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LEGADOS ESPERADOS DA COPA DO MUNDO DE FUTEBOL EM 2014 E DOS JOGOS OLÍMPICOS EM 2016

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LEGADOS ESPERADOS DA COPA DO

MUNDO DE FUTEBOL EM 2014 E DOS

JOGOS OLÍMPICOS EM 2016

Felipe Ferreira de Lara (USP ) fflara@yahoo.com.br

É possível identificar diversas pesquisas analisando o impacto de megaeventos esportivos. A maior parte dos estudos tem focado a relação entre os benefícios econômicos advindos frente aos gastos envolvidos na realização do megaevento em currto prazo, derivados de estímulos de demanda induzida por ele. No entanto, estudos que analisem de forma mais crítica os legados em todas as esferas, não só econômicas, são raros. Desse modo, a pesquisa parte de uma análise exploratória de modo a investigar os legados possíveis, positivos e negativos, dos futuros megaeventos nacionais. Pode-se perceber um alinhamento entre o discurso do governo brasileiro e dos organizadores tanto da Copa do Mundo em 2014 quanto das Olímpiadas no Rio de Janeiro em 2016 e a literatura relevante. Porém, é importante se atentar às futuras pesquisas que venham a analisar a eficiência e eficácia das ações desenvolvidas assim como análise dos gastos públicos utilizados. Outro fator a se atentar é se foram de fato aproveitadas todas as oportunidades de desenvolvimento para que o legado seja em longo prazo, sendo atingido o objetivo de firmar a imagem de um país com economia sólida e estabilidade política e econômica.

Palavras-chaves: Jogos Olímpicos, Copa do Mundo de Futebol, Legados de Megaeventos, Gestão Esportiva

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2 1. Introdução

Tanto na literatura nacional (PRONI, 2009; UVINHA, 2009; BRAGA; SANTOS, 2011; TAVARES, 2011) quanto internacional (BAADE; MATHESON, 2004; KIM et al., 2006; MULLER; MOESCH, 2010; FEDDERSEN; MAENNIG, 2012; NICOLAU, 2012; WALKER et al., 2012) é possível identificar diversas pesquisas analisando o impacto de megaeventos esportivos.

A maior parte dos estudos tem focado na relação entre os benefícios econômicos frente aos gastos envolvidos na realização do megaevento em curto prazo, derivados de estímulos de demanda induzida por ele (LEE; TAYLOR, 2005; MULLER; MOESCH, 2010; KIM; WALKER, 2012; NICOLAU, 2012). No entanto, estudos que analisem os legados em todas as esferas, não só econômicas, são raros, sendo importante diferenciar o que traz impacto econômico e o que traz desenvolvimento econômico (MILLS; ROSENTRAUB, 2013). Os megaeventos colocam processos importantes em movimento, fato que envolve o investimento de recursos vultosos, gerando riscos e oportunidades para as cidades e países que os sediam. A discussão do legado é o modo de tentar reduzir os riscos e aumentar os benefícios que podem resultar do evento (EMERY, 2010; BRAGA; SANTOS, 2011).

Por megaevento esportivo entende-se um evento de curto prazo com consequências em longo prazo para a(s) cidade(s)-sede(s). O termo "mega" também se refere à capacidade promocional de se transmitir mensagens para milhões de pessoas no mundo todo através da atenção de toda a mídia (RITCHIE, 2000).

Uma vez que o Brasil irá sediar os principais megaeventos esportivos mundiais nos próximos anos, com a realização em diversas cidades-sede da Copa das Confederações (2013) e da Copa do Mundo de Futebol (2014) e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos (2016), o país ao mesmo tempo em que dispõe de uma oportunidade ímpar para incrementar o desenvolvimento de áreas como turismo, infraestrutura urbana e da força política internacional, entre outras, também precisa se atentar para efeitos inversos como gastos excessivos e falhas na organização que venham a contribuir para consolidar uma imagem de má administração.

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3 De acordo com Madruga (2008), entre os anos de 1995 e 2005, o esporte cresceu acima de 7,0% em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e, atualmente, as atividades de produção, comércio e serviços relacionadas ao esporte em geral compõem 1,95% do PIB nacional. Em termos percentuais, 1,75% tem origem em gastos do setor privado e o outro 0,20% em investimentos do setor público (MADRUGA, 2008).

