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CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS A POPULAÇÃO DE RUGENDAS VS. REPÚBLICA DO TAMOIO MEMORIAL DOS REPRESENTANTES DO ESTADO

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Equipe nº. 6900

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

A POPULAÇÃO DE RUGENDAS VS. REPÚBLICA DO TAMOIO MEMORIAL DOS REPRESENTANTES DO ESTADO 2012

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ÍNDICE

ÍNDICE __________________________________________________________________ ii REFERÊNCIA _________________________________________________________ iii-vi LISTA DE ABREVIATURAS _______________________________________________ vii

DOS FATOS ______________________________________________________________ 1

A POPULAÇÃO DE RUGENDAS VERSUS A REPÚBLICA DO TAMOIO ______ Erro!

Indicador não definido.

DA ANÁLISE LEGAL ______________________________________________________ 4

PRELIMINARES _________________________________________________________ 4 I. DA COMPETÊNCIA PARA ANÁLISE DO CASO ________________________ 4 II. DO PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DA PETIÇÃO ______________________ 6

MÉRITO _________________________________________________________________ 6

República de Tamoio não violou os artigos 4 e 5 em relação aos arts. 1.1 e 2 da CADH e em face do art. 11 do Protocolo de San Salvador _________________________________ 7 República de Tamoio não violou os artigos 8 e 25 da CADH ______________________ 15 República de Tamoio não violou o artigo 13 em relação aos arts. 1.1 e 2 da CADH _____ 15

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REFERÊNCIA Documentos Legais

CONSIDERACIONES ambientales para el sector de desarrollo industrial. Banco Mundial: 1978. Disponível em: <http://www-wds.worldbank.org>. Acesso em: 18 dez. 2011.

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Comissão Européia de Direitos Humanos

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Corte Interamericana de Direitos Humanos

Corte IDH. Caso Acevedo Jaramillo y otros vs. Perú. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 7 de febrero de 2006. Serie C No. 144.

_________. Caso Albán Cornejo y otros. vs. Ecuador. Fondo Reparaciones y Costas. Sentencia de 22 de noviembre de 2007. Serie C No. 171.

_________. Caso Anzualdo Castro vs. Perú. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 22 de Septiembre de 2009. Serie C No. 202.

_________. Caso Baruch Ivcher Bronstein vs. Peru. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 6 de fevereiro de 2001.

_________. Caso Bulacio vs. Argentina. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 18 de Septiembre de 2003. Serie C No. 100.

_________. Caso Cantoral Benavides vs. Peru. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 3 de septiembre de 1998.

_________. Caso Castañeda Gutman Vs. México. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 6 de agosto de 2008. Serie C No. 184.

_________. Caso Claude Reyes e otros versus Chile. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 19 de setembro de 2006. Série C No. 151.

_________. Caso de la Comunidad Mayagna (Sumo) Awas Tingni Vs. Nicaragua. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 31 de agosto de 2001. Serie C No. 79.

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_________. Caso Comunidad Indígena Sawhoyamaxa Vs. Paraguay. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentença de 29 de março de 2006.

_________. Caso Escué Zapata vs. Colombia. Voto Razoado do Juiz Sérgio Garcia. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 4 de julio de 2007. Serie C No. 165.

_________. Caso González y otras (“Campo Algodonero”) vs. México. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 16 de noviembre de 2009. Serie C No. 205.

_________. Caso Herrera Ulloa vs.Costa Rica. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 2 de julho de 2004.

_________. Caso Kimel vs.Argentina. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 2 de maio de 2008.

_________. Caso Loayza Tamayo Vs. Perú. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas.. Sentencia de 27 de novembro de 1998.

_________. Caso López Álvarez versus Honduras. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 1 de fevereiro de 2006. Série C No. 141.

_________. Caso Myrna Mack Chang Vs. Guatemala. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 25 de noviembre de 2003. Serie C No. 101.

_________. Caso Niños de la Calle (Villagrán Morales y otros) Vs. Guatemala. Fondo. Sentença de 19 de novembro de 1999.

_________. Caso Ricardo Canese vs. Paraguai. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 31 de agosto de 2004. Série C No. 111.

_________. Caso Usón Ramírez vs. Venezuela. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 20 de noviembre de 2009. Serie C No. 207.

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_________. Caso Valle Jaramillo y otros vs. Colombia. Voto Razoado do Juiz Sério García Ramirez Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 7 de febrero de 2006. Serie C No. 144.

_________. Caso Velásquez Rodríguez. Excepciones Preliminares. Sentença de 26 de junho de 1987. Série C, n° 1.

_________. Caso Yatama vs. Nicarágua. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 23 de junho de 2005. Serie C No. 127.

_________. Caso Yvon Neptune vs. Haití. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 6 de mayo de 2008. Serie C No. 180.

Comissão Interamericana de Direitos Humanos

CIDH. Caso n.° 12.471, Comunidad San Mateo Huanchor vs. Peru. Presentación sobre el fondo. Washington: 2006, par. 85. Disponível em: < http://www.ciel.org/>. Acesso em: 18 dez. 2011.

_____. Relatório n.° 29/88, Caso n.° 9.260. Wright vs. Jamaica. 14 de setembro de 1988. _____. Relatório n.° 39/96, Caso n.° 11.673. Marzioni vs. Argentina. 15 de outubro de 1996.

Doutrina

COMPARATO, Fábio Konder. O Poder Judiciário no Regime Democrático. Estudos

Avançados: 2004, vol. 18, n. 51. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n51/a08v1851.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2011.

VALLE, Cyro Eyer do; LAGE, Henrique. Meio Ambiente: acidentes, lições, soluções. São Paulo: Editora SENAC, 2003.

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LISTA DE ABREVIATURAS CADH CEDH CIDH Corte IDH DAI ITMA OEA OMS ONG OPAS SIDH SMRN UNEP

Convenção Americana de Direitos Humanos Corte Europeia de Direitos Humanos

Comissão Interamericana de Direitos Humanos Corte Interamericana de Direitos Humanos Direito Ambiental Internacional

Instituto Tamoiano do Meio Ambiente Organização dos Estados Americanos Organização Mundial da Saúde Organização não governamental Organização Panamericana da Saúde

Sistema Interamericano de Direitos Humanos

Secretaria de Mineração e Recursos Naturais da República de Tamoio United Nations Environment Programme

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DOS FATOS

1. Localizada na América do Sul e independente desde o século XVIII, a República de Tamoio é uma democracia, participou ativamente do processo de negociação da Carta da OEA e ratificou grande parte dos tratados de direitos humanos existentes. Infortunadamente, na última década, o país sofreu os efeitos da má gestão macroeconômica. Visando amenizá-los, a República de Tamoio lançou projeto ousado para atrair investimentos externos a partir da exploração dos recursos minerais da região das Montanhas do Coroado, mais especificamente na área próxima ao rio Kaigang e à cidade de Rugendas.

