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A VULNERABILIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: REVELAR E DESVELAR O ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL NA COMARCA DE TOLEDO (PR)

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A VULNERABILIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: REVELAR E DESVELAR O ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL NA COMARCA DE

TOLEDO (PR)

Zelimar Soares Bidarra1 Edvane de Oliveira dos Santos2

INTRODUÇÃO

Crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento, titulares de vários direitos, que devem ser protegidas pelo Estado, Sociedade e Família contra qualquer forma de violência. No entanto, certas relações sociais desenvolvidas a partir de formas indiscriminadas de exercício do poder evidenciam distorções e violações dos direitos humanos fundamentais e violências contra a criança e o adolescente. Dentre as formas de violência que estão presentes nas experiências de vida de inúmeros sujeitos, destaca-se a violência destaca-sexual que contém a violação da liberdade destaca-sexual, na medida em que destaca-se manifesta através de atos que desrespeitam os limites da intimidade e da privacidade do corpo de outrem. Caracteriza-se como uma violência porque a invasão e a manipulação do corpo são praticadas sem o consentimento da pessoa vitimizada (BRASIL, 2004). No contexto da citada temática, o presente trabalho apresenta alguns dos resultados obtidos com a pesquisa de iniciação cientifica intitulada “Percorrendo pistas e evidências para conhecer a violência sexual contra crianças e adolescentes no município de Toledo (PR)”, cuja motivação foi a de buscar elucidar a trama de relações e dramas

1 Professora Adjunta do Curso de Serviço Social da UNIOESTE (PR). Coordenadora da Pesquisa sobre as

Práticas de Violência (doméstica e sexual) contra crianças e adolescentes e a atuação dos Agentes Protetivos (PR)/Fundação Araucária. Pesquisadora-membro Grupo de Pesquisa GEMDEC/UNICAMP e do Grupo de Pesquisa: Cultura, Relações de Gênero e Memória (UNIOESTE). Professora Orientadora do Projeto PIBIC sobre a Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente. Coordenadora do Programa de Apoio às Políticas Sociais/PAPS e colaboradora do Projeto do Ponto de Apoio aos Conselhos de Políticas Sociais/ “Ponto”, membro Grupo de Pesquisa GEMDEC/UNICAMP e do Grupo de Pesquisa: Cultura, Relações de Gênero e Memória (Unioeste). Instituição: Unioeste. Endereço para contato: UNIOESTE/Toledo, Rua da Faculdade, 645 Jardim Santa Maria - Toledo. E-mail:

zelimar@yahoo.com.br; Telefones para contato: (45)9102-8073/(45) 3379-7000 Ramal 7112.

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Acadêmica do 4º ano do Curso de Serviço Social da UNIOESTE – Campus Toledo. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UNIOESTE/ Fundação Araucária. Endereço para contato: UNIOESTE/Toledo, Rua da Faculdade, 645 Jardim Santa Maria - Toledo. Telefones para contato: (45) 3379-7000 Ramal 7112. E-mail: edvane_@hotmail.com

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2 vividos por crianças e adolescentes que são violentados em sua liberdade e dignidade. Para tanto, desde o ano de 2005, a equipe de pesquisa coordenada pela Profa. Zelimar Soares Bidarra tem envidado esforços para desenvolver diferentes atividades investigativas, dentre as quais, tem-se as sobre as formas de manifestação e de registro das práticas de violência sexual em Autos de Processos da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Toledo (PR). Esse trabalho tem sido feito em diferentes etapas e os dados e análises até então armazenados correspondem aos anos de 2003 a 2006. Contudo, os resultados ora apresentados correspondem ao período de 2001-2 o que possibilitou uma ampliação da visão sobre as condições que interferem na prática da violência sexual no município de Toledo (PR).

De posse de dados que cobrem um período maior de tempo, tem-se melhores condições de compreender e de propor alternativas que contribuam para a criação e fortalecimento dos serviços que devem integrar a rede de apoio às vítimas, e também aos agressores de violência sexual. E, desta forma, reforçamos o compromisso da universidade3 com a garantia e a defesa dos direitos das crianças e adolescentes.