Desse modo, dada a importância e o crescimento econômico que a indústria do esporte vem obtendo tanto no cenário nacional quanto internacional, o presente artigo pretende, de forma exploratória, analisar e discutir os principais legados e riscos envolvidos na realização de megaeventos esportivos. Para isso, o artigo se divide em uma revisão teórica sobre o legado de megaeventos esportivos, uma breve apresentação do discurso do governo brasileiro em relação ao legado desses eventos e o contraponto e as críticas em relação às ações estabelecidas pelos organizadores. Por fim, se apresentam as considerações finais.

2. Legado de Megaeventos Esportivos

No momento em que uma cidade ou um país decide acolher um megaevento esportivo, entende-se a necessidade de investir na organização destes eventos. Uma vez que os recursos são escassos, os poderes que regem essa organização devem justificar esses investimentos como essencial ao bem-estar da população. Suas justificativas são descritas como o “legado” do evento (RAEDER, 2008; CURI et al., 2011).

Muitas vezes a aplicação desses recursos é impulsionada em grande parte pelo raciocínio político, em vez de análise objetiva detalhada e os resultados podem ser supervalorizados por questões políticas, de modo a legitimar os gastos do governo, que são vitais para viabilizar a realização dos eventos (PRONI, 2009; BRAGA; SANTOS, 2011; FEDDERSEN; MAENNIG, 2012).

Feddersen e Maennig (2012), por exemplo, estudaram o impacto da Copa do Mundo de 2006, realizada na Alemanha, em oito indústrias diferentes (Comércio por Atacado, Comércio Varejista, Comunicação, Construção, Engenharia, Esportes e Entretenimento, Hospitalidade, Publicidade e Sistemas de Transportes) e verificaram apenas impacto positivo na indústria da Hospitalidade, no curto prazo. Baade e Matheson (2004) também não identificaram nenhum

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4 impacto significativo sobre aumento na renda regional e/ou emprego após a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos.

De acordo com Emery (2010), o sucesso na gestão de um megaevento esportivo se baseia na gestão eficaz e eficiente da relação entre o tríplice Esporte, Mídia e os Financiadores, bem como no sucesso em se limitar o acaso. Além disso, com base nos drivers históricos da indústria de eventos esportivos, também é importante a compreensão da economia, tecnologia e cultura de modo a garantir o profissionalismo global no segmento (EMERY, 2010).

A realização de um megaevento não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas sim parte de um plano de desenvolvimento em longo prazo. Essa realidade é ainda mais pertinente para os países em desenvolvimento, onde os resultados trarão maiores benefícios. Após a realização do megaevento, muitas vezes há mérito no desenvolvimento de um conjunto contínuo de eventos menores que utilizam a infraestrutura construída para o megaevento e podem reforçar o perfil e a reputação da cidade-sede ao longo do tempo (JAGO et al., 2010). Os legados são cruciais e devem ser substancialmente considerados no planejamento de um megaevento em questão. É importante reconhecer que podem ser físicos, em termos de infraestrutura, mas também podem estar relacionados ao desenvolvimento de competências e de uma imagem internacional melhorada (JAGO et al., 2010).

O quadro 1 apresenta os alguns dos principais possíveis legados positivos de megaeventos esportivos analisados na literatura.

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5 A troca de experiências sobre eventos anteriores com outras cidades e países que já sediaram eventos deste porte é fundamental para orientar as iniciativas e definir o impacto causado, assim como o legado resultante. Se a experiência de legados e impactos é pouco transferível, o referencial teórico e as experiências de pesquisa anteriormente realizadas podem perfeitamente servir de referência. É preciso também avançar do conhecimento tácito para o conhecimento empírico sobre megaeventos e seus legados (BRAGA; SANTOS, 2011; TAVARES, 2011).

De acordo com Uvinha (2009), pode-se afirmar que os Jogos Olímpicos realizados em Pequim, em 2008, representaram para a China uma oportunidade de divulgação de sua cultura para o ocidente, reforçando seu valor de potência internacional ao representar força na vitória, contestar supostas deficiências e expressividade de seu coletivo.