2. Em 2005 a empresa italiana Volta Baterias instalou-se na região e seguindo os ditames da legislação de Tamoio, que a obrigava a criar uma joint venture com o governo local, originou a Tamoio-Volta Baterias.

3. É longa e positiva a tradição das políticas ambientais de Tamoio. Desde 2002, por meio da criação de uma agência ambiental denominada Instituto Tamoiano do Meio Ambiente (ITMA), o governo vem trabalhando para melhorar a implementação da legislação ambiental nacional e para o aprimoramento da regulamentação para a construção de fábricas, com a Lei Tamoiana do Meio Ambiente de 2001. Referida legislação solicita a preparação de relatórios de impacto ambiental nas diretivas do ITMA. Os relatórios devem considerar os impactos ambientais e sociais dos empreendimentos e os estudos devem ser realizados por empresas de consultoria independentes, listadas pela ITMA. A análise do relatório tem prazo máximo de seis meses.

4. A Tamoio-Volta Baterias realizou, conforme manda o dispositivo legal, a avaliação por meio da empresa de consultoria Santa Clara de Tamoio, finalizando o Relatório de Impacto Ambiental em fevereiro de 2007. O estudo incluiu a emissão de metais pesados na água e ar, desmatamento, necessidade de reflorestamento das margens do rio Kaigang e a demanda da população local. De maneira célere e eficiente, a licença ambiental foi emitida

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em maio daquele ano por Tamoio e a empresa pode construir suas fábricas.

5. Em razão da emissão da licença, uma ONG envolvida na consulta fez alegações de que a população não havia sido adequadamente consultada em razão do curto espaço de tempo da expedição da licença. Segundo a organização de Rugendas, a proposta de reflorestamento da empresa não era o suficiente para a revitalização adequada da margem. Em junho daquele mesmo ano, a ONG ajuizou uma ação pedindo a revogação da licença e o impedimento da construção das fábricas. A decisão, contudo, favoreceu a Tamoio-Volta Baterias, que havia cumprido previamente as medidas previstas em lei. A ONG recorreu da decisão e, em 2008, o tribunal de apelação suspendeu a construção das fábricas pela empresa e aplicou-lhe multa no valor de T$ 2 milhões.

6. A Tamoio-Volta Baterias recorreu à Suprema Corte, argumentando pela continuação da construção em razão de a população não apresentar evidências concretas de impactos negativos irreversíveis causados pelas obras e operação das fábricas. E conforme argumentação do Estado, referida interrupção consistia em uma violação da soberania do país sobre seus recursos naturais. Os benefícios criados pelas fábricas incidiriam positivamente na população de toda a República de Tamoio. Argumentou o governo que o estímulo do setor industrial era fundamental para o incentivo às exportações em razão das vantagens comparativas oferecidas pela joint venture.

7. Em agosto de 2008, a Suprema Corte decidiu pela argumentação da Tamoio-Volta Baterias, revertendo, assim, a decisão de apelação. Argumentou que a construção das fábricas beneficiaria a população de Tamoio e auxiliaria no crescimento econômico do país, e também não deixou de recordar o fato de que as demandas da população foram consideradas.

8. Em janeiro de 2010, foram relatados casos de danos à saúde de crianças em razão do envenenamento por chumbo. A SMNR imediatamente divulgou os relatórios técnicos emitidos pela ITMA, que apontavam para a inexistência de concentração de metais pesados

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nas águas do rio Kaigang. Segundo a secretaria, todas as medidas e precauções cabíveis foram tomadas pela Tamoio-Volta Baterias para evitar a contaminação do rio.

9. As autoridades de Rugendas afirmaram que a origem da poluição era incerta, podendo ser oriunda do rio ou da fumaça emitida pelas fábricas no alto do vale. Suas alegações apontaram que o governo não havia divulgado todas as possíveis consequências da instalação de empreendimentos daquela natureza no local e que, em razão da localização de Rugendas, o vento não dissipava adequadamente a poluição do ar, o que afetava a saúde a população local. 10. Imediatamente, foi ajuizada pela ONG de Rugendas uma ação solicitando a interrupção das operações das fábricas da Tamoio-Volta e a reparação às pessoas afetadas pela poluição. Segundo o Estado, até que fossem determinadas as causas dos problemas à saúde da população, as fábricas continuariam a operar na sua menor capacidade. Não obstante, o tribunal de primeira instância decidiu pela suspensão das operações para assim evitar mais prejuízos à saúde da população local e a sentença foi integralmente cumprida. O Governo recorreu da decisão, mas o tribunal de apelação também optou pela suspensão das operações até que fosse descoberta e controlada a fonte dos problemas causados à população. O Estado apelou à Suprema Corte.

11. A SMRN, por sua vez, emitiu relatórios indicando a possibilidade de a causa do envenenamento nas comunidades locais ser o excesso de fumaça lançada no ar pelas fábricas, alegando, contudo, a necessidade de mais estudos para haver certeza dos resultados.

12. Em janeiro de 2011, a Suprema Corte decidiu em favor da Tamoio-Volta, permitindo que as fábricas voltassem a operar em plena capacidade. A argumentação da Corte prezou, novamente, pela importância e papel da joint venture no desenvolvimento nacional. Não ignorando as necessidades das comunidades locais, o tribunal decidiu que o governo deveria adotar as medidas necessárias para cessar a poluição e o envenenamento dela derivado a partir do investimento em equipamentos capazes de conter esses efeitos. Por não aceitarem a

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decisão desfavorável, os representantes apelaram à CIDH. O processo perante o Sistema Interamericano

13. Em março de 2011, a ONG de Rugendas apelou à CIDH alegando a violação dos artigos 4, 5, 8, 11, 13 e 25, em relação ao artigo 1.1 da Convenção e do artigo 11 do Protocolo de San Salvador. Em sua defesa, a República de Tamoio alegou que não houve violação de direitos humanos e que todos os procedimentos judiciais e administrativos previstos haviam sido observados. Além disso, os planos para as fábricas haviam sido delineados na licença, conforme os requisitos do ITMA. Não alcançada uma solução amistosa, a Comissão apresentou o caso à Corte IDH, verificando a violação dos artigos 4, 5, 8, 13 e 25, em relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

DA ANÁLISE LEGAL

PRELIMINARES I. DA COMPETÊNCIA PARA ANÁLISE DO CASO

14. A competência diz respeito à maneira pela qual os peticionários se utilizaram do SIDH para contestar a decisão da Corte Suprema de Tamoio. O artigo 47, b, da Convenção Americana tem que a petição é inadmissível quando não expuser fatos caracterizadores de violação de direitos garantidos pela Convenção.

