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UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE SUJEITOS COM A SÍNDROME DE ASPERGER E GRUPO CONTROLE

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PROCESSAMENTO DE FRASES CONTENDO SINTAGMAS PREPOSICIONAIS ESTRUTURALMENTE AMBÍGUOS:

UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE SUJEITOS COM A SÍNDROME DE ASPERGER E GRUPO CONTROLE

Renata Sholl Vernet

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA DA FACULDADE DE LETRAS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM LINGUÍSTICA.

ORIENTADOR: PROF. MARCUS ANTÔNIO REZENDE MAIA, PH.D.

Rio de Janeiro Outubro 2007

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Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

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D

EFESA DE

D

ISSERTAÇÃO

VERNET, Renata Sholl. 2007. Processamento de frases contendo sintagmas preposicionais estruturalmente ambíguos: um estudo comparativo entre sujeitos com a síndrome de Asperger e grupo controle. Rio de Janeiro: UFRJ (Dissertação de Mestrado)

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Lingüística e Filologia da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Lingüística.

Banca Examinadora:

Prof. ________________________________________ - Orientador Doutor Marcus Antônio Rezende Maia (UFRJ)

Prof. ________________________________________ Doutor José Olímpio de Magalhães (UFMG)

Prof. ________________________________________ Doutora Renata Mousinho Pereira da Silva (UFRJ)

Prof._________________________________________ - Suplente Doutor Marcio Martins Leitão (UFRN)

Prof._________________________________________ - Suplente Doutor Celso Vieira Novaes (UFRJ)

Defendida a dissertação, Conceito: ____________ Em ____/____/________.

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Maia, Juliana Meyohas Moreira.

“Aposição de orações relativas no português e no inglês: o processamento no bilingüismo"/ Juliana Meyohas Moreira Maia. - Rio de Janeiro: UFRJ/ FL, 2005.

viii, 101f.: il.; 31 cm.

Orientador: Marcus Antônio Rezende Maia

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ Faculdade de Letras/ Programa de Pós-graduação em Lingüística e Filologia, 2005.

Referências Bibliográficas: f. 72-75.

1. Lingüística. 2. Psicolingüística. 3. Português do Brasil. 4. Orações relativas. 5. Processamento. I. Maia, Marcus Antônio Rezende. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Lingüística e Filologia. III. Título.

Vernet, Renata Sholl.

“Processamento de frases contendo sintagmas preposicionais estruturalmente ambíguos: um estudo comparativo entre sujeitos com Síndrome de Asperger e grupo controle/ Renata Sholl Vernet. - Rio de Janeiro: UFRJ/ FL, 2007.

viii, 135 f.: il.; 31 cm.

Orientador: Marcus Antônio Rezende Maia

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ Faculdade de Letras/ Programa de Pós-graduação em Lingüística e Filologia, 2007.

Referências Bibliográficas: f. 103-112.

1. Parser 2. Sintagmas Preposicionais. 3. Aposição 4. Prosódia. 5. Síndrome de Asperger. I. Maia, Marcus Antônio Rezende. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Lingüística e Filologia. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

A minha família, em especial, a minha mãe e a minha filha Mariana. A Santo Antônio de Pádua e a irmã Sumaia.

Ao meu orientador que acreditou em mim, apesar das dificuldades. A todas as pessoas do LAPEX.

Aos meus amigos, sempre presentes.

Aos pacientes que participaram do estudo e seus familiares. Aos terapeutas e médicos que cederam seus espaços e tempo.

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Sinopse

Esta dissertação se propõe a investigar, em português do Brasil, as estratégias de parsing empregadas por sujeitos com a Síndrome de Asperger, comparando-as com comparando-as utilizadcomparando-as por sujeitos sem a síndrome, na leitura de frases contendo sintagmas preposicionais (SP) estruturalmente ambíguos, procurando observar se a relação estrutural desses constituintes com seu núcleo (adjunto/argumento) e o tipo de segmentação da frase (alta/baixa), interagem e afetam o seu processamento durante a compreensão. Teremos como orientação teórica neste estudo, duas hipóteses: o Princípio de Aposição Mínima (Frazier e Clifton 1979, 1982) e a Hipótese da Prosódia Implícita (HPI). De acordo com o principio de Aposição Mínima, quando confrontado com ambigüidades sintáticas o processador escolhe a estrutura com menos nós. A Hipótese da Prosódia Implícita (Fodor 1998; 2002), afirma que tanto a estrutura sintática como a estrutura prosódica são computadas durante a leitura, podendo a prosódia exercer influência sobre a escolha alternativa de aposição de constituintes.

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RESUMO

PROCESSAMENTO DE FRASES CONTENDO SINTAGMAS PREPOSICIONAIS ESTRUTURALMENTE AMBÍGUOS: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE SUJEITOS COM A SÍNDROME DE ASPERGER E GRUPO CONTROLE

Renata Sholl Vernet

Orientador: Marcus Antônio Rezende Maia

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Lingüística e Filologia, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Lingüística.

Esta dissertação se propõe a investigar, em português do Brasil, as estratégias de

parsing empregadas por sujeitos com a Síndrome de Asperger, comparando-as

com as utilizadas por sujeitos sem a síndrome, na leitura de frases contendo sintagmas preposicionais (SP) estruturalmente ambíguos, procurando observar se a relação estrutural desses constituintes com seu núcleo (adjunto/argumento) e o tipo de segmentação (alta/baixa), interagem e afetam o seu processamento durante a compreensão. Teremos como orientação teórica neste estudo, duas hipóteses: o Princípio de Aposição Mínima (Frazier e Clifton 1979, 1982) e a Hipótese da Prosódia Implícita (HPI). De acordo com o principio de Aposição Mínima, quando confrontado com ambigüidades sintáticas o processador escolhe a estrutura com menos nós. A Hipótese da Prosódia Implícita (Fodor 1998; 2002), afirma que tanto a estrutura sintática como a estrutura prosódica são computadas durante a leitura, podendo a prosódia exercer influência sobre a escolha alternativa de aposição de constituintes.

Palavras-chave: parser, sintagmas preposicionais, aposição, prosódia, Síndrome de Asperger.

Rio de Janeiro Outubro de 2007

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ABSTRACT

THE PROCESSING OF SENTENCES CONTAINING STRUCTURALLY AMBIGUOUS PREPOSITIONAL PHRASES: A COMPARATIVE STUDY BETWEEN INDIVIDUALS WITH ASPERGER SYNDROME AND A CONTROL GROUP

Renata Sholl Vernet

Orientador: Marcus Antônio Rezende Maia

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Lingüística e Filologia, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Lingüística.

This dissertation aims to investigate, in the Brazilian Portuguese language, the parsing strategies employed by individuals with Asperger's syndrome compared to those without this syndrome, when processing sentences containing structurally ambiguous prepositional phrases (PP); trying to observe whether the structural relation of these elements with the verbs (adjunct/argument) and the types of sentence segmentation (high/low), interact and affect their processing during comprehension. There will be two hypotheses as theoretical guidelines in this study: The Implicit Prosody Hypothesis (IPH) and the Minimal Attachment Principle (Frazier and Clifton 1996). According to the Minimal Attachment Principle, when faced with syntactic ambiguities, the processor chooses the structure that has fewer syntactic nodes. The Implicit Prosody Hypothesis (IPH) (Fodor 1998; 2002) states that both the syntactic structure and the prosodic structure are calculated during reading, and that the prosody might influence the choice of attachment of constituent elements.

Key-words: parser, prepositional phrases, attachment, prosody, Asperger Syndrome.

