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DESLOCAMENTO PENDULAR E INSERÇÃO OCUPACIONAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR 1

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DESLOCAMENTO PENDULAR E INSERÇÃO OCUPACIONAL NA REGIÃO

METROPOLITANA DE SALVADOR1

Raíssa Sidrim2 Wilson Fusco3

INTRODUÇÃO

De acordo com Braga (2006), entre as décadas de 1970 e 1980, as migrações internas brasileiras do tipo rural-urbana, que até então eram o principal fluxo do país, começam a arrefecer, ao passo que as do tipo urbana-urbana acentuam-se até se tornarem predominante em todo o Brasil. Alguns trabalhos (BAENINGER, 2000; CUNHA; BAENINGER, 2001; PATARRA, 2003; CUNHA, 2003) constatam essa transformação e argumentam o quanto 1980 foi importante no que se refere aos movimentos populacionais internos do Brasil, sobretudo em relação à redistribuição espacial da população, onde se observou diminuição dos deslocamentos de longa distância e crescimento dos de curta distância.

Baeninger (2000) aponta algumas dessas transformações nos movimentos migratórios brasileiros ocorridos nos últimos decênios e coloca que, dentre eles, o aumento dos deslocamentos pendulares da população foi um dos que se sobressaíram. Tais transformações, que ocorrem até os dias atuais, proporcionaram o surgimento de diversos trabalhos sobre o tema, e estudos sobre deslocamentos pendulares passaram a ganhar espaço na literatura nacional (VAZQUEZ; OLIVEIRA, 2015; OLIVEIRA, 2006). Contudo, pesquisas que analisam movimentos pendulares associando-os à migração, especialmente os que analisam a diferença da pendularidade entre migrantes e não migrantes ainda são escassos no Brasil (RAMALHO; BRITO, 2016).

Em se tratando de estudos que analisam perfil de migrantes e não migrantes no Brasil, algumas delas concluem que migrantes apresentam níveis de instrução e renda superiores aos dos não migrantes, além de mais eficácia na busca por emprego em diferentes locais (BORJAS, 1987; CHISWICK, 1999; SANTOS JR.;

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Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.

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Economista, Doutoranda em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas.

3

Cientista Social, Doutor em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas; Pesquisador Titular da Fundação Joaquim Nabuco.

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MENEZES FILHO; FERREIRA, 2005; JUSTO; SILVEIRA NETO, 2004; SILVA; SILVEIRA NETO, 2005; GAMA; HERMETO, 2016). Dessa maneira, os dois grupos

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(migrantes e não migrantes) podem tomar decisões distintas sobre o deslocamento pendular, principalmente ao encontrarem divergências nos valores habitacionais, nas condições de trabalho e no acesso à informação (RAMALHO; BRITO, 2016).

Dessa forma, em virtude da escassez de pesquisas que relacionam deslocamento pendular e migração, ainda mais os que analisam a diferenças entre migrantes e não migrantes, pretende-se averiguar, de maneira comparativa, diversos elementos relacionados à inserção ocupacional entre esses dois grupos de indivíduos da Região Metropolitana de Salvador (RMS) que realizavam o deslocamento pendular em 2000 e 2010. Ao incluir nas análises algumas

importantes mudanças sociodemográficas (envelhecimento populacional,

escolarização, inserção da mulher no mercado laboral, entre outras) e econômicas (a exemplo das políticas sociais, formalização do emprego etc.) observadas na primeira década do século XXI no Brasil, espera-se que os resultados aqui encontrados auxiliem na elaboração de um quadro que retrate essas transformações ocorridas na população de estudo selecionada. Para isso, foram utilizados os microdados produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes aos Censos Demográficos de 2000 e 2010.

