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RELATÓRIO ANUAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PROJETO: MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA E A CURVA DE REMINISCÊNCIA EM PESSOAS DE MEIA IDADE

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RELATÓRIO ANUAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PROJETO:

MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA E A CURVA DE REMINISCÊNCIA EM PESSOAS DE MEIA IDADE

Departamento de Psicologia – PUC-Rio Bolsista: Amanda Buhler Riccieri Orientador: Prof. J. Landeira-Fernandez

Co-orientador: Daniel Mograbi

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INTRODUÇÃO

O presente estudo investiga o funcionamento da memória autobiográfica. A memória autobiográfica é composta de memórias pessoais que possuem tanto caráter episódico quanto semântico, sendo um componente fundamental na determinação de nossa identidade, por exemplo, fornecendo continuidade para nossa experiência cotidiana. Estudos transculturais (Conway et al., 2005) indicam que a memória autobiográfica possui uma distribuição característica, com maior concentração de memórias lembradas do período da adolescência e início da vida adulta. Esse fenômeno, até então não explorado no Brasil, é chamado de curva de reminiscências (“reminiscence bump”), e diversas explicações foram sugeridas para sua ocorrência (Bernstein & Rubin, 2002). Por exemplo, sugere-se que este é um período crucial no desenvolvimento do sujeito, em particular na maturação de estruturas cerebrais fundamentais no processamento de auto-referência e identidade pessoal, como o córtex pré-frontal. Em contraste com esta posição, certos pesquisadores enfatizaram a importância do período da adolescência e início da vida adulta na construção de uma narrativa e de um script de vida (Bernstein & Rubin, 2002).

Alguns estudos indicaram que a curva de reminiscências está presente apenas para memórias positivas, não sendo encontrada para lembranças de caráter neutro e negativo (Glück & Bluck, 2007). Este achado dá suporte para uma explicação da curva ligada à formação da identidade, e foi interpretado como parte da necessidade de manter uma narrativa de vida positiva (Glück & Bluck, 2007). No entanto, é possível que isto também reflita acesso limitado a memórias negativas.

A relação entre esquecimento e o conteúdo afetivo de memórias é um tema controverso na história da psicologia. Evidências sugerem que memórias negativas, como experiências traumáticas, são mais facilmente recordáveis (Conway et al., 1992). Por outro lado, distorções de memórias, como esquecimentos e confabulações, frequentemente apresentam um viés positivo (Conway & Tacchi, 1996; Fotopoulou, 2004). Esta aparente contradição entre os dados pode estar relacionada à intensidade e duração das experiências negativas. A exposição a estados afetivos intensos e súbitos em geral leva a memórias duradouras e altamente específicas (Brown & Marsden, 1990), ao passo que memórias negativas menos intensas podem ser mais vulneráveis ao esquecimento (Conway & Pleydell-Pearce, 2000). Assim, é possível que memórias com conteúdo negativo não traumático sejam menos acessíveis à recordação, particularmente

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no caso de memórias mais antigas, que sofrem maior pressão por coerência interna do que correspondência externa (Conway & Pleydell-Pearce, 2000).

Uma forma de investigar esta hipótese é a utilização de procedimentos que induzam estados de humor negativo leves e passageiros. Evidências indicam que a recordação de eventos é facilitada quando o contexto inicial de codificação é replicado (para uma revisão, Smith & Vela, 2001). Assim, pessoas em estado de humor negativo tem maior facilidade para lembrar-se de memórias negativas (Williams, 1984). Procedimentos de indução de humor (por exemplo, filmes, cenários fictícios e tarefas cognitivas) permitem explorar esta questão experimentalmente. Esta metodologia tem sido usada amplamente em pesquisas experimentais, e geram estados de humor suaves e transitórios (Argyle, 1987; Frost & Green, 1982; Isen & Gorgoglione 1983, Martin, 1990), dentro do escopo de respostas emocionais normais experimentadas diariamente pela maior parte das pessoas.

O uso destes procedimentos permite ainda investigar em grupos saudáveis características normalmente associadas com condições clínicas, como a depressão. Uma série de estudos indicou como pacientes diagnosticados com depressão tendem a ter memórias autobiográficas excessivamente gerais, não conseguindo fornecer detalhes episódicos para eventos ocorridos em suas vidas (Williams et al., 1997). No entanto, não há clareza se este efeito é causado pelo estado de humor dos participantes ou por outras características associadas aos transtornos depressivos. A utilização de matérias emocionais em sujeitos saudáveis possibilita isolar estas variáveis.