Rio de Janeiro Outubro de 2007

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ÍNDICE

Capítulo 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS... 12

Capítulo 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A SÍNDROME DE ASPERGER (SA) E ESTUDOS VOLTADOS PARA ASPECTOS LINGUÍSTICOS DESTA POPULAÇÃO 2.1 Critério diagnóstico e características clínicas da síndrome... 18

2.1.1 padrões de início... 21 2.1.2 função social... 22 2.1.3 padrões comunicativos...22 2.1.4 interesse circunscrito...23 2.1.5 dificuldades motoras... 23 2.1.6 comorbidades ... 23 2.2 Prosódia... 24

2.3 Características de fala e prosódia de sujeitos com a SA... 25

2.3.1 Estudos Gerais... 25

2.3.2 Comentários dos estudos citados como justificativa para a expansão investigativa... 32

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Capítulo 3 O PROCESSAMNTO DE FRASES CONTENDO SINTAGMAS PREPOSICIONAIS (SPs) ESTRUTURALMENTE AMBÍGUOS

3.1 O modelo Construal e o princípio da Aposição Mínima... 35

3.2 O status do SP, enquanto adjunto ou argumento... 38

3.3 Estudos específicos sobre o processamento de SPs... 40

Capítulo 4 A INTERFACE SINTAXE-PROSÓDIA 4.1 Interface sintaxe-prosódia e repercussões na área de processamento de sentenças... 47

4.2 Estudos Gerais... 49

4.3 Prosódia Implícita... 54

Capítulo 5 EXPERIMENTO DE JULGAMENTO DE COMPATIBILIDADE 5. O experimento de Julgamento de Compatibilidade... 62

5.1 Objetivos e hipóteses... 63

5.2 Método... 64

5.3 Resultados e Análises... 72

5.3.1 Relato dos resultados na condição com produção oral... 73

5.3.2 Resultado e análise das demais modalidades... 81

5.3.3 Comparação dos resultados observados nas frases sem segmentação (silenciosa e em voz alta)... 96

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 103

ANEXOS Anexo 1 Frases do experimento de Julgamento de Compatibilidade... 113

Anexo 2 Tabela geral de aposição – leitura em voz alta – grupo controle... 119

Anexo 3 Tabela geral de aposição – leitura em voz alta – grupo com SA... 129

Anexo 4 Tabela de aposição separada – leitura em voz alta – grupo controle... 133

Anexo 5 Tabela de aposição separada – leitura em voz alta – grupo com SA... 135

GRÁFICOS 1. Percentual de pausas altas e baixas do conjunto de frases sem segmentação da condição de produção oral – GC...76

2. Percentual de pausas altas e baixas do conjunto de frases sem segmentação da condição de produção oral – SA... 77

3. Tempos de pausas, em milésimos de segundos, de acordo com a transitividade do verbo (monotransitivo e ditransitivo) – GC x SA... 79

4. Percentual de aposições altas e baixas em frases monotransitivas com segmentação alta – GC... 86

5. Aposições (alta e baixa) em frases ditransitivas com segmentação alta – SA... 89

6. Percentual de aposições altas e baixas em frases monotransitivas sem segmentação – SA... 90

7. Percentual de aposições altas e baixas em frases monotransitivas com segmentação baixa – SA... 91

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QUADROS

1. Possíveis concatenações do SP nas frases do experimento... 13

2. Conjunto dos dados ilustrativos das condições experimentais... 67

3. Exemplos de espectrogramas do PRAAT... 70

4. Tabela Resumitiva – condição x aposição... 71

5. Tabela de concordância de acordo com a transitividade... 81

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Capítulo 1

Considerações Iniciais

O foco principal deste trabalho é a investigação sobre os procedimentos mentais, que determinam a estrutura de uma frase durante sua compreensão e produção (parsing), que os sujeitos portadores da Síndrome de Asperger (SA)1 utilizam ao processarem frases contendo sintagmas preposicionais estruturalmente ambíguos, comparando-os com os utilizados por sujeitos sem a síndrome (grupo controle). A estrutura é considerada ambígua, pois nas frases propostas pelo experimento de Julgamento de Compatibilidade, através do qual será examinada, o Sintagma Preposicional (SP), pode ligar-se ao Sintagma Verbal (SV) ou ao Sintagma Nominal objeto (SN), conforme exemplificado em (1) e (2).

(1). Frase monotransitiva com segmentação alta (AM1) O policial avistou / o turista com a luneta.

(A) o policial estava com a luneta. (B) o turista estava com a luneta.

(2). Frase ditransitiva com segmentação baixa (BD1) A comissão informou o público/ do evento.

(A) a comissão informou sobre o evento. (B) o público do evento foi informado.

1 A Síndrome de Asperger é um transtorno psiquiátrico caracterizado por Wing (1981) através da tríade: fracasso na interação social, dificuldade na comunicação verbal e não-verbal e repertório restrito de interesses e atividades.

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Quadro (1): Possíveis concatenações do SP nas frases do experimento.

(1) A. concatenação do SP ao SV em frase com verbo monotransitivo.

SV V’ SP V’ SN SN SN

Det N V Det N P Det N

O policial avistou o turista com a luneta

(1) B. concatenação do SP ao SN em frase com verbo monotransitivo.

SV V’ SN N’ SP SN SN

Det N V Det N P Det N

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(2) A. concatenação do SP ao SV em frase com verbo ditransitivo. SV V’ V’ SN SN SP

Det N V Det N P Det A comissão informou o público do evento

(2) B. concatenação do SP ao SN em frase com verbo ditransitivo.

SV V’ SN N’ SP Det N V Det N P N

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Pretende-se observar se a relação do SP com o núcleo verbal (argumento/adjunto) e o tipo de segmentação da frase (alta/baixa) interagem, de maneira a influenciar a sua interpretação final. A relação do SP com o verbo determina sua função sintática. Nas frases com verbos ditransitivos, o SP aposto ao SV tem função de argumento enquanto que, nas frases monotransitivas, tem função de adjunto. O tipo de segmentação foi manipulado em alta ou baixa. A segmentação alta é realizada logo após o verbo e a segmentação baixa imediatamente antes do SP. A segmentação alta favoreceria a aposição do SP ao SN como adjunto adnominal e a segmentação baixa, a aposição do SP ao SV, como objeto indireto, conforme (2) A. (verbos ditransitivos) ou adjunto adverbial , conforme (1) A. (verbos monotransitivos), evitando o SN complexo, de acordo com o principio de Aposição Mínima (Minimal Attachment – MA). Duas hipóteses são entretidas no estudo: o Princípio de Aposição Mínima e a Hipótese da Prosódia Implícita.

O princípio de Aposição Mínima (Frazier & Clifton, 1979; Frazier & Rayner, 1982) afirma que, ao ser confrontado com ambigüidade sintática, o processador escolhe a estrutura com menos nós.2 Aqui, nossa expectativa é que, para ambos os grupos que participarão do estudo, haja preferência de aposição do SP ao SV sempre que possível, evitando a criação de um SN complexo, corroborando o

2As frases apresentadas no quadro (1) apresentam o mesmo número de nós sintáticos , pois o princípio da

Aposição Mínima foi postulado com base em modelo já superado de representação sintática . Pode-se considerar , no entanto , que a aposição alta evita o SN complexo , de forma que a concatenação do SP ao SV deve ser a concatenação preferencial , por métrica de economia estrutural.

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estudo de Maia, Alcântara, Buarque e Faria (2005), com frases contendo sintagmas preposicionais ambíguos em português, porém com contextos de plausibilidade manipulados.

De acordo com a Hipótese da Prosódia Implícita (HPI), proposta por Fodor (1998; 2002), tanto a estrutura sintática quanto a estrutura prosódica são computadas durante a leitura. Sujeitos portadores da Síndrome de Asperger têm alterações do nível prosódico da linguagem reportadas em inúmeros estudos, embora essas alterações não tenham sido ainda adequadamente caracterizadas (cf. Mesibov 1992; Gilberg, C. 1996; Attwood, T. 2002).

Lourenço-Gomes, Maia e Moraes (2005) sugerem que os leitores normais tendem a interpretar as fronteiras manipuladas exatamente como fronteiras prosódicas, em estudo com orações relativas em português. Maia, Lourenço-Gomes e Moraes (2004) também demonstraram efeitos de segmentação em estudo com frases contendo sintagmas preposicionais em português. Assim, esperamos observar se as segmentações manipuladas funcionarão como pausas prosódicas e influenciarão a interpretação final da frase, no grupo controle e no grupo com a SA.

