Segurança em Anestesia Neuroaxial:
Da falha técnica à complicações graves
Dra. Patrícia Gamermann TSA/SBA
Responsável pelo CET do Serviço de Anestesiologia e Medicina
Perioperatória (SAMPE) do Hospital de Clínica de Porto Alegre
Falha Técnica
A definição de falha epidural é variável:
• Analgesia insuficiente, perda do CPD, descontinuação precoce • Taxa geral de sucesso é de 76%
Fatores Técnicos:
• Inserção incorreta ou deslocamento após a inserção
• Movimentação do paciente deslocamento do CPD em alguns centímetros
Posição sentada
• Menor tempo de inserção, maior chance de sucesso na primeira tentativa • Maior incidência de reflexo vagal
• Taxa de sucesso final semelhante ao decúbito lateral
Falha Técnica
Nível de inserção:
• Estimativa de localização feita pelo anestesiologista é inacurada • Tendência de estar localizado mais cranial do que o imaginado • Congruência com o sitio cirúrgico
Punção mediana X paramediana:
• Maior incidência de parestesia na abordagem mediana • Paramediana menos dependente da flexão da coluna
Técnica de identificação do Espaço Peridural:
• Técnica que o executor apresenta maior familiaridade ( ar X líquido) • Papel do ultrassom crianças – pouca ossificação
Fixação: • Curativo transparente • Tunelização • Migração X inflamação • Considerar em lactentes
Falha Técnica
Complicações Neurológicas
associadas à
• Extremamente raras
• Sequelas importantes (67%)
• Hematomas espinhais dano permanente
• Complicações infecciosas recuperação parcial
Incidência
Incidência
• 1:200.000 obstetrícia
• 1:22.000 mulheres artroplastia de quadril • 1:3.600 artroplastia de joelho
1.Complicações Infecciosas
Muito raras!
• Abcesso ou meningite: 15% de mortalidade
Clorexidine alcoólica Lavagem das mãos
Soluções antissépticas que contenham álcool
Abscesso Epidural
• Incidência de 1:10.00-1:100.000 • Pacientes imunocomprometidos • Falha na técnica asséptica
• Uso prolongado de CPD
• Sintomas iniciais: Dor lombar localizada, rigidez cervical
• Sintomas tardios (3-5 dias) : Dor radicular, parestesias e perda de reflexos, perda motora progressiva, paraplegia, disfunção vesical e intestinal.
• TC ou RMN com gadolínio de urgência
Staphylococcus Aureus é o agente mais frequente!
• Incidência de 1:39.000
• Procedimentos que envolvam a punção da dura-mater
• Quebra da barreira asséptica uso incorreto de máscara cirúrgica
• Contaminação por patógenos virulentos na nasofaringe S. Viridans
• Inicio dos sintomas em 12 horas
• Sintomas parecidos com a cefaleia pós punção de dura-mater
• Febre, mal estar, cefaleia, fotofobia, alteração do nível de
consciência, rigidez cervical Análise do LCR
Meningite Bacteriana
Componentes maiores:
• Remoção de adornos
• Lavagem de mãos com soluções aintissépticas alcoólicas • Barreira protetora: gorro, máscara e luvas estéreis
• Aplicação adequada do antisséptico : clorexidine alcoólico
Componentes menores :
• Uso de filtros em cateteres de longa permanência • Prevenção de desconecções
• Tunelização quando indicado.
Incidência geral:
• 1:150.000 anestesia epidural plexo venoso proeminente • <1:220.000 anestesia espinhal
• Menor incidência na obstetrícia e maior na ortopedia • Relação temporal com a inserção/retirada do CPD
2.Hematoma Neuroaxial
Fatores de Risco:
• Idade alterações anatômicas • Coagulopatia subjacente
• Anticoagulação • Cirurgia ortopédica • Doença espinhal • Redução TFG
The Second ASRA Advisory on Neurologic Complications Associated Whith Regional Anesthesia Reg Anesth and Pain Medicine Vol 40, Number 5, sep-out 2015
Volume de sangue necessário para causar isquemia é variável A cauda equina é relativamente resistente
2.Hematoma Neuroaxial
Sinais e sintomas:
• Regressão lenta do bloqueio ou deficit fixo de sensibilidade/motricidade • Dor lombar
• Retenção urinária
• Novo deficit após regressão
• Área de bloqueio incompatível com o nível da anestesia
Nos casos de hematoma descritos, a presença de parestesia ou fraqueza foi atribuída inicialmente ao AL atraso no diagnóstico
Suspeita interromper imediatamente a infusão, a função neurológica deve retornar Exame de imagem imediato ( RMN preferencialmente)
The Second ASRA Advisory on Neurologic Complications Associated Whith Regional Anesthesia Reg Anesth and Pain Medicine Vol 40, Number 5, sep-out 2015
Recomendações para o uso de
Anticoagulantes
• Aumento do uso: aumento da sobrevida e de doença cardiovascular • Recomendações baseadas relatos de casos e opinião de especialistas • NOACS – recomendações baseadas na farmacocinética da droga
• Após a introdução das HBPM nos EUA houve crescimento exponencial de casos de hematoma
• 1:40.800 espinhal • 1:6.600 epidural
Trombolíticos: evitar o uso por 10 dias após punção de vasos não compressíveis.