Assim sendo, o objetivo geral proposto foi ampliar o mapeamento e proceder a análise sobre os casos de violência sexual, ocorridos nos anos de 2001 e 2002, no município de Toledo e que constam como Autos de Processos na Vara de Infância e Juventude. E os objetivos específicos foram identificar os casos de Violência Sexual ocorridos nos anos de 2001 e 2002; identificar os elementos e traçar um perfil do agressor e da vítima; e comparar os elementos dos perfis dos agressores e vítimas obtidos pelas pesquisas dos anos de 2003 a 2006 com os desta pesquisa que coleta dados dos anos de 2001 e 2002.

1. A PRÁTICA DA VIOLÊNCIA SEXUAL

Para a compreensão de que tipo de prática se está tratando é importante, ainda que de modo breve, elucidar o espaço da violência na sociedade e na infância. Primitivamente,

3

Informamos que a partir da iniciativa das equipes do PAPS e do “Ponto” buscou-se a colaboração do prof. Clodis Boscaroli e de acadêmicos, do curso de Informática da Unioeste – campus Cascavel, para a elaboração de um banco de dados que sistematize informações sobre a violência sexual contra a criança e o adolescente no Estado do Paraná.

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3 segundo Odália (1983), uma das condições básicas de sobrevivência do homem foi a sua capacidade de produzir violência numa escala desconhecida pelos outros animais. No entanto, com o passar dos anos as manifestações da violência ganharam contornos diferenciados, progressivamente foi-se modificando a forma natural da violência como recurso de defesa; e, passou-se a tê-la como conseqüência do modo como o homem organiza a sua vida, de forma compartilhada e em constante disputa, para com outros homens.

Apesar de persistir e tender a manifestar-se e ser aceita como natural e normal, a violência contém inúmeras faces das desigualdades, e, em qualquer de seus tipos não se pode descartar a influência da estrutura social que, historicamente determinada, perpassada diferentes relações e instrumentos de poder. Segundo Saffioti (In: AZEVEDO; GUERRA, 2000) na sociedade estão presentes sistemas de dominação-exploração que dão forma ao poder, sendo eles: a submissão das classes subalternas pelas classes dominantes (capitalismo); a assimetria nas relações de gênero que subordina a mulher ao homem (patriarcado); e o racismo, que permite ao branco determinar o lugar do negro na estrutura social.

A natureza destes sistemas de dominação-exploração é contraditória e antagônica. Contudo, a despeito das ambigüidades inerentes a esses sistemas, em um deles conserva-se o argumento preponderante de que o poder do adulto sobre a criança visa a sua socialização, para torná-la um adulto que obedece às regras e normas estabelecidas socialmente. Desta forma, os interesses não são entendidos e assimilados como opostos e contraditórios, porque se formulou a convicção de que a criança deve submeter-se ao adulto. Com base nisso, se gestou um ambiente ideal para a presença e reiteração da violência, um local fechado ao olhar público, o espaço doméstico, e considerado sagrado: a família (PINHEIRO In: AZEVEDO; GUERRA, 2000).

No contexto desse espaço desenrolam-se diferentes formas de submeter à criança ao poder do adulto, tudo isso mediante o recurso das práticas violentas, as quais constituem-se em abusos, porque mostram a “(...) transgressão do poder disciplinador do adulto” (AZEVEDO; GUERRA, 2000, p. 35). Dentre as inúmeras violências praticadas contra crianças e adolescentes, segundo Azevedo e Guerra (2000), algumas

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4 têm no lar sua origem e espaço privilegiado, embora não se restrinjam a ele. Mas, é fato inconteste que no contexto do intitulado o lar tem se reproduzido um circuito pernicioso e um ciclo de violência que tem na mulher e na criança suas vítimas mais freqüentes. Isso devido ao padrão de relações sociais estabelecidas, referenciadas no machismo e patriarcado, que não é característico da condição de pobreza, muito pelo contrário, encontra-se em todas as classes sociais.