Este texto encontra-se dividido em seis capítulos. No primeiro capítulo, explicamos a proposta da tese. No segundo capítulo, faremos uma breve caracterização da Síndrome de Asperger e descreveremos alguns estudos com essa população, voltados para aspectos prosódicos. No terceiro capítulo,

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abordaremos estudos sobre o processamento de sentenças, de modo mais específico, aqueles sobre frases contendo sintagmas preposicionais estruturalmente ambíguos, com especial atenção sobre o principio de Aposição Mínima. O quarto capítulo tratará da interface sintaxe prosódia, suas repercussões na área de processamento de sentenças e a Hipótese da Prosódia Implícita (HPI), como fatores que justificam estudos sobre os aspectos prosódicos da população com SA, que levem em consideração, também, fatores sintáticos. O quinto capítulo expõe o experimento proposto pela tese. O experimento de Julgamento de Compatibilidade é o instrumento através do qual a investigação sobre o

parseamento de frases contendo sintagmas preposicionais ambíguos é realizada,

no grupo controle (GC) e no grupo de sujeitos com a SA. Os dados do experimento são analisados à luz das duas hipóteses entretidas no estudo, isto é, o principio de Aposição Mínima e a HPI. Por fim, no sexto capítulo os dados do estudo são comparados com a literatura prévia a respeito de características da linguagem dos sujeitos com a SA, demonstrando as contribuições da psicolingüística experimental nesta pesquisa.

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Capítulo 2

Considerações sobre a Síndrome de Asperger (SA) e

estudos voltados para aspectos lingüísticos desta

população

2.1 Critério Diagnóstico e características clínicas da SA

De acordo com Ellis e Gunter (1999) a Síndrome de Asperger (SA) é um transtorno caracterizado com base em um conjunto de sinais cognitivos, sociais e motores. O transtorno é normalmente associado a habilidades visuo-espaciais pobres, bom desempenho verbal, comportamento social inadequado e movimentos estereotipados.3

O autismo infantil é considerado, hoje, um distúrbio abrangente do desenvolvimento. O DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais-1995) e a CID-10 (Classificação de Transtornos Mentais e Comportamento-1993) distinguem, no grupo dos distúrbios abrangentes do desenvolvimento, o transtorno autista e o transtorno de Asperger, embora não sejam raros debates sobre se estes últimos constituem transtornos distintos ou se estão situados em um continuum. Além disso, há controvérsias sobre os próprios

3 Não é raro que a classe médica faça a distinção entre a Síndrome de Asperger e o autismo clássico tomando a síndrome como um tipo de autismo em que os sujeitos apresentam bom desempenho verbal.

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critérios diagnósticos estabelecidos naqueles manuais (Bowler, Mattews e Gardiner, 1997; Ellis e Gunter, 1999). Na prática, o DSM-IV distingue o autismo da Síndrome de Asperger, em termos do desenvolvimento da linguagem. Assim, crianças com Síndrome de Asperger, não deveriam apresentar atraso clinicamente significativo na linguagem (baseados em critérios como, por exemplo, palavras isoladas devem ser usadas aos 2 anos, frases comunicativas aos 3 anos). Autores como Gilberg (1996) e Tantam (1998) argumentam que há possibilidade de haver ou não atraso de linguagem nesses pacientes. Do ponto de vista clínico, a afirmação de que uma criança tem “atraso de linguagem” implica, freqüentemente, na afirmação genérica de que um ou mais aspectos da linguagem (fonológicos, sintáticos, morfológicos, semânticos, pragmáticos) não se desenvolveram de modo ordenado e sucessivo e, portanto, não há uma especificação sobre quais aspectos estão comprometidos, e que grau de comprometimento está presente, além de não se ter precisão na definição do ponto em que o desenvolvimento foi interrompido.

O primeiro a descrever a Síndrome foi Hans Asperger, pediatra alemão, em 1940, a partir do relato de um grupo de meninos com características autísticas e dificuldades sociais, mas com bom desenvolvimento cognitivo.

Wing (1981), propôs a revisão dos critérios e, diferentemente de Hans Asperger, afirma que a condição poderia ser reconhecida antes dos três anos e que nos dois primeiros anos de vida, algumas dificuldades já poderiam sinalizar o

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transtorno, como: lacuna no interesse normal e prazeroso em outras pessoas; balbucio limitado em qualidade e quantidade; partilha reduzida de interesses e atividades; ausência de direcionamento comunicativo a outros, verbal e não verbal; locuções estereotipadas; falha no desenvolvimento de um repertório rico de jogo imaginativo.

Atualmente, sabe-se que crianças com Síndrome de Asperger se interessam pelo outro, porém têm dificuldade de se aproximarem, são inábeis nessa aproximação, em especial, quando o par é da mesma faixa etária.

Outra controvérsia se dá na distinção entre a Síndrome de Asperger e o autismo de funcionamento. Há autores que consideram o autismo de alto-funcionamento como pertencendo ao espectro autístico e à Síndrome de Asperger, um distúrbio isolado do autismo apesar de conter algumas características similares. Porém, não há uma delimitação clara das distinções de autismo de alto-funcionamento e Síndrome de Asperger e são poucos os estudos desta delimitação no Brasil.

Portanto, concluímos que não há um consenso sobre se a Síndrome de Asperger pertence ou não ao espectro autístico. Neste trabalho optamos por manter a Síndrome de Asperger como um distúrbio pertencente ao espectro autístico. Os sujeitos com Síndrome de Asperger que participaram do estudo possuem diagnóstico realizado previamente por seus respectivos psiquiatras.

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A seguir, descreveremos alguns aspectos clínicos da Síndrome de Asperger, para melhor compreensão do quadro, baseados nas descrições de Klin (2005):

2.1.1 Padrões de início:

Como já foi mencionado, de acordo com o DSM-IV, crianças com SA, não apresentam significativo atraso na aquisição da linguagem, embora este critério seja questionado por alguns autores.

Aqui cabe discutirmos que aspectos da linguagem estão sendo levados em conta. Bishop (2002) afirma, que em termos de vocabulário e uso de sentenças, estes sujeitos podem ser precoces, mas pragmaticamente parece haver lacunas muito incipientes. Podemos ainda discutir se estas sentenças são criadas ou copiadas. Loveland (1997) considera que sentenças bem formadas podem ser aprendidas e usadas na forma de ecolalia tardia ou ainda como uso repetitivo de uma estrutura gramatical específica. Ryan (1992) relata que pessoas com a SA podem ter dificuldades com neologismos, gramática e substituição pronominal a vida inteira.

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2.1.2 Função Social:

Sujeitos com SA aproximam-se do outro, porém de forma inapropriada e excêntrica. Podem ser capazes de descrever corretamente, de forma cognitiva e formal, o sentimento dos outros, intenções, expectativas e convenções sociais, porém são incapazes de agir de forma intuitiva e espontânea sobre esse conhecimento, perdendo o tempo da interação. Seguem regras formais de comportamento e convenções sociais rígidas.

2.1.3 Padrões Comunicativos:

Exibem padrão restrito de entonação para a função comunicativa, podem apresentar falha na fluência, velocidade incomum da fala e modulação inadequada de volume. A conversa pode trazer senso de incoerência, porém não é indicativa de desordem do pensamento, mas de um estilo egocêntrico marcado por monólogos não relacionados sobre assuntos específicos, como por exemplo, nomes e códigos. Durante a conversação, falham ainda em permitir background para comentários e em demarcar mudanças de tópico. A criança com SA pode falar incessantemente sobre seu assunto de interesse, ignorando se o interlocutor está interessado. Apesar destes extensos monólogos, o sujeito com SA pode não chegar a um ponto conclusivo, sendo freqüentemente mal sucedidas, as tentativas do interlocutor em elaborar ou contribuir com o conteúdo ou lógica ou mudar para tópicos relacionados.

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2.1.4 Interesse Circunscrito:

Os sujeitos com SA armazenam muita informação a respeito de interesses específicos, que podem mudar de tempos em tempos. O interesse circunscrito pode interferir na aprendizagem em geral porque absorve tanto a atenção e a motivação da criança, que levam a um impacto negativo em sua habilidade de se engajar em interação social recíproca.

2.1.5 Dificuldades Motoras:

Apresentam, com freqüência coordenação motora pobre e podem exibir marcha não usual, alteração de postura, alterações grafomotoras e significativo déficit visuo-motor.

