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PERCEPÇÃO DOS PAIS ACERCA DE UM PROGRAMA DE EQUOTERAPIA VOLTADO A CRIANÇAS COM TDAH

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PERCEPÇÃO DOS PAIS ACERCA DE UM PROGRAMA DE EQUOTERAPIA VOLTADO A CRIANÇAS COM TDAH

GARDENIA DE OLIVEIRA BARBOSA1 MEY DE ABREU VAN MUNSTER2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR), CNPq.

INTRODUÇÃO

Ao longo do século XVIII surgiram as primeiras referências à hiperatividade na literatura médica (MATTOS, 2002). O primeiro documento que se referiu as características de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) foi atribuído ao médico britânico George Still, em seu clássico artigo de 1902, “Some Abnormal Psychical Conditions in Children” (Algumas condições psíquicas atípicas em crianças). Nesse artigo, o autor descreveu crianças com falta de atenção e impulsividade, cuja causa estaria na alteração atípica do controle moral. O primeiro estudo sistemático sobre TDAH iniciou-se em 1919, após a Primeira Guerra Mundial, quando o psiquiatra Kurt Goldstein, em Frankfurt na Alemanha, desenvolveu um trabalho com soldados que retornaram da guerra com lesões cerebrais. Goldstein detectou distração em muitos desses pacientes, os quais eram incapazes de atender solicitações, apresentando-se confusos e hiperativos. Além disso, também passaram a apresentar dificuldades na leitura e escrita. Ao emigrar para a América, Goldstein trouxe os registros de seus estudos que passaram a ser utilizados por outros pesquisadores como base em trabalhos com crianças (SMITH, 2007).

Em outro contexto, em meados de 1937, em uma escola de educação especial em regime de internato, onde todos os internos apresentavam deficiência intelectual, um grupo de crianças chamou a atenção de Alfred Strauss e Heinz Werner, pois eram diferentes dos outros residentes. Tal grupo apresentava sintomas muito similares aos descritos por Goldstein, porém com a divergência de que eram crianças com suspeita de lesão cerebral e nunca haviam desenvolvido habilidades em leitura, escrita ou fala, ao contrário dos veteranos de Guerra. Pesquisas realizadas nessa escola especial inferiram que as crianças não apresentavam deficiência intelectual, mas sim uma lesão cerebral mínima que foi denominada como Síndrome de Strauss. Diante do ocorrido, houve uma revolução na escola, pois passaram a entender que nem todas as crianças da escola apresentavam o mesmo comprometimento (SMITH, 2007).

Newell Kephart, um dos pioneiros desse novo entendimento, orientado pelos estudos de Strauss, tentou corrigir as alterações apresentadas pelas crianças por meio de atividades

1

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos Rod. Washington Luis, Km 235 – São Carlos - SP

garativ@gmail.com 2

Profa. Drª. adjunta da Universidade Federal de São Carlos Rod. Washington Luis, Km 235 – São Carlos - SP

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motoras. Laura Lehtinen, também orientada por Strauss, desenvolveu uma forma de ensino altamente estruturado na rotina. Esses e outros precursores construíram toda a base para o trabalho com indivíduos que apresentam problemas de aprendizagem e TDAH (SMITH, 2007).

Mesmo com inúmeros estudos a respeito do TDAH as causas pontuais não são precisas. Todavia, infere-se influência de fatores genéticos e ambientais; na genética acredita-se que há a somatória de vários genes de pequeno porte com diferentes agentes ambientais; assim, a evolução do TDAH em um indivíduo pode depender de quais genes estão agindo, isto é, o quanto cada um está contribuindo para manifestação fenotípica. Alguns estudos evidenciaram consistente recorrência familial para o transtorno, chegando a um risco de duas a oito vezes maiores em crianças cujos pais também são afetados comparando-se a população geral; com relação aos fatores ambientais, a presença de transtornos mentais nos pais e brigas familiares, em alguns casos, parece ter forte ligação com o surgimento e manutenção do transtorno (ROHDE; HALPERN, 2004).