• Quanto tempo após a interrupção pode-se realizar o bloqueio?????
Anticoagulantes orais (warfarin): documentar retorno do estatus normal da coagulação
(INR <1,5)
Heparina Não fracionada (HNF):
• Cirurgia vascular: postergar 1h após o bloqueio para administrar
• Paciente recebendo em infusão: interromper por 4-6h e avaliar status (TTPA) • Doses de Profilaxia: Até 10.000 unidades/dia ok
• Solicitar contagem plaquetária se uso de HNF por >5 dias
Heparina de baixo peso Molecular (HBPM):
• Pré-operatório: Aguardar 12h após dose profilática e 24h se dose terapêutica • Dose profilática no Pós-operatório:
• 2x ao dia – 1a dose somente após 24h (independente da técnica e com hemostasia ok)
• 1x ao dia – esperar 6-8 horas para administra a 1ª dose, 2ª dose após 24h
Antiplaquetários:
• AINES não apresentam riscos • Ticlopidina 14 dias
• Clopidogrel 5-7 dias
Medicamentos herbais: não parecem apresentar risco
Curr Opin Anesthesiol 2015, 28:605-609
NOACS
2-4 dias
5 dias se TFG <50mL/ min/1,73m2
Inibidores da trombina dabigatran
Avaliação e Tratamento
ALARME:
• Fraqueza mais intensa do que o esperado ou recorrência após a resolução do
bloqueio
• Fraqueza em área inconsistente com o bloqueio
• A recuperação total é possível se descompressão dentro de 8-12h do inicio dos
sintomas
3.Lesões Isquêmicas
Infarto medular ( Síndrome da Artéria Espinhal Anterior):
• Evento raríssimo
• Associado a procedimentos específicos ( aórticos, cardíacos e espinhais) • Fatores de risco para doença vascular
• Aterosclerose • Hipertensão • Tabagismo
Evitar períodos prolongados de hipotensão ( >20-30% da PAM por > 20 min)
Anesth Analg 2015, Vol 120:1, 141-8 • Dor lombar no nível do infarto
• 75% sintomas bilaterais radiculares com rápida progressão para paraplegia • Preservação das colunas posteriores (vibração e propriocepção)
Síndrome da Artéria Espinhal Anterior
• Insulto mecânico à vasculatura• Evento embólico
• Períodos de hipoperfusão
• Após a exclusão de causas compressivas RMN
• Certificar-se de que a PA está normalizada ou induzir aumento da PA para o limite superior • Drenagem liquórica???
Estenose de Canal Espinhal
Aumento do risco de lesão medular
• Compressão e isquemia
• Redução clearence dos anestésicos • Má distribuição dos anestésicos
Neurotoxicidade
Ponderar risco X benefício se estenose moderada-severa Baixo limiar de suspeição para complicações
4. Neurotoxicidade
• Síndrome da Cauda Equina
• Neurotoxicidade por Anestésico Local • Aracnoidite
• Sintomas neurológicos transitórios (SNT)
• Nervos do espaço epidural muito tolerantes à neurotoxinas potenciais (Cobertos pela dura, aracnóide e pia mater)
• Nervos espinhais muito sensíveis (só pia mater) • Fluxo sanguíneo no PD rapidamente remove as toxinas • Relatos de várias substâncias injetadas no PD
• Toxinas (álcool) • Preservativos, • Altas doses de AL
Síndrome da Cauda Equina
• Comprometimento das raízes de L2-L5
• Dor lombar e em membros, disfunção intestinal e vesical
• Graus variáveis de fraqueza e alteração sensorial de membros (anestesia em sela)
Etiologias:
• Compressão de estruturas neurais por hematoma ou herniação discal • Sobredose de anestésicos BSA
• Microcateteres no BSA
• Mal distribuição dos AL no espaço espinhal ( ex.estenose espinhal) • Predisposição genética a neurotoxicidade (doses habituais)
Aracnoidite
• Meningite química
• Injeção acidental de anestésicos contaminados ou de traços de clorexidine alcoólico • É um diagnóstico de exclusão
• Resposta inflamatória difusa das meninges – pouco entendida • Relacionada principalmente a condições não anestésicas
• Trauma
• Mielografia com contraste • Cirurgias medulares múltiplas
As causas anestésicas de acanoidite (se existirem) são exremamente raras e na maioria relacionadas a reações idiosincráticas a um desencadeante não identificado.
