DIVERSIDADE E POTENCIAL PATOGÊNICO DE FUNGOS ZOOSPÓRICOS (CHYTRIDIOMYCOTA E OOMYCOTA) NO CRIATÓRIO DE PEIXES, NO
POVOADO PINTO, MUNICÍPIO DE TIMON, MARANHÃO.
Marcones Ferreira Costa (bolsista/ICV), Darlane Freitas Morais da Silva (Colaboradora,UFPI), Prof. Dr. José de Ribamar de Sousa Rocha (Orientador,Departamento de Biologia,LFZ, UFPI) INTRODUÇÃO
A piscicultura, ramo específico da aquicultura voltada para criação de peixes em cativeiro, vem sendo apontada por especialistas como promissora atividade no mundo e, principalmente no Brasil, em decorrência da malha hidrográfica e do clima propício. Desde 1970, a aquicultura mundial vem apresentando índices médios anuais de crescimento de 9,2%, comparados com apenas 1,4% da pesca extrativista. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – ONU/ FAO prevê que a piscicultura será a responsável pela produção de 40% dos peixes consumidos no mundo até 2010, em decorrência do aumento da população global e de mudanças de hábito alimentar.
Um dos desafios na piscicultura consiste no controle de patologias nos criatórios. Os peixes podem apresentar lesões em diversos órgãos, acarretando perdas de indivíduos e consequente diminuição na produtividade. Os fungos zoospóricos caracterizam-se por possuir células reprodutoras assexuadas dotadas de flagelo, os zoosporos. Seus principais representantes pertencem aos filos Oomycota (reino Straminipila) e Chytridiomycota (reino Fungi). Oomycota difere de Chytridiomycota por apresentar zoosporos dotados de dois flagelos, sendo um penado e um liso, enquanto que Chytridiomycota apresenta um flagelo liso.
Segundo Lacaz et al., (2002) dentre os Oomycota mais frequentemente isolados de lesões em peixes, destacam-se os da família Saprolegniaceae como: Saprolegnia ferax, S. parasítica, Achlya flagellata, A. prolifera, Isoachlya anisospora var. indica e Aphanomyces leavis. Carpas estudadas quanto à infecção por fungos zoospóricos apresentaram lesões na pele, nos olhos, nos brônquios e órgãos profundos. Peixes infectados podem apresentar curiosos movimentos denominados “swinging disease” (LACAZ et al., 2002).
O presente trabalho objetivou-se no levantamento da diversidade de Oomycota e Chytricomycota no criatório de peixes no povoado Pinto no Município de Timon, Maranhão, contribuir com novas linhagens de Fungos Zoospóricos para a Coleção de Cultura de Fungos Zoospóricos da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A pesquisa esta inserida no projeto Coleção de Cultura de Fungos Zoospóricos da UFPI, sob o cadastro: CCN-011/2009, na PRPPG
METODOLOGIA
Foram realizadas quatro coletas bimestrais de água e solo, entre agosto de 2009 a fevereiro de 2010, em sete tanques do criatório de peixes, situados no povoado Pinto, no Município de Timon, Maranhão, Brasil. Para coleta e isolamento de Chytridiomycota e Oomycota, foram utilizadas as técnicas descritas por Milanez (1989). De cada tanque foram coletadas amostras de água em frascos de Wheaton de 75 ml e 200g de solo marginal em sacos plásticos. As amostras foram transportadas para o Laboratório de Fungos Zoospóricos da Universidade Federal do Piauí (LFZ-UFPI). As amostras de água foram depositadas em placas de Petri 140 x 20 mm, contendo substratos orgânicos devidamente preparados para uso como “isca,” tais como substratos celulósicos, substratos queratinosos e substrato quitinoso. As amostras de solo contendo 200g foram colocadas em placas de Petri, e posteriormente homogeneizadas com água destilada esterilizada.
Depois de uma semana de incubação a temperatura ambiente, as iscas tanto das amostras de água como das amostras de solo foram transferidas para placas de Petri, contendo somente água destilada esterilizada. Após a incubação as iscas foram observadas ao microscópio óptico, sendo as iscas colonizadas colocadas em placas de Petri com novos substratos para multiplicação dos fungos. Posteriormente, essas iscas foram examinadas diariamente para observação da colonização e produção de estruturas reprodutivas dos fungos nos substratos. Para o estudo e identificação dos fungos zoospóricos, utilizou-se os seguintes trabalhos: Sparrow (1960), Karling (1977), Alexopulos; Mims; Blackwell (1996), Dick (2001) e JOHNSON; SEYMOUR; PADGETT, (2002) Depois de identificadas e catalogadas, as linhagens dos fungos zoospóricos selecionadas foram inseridas na Coleção de Culturas do Laboratório de Fungos Zoospóricos, Departamento de Biologia – UFPI, onde estão disponíveis para estudos posteriores.
RESULTADOS
Foram identificadas no total de 14 espécies, sendo 7 de quitridiomicetos e 7 oomicetos.Alguns são sapróbios na água e outros no solo. As sete espécies de Quitridiomicetos estão distribuídas em quatro ordens, seis famílias e sete gêneros. Em relação aos Oomicetos foram identificadas sete espécies, que estão distribuídas em duas ordens, duas famílias e cinco gêneros (Tabela 1). Sendo que uma espécie (Monoblepharella taylori) representa a primeira citação para o Brasil de sua ocorrência. Tabela 1. Espécies de Chytridiomycota e Oomycota em criatório de peixes, no município de Timon, Maranhão, Brasil, 2010.
Chydridiomycota Oomycota
Allomyces neo-moniliformes Pythiogeton dichotomum Catenophlyctis variabilis Pythiogeton ramosum Cladochytrium replicatum Pythiogeton utriforme
Nowakowskiela elegans Achlya flagellata
Monoblepharella taylori Aphanomyces keratinophlilus
Monoblepharis ovigera Aphanomyces. laevis
Karlingia rosea Dictyuchus esterile
A B
CONCLUSÃO
Figura 1. Espécies de Fungos Zoospóricos isolados. A. Zoosporângio de Monoblepharella taylori. B.Oogônios com ramos anteridiais de Achlya. flagellata.
A partir da pesquisa foi possível constatar que duas espécies de fungos zoospóricos encontrados no criatório, apresentam potencial patogênico, Achlya flagellata e Aphanomyces leavis em lesões preexistentes em peixes. Apesar de não ter sido encontrado nenhum peixe infectado, durante a pesquisa. Ressaltando a importância de técnicas de manejo que visam minimizar os efeitos ou o aparecimento de possíveis doenças fúngicas nos peixes. Além disso duas novas espécies: Allomyces neo-moniliformes e Monoblepharella taylori, foram incorporadas a coleção de cultura de fungos Zoospóricos da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Sendo que a espécie Monoblepharella taylori, é o primeiro relato da ocorrência desta espécie de fungo para o Brasil, enquanto as espécies Allomyces neo-moniliformes e Monoblepharis ovigera, são as primeiras citações de ocorrência dessas espécies para o Estadodo Maranhão.
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