METODOLOGIA

A Região Metropolitana de Salvador (RMS), área de estudo deste trabalho, foi inicialmente formada, em 1973, por oito municípios, são eles: Camaçari, Candeias, Itaparica, Lauro de Freitas, Salvador, São Francisco do Conde, Simões Filho e Vera Cruz. Posteriormente, mais dois municípios também são inseridos na RMS: Dias D’Ávila, em 1985, que foi desmembrado de Camaçari; e Madre de Deus, em 1989, desmembrado de Salvador. A RMS alcança sua formação atual, composta por 13 municípios, na primeira década dos anos 2000, com a inserção de São Sebastião do Passé e Mata de São João em 2008, e de Pojuca em 2009 (FERNANDES, 2012; CARVALHO; PEREIRA, 2014) (Figura 1).

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FIGURA 1 – Mapa de localização dos municípios que compõem a RMS

Fonte: IBGE (Malha Municipal Digital do Brasil, 2010).

Os microdados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010 são as principais fontes de informações desse trabalho.

A pergunta do Censo Demográfico que capta a pendularidade sofreu algumas modificações ao longo do tempo. No Censo Demográfico de 2000 não houve a separação do motivo do deslocamento pendular, ou seja, existia somente uma pergunta para os deslocamentos com finalidade de estudo ou trabalho. Por meio da variável V4276 dos microdados da amostra, conhecemos o “Município/Unidade da Federação ou País estrangeiro em que a pessoa trabalha ou estuda”.

Como existe uma só pergunta envolvendo os dois motivos, não há como saber, de forma direta, se o indivíduo realizou o deslocamento para estudar ou para trabalhar, no caso de o indivíduo ter declarado que estudava e trabalhava. O que pode ser feito para estimar os motivos de forma separada é criar uma proxy a partir de outras variáveis do censo. Se o município de residência de um indivíduo é diferente do município que ele trabalha ou estuda e esse indivíduo apenas trabalha, certamente ele realiza a pendularidade para trabalhar. Da mesma maneira, se ele pendula e somente estuda, o deslocamento diário era feito para estudar. O único caso que não dá para definir, é se o indivíduo estuda e trabalha e faz o deslocamento pendular.

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O que é feito para identificar se o indivíduo trabalha é usar cinco variáveis em conjunto. Ao considerarmos a V0439, V0440, V0441, V0442 e V04434 iguais a 1, assumimos que o indivíduo exerce trabalho remunerado ou não remunerado.

Diferente do Censo de 2000, em 2010 foram feitas perguntas separadas para cada um dos motivos do deslocamento pendular (estudo e trabalho). Para identificar o deslocamento pendular motivado por trabalho nesse ano, utiliza-se as variáveis V0660 (diferente de 1 e 2 ou igual a 3, 4 e 5) e V66045.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Deslocamentos Pendulares na RMS

O contingente de trabalhadores que realizavam mobilidade pendular na RMS mais que dobrou de 2000 para 2010. Em 2000, estima-se que 54.492 pessoas se deslocavam de seus municípios de residência para trabalhar em outro município que compunha a RMS, enquanto que em 2010 esse contingente ampliou para 117.385 trabalhadores.

Em relação aos municípios, Salvador é o maior receptor de força de trabalho pendular da RMS em 2000 e em 2010 ao mesmo tempo que é o maior emissor. Isso mostra a forte integração entre o entorno e o núcleo da RMS, em virtude da instalação de empreendimentos fora de Salvador (GORDILHO-SOUZA, 2004).

Quanto ao status migratório dos indivíduos que pendulam para trabalhar entre os municípios da RMS, a maioria deles é não migrante. Em 2000, 36.837 (67,60%) da mão de obra pendular da metrópole baiana era composta por não migrantes, enquanto 17.665 (32,40%) deles residia na metrópole há menos de dez anos (migrantes). Em 2010, o número de não migrantes que realizavam a pendularidade aumentou para 84.337 (71,85%), ao passo que a proporção de migrantes diminuiu para 28,15% (33.048 pessoas).

No que se refere a direção tomada para realizar a mobilidade pendular na RMS, em 2000 o principal sentido feito pelos migrantes para exercer suas atividades laborais era a entorno-núcleo (63,04%). Em seguida estavam os fluxos do tipo entorno-entorno (21,69%) e, por último, a núcleo-entorno (15,27%).