15. Ambas as demandas encaminhadas pelos representantes ao Judiciário de Tamoio no curso dos fatos foram devidamente apreciadas, tendo em consideração as devidas garantias judiciais. No que concerne ao pedido para suspensão das atividades das fábricas, as decisões das instâncias inferiores atenderam diretamente ao interesse dos representantes. Por sua vez, a decisão proferida pela Suprema Corte, obedecendo aos mesmos rigores das decisões das instâncias inferiores, bem como da demanda já transitada em julgado, veio a ser contestada

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pelos peticionários em razão de ser-lhes desfavorável1. A fórmula da quarta instância

16. A possibilidade de recorrer ao SIDH está condicionada à violação dos direitos protegidos na CADH. As instâncias supervisórias do sistema têm, segundo a Convenção, caráter subsidiário e não suplantam os ordenamentos nacionais. Nesse sentido, a fórmula da quarta instância, desenvolvida pela CIDH2, tem por premissa sua não atuação nos termos de um órgão judicial de quarta instância com capacidade de revisar as decisões dos tribunais nacionais dos Estados membros da OEA. A função da CIDH é, portanto, atuar fundamentada nas denúncias apresentadas, nos termos da Convenção Interamericana.

17. Na análise de admissibilidade do relatório N°39/963, a CIDH afirmou que a natureza de seu papel está fundamentada na fórmula da quarta instância, aplicada em consonância à teoria desenvolvida pela CEDH. Segundo a fórmula, os órgãos de supervisão do SIDH não podem agir revisando as decisões proferidas pelas cortes internas, mas somente atentar para casos onde haja evidente violação dos direitos previstos da Convenção.

18. O Estado de Tamoio não violou os artigos da Convenção alegados pelos representantes. Nesse aspecto, nem a Comissão, nem a Corte são competentes para analisar a forma de avaliação dos fatos pelos tribunais de Tamoio, tampouco a aplicação da lei interna. A decisão da Corte Suprema permitiu o funcionamento das fábricas, mas exigiu a adoção de medidas para cessar a poluição. Neste contexto, as alegações dos representantes são uma tentativa de revisar a decisão desfavorável e não se configuram violações à Convenção.

1 Caso hipotético, par. 21.

2 CIDH. Relatório n.° 29/88, Caso n.° 9.260. Wright vs. Jamaica. 14 de setembro de 1988, par. 5. 3

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II. DO PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DA PETIÇÃO

19. No que concerne à admissibilidade demandas na Corte IDH, o artigo 46, 1, b, da CADH, preleciona que a apresentação da petição deve ser feita dentro do prazo de seis meses “a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva”. Segundo a Corte IDH4

, tal prazo é decadencial: a decadência de uma petição não se configura se esta for apresentada dentro do prazo previsto por esse artigo. 20. É cediço que o artigo 46 da CADH enumera exceções à contagem de prazo para apresentação de demandas junto à Comissão, porém, o presente caso não se encaixa em tal rol, tendo em vista que a efetividade do devido processo legal no ordenamento jurídico de Tamoio, o que se vê nas instâncias internas pelas quais as demandas judiciais perpassaram, que primam por decisões motivadas e por um procedimento pautado na ampla defesa e no duplo grau de jurisdição. Ademais, tais demandas foram decididas em tempo adequado, não havendo demora injustificada na decisão dos mencionados recursos.

21. A decisão judicial na qual o direito de petição à Corte IDH prescreveu foi analisada pela Suprema Corte tamoiana em 2008 – referente à revogação de licença da Tamoio-Volta Baterias, na qual a ONG de Rugendas alegou falta de participação popular no processo de preparação da licença para extração de minerais e a inidoneidade da proposta de reflorestamento das margens do rio Kaigang –, ou seja, os peticionários não vislumbraram tal intempestividade ao propor uma ação a esta honorífica Corte, uma vez que, tal prazo foi iniciado a partir da data do trânsito em julgado (isto é, sentença definitiva, conforme dispõe o art. 46.1.b) da decisão mencionada.

22. Logo, por tal propositura ser intempestiva e não encontrar previsão no rol de exceções elencadas na CADH (art. 46), aceitá-la e conhecê-la, é ir contra o próprio

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entendimento desta Corte, que já se posicionou no Caso Velásquez Rodríguez a respeito da necessidade e obrigatoriedade de observância dos requisitos essenciais para a propositura de uma demanda devendo a CIDH verificar a presença dessas condições de admissibilidade5.

MÉRITO

República de Tamoio não violou os artigos 4 e 5 em relação aos arts. 1.1 e 2 da CADH e em face do art. 11 do Protocolo de San Salvador

23. Os princípios do DAI estão previstos na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992. Com destaque para o princípio 2, que estabelece ser direito dos Estados explorarem seus recursos naturais, o princípio 5 que estabelece ser a erradicação da pobreza requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, o princípio 15, que dispõe sobre o princípio da precaução e o princípio 16, que consagra o princípio do “poluidor pagador”.

24. Para compreender o princípio da precaução, é preciso entender o que é o risco. Risco significa a possibilidade, com certo grau de probabilidade, de danos ao meio ambiente, à saúde e aos bens, combinado à natureza e à magnitude dos danos, sendo classicamente quantificado pela fórmula “risco = probabilidade x dano”6

.

25. Há quatro problemas de decisão: certeza (dos resultados), risco (probabilidade dos resultados), incerteza (sabe-se os resultados sem saber as probabilidades correspondentes) e ignorância (não se sabe resultados ou não há como determinar amplitude e probabilidade).7 O princípio da prevenção é utilizado para decisões em circunstâncias de risco, enquanto o

5 Corte IDH. Caso Velásquez Rodríguez. Excepciones Preliminares. Sentença de 26 de junho de 1987. Série C,

n. ° 1, par.34.

6 UNESCO. The Precautionary Principle: 2005, p. 28. 7

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princípio da precaução é utilizado para decisões em circunstâncias de incerteza.8

26. O princípio do poluidor-pagador encontra limite nos princípios da prevenção e da precaução, no sentido de que os custos econômicos e danos ao ambiente oriundos de certo empreendimento sejam suportados pelo poluidor; e esses custos devem ser limitados por uma política preventiva quando quantificável a probabilidade do risco (prevenção) ou por medidas antecipatórias quando não é possível quantificar (precaução). A aplicação dos dois princípios diminui a incidência dos custos que o princípio do poluidor pagador faz o empreendedor arcar. Não basta “poluir e pagar”, pois é preciso evitar danos desnecessários, irreversíveis. 27. Aplicando o princípio da precaução, e tendo em vista que raramente o risco pode ser reduzido à zero, nem sempre uma proibição total será uma resposta proporcional9. Dois repertórios de intervenções estão à disposição: (1) medidas que restringem a possibilidade do dano; (2) medidas que façam a contenção do dano no sentido de limitar seu alcance e aumentar o controle do mesmo10. As ações devem ser proporcionais à gravidade do dano e também cientificamente plausíveis.11

28. Não deriva dos parâmetros internacionais e da proteção estabelecida na CADH a obrigatoriedade de paralisação e cessação de atividades que emitam poluentes como o chumbo em forma de material particulado. A OMS faz orientações para redução da concentração dos poluentes e pela diminuição de sua emissão, mas não cogita descer ao nível “zero” de emissão12

. Por outro lado, o caso da cidade de Rugendas é isolado e não representa

8Idem, ibidem, p. 30. 9Idem, ibidem, p. 13-14. 10Idem, ibidem, p. 14. 11Idem, ibidem, p 15.