2.1.6 Comorbidades:

As comorbidades mais comuns são ansiedade e depressão.

Após esta breve descrição de alguns aspectos clínicos da Síndrome de Asperger, retomamos o interesse central deste trabalho que é a investigação de como o sujeito com SA realiza o parseamento de frases contendo SPs estruturalmente ambíguos, entretendo a hipótese de que a prosódia pode exercer influência sobre a escolha alternativa de constituintes.

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Portanto, a seguir, nos deteremos um pouco mais sobre os aspectos prosódicos da população com SA, visto que inúmeros estudos apontam alterações desse nível da linguagem. Se, de fato, a prosódia participa do parsing, como admitimos neste estudo, tais alterações podem vir a modificar, em relação ao grupo controle, o modo como esta população é influenciada pelas segmentações das frases do experimento de Julgamento de Compatibilidade. O estudo tem a expectativa de que as segmentações funcionem como pausas prosódicas.

2.2 Prosódia

A prosódia, nos estudos lingüísticos atuais, tem sido tomada como a parte da fonética/fonologia que se ocupa de elementos comuns à música e a linguagem (Moraes, inédito). Estes elementos referem fenômenos que englobam parâmetros de altura, intensidade, duração, pausa, velocidade de fala, entoação, acento e ritmo das línguas naturais. Alguns lingüistas utilizam, ainda, a idéia de supra-segmento, instanciando um lugar diferenciado para o conjunto dos fenômenos fônicos em relação à representação linear dos fonemas. Além de caracterizar uma língua dentro de um padrão rítmico, a prosódia, em determinadas estruturas, como as estruturas contendo SPs ambíguos, pode influenciar a interpretação dos enunciados.

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2.3 Características de fala e prosódia de sujeitos com SA

Desde a primeira delimitação da Síndrome Autística, anormalidades supra-segmentais têm sido identificadas com freqüência. São precocemente notados, nestes sujeitos, déficits no uso de freqüência e controle de volume, déficits na qualidade vocal e uso aberrante de padrões de acentuação. Quando estas alterações estão presentes, tendem a persistir e mostram pouca mudança com o tempo, mesmo quando outros aspectos da linguagem apresentam ganhos.

Há relatos de Mesibov (1992) e VanBourgondien e Woods (1992) de que a apresentação vocal de indivíduos com autismo é o que imediatamente cria, com mais freqüência, a impressão de estranhamento.

2.3.1 Estudos Gerais

Apoiados na premissa de que indivíduos com SA geralmente têm desenvolvimento normal da fala, mas problemas de percepção e produção da prosódia. “A produção da fala é caracterizada por anormalidades de ritmo,

entonação e freqüência, e dificuldade em interpretar a carga emocional e a prosódia na fala que eles ouvem” Klin (2005), alguns autores propuseram estudos

de percepção e produção da prosódia. A seguir descreveremos quatro destes estudos:

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T.Kujala et al. (2004)

Estes autores realizaram estudo neurofisiológico com o objetivo de evidenciar dificuldades de discriminação cortical da prosódia, em sujeitos com SA. Foram utilizadas elocuções naturais de fala com diferentes tipos de conotações emocionais que deveriam ser identificadas. Eletrodos foram acoplados em locais específicos da cabeça dos sujeitos participantes, a fim de permitir a observação de ondas eletrofisiológicas durante a tarefa. Os resultados foram comparados com grupo controle de sujeitos não portadores da Síndrome. O estudo concluiu que sujeitos com SA apresentam dificuldades de base neurológica na discriminação da prosódia e sugere, ainda, que essas dificuldades têm origem primária no hemisfério direito desses indivíduos.

Rutherford, Baron-Cohen e S. Wheelwright (2002)

Este estudo trata de uma adaptação de testes da Teoria da Mente (TOM), porém com estilo auditivo. A Teoria da Mente tem sido referida como a habilidade de formar representações a respeito do estado mental dos outros, e além, de usar estas representações para entender, predizer e julgar elocuções e comportamentos dos outros. Na tarefa proposta, os sujeitos deveriam ouvir uma amostra breve de diálogo gravado em áudio, e então, escolher entre dois adjetivos, aquele que melhor descrevesse o estado mental do falante. O teste requeria que o sujeito usasse pistas da vocalização para inferir o estado mental do

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falante. O estímulo de áudio era composto de segmentos de diálogos extraídos de gravações de performances dramáticas. Cada segmento de fala era uma sentença ou frase e entre cada segmento havia um tempo para os participantes marcarem suas escolhas. O estudo foi aplicado em sujeitos não portadores da síndrome (grupo controle), sujeitos com a SA e sujeitos com Autismo de Alto Funcionamento (AAF). Os resultados concluíram que sujeitos com SA/AAF têm dificuldade em extrair informações de estado mental a partir de vocalizações.

Shriberg.l, Paul.R, McSweeny, Ami Klin, Cohen D.J, Volkmar F.R (2001)

Este estudo contou com quinze sujeitos com SA, quinze sujeitos com AAF e 53 sujeitos não portadores de síndromes (grupo controle – GC), todos do sexo masculino e com idades entre dez e quarenta e nove anos, embora 60% dos participantes se concentrassem na faixa etária entre dez e vinte anos. Foram realizadas entrevistas gravadas em vídeo, transcritas posteriormente para a análise. Foram observados sete domínios de fala e prosódia, a saber: erros de articulação na palavra, erros de articulação na sentença, velocidade de fala, acentuação, intensidade, freqüência e qualidade (ressonância). Os resultados apontaram:

- erros de articulação na palavra; os erros se mostraram distribuídos de forma semelhante entre os grupos com SA e AAF, sendo comumente observado dentalização ou lateralização de consoantes fricativas.

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- erros de produção na sentença; em relação ao GC, os sujeitos com SA tiveram significativamente mais repetição de sílabas, repetição e revisão de palavras.

- velocidade de fala; AAF demonstraram fala mais lenta que o grupo controle e o grupo de portadores de SA.

- acentuação; sujeitos com SA e AAF apresentaram excesso de acentuação, acento fora do lugar esperado dentro da palavra e dentro da sentença, bloqueio e prolongamento de sons, sendo que o prolongamento excessivo do som, foi mais freqüentemente observado em sujeitos com SA.

- intensidade; os sujeitos com SA e AAF tiveram mais elocuções consideradas de alta intensidade, do que sujeitos do grupo controle.

- freqüência; 90% ou mais, das elocuções dos três grupos se mostraram adequadas.

- ressonância; sujeitos com SA e AAF parecem possuir vozes mais nasalizadas, quando comparados com o grupo controle.

Portanto, os achados do estudo indicam diferenças significativas entre sujeitos com SA e AAF. Embora os sujeitos com SA possuam desempenho de fala e prosódia melhores que portadores do AAF, em quase todos os sete domínios observados, os sujeitos com SA têm desempenho significativamente pior do que os sujeitos do grupo controle, significativamente, nos aspectos de erros na produção de sentenças, acentuação e ressonância.

(30)

Hubbard & Trauner (2006)

O objetivo deste estudo foi comparar a entonação verbal de crianças com autismo e crianças com SA e o grupo controle, através da análise de elocuções eliciadas por repetição e elocuções espontâneas, quantificando características fonéticas (freqüência, amplitude e comprimento) e comparando-as com avaliações subjetivas de produção emocional (alegria, raiva e tristeza).

O estudo mensurou parâmetros para testar a impressão subjetiva de que a fala de crianças do espectro autista difere da dos sujeitos normais (controle) no que diz respeito à prosódia, especificamente a correlação da prosódia com o conteúdo emocional. Através da comparação com as características fonéticas da entonação emocional da fala de adultos normais (Williams & Stevens, 1972; Streeter, MacDonald, Apple, Krause & Galotti, 1983, Murray & Arnott, 1993, Pell, 2001), os resultados dos grupos de sujeitos deste estudo foram avaliados e interpretados.

Os parâmetros fonéticos mensurados foram freqüência, intensidade/ amplitude e comprimento de sons da fala, isto é, a correlação perceptual da freqüência fundamental, amplitude e duração, respectivamente.