Dentre as diversas formas de violência, esse texto centra seu foco na dramaticidade da violência sexual, porque esta representa uma grave violação dos direitos humanos, na medida em que rompe com os direitos ao respeito, à dignidade e à liberdade, prejudicando o desenvolvimento saudável da sexualidade. Segundo o Guia Escolar (BRASIL, 2004, p.23):

Dominação de gênero, classe social e faixa etária, sob o ponto de vista histórico e cultural, contribuem para a manifestação de abusadores e exploradores. A vulnerabilidade da criança, sua dificuldade de resistir aos ataques e o fato de a eventual revelação do crime não representar grande perigo para quem o comete são condições que favorecem sua ocorrência.

Em geral, o silêncio tende a cercar o ambiente em que se tem a prática da violência contra a criança, seja porque algumas dessas práticas são passíveis de punição criminal, seja porque a revelação e rompimento do silêncio provocaria o “desmoronamento” da instituição família, denunciando que esta não cumpriu para com o seu dever de proteção (SAFFIOTI In: AZEVEDO; GUERRA, 2000). Nesse contexto, a vítima é envolvida num “pacto de silêncio”, em que sua liberdade é cerceada e do qual apenas sairá se revelar a violência a que foi submetida.

2. O ABUSO SEXUAL E A EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL NA COMARCA DE TOLEDO (PR)

A presente pesquisa classifica-se como exploratória combinada com descritiva e sua operacionalização deu-se mediante a realização de um conjunto articulado de ações, que privilegiou a busca de dados em Autos de Processos (documentos) da Vara da Infância e Juventude do município de Toledo que registrassem ocorrências de violência sexual

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5 contra o segmento infanto-juvenil. A investigação focou-se na consulta a essa fonte para efetuar o levantamento e a elaboração de um quadro quantitativo sobre as características peculiares dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorridos nos anos de 2001 e de 2002.

Visando diferenciar e categorizar os tipos de violência e os agentes envolvidos, os dados foram arrolados a partir do uso de uma Ficha que elenca questões referentes às condições em que ocorreu à prática da violência.

Para a identificação das situações de violência sexual, relativas aos anos de 2001 e 2002, foram consultados 657 Autos de Processo. Acrescendo-se a esse número o das pesquisas anteriores tem-se que para o período de 2001 a 2006 consultou-se 1946 Autos de Processo da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Toledo (PR). Deste universo constatou-se 34 situações referentes à prática da violência sexual contra crianças e adolescentes.

Apresenta-se abaixo a distribuição, por ano, da quantidade de Autos de Processo em que se detectou indícios de violência sexual:

GRAFICO 1 - PROCESSOS JUDICIAIS RELATIVOS A VIOLENCIA SEXUAL EM TOLEDO

6 5 8 7 4 4 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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6 Do levantamento de dados realizados nestes 34 Autos de Processos procedeu-se a concentração numérica das vítimas e acusados, tendo em vista o ano de abertura do Auto de Processo. Deparou-se com a seguinte quantidade de vítimas e de acusados:

GRÁFICO 2 - Número total de vítimas: 60

21 6 15 10 4 4 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

GRÁFICO 3 - Núm ero total de acusados: 39

6 5 8 7 7 6 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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7 Observa-se que o número de Autos de Processos e, consequentemente, o número de vítimas e de acusados não é estável, apresentando-se ora regressivamente, ora progressivamente. Os estudiosos dessa temática, vide referências, afirmam que a violência sexual vitimiza muito mais sujeitos do que nos é permitido conhecer. Desta forma, destaca-se a importância da denuncia, pois a revelação da violência deveria elevar o número de Autos. Entretanto, os dados registrados apontam para a redução do número de Autos de Processos, nesse sentido parece oportuno indagar: será que efetivamente ocorreu uma diminuição do número de ocorrências ou o que se teve foi a redução do número de denuncias?

