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O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na Região de Dracena - SP 1.

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Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

1 O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) NA REGIÃO DE

DRACENA(SP)

medeiroshespanhol@yahoo.com.br

Apresentação Oral-Agricultura Familiar e Ruralidade ROSANGELA MEDEIROS HESPANHOL. FCT/UNESP, PRESIDENTE PRUDENTE - SP - BRASIL.

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na Região de Dracena -

SP

1

.

Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e ruralidade.

Resumo

As políticas públicas direcionadas para o meio rural brasileiro passaram por mudanças importantes em termos de sua concepção e operacionalização a partir de meados dos anos 1990. Desde então foram incorporados, entre outros aspectos, a questão da segurança alimentar, a descentralização, a perspectiva territorial, o incentivo à participação representativa e a organização coletiva dos produtores rurais. Nesse contexto foi criado em 2003 o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com o intuito de garantir a alimentação de pessoas em situação de vulnerabilidade social ou insegurança alimentar e de gerar trabalho e renda no campo por meio da compra direta de alimentos dos produtores de pequeno porte. Em pesquisa realizada nos municípios de Dracena, Tupi Paulista e Junqueirópolis, localizados na Região de Dracena (SP), se constatou que o preço pago aos agricultores pelo PAA é superior à média regional e que em virtude desse fato os participantes têm interesse em ampliar a área cultivada e/ou diversificar os cultivos realizados, além de se sentirem valorizados na escala local. Todavia, dois problemas foram detectados: i) o número reduzido de produtores beneficiados; e, ii) o favorecimento de parentes dos produtores já cadastrados, os quais se valem de certos mecanismos para ampliar a cota de produtos e o valor a ser recebido.

Palavras-chaves: Políticas públicas; comercialização; geração de emprego e renda; espaço

rural.

The Food Acquisition Program (PAA) in the Geographic Micro-region of Dracena (SP).

Abstract

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Public policies geared towards the Brazilian rural environment underwent important changes in terms of conception and operationalization starting in the mid 1990s. Since then, several aspects have been included, such as the issue of food security, decentralization, the land perspective, and they also encouraged the representative participation and collective organization of rural producers. The Food Acquisition Program (PAA) was created in this context in 2003. Its objective is to guarantee food for people in situations of social vulnerability or food insecurity and to generate jobs and income in the fields through the direct purchase of foods from small producers. In a study carried out in the municipalities of Dracena, Tupi Paulista and Junqueirópolis, located in the Region of Dracena (SP), it was ascertained that prices paid farmers by PAA were higher than the regional average. Because of that the participants are interested in expanding their planted areas and/or diversifying crops. They also feel valorized at the local level. However, two problems were detected: i) the reduced number of benefitted producers; and, ii) the favoring of relatives of already registered producers, who make use of certain mechanisms to expand their product quotas and the sums to be received.

Key words: Public policies; commercialization; job and income generation; rural space.

1. Introdução

Em decorrência do caráter centralizador do Estado brasileiro, as políticas públicas direcionadas ao meio rural se caracterizaram até os anos 1980 por seu caráter setorial, já que se destinavam, sobretudo, ao crescimento do volume produzido e dos índices de produtividade por meio da incorporação de inovações tecnológicas pelas atividades agropecuárias. O espaço rural, nesse contexto, era apreendido apenas como o locus para a realização das atividades relacionadas à agricultura. Além do seu caráter setorial, essas políticas eram concebidas a partir dos interesses (lobbies) econômicos dominantes – oligarquias rurais e urbano-industriais - envolvidos na agricultura, sem que houvesse qualquer tipo de discussão e/ou participação no âmbito institucional dos demais segmentos sociais (pequenos produtores, trabalhadores rurais etc.) que compõem o espaço rural e que ficaram à margem desse processo.

Essa situação, entretanto, começou a mudar em virtude de uma conjuntura política e social que teve como marco o processo de redemocratização do país e que favoreceu a intensificação de movimentos organizados na sociedade, reivindicando a sua participação. Em termos econômicos destacaram-se o aprofundamento da crise financeira do Estado brasileiro na década de 1980 e a adoção do modelo neoliberal a partir do início dos anos 1990. O desencadeamento do processo de descentralização político-administrativo, propiciado pela Constituição de 1988, foi outro elemento importante nesse cenário. Assim, temas como poder local, participação social, autogestão, desenvolvimento sustentável, representação e formas de organização coletiva ganharam destacada relevância no âmbito nacional.

A partir de meados dos anos 1990 e início deste século (XXI), as políticas direcionadas ao meio rural brasileiro passaram a incorporar em seu escopo, algumas mudanças em termos de concepção, estruturação e formas de operacionalização. Ganharam importância, em termos de concepção das políticas, a preocupação com a segurança alimentar, o enfoque territorial, o estímulo à participação representativa dos beneficiários e

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a organização coletiva dos atores sociais. Em termos operacionais, o envolvimento de vários ministérios na estruturação dos programas e a descentralização das ações na escala municipal, considerada a mais adequada para a implementação, gestão e fiscalização dos programas, foram algumas das mudanças inseridas no período recente.

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) foi instituído neste novo cenário das políticas públicas. Criado em 2003, na gestão do governo Lula, esse programa foi concebido como parte de um conjunto mais amplo de políticas estruturantes que compõem o Fome Zero, tais como a elaboração de um Plano de Safra da Agricultura Familiar em 2003/04, que incentivado pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), se diferenciou da elaboração dos planos de safra convencionais, destinados essencialmente para a grande produção agropecuária.