O aspecto da generalidade de memórias é encontrado não só em grupos clínicos, como também em idosos (Levine et al., 1997). A redução da episodicidade das memórias é um dos aspectos associados com o envelhecimento, e pode estar associada com perda de neurônios no hipocampo, uma estrutura chave na formação e consolidação de memórias ricas em detalhes contextuais (Squire, 1987). Este fenômeno foi estabelecido na comparação de grupos de jovens adultos com idosos, mas até então nenhum estudo explorou alterações estruturais da memória em pessoas de meia idade comparadas com jovens.

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OBJETIVOS

Os principais objetivos do projeto são:

I – Investigar o perfil da memória autobiográfica em uma amostra brasileira, comparando-o com a curva obtida em estudos anteriores realizados em outros países. II – Explorar se uma curva de reminiscências pode ser obtida para memórias negativas através da exposição prévia de participantes a materiais com conteúdo emocional negativo.

PROGRESSO DA BOLSISTA DURANTE O PRIMEIRO ANO

A primeira tarefa da bolsista foi entrar em contato com o embasamento teórico, já anteriormente realizado, da pesquisa, de modo que pudesse haver uma contextualização da mesma. Através desse primeiro passo, foi possível entrar em maior contato com os fins da pesquisa e suas motivações, além de outros estudos realizados sobre o tema. Após esse primeiro contato, iniciou-se a coleta de dados. Um total de 36 participantes incluídos nas características preestabelecidas para amostra foram testados, com metade da amostra tendo sido testado após indução de humor negativo enquanto a outra foi induzida a um estado de humor neutro. As informações coletadas com os sujeitos da pesquisa foram incluídas em um banco de dados anônimo.

A análise dos dados foi realizada dividindo os participantes em um grupo controle (com indução de humor neutro) e um grupo experimental (com indução de humor negativo). Análises da distribuição das memórias foram feitas separadamente para cada grupo e estatística inferencial foi utilizada para comparar os dois grupos (abaixo).

METODOLOGIA Participantes

O estudo foi constituído de uma amostra de sujeitos de meia idade, entre 40 e 60 anos. Os participantes foram recrutados através de anúncios na PUC-Rio e proximidades da universidade, bem como através de abordagem mais direta, sendo as pessoas convidadas a participarem da pesquisa. Os grupos foram pareados para variáveis demográficas como gênero e nível educacional. Como critérios de inclusão para os participantes foi estabelecido uma escolaridade mínima de 4 anos e serem alfabetizados. Os critérios de exclusão foram a presença de uma história atual ou prévia de doença psiquiátrica ou

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neurológica, historia de traumatismo craniano ou histórico de abuso de álcool ou drogas (baseado em critérios do CID-10). Todos os participantes preencheram um termo de consentimento livre e esclarecido concordando em tomar parte da pesquisa.

Instrumentos

Utilizou-se o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) como um rastreio de sintomas depressivos. Para medição do estado afetivo dos participantes, um questionário de auto-relato foi usado antes e depois do filme. Em relação à tarefa de memória autobiográfica, participantes tinham que informar a idade em que a memória aconteceu, além de classificar em uma escala de 1 a 8 seu grau de positividade e sua influência na formação da identidade.

Procedimento

Dados demográficos, como idade e escolaridade, foram coletados com os participantes antes do início dos testes. Participantes também responderam a um questionário investigando a presença de sintomas depressivos (Inventário de Depressão de Beck), para fins de critérios de exclusão da análise dos resultados. Em seguida os participantes realizaram o procedimento experimental.

Material com conteúdo emocional

Antes da tarefa de memória autobiográfica, os participantes assistiram a um filme. Metade dos participantes foi exposto a um breve filme de conteúdo neutro, contendo cenas da natureza. A outra metade dos participantes assistiu a cenas selecionados de um filme com conteúdo negativo (Iris, censura 12 anos). O filme foi eficaz em induzir de forma bem sucedida os estados de humor desejados, sem, no entanto, causar qualquer reação adversa ou extrema.