Nos gráficos nota-se que o aumento do número de Autos de Processos relaciona-se ao aumento do número de vítimas e de acusados. No entanto, percebe-se a presença de um número maior de acusados e de vítimas do que a quantidade de Autos de Processos. O que indica que tal violência não se restringe a uma ação especifica, com sujeitos restritos, mas, no curso da ação de violação tem-se a possibilidade de num mesmo evento ter-se mais de um abusador e, sobretudo, a ação sobre mais de uma vítima. Constata-se que de um período de seis anos pesquisados, em quatro deles (de 2001 a 2004) teve-se um número maior de vitimas do que de acusados, o que indica que um mesmo agressor vitimizou mais do que uma criança e/ou adolescente. De forma inversa, para os anos de 2005 e 2006 percebeu-se que as vitimas foram violentadas por mais de um agressor, provavelmente, em mais de uma situação.

Em alguns dos Autos consultados verificou-se a presença da prática da exploração sexual, no entanto não há registro de que tenha sido feita investigação sobre os acusados/exploradores. Por isso não foi possível quantificar o número de acusados, os quais não constam nas informações dispostas no gráfico 3.

Cabe destacar que em, apenas, um Auto de Processo, relativo ao ano de 2001, foram arroladas 14 vítimas, o que justifica o elevado número de vítimas encontradas em relação aos anos seqüentes. Informa-se que nesse caso o tipo de violência sexual praticada foi o exibicionismo, ocorrido numa localidade identificada como “área de meretrício”. Em razão desse elevado número de vítimas, em um mesmo Auto de Processo, constatou-se a inexistência e falta de precisão em informações, tais como:

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8 sexo e idades de cada uma das vítimas. Para essa situação, o máximo de informação obtida foi que essa violência atingiu a 12 adolescentes e 2 crianças. Assim, a carência de detalhamento de tal informação se reflete na totalização dos demais dados apresentados. A seguir apresenta-se a idade das vítimas de acordo com os biênios pesquisados:

Quadro 1 - Idade das vítimas

2001 e 2002 2004 e 2005 2003 e 2006 TOTAL

0 à 12 anos (criança) 4 5 15 24

12 à 18 anos (adolescente) 22 6 4 32

18 anos ou mais 0 0 1 1

Não informado 1 0 0 1

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Dos números apurados verifica-se que a violência sexual fez vitimas tanto crianças quanto adolescentes. Mas, apesar de ter havido uma leve concentração nos adolescentes, isso variou de acordo com os anos pesquisados. Inclusive, nos anos de 2003 e 2006, 75% das vítimas foram crianças.

GRÁFICO 4 - Idade das vítimas dos anos de 2001 a 2006

24 41% 32 55% 1 2% 1 2% 0 À 12 ANOS 12 À 18 ANOS 18 ANOS OU MAIS NÃO INFORMADO

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9 Detectou-se a predominância do número maior de vítimas do sexo feminino, porém cabe esclarecer que esta violência também perpassa a experiência de vida de indivíduos do sexo masculino. O que é possível notar no quadro e tabela a seguir:

Quadro 2 - Sexo das vítimas

2001 e 2002 2004 e 2005 2003 e 2006 TOTAL

Feminino 11 11 16 38

Masculino 2 0 4 6

Não informado 14 0 0 14

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Observando-se os Gráficos 4 e 5 percebe-se a existência do item “Não informado” , para o qual lança-se um alerta sobre a necessidade da precisão das informações quando do registro dos atendimentos e atuações dos diferentes Atores do Sistema de Garantia de Direitos.

GRÁFICO 5 - Sexo das vítimas dos anos de 2001 a 2006

38 66% 6 10% 14 24% FEMININO MASCULINO NÃO INFORMADO

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10 Nos Autos de Processo consultados apurou-se relato da violência sexual nas duas modalidades: a do abuso sexual e a da exploração sexual. Tendo-se 54 vítimas de

abuso sexual, entre crianças e adolescentes e 5 vítimas da exploração sexual, entre

crianças e adolescentes. Ressalta-se que, em algumas situações, a mesma criança ou adolescente foi vítima de mais de um tipo de violência sexual, em diferentes momentos de suas vidas.