(31)

De acordo com alguns estudos, o conteúdo emocional pode ser quantificado de forma independente (MCRoberts, Studdert-Kennedy, & Shankweiler, 1995) e essa foi a intenção dos dois experimentos apresentados no

paper.

Participaram de duas tarefas de fala, uma envolvendo repetição de uma frase estímulo e a outra de fala espontânea eliciada, vinte e sete crianças, nove controles, nove com SA e nove autistas, com idade entre 6 e 21 anos e média de 14.5 anos. As três emoções alvo utilizadas foram: alegria (A), tristeza (T) e raiva (R). Avaliações subjetivas de cada elocução foram analisadas para identificar que emoção o falante estava tentando transmitir.

O experimento 1 consistia na repetição de uma frase modelada com uma das entonações de emoção (alegria, tristeza e raiva). O conteúdo da frase era neutro, com cinco frases repetidas três vezes, de forma que cada sujeito ouvia 15 elocuções. No experimento 2, após ouvir uma história a criança era instruída a completar a história com uma única sentença, fingindo ser um dos personagens. As histórias foram criadas com contexto que levaria a evocação de uma das 3 respostas emocionais (raiva, tristeza ou alegria).

Os resultados dos dois experimentos não confirmaram a caracterização prosódica de pessoas do espectro autista como “monótona”. Pelo contrário, autistas e sujeitos com SA que participaram do estudo, produziram uma grande variação de características prosódicas, particularmente em freqüência, a qual tem

(32)

sido implicada na descrição de fala com anormalidades, subjetivamente, dessas crianças. Cada mensuração sugeriu diferentes habilidades, através dos grupos, de forma que às vezes sujeitos com SA estão agrupados com autistas, e às vezes, com o grupo controle. O fato de que os sujeitos autistas tenham uma variação de freqüência maior que os outros dois grupos na tarefa de repetição, sugere que eles processam a freqüência como um indicador relevante para diferenças de afetividade; o que é anormal a respeito de suas produções nesse contexto, é que eles atingem uma entonação que excede ao estímulo. No entanto, os dados também sugerem que eles perdem outras dicas/ pistas: amplitude e duração, cuja variação acontece de acordo com a emoção pretendida em sujeitos do grupo controle e que não são consistentemente empregadas no estimulo experimental pelos autistas.

Talvez o mais notado pelos ouvintes, seja que sujeitos com autismo tendem a confundir o lugar dos picos de freqüência na sentença. Então, na imitação de um estimulo de fala, o autista, claramente, não tem uma entonação monótona, eles tem um contorno de amplitude e duração mais “flat”, bem como local anômalo de freqüência máxima, o qual pode causar a impressão subjetiva de ausência de prosódia.

O resultado esperado para esta pesquisa era que algumas características fonéticas da entonação afetiva seriam correspondentes à avaliação subjetiva da emoção e que, assim, fosse possível distinguir os grupos experimentais do controle e entre os próprios experimentais. Enquanto avaliações subjetivas

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diferiram significativamente por grupo, não houve nenhuma correlação direta das avaliações com nenhuma mensuração acústica. Algumas características fonéticas demonstraram efeito claro, mas elas diferiram em onde elas agruparam autistas e SA juntos ou controle e SA.

De maneira geral, o estudo sugere que ainda não foram identificadas as interações multifatoriais que entram na produção do complexo acústico que caracteriza a entonação emocional e argumenta a favor da análise não só da ausência ou presença de uma característica fonética, mas como essa característica é usada por falantes, incluindo tempo, consistência e magnitude. Somente esta análise mais detalhada poderia revelar com mais precisão a natureza da diferença prosódica entre crianças do espectro autista.

2.3.2 Comentários a respeito de estudos de aspectos prosódicos dos portadores da SA como justificativa para a expansão da investigação dos níveis de linguagem que interagem com a prosódia na percepção e produção de sentenças

Em revisão bibliográfica, notamos que predominantemente, os estudos a respeito de características prosódicas de sujeitos com SA, estão voltados para a questão perceptiva. Neste trabalho, além de manipularmos as pausas prosódicas na condição de leitura silenciosa, através da segmentação de um dos conjuntos de frases do experimento de Julgamento de Compatibilidade, pretendemos analisar possíveis pausas prosódicas, realizadas pelo grupo controle e por sujeitos com SA, na condição de leitura em voz alta sem segmentação, a fim de

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correlacionar o jogo de pausas com o tipo de aposição escolhida, isto é, a ligação do SP ao SV ou ao SN.

Também de forma predominante, os estudos atribuem as alterações prosódicas dos portadores da SA às dificuldades pragmáticas. De fato, parecem ser na área da pragmática que se situam, com maior incidência, os distúrbios de linguagem de sujeitos com SA, como confirmam os dados do estudo de Mousinho (2003). A autora analisou transtornos da esfera semântico-pragmática da linguagem e encontrou dados que apontaram dificuldades lingüístico-cognitivas em adolescentes e adultos com SA, falantes do português.

Nosso trabalho se propõe a expandir as considerações a respeito das alterações prosódicas de sujeitos com a SA, na medida que realizaremos experimento que considera também informações sintáticas.

Embora não tenha tido esse objetivo, o estudo de Schriberg et.al (2001) citado acima, nos permite observar aspectos de alterações prosódicas que parecem mais consistentemente ligados às dificuldades gramaticais. Os erros de produção de sentença, como repetição e revisão de palavra são reportados no estudo, com mais freqüência, à medida que as frases se tornam mais longas. Assim, altos níveis de complexidade gramatical, como indexadas por maiores comprimentos de elocução, foram associados com altas freqüências de erros na sentença. A maior parte dos erros de acentuação envolveram erros de lugar da acentuação dentro da sentença, mais do que a acentuação dentro da palavra.

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Esse tipo de erro pode estar ligado à dificuldade em trazer ao foco a informação relevante e, neste caso, são cruzados fatores pragmáticos e sintáticos.

Portanto, se as dificuldades no nível pragmático da linguagem, do grupo de sujeitos portadores da SA são atribuídas pela maioria dos estudos voltados aos aspectos prosódicos da população com a síndrome, como a causa primordial das alterações observadas, aspectos gramaticais também devem ser levados em consideração, principalmente quando se trata da compreensão e da produção de sentenças.

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Capítulo 3

O processamento de frases contendo Sintagmas

Preposicionais (SPs) estruturalmente ambíguos

3.1 O modelo Construal e o Princípio de Aposição Mínima

O objetivo central das teorias de processamento de frases é o de identificar

os procedimentos psicologicamente reais que colocamos em jogo ao produzir e compreender frases (cf. Maia, Alcântara, Buarque e Faria 2005). O processo de compreensão de sentenças admite a existência de um mecanismo responsável pela análise sintática, ou parser. O termo inglês parser ou parseador em português, indica em sentido estrito, o procedimento de identificação dos constituintes oracionais e de suas relações hierárquicas, no processo de compreensão. Porém, que informações seriam levadas em consideração no momento em que se estabelece a análise sintática?

No modelo Construal, proposto por Frazier & Clifton (1996), é feita uma revisão da teoria do Garden Path, proposta por Frazier & Fodor (1978) e Frazier (1979). De acordo com Maia & Finger (2005, p. 24-25) a afirmação fundamental da teoria do Garden Path é que: (1) o parser usa uma porção do seu conhecimento gramatical isolado do seu conhecimento de mundo e outras informações para a identificação inicial das relações sintagmáticas (2) o parser

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confronta-se com sintagmas de aposição ambígua e compromete-se com uma estrutura única (3) pressionado pela arquitetura do sistema de memória de curto prazo, que tem um limite estreito de processamento e armazenamento, o parser segue um princípio psicológico na escolha desta estrutura: use o menor número de nós (Minimal Attachment) e, se duas aposições mínimas existem, aponha cada nova palavra ao sintagma corrente (Late Closure).