O PAA tem como objetivo principal estimular e fortalecer a agricultura familiar por meio de um conjunto de ações relativas à aquisição de produtos agropecuários e sua distribuição a grupos de pessoas que vivem em situação de insegurança alimentar e/ou nutricional, contribuindo também para a formação de estoques estratégicos de alimentos no país.

Tendo em vista a importância que esse programa pode desempenhar como uma política diferenciada em termos de segurança alimentar e de fomento à produção agropecuária na escala local, ao envolver, de um lado, os produtores rurais que têm dificuldades para comercializar a produção e, de outro, as instituições que necessitam adquirir produtos no mercado, que se propôs à realização da presente pesquisa.

A partir do estudo do PAA em três municípios da Microrregião Geográfica de Dracena – Dracena, Junqueirópolis e Tupi Paulista - se procurou analisar como esse programa é operacionalizado, sua abrangência em termos de produtores rurais, os problemas e limitações apresentados e a perspectiva de continuidade e ampliação na escala local.

A escolha destes municípios se deve à importância que as pequenas propriedades rurais possuem no contexto regional e, sobretudo, pelo fato de terem sido as primeiras localidades na região a se inserirem no programa.

Além de levantamento bibliográfico sobre a temática abordada, coleta e análise de dados de fonte secundária, a pesquisa envolveu a realização de pesquisa de campo nos municípios selecionados. A pesquisa empírica consistiu na realização de entrevistas com os presidentes de associações e com produtores rurais envolvidos no programa nos municípios de Dracena, Tupi Paulista e Junqueirópolis.

1. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) tem como objetivo principal incentivar a agricultura familiar por meio da aquisição de produtos agropecuários destinados às pessoas em situação de insegurança alimentar e/ou nutricional e, ao mesmo tempo, favorecer a formação de estoques estratégicos no país.

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Esse programa foi instituído em meados de 20032 e compõe, juntamente com o Bolsa Família, um conjunto de ações desencadeadas no âmbito da política agrária e de segurança alimentar do Governo Lula, objetivando a concretização do Fome Zero3.

Para participar do programa, os produtores rurais devem se enquadrar nos critérios estabelecidos para os grupos A, B, C e D do PRONAF e, preferencialmente, estarem organizados em cooperativas, associações ou grupos de interesse informais com, no mínimo, cinco agricultores. Com a adoção dessa medida, o governo federal visa estimular a organização coletiva dos produtores rurais, em consonância com as concepções mais recentes das políticas direcionadas para o espaço rural.

Isento de licitação, o programa funciona de maneira a adquirir os alimentos produzidos pelos agricultores familiares do município a preços baseados na cotação do mercado regional e fornecê-los a escolas e/ou instituições assistenciais que atendem grupos de pessoas carentes. Dessa forma, os produtos adquiridos pelo programa podem destinar-se tanto à merenda escolar como à alimentação em creches, abrigos, albergues, asilos, hospitais públicos, restaurantes populares, cozinhas comunitárias, entre outros.

De acordo com Mattei (2007, p. 05), “os instrumentos do programa beneficiam tanto o agricultor familiar como os consumidores (...). Desta forma, busca-se uma associação entre a política de segurança alimentar e nutricional e as políticas de promoção da agricultura familiar.”

Em termos institucionais, o PAA é coordenado em âmbito nacional por um Grupo Gestor que envolve representantes dos seguintes ministérios: do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que é o coordenador do programa; do Planejamento, Orçamento e Gestão; do Desenvolvimento Agrário; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA); da Fazenda; e, mais recentemente, da Educação4. A parte operacional do programa está a cargo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)5.

As ações do PAA são implementadas por meio do estabelecimento de convênios entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e as administrações estaduais e municipais. No caso dos convênios com os governos estaduais, prevê-se a constituição de uma coordenação do programa em nível estadual visando a articular os diferentes agentes e, no âmbito dos municípios, há a necessidade de que os projetos sejam aprovados e fiscalizados por um conselho municipal (Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, Conselho de Segurança Alimentar etc.) (MATTEI, 2007).

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O PAA foi instituído pelo artigo 19 da Lei nº. 10.696, de 10 de julho de 2003, e regulamentado pelo Decreto nº. 4.772, de 02 de julho de 2003. Esse decreto foi alterado pelos nº 5.873 de 15 de agosto de 2006 e 6.447 de 07 de agosto de 2008.

3 O Programa Fome Zero foi criado pelo Governo Lula em 2003 tendo como objetivo principal erradicar a

fome e a desnutrição no país. Nesse sentido, têm sido promovidas ações tanto emergenciais (cestas básicas, cartão alimentação, merenda escolar etc.) como estruturais (barateamento dos produtos, criação de canais alternativos de comercialização, cooperativas de consumo etc.) para garantir a segurança alimentar e nutricional.

4

Regulamentado pelo Decreto nº 6.447 de 07 de maio de 2008 em virtude da incorporação de um representante do Ministério da Educação para compor o Grupo Gestor Interministerial.

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A CONAB faz parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo responsável pelas políticas públicas de abastecimento do governo federal desde a sua implantação em 1991.

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Os recursos utilizados no programa provem do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, sendo originários do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, repassados à CONAB por meio de convênios.

O PAA subdivide-se em cinco modalidades, como se pode observar no quadro 01.

Quadro 1: Modalidades do PAA e suas características.

Modalidades Características

Compra Direta da Agricultura Familiar

Possibilita a aquisição de alimentos pelo Governo Federal, a preços de referência, de produtores organizados em grupos formais (cooperativas e associações), inserindo os agricultores familiares no mercado de forma mais justa, via compra direta de sua produção, a fim de constituir reserva estratégica de alimentos. É operada pela CONAB.

