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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO

Apelação Cível nQ 200.2010.004672-7/001 Origem Relatora Apelante Advogado Apelado Advogada

: 32 Vara Cível da Comarca da Capital

: Juíza Convocada Maria das Graças Morais Guedes : Sul América Saúde S/A

: Clávio Valença Filho

: José Adamastor Morais de Queiroz Melo : Caroline Henriques de Queiroz Melo

CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO REVISIONAL. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE DE MENSALIDADE. MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. RELAÇÃO CONSUMERISTA. DESPROPORCIONALIDADE. ABUSIVIDADE CONFIGURADA. VEDAÇÃO. RESTITUIÇÃO. POSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DO DECISUM. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

- Os planos de saúde estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor, nos termos do art. 35, da Lei riQ 9.656/98, sendo que as cláusulas contratuais que prevêem reajustes excessivos por motivo exclusivo da mudança de faixa etária, rompem com o equilíbrio do contrato, na medida que inviabilizam, para os segurados, a continuidade do mesmo, demonstrando-se, assim, a sua abusividade.

7 Apelação n 200.2010.004672-7/001

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- A proteção consumerista relativizou o princípio do

pacta sunt servanda, a fim de possibilitar o

reconhecimento da abusividade e a nulidade das cláusulas que contrariam o chamado equilíbrio contratual.

VISTOS,

relatados e discutidos os presentes

autos.

ACORDA

a Quarta Câmara Cível do Tribunal

de Justiça da Paraíba, à unanimidade, negar provimento ao apelo.

Trata-se de APELAÇÃO, fls. 120/135, interposta pela Sul América Seguro Saúde S/A contra sentença, fls. 68/76, prolatada pelo Juiz de Direito da 3 4 Vara Cível da Comarca da Capital que, nos moldes da Ação Revisional de Plano de Saúde manejada por José Adamastor Morais de Queiroz Melo, julgou parcialmente procedente o pedido, "autorizando apenas um reajuste de 30% (trinta por cento) em relação à mensalidade do Mês de novembro de 2009", fls. 107/115.

Inconformada, sustenta a apelante que a majoração da mensalidade em virtude da mudança de faixa etária é permitida, pois tal percentual encontra-se disciplinado no contrato firmado entre as partes. Discorre sobre o aumento do risco segurado na hipótese e a consequente majoração do • prêmio, ao tempo em que invoca a aplicação da Lei Federal ne 9.656, de 3 de junho de

1998. Ao final, alega que com a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementa surgiu a necessidade de revalidar as cláusulas contratuais dos produtos anteriores, previamente aprovados pela SUSEP, e pugna pela reforma da decisão de primeiro grau.

Contrarrazões pela parte apelada pugnando pela manutenção do decis um, fls. 156/162.

A Procuradoria de Justiça, em Parecer da lavra da

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Dra. Marilene de Lima Campos de Carvalho, não se manifestou quanto ao mérito, fl. 192.

É o RELATÓRIO.

VOTO

José Adamastor Morais de Queiroz Melo ajuizou, perante a 3 2 Vara Cível da Comarca da Capital, Ação Revisional, sustentando, em síntese, a ilegalidade da majoração nas mensalidades de seu plano de saúde, junto à Sul América Seguros S/A, diante da mudança de sua faixa etária (56 anos). Para tanto, requereu a redução das parcelas.

Sentenciando, o juiz de primeiro grau reconheceu a desproporcionalidade do reajuste, eis que fixado à base de 70% (setenta por cento), considerando-o muito além do valor médio estipulado para a hipótese, qual seja, 30% (trinta por cento).

A questão gira em torno do reajuste da mensalidade do plano de saúde, em decorrência da mudança de faixa etária do segurado.

Os planos de saúde estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor, nos termos do art. 35, da Lei n 2 9.656/98, sendo que as cláusulas contratuais que prevêem reajustes excessivos por motivo exclusivo da mudança de faixa etária, rompem com o equilíbrio do contrato, na medida que inviabilizam, para os segurados, a continuidade do mesmo, demonstrando-se, assim, a sua abusividade.

Com efeito, seria discutível, à luz do Código de Defesa do Consumidor, a legalidade de um reajuste de 70% (setenta por cento) no valor das mensalidades do plano de saúde, em decorrência da mudança de faixa, eis que notoriamente desfavorável ao consumidor.

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Por tal razão, a proteção consumerista relativizou o princípio do pacta sunt servanda, a fim de possibilitar o reconhecimento da abusividade e a nulidade das cláusulas que contrariam o chamado equilíbrio contratual.

Nesse norte, cláusulas desse gênero no contrato ora enfocado são nulas de pleno direito, conforme estabelece o art. 51, IV c/c § 1g, I e II, do Código de Defesa do Consumidor:

Alielaçãv H 200.2010.004672-7/001

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

IV— estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade.

1. Presume-se exagerada, ente outros casos, a vantagem que:

II — restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou p equilíbrio contratual.

III — se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,

considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares do caso.