No comportamento do TDAH há uma tríade de sintomas que abrangem alterações da atenção, impulsividade e da velocidade da atividade física e intelectual (MACHADO; CEZAR, 2008). Desse modo, há uma oscilação entre um universo plenamente criativo e um cérebro exausto que não interrompe sua atividade (MAIA et al., 2004, LOPES et al., 2005).

A atenção inadequada é um dos sintomas mais relevantes no comportamento do TDAH. Os indivíduos podem ou não apresentar hiperatividade física, porém invariavelmente apresentarão forte tendência a dispersão. Infere-se inconstância ou regulação inadequada da atenção e não déficit, pois quando muito motivados para uma atividade apresentam uma hiperconcentração, mantendo o foco na mesma. No entanto, quando a atividade é de baixa ou média concentração para a criança, nota-se diminuição no rendimento atencional. Em tais circunstâncias, o nível de distração é tão marcante a ponto de terem o foco de atenção desviado pelos mais insignificantes estímulos (DSM-IV-TR, 2002; MAIA et al., 2004).

Dentre as possibilidades de intervenção para pessoas com TDAH sugere-se a equoterapia. No Brasil, a equoterapia é definida como um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo sob uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais (ANDE-BRASIL, 2010).

A interação na montaria homem/cavalo na equoterapia viabiliza estímulos que proporcionam a conscientização corporal, a integração sensorial, integração do aparelho vestibular, modulação do tônus muscular, estimulação de reações que promovem adequação postural, aumento da capacidade ventilatória e a conscientização da respiração (ROBACHER, 2003; MEREGILLANO, 2004; PIEROBON; GALETTI, 2008).

Além disso, a equoterapia exige do praticante concentração e atenção durante todo o tempo de prática, o que na maioria das vezes é difícil para crianças com TDAH, porém a intervenção contribui para um melhor desempenho em atividades cognitivas, visto que a atenção é a base do aprendizado. Com a atenção dirigida, a pessoa seleciona o que quer aprender e memoriza para posterior utilização (MENDES, 2008).

Ainda, ressalta-se que é muito importante a participação dos pais em todo o processo de intervenção e aprendizado da criança, pois quanto mais estiverem atentos e forem orientados a uma participação efetiva no desenvolvimento da criança, este será mais adequado e com

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maior chance de ganhos, principalmente quando se trata das crianças com indicativos de TDAH que necessitam de um maior envolvimento, assertividade e esquema de reforço por parte dos pais de modo que os avanços e as conquistas sejam mais efetivos.

Sendo assim, o presente artigo temos por objetivo analisar as repercussões da intervenção em equoterapia junto a crianças com indicativos de TDAH segundo a percepção dos pais.

MÉTODO

O presente estudo foi de abordagem qualitativa, do tipo exploratório, o que permite ao pesquisador o desenvolvimento de hipóteses, maior aproximação com a situação de estudo e elucidação de conceitos uma vez que faz uso de procedimentos sistemáticos para análise de dados ou aquisição de observações empíricas (MARCONI; LAKATOS, 1990).

Participaram do estudo pais de cinco crianças com indicativos de TDAH, com idade entre 7 e 10 anos, participante de um programa de equoterapia em um município de médio porte do interior paulista. As crianças foram submetidas a 24 sessões de equoterapia, com duração de 30 minutos cada, duas vezes por semana totalizando um período de três meses de intervenção. A pesquisa foi desenvolvida na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) no Núcleo de Estudo em Atividade Física Adaptada (NEAFA) e no Centro Hípico Damha.

Com relação aos aspectos éticos, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), de acordo com a Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e foi aprovado pelo Parecer n° 434/2011. Todos os pais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para coletada de dados foi realizada uma entrevista semi-estruturada com os pais a fim de se obter informações a acerca da influência do programa de equoterapia sobre os participantes na percepção dos pais. A entrevista semi-estruturada possibilita a combinação de questões abertas e fechadas, visto que para essa modalidade as questões devem permear os indicadores essenciais e suficientes em tópicos que contemplem a abrangência das informações esperadas (MINAYO, 2006).