O modelo Construal diferencia relações primárias de relações não-primárias, sendo as primeiras exemplificadas como a relação do tipo sujeito-predicado ou aquela que se estabelece entre um núcleo e seu complemento, enquanto que as segundas seriam elaborações de posições argumentais através de adjuntos. Admite-se que o mecanismo de processamento de frases é capaz de distinguir entre esses dois tipos de relações sintáticas, procedendo de maneira específica ao computá-las. No caso das relações primárias, tal como a concatenação de um núcleo e seu complemento, os fatores estritamente sintáticos são prioritários na construção da estrutura sintática pelo processador, invocando-se o princípio da Aposição Mínima (Minimal Attachment), que leva o processador a escolher a estrutura com menos nós quando confrontado com ambigüidades sintáticas, ou o princípio da Aposição Local (Late Closure), quando as estruturas têm o mesmo número de nós. Portanto, nesta visão os fatores semânticos e pragmáticos não seriam capazes de influenciar a decisão do parser, atuando apenas, em um segundo momento, quando a frase é revista pelo processador temático.

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Na reformulação da teoria, desenvolvida no modelo Construal, Frazier e Clifton (1996) propõem que, no caso das relações secundárias, a decisão estrutural do processador não é tão automática e estritamente sintática quanto no caso das relações primárias, permitindo que fatores semânticos e pragmáticos influenciem a interpretação da estrutura.

Vale dizer, ainda, que uma outra visão tem sido proposta em modelos de orientação lexicalista, que afirmam que a análise estrutural só é levada a efeito após consulta de informações de natureza lexical (ver Macdonald, Pearmultter, & Seidenberg (1994) e Spivey-Knowlton & Sedivy (1994).

Neste trabalho, o princípio de Aposição Mínima é testado no experimento de Julgamento de Compatibilidade, onde é observada a compreensão de estruturas com sintagmas preposicionais (SP) com dupla possibilidade de aposição sintática. Nas frases propostas pelo experimento, o SP pode ligar-se ao Sintagma Verbal (SV) ou ao Sintagma Nominal (SN). O Princípio de Aposição Mínima prediz preferência de aposição ao SV, evitando a criação de um SN complexo, visto que a escolha feita deve ser aquela que opta pela estrutura sintática com o menor número de nós.

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3.2 O status do SP enquanto adjunto ou argumento

Os tipos de sentença escolhidos para o conjunto de estímulos (vide corpus - anexo 1) do experimento de Julgamento de Compatibilidade, contém sintagmas Preposicionais (SP), estruturalmente ambíguos, e tem também a finalidade de observar a relação desses constituintes com o núcleo verbal (adjunto/argumento) e o tipo de segmentação das frases (alta/baixa). A segmentação alta é aquela realizada logo após o verbo e a segmentação baixa, a realizada imediatamente antes do SP. As 32 frases do experimento de Julgamento de Compatibilidade são divididas de forma que 16 delas têm verbos ditransitivos e 16 têm verbos monotransitivos. Concatenado ao verbo ditransitivo o SP funciona sintaticamente como argumento e concatenado ao verbo monotransitivo o SP funciona sintaticamente como adjunto.

Argumentos e adjuntos são sintagmas dependentes, que se encaixam em estruturas maiores, como sintagmas nominais e sintagmas verbais. Enquanto argumentos são vistos como participantes integrantes da sentença, adjuntos são considerados termos acessórios.

Schütze e Gibson (1999), propuseram seis critérios principais para a determinação do status argumental do sintagma preposicional, para a língua inglesa: 1) opcionalidade: os argumentos são obrigatórios e os adjuntos (modificadores) são, quase sempre, opcionais; 2) ordem: geralmente, os argumentos devem preceder os adjuntos; 3) iteratividade: frases com adjuntos

(40)

podem ser iterativas com freqüência, enquanto frases com argumentos não podem; 4) substituição por pro-forma: se o SP é obrigatoriamente excluído quando o nome ou o verbo, ao qual está associado, é substituído por um pronome, então esse SP é um argumento do nome ou verbo substituído, se não é obrigatoriamente excluído, ele é um modificador;4 5) separação do SP: se o SP pode ser separado do nome ou verbo ao qual está associado, por uma cópula ou por uma oração relativa, ele é um modificador, se não pode ser separado, é um argumento; 6) extração de QU: este é um fenômeno sintático no qual um sintagma QU é movido para o início da oração. A extração do SP argumento é geralmente possível, mas isso não é válido para os modificadores adjuntos5.

Frazier e Clifton (1996) argumentam que o sintagma preposicional se liga sempre que possível ao sintagma verbal, de acordo com a princípio da Aposição Mínima (Minimal Attachment), descrito no capítulo anterior.

Outras propostas são a Hipótese da Freqüência Pura e a Hipótese Estrutural Argumental. McDonald et al. (1994) e Trueswell et al. (1994) advogam a Hipótese de Freqüência Pura (HFP). Este modelo tem uma visão de parsing altamente lexicalista, em que ao ouvir um verbo, todas as estruturas argumentais

4 Exemplos:

(a) * The president proposed the solution to the foreign crises, not the one to the domestic crises. (SP argumento)

(b) I know the woman from Pell, not the one from London. (SP modificador)

5 Exemplos:

(a) * Which shelf did you read (a book on t)? (SP modificador)

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e adjuntas deste verbo seriam ativadas, sendo a estrutura argumental ou adjunta mais freqüente selecionada. Boland e Blodgett (submetido) defendem a idéia da Hipótese Estrutural Argumental (HEA) em que argumentos se ligariam de acordo com a HFP, porém adjuntos se ligariam via regras sintáticas.

3.3 Estudos específicos sobre SPs

Quanto aos estudos específicos com SPs , descreveremos alguns de maior interesse para o trabalho, na medida que, assim como nas frases propostas pelo experimento de Julgamento de Compatibilidade, foram utilizadas frases contendo SPs estruturalmente ambíguos.

Schütze & Gibson (1999) propuseram testes de opcionalidade, ordenamento, substituição por formas pronominais, extração de QU e separação de núcleo, procurando estabelecer um conjunto de critérios para diferenciar adjuntos de argumentos. Em dois experimentos de leitura auto-monitorada, contrastando SPs argumentos de sintagma nominal (SN) com SPs adjuntos de sintagma verbal (SV), obtiveram resultados mais rápidos para os SPs argumentos em uma região de duas palavras curtas imediatamente posteriores ao SP e interpretaram esses resultados como indicadores de que o parser tem acesso rápido à natureza argumental do SP.

Clifton, Speer e Abney (1991), demonstraram preferência mais rápida do parser por SPs apostos ao verbo do que por SPs apostos ao nome, utilizando técnicas de

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leitura auto-monitorada e rastreamento ocular, conforme predito pelo princípio de Aposição Mínima (Minimal Attachment). O estudo só encontrou evidências para a distinção entre SPs adjuntos e argumentos na região seguinte à do SP, concluindo contra o acesso lexical rápido pelo parser sintático.

Speer & Clifton (1998) realizaram experimentos de leitura, cruzando o fator status de SP (adjunto ou argumento) com plausibilidade e em estudo de rastreamento ocular encontraram evidências para o acesso rápido apenas para o fator status de SP.

Boland & Blodgett (submetido) em estudo de rastreamento ocular da leitura, compararam SPs adjuntos e argumentos de SN e de SV e concluíram que há acesso imediato sobre a informação do estatuto argumental dos SPs.

Maia, Alcântara, Buarque e Faria (2005), em estudo pioneiro sobre o processamento de SPs na língua portuguesa, aplicaram questionário e experimento de leitura auto-monitorada, a fim de investigar a preferência de aposição de SPs ambíguos ao SV ou ao SN objeto, manipulando o contexto anterior ao da frase com o SP ambíguo. Os estudos pretenderam avaliar o princípio do Minimal Attachment e a influência de fatores não estruturais no

parsing sintático. No estudo de questionário, a frase anterior ao SP ambíguo teve

o fator plausibilidade manipulado, havendo contexto de maior plausibilidade e contexto de menor plausibilidade para a aposição do SP ao SN. Nos dois casos a preferência de aposição pelo SV, se manteve, mas caiu significativamente na

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condição de maior plausibilidade de aposição ao SN. Portanto, foi identificado a influencia do fator plausibilidade na decisão de aposição, em fase interpretativa. O experimento, de natureza on-line, de leitura auto-monitorada, identificou, mais uma vez, a preferência de aposição do SP ambíguo ao SV, mas não identificou efeito de interação entre aposição do SP e plausibilidade. Os achados destes estudos vão ao encontro do predito por teorias estruturais, como a Teoria do Garden Path (Teoria do Labirinto), em que efeitos semânticos e pragmáticos só atuariam na fase pós-sintática, não afetando decisões imediatas do parser.