Quadro 3 – Modalidade da violência sexual

2001 e 2002 2004 e 2005 2003 e 2006 TOTAL

Exploração sexual 5 0 0 5

Abuso sexual 24 11 19 54

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

A fim de prestar esclarecimentos sobre de que fenômeno se está tratando, destaca-se que a exploração sexual “compreende o abuso sexual praticado por adultos e a remuneração em espécie ao menino ou menina e a uma terceira pessoa ou várias” (Declaração ... apud BRASIL, 2004, p. 24). Crianças e adolescentes são explorados quando levados precocemente a vivenciarem experiências de sexualidade que não são adequadas para o

GRÁFICO 6 - Modalidade da Violência Sexual praticada nos anos de 2001 a 2006 54 92% 5 8% Exploração sexual Abuso sexual

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11 seu desenvolvimento psíquico e emocional. A exploração sexual é uma violência porque enreda sujeitos que não têm discernimento para escolher.

A exploração sexual comercial é feita por meio de coação e violência, explícita ou não, onde a criança ou adolescente são tratados como mercadoria ou objeto sexual. Segundo o Guia Escolar (BRASIL, 2004) essa é uma atividade econômica perversa, produzida pelo sistema social que impede o desenvolvimento saudável dos aspectos físico, psíquico e social de crianças e adolescentes. Acresce-se que a exploração sexual implicar em dominação, podendo ser econômica e, também, afetiva (Saffioti In: AZEVEDO e GUERRA, 2000, p. 49).

De acordo com o Quadro 3, para os anos de 2003 a 2006, não se apurou registros da prática de exploração sexual, inclusive nos Autos de Processos investigados as situações de abuso sexual mostraram-se predominantes. Contudo, é importante chamar a atenção para as diferentes formas que, muitas vezes, são utilizadas, por diferentes membros da sociedade, para tornar invisível a prática da exploração sexual, e isso não é um dado novo. Deste modo, cabe indagar: será que a exploração sexual deixou de existir ou deixou de ser percebida socialmente como uma forma de violência contra a criança e o adolescente? Os estudos realizados indicam como mais provável a segunda alternativa. A modalidade do abuso sexual é descrita como “ato ou jogo sexual em que o adulto submete a criança ou o adolescente (relação de poder desigual) para se estimular ou satisfazer-se sexualmente. Impondo-se pela força física, pela ameaça ou pela sedução, com palavras ou com ofertas de presentes” (ANDI apud BRASIL, 2004, p. 23). E, demais estudiosos acrescentam que esse abuso pode se basear em uma relação heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança menor de 18 anos, visando estimular sexualmente a criança, ao próprio adulto, ou a outra pessoa (MIKE apud AZEVEDO e GUERRA, 2000).

O abuso sexual pode ocorrer no ambiente familiar ou fora deste contexto, numa relação extrafamiliar. Na tabela e gráfico abaixo consta a classificação dos abusos investigados.

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12

Quadro 4 – Classificação do Abuso Sexual

2001 e 2002 2004 e 2005 2003 e 2006 TOTAL

Abuso Sexual Extrafamiliar 21 3 3 27

Abuso Sexual Intrafamiliar 3 7 18 28

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Segundo, o Guia Escolar (BRASIL, 2004), quando a violência sexual é praticada numa relação intrafamiliar o abusador costuma ser uma pessoa que a vítima conhece, ama ou em quem confia e quase sempre possui uma relação de parentesco com a vitima. Esse Abusador utiliza-se de sua posição de poder, do ponto de vista hierárquico e econômico. De acordo com o Quadro 2, nos anos de 2003 e 2006 houve um número maior de vítimas crianças e, comparando-se com as informações do Quadro 4 conclui-se que a maior concentração de vítimas foi dos casos de abuso sexual intrafamiliar, o que evidencia, que no ambiente familiar a criança é o sujeito mais vulnerável. O que é lamentável, uma vez que neste ambiente ela deveria encontrar a proteção e o respeito.

GRÁFICO 7 - Classificação do Abuso Sexual praticado nos anos de 2001 a 2006 27 49% 28 51% Extrafamiliar Intrafamiliar

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13 Quando a violência sexual é praticada fora do âmbito familiar, o abusador também costuma ser alguém que a vítima conhece e em quem confia, podendo ser, por exemplo, vizinhos, amigos da família, educadores, médicos ou religiosos. Mas, também, eventualmente, o abusador pode ser uma pessoa totalmente desconhecida (BRASIL, 2004).