Sobre o tema, destaco:

.PLANO DE SAÚDE. CONTRATO RELACIONAL (CONTRATO CATIVO DE LONGA DURAÇÃO). IDOSO. AUMENTO DA CONTRIBUIÇÃO EM RAZÃO DE INGRESSO EM FAIXA ETÁRIA DIFERENCIADA. PREVISÃO CONTRATUAL. AUMENTO DE 100%. ABUSIVIDADE CONFIGURADA. APLICAÇÃO SIMULTÂNEA DA

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LEI 9.656/98 E DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DOUTRINA DO DIÁLOGO DAS FONTES. REDUÇÃO DO PERCENTUAL DE ACRÉSCIMO PARA 30%. PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Dentre os novos sujeitos de direito que o mundo pós-moderno identifica, a Constituição Federal de 1988 concede urna proteção especial a dois deles, que interessa ao tema dos planos de saúde: o consumidor e o idoso. Disso resultam alguns efeitos no âmbito do direito privado, destacam-se uma comprometida interpretação da lei e das cláusulas contratuais e um maior rigor no controle de cláusulas abusivas. O idoso um consumidor duplamente vulnerável, necessitando de uma tutela diferenciada e reforçada. Não se afigura desarrazoada a cláusula contratual de plano de saúde que, de forma clara e destacada, preveja o aumento da contribuição do aderente ao plano em razão de ingresso em faixa etária em que os riscos de saúde são abstratamente maiores, em razão da lógica atuarial que preside o sistema. Todavia, revela-se abusiva e, portanto, nula, em face do Código de Defesa do Consumidor, a cláusula de reajuste em percentual tão elevado que configure uma verdadeira

barreira à permanência do segurado naquele plano. Em tal situação, considerando os enormes prejuízos que teria o segurado se migrasse para outro plano ao atingir idade de risco, justifica-se a redução do percentual de reajuste. Aplicação do princípio da razoabilidade e da proporcionalidade a justificar a redução do aumento de 100% para 30%". (Recurso Cível n. 71000539718, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais - Jec, Relator: Eugênio Facchini Neto, julgado em 13/07/2004) - destaquei.

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Ainda,

DIREITO CIVIL. CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CLÁUSULA DE REAJUSTE POR MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA.

INCREMENTO DO RISCO SUBJETIVO. SEGURADO IDOSO. DISCRIMINAÇÃO. ABUSO A SER AFERIDO CASO A CASO. CONDIÇÕES QUE DEVEM SER OBSERVADAS PARA VALIDADE DO REAJUSTE.

1. Nos contratos de seguro de saúde, de trato sucessivo, os valores cobrados a titulo de prêmio ou mensalidade guardam relação de proporcionalidade com o grau de probabilidade de ocorrência do evento risco coberto. Maior o risco, maior o valor do prêmio.

2. É de natural constatação que quanto mais avançada a idade da pessoa, independentemente de estar ou não ela enquadrada legalmente como idosa, maior é a probabilidade de contrair problema que afete sua saúde. Há uma relação direta entre incremento de faixa etária e aumento de risco de a pessoa vir a necessitar de serviços de assistência médica.

3. Atento a tal circunstância, veio o legislador a editar a Lei Federal nQ 9.656198, rompendo o silêncio que até então mantinha acerca do tema, preservando a possibilidade de reajuste da mensalidade de plano ou seguro de saúde em razão da mudança de faixa etária do segurado, estabelecendo, contudo, algumas restrições e limites a tais reajustes.

4. Não se deve ignorar que o Estatuto do Idoso, em seu art. 15, 5 3, veda "a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade". Entretanto, a incidência de tal preceito não autoriza unia interpretação literal que determine,

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abstratamente, que se repute abusivo todo e qualquer reajuste baseado em inudança de faixa etária do idoso. Somente o reajuste desarrazoado, injustificado, que, em concreto, vise de forma perceptível a dificultar ou impedir a permanência do segurado idoso no plano de saúde implica na vedada discriminação, violadora

da garantia da isonomia.

5. Nesse contexto, deve-se admitir a validade de reajustes em razão da mudança de faixa etária, desde que atendidas certas condições, quais sejam: a) previsão no instrumento negociai; b) respeito aos limites e demais requisitos estabelecidos na Lei Federal ne 9.656/98; e c) observância ao princípio da boa-fé objetiva, que veda índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem, em demasia o segurado.

6. Sempre que o consumidor segurado perceber abuso

no aumento de mensalidade de seu seguro de saúde,

em razão de mudança de faixa etária, poderá

questionar a validade de tal medida, cabendo ao

Judiciário o exame da

exorbitância, caso a caso.

7. Recurso especial provido. (STJ, REsp 866840 / SP Recurso Especial 2006/0129056-3, Rel. MM. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma) — destaquei.

Assim, reconhecida a abusividade do reajuste na hipótese, agiu acertadamente ainda o magistrado a quo, ao determinar a devolução das parcelas pagas anteriormente.

Por fim, não há que se falar em não condenar o recorrido ao pagamento dos honorários advocaticios, pois, de acordo com o disposto no art. 21, do CPC, deve haver sucumbencia reciproca entre os litigantes, por ter sido julgada parcialmente procedente a demanda.

À luz dessas considerações, é de se concluir que a

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sentença bem sopesou os fatos e aplicou o direito, razão pela qual não merece r" -- nenhum reparo.

Ante o exposto, em consonância com o parecer ministerial, NEGO PROVIMENTO ÀO RECURSO DE APELAÇÃO, para manter a decisão de primeiro grau em todos os seus termos.

É como VOTO.

Presidiu a sessão, o Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho. Participaram do julgamento, a Juíza de Direito convocada Maria das Graças Morais Guedes, como Relatora, o Desembargador João Alves da Silva e o Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira.

Presente a Dra. Vanina Nóbrega de Freitas Dias Feitosa, representando o Ministério Público.

Sala das Sessões da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, em 26 de janeiro de 2012 — data do julgamento.

" . Maxia das Graças Morais Guedes

Juiza de Direito Convocada

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