As entrevistas foram gravadas e realizadas de forma individual no núcleo de estudos em atividade física adaptada (NEAFA).

O roteiro de entrevista foi composto por oito questões, os dados coletados foram discutidos por meio da análise de conteúdo, que se trata de uma técnica de pesquisa que possibilita reproduzir e validar inferências sobre dados de um determinado contexto com utilização de procedimentos sistematizados; assim possui a mesma lógica do método quantitativo, visto que busca a interpretação cifrada do material qualitativo (MINAYO, 2006).

Durante a análise das entrevistas foram selecionadas unidades de registro (categorias) por meio de expressões ou palavras-chave similares. Dentre as várias modalidades de análise de conteúdo optou-se pelo processo de análise das relações, pois é uma técnica que aborda as relações entre os vários elementos do discurso dentro de um texto e não apenas análise da frequência de vocábulos (MINAYO, 2006), assim permite a seleção de unidades de contexto e apresentação do texto em recortes, podendo ser incluído a transcrição de trechos da fala dos entrevistados.

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RESULTADOS

Com relação à entrevista referente à questão 01, subdividida em seis itens (de A a F) foi possível observar o grau de satisfação com que o programa de intervenção estava atendendo as expectativas dos pais, onde havia cinco possibilidades de resposta: não, pouco, razoável, muito e extremamente. Segue quadro 1com as respostas dos pais:

Quadro 1 - Resposta referente à satisfação dos pais de P1 a P5 quanto ao programa de equoterapia

no. Questões Não Pouco Razoável Muito Extremamente

A Você acredita que a equoterapia é importante para seu filho (a)?

P1 P2 P3 P4 P5 B

Você acredita que a equoterapia proporciona melhor qualidade de

vida a seu filho (a)?

P2 P1 P3 P4 P5 C

Você acredita que seu filho (a) teve alguma mudança desde que começou a praticar equoterapia?

P2 P1 P3 P4 P5 D

Você acredita que as atividades propostas na equoterapia são adequadas para seu filho (a)?

P1 P2 P3 P4 P5 E

Você observa alterações na criança, no dia a dia, por ela estar praticando

equoterapia?

P1 P2

P4

P3 P5

F Seu filho (a) manifesta gostar da equoterapia? P1 P2 P3 P4 P5 O quadro 1demonstra que:

- Na perspectiva da mãe de P1 quanto à importância da equoterapia, a proporcionar melhor qualidade de vida, a mudanças em geral, as atividades propostas e quanto ao filho gostar da equoterapia foram atendidas de forma muito (A) e extremamente (B, C, D e F) satisfatória, no entanto, nesse primeiro momento a mãe assinala não (E) observar mudanças no dia a dia, porém essa questão aparece em outros momentos da entrevista de forma divergente.

- Quanto a P2 na perspectiva do pai e da mãe quanto à importância da equoterapia, a proporcionar melhor qualidade de vida e mudanças no dia a dia foram atendidas de forma muito (A, B e E) satisfatória, a mudança em geral foi razoável (C), e referente às atividades

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propostas e quanto ao filho gostar da equoterapia foram atendidas de forma extremamente (D e F) satisfatória.

- Quanto a P3 e P5 observa-se que a expectativa dos pais quanto à importância da equoterapia, a proporcionar melhor qualidade de vida, a mudanças em geral, as atividades propostas e quanto ao filho gostar da equoterapia e mudanças no dia a dia foram atendidas de forma extremamente (A, B, C, D, E e F) satisfatória.

- Com relação a P4 observa-se que a expectativa dos pais quanto à importância da equoterapia, a proporcionar melhor qualidade de vida, mudanças em geral, as atividades propostas e quanto ao filho gostar da equoterapia foram atendidas de forma extremamente (A, B, C e D) satisfatória; com relação as mudanças no dia a dia foi muito (E) satisfatória.

