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EDUCAÇÃO NO CHILE - Nosso desafio é ter um currículo viável

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Academic year: 2021

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Foto: Enrique Siques

Prática Pedagógica

EDUCAÇÃO NO CHILE

-Nosso desafio é ter um

currículo viável

Depois de implantar uma ampla reforma no Ensino Básico

e no Médio, a educação chilena investe na reestruturação

dos conteúdos, na avaliação e na formação de professores

NOVA ESCOLA

Nas últimas quatro décadas, a educação no Chile passou por uma revolução. Primeiro, abriu as portas para a totalidade das crianças e jovens entre 6 e 17 anos. Em seguida,

aumentou a participação da rede particular subvencionada e transferiu para os municípios a responsabilidade de administrar escolas e liceus (que oferecem ensino

profissionalizante). A batalha dos 15 últimos anos foi no sentido de melhorar a qualidade do ensino e de garantir bons resultados na aprendizagem para todos os alunos.

Essa série de ações culminou em uma ampla reforma do sistema, iniciada no governo do presidente Eduardo Frei (1994-2000) e que está em curso até hoje, sob o comando do sociólogo Cristián Cox. O Chile tem atualmente cerca de 2,34 milhões de estudantes no Ensino

Básico (oito séries) e 896,5 mil no Ensino Médio (quatro séries), distribuídos em 10803 escolas e atendidos por 147 mil professores. Somente para efeito de comparação, o número de alunos equivale à quantidade de matrículas no Ensino Fundamental nas redes pública e privada da Bahia, que tem o dobro de escolas e 10 mil professores a menos.

"Hoje nosso desafio é passar do desejado ? e ambicioso ? para o viável,

organizando um currículo possível de ser aplicado nas condições reais de sala de aula", confessa Cox. Ele conta ainda como o governo de seu país incentiva professores competentes e os programas que ajudam escolas em

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Como o Chile conseguiu manter a mesma política educacional durante os últimos 15 anos?

De 1990 para cá, os governos que se sucederam pertenciam à mesma aliança política de centro-esquerda. Mas também tomamos muitos cuidados: as mudanças estratégicas foram feitas somente com acordos entre o governo e a oposição e mantivemos o pessoal técnico em suas funções, o que foi

fundamental na implementação da reforma. Não houve nenhum acerto de rumo?

Sim, houve, mas sempre sobre o que já havia sido construído. Um exemplo foi a reforma curricular do Ensino Básico. Em 1997, iniciamos programas de formação para esclarecer os objetivos de aprendizagem. Mas eles eram ambiciosos e genéricos e não deixavam claros os caminhos que deveriam ser trilhados para atingir essas metas, o que exigia muito dos professores. Ao perceber isso, cinco anos depois, elaboramos documentos com metas explícitas de aprendizagem, conteúdo e seqüência. Alguns consideram esse material muito dirigido, mas não nos envergonhamos disso, pois nossos educadores precisavam de mais apoio do que julgávamos necessário. Quais foram as principais mudanças no currículo?

Fixamos as metas de aprendizagem, deixamos explícitas as maneiras de atingi-las e introduzimos conteúdos voltados para o desenvolvimento de competências. Antecipamos as aulas de Inglês da 7ª para a 5ª série, substituímos os trabalhos manuais por educação tecnológica e fixamos objetivos transversais de natureza moral e intelectual.

Qual o objetivo dessas modificações no currículo?

Fazer com que os alunos compreendam a complexidade e as tensões existentes entre direitos e responsabilidades, colaboração e concorrência, globalização e identidade cultural, fé e ceticismo. Queremos despertar neles a capacidade de abstrair, de pensar em sistemas, de resolver problemas, de trabalhar em equipe e de lidar com incertezas.

Quanto tempo foi necessário para que o novo currículo entrasse em vigor? Introduzimos a novidade envolvendo uma série do Básico e outra do Médio por ano. Assim, a seqüência escolar completa para as 12 séries demorou seis anos (de 1997 a 2002).

Como os professores foram preparados para ensinar dentro das novas diretrizes?

No verão anterior à entrada de cada nova série, os docentes freqüentaram cursos de uma semana, oferecidos pelas universidades que ganharam licitações do Ministério da Educação. Fizemos ainda jornadas de revisão e orientação no final do primeiro semestre de cada ano letivo.

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As escolas particulares foram envolvidas nessa transição?

No Chile, aproximadamente 38% dos alunos do Ensino Básico e do Médio estudam em escolas particulares subvencionadas pelo Estado. O governo não faz distinção entre elas e as municipais no que diz respeito a incentivos à qualidade. Por isso, a maioria delas adota nossos programas, apesar de terem liberdade para criar os próprios.

O Chile ainda enfrenta alguma dificuldade na área da educação?

Precisamos melhorar a universidade que forma os professores e incentivar políticas mais efetivas de aprimoramento profissional. Só assim será possível pôr em prática um currículo acessível a todos.

O que o governo do Chile está fazendo para capacitar os docentes?