Compra para Doação Simultânea

Destina-se a promover a articulação entre a produção de agricultores familiares e as demandas locais de suplementação alimentar e nutricional de escolas, creches, abrigos, albergues, asilos, hospitais públicos e outros, e dos programas sociais da localidade, tais como bancos de alimentos, restaurantes populares e cozinhas comunitárias, resultando no desenvolvimento da economia local, no fortalecimento da agricultura familiar e na geração de trabalho e renda no campo. É operada pelos governos Estaduais, Municipais e pela CONAB.

Formação de Estoques pela Agricultura Familiar

Visa adquirir alimentos da safra vigente, próprios para consumo humano, oriundos de agricultores familiares organizados em grupos formais para formação de estoques em suas próprias organizações. É operada pela CONAB.

Incentivo à Produção e Consumo do Leite

Destina-se a incentivar o consumo e a produção familiar de leite, visando diminuir a vulnerabilidade social, combatendo a fome e a desnutrição, e contribuir para o fortalecimento do setor produtivo familiar, mediante a aquisição e distribuição de leite com garantia de preço.

Aquisição de Alimentos para Atendimento da Alimentação Escolar

Destina-se a promover a articulação entre a produção de agricultores familiares e as demandas das escolas para atendimento da alimentação

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6 escolar.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2009).

Com exceção da modalidade PAA Leite, as demais são operadas pela CONAB que tem como função credenciar as entidades beneficiadas e os pólos de compras, sejam cooperativas ou associações de produtores rurais. Cabe também à CONAB repassar aos pólos de compra o padrão de qualidade dos alimentos produzidos pelos agricultores. Este padrão é estabelecido pelo MAPA.

Dessa maneira, o Grupo Gestor Interministerial atua com o objetivo de instruir as diretrizes a serem contempladas no programa e a CONAB diretamente no processo de execução da política pública, credenciando os pólos de compras para que possam efetuar a aquisição direta com os produtores rurais.

Em termos de valores pagos, desde o ano de 2006 o limite anual é de R$ 3.500,00 por ano/agricultor e no PAA Leite é de R$ 3.500,00 por semestre/produtor.

Considerando os dados disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome referentes ao período 2003-2007, podemos verificar na tabela 01, a evolução apresentada pelo programa em termos do número de produtores rurais participantes, o volume de recursos empregados e o número de pessoas que receberam os produtos via PAA.

Tabela 1: PAA: Número de produtores, volume de recursos e pessoas beneficiadas.

Ano Número de Produtores no PAA Valores (Milhões de R$) Número de pessoas que recebem produtos do PAA 2003* 41.988 164,7 39.500 2004 68.700 179,3 3.339.189 2005 87.439 333,1 4.356.191 2006 111.030 374,3 8.681.933 2007** 114.914 402,2 6.200.000 Fonte: VEIGA (2008).

(*) Refere-se ao período compreendido entre julho e dezembro. (**) Refere-se ao período compreendido entre janeiro e setembro.

Verifica-se que apesar da ampliação ocorrida no período em relação ao número de produtores envolvidos, os recursos alocados e as pessoas beneficiadas, a abrangência do programa ainda é bastante limitada em nível nacional.

Se considerarmos apenas o número de produtores que poderiam ser beneficiados com o programa, verificamos que além da sua limitação em termos numéricos, houve no ano de 2006, a concentração de 67,2% destes em apenas duas regiões: Nordeste (35,3% do total) e Sul (31,9%), com participação reduzida das demais, como se pode verificar na Figura 1.

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7 27252 24672 14266 7842 3294 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 N º d e p ro d u to re s r u ra is Nor dest e Sul Sud este Norte Cen tro-O este Fonte: VEIGA (2008).

Figura 1: Número de produtores rurais no PAA - 2006.

Ainda em relação a essas duas regiões, as unidades da federação que mais se destacaram em termos de produtores beneficiados com o programa foram Rio Grande do Norte (representando 73,1% do total regional do NE) e Paraná (representando 42,9% do total regional do Sul). Constata-se, assim, que a mesma concentração verificada em nível das macrorregiões, reproduz-se também em termos de unidades da federação. Quais seriam as causas desta concentração em âmbito regional e estadual? Uma hipótese que pode ser levantada diz respeito ao maior grau de organização coletiva dos produtores beneficiados e/ou a maior divulgação do programa nestas unidades da federação. Todavia, de forma geral, o que se pode afirmar é que o número de produtores beneficiados pelo PAA ainda é muito reduzido se comparado ao universo de agricultores de pequeno porte que encontram dificuldades com a comercialização da produção.

1.1. PAA - Compra para Doação Simultânea

Esta modalidade do PAA, denominada de doação simultânea ou simplesmente PAA CONAB, objetiva garantir o direito à alimentação de pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social e/ou de insegurança alimentar e, ao mesmo tempo, gerar trabalho e renda no campo por meio da aquisição dos alimentos dos agricultores familiares.

Os agricultores que podem vender os seus produtos à CONAB, intermediados por cooperativas ou associações de produtores rurais, devem estar enquadrados entre os grupos A, B, C ou D do PRONAF e apresentarem a Declaração de Aptidão (DAP), emitida pelo sindicato, cooperativa etc.

Com relação às entidades beneficiadas, estas devem integrar a rede sócio-assistencial fornecedora de refeições ou entidades cadastradas nos Bancos de Alimentos,

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tais como creches, restaurantes e cozinhas populares, escolas públicas, abrigos, albergues, hospitais públicos, asilos etc.