Mediante ao exposto observa-se que a grande maioria dos pais demonstrou estar extremamente satisfeito com o programa de equoterapia desenvolvido de forma direcionada aos filhos com indicativos de TDAH.

Com relação às demais questões segue a opinião de cada um dos pais dos participantes, no quadro 2:

Quadro 2 - Síntese dos resultados obtidos por meio das entrevistas com os pais de crianças com indicativos de TDAH participantes do programa de Equoterapia.

Questão P1 P2 P3 P4 P5 2. Mudança de comportamento Melhora na concentração e no desempenho escolar. Melhora na concentração e autoconfiança. Está mais carinhosa e diminuiu o medo de ficar sozinha em casa. Melhora na concentração e atenção. Maior interesse pela leitura e apresenta mais calma. Maior sensibilidade/percepção ao interagir com o ambiente. Melhora na comunicação e autoestima, diminuiu a agitação . 3. Alterações na comunicação, autocontrole, autoconfiança, atenção e tempo de atenção... Aumento no tempo de atenção e melhora na autoconfiança, concentração, motivação e comunicação. Aumento no tempo de atenção, melhora na concentração, avanço em aceitar melhor a vontade dos pares e parou de brigar na escola. Aumento no tempo de atenção, melhora na autoconfiança, comunicação (fala mais calmamente), percebe as mudanças que ocorrem no ambiente, que consegue fazer as tarefas escolares e tem mais controle (comportamento) na escola Aumento no tempo de atenção, apresenta-se mais confiante, observa mais o ambiente e corrigi os próprios erros. Aumento na atenção. 4. Interação com outras pessoas e Melhora na interação com os amigos de Melhora na interação com as primas, Melhora com a interação com o primo (criança

Está mais carinhoso com os animais.

Melhora na interação com a irmã e

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animais escola. amigos e professores. de 1 ano).Passou a ter mais controle na escola. os amigos e está mais tranquilo. 5. Alterações Motoras Melhora na letra. Melhora na letra e postura ao sentar no sofá, como também parou de derrubar objetos utilizados durante as refeições.

Melhora na letra. Maior agilidade para ler, demonstra interesse em saber o final das histórias e aprendeu a localizar os lados direitos e esquerdo do corpo em diferentes posicionamentos. A mãe não observou nenhuma mudança. 6. Mudanças percebidas por outros profissionais Psicóloga referiu uma maior concentração e dedicação. A professora relatou aos pais que P2 está mais obediente e com melhor comportamento em sala de aula. A professora relatou ao pai de P3 que ele está dedicado, melhorou as notas e o comportamento.

Os pais relataram que

não tiveram

oportunidade de conversar com outros profissionais. A professora de música observou melhora na concentração e mais dedicação á atividade. 7. Relatos do participante sobre a equoterapia

Gosta. Adora. Não quer que acabe e gosta do Tic-tac (cavalo). Gosta. Acha diferente e quer continuar praticando.

Os pais relataram que observam o prazer que o filho sente em realizar as atividades equoterápicas. Adora. Expressa-se por meio do capricho em relatar as atividades equoterápicas no diário. 8. Outras mudanças Melhora na interação com outras crianças. Melhora em realizar tarefas escolares. Melhora no comportamento na escola e a empolgação em ir para equoterapia.

O filho acorda com vontade de ir para a equoterapia, pois comumente tem dificuldade de acordar cedo para outras atividades. O filho demonstra alegria ao realizar as atividades, construiu vínculo com a mediadora e está mais humanizado. Assim, mediante ao que foi apresentado observa-se que de acordo com as respostas da mãe de P1 a equoterapia promoveu aumento na concentração, atenção, autoconfiança, motivação, dedicação e comunicação, melhor aproveitamento na escola, melhora na letra e melhor interação com outras crianças.

Quanto a P2, os pais relataram que a equoterapia promoveu aumento na concentração, atenção, autoconfiança. A particiapante apresenta-se mais carinhosa, aceita melhor a vontade dos outros, melhorou postura ao sentar, não derruba mais os objetos durante as refeições, está mais obediente, melhorou a relação com as primas, amigos e professores, parou de brigar na escola, apresenta melhor aproveitamento na escola, melhora na letra e também para fazer as tarefas escolares.