De acordo com a literatura, o abuso sexual pode ser praticado de diversas formas, sendo

com ou sem contato físico. As formas, sem contato físico são: o assédio sexual, abuso

sexual verbal, telefones obscenos, exibicionismo, voyerismo e pornografia. As com

contato físico4 são: o atentado violento ao pudor, estupro, corrupção de menores, atentado violento ao pudor mediante fraude e posse sexual mediante fraude. Na sequência apresentam-se demonstrativos das tipificações encontradas nas situações pesquisadas:

Quadro 5 – Tipificação do abuso sexual

Tipo do Abuso Sexual 2001 e 2002 2004 e 2005 2003 e 2006 TOTAL

Atentado violento ao pudor 2 10 14 26

Exibicionismo 15 1 5 21

Assédio sexual 4 0 0 4

Estupro 2 0 0 2

Sedução 1 0 0 1

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

4 O Código Penal Brasileiro, até o ano de 2005, compreendia a sedução e o rapto como formas de abuso sexual com

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14 Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Assim, dentre as situações pesquisadas o abuso sexual sem contato físico foi praticado nas formas do exibicionismo e do assédio sexual. Segundo o Guia Escolar (BRASIL, 2004, p. 38-39) “O assédio sexual caracteriza-se por propostas de relações sexuais” e o exibicionismo é o ato de mostrar os órgãos genitais, se masturbar ou manter relação sexual diante da criança ou do adolescente ou no campo de visão deles.

O abuso sexual caracterizado pelo contato físico apresentou-se na forma do atentado violento ao pudor, do estupro e da sedução. No atentado violento ao pudor, a vítima é forçada à participar de atos libidinosos que são praticados por meio de masturbações, toques em partes íntimas, sexo anal ou oral. O estupro caracteriza-se pela conjunção carnal, que é a introdução completa ou incompleta do pênis na vagina. No caso da sedução tem-se que a mulher, categorizada como virgem, em sendo maior de 14 e menor de 18 anos, é levada a conjunção carnal por meio de sua inexperiência ou justificável confiança no agressor.

No caso da realidade investigada, nos Autos analisados encontrou-se o número de 05 crianças e adolescentes exploradas sexualmente. Sendo que nesse número corresponde à seguinte tipificação: 01 vitima do trabalho sexual autônomo, 01 vítima de trabalho sexual agenciado (situações que consistem na venda de sexo) e 03 situações em que não foi possível definir a forma da exploração sexual praticada, uma vez que o termo

GRÁFICO 8 - Tipo de Abuso Sexual praticado nos de 2001 a 2006 1 2% 2 4% 4 7% 21 39% 26 48%

Atentado violento ao pudor Exibicionismo

Assédio sexual Estupro Sedução

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15 descrito no Auto de Processo era de “criança/adolescente se prostituindo”. No entanto, o termo “prostituta” não expressa corretamente a situação, visto que a criança/adolescente é “objeto de exploração sexual, ou seja, ela é „prostituída‟” (BRASIL, 2004, p. 89).

Abaixo pode-se conhecer as formas em que este tipo de violência sexual apresentou-se nos Autos de Processos investigados:

Quadro 6 – Tipificação da exploração sexual

Exploração Sexual 2001 e 2002 2004 e 2005 2003 e 2006 TOTAL

Trabalho Sexual Autonomo 1 0 0 1

Trabalho Sexual Agenciado 1 0 0 1

Indefinido 3 0 0 3

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

Fonte: tabulação de pesquisa PIBIC

A exploração sexual pode se apresentar na forma de pornografia, trocas sexuais, trabalho sexual infanto-juvenil autônomo, trabalho sexual infanto-juvenil agenciado, turismo sexual orientado para a exploração sexual e tráficos para fins de exploração sexual de crianças e adolescentes.