Maia (2006) propôs dois experimentos, um de natureza off-line e outro de natureza

on-line, com o objetivo de investigar a atuação de dois fatores na compreensão de

frases, a preferência por SPs adjuntos ou argumentos e o efeito de segmentação, cruzando relação sintática (adjunto/argumento) e o tipo de segmentação (curta/longa).

O experimento de natureza off-line consistiu em estudo de questionário, através do qual procurou-se observar a preferência de aposição de SPs como adjuntos ou argumentos de núcleos nominais ditransitivos e a preferência de aposição de SPs como adjuntos ou argumentos de núcleos verbais ditransitivos. Deste estudo, participaram 60 adultos. Foram elaboradas duas versões de questionário, cada uma contendo 16 itens experimentais e 34 distratores. Os materiais experimentais manipulavam as quatro condições testadas (SP argumento/adjunto de SN, SP argumento/adjunto de SV). Cada versão do questionário foi respondida por 30 sujeitos que tinham como tarefa escolher entre

(44)

duas alternativas, a melhor continuação para a frase, entre um SP complemento nominal (argumento) ou adjunto adverbial. Houve uma preferência por SPs argumentos tanto de verbos quanto de nomes. Os resultados apóiam a hipótese de que SPs argumentos de SN e SV são preferidos aos SPs adjuntos de SN e SV em português brasileiro. Por tratar-se de estudo de natureza off-line, nada pôde ser afirmado sobre a preferência por argumentos durante o parsing sintático.

O experimento de natureza on-line foi realizado através de estudo de leitura auto-monitorada. Os objetivos do experimento foram verificar se o status de argumento ou de adjunto do núcleo verbal tem efeito imediato sobre o processamento, bem como se o tipo de segmentação de frase, simulando efeitos de prosódia implícita, interfere de maneira rápida no processamento do SP. Para tanto, os verbos foram manipulados em monotransitivos e ditransitivos e o tipo de segmentação, especificamente do segmento anterior ao SP crítico, em curto ou longo. As frases foram dividas em quatro segmentos para que os tempos de leitura dos segmentos pudessem ser analisados. Assim, as condições experimentais obtidas foram: Curta Monotransitiva (CM), Curta Ditransitiva (CD), Longa Monotransitiva (LM) e Longa Ditransitiva (LD), exemplificadas a seguir:

Curta Monotransitiva (CM)

O redator escreveu o manual/ para o professor/ para o editor/ da nova série.

Curta Ditransitiva (CD)

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Longa Monotransitiva (LM)

O redator escreveu/ o manual para o professor/ para o editor/ da nova série.

Longa Ditransitiva (LD)

O contador enviou/ o manual para o professor/ para o diretor/ da faculdade.

Se os modelos de orientação lexicalista estivessem corretos, haveria acesso imediato à grade argumental do verbo e os tempos médios de leitura nas condições curtas, do segundo segmento, seriam menores para a condição com verbos ditransitivos. Se por outro lado, os modelos de orientação estrutural estivessem corretos, não haveria diferença nos tempos de leitura do segundo segmento, nas condições curtas, pois neste ponto o parser não teria acesso à informação sobre a grade argumental do verbo. O estudo assumiu, ainda, que os sujeitos usariam rapidamente a informação fornecida pelo tipo de segmentação, pressupondo que, ao processar o SP no terceiro segmento, o leitor encontraria maior dificuldade, com aumento nos tempos de leitura, nas condições em que o segundo segmento, segmento anterior ao SP crítico, fosse curto (CM e CD). Isto porque, nas condições curtas, o SP do segundo segmento é facilmente aposto ao SV, ocasionando o efeito garden path quando o leitor chega ao terceiro segmento e tenta apor o SP do terceiro segmento ao verbo, porém encontra esta posição preenchida pelo SP do segundo segmento. O leitor, então, retorna ao verbo, reanalisa o SP do segundo segmento e opta por apor este último ao SN objeto do primeiro segmento. Nas condições longas, o SP do segundo segmento ocorre junto com o SN objeto, facilitando a aposição local e deixando o SP do terceiro

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segmento disponível para a aposição ao SV, de forma que o garden path é evitado e não há incremento nos tempos de leitura.

Foram formuladas duas versões do experimento e cada versão tinha 20 frases experimentais e 40 distratoras. Todas as frases eram seguidas de pergunta interpretativa ao final. A pergunta interpretativa tinha como resposta duas opções, a resposta correta deveria ser o SP no terceiro segmento. De cada versão participaram 32 sujeitos. O resultado de tempos de leitura dos segmentos 2, nas condições curtas, não capturou um efeito de aposição imediata do SP argumento em contraste com o SP adjunto, confirmando, de acordo com a visão estruturalista que não haveria acesso à especificação da grade argumental do verbo na primeira passagem do parser. Diferenças significativas nos tempos de leitura foram encontradas no segmento 3, quando o parser encontra um segundo SP que deve integrar à estrutura. O acesso rápido ao tipo de segmentação leva o parser ao efeito garden path, nas condições CM e CD em contraste com as condições longas. Observou-se ainda garden path menor no terceiro segmento de CM do que para a condição CD, indicando que a reanálise do SP argumento é mais demorada que a do SP adjunto. Embora a técnica de leitura auto-monitorada não possa identificar diretamente o processo de reanálise, infere-se que este seja o responsável pelos tempos significativamente maiores na leitura dos segmentos 3 na condição de segmentação curta com SP argumento. A reanálise do SP adjunto seria menos custosa do que a do SP argumento, pois o SP adjunto não está especificado na grade de subcategorização do verbo.

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De forma geral, conclui-se que os estudos descritos acima não apresentam concordância quanto ao fato do status argumental dos SPs serem acessados na primeira passagem do parser, mas parecem concordar que na fase interpretativa esta informação é acessada, de acordo com a visão estruturalista. No experimento de Julgamento de Compatibilidade, proposto nesta dissertação, o SP pode assumir função sintática de argumento ou de adjunto de acordo com a transitividade do verbo. Se concatenado ao SV, nas frases ditransitivas o SP assume status de argumento, ao passo que nas frases monotransitivas assume

status de adjunto. Espera-se que a escolha de concatenações ao SV nas frases

ditransitivas sem segmentação, seja mais freqüente, visto que no caso de frases ditransitivas o SP funciona como argumento. Por tratar-se de um experimento de natureza off-line não poderemos fazer considerações a respeito do curso temporal de acesso do parser à informação sobre a grade de subcategorização do verbo.

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Capítulo 4

A interface Sintaxe-fonologia

4.1 Interface sintaxe-fonologia e repercussões na área de processamento de sentenças

Assim como se discute em que momento informações pragmáticas e semânticas passam a influenciar a interpretação de estruturas sentenciais, o mesmo é polemizado em relação aos aspectos prosódicos.

No âmbito da gramática gerativa é amplamente aceito que as estruturas sintática e prosódica são independentes – não isomórficas – embora apresentem interações. A estrutura sonora das línguas pode ser representada em termos de unidades fonológicas complexas (ou unidades prosódicas) organizadas hierarquicamente e que estabelecem entre si relações de dominância com regras e princípios próprios (veja, p.ex. Selkirk, 1986).

Para Fodor (1998), a interação entre sintaxe e prosódia é tão evidente que a variação nas preferências de parsing entre as línguas seriam atribuíveis a diferenças no componente prosódico de suas gramáticas. A colocação de fronteiras prosódicas seria, por exemplo, na visão de Lovric (2003) um candidato natural a influenciar as diferenças nas preferências de parsing entre as línguas.

(49)

Apesar do pareamento exato entre estrutura prosódica e a sintática não ser possível, Nespor (1999) afirma que a frase entoacional é o domínio de um contorno de entoação e que os fins de frases entoacionais coincidem com posições em que pausas podem ser inseridas.