12 WORLD Health Organization. Exposure to Lead: A Major Public Health Concern. Geneva: WHO Document

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padrão sistemático de violação a direitos humanos em face da poluição. Isso significa que, per si, a emissão de poluentes pela fábrica Tamoio-Volta Baterias não supera um nível “aceitável” de emissão de poluentes, contudo, circunstâncias imprevistas decorrentes do relevo geográfico e da circulação dos ventos próximo à fábrica levaram a uma concentração maior de chumbo no ar e, por conseguinte, maior concentração nos organismos das pessoas. 29. Se, por si só, a emissão de poluentes pela fábrica era aceitável e não feria necessariamente a saúde das pessoas, os efeitos sobre os habitantes de Rugendas não decorrem da inobservância dos princípios da prevenção e da precaução, uma vez que o Estado tomou medidas para atendê-los, durante o processo de licenciamento. Nem sempre é possível evitar falhas na avaliação, ainda mais tendo em vista que os efeitos de fontes estacionárias de contaminação - como as instalações industriais - dependem de diversos fatores locais, entre eles, a topografia, as condições meteorológicas, a altura das chaminés, a localização, a equipe de controle, as matérias primas utilizadas e o tipo de processo13. Ademais, a implementação de novas tecnologias post facto não viola os princípios supracitados, porque a ocorrência da concentração elevada no vale só pôde ocorrer post facto, sendo aplicável o princípio do poluidor pagador.

30. O princípio da precaução foi observado desde o conhecimento pelas autoridades da contaminação por chumbo. A falta de certeza científica sobre a contaminação decorrer da atividade da fábrica não impediu que esta funcionasse em sua menor capacidade, nem que esta fosse paralisada por determinação judicial durante parcela considerável do ano de 2011. 31. A CIDH considera que o direito ao desenvolvimento implica a liberdade de cada Estado para explorar seus recursos naturais, incluindo concessões ou abertura a investimentos

13 BANCO MUNDIAL. Consideraciones ambientales para el sector de desarrollo industrial. 1978, p. 15.

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internacionais, de modo que apenas a ausência de regulação, a regulação inapropriada ou a falta de supervisão das normas vigentes que possam criar sérios problemas ao meio ambiente configuram violação a direitos humanos14.

32. A República de Tamoio tem regulado e supervisionado a atividade fabril. Desde 2002, uma série de decretos emitidos pelo ITMA tem aprimorado a normatização ambiental no país. A Lei Tamoiana do Meio Ambiente de 2001, que regula o licenciamento ambiental para novas indústrias, estabelece critérios para realização de estudos de impacto ambiental, levando em conta as demandas da população potencialmente atingida e almejando a isenção científica. A poluição por metais pesados no ar e na água, inclusive, faz parte dessa avaliação. Quanto à fiscalização, não somente o ITMA a faz, como a lei de Política Energética de 1999, ao estabelecer a obrigatoriedade do regime de joint venture da empresa privada estrangeira com o governo de Tamoio, torna possível uma maior fiscalização do governo sobre essas atividades estratégicas para o país e de risco ambiental15.

33. A Corte IDH introduziu, na apreciação da integridade pessoal, a análise de fatores endógenos que dizem respeito às condições pessoais da alegada vítima (problemas de saúde, reiteradas experiências de negação de acesso à saúde, etc.) e os exógenos que dizem respeito aos antecedentes comunitários ou do grupo ou da região (abandono pelo Estado, impunidade de violações a direitos humanos, etc.).16

34. O Estado chama a atenção, no aspecto endógeno, pelo acesso à saúde das pessoas contaminadas e a diminuição do nível de poluentes pela operação da fábrica em sua menor capacidade e pela sua paralisação pelo judiciário durante o ano de 2011; e, no aspecto

14 CIDH. Informe sobre La situación de los Derechos Humanos en Ecuador, 1997. 15 Caso Hipotético, par.7.

16 CIDH. Caso n.° 12.471, Comunidad San Mateo Huanchor vs. Peru. Presentación sobre el fondo. Washington:

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exógeno, a atuação constante do Estado, por meio de suas instâncias administrativas e judiciais, para prover respostas efetivas ao problema. No presente caso não há abandono pelo Estado, discriminação em favor de empresas privadas, nem inércia pelos órgãos estatais em face de contaminação ambiental, como ocorreu no caso da Comunidade São Mateus vs. Peru em que resíduos tóxicos foram despejados na comunidade durante 7 anos17.

35. Quanto ao direito à vida, a Corte IDH considerou que decorre do direito de não impedir às pessoas o acesso a condições que garantam uma existência digna18 e conectou estas com o alento de projetos de vida19. É preciso estabelecer se o Estado gerou condições que aguçassem ou dificultassem o acesso a uma vida digna.

36. A Corte IDH considerou que o Estado não é responsável por toda e qualquer situação de risco ao direito à vida20, uma vez que, levando em conta as dificuldades no planejamento de políticas públicas e as escolhas operacionais em face de prioridades e recursos, as obrigações do Estado devem ser interpretadas de modo a não impor às autoridades uma carga impossível ou desproporcional. Essas obrigações surgem no momento em que as autoridades tomaram conhecimento de uma situação de risco real e imediato para a vida de um indivíduo ou grupo de indivíduos determinados.21

37. Para a CEDH, a Convenção Europeia não traz consigo um direito à preservação da

17 Idem, par. 95. 18

Corte IDH. Caso “Niños de la Calle” (Villagrán Morales y otros) Vs. Guatemala. Fondo. Sentença de 19 de novembro de 1999, par. 144.

19Idem, par. 191.

20 Corte IDH. Caso Comunidad Indígena Sawhoyamaxa Vs. Paraguay. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentença

de 29 de março de 2006. par. 155.

21 Corte IDH. Caso Comunidad Indígena Sawhoyamaxa Vs. Paraguay. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentença

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natureza como tal.22 A incapacidade de regular o setor privado na área ambiental pode acarretar responsabilização do Estado.23 Se as autoridades poderiam avaliar o risco da poluição e tomar medidas adequadas para preveni-lo ou reduzi-lo, então, há nexo entre as emissões e o Estado para gerar obrigação positiva deste.24 A CEDH considerou também seu papel subsidiário em avaliar as políticas ambientais de cada Estado25.