Para participar do programa, as organizações coletivas de produtores rurais (associações, cooperativas ou grupos de interesse) e as entidades assistenciais do município devem, por meio da Secretaria (ou Departamento) de Assistência Social ou equivalente, elaborar uma proposta conjunta (plano) que alie a necessidade do consumo de alimentos do público atendido por essas instituições e a possibilidade de produção destes alimentos pelos agricultores do município. Esta proposta deverá conter a relação de produtores rurais participantes, os gêneros alimentícios a serem produzidos, a proposta de preço de venda e o local de entrega dos produtos. Depois de elaborada, a proposta deverá ser aprovada pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do município ou, na falta deste, por um conselho local e encaminhado para o conselho do programa em nível estadual ou à CONAB para aprovação.

Os recursos aprovados anualmente ficam retidos até a confirmação de que os produtos foram entregues com o padrão de qualidade e na quantidade que foi estipulada, por meio de um termo de recebimento e aceitação assinado pela instituição que recebeu os produtos, seja a cooperativa, a associação ou até mesmo a própria entidade beneficiária (creche, asilo, hospital etc.).

Entre agosto de 2003 e julho de 2006, o teto máximo de venda dos produtos foi fixado em R$ 2.500,00 por produtor/ano fiscal e, a partir de agosto de 2006, esse valor foi elevado para R$ 3.500,00 produtor/ano fiscal (o equivalente a R$ 291,00 por mês).

Para apreendermos algumas particularidades que permeiam esse programa na escala local, analisaremos a sua implementação nos municípios paulistas de Dracena, Tupi Paulista e Junqueirópolis.

2. O PAA – Compra para Doação Simultânea nos municípios de Dracena, Tupi Paulista e Junqueirópolis.

2.1.Contexto regional

Os municípios de Dracena, Tupi Paulista e Junqueirópolis compõem a Microrregião Geográfica de Dracena (MRG), situada na porção oeste do Estado de São Paulo (Figura 02), no Planalto Ocidental Paulista.

Em termos populacionais, essa região abarcava no ano de 2000 um contingente demográfico de 107.896 habitantes, sendo que 86,0% residiam nos núcleos urbanos (IBGE, 2000).

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Figura 02: Microrregião Geográfica de Dracena – 2006.

Monte Castelo Santa Mercedes Paulicéia São João do Pau d’Alho Nova Guataporanga Panorama

Ouro Verde Dracena Tupi Paulista Junqueirópolis 4 km 0 4 8 km Escala 1: 220.000 Estrada de Ferro Rodovias Malha urbana Drenagem Fluvial Região de Dracena 7 6 0 0 0 0 0 400000 7 6 0 0 0 0 0 460000 7 6 6 0 0 0 0 400000 S P 563 Organização Fonte :

Roâangela Aparecida de Medeiros Hespanhol :

Base georreferenciada das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe. In: Relatório Técnico Contrato FEHIDRO nº 282/2000, 2001. Córrego Pra do Ribei rão São B e n to R ib ei rã o e ir N o v a P a lm a R ib ei rã o Taq ueruç u Rio d o Peixe Rio F ou eio Aguap eí R io P a ran á

Em termos econômicos, essa microrregião apresenta baixa expressividade do seu setor industrial, assumindo significativa importância em termos de absorção de pessoal e de arrecadação de impostos, as atividades ligadas ao comércio e à prestação de serviços.

Entretanto, na maior parte dos municípios que compõem essa microrregião, o setor agropecuário ainda é fundamental. Isso porque, as demandas geradas a partir desta atividade econômica, sejam elas diretas (compra de insumos e equipamentos; consertos de máquinas e implementos; comercialização da produção; acesso ao crédito rural etc.) e/ou indiretas (aquisição de gêneros alimentícios, de limpeza e higiene pessoal; eletrodomésticos; medicamentos etc.), tem seus efeitos no comércio e no setor de prestação de serviços, uma vez que grande parte destas atividades é realizada nas pequenas cidades da região, em especial Dracena, Junqueirópolis e Tupi Paulista.

Não obstante a importância da agricultura para a região, esta passou, no decorrer dos anos 1980, por profunda crise econômica e social em decorrência de problemas na cafeicultura que resultou em intenso processo de êxodo rural e de estagnação econômica. Em conseqüência, a região passou a ser conhecida como o “corredor da fome” (BISPO, 2007). Isso porque, a cafeicultura se constituiu, durante muito tempo, na principal atividade econômica. Consorciada à cafeicultura se desenvolveram outras atividades, a exemplo da produção diversificada de alimentos e da criação de animais, voltadas à subsistência e a comercialização dos excedentes nos mercados locais.

Associada a esta grave crise no setor, os produtores de café da região de Dracena, especialmente os pequenos, já enfrentavam dificuldades com a lavoura desde o início dos anos 1970 em virtude da falta de acesso ao crédito rural e a reduzida disponibilidade de

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recursos para investirem nas lavouras. Além dessas dificuldades, os solos desgastados e a incidência de pragas e doenças resultavam na baixa qualidade do café colhido (CHIBA et. al., 2001 apud OLIVEIRA, 2003).

Essa situação desfavorável à cafeicultura foi mais sentida pelos pequenos proprietários de terras que, descapitalizados, não tinham condições econômicas para recuperarem os cafezais atingidos pela geada.

A crise da cafeicultura regional se refletiu na forma de utilização das terras, como se pode observar na tabela 3.

Tabela 3 - Utilização das terras na MRG de Dracena – 1970-2006.