Snedeker e Trueswell (2003) afirmam que ouvintes, sobre certas circunstâncias, podem usar a organização prosódica da elocução para guiar a interpretação da frase contendo ambigüidade global ou local, da mesma forma que estudos de produção de linguagem provam que o agrupamento prosódico da elocução pode refletir sua estrutura sintática. Portanto, juntos, estudos de percepção e produção vem indicando que os falantes de variadas línguas, compartilham algum conhecimento implícito sobre a relação entre prosódia e sintaxe, e são capazes de usar esse conhecimento para guiar escolhas lingüísticas.

As fronteiras prosódicas são o componente eleito a ser manipulado nas frases que fazem parte do experimento de Julgamento de Compatibilidade desta dissertação, através de pausas forçadas pela segmentação de frases contendo SPs estruturalmente ambíguos. Este experimento será descrito e analisado no próximo capítulo.

No nível da sentença, a prosódia, de acordo com teorias correntes (p.ex., Selkirk, 1996), pode ser didaticamente dividida em três aspectos distintos: (1) entoação: distribuição de acentos tonais na sentença (2) padrão rítmico frasal:

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distribuição de sílabas fortes e fracas dentro da sentença (3) fraseamento prosódico: divisão da sentença em constituintes prosódicos. Para fins do presente trabalho, nos deteremos principalmente no aspecto de fraseamento prosódico. As línguas permitem diferentes padrões de fraseamento prosódico para um dado enunciado, que parecem resultar de uma variedade de fatores como: estrutura sintática, estrutura de foco, velocidade de fala e comprimento de palavras e constituintes sintáticos (Gee& Grosjen 1983, Ferreira 1993, Shattuck-Hufnagel & Turk, 1996; Shafer, 1997).

4.2 Estudos Gerais sobre a interação sintaxe-prosódia

A seguir serão descritos trabalhos realizados com a finalidade de investigar a possibilidade de aspectos prosódicos influenciarem a escolha interpretativa de uma sentença ambígua, visto que sentenças ambíguas, contendo Sintagmas Preposicionais (SP), foram as escolhidas para fazer parte do corpus do experimento de Julgamento de Compatibilidade.

Warren (1985) examinou a produção e percepção de sentenças com diferentes tipos de ambigüidade estrutural. As estruturas tinham a ambigüidade semântica desfeita em favor de uma ou outra estrutura sintática, ao final da sentença. As sentenças-alvo eram intercaladas com sentenças distratoras. As análises acústicas das sentenças-alvo demonstraram diferenças substanciais de marcação de fronteiras prosódicas refletidas por diferenças tonais e de duração em pontos de ambigüidade sintática.

(51)

Warren propôs ainda um experimento de percepção. Foram usadas as mesmas sentenças do experimento de produção. Um único falante era solicitado a produzir padrões prosódicos similares aos realizados no experimento de produção. Ouvintes eram, então, solicitados a combinar as continuações originais das sentenças, apresentadas por escrito, com fragmentos das gravações que ouviam. O que era realizado, portanto, era um truncamento das sentenças no final da região ambígua. Os fragmentos eram apresentados em duas versões de padrões prosódicos. Os resultados mostraram altos índices de combinação entre os fragmentos e suas continuações originais. Desta forma, o estudo evidenciou que estruturas ambíguas podiam ter a ambigüidade desfeita a partir de pistas prosódicas, particularmente, em termos de fronteiras.

Price, Ostendorf, Hattuck-Hufnagel & Fong (1991) propuseram a inserção de sentenças ambíguas em parágrafos com contexto e organizaram um corpus com sentenças com sete diferentes tipos de ambigüidade estrutural. Sem saber que dentro do parágrafo havia sentenças-alvo, locutores americanos profissionais eram solicitados a ler o parágrafo, que era então gravado.

Após a gravação, as sentenças-alvo eram extraídas do parágrafo e um outro grupo de sujeitos deveria ouvi-las. Estes sujeitos tinham como tarefa determinar o contexto apropriado para a sentença, a partir de duas versões escritas. O estudo confirmou os achados de Warren (1995), ao corroborar o fato de que ouvintes são capazes de separar o significado de uma variedade de sentenças ambíguas com base em informações prosódicas.

(52)

Freitas (1995) realizou estudo com estruturas potencialmente ambíguas, nas quais um modificador em final de sentença podia ser interpretado como modificando o sintagma nominal sujeito (N1) ou aquele ocupando a posição de complemento do verbo (p.ex. O cão (N1) mordeu o gato (N2) feroz). Foram testadas oito estruturas potencialmente ambíguas em português do Brasil. Um grupo de falantes nativas da língua foi solicitado a ler em voz alta as oito sentenças, intercaladas com sentenças distratoras, sem qualquer contexto para guiar a interpretação. Uma semana depois, o grupo retornava para realizar a leitura em voz alta, porém desta vez com contexto forçando a aposição do modificador final ao N1 ou ao N2. As sentenças produzidas com contexto e sem contexto, foram submetidas à análise acústica. Quando as sentenças foram produzidas fora de contexto ou com contexto forçando aposição ao N1, foi encontrado um padrão prosódico default para sentenças declarativas do português brasileiro. O mesmo padrão não foi observado, quando as sentenças foram produzidas em contexto que forçava aposição ao N2. Por fim, as sentenças foram apresentadas a outros falantes nativos da língua, que deveriam ouvi-las e escolher a sua interpretação preferida. Os resultados revelaram que aposições ao N2 eram escolhidas como preferenciais quando havia fronteira prosódica entre o verbo e seu complemento.

Beach (1991) valeu-se de estruturas com ambigüidade temporária para investigar a capacidade de ouvintes de utilizar pistas de duração e freqüência fundamental (FO), presentes em porções iniciais da sentença, na identificação da sua estrutura.

(53)

As estruturas propostas tinham sintagma nominal pós-verbal que poderia funcionar como objeto direto do verbo precedente ou como sujeito do complemento sentencial subordinado.

Por exemplo:

The city council argued the mayor’s position forcefully (objeto direto) The city council argued the mayor’s position was incorrect (complemento)

A região de manipulação prosódica, em sentenças com complemento, estava situada entre o verbo da oração principal e o sintagma nominal pós-verbal. Foram manipuladas FO e duração de modo a estabelecer uma fronteira prosódica potencial nesta região. Além disso, o comprimento da porção inicial da sentença foi manipulado formando duas versões, uma curta e uma longa. Na versão curta, o sintagma nominal era seguido pelo verbo e, na versão longa, o sintagma nominal era seguido pelo verbo e pela parte inicial do sintagma nominal pós-verbal. Por fim, manipularam-se também valores de queda e elevação da FO e duração. Na versão curta, valores de duração e queda de FO eram atribuídos à última sílaba acentuada do verbo principal. Na versão longa, além desta última, a FO na primeira sílaba acentuada do sintagma pós-verbal era elevada.

As porções iniciais das sentenças com complemento e com objeto direto eram idênticas, diferindo apenas pelas manipulações realizadas nas sentenças com complemento. As porções iniciais de ambos os tipos de sentença foram gravadas e expostas a ouvintes que deveriam escolher entre duas alternativas,

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porções finais das sentenças. As duas alternativas correspondiam a uma continuação com objeto direto e uma continuação com complemento. Os resultados mostraram que os ouvintes identificavam, com freqüência, o inicio de uma sentença como se ligando a um final de sentença com objeto direto quando esta tinha padrão prosódico criado para ser prototípico desta estrutura, de maneira que é possível inferir que informações de duração e FO são utilizadas por ouvintes, na identificação da estrutura. Não houve diferença significativa entre os itens curtos e longos, apesar dos longos conterem mais informações prosódicas. Beach sugeriu, então, que duração e queda da FO, constituem pistas suficientes para a presença de uma fronteira sintática.

Os trabalhos descritos acima demonstram que fronteiras prosódicas localizadas em pontos de ambigüidade sintática constituem importantes pistas para o ouvinte na interpretação de estruturas. Esperamos, portanto, que no experimento de Julgamento de Compatibilidade, proposto pela dissertação, as segmentações manipuladas nas frases contendo sintagmas preposicionais ambíguos, funcionem como fronteiras prosódicas e constituam pistas para a interpretação final da estrutura.

Referências

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