GRÁFICO 9 - Tipo da Exploração Sexual praticada nos anos de 2001 e 2006 3 60% 1 20% 1 20%

Trabalho Sexual Autonomo Trabalho Sexual Agenciado Indefinido

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16 CONCLUSÃO: O REVELAR E DESVALAR DO ABUSO E DA EXPLORAÇÃO SEXUAL

Este trabalho apresentou algumas das evidências encontradas sobre a prática da violência sexual no município de Toledo; importa observar que tais evidências não se mostraram diferente da realidade estadual e nacional. A violência sexual não faz vítimas apenas de um sexo ou de uma idade específica. No entanto, a menina na fase da puberdade é “escolhida” pelos abusadores como uma vítima preferencial.

Ressalta-se que, segundo o Guia Escolar (2004, p. 24), “os abusadores não se limitam a abusar de uma única pessoa ou da mesma pessoa uma só vez. As ocorrências de abuso podem limitar-se a um único episodio; o mais comum, porém, é que a prática se repita várias vezes e dure meses ou anos”. O que é muito grave nessas circunstâncias é a grande probabilidade de a vitima se tornar um abusador, tendo em vista que se a criança ou adolescente não receber ajuda para eleborar a perversidade ocorrida com ela, tende a repetir essa violência com outras pessoas (BRASIL, 2004).

Segundo Bidarra e Bremm (2008) é necessário que as redes de proteção às vitimas de violência sejam fortalecidas e que estas ofereçam segurança para que quando a violência seja revelada, as vítimas tenham assegurados os seus direitos de privacidade e de dignidade. Assim, objetiva-se romper com o “pacto de silêncio”, que muitas vezes leva a vitima a não revelar a violência que sofreu ou sofre. Este “pacto” dificulta conhecer os números reais da violência sexual praticada contra crianças e adolescentes.

Assim, uma análise crítica deve conduzir a interpretação para além do que a dinâmica da violação possibilita conhecer, chegando, por assim dizer, ao desvelamento da violência sexual, para que ela deixe de significar casos isolados que, erroneamente, sejam entendidos como fatos que dizem respeito a vida privada de alguns sujeitos. É fundamental que ela seja interpretada como um problema público e de responsabilidade da família, da sociedade e do Estado, como preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990).

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17 Diante disso, percebe-se a importância da reflexão e da tomada de consciência sobre os determinantes da violência sexual para que seja possível romper com a barreira do silêncio construída em torno da violação de direitos de crianças e de adolescentes. REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Maria Amélia e GUERRA, Viviane Nogueira. Vitimação e vitimização: questões conceituais. In: AZEVEDO, Maria Amélia e GUERRA, Viviane Nogueira (org.). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 3º ed. São Paulo: Iglu, 2000.

BRASIL. Guia Escolar: Métodos para Identificação de Sinais de Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Brasília (DF): Secretaria Especial dos Direitos Humanos e Ministério da Educação, 2004.

BIDARRA, Z. S.; BREMM, A. Um fenômeno ainda obscuro: a violência sexual contra crianças e adolescentes no município de Toledo/PR. Comunicação Oral apresentada no Fazendo Gênero 8 – Corpo, Violência e Poder. Florianópolis; 2008. BREMM, A; BIDARRA, Z. S. Mapeamento das Práticas de Violência Sexual

(exploração sexual e comercial) contra Crianças e Adolescentes no município de Toledo (região oeste do Paraná). Projeto de Iniciação Científica – PIBIC –

UNIOESTE, 2006/2007.

BREMM, A; BIDARRA, Z. S. Violência Sexual no município de Toledo/PR: uma realidade a ser desvendada. Projeto de Iniciação Científica – PIBIC – UNIOESTE, 2007/2008.

ODALIA, Nilo. O que é violência. Coleção Primeiros Passos. Volume 85. São Paulo: Brasiliense, 1983.

SAFFIOTI, Heleieth I. B. Exploração sexual de crianças. In: AZEVEDO, Maria Amélia e GUERRA, Viviane Nogueira (org.). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 3º ed. São Paulo: Iblu, 2000.

PINHEIRO, Paulo Sérgio. A criança e o adolescente: compromisso social. In: AZEVEDO, Maria Amélia e GUERRA, Viviane Nogueira (org.). Crianças

Referências

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