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Quanto a de P3, observa-se que conforme as respostas do pai, a equoterapia promoveu aumento na concentração, atenção, autoconfiança, calma, mais dedicação na escola, comunica-se melhor, melhorou o comportamento, passou a ter interesse pela leitura, passou a perceber mudanças no ambiente, percebeu que consegue fazer as tarefas, melhorou a letra e aperfeiçoou a interação com o primo.

Assim, mediante ao que foi apresentado observa-se que conforme as respostas dos pais de P4 a equoterapia promoveu mais autoconfiança, aumentou a atenção, proporcionou maior observação do ambiente, passou a corrigir os próprios erros, está mais carinhoso com os animais, está mais ágil para ler, demonstra maior interesse em saber o final de histórias e aprendeu a distinguir os lados direito e esquerdo.

De acordo com a mãe de P5 a equoterapia promoveu aumento na autoestima, aumentou a atenção, melhorou a comunicação, diminuiu a agitação, melhorou a relação com a irmã e amigos, está mais tranquilo, melhorou a concentração, está mais dedicado, tem prazer em realizar as atividades, construiu um vínculo com a mediadora, demonstra alegria nas atividades e está mais humanizado.

Por meio da análise de conteúdo, foram destacadas as unidades de registro que estão presentes em pelo menos três depoimentos dos cinco informantes. Os números entre parênteses que serão apresentados a seguir, referem-se ao número de registro de ocorrências das unidades a serem apresentadas, por exemplo, melhora na concentração (4).

Assim, foi verificado que a melhora na concentração (4) foi observada por quatro dos cinco pais entrevistados, e que a mesma foi mencionada mais de uma vez no decorrer de dois depoimentos, quanto à atenção (5) todos os pais relataram melhora e também foi mencionada mais de uma vez em um depoimento; quanto à melhora nas atividades acadêmicas (4) quatro dos cinco pais mencionaram melhora e; com relação à autoconfiança (4) quatro dos cinco pais mencionaram melhora; quanto à autoestima todos os pais relataram melhora, quanto a melhora na interação com parentes, colegas, professores e/ou animais todos os pais referiram melhora, sendo que três dos cinco pais mencionaram mais de uma vez no depoimento; com relação a comunicação (3) três dos cinco pais observaram melhora, sendo que um pai mencionou mais de uma vez no depoimento, quanto a motricidade fina, três dos cinco pais observaram melhora na letra e quanto a satisfação em praticar equoterapia todos os pais mencionaram que os filhos adoraram.

Conforme mencionado, o número de ocorrência das unidades de registro (número de depoentes que se referiram a determinada situação) foi destacado entre parênteses, conforme prevalência de aparição nas entrevistas. A satisfação em praticar equoterapia (5) e o aumento na atenção (5) foi unanimidade entre todos os pais. O melhor desempenho nas atividades acadêmicas (4) e aumento da autoconfiança (4) também foram referidos com frequência. Mais da metade dos informantes relataram aperfeiçoamento na capacidade de comunicação (3) e aprimoramento da motricidade fina observada pelo aperfeiçoamento da caligrafia (3).

DISCUSSÃO

Além dos benefícios físicos, a equoterapia proporciona uma série de outros efeitos satisfatórios nos aspectos cognitivos, sociais e emocionais. Assim no presente estudo, por

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meio das entrevistas com os pais, foi possível observar efeitos positivos em todos esses aspectos. Desse modo, conforme relato dos pais, com relação a:

- Mudança de comportamento (Questão 02): houve melhora na concentração, aumento na autoestima e autoconfiança, melhora na escola, maior interesse pela leitura, maior afetuosidade, diminuição do medo de ficar só, diminuição da agitação, maior sensibilidade ao ambiente e melhora na comunicação.