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Para informações mais detalhadas sobre as variáveis, ver o Dicionário de Variáveis do Censo Demográfico de 2000.

5

Para informações mais detalhadas sobre as variáveis, ver o Dicionário de Variáveis do Censo Demográfico de 2010.

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Em relação aos não migrantes, em 2000, a maioria deles se deslocava do núcleo para trabalhar no entorno metropolitano (43,51%). Em quantidade bem próxima a essa, estavam os que se locomoviam cotidianamente do entorno para o núcleo (32,85%), seguidos dos que realizavam o fluxo entorno-entorno para trabalhar (23,64%).

Em 2010, apesar de ter perdido representatividade, a maioria dos migrantes continuaram se deslocando de municípios do entorno para trabalhar no núcleo (51,18%), à media em que as outras duas direções se mostraram crescentes: a entorno-entorno passa a representar 30,79%, e a núcleo-entorno, 18,06% da mobilidade pendular por motivo de trabalho.

Enquanto nas outras metrópoles nordestinas (Fortaleza e Recife) migrantes e não migrantes obedeceram ao mesmo padrão (com início do arrefecimento do deslocamento entorno-núcleo e crescimento dos deslocamentos núcleo-entorno e entorno-entorno) (SIDRIM, 2018), na RMS essa inversão já está firmada entre os não migrantes. Em 2010, 44,29% dos deslocamentos pendulares realizados pelos não migrantes da RMS se originavam no núcleo com destino ao entorno. Logo depois está o fluxo entorno-núcleo, representando 28,64%, e o entorno-entorno, com 27,06%.

Em se tratando da origem do migrante que se desloca para um município distinto do que fixou residência a fim de trabalhar, nota-se que a grande maioria (58,37%) são pessoas que migraram de outros municípios da RM (migrantes intrametropolitanos). Em seguida, estão os migrantes intraestaduais, representando 22,27% do total.

Perfil

Em relação ao sexo, em 2000, no grupo de migrantes, somente 33,91% da força de trabalho pendular da metrópole baiana era composta de mulheres, com crescimento para 35,90% em 2010.

Quando analisamos o grupo de não migrantes que se deslocam de forma pendular na RMS, essa desigualdade de gênero é ainda mais evidente. Em 2000, 72,61% dos trabalhadores pendulares eram homens, enquanto as mulheres representavam somente 27,39% dessa população. Em 2010, constatou-se crescimento da mão de obra pendular feminina (para 30,22%), mas os homens ainda representam a maior parcela desse grupo (69,78%).

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No que concerne à faixa etária dos que pendulam para trabalhar na RMS, a grande maioria tem de 25 a 39 anos, tanto entre os migrantes como entre os não migrantes. De 2000 para 2010 essa proporção sofreu crescimento tanto no primeiro grupo (de 51,07% para 51,51%) como no segundo (de 42,52% para 48,27%).

A raça/cor parda é a que predomina entre os pendulares da RMS, embora tenha reduzido sua participação de 2000 para 2010. No grupo de migrantes essa redução foi de 51,48% para 47,15%; no grupo de não migrantes foi de 56,17% para 52,39%. Os commuters brancos também perderam representatividade entre migrantes e não migrantes, de 30,59% para 29,53% no primeiro, e de 21,05% para 18,07% no segundo. Apesar disso, a população branca ainda é a segunda mais volumosa dentre trabalhadores pendulares considerados migrantes.

A RMS é a metrópole nordestina com maior proporção de pretos realizando a pendularidade, e segue tendência crescente. Em 2000 suas participações já eram muito superiores às observadas no período mais recente da RMF e da RMR (SIDRIM, 2018). No grupo de migrantes houve crescimento de mais de 4 pontos percentuais, ao representar 21,28% do total em 2010. No grupo dos não migrantes o aumento foi maior: foram cerca de 6 pontos percentuais a mais que em 2000, alcançando 27,80% do total. Nesse último grupo, a população preta é segunda maior desde o primeiro período.