Estamos propondo que os educadores do Ensino Básico sejam especialistas em alguma disciplina, ao contrário do que ocorre atualmente. Quanto à formação contínua, criamos cursos de excelência, nos quais os colegas trocam experiências aos pares, por meio da própria prática e reflexão,

sistema que dá mais resultados do que se eles estivessem em aulas teóricas com professores universitários. Optamos por deixar de lado a massificação para obter efeitos mais significativos.

Como o Chile avalia seu sistema de ensino?

Aplicamos as primeiras provas no 4º e no 8º ano em 1982, 1983 e 1984 para fins de censo. Em 1988, esses exames foram institucionalizados no Sistema de Medição da Qualidade da Educação (Simce) que desde então avalia uma série por ano, intercalando a 4ª, a 8ª e a 10ª série, nas áreas de Línguas, Matemática, História e Ciências.

O desempenho dos professores é analisado?

Sim. Os primeiros testes com os educadores foram em 2002 e eram opcionais, mas já no ano seguinte eles tornaram-se obrigatórios após um acordo entre o sindicato dos professores, o Ministério da Educação e a Associação dos Municípios.

O que acontece quando um professor não é bem avaliado?

Quem estiver nas categorias "básico" ou "insatisfatório" deve seguir um plano de aprimoramento profissional. No ano seguinte, ele será reavaliado: caso repita o resultado anterior, não será mais responsável pela disciplina, mas continuará sendo orientado em sua capacitação. Se depois disso ele fracassar novamente, deverá abandonar o ensino.

Que vantagens tem o educador bem avaliado?

Além de fornecer uma visão sobre o desempenho de cada um, o sistema oferece a quem for considerado "competente" um bônus salarial que varia entre 15% e 25% da remuneração básica nacional. A porcentagem depende

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do resultado de um exame de conhecimentos disciplinares e pedagógicos. Quais as providências tomadas quando alunos de determinada escola não aprendem satisfatoriamente?

Temos um projeto experimental, feito na região de Santiago, em que damos atenção especial a alunos com os piores resultados de aprendizagem e a seus professores. No primeiro ciclo do Ensino Básico estamos implementando a campanha Linguagem, Escrita e Matemática, dando capacitação em didática aos docentes, com monitores selecionados e preparados pelo ministério. Estamos chegando à conclusão de que algumas escolas precisam mudar o corpo docente ou encerrar as atividades.

Alguma escola foi fechada?

Até agora não. Pessoalmente, acredito que seja necessário em alguns casos para garantir à família e à sociedade que a educação pública manterá um padrão de qualidade. E temos ainda o Projeto 900, que funciona desde março de 1990.

Quais as principais ações do Projeto 900?

O projeto inaugurou o início da discriminação positiva na educação chilena, dando atenção especial às 900 escolas com os piores resultados de

aprendizagem em todo o país. Esse programa fornece material didático e monta bibliotecas de ensino; desenvolve workshops de aprendizagem em horários alternativos para crianças com atraso escolar ou com problemas socioafetivos. Monitores da comunidade, que são bolsistas capacitados pelo Ministério da Educação, dão oficinas para os docentes. As escolas atendidas por esse projeto aumentam as pontuações no sistema de avaliação numa proporção superior à obtida pelas demais.

Parcerias entre empresas e escolas ajudam a melhorar os resultados do ensino?

Esse é um caminho promissor. A cooperação entre o governo e os setores privados no Chile tem caráter estrutural, por causa da subvenção dada à rede privada. Além disso, há leis que favorecem doações de empresas à educação. Qual o caso de parceria de maior sucesso no Chile?

Há uma que ocorre há duas décadas, na educação técnica profissional: grupos empresariais -- da indústria, da mineração, da agricultura e da

construção -- administram 51 liceus financiados publicamente. Os perfis para concluintes do curso foram elaborados em conjunto pelos mundos produtivo e educacional.

Quais os critérios para avaliar a eficiência das parcerias?

Elas devem se comprometer com a aprendizagem de competências fundamentais, como ler, calcular e usar diversos códigos de linguagem,

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conhecimentos básicos na sociedade do conhecimento e da globalização. Só assim haverá progresso.

Como estará o sistema educativo chileno daqui a dez anos?

Nossa sociedade não reduzirá a pressão para o Estado continuar a investir e a melhorar as oportunidades de aprendizagem. Esperamos elevar nossos padrões de desempenho e reduzir a desigualdade na distribuição da aprendizagem produzida pela educação.

Sociólogo formado pela Universidade Católica do Chile e doutor pela

Universidade de Londres, Cristián Cox foi responsável pelo planejamento e pela execução do Programa de Melhoria da Qualidade e Eqüidade da Educação (Mece). Desde 1997 é coordenador da Unidade de Currículo e Avaliação do Ministério da Educação do Chile, de onde lidera a reforma curricular que está sendo feita desde a pré-escola até o Ensino Médio.

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/conteudo/981/educacao-no-chile-nosso-desafio-e-ter-um-curriculo-viavel

Referências

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