A Coréia do Sul, juntamente com o Japão, sediou a Copa do Mundo de Futebol em 2002. O megaevento forneceu uma oportunidade única para a comunidade sul-coreana mostrar suas habilidades, desenvolver negócios, contatos, parcerias e investimentos, e para promover a consciência internacional de uma nova economia inovadora emergente. Além disso, o sucesso da equipe sul-coreana no campo promoveu um sentimento de orgulho nacional e de coesão que dificilmente pode ser mensurado em valores econômicos (LEE; TAYLOR, 2005).

Recentemente o Brasil teve uma experiência em organizar um megaevento esportivo, os Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro, em 2007. No entanto, de acordo com Curi et al. (2011) o comitê organizador foi eficiente ao separar o evento do restante da cidade do Rio de Janeiro, dividindo a realidade pobre e violenta da cidade com os eventos festivos dos jogos.

No caso dos Jogos Olímpicos em 2016, também sediados no Rio de Janeiro, tanto a Vila Olímpica quanto a maior parte das instalações estarão localizadas a 35 quilômetros da principal área hoteleira (Ipanema e Copacabana) da cidade, onde a maior parcela do público ficará hospedada. Essa enorme distância representa um desafio e foi proposto um caro programa de melhorias no transporte urbano que, em grande medida, seriam necessárias mesmo que o Rio não fosse sediar os Jogos (PRONI, 2009).

No entanto, para garantir que os interesses da maioria da população sejam atendidos, é importante que não se restrinjam a esperar ações de representações e de mediadores, uma vez que a divisão dos legados será função do peso dos diferentes agentes nesta discussão. Como são altos os valores envolvidos, diferentes agentes econômicos se preparam para intervir nos

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6 destinos destes investimentos, buscando o maior favorecimento possível (por exemplo, especulando com imóveis, tentando favorecer seus negócios) (BRAGA; SANTOS, 2011). Além disso, as avaliações dos legados não podem ser desenvolvidas exclusivamente pelos organismos governamentais, sob pena de somente se ressaltar os aspectos positivos. Temas como alterações no padrão de prática de esporte da população após o evento; desenvolvimento do turismo; relação entre o discurso ambientalista e a efetiva existência de sustentabilidade; benefícios na área de transportes; transformação da cidade em prol das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e o uso da infraestrutura esportiva pós-evento são temas que devem ser pesquisados efetivamente (GOLD; GOLD, 2008).

Vale ressaltar que o apoio da comunidade local é determinante para o sucesso de um megaevento esportivo. O ativo envolvimento no planejamento e gestão do evento é que determinará o valor do futuro legado. Além disso, os megaeventos mais bem sucedidos no mundo foram aqueles que se dedicaram à comunidade local. Quanto mais a comunidade entende os benefícios que podem advir a partir do evento, maior a probabilidade de serem solidários e fornecer o nível apropriado de hospitalidade aos visitantes (JAGO et al., 2010).

3. O discurso do governo brasileiro

De acordo com o Ministério do Esporte (2010) os ganhos econômicos advindos da realização da Copa do Mundo de Futebol em 2014 no país foram projetados com base nos fatores do PIB (Produto Interno Bruto), conforme se mostra o quadro 2, já considerando os efeitos de importações.

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7 Além dos benefícios econômicos, projeta-se ganhos em outras esferas. Uma das expectativas é o aumento da visibilidade internacional, com a mudança na imagem brasileira no exterior, em função da maior exposição de produtos e serviços, sobretudo daqueles nos quais o Brasil tenha vantagens competitivas (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2010).

Também se estimam ganhos no turismo com a maior divulgação de atrações turísticas regionais e ampliação do turismo interno, e ganhos na infraestrutura, com a melhoria da qualidade de serviços/qualidade de vida para a população, com ganhos de produtividade no setor privado e com a criação de novos polos de desenvolvimento (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2010).

Além disso, a perspectiva geral a partir da realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil em 2014 é agregar novos fatores à imagem internacional do país. Espera-se passar, além de atributos do Brasil já conhecidos no exterior como um povo receptivo e um país de grande beleza natural e diversidade cultural, espera-se transmitir a visão de que o país vem desenvolvendo uma economia sólida, promovendo a estabilidade econômica e política e o desenvolvimento com justiça social (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2011).