38. A CEDH coloca ênfase sobre os regulamentos voltados às características especiais das atividades industriais, particularmente o seu risco potencial para vidas humanas,26 que devem prever procedimentos adequados, tendo em conta os aspectos técnicos da atividade.27

39. O chumbo, substância metálica tóxica, passível de bio-acumulação, fator de risco à saúde humana28, é emitido para o ar como material particulado29. A contaminação por chumbo decorre do risco operacional30 da atividade industrial. Para prevenir agravos é preciso identificar e lidar com suas causas31, fazendo-se necessário avaliar e gerir riscos32. O

22 CEDH. Caso Fadeyeva vs.Russia. Julgamento. Sentença de 9 Junho de 2005, par. 68. 23

Idem, par. 89.

24 Idem, ibidem, par. 92. 25 Idem, ibidem, par. 105.

26 CEDH. Caso Oneryildiz vs. Turquia. Sentença de 30 Novembro de 2004, par. 90. 27 Idem, par. 90.

28 World Health Organization. Health risks of heavy metals from long-range transboundary air pollution,

Europe: 2007, p. XI. Disponível em: <http://www.euro.who.int/>. Acesso em: 18 dez. 2011.

29 Idem, p. 45.

30 VALLE, Cyro Eyer do; LAGE, Henrique. Meio Ambiente: acidentes, lições, soluções. São Paulo: Editora

SENAC, 2003, p. 17. “[nesse cenário] há ações que ocorrem rotineiramente, e o fato negativo leva algum

tempo para se manifestar.”

31 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global Health Risks, 2009, p. 1. Disponível em:

(20)

Estado conhecia o risco implicado pelas atividades e tomou as medidas para evitar a ocorrência de contaminação no vale de Carajá e fazia análises periódicas acerca das condições locais, o que é evidenciado pelo fato de que imediatamente após serem relatados casos de pessoas com altos níveis de chumbo no sangue pelos hospitais públicos de Rugendas, o SMNR emitiu relatório técnico sobre a ausência de concentrações de metais pesados no Rio Kaigang.

40. A CIDH considera que a tolerância do Estado em situações de contaminação ambiental, após tomar conhecimento e ignorando queixas da população, gera ansiedade, transtornos psicológicos e sentimento de humilhação na população33. Entretanto, isso não ocorreu no presente caso, pois tomado o conhecimento dos efeitos da poluição causados sobre as pessoas em Rugendas em razão do chumbo como poluente atmosférico, o Estado tomou medidas para investigar o ocorrido, diminuir a intensidade da atividade fabril a fim de reduzir a emissão do chumbo como material particulado no ar, apesar dos custos econômicos à joint venture, além de prover serviços médicos aos que apresentassem sintomas.

41. Os peticionários não apresentaram provas de que a assistência à saúde das pessoas acima descritas tivesse sido insuficiente, nem tampouco que tenham ocorrido mortes. Em contrário, a não ocorrência de mortes demonstra que a assistência à saúde tem sido adequada. 42. Quanto à decisão da Suprema Corte de retirar a paralisação da atividade fabril no fim de 2011, esta impôs aos órgãos administrativos competentes de Tamoio que investissem em tecnologia mais amigável ao meio ambiente. Essa decisão é compatível com a Convenção, uma vez que o resguardo do crescimento econômico, ao mesmo tempo em que respeite ao

32 NATIONAL ACADEMY PRESS. Risk Assessment in the Federal Government: managing the process, 1983,

p. 38. Disponível em: <http://books.google.com.br/>. Acesso em: 18 dez. 2011.

33 CIDH. Caso n.° 12.471, Comunidad San Mateo Huanchor vs. Peru. Presentación sobre el fondo. Washington:

(21)

meio ambiente, é condição sine qua non para a captação de recursos que tornem possível o desenvolvimento dos direitos econômicos, sociais e culturais, previsto no art. 26, o que, por sua vez, produz o desenvolvimento no sentido referido pela Declaração sobre Direito ao Desenvolvimento, adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1986: como um processo econômico, social, cultural e político abrangente, que visa o constante incremento do bem-estar da população e de todos os indivíduos com base em sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na distribuição justa dos benefícios34.

43. A finalidade última de políticas estatais que privilegiem o desenvolvimento está atrelada à salvaguarda do direito à vida como direito a ter um projeto de vida. A definição jurisprudencial para projeto de vida35 o associa ao conceito de realização pessoal, que se sustenta nas opções que o sujeito tem para conduzir sua vida e alcançar o destino que se propõe, de modo que a liberdade de uma pessoa é aferida por essas opções, de alto valor. 44. O desenvolvimento progressivo de direitos econômicos, sociais e culturais, por conseguinte do desenvolvimento como bem estar humano, depende de recursos (como o reconhece o art. 26 da CIDH, ao usar a expressão “na medida dos recursos disponíveis”) e sendo os recursos naturais abrangidos pela soberania dos Estados, logo a expansão das possibilidades individuais de ter opções nas quais se expressem os distintos projetos de vida almejados pelas pessoas depende de condições de desenvolvimento e, novamente, da utilização e/ou captação de recursos.

45. Paralisar fábricas põe em risco o processo de captação de recursos, o que no contexto de crise econômica internacional frustraria o postulado do desenvolvimento. A estratégia

34 Preâmbulo da Declaração do Direito ao Desenvolvimento de 1986.

35 Corte IDH. Caso Loayza Tamayo Vs. Perú. Reparaciones y Costas. Sentença de 27 de novembro de 1998, par.

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adotada pelo Estado é atrelada à vantagem que detém em commodities metálicas, investindo em seu beneficiamento como uma forma apropriada de captar de vantagens econômicas para a efetivação progressiva de direitos econômicos, sociais e culturais.

46. O Estado reitera seu comprometimento para com suas obrigações assumidas internacionalmente, em face de riscos à saúde humana e riscos ambientais, no sentido de tomar providências para reparar o dano, mitigá-lo e impedir sua reiteração. Em específico, solicita o prazo de 2 anos, dentro do qual as fábricas de produção de baterias funcionarão com capacidade reduzida, e cuja capacidade fabril será aumentada à medida em que novas tecnologias, mais seguras à saúde e menos nocivas ao ambiente sejam implementadas.

47. O Estado considera o paradigma do desenvolvimento sustentável à luz do “decoupling”, objeto de documento da UNEP, denominado “Decoupling Natural Resource Use and Environmental Impacts from Economic Growth”, de março de 2011, que pode servir de parâmetro internacional à matéria. “Decoupling” é desacoplamento do crescimento econômico, em face ou do uso de recursos naturais ou dos impactos ambientais negativos. Quanto a esse último, trata-se de promover o crescimento econômico enquanto se diminui os impactos ambientais negativos. O Estado sustenta que, em face do ocorrido à população de Rugendas, a solução inferida dos parâmetros internacionais é salvaguardar o meio ambiente saudável, sem comprometer o crescimento econômico como meio de promover desenvolvimento e acesso às condições de realização de projetos de vida.