1970 1975 1980 1985 1995-96 2006 Lavouras 78.371 56.454 63.185 69.323 26.027 49.065 Permanentes 40.052 39.732 44.553 31.792 8.037 - Temporárias 38.319 16.722 18.632 37.531 17.990 - Pastagens 165.179 190.902 196.263 184.472 210.019 197.633 Naturais 27.843 19.311 38.407 5.392 25.203 - Plantadas 137.336 171.591 157.856 179.080 184.816 - Matas Florestas 7.725 5.276 6.976 6.552 11.329 10.808 Naturais 7.560 5.173 6.841 6.260 10.426 - Plantadas 165 103 135 292 903 - TOTAL 251.275 252.632 266.424 260.347 247.375 257.506

FONTE: Censos Agropecuários do IBGE (1970, 1975, 1980, 1985 e 1995/96). Resultados Preliminares do Censo Agropecuário de 2006.

Constata-se que no período 1970-1995/96 houve grande redução na área cultivada com lavouras, que decresceu de 78.371 para 26.027 hectares. Esse decréscimo deveu-se à diminuição mais intensa da área ocupada com lavouras permanentes, que no período em apreço retraiu-se de 40.052 hectares em 1970 para pouco mais de 8 mil hectares em 1995/96. Tal redução esteve intimamente vinculada à crise da cafeicultura na região.

Para se ter uma idéia da importância das lavouras de café no contexto regional, vale lembrar que em 1970 a área ocupada com essa cultura era de 34.562 hectares, representando 86,3% da área total com lavouras permanentes, enquanto que em 1996 foi de 2.818 hectares, representando 35,0% , de acordo com os dados disponibilizados pelos Censos Agropecuários do IBGE de 1970 e 1995/96.

Com a redução das áreas destinadas às lavouras, especialmente de café, as pastagens que já eram significativas nas grandes e médias explorações também se expandiram nos pequenos estabelecimentos. Como resultado desse processo houve o crescimento da área ocupada com pastagens - sobretudo das plantadas – que se ampliaram de 165.179 hectares em 1970 para 210.019 hectares em 1995/96.

É importante destacar que a expansão da pecuária nos grandes estabelecimentos da região se deu de forma extensiva, com baixo nível de incorporação tecnológica e com emprego de pouca mão-de-obra, caracterizando-se por seu caráter especulativo com a terra. Nos pequenos estabelecimentos, em virtude do seu nível de descapitalização, a pecuária mista (corte e leite) foi adotada juntamente com o desenvolvimento de outras atividades produtivas, como a fruticultura e o cultivo de seringueira e urucum, como alternativas econômicas à cafeicultura.

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Deve-se ressaltar que mais recentemente, em virtude da política nacional de incentivo à produção de etanol, houve na Microrregião Geográfica de Dracena a instalação de várias usinas de açúcar e álcool6. Em conseqüência, a área de cultivo com cana-de-açúcar nesta região ampliou-se de 3.869 hectares em 1990, com um volume produzido de 241.254 toneladas, para 29.226 hectares em 2007, resultando numa produção de 2.601.307 toneladas, de acordo com os dados da Produção Agrícola Municipal de 2007.

Até meados do ano de 2008, a estratégia utilizada pelas usinas implantadas na região para garantir o fornecimento de matéria-prima era o de arrendar principalmente médios e grandes estabelecimentos rurais até então utilizados para a criação extensiva de gado de corte e pequenos, quando situados no entorno deles. Um dos efeitos desse processo no período 1995/96 – 2006 foi a ampliação das áreas ocupadas com lavouras, que cresceram de 26.027 para 49.065 hectares, enquanto que as pastagens reduziram-se de 210.019 hectares em 1995/96 para 197.633 em 2006, como se pode observar na tabela 1.

A partir do contexto regional em que se inserem os municípios de Dracena, Tupi Paulista e Junqueirópolis e as dificuldades sócio-econômicas enfrentadas pelos pequenos produtores rurais, se constata a importância que as políticas públicas, como o PAA, podem adquirir, especialmente em municípios de pequeno porte7, em que a agricultura ainda se constitui na principal atividade econômica.

2.2. A gestão do PAA – Compra para Doação Simultânea nos municípios pesquisados.

Com a decadência da cafeicultura na região a partir dos anos 1980, os pequenos proprietários tiveram que buscar alternativas em termos produtivos e econômicos para permanecerem no espaço rural. Dentre as alternativas produtivas buscadas, destacaram-se: a fruticultura, destinada tanto ao processamento industrial (maracujá, manga, goiaba etc.) como ao consumo in natura (uva e coco-anão); o cultivo de seringueira para a extração do látex e do urucum, bem como a pecuária de leite visando ao processamento industrial (HESPANHOL, 2007).

Essas atividades, embora tenham garantido a manutenção da família – ou de parte desta – e da propriedade da terra, têm apresentado limitações, já que em virtude da escala de produção ser pequena, há a subordinação dos produtores aos interesses dos intermediários (cerealistas) e do setor agroindustrial que, direta ou indiretamente, atuam na região.

Para minimizar o problema da pequena escala de produção, uma alternativa encontrada pelos produtores e, cada vez mais estimulada por meio das políticas públicas, tem sido a organização coletiva por meio do associativismo rural. Tal estímulo se deve ao fato de que dependendo do grau de envolvimento e de participação dos produtores, essas associações se constituem em importante espaço de discussão, de busca coletiva de alternativas aos problemas enfrentados no espaço rural e nas atividades produtivas

6 Na MRG de Dracena há usinas instaladas nos municípios de Dracena (Usina de Dracena), Santa Mercedes

(Usina do Grupo Carlos Lira), Ouro Verde (Usina Caeté), Junqueirópolis (Usina Rio Vermelho e Usina Nova Alta Paulista - USALPA) e Panorama (em fase de implantação).