De modo a garantir a divulgação de uma imagem com novos atributos do país, o Plano de Promoção do Brasil, estabelecido pelo Ministério do Esporte, em parceria com outras esferas públicas, considera três eixos principais, como pode ser visto no quadro 3.

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8 Já em relação aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016, de acordo com o Comitê Olímpico Brasileiro (2009) (COB) a expectativa é aproveitar ao máximo os recursos naturais da cidade e a experiência adquirida pela cidade em outros eventos esportivos de menor porte já realizados. Mais de US$ 2 bilhões já foram investidos em infraestrutura e nas instalações dos Jogos Panamericanos Rio 2007, fornecendo assim grande parte dos fundamentos para o projeto Rio 2016 (COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO, 2009).

O Plano Mestre dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 concentrou grande parte de sua atenção à modernização da infraestrutura, sobretudo das novas instalações esportivas, a

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9 renovação da zona portuária e também melhorias no setor de segurança e transporte. Também foi criado o Comitê de Legado Olímpico Rio 2016, uma aliança composta pelas esferas pública, privada, COB e por grupos e organizações da comunidade, para supervisionar todos os projetos associados ao legado Olímpico de 2009 até 2020 (COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO, 2009).

Por fim, além do legado físico das instalações esportivas e dos voluntários treinados para os Jogos, o plano de legado estabelecido pelo COB pretende ainda funcionar como um norteador de iniciativas que visam o desenvolvimento do esporte no Brasil, como o fomento de bolsas para jovens atletas brasileiros de talento e instalações de treinamento a serem construídas para os Jogos (COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO, 2009).

4. Críticas e aspectos negativos

Se por um lado há a possibilidade de se identificar possíveis legados, por outro, no entanto é possível se observar possíveis aspectos negativos. Questões como o aprofundamento de desigualdades sociais, mercantilização do espaço público, vultosos investimentos de dinheiro público aplicados em obras não prioritárias e a real divisão dos lucros e benefícios do empreendimento são temas importantes e não devem ser desconsiderados nas discussões (CALDAS et al., 2012).

Do ponto de vista econômico, é possível que ocorram aumentos nos preços de serviços e da habitação; desvio de recursos de outros setores para o megaevento; impactos sobre a taxa de câmbio. No campo social é muito provável congestionamentos; ruídos; aumento na criminalidade; diminuição de investimentos no esporte para a comunidade em detrimento ao esporte de elite. Ainda corre-se o risco de ter o valor da “marca” nacional manchada devido a problemas no evento, danos ao meio ambiente, consumo excessivo de energia e até mesmo alvo de terrorismo internacional devido ao perfil de mídia (KIM et al., 2006; JAGO et al., 2010).

Além da academia, a mídia nacional também tem deixado em segundo plano a discussão sobre valores éticos, focando principalmente os aspectos técnicos, econômicos e utilitários dos futuros megaeventos nacionais. Analisar a questão somente do ponto de vista financeiro

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10 reforça, portanto, que a racionalidade mais imediatista, baseada em resultados mensuráveis, tem um poder de difusão muito maior que a racionalidade substantiva (SILVA et al., 2011). É importante ressaltar que os investimentos em megaeventos embora contribuam para atividade econômica, também podem elevar os custos de oportunidade para o setor público com a consequente redução de outros serviços públicos, aumentar empréstimos por parte do governo e a gerar impostos mais altos (DOMINGUES et al., 2011).

De acordo com Freitas e Barreto Júnior (2011), alguns fatores a serem monitorados são extremamente relevantes. O primeiro deles se relaciona à corrupção: o Brasil está, particularmente, mais vulnerável às ações dos cartéis, como o do cimento e da siderurgia, e dos oligopólios das empresas de construção civil e as maiores empresas desses segmentos tem conquistado a maior parte das obras públicas com extrema facilidade.

Outro fator relevante está relacionado ao mecanismo de financiamento dos empreendimentos: os estádios para 2014, por exemplo, serão financiados com recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), proporcionando recursos do Tesouro a taxas subsidiadas. O grande risco se identifica na deficiência da análise dos projetos, para as quais não há um critério transparente, e no acompanhamento visando os desembolsos, que não levam em consideração o valor agregado por etapa (FREITAS; BARRETO JÚNIOR, 2011).