República de Tamoio não violou os artigos 8 e 25 da CADH

48. A respeito do artigo 25, a CIDH entende como aquele que "contempla a obrigação dos Estados partes de garantir a todas as pessoas sob sua jurisdição uma solução jurídica eficaz contra atos que violem seus direitos fundamentais” ressaltada a insuficiência da mera

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existência formal, primando-se pela efetividade adequada ao caso36. Além disso, tais recursos “devem ser fundamentados em conformidade com as regras do devido processo legal”37

. 49. Os referidos serão analisados juntamente com o artigo 1.1 da CADH, no qual estabelece triplo grau de obrigação Estatal: o dever de fazer justiça no âmbito interno38, a obrigação de investigação do ocorrido e, por último, a outorga de uma justa reparação aos peticionários39.

50. É necessário estabelecer que o papel Estatal é ofertar “o direito de um remédio simples e rápido ou qualquer outro remédio eficaz ou pelo juízo ou tribunal competente para a proteção contra atos que violem seus direitos fundamentais”40

. Ademais, não se pode confundir violação da CADH com insucesso de causa nos tribunais internos.

51. Ao analisar o presente caso, constata-se que em todas as oportunidades que o Judiciário foi provocado, foram preenchidos os requisitos estabelecidos pela CADH e CIDH sobre os dispositivos41. Vale ressaltar que não existem no Estado de Tamoio recursos

36

CIDH. Opinião Consultiva OC-9/87 de 6 de outubro de 1987. par. 24.

37 Corte IDH. Caso Usón Ramírez vs. Venezuela. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas.

Sentencia de 20 de noviembre de 2009. Serie C No. 207, par. 128.

38 Corte IDH. Caso Escué Zapata vs. Colombia. Voto Razoado do Juiz Sérgio Garcia. Fondo, Reparaciones y

Costas. Sentencia de 4 de julio de 2007. Serie C No. 165, par. 2.

39 Corte IDH. Caso Valle Jaramillo y otros vs. Colombia. Voto Razoado do Juiz Sério García Ramirez

Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 7 de febrero de 2006. Serie C No. 144, par. 16.

40 Corte IDH. Caso de la Comunidad Mayagna (Sumo) Awas Tingni Vs. Nicaragua. Fondo, Reparaciones y

Costas. Sentencia de 31 de agosto de 2001. Serie C No. 79, par. 112.

41 Corte IDH. Caso Bulacio vs. Argentina. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 18 de Septiembre de

2003. Serie C No. 100. Par. 114. Corte IDH. Caso Myrna Mack Chang Vs. Guatemala. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 25 de noviembre de 2003. Serie C No. 101, par. 209 e 210.

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meramente protelatórios e funcionalmente descabidos, que por si só violam o direito a um julgamento célere e efetivo, consoante o entendimento da Corte.42

52. Primeiramente em relação ao artigo 8 da Convenção, está a observância do prazo razoável. Enumeram-se quatro elementos para sua abstração, “a) complexidade do assunto, b) atividade pessoal do interessado, c) conduta das autoridades judiciais e, d) afetação gerada na situação jurídica da pessoa envolvida no processo".43

53. A complexidade do objeto da discussão judicial demanda uma instrução probatória técnica e, consequentemente, tempo considerável para ser efetuada. Demonstra da mesma forma uma conduta proativa do Poder Judiciário em julgar a lide de imediato, sempre considerando a melhor alternativa para salvaguardar os direitos em jogo. Em razão disto, pode-se afirmar que o Estado cumpriu categoricamente as exigências estipuladas pela CIDH. 54. Acerca do dever de investigar, conforme a Corte estabeleceu, "o direito de acesso à justiça exige que se torne efetiva a determinação dos fatos sob investigação e, se houver, da responsabilidade penal em tempo razoável"44. Portanto, é dever do Estado investigar em tempo adequado os fatos ocorridos e oferecer respostas às violações dos Direitos Humanos45. No caso, houve investigação por parte do ITMA acerca dos impactos que poderiam ser

42 Corte IDH. Caso López Álvarez vs. Honduras. Fondo, Reparaciones y Costas. Voto Razoado do Juiz Sérgio García. Sentencia de 1 de febrero de 2006. Serie C No. 141, par. 32.

43 Corte IDH. Caso Anzualdo Castro vs. Perú. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia

de 22 de Septiembre de 2009. Serie C No. 202, par. 156.

44

Corte IDH. Caso Anzualdo Castro vs. Perú. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 22 de Septiembre de 2009. Serie C No. 202, par. 124.

45 Corte IDH. Caso Yvon Neptune vs. Haití. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia de 6 de mayo de 2008.

(25)

causados com a instalação das indústrias46. Os estudos de emissões de metais pesados e desmatamentos foram observados, conforme o dever designado ao Estado. Com a prolação da sentença, houve ainda uma nova avaliação dos fatos, de ofício47, por parte da SMNR48. 55. Ainda sobre o dever de investigar cumprido pelo Estado, ponto mais forte é o propósito de tê-lo como uma obrigação jurídica própria de um regime democrático. E, principalmente, não se deve caracterizar como uma gestão de interesses particulares49. No caso, verificou-se a publicação de relatórios com o escopo de manter informada a população, por exemplo, quando se divulgou um estudo que expôs a inexistência de concentração de metais pesados nas águas do rio Kaigang50.

56. O artigo 8 da CADH, a Corte estabelece análise da efetividade da legislação interna. Trata-se do terceiro elemento da análise. No caso Sawhoyamaxa vs. Paraguai, o ordenamento jurídico do Estado abarcava detalhadamente a demarcação das terras indígenas, no entanto falhava na sua efetividade51. Em sentido oposto, como se pode perceber no Estado tamoiano, há uma longa tradição de efetividade, na medida em que observamos sua história de políticas ambientais. Como exemplo, há a Lei Tamoiana do Meio Ambiente, de 2001, “que claramente estabelece procedimento para a construção de fábricas e a solicita a preparação de relatórios

46 Caso Hipotético, par. 8.

47 Corte IDH. Caso González y otras (“Campo Algodonero”) vs. México. Excepción Preliminar, Fondo,

Reparaciones y Costas. Sentencia de 16 de noviembre de 2009. Serie C No. 205, par. 290.

48

Corte IDH. Caso Albán Cornejo y otros. vs. Ecuador. Fondo Reparaciones y Costas. Sentencia de 22 de noviembre de 2007. Serie C No. 171, par. 62.