A mãe de P1 disse que “... agora tem facilidade de concentrar e fazer, enquanto ele está fazendo a tarefa, enquanto ele não acaba, ele quer acabar, tem dia que ele chega tarde e quer fazer a tarefa... .”

Os pais de P2 destacaram que está “... mais carinhosa, fica mais tempo em uma atividade, concentra-se por um período maior de tempo em uma mesma atividade. E o medo que ela tinha, não queria ficar sozinha em lugar nenhum, não ia nem no quarto brincar sozinha, agora ela está indo para o quarto brincar sozinha, acho que era insegurança de ficar longe da gente.”

Com relação a P3 o pai destacou que esta “mais calmo, começou a prestar mais atenção (...) ficou mais calmo na escola e em casa, querendo ler, o que era coisa rara (...) ficou mais concentrado, meu filho, vivia no mundo da lua, nossa senhora!”

Quanto a P4, os pais destacaram que “ele muda no momento da atividade, dependendo das pessoas ele muda.”

A mãe de P5, observou que “no geral foi bem positivo, principalmente para a autoestima, foi o que mais chamou a atenção e controlou um pouco a agitação.”

- Alterações na comunicação, autocontrole, autoconfiança, atenção e tempo de atenção (Questão 03): houve melhora no tempo de atenção, aumento na autoconfiança, melhora na concentração, melhor observação do ambiente, maior aceitação da vontade dos pares, maior motivação, diminuição de brigas na escola, fala mais calma, melhora na comunicação, maior controle na escola, melhor capacidade de perceber que consegue realizar as tarefas escolares. A mãe de P1 disse que “...tempo de atenção, sim, e melhorou bastante a concentração, acho que melhorou por que eu sentia muito a distração dele (...), quando ele vai fazer as lições tem mais confiança.”

Com relação a P3 o pai destacou que “... agora é um menino confiante nas coisas que faz, porque antes ele pegava uma continha para fazer e já falava que não sabia fazer, nem se interessava em fazer, agora vai e faz, ele percebeu que ele consegue fazer, é só ele pensar.” Quanto a P4, os pais destacaram que “a atenção melhorou, começou a observar melhor as coisas, passou a corrigir os próprios erros nas lições, a autoconfiança está bem melhor ... .” A mãe de P5, observou que “... melhorou o tempo de atenção e uma das coisas que eu achei muito legal é o diário dele, então, assim nos dias de equo ele tem um cuidado maior. Até melhorou a relação com irmã dele, (...), deu uma humanizada.”

- Interação com outras pessoas e/ou animais (questão 04): melhora na interação com a irmã, melhora na interação com os amigos, melhora na interação com primos, melhora na relação com professores, melhora na comunicação e maior tranquilidade.

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A mãe de P1 disse “... esses dias ele estava conversando, ele pediu figurinha para bater com os amigos, antes ele ficava com o ioiô perto da parede, agora não, ele se manifesta junto com outras crianças. Um espera o outro, ano passado ele não tinha isso, era uma criança retraída.”

Os pais de P2 destacaram que “passou a aceitar situações adversas, principalmente brincando com as primas, ela queria impor mais a vontade dela e, hoje a gente já percebe que ela já aceita a vontade dos outros. Parou de falar que brigou/discutiu com as crianças da escola.”

Com relação a P3 o pai destacou que “... com animais continua com o mesmo carinho de sempre. Ficou mais apegado ao primo dele de 1 ano, ele têm paciência para ficar cuidando dele, todo mundo estranha, (...) tem haver com a equo porque ele não tinha paciência para ficar cuidando dele. ”

Quanto a P4, os pais destacaram que “com animais ele se mostra muito mais carinhoso e aumentou depois da equo.”

A mãe de P5, observou que “o relacionamento com a irmã foi o primeiro que melhorou, na escola a professora falou que tinha percebido mudanças no relacionamento dele com os amigos, acho que deu uma tranquilizada no geral.”

- Quanto às alterações motoras (Questão 05): melhora na letra, na aprendizagem da organização espacial/lateralidade, melhora na postura ao sentar, melhora ao manusear os objetos durante as refeições e maior agilidade para ler.