Ainda vale ressaltar os aspectos intangíveis, como por exemplo, para o Rio de Janeiro e os Jogos Olímpicos, onde é importante se monitorar o nível de despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas Rodrigo de Freitas, de Jacarepaguá e Marapendi. Outros aspectos como a realização de estudos qualitativos poderiam também monitorar a conscientização e a responsabilidade para com os recursos sociais, culturais e ambientais envolvidos na realização do evento (SILVA et al., 2011).

Um recente são os Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim, na China, que embora tenham contribuído para intensificar o processo de modernização da capital chinesa, se baseou na construção de uma série de ícones arquitetônicos altamente emblemáticos, que viessem a criar uma representação visual vigorosa de uma nova realidade audaciosa e moderna, cujo preço era tão espetacular quanto (BROUDEHOUX, 2011).

Desse modo, vale ressaltar que os projetos olímpicos de Pequim fizeram parte de um “teatro” de poder utilizado pelo governo para reafirmar sua legitimidade como liderança única no país,

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11 assim como contribuíram para distrair a atenção pública das mazelas desse processo de reurbanização intensiva. Ao investir em determinados setores da cidade, os Jogos de Pequim contribuíram para concentrar ativos em um pequeno grupo com ligações estreitas com o Partido, conferindo-lhes maior influência no processo de tomada de decisões (BROUDEHOUX, 2011).

Por fim, é importante se lembrar de que existem interesses, também, na manutenção da marca valorizada (seja a Olímpica ou a da FIFA), e consequentemente no constante incremento do faturamento das instituições proprietárias das marcas. Para este fim é necessária uma articulação perfeita entre a venda da exclusividade de direitos de transmissão, a venda de “parcerias” exclusivas por categoria de produto e as cidades em disputa para sediar os eventos. Assim, a força de barganha e as exigências das detentoras da marca estão cada vez maiores e, com isso, mais espetacular tem se tornado a produção dos eventos (mesmo a altos custos econômicos, sociais e políticos) (CALDAS et al., 2012).

5. Considerações finais

De certo modo, pode-se perceber um alinhamento entre o discurso do governo brasileiro e dos organizadores tanto da Copa do Mundo de Futebol em 2014 quanto dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016 e a produção bibliográfica tanto internacional quanto nacional acerca dos legados de um megaevento esportivo.

As esferas relacionadas à Cultura, Economia, Imagem, Infraestrutura e Turismo foram os temas mais recorrentes identificados na literatura. Ao analisar o discurso dos organizadores dos megaeventos, como o Plano de Promoção do Brasil para a Copa do Mundo de 2014, por exemplo, verifica-se o entendimento e o planejamento no sentido de potencializar o desenvolvimento regional, de criar meio de valorizar a “marca Brasil” não só como um destino turístico, mas também como um polo de negócios e desenvolver a infraestrutura nacional.

No caso dos Jogos Olímpicos em 2016, por sua vez, estabeleceu maior foco em questões infraestruturais urbanísticas, estabelecendo como meta o incentivo aos jovens e consolidar a cidade como um destino turístico. Vale ainda ressaltar a participação de todas as esferas pública, privada, COB e por grupos e organizações da comunidade.

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12 No entanto, apesar do discurso otimista dos organizadores, é importante se atentar às futuras pesquisas que venham a analisar a eficiência e eficácia das ações desenvolvidas assim como análise dos gastos públicos utilizados, se seguiram o plano desenvolvido. Outro fator a se atentar é e se foram de fato aproveitadas todas as oportunidades de desenvolvimento para que o legado seja em longo prazo, sendo atingido o objetivo de firmar a imagem de um país com economia sólida e estabilidade política e econômica.

Desse modo, partindo-se de uma visão na qual se englobe o maior número de fatores associados aos benefícios e riscos, inclusive muitos não quantificáveis, como legado de imagem e da “marca” Brasil, espera-se ter contribuído para se promover o debate sobre a gestão de ambos os megaeventos no país além de estimular futuros estudos comparativos sobre o tema.

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