49 Corte IDH. Caso Albán Cornejo y otros. vs. Ecuador. Fondo Reparaciones y Costas. Sentencia de 22 de noviembre de 2007. Serie C No. 171, par. 62.

50 Caso Hipotético, par. 14.

51 Corte IDH. Caso Comunidad Indígena Sawhoyamaxa Vs. Paraguay. Fondo, Reparaciones y Costas. Sentencia

(26)

de impacto ambiental” 52

. Adiante, a efetividade do diploma é comprovada, temos a devida análise pela Tamoio-Volta Baterias53 e a avaliação feita por empresa de consultoria independente de Santa Clara de Tamoio.

57. Como quarto elemento, investiga-se a efetividade dos recursos à disposição das supostas vítimas (art. 25 da CADH). Está solidificado o entendimento da Corte no sentido de que a análise do recurso por uma autoridade judicial competente não deve ser considerada uma mera formalidade, mas vista a partir de uma ótica analítica sobre as razões trazidas pelos demandantes54. Pode-se, então, afirmar: não apenas uma vez, mas duas vezes o Estado foi presente ofertando os recursos e os analisando de forma proba, sensível e reparadora.

58. Preliminarmente, afirma-se ser proba a conduta do Estado pelo fato de proporcionar a defesa dos direitos até alcançado o esgotamento das vias judiciais, conforme o republicano ordenamento de Tamoio, nas duas causas propostas pelas supostas vítimas. Também é sensível a conduta, pois a análise das objeções dos supostamente lesados não apenas fora seguida a contento como foi exitosa na 2ª Instancia na primeira ação, nesta e na 1ª Instância na segunda ação ajuizada55. Terceiro, é condição juris et de jure a reparação, não apenas pela assistência de saúde, como pela decisão da Suprema Corte de Tamoio, i.e., se decidiu também pela obrigação do Estado em tomar medidas necessárias para lidar com a poluição56. 59. Analisando a estrutura do Judiciário de Tamoio constata-se que este se funda na total

52 Caso Hipotético, par. 7. 53 Idem, par. 8.

54 Corte IDH. Caso Castañeda Gutman Vs. México. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas.

Sentencia de 6 de agosto de 2008. Serie C No. 184, par. 93.

55 Caso Hipotético, par. 17. 56

(27)

independência, esta como garantia institucional do Regime democrático57. O Estado de Tamoio, possuindo um Judiciário autônomo e independente, segue o entendimento da CIDH que confere ao mesmo o papel de defensor do indivíduo frente ao “exercício arbitrário do Poder Público”58

. Percebe-se que as decisões do Poder Judiciário de Tamoio foram cobertas de boa-fé, proferidas por juízes imparciais e não comprometidas com o Estado nem com a Empresa, haja vista o fato de para ambos os polos da demanda sagraram-se em algum momento vencedores59. E mais ainda, pelo fato de que há decisões colegiadas na Suprema Corte60 em que foi ofertada um denso grau de análise jurídica.

República de Tamoio não violou o artigo 13 em relação aos arts. 1.1 e 2 da CADH

60. Alegam os peticionários que a população local não teria sido consultada adequadamente no processo de preparação de licença, por esta tersido expedida em um curto espaço de tempo, violando o direito à liberdade de expressão assegurado no art. 13 da CADH. 61. A Corte IDH61 asseverou que “A liberdade de expressão é pedra angular na própria existência de uma sociedade democrática. É indispensável para a formação da opinião pública.”, logo, a CIDH tem estabelecido que o art. 13 da CADH deve ser interpretado de forma ampla, proporcionando aos cidadãos um manto protetor do direito de expressar seus pensamentos, e, também, “do direito e da liberdade de buscar, receber e difundir informações

57

COMPARATO, Fábio Konder. O Poder Judiciário no Regime Democrático. Estudos Avançados: 2004, vol. 18, n. 51, p.1. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n51/a08v1851.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2011.

58 Corte IDH. Caso Acevedo Jaramillo y otros vs. Perú. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y

Costas. Sentencia de 7 de febrero de 2006. Serie C No. 144, par. 213.

59 Caso Hipotético, par. 10 – 13 c/c par. 16 – 20. 60 Caso Hipotetico, par. 13 e 20.

61

(28)

e ideias de toda índole” 62, inclusive informação pública, haja vista ser função do Estado garantir que o acesso a qualquer tipo de informação por meio de procedimentos de divulgação adequados e oficiais.

62. Nesse sentido, asseverou o Relator Especial da ONU63, que o direito de acesso às informações guardadas por autoridades públicas é direito humano fundamental sujeito a estrito regime de exceções, ao proteger o direito de todas as pessoas de terem acesso à informação pública e saber o que fazem os governos em nome das populações. Trata-se de um direito que recebeu especial atenção da comunidade internacional, dada a sua importância para a consolidação, funcionamento e preservação de regimes democráticos. Sem sua proteção, é impossível conhecer a verdade, exigir transparência e exercitar plenamente seu direito à participação política. As autoridades nacionais devem tomar medidas ativas para garantir o princípio de máxima transparência, atentar contra a cultura do segredo e aumentar a quantidade de informação divulgada.

63. Em vários julgados64 a CIDH propõe que o Estado deve agir minimizando as restrições à circulação de informações, promovendo um pluralismo informativo no debate

62 Corte IDH. Caso Claude Reyes e outros vs. Chile. Sentença de 19 de setembro de 2006, par. 77.

63 Relator Especial da ONU para a Promoção e Proteção do Direito à Liberdade de Opinião e Expressão.

LARUE, Frank; MARINO, Catalina Botero. Join statement on Wikileaks. Comunicado de 21 de dezembro de 2010 a CIDH. Disponível em: < http://www.cidh.oas.org/>. Acesso em: 08 jan. 2012.

64

Corte IDH. Caso López Álvarez versus Honduras. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 1 de fevereiro de 2006. Série C No. 141, par.163; Corte IDH. Caso Claude Reyes e otros versus Chile. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 19 de setembro de 2006. Série C No. 151, par. 76; Corte IDH. Caso Yatama vs. Nicarágua. Sentença de 23 de junho de 2005. Serie C No. 127, par. 192; Corte IDH. Caso Ricardo Canese vs. Paraguai. Sentença de 31 de agosto de 2004. Série C No. 111; e Corte IDH. Caso Herrera Ulloa vs.Costa Rica. Sentença de 2 de julho de 2004, parágrafos 117 e 118.Corte IDH. Caso Kimel vs.Argentina. Sentença de 2 de maio de 2008, parágrafo 57.

(29)

político que deve ser regido pelo princípio da equidade. O Estado de Tamoio, ciente disso, procurou desenvolver um “regime” político-administrativo capaz de proteger a atividade econômica e de permitir a participação da população local nas novas propostas para desenvolvimento do país e o gozo de seus frutos, a exemplo da Lei de Políticas Enérgicas de Tamoio de 1999. Esta, ao assegurar a criação joint venture, permitiu que os recursos advindos dessa atividade fossem revestidos em melhorias para a população, o que demonstra a total preocupação do Estado com o futuro do seu povo.