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Nesse trabalho consideramos municípios de pequeno porte aqueles que têm menos de cinqüenta (50) mil habitantes, que não pertençam a aglomerações urbanas, sejam de caráter metropolitano ou não-metropolitano, e que apresentem expressivas vinculações entre as atividades realizadas no espaço urbano e rural.

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agropecuárias, bem como na mediação com as instituições que compõem a esfera do poder local (prefeitura municipal, Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, Casa da Agricultura etc.). A médio e longo prazos, dependendo das articulações estabelecidas, essas associações de produtores podem favorecer a discussão e a implementação de um projeto de desenvolvimento com base nas potencialidades locais. Todavia, dadas às dificuldades de organização e de participação dos produtores, de ingerência político-partidária, da falta de recursos ou da má gestão financeira e administrativa, entre outros, a maioria das associações não consegue atingir os seus objetivos mais imediatos ligados à prestação de serviços (aquisição conjunta de insumos químicos e disponibilização de máquinas e equipamentos agrícolas).

Nesse contexto, os municípios selecionados para a realização da pesquisa, ou seja, Dracena, Tupi Paulista e Junqueirópolis, se constituem de certa forma, em exemplos, já que as associações de produtores rurais existentes nestas localidades, apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas, apresentaram-se relativamente bem estruturadas, seja em termos materiais (em termos de sede, de funcionários e de equipamentos de informática), de participação dos produtores associados, como de articulações políticas, seja na esfera municipal (prefeitura, Casa da Agricultura, cooperativas e sindicatos, agroindústrias, SEBRAE etc.), regional (Escritório de Desenvolvimento Rural, universidades públicas etc.) e até mesmo estadual8.

Nesse contexto se procurou analisar de que forma se dá a gestão e a operacionalização do PAA - Compra para Doação Simultânea, operada pela CONAB em parceria com as instituições assistenciais (creches, asilos, hospitais etc.) e as associações de produtores rurais que atuam nos municípios selecionados.

No caso do município de Dracena, o PAA é realizado por meio de convênio estabelecido entre a CONAB e a Associação de Produtores Rurais (APRD) desta localidade (BISPO, 2007).

A gestão do programa neste município, que envolve desde a fase de elaboração do projeto (proposta) até a entrega dos produtos às entidades assistenciais de Dracena, é efetuada por meio da Associação dos Produtores Rurais de Dracena (APRD) que centraliza todas as atividades. Assim, os agricultores entregam seus produtos semanalmente na sede da associação que, por sua vez, fica incumbida de distribuir os alimentos às entidades sociais credenciadas pelo programa – num total de 14 -, sendo também responsável pela vistoria dos produtos entregues, certificando-se de sua qualidade. Caso o produto não apresente condições em termos de qualidade, a entrega do produto à instituição pode não ser efetuada e, consequentemente, o produtor não receberá o pagamento. De acordo com o presidente da associação, o número de casos em que os produtos não são aceitos pelas entidades assistenciais devido à qualidade inferior é muito pequeno, pois o produtor associado sabe que não receberá pelos produtos, correndo o risco de não ser cadastrado novamente no momento de renovação do projeto junto à CONAB.

8 Isso porque fazem parte da Federação das Associações de Produtores Rurais das Microbacias do Estado de

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Na perspectiva do presidente da APRD, o PAA é muito interessante não somente para o produtor rural, mas também para as entidades assistenciais credenciadas, já que elas têm a oportunidade de adquirir produtos agropecuários diversificados e dentro dos padrões de qualidade estipulados pela CONAB, além de poderem negociar, caso queiram e necessitem, a oferta de outros produtos não previstos no Plano Anual do PAA, mas que sejam cultivados pelos produtores cadastrados.

No ano de 2007, no município de Dracena, cinqüenta (50) produtores rurais, com área cultivada entre 1 e 3 hectares, estavam cadastrados no programa, sendo que os principais produtos comercializados no programa foram: acerola (fruta in natura), alface, abacate, manga, feijão, mandioca, pepino e leite.

No município de Tupi Paulista, por sua vez, havia no ano de 2007 duas associações de produtores rurais cadastradas junto à CONAB, totalizando quarenta e dois (42) produtores rurais: a Associação de Viticultores da Região de Tupi Paulista (AVIRTUPI), envolvendo vinte e um (21) produtores de uva e a Associação da Microbacia dos Produtores Rurais do Barro Preto (AMPROBRAP), com vinte e um (21) produtores entregando produtos diversos às entidades assistenciais (VELOSO, 2008).

De acordo com o presidente da AVIRTUPI, uma das principais vantagens desse programa está na comercialização dos produtos contratados por um preço maior que o praticado no mercado local pelos intermediários. Essa diferença nos preços pode ser constatada no caso da uva de mesa da variedade benitaka, que na safra 2006/2007 foi comercializada no mercado local por no máximo R$ 2,30 o kg, enquanto que para o programa a uva foi negociada a R$ 2,72 o kg. Outra vantagem do programa apontada pelo entrevistado diz respeito à certeza do agricultor pelo pagamento do produto entregue, já que é relativamente comum a ocorrência de “calotes” praticados por intermediários que atuam na região.