Em termos educacionais, a RMS apresentou grande melhoria entre seus trabalhadores pendulares. Explorando primeiro o grupo de migrantes, nota-se a grande queda sofrida pela parcela de trabalhadores sem instrução e fundamental incompleto, que passou de 34,04% (2000) para 18,37% (2010). O segundo nível menos elevado (fundamental completo e médio incompleto) também apresentou descenso, ao deslocar-se de 14,68% (2000) para 11,59% (2010). Em contrapartida, houve crescimento nos maiores níveis educacionais: o médio completo e superior incompleto aumentaram de 38,45% para 43,48%; e o superior completo mais que dobrou, já que em 2000 representava 12,84% do total, e em 2010 alcançou 26,56%, figurando como a segunda maior proporção (Gráfico 1).

Os dois níveis educacionais mais baixos também decresceram no grupo de não migrantes: a redução dos sem instrução e fundamental incompleto foi de 36,37% em 2000, para 21,32% em 2010, ao passo que a dos que tinham fundamental completo e médio incompleto foi de 14,33% (2000) para 13,83%. Em compensação, houve crescimento dos dois maiores níveis de instrução: a parcela

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dos indivíduos com nível médio completo e superior incompleto cresceu de 38,80% (2000) para 47,04, já a proporção de commuters com superior completo, passou de 10,50% para 17,81% de 2000 para 2010 (Gráfico 1).

GRÁFICO 1 – Nível de instrução da população ocupada que realiza deslocamento pendular

por motivo de trabalho – não migrantes e migrantes – RMS – 2000 e 2010

Fonte: IBGE (Microdados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010).

Inserção ocupacional e renda

Em relação a posição na ocupação dos trabalhadores pendulares migrantes e não migrantes da RMS, a condição de empregado cresceu de 2000 para 2010 na RMS entre migrantes (de 83,10% para 87,36%) e não migrantes (de 88,55% para 92,43%), puxado exclusivamente pela da categoria de indivíduos com carteira assinada. Entre migrantes essa categoria passou de 58,31% para 67,37%, e entre não migrantes passou de 68,96% para 76,51%.

Por outro lado, a proporção de militares e funcionários públicos estatutários diminuiu de 6,23% para 6,37% no grupo de migrantes, e de 5,39% para 4,75% no grupo de não migrantes. O mesmo aconteceu com a parcela de indivíduos sem carteira de trabalho assinada, que passou de 18,56% para 13,62% entre migrantes; e de 14,10% para 11,17% entre não migrantes.

As demais categorias também decresceram. Entre os migrantes, os trabalhadores por conta própria passaram de 12,71% para 9,71%; os empregadores, de 3,64% para 2,78%; e os não remunerados, de 0,56% para 0,15%. Entre não migrantes, a diminuição dos trabalhadores por conta própria foi de 8,23% para

34,04 18,37 36,37 21,32 14,68 11,59 14,33 13,83 38,45 43,48 38,80 47,04 12,84 26,56 10,50 17,81 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 2000 2010 2000 2010

Migrantes Não migrantes

Superior completo Médio completo e superior incompleto Fundamental completo e médio incompleto Sem instrução e fundamental incompleto

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5,94%; dos empregadores, foi de 2,37% para 1,45%; e, dos não remunerados, a redução foi de 0,85% para 0,18%.

Entre os migrantes a taxa de formalidade sofreu crescimento de 67,36% em 2000, para 75, 97% em 2010; ao passo que a taxa de informalidade diminuiu de 32,64% (2000) para 24,03% (2010). Da mesma forma, entre os não migrantes houve aumento da taxa de formalidade, que em 2000 era de 76,92% e passou para 82,60% em 2010; e redução da taxa de informalidade de 23,08% no primeiro período, e 17,40% no segundo.