A mãe de P1 disse que “a letra dele melhorou muito, está bonitinha agora, mais caprichada, o caderno está caprichado, até o brincar ele mudou, a facilidade de empinar a pipa é impressionante.”

Os pais de P2 destacaram que “a escrita melhorou, a letrinha melhorou bastante, ela ficou até feliz. Melhorou a postura ao sentar no sofá e no almoço ou jantar não derruba mais o suco ou o leite.”

Com relação a P3 o pai destacou que “a escrita dele mudou, está mais redondinha a letra dele, por que era um garrancho... .”

Quanto a P4, os pais destacaram que “com relação aos lados esquerdo e direito agora domina, agilidade em ler e se mostra muito interessado em saber o final da história.”

- Referente a mudanças notadas por outros profissionais (Questão 06): melhora na concentração, maior dedicação, melhora quanto à obediência e melhora no comportamento. A mãe de P1 disse que “a psicóloga percebeu que agora é uma criança mais alegre, ela chegava e falava que meu filho estava bem, pois conseguia fazer todas as atividades com ela, e ela falou que ele melhorou a concentração.”

Os pais de P2 destacaram que “... continua não parando na cadeira, mas hoje ela já faz a lição, obedece a professora, já está aceitando mais as condições que a professora impõe.” Com relação a P3 o pai destacou que “a professora até estranhou as notas dele, melhorou bastante, porque ele não fazia nada na sala de aula e passou a fazer as atividades que a professora passava.”

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A mãe de P5, observou que “a professora de música relata que o comportamento tem evoluído, que está mais centrado, no contexto da música, está se dedicando um pouco mais, para de achar que tudo é bagunça.”

- Sobre o que o filho fala sobre a equoterapia (Questão 7): todos os pais mencionaram que os filhos gostavam.

A mãe de P1 disse que “meu filho é muito fechado para fazer comentários, ele gosta de vir, às vezes eu pergunto, e aí filho?, e fala que foi legal, mas não entra em detalhes. ”

Os pais de P2 destacaram que “tudo de bom, adora, não quer que acabe, fala que queria fazer mais. Ela gosta do Tic-tac, fica falando do Tic-tac, sai contente da equo, e para ir para a equo nunca reclamou, ia sem chorar, sem fazer manha.”

Com relação a P3 o pai destacou que “ele gosta, que é diferente, que quer continuar fazendo.”

Quanto a P4, os pais destacaram que “olhamos e vemos que ele tem prazer em fazer, comentava sobre a pista de areia, mas não costuma falar das atividades no geral.”

A mãe de P5, observou que “ele adora, conta às coisas que conseguiu fazer, as conquistas, até no diário só escreve coisas felizes... .”

- Outras mudanças que quiseram relatar (Questão 8): melhor interação com os amigos, melhor comportamento na escola, melhora na realização de tarefas escolares, empolgação em ir para a equoterapia, bom vínculo com a mediadora e maior humanização.

A mãe de P1 disse que “as pessoas perceberam que meu filho cresceu, no geral teve uma mudança muito boa, melhorou na escola, na concentração, na autoestima, na confiança e até em casa, no que ele tinha medo, ele parou para pensar em certas situações, então a equo fez mudar a cabecinha dele. ”

Com relação a P3 o pai destacou que “está mais falante e contando as coisas, a história dele, do jeito dele.”

Quanto a P4, os pais destacaram que “ele tinha o compromisso e gostava muito, você cativou ele e não são todas as pessoas que conseguem.”

A mãe de P5, observou que “o maior ganho foi a autoconfiança e reparei também que ele andava muito arrastando o pé, agora não arrasta mais.”

Mediante a análise do depoimento foi possível observar que alguns aspectos foram mencionados por três entrevistados ou mais, ou ainda mais de uma vez pelo mesmo entrevistado; assim é possível notar que os aspectos que se sobressaíram quanto a melhora devido a intervenção em equoterapia foram referentes à: concentração, atenção, atividades acadêmicas, autoconfiança, autoestima, interação com pessoas e/ou animais, comunicação e habilidades motoras.