No caso da Associação da Microbacia dos Produtores Rurais do Barro Preto (AMPROBRAP), segundo o seu presidente entrevistado, os produtores cadastrados no programa entregaram os seguintes produtos: mamão, manga, abóbora, quiabo, coco, banana, maracujá, mandioca, feijão, ovos, mandioca, café, abacate e uva. Segundo o presidente desta associação, em virtude dos preços pagos serem maiores que os praticados localmente, vários produtores que fazem parte do programa têm demonstrado interesse em ampliar a área cultivada com lavouras alimentícias e/ou diversificar ainda mais os cultivos realizados em pequenas áreas. Outro aspecto interessante ressaltado, diz respeito ao fato das mulheres se envolverem indiretamente com o programa, dedicando-se ao processamento por meio da produção de derivados de leite (queijos, doces etc.), de compotas e geléias (frutas), de bolachinhas e pães caseiros, entre outros, que também têm sido comercializados no âmbito do programa.

No caso do município de Tupi Paulista, os próprios produtores rurais ficam encarregados de levar diretamente a sua produção até as entidades beneficiadas, cabendo a estas, e não as associações envolvidas, a fiscalização pela qualidade dos produtos recebidos. Em caso de recusa dos produtos pelas instituições em virtude da qualidade inferior ou de problemas com a produção, as associações são imediatamente avisadas do ocorrido, devendo o agricultor ser notificado e o produto substituído, sob pena de não renovação do cadastro junto ao PAA.

No município de Junqueirópolis, a gestão do PAA é realizada pela Associação Agrícola de Junqueirópolis (AAJ), que começou no ano de 2004 comercializando a acerola

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processada e congelada (polpa de fruta) e a partir do ano de 2007 entregava também legumes diversos (cenoura, abobrinha etc.) e frutas (manga, uva, maracujá etc.). As entidades assistenciais do município beneficiadas pelo programa totalizavam dez (10), compreendendo asilo, creches e escolas municipais, APAE, hospital público etc.

No ano de 2007 faziam parte do programa no município um total de sessenta e cinco (65) produtores associados da AAJ que entregavam o produto no convênio estabelecido com a CONAB. O plano de execução bem como os relatórios do PAA eram elaborados por funcionários da Casa da Agricultura do município.

Em entrevista realizada com o presidente da AAJ, este destacou que estava sendo elaborado um novo projeto para renovação do PAA no município, mas que havia a necessidade de se ampliar significativamente o número de produtores envolvidos no programa. Isso porque, se inicialmente muitos produtores ficaram temerosos em participar do programa, com receio de entregarem os produtos nas instituições e terem problemas no momento de pagamento dos valores devidos pela CONAB; na atualidade, vários produtores ainda não participantes do PAA, já haviam procurado a AAJ ou a Casa da Agricultura do município para terem informações de quando seria feita a renovação do projeto e como poderiam se inserir. Dessa forma, uma alternativa que estava sendo negociada para o ano de 2008 seria incluir mais vinte (20) produtores de acerola num projeto (PAA) a ser desenvolvido no município de Birigui.

3. Algumas reflexões sobre o PAA nas localidades pesquisadas

O PAA constitui-se num exemplo de política pública que, estruturada de forma interministerial, contribui tanto para a segurança alimentar de parcela da população atendida por instituições assistenciais como ao fortalecimento da produção familiar rural no âmbito municipal.

Constatou-se que nos municípios pesquisados, o programa favorece diretamente três agentes sociais importantes: os produtores rurais, garantindo a comercialização direta de parte dos produtos agropecuários, com preços superiores aos praticados pelos intermediários que atuam na esfera local/regional; as instituições assistenciais, que podem oferecer ao seu público uma alimentação mais saudável, diversificada e de acordo com os hábitos alimentares locais/regionais; e, as administrações municipal e/ou estadual, que têm reduzido seus custos com a manutenção das instituições devido à aquisição de gêneros alimentícios produzidos localmente.

Outro aspecto importante do programa se refere ao estímulo à diversificação produtiva e à melhoria da qualidade da produção de gêneros alimentícios para o autoconsumo, que acabam extrapolando para o comércio local, já que nem toda a produção realizada nas propriedades é absorvida pelo PAA. Em virtude da garantia de preços e da comercialização dos produtos, constatou-se que alguns agricultores pesquisados nos municípios pesquisados demonstraram interesse em ampliar a área cultivada com gêneros alimentícios e/ou diversificar ainda mais os cultivos realizados em pequenas áreas.

Com relação ao preço pago ao produtor cadastrado, verificou-se que, por basear-se no mercado regional (no caso paulista, na CEAGESP), o preço pago pela CONAB acaba sendo mais vantajoso ao produtor justamente por não haver o intermediário no momento da comercialização. Isso porque, em virtude da pequena escala de produção, a

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comercialização sempre se constituiu num verdadeiro entrave para a produção agropecuária.

No que tange à geração de renda no campo, o PAA tem se mostrado uma alternativa aos produtores familiares, sobretudo para aqueles mais descapitalizados, assegurando um valor de R$ 3.500,00 por produtor ao ano. Apesar de relativamente baixa (algo em torno de R$ 291,00 por mês), essa renda, quando combinada com outras, obtidas por meio da comercialização de produtos em feiras livres e com agroindústrias, supermercados etc.; com a aposentadoria rural; com o emprego não agrícola etc., tem contribuído para a composição do orçamento familiar. Uma das reivindicações dos produtores pesquisados nos três municípios participantes do PAA foi a necessidade do aumento do valor pago pelo programa, que deveria garantir pelo menos um salário mínimo mensal.

Destaca-se também que o PAA, ao considerar as particularidades locais/regionais, valoriza os hábitos alimentares diferenciados da população brasileira, estimulando a produção de gêneros alimentícios, ao mesmo tempo em que procura incentivar a organização coletiva dos produtores rurais por meio de grupos informais, associações e cooperativas.