Quando se trata dos setores de atividades em que estão inseridos os trabalhadores pendulares da RMS, os três principais são: indústria de transformação, comércio e reparação, e construção. No grupo de migrantes, o setor de indústria de transformação era representado por 14,93% dos trabalhadores pendulares (segundo setor mais volumoso), crescendo para 16,38% em 2010, tornando-se o mais abrangente desse grupo. Em seguida está o de comércio e reparação, que em 2000 representava 15,80% do total (o principal setor desse ano), contudo, em 2010 esse perdeu representatividade para 13,08%, figurando em segunda colocação. O setor de construção entre migrantes que pendulavam na RMS sofreu redução de 11,40% (2000) para 9,96% (2010), mas ainda permaneceu como o terceiro maior (Tabela 1).

TABELA 1 – Trabalhadores pendulares segundo o setor de atividade econômica e status

migratório (%) – RMS – 2000/2010

Ocupação por setor de atividade Migrantes Não migrantes 2000 2010 2000 2010

Indústria de transformação 14,93 16,38 26,54 22,09

Comércio e reparação de veículos 15,80 13,08 11,76 10,02

Construção 11,40 9,96 13,04 12,10

Serviços domésticos 6,48 5,82 5,41 5,23

Transporte, armazenagem e correio 6,97 5,58 7,13 5,97

Saúde humana e serviços sociais 4,71 5,53 3,16 4,57

Atividades adm. e serv. Compl. 3,94 3,92 3,56 4,46

Adm. Púb., defesa e seguridade social 7,42 6,84 7,59 6,12

Educação 6,89 5,43 5,71 4,48

Ativ. profissionais, científicas e técnicas - 4,08 - -

Alojamento e alimentação 6,05 - 4,21 4,22

Outros 15,42 23,36 11,90 20,75

Fonte: IBGE (Microdados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010).

Já no grupo de não migrantes a dinâmica foi um pouco diferente. Em 2000, o setor que retinha o maior número de trabalhadores pendulares era o de indústria de transformação (26,54%), e se manteve como o principal setor em 2010 (22,09%),

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apesar da redução. O segundo maior setor de atividade entre os não migrantes é o de construção, que em 2000 era representado por 13,04% dos trabalhadores, e em 2010, por 12,10%. Em seguida está o setor de comércio e reparação, com parcela de 11,76% em 2000, e 10,02% em 2010(Tabela 1).

Em se tratando dos rendimentos dos commuters da RMS, em 2000, os não migrantes tinham melhores salários que os migrantes, visto que as duas mais baixas faixas salariais eram compostas por uma maioria de migrantes: somadas representavam 41,72%, contra 39,85% de não migrantes; e as maiores remunerações se acumulavam dentre os não migrantes: 60,15%, contra 58,28% de migrantes (Gráfico 2).

No período seguinte essa tendência se inverte e os migrantes passam a auferir melhores rendas que os não migrantes. Em 2010, os migrantes acumulavam 50,83% recebendo as três maiores faixas de salário e 49,18% recebendo as duas menores; enquanto os não migrantes tinham 44% recebendo as três maiores, e 56% recebendo as duas menores (Gráfico 2).

GRÁFICO 21 – Trabalhadores pendulares segundo faixas salariais* e status migratório (%)

– RMS – 2000/2010

Fonte: IBGE (Microdados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010).

*Valor do salário mínimo nominal vigente na data de referência do Censo Demográfico – em 2000: R$ 151,00; em 2010: R$ 510,00.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No geral, foi constatada a mesma tendência entre migrantes e não migrantes que realizam a pendularidade motivada por trabalho na RMS, mas com certas particularidades anotadas. Dessa forma, para a elaboração de políticas públicas que tenham a finalidade de atender necessidades de trabalhadores pendulares – como a

6,41 7,14 6,27 6,43 35,31 42,03 33,58 49,57 29,11 26,80 30,46 28,83 14,12 13,33 16,77 9,79 15,05 10,70 12,92 5,38 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 2000 2010 2000 2010

Migrantes Não migrantes

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tarifa de transportes públicos, qualidade e quantidade de vias públicas, preço de aluguel e de venda de imóveis – se faz necessário conhecer quem são, como estão inseridos no mercado de trabalho, bem como os rendimentos da mão de obra pendular da RM de Salvador, além da complementaridade entre migração e pendularidade no processo de descentralização.

REFERÊNCIAS

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