Os dados levantados no presente estudo por meio das entrevistas com os pais corroboram com Schubert (2006) e Mendes (2008), pois o primeiro aborda que a atividade equoterapêutica desenvolve a autoconfiança, segurança, disciplina, concentração, sociabilidade e bem-estar e, o segundo menciona que a equoterapia requer concentração e atenção durante todo o tempo de prática e que essas contribuem para o desempenho das atividades cognitivas. Desse modo verifica-se o quanto a equoterapia influência positivamente o desenvolvimento da criança como um todo e que foi perceptível pelos pais dos participantes.

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A prática equestre favorece ainda uma sociabilidade sadia, visto que integra o praticante, o cavalo e os demais profissionais envolvidos (SCHUBERT, 2005), permitindo associação a atividades lúdicas e, desta forma proporcionando uma intervenção dinâmica e prazerosa. As atividades lúdicas são estratégias muito prazerosas de trabalho, para o terapeuta e o praticante (ALVES et al., 2009).

Conforme a definição da ANDE-BRASIL, 2010 a equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo em uma abordagem interdisciplinar nas áreas da saúde, educação e equitação buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com necessidades especiais; assim por meio do desenvolvimento desse programa de equoterapia reforça-se essa perspectiva, pois os ganhos mencionados pelos pais contemplam o desenvolvimento biopsicossocial, influenciando de forma positiva nas esferas motora, acadêmica e social.

Meregillano (2004) também aponta que a equoterapia promove uma série de benefícios físicos, cognitivos, sociais e emocionais. Quanto aos benefícios físicos o movimento do cavalo proporciona a entrada sensorial de um padrão de movimento repetitivo semelhante ao movimento da pélvis de uma pessoa durante a marcha humana normal, o movimento tridimensional do cavalo simula a marcha humana e proporciona mobilização da pelve, da região lombar e quadril, a normalização do tônus muscular, desenvolvimento do controle postural da cabeça e tronco, melhora da resistência, simetria e consciência corporal. Com relação aos benefícios cognitivos sociais e emocionais apontou melhoras sobre a autoestima, confiança, atenção, comunicação e maior interação com demais pessoas. Tornando-se, portanto, um estímulo adequado para o aprimorando das habilidades motoras de pessoas com TDAH, pois de acordo com o relato dos pais o programa de equoterapia proporcionou as crianças melhoras em aspectos cognitivos e sociais semelhantes.

CONCLUSÃO

Mediante ao exposto pode-se concluir que na perspectiva dos pais,as crianças com indicativos de TDAH que participaram de um programa de intervenção, por três meses conseguiram observar e relatar as mudanças positivas relacionadas às mudanças no comportamento, na comunicação, autocontrole, autoconfiança, atenção e tempo de atenção, melhora na interação com outras pessoas e/ou animais, melhora nos aspectos motores como também ao interesse/gosto da criança pela equoterapia e puderam perceber ainda que outros profissionais que lidavam com as crianças notaram as mudanças. Tais evidências indicam a transferência do que foi desenvolvido durante a intervenção para diferentes contextos e que é visível aos familiares e demais pessoas que lidam com as crianças.

REFERÊNCIAS

ALVES, E. M. R.; CUNHA, A. B.; GARBELLINI, D. Prática em equoterapia: uma abordagem

fisioterápica. São Paulo: Atheneu, 2009.

ANDE-BRASIL. 1º Curso Básico de Equoterapia. Araras: CEREN/Centro de Estimulação e Reabilitação Neurológica “José Canzi Júnior”, 2010. 169 p. Apostila.

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DSM-IV-TRTM. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2002. 880 p.

LOPES, R. M. F.; NASCIMENTO, R. F. L.; BANDEIRA, D. R. Avaliação do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade em adultos (TDAH): uma revisão de literatura. Avaliação Psicológica, Porto Alegre, v.4, n.1, p.65-74, 2005.

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Referências

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