Outro aspecto interessante se refere à organização das associações de produtores rurais e seu papel como articuladores com as instituições públicas na escala local, como as prefeituras municipais, as Casas de Agricultura, os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rurais (CMDRs), as entidades assistenciais etc.

Em termos operacionais, o programa apresenta certa flexibilidade ao permitir formas diferenciadas de distribuição dos alimentos às entidades, seja por meio das associações que fiscalizam a qualidade dos produtos entregues, como no caso de Dracena e Junqueirópolis, como das entidades sociais receptoras, como no caso de Tupi Paulista. Destaca-se que, neste último caso, se favorece o contato mais próximo entre os produtores de alimentos e aqueles que o consomem, propiciando uma melhor adequação dos produtos de acordo com suas necessidades e exigências. Isso porque, a comercialização direta e o maior contato entre produtores rurais e consumidores podem levar ao fortalecimento das “relações de confiança e credibilidade entre as partes envolvidas” (CAMPANHOLA & VALARINI, 2001, p. 76).

Entretanto, apesar dos vários aspectos positivos apresentados pelo programa nos municípios pesquisados, se constatou duas limitações. A primeira se refere ao número ainda reduzido de produtores participantes do PAA no ano de 2007 que, como constatado em Dracena foi de cinqüenta (50), em Tupi Paulista de quarenta e dois (42) e em Junqueirópolis de sessenta e cinco (65), representando 5,2%, 5,5% e 5,4% do total de unidades produtivas rurais com até 100 hectares destes municípios (LUPA, 2008).

Alguns fatores podem explicar esse baixo nível de participação dos produtores, tais como: a) o programa ainda está em fase de consolidação em nível nacional e as informações oficiais disponíveis ainda são insuficientes devido aos precários canais de divulgação. Nesse sentido, um trabalho interessante de divulgação do Programa tem sido realizado pelo Escritório de Desenvolvimento Rural de Dracena com o objetivo de ampliar tanto o número de produtores rurais como de municípios envolvidos; b) na esfera dos municípios há a falta de conhecimento sobre o funcionamento do programa e de pessoal qualificado nas associações de produtores para elaborar as propostas; c) entre os produtores rurais há o receio da falta de continuidade do programa e, como ressaltado por um

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entrevistado, os agricultores só entraram no programa após terem certeza de que os primeiros cadastrados receberam pelos produtos entregues; e, d) o privilegiamento de alguns produtores com nível sócio-econômico melhor no momento de realização do cadastramento, seja por motivos de amizade, parentesco e/ou interesses particulares, em detrimento daqueles mais descapitalizados.

O segundo problema constatado nos municípios foi o favorecimento, em alguns casos, de parentes dos produtores já cadastrados no programa que tentam aumentar a sua cota de produtos a serem entregues por meio da inserção de parentes próximos (filhos, esposa, netos etc.), que também possuem o DAP, tendo em vista o valor relativamente baixo recebido por ano.

Considerações Finais

Buscou-se neste trabalho apresentar algumas reflexões acerca da experiência do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) criado pelo governo Lula em 2003.

Em termos nacionais, constatou-se que no período 2003-2007, apesar do aumento do número de produtores abrangidos pelo programa, dos recursos disponibilizados e das pessoas que receberam os produtos via PAA, sua abrangência ainda é muito limitada e, ao mesmo tempo, concentrada em termos regionais e estaduais.

Do ponto de vista da análise do programa a partir de pesquisa empírica realizada nos três municípios da Microrregião Geográfica de Dracena selecionados (Dracena, Tupi Paulista e Junqueirópolis), ficou evidente a importância que as políticas públicas podem assumir:

a) garantindo a manutenção e a viabilidade econômica e social dos produtores rurais, não apenas por meio do acesso ao crédito rural, mas também em termos da garantia de preços e de comercialização de parte da produção;

b) estimulando a diversificação produtiva e a produção de gêneros alimentícios para atender o consumo familiar e as necessidades do mercado local;

c) viabilizando o acesso às entidades a produtos diversificados e com qualidade, com custos mais baixos para sua aquisição;

d) reforçando a organização dos produtores rurais por meio das associações e a relevância destas como articuladoras entre os interesses e demandas dos associados e dos demais setores e/ou instituições atuantes na escala local;

e) refletindo econômica e socialmente sobre a dinâmica dos municípios em que estão inseridos, já que direta e indiretamente, geram trabalho e renda à população local.

Constatou-se, no entanto, que por ter uma estrutura descentralizada e mais próxima do contexto político local, em que há diferentes e contraditórios interesses, o PAA na escala regional reproduz a mesma limitação em termos do número de municípios participantes – no ano de 2007 apenas três de um total dez municípios da Microrregião – e na esfera municipal, o número pequeno de produtores rurais inseridos no programa, tal como no âmbito nacional. Apesar destes problemas, verificou-se também o grande interesse demonstrado pelos produtores rurais dos municípios pesquisados em participarem do programa, com o objetivo de melhorarem a renda familiar obtida por meio da produção agropecuária.

Outro aspecto interessante ressaltado tanto pelos presidentes de associações como pelos produtores rurais entrevistados, refere-se ao fato destes se sentirem valorizados

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enquanto categoria de agricultores, já que a produção cadastrada destina-se às entidades assistenciais que atuam no município, beneficiando muitas pessoas que são carentes, dando maior visibilidade e reconhecimento ao trabalho realizado por esses sujeitos sociais.

Referências

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