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Os textos podem ser agrupados segundo algumas
características comuns.
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Diante de um texto desconhecido, a pergunta o que é?
leva-nos a uma primeira resposta que se fundamenta,
muitas vezes, em uma indicação que diz respeito ao
gênero: um romance, um poema, uma crônica etc.
Gêneros
Literários
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A classificação dos gêneros
literários foi proposta, na
Antiguidade Clássica, pelo
filósofo grego Aristóteles (384
a.C.-322 a.C.) dividida em:
Lírico, Épico e Dramático. Para
ele, o gênero lírico representa a
“palavra cantada”, o gênero
épico, a “palavra narrada” e o
gênero dramático, a “palavra
representada”.
Classificação dos Gêneros Literários
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LÍRICO: Caracteriza-se basicamente por se tratar de
uma manifestação do eu do artista, sendo, por isso,
uma expressão de seus sentimentos e de suas
emoções: o seu mundo interior. A palavra lírico deriva
de lira.
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ÉPICO: O gênero épico representa a mais antiga das manifestações
literárias e abarca as narrativas históricas literárias de grandes
acontecimentos, com presença de temas terrenos, mitológicos e
lendários. Note que o termo “épico” vem da palavra “epopeia”, que
do grego (“épos”) simboliza a narrativa em versos de fatos
grandiosos centrados na figura de um herói ou de um povo. Os
elementos essenciais das narrativas épicas são: narrador (quem
narra a história), enredo (sucessão dos acontecimentos),
personagens (principais e secundárias), tempo (época dos fatos) e
espaço (local dos episódios). Atualmente, os estudiosos referem-se a
esse gênero como “narrativo”.
Principais formas: diferentes tipos de romance, epopeias (narram
histórias de um povo ou de uma nação, envolvendo aventuras,
guerras, viagens, gestos heroicos etc).
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DRAMÁTICO: O gênero dramático envolve a literatura
teatral para ser apresentada, encenada (do grego, a
palavra “drama” significa ação). Por esse motivo, o
diálogo é um recurso muito utilizado, de forma que a
tríade essencial dos textos literários dramáticos são o
autor, o texto e o público. Assim, algumas modalidades
dos textos dramáticos:
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Principais formas: Peças de teatro, monólogos
O Conto
Não sendo por acaso seu nome, o conto teve início junto com a civilização
humana. As pessoas sempre contaram histórias, reais ou fabulosas, oralmente
ou por meio da escrita. O conceito de conto, hoje em dia, foi ampliado, porque
escritores passaram a adotar esse tipo de texto como uma forma de escrever, e
essa tentativa tem sido promissora. Além de utilizar uma linguagem simples,
direta e dinâmica o conto é a narração de um fato inusitado, mas possível, que
pode ocorrer na vida das pessoas embora não seja tão comum.
Toda história é um encadeamento de fatos que, ao serem narrados, vão
conferindo sentido ao enredo e envolvendo o leitor mediante os
acontecimentos.
Características do conto
Há algumas características que podem nos ajudar a identificar um conto:
✤ É uma narrativa linear e curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa. ✤ A linguagem é simples e direta, não se utiliza de muitas figuras de linguagem ou de
expressões com diversos sentidos.
✤ Todas as ações se encaminham rumo ao desfecho. ✤ Em geral há um só conflito.
✤ Envolve poucas personagens, e as que existem se movimentam em torno de uma única
ação.
✤ As ações se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito. ✤ A habilidade com as palavras é muito importante, principalmente para se utilizar de
O enredo do conto deve
apresentar em linhas
gerais, as seguintes fases:
1. Apresentação;
2. Complicação ou evolução; 3. Clímax;
Um Apólogo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador. — Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha,
enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima…
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe: — Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas,
enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
Machado de Assis Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.
O que é um apólogo?
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Apólogo é uma narrativa que busca ilustrar lições de
sabedoria ou ética, por meio de personalidades de
índole diversa, imaginárias ou reais, com personagens
na maioria das vezes inanimados ou animais.
Contexto de Um Apólogo
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O conto Um Apólogo foi publicado em 1896, no livro
Várias Histórias, uma coletânea de contos de Machado
de Assis.
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Quando publicado, o Brasil estava numa nova fase: fim
da escravidão, proclamação da república, início da
economia cafeeira e a chegada de imigrantes europeus.
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Machado é conhecido por analisar e criticar os valores
Vamos analisar:
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Foco narrativo: no conto lido, o foco narrativo é em terceira pessoa;
ou seja, o narrador não participa da história, ele limita-se a contá-la.
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha…
Depois, mais adiante, o narrador volta a dar o ar da graça:
Não sei se disse que isso se passava em casa de uma baronesa.
E por fim volta a marcar presença:
Tipos de discurso
✤ Discurso Direto: as personagens ganham voz. É o que ocorre normalmente em diálogos. Isso permite
que traços da fala e da personalidade das personagens sejam destacados e expostos no texto. O discurso direto reproduz fielmente as falas das personagens. Verbos como dizer, falar, perguntar, entre outros, servem para que as falas das personagens sejam expressas:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e
acima…
✤ Discurso Indireto: O narrador conta a história, reproduz fala e narra as atitudes e reações das
personagens. Em geral é em em terceira pessoa. Nesse caso, o narrador se utiliza de palavras DELE para reproduzir o que foi dito pela personagem. A fala do personagem é expressa pelo narrador. “Elisiário confessou que estava com sono.” (Machado de Assis)
Mariana perguntou o que podia fazer para ajudar. Descartes afirmou que pensava, logo existia.
Personagens
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Temos dois personagens
principais nesse conto: a
agulha e a linha. O conto é
sobre elas, que são
mencionadas logo no primeiro
parágrafo.
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Os outros personagens são
secundários: alfinete, professor,
costureira, baronesa, modista.
Espaço
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Na narrativa, o espaço físico é o lugar em que as personagens
circulam, onde as ações são realizadas e a história é ambientada.
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Em Um Apólogo não há uma ambientação detalhada, mas o
narrador nos informa que as cenas de discussão entre a agulha e
a linha ocorrem na casa da baronesa.
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O que podemos concluir é que se passa numa casa de um
aristocrata, por ali residir uma baronesa — a modista e a
costureira iam até a casa dela para preparar o vestido que a
baronesa usaria no baile.
Considerações
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O que podemos concluir sobre a agulha e a linha é que
elas agem como humanos agiriam movidos pelo
orgulho, vaidade e arrogância, a fim de provarem que
uma é mais importante que a outra.
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Costureira x Baronesa
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E o alfinete?
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O professor é o profissional que alavanca todas as demais profissões e
não é reconhecido por isso. Ao ler o conto sobre a Agulha e o Alfinete,
ele reconhece a si mesmo no texto como sendo uma Agulha que por
meio da qual os outros são reconhecidos.
Temas
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Existem pessoas que facilitam a
vida de outras, ajudando,
abrindo caminhos, e, na hora
da conquista, quem recebe os
benefícios é aquela que foi
ajudada.
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Valores como superioridade,
inferioridade, vaidade.
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