DOU de 26.04.2000 MAS - 00224575775