The Second ASRA Advisory on Neurologic Complications Associated Whith Regional Anesthesia Reg Anesth and Pain Medicine Vol 40, Number 5, sep-out 2015
5. Lesão Direta Espinhal
• 80% da população a medula espinhal termina em L1, em 20% em L2
• Anestesiologista identifica corretamente o espaço em 29%
• Trauma medular manifesta-se como parestesia ou dor em membros
• Maioria dos casos descritos referiram dor durante a introdução da agulha
Best Practice and research Clinical Obstetrics ans Gynaecology 24 (2010) 367-381
Lesão Direta Espinhal
Sintomas persistentes durante o bloqueio parar e
reposicionar a agulha/cateter
Nunca injetar anestésico na presença de sintomas neurológicos
persistentes
Sintomas Neurológicos Transitórios
• Dor transitória em região lombar, glúteos ou extremidades
inferiores após 12 horas de uma anestesia espinhal não
complicada
• Maior prevalência com lidocaína
• Mal distribuição do AL?
Doença Neurológica Preexistente
• Cirurgia espinhal prévia não é uma contra-indicação
• Revisão exames de imagem prévios
• Uso de fluoroscopia pode ser útil
• Anestesia espinhal costuma ser de mais fácil execução
• Não apresentam risco aumentado de novo deficit ou progressão de lesão
existente
.
Prevenção
Neurotoxicidade:
• A dose inicial e doses subsequentes (anestesia falha) não devem ultrapassar o total • recomendado
• A má distribuição ( principalmente sacral) do AL deve ser excluída antes de repetir a injeção • Deixar a solução de clorexidine secar por completo antes da introdução de agulhas
• Evitar qualquer contato da solução alcoólica com agulhas
Realização de bloqueios sob sedação profunda/ anestesia geral:
• Em adultos é desaconselhado
• A inserção em crianças sedadas não parece aumenta do risco • Sem evidencia de que o uso de US reduz o risco de lesão • Parestesia/dor sinal de alerta
Trauma direto:
• Escolher local de punção abaixo de L3
• Interromper a progressão da agulha/cateter se sintomas (dor/parestesia) • Injetar somente após a resolução completa dos sintomas
6.Complicações em Obstetrícia
Fatores obstétricos:
• Parto instrumentado,
• Baixa estatura,
• Trabalho de parto prolongado,
• Primigesta,
• Apresentação transversa ou posterior
Maioria das lesões resultam de estiramento ou compressão nervosa
O nervo mais frequentemente lesado é o cutâneo femoral lateral
• Paciente e obstetra costumam inferir que a anestesia é a causa
• Lesões neurológicas intrínsecas correspondem a maioria dos casos
• Falha no reconhecimento de compressão (imobilidade)
• Lesões embora preocupantes para a mãe costumam ser transitórias
• Tempo de resolução 6-8 semanas
Complicações em Obstetrícia
Complicações em Obstetrícia
Tromboelastografia (TEG)
• Mede as propriedades viscoelásticas da formação e dissolução do coágulo
• Opção frente aos testes convencionais • Útil em pacientes sob risco de
complicações hemorrágicas
• Trombocitopenia gestacional, idiopática ou associada da pré-eclampsia Plaquetas: >100.000 – seguro (80.000)
50.000-100.000 pesar risco X benefício <50.000 contra-indicado
• Na maioria dos cados o TEG evidencia a hipercoagulabilidade gestacional Parâmetros analisados:
• Função plaquetária • Coagulação
• Interação fibrinogênio-plaquetéria • Fibrinólise
• Avaliação precoce e exclusão de causas que requerem tratamento
imediato
• Diagnóstico diferencial entre lesão periférica X central
• Avaliar musculatura paraespinhal
• Eletromiografia
– Avalia fibras grossas e leva 3 semanas para que apareçam as alterações. – Exame anormal em 1 semana sugere patologia prévia
Avaliação e Tratamento
Usar linguagem não incriminatória!!
• Se o único sintoma for uma parestesia persistente: observar • Sintomas sensoriais mais difusos ou envolvimento motor - RMN