Para cada respectivo grupo da amostra (neutro e negativo), logo após o filme os participantes foram expostosa um repertório de musicas que pudesse dar continuidade ao estado até humor atingido através da indução do humor. Antes da reprodução do vídeo escolhido (com conteúdo neutro ou negativo), mediu-se o estado afetivo, sendo esse mesmo procedimento feito após o vídeo. Esse procedimento foi feito através de

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perguntas que medem o estado de humor (ex. "Quão triste/feliz/assustado/relaxado você está neste momento?"), utilizando uma escala de 0-4 pontos, sendo "0" nada da emoção e "4" a extremidade dessa emoção. Antes de dar continuidade e iniciar a tarefa de memória autobiográfica, iniciou-se a reprodução da lista de música escolhida (neutra ou negativa). Ao final da tarefa de memória, houve uma nova avaliação do estado afetivo. Na possibilidade de algum participante ainda se sentir triste ao final da sessão, um filme com conteúdo positivo estava planejado para o final do procedimento para que o participante voltasse ao estado emocional do início da sessão, mas isso não foi necessário.

Tarefa de memória autobiográfica

Os participantes são testados individualmente com uma versão modificada da Autobiographical Interview (Levine et al., 2002) , que mede não só o período a que se refere a memória, mas também características da memória, como, por exemplo, episodicidade. Participantes tinham que se lembrar de memórias específicas de qualquer período de suas vidas, com exceção dos últimos 12 meses, fornecendo uma descrição detalhada de eventos que foram pessoalmente experimentados e que ocorreram em um tempo e lugar específico. Os participantes foram instruídos a relatar a primeira memória que lembrassem, sem rejeitar nenhuma memória, enfatizando que estas poderiam ser de eventos positivos ou negativos. Sendo também instruídos que quaisquer memórias com conteúdos extremamente pessoais podem permanecer a escolha do participante privados. As memórias dos participantes foram gravadas e armazenadas em um banco de dados anônimo. Ao final da descrição de cada memória, os participantes tiveram que situar temporalmente a memória, bem como avaliar o quão prazerosa foi em uma escala de 1 (nada prazerosa) à 8 (extremamente prazerosa) e o quanto ela influenciou a pessoa a ser quem ela é, novamente em uma escala de 1 (nenhuma influência) à 8 (máxima influência).

RESULTADOS

Uma ANOVA de design misto, com filme como fator entre-sujeitos (2: filme neutro x filme negativo) e tempo como fator intra-sujeitos (2: antes e depois do filme) indicou uma interação, com o grupo exposto ao filme negativo apresentando passageiras

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alterações em seu estado de humor (humor mais negativo; p = .004), ao passo que o grupo exposto ao filme neutro não alterou seu humor (p = .667). Isto sugere que o procedimento de indução de humor foi bem-sucedido.

Os resultados sugerem uma curva de reminiscências para o grupo controle, mas uma distribuição mais homogênea em termos de idade da memória para o grupo exposto ao filme negativo. Observou-se um efeito de incongruência de humor, com os participantes do grupo exposto ao filme negativo evocando memórias mais positivas do que o grupo de controle (χ2 (2) = 6.05, p = .049). Não houve diferença em termos do nível de influência das memórias (χ2 (2) = 1.22, p = .544). Participantes do grupo negativo, evocaram memórias com idade de ocorrência mais alta do que participantes do grupo de controle (t (538) = 3.55, p < .001).

DISCUSSÃO

A curva de reminiscências encontrada em estudos realizados em outros países também foi constatada com a amostra de sujeitos brasileiros. Além disso, para o grupo exposto ao filme negativo constatou-se o resgate de memórias mais recentes, isto é, em idade mais tardia. Esse efeito pode ocorrer em função desses indivíduos estarem em um estado de humor negativo, evitando memórias mais antigas e positivas que contribuam para a construção de uma narrativa de vida.

O efeito de incongruência de humor observado na análise dos resultados pode ser relacionado a dois rumos diferentes aderidos pelos sujeitos da pesquisa: 1) o sujeito busca um efeito de compensação para seu estado de humor triste, evocando memórias com um conteúdo emocionalmente positivo que possam elevar seu estado de humor; 2) o sujeito evoca memórias que supõe serem apropriadas aos fins do pesquisador, preferindo relatar memórias com um conteúdo mais positivo.

PLANEJAMENTO FUTURO

Como meta para o futuro da pesquisa estão definidos a investigação da especificidade e generalidade das memórias negativas coletadas, bem como a preparação de produções, tais como artigos e apresentações em conferência. Os resultados obtidos na pesquisa serão apresentados na Jornada de Iniciação Científica da PUC-Rio, ainda este ano. Os resultados são inovadores e, mantendo-se desta forma ao final da coleta de dados,

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devem gerar pelo menos uma publicação em revista internacional. Os dados poderão também ser usados para a monografia da bolsista. O estudo terá agora uma nova fase com a coleta de dados com jovens adultos.

REFERÊNCIAS

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