64. A alegação dos peticionários não deve prosperar para fundamentar suposta violação do direito à liberdade de expressão, uma vez que as condutas tomadas por Tamoio no processo de licenciamento da “Tamoio Volta-Baterias” se coadunam com a posição da Corte, na medida em que foi dada à população a possibilidade de busca e recepção de informações acerca do projeto e suas consequências, bem como a participação efetiva no processo de licenciamento, de modo que as pessoas emitissem suas opiniões de forma livre e desimpedida. 65. Tamoio sempre investiu em políticas de proteção ambiental visando não somente a preservação do seu ecossistema, como o bem estar da população e das gerações futuras. Por isso em 2002 foi criado o ITMA, agência ambiental para orientar a produção legislativa e dar continuidade e apoio operacional aos ditames da lei que regula o licenciamento ambiental para novas indústrias, e, em 2001, foi promulgada a Lei Tamoiana do Meio Ambiente que estabelece procedimentos a serem seguidos para que fábricas sejam construídas, determinando que ao longo do processo de licenciamento seja preparado relatório de impacto ambiental que deve levar em consideração, além dos impactos que advirão das construções, também, as demandas das populações afetadas pelas fábricas.

66. Ademais, esses estudos devem ser realizados por empresas de consultoria independentes e credenciadas pelo ITMA, que deve analisá-los em seis meses. Após a aprovação, a empresa terá igual período para começar a construir as instalações. Assim, fica

(30)

evidente que o governo age com o único interesse de antecipar e evitar, minimizar ou compensar os efeitos adversos - biofísicos, sociais e outros relevantes - como propostas de desenvolvimento para seus habitantes, promovendo transparente seleção das empresas prestadoras de serviços, que devem seguir padrões pré-estabelecidos pelo ITMA, além de tornar públicas atividades para preparação e implementação das novas indústrias.

67. Registre-se que a alegação das supostas vítimas faz referência à violação do direito à participação e do art. 13 da CADH, supostamente em virtude da expedição da licença ambiental em um curto espaço de tempo. Essa alegação carece de plausibilidade, visto que, de acordo com a legislação pátria, foi garantido à empresa de consultoria, listada no rol do ITMA, o prazo de seis meses para emitir o relatório. Vale ressaltar que, nesse ínterim, além da averiguação da necessidade de políticas de reflorestamento, também ocorreu consulta à população, garantindo a devida atenção e consideração as suas demandas, o que possibilitou organizar e emitir um documento que refletisse suas necessidades e aspirações.

68. A consultoria entregou o relatório em fevereiro de 2007 e a licença ambiental foi concedida pelo ITMA em maio do mesmo ano, dentro do prazo previsto pelo instituto. Considerando o respeito às obrigações contidas em lei e aos procedimentos designados pelo ITMA, verifica-se que não há inobservância à vontade da população. A data da entrega do relatório e a data de emissão da licença constituíram período que o ITMA teve para analisar o relatório, ou seja, para deferimento de procedimento administrativo da agência ambiental, o que não deve ser entendido como violação ao direito da população de ser consultada e expressar sua opinião, uma vez que essa consulta já tinha ocorrido.

69. Os procedimentos adotados pelos órgãos estatais seguem uma ordem cronológica e legal e não devem ser tomados como violações de direitos da comunidade, mas como parâmetros a serem seguidos, como o foram. Na primeira etapa ocorreu a elaboração do relatório de impacto ambiental, que considerou as demandas da população através do

(31)

mecanismo de consulta, permitindo e garantindo que o seu direito de participação fosse efetivado de modo que elas pudessem emitir suas opiniões, tal como positivado na norma legal. Na segunda etapa, o ITMA teria o prazo de 6 meses para analisar o relatório e aprová-lo ou não. Trata-se de um tempo que o órgão tem para emitir suas considerações e não deve ser confundido com o tempo destinado à participação da população que acontece no período de confecção do referido relatório. Dessa forma, é inadmissível sustentar a argumentação de que a concessão da licença se deu em curto espaço de tempo sem ouvir os interessados, pois a população participou e foi ouvida no devido tempo determinado pela norma legal.

70. A proteção ao Direito de liberdade de opinião e expressão é um dos mais sensíveis e desafiadores direitos garantidos pela legislação internacional e resta claro que o Estado proporcionou aos seus habitantes a legítima oportunidade de participação e acesso às informações disponíveis. Assim, seu comportamento se coaduna com o posicionamento adotado pela ONU65, que ressaltou que direito do cidadão a receber informação é revestido de grande importância e significado.

71. Tamoio não mediu esforços para garantir, durante o processo de licenciamento da fábrica, que as opiniões da população fossem analisadas e consideradas, ajustando-se, desde o princípio, às aspirações da população, não violando o direito à liberdade de expressão, compreendido em todas as suas acepções, tanto do ponto de vista do direito de participação quanto do direito a receber informação. Nisso, entende a CIDH66 que os Tribunais devem examinar os atos em sua totalidade, incluindo o contexto apresentado. Ao considerar a totalidade de ações ocorridas, não há que se falar em violação do art. 13 da CADH, haja vista

65 UN Human Rights Comittee. General comment No.34: Article 19: Freedoms of opinion and expression –

General remarks, 21 July 2011. Disponível em: < http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrc/docs/GC34.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2012.

66

(32)

a essencial e ativa participação da população de Rugendas durante a elaboração do relatório de impacto ambiental.

DO PEDIDO

Ante as considerações firmemente expostas, a República de Tamoio requer respeitosamente a essa honorável Corte Interamericana de Direitos Humanos, que: (I) Admita as exceções preliminares, reconhecendo a aplicação da fórmula da quarta instância in casu, de modo a admitir a incompetência da CIDH para a análise do caso, se posicionando, da mesma forma, pela caducidade do prazo para peticionamento da População de Rugendas perante a Comissão; (II) Declare, subsidiariamente, a improcedência dos pedidos formulados que têm como argumentos a violação dos artigos 4, 5, 8, 13 e 25, em relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e artigo 11 do Protocolo de San Salvador; (III) Declare a legalidade do licenciamento e das operações desempenhadas pelas fábricas da Tamoio-Volta Baterias sob a observância das necessárias medidas de cessação de poluição e envenenamento declaradas pela Suprema Corte de Tamoio a partir da decisão proferida em 2011; (IV) Julgue pela não-obrigação do Estado de pagar todos os pedidos referentes a reparações, assistência médica e psicológica, bem como indenizações compensatórias a título de danos sofridos pelas vítimas, dado o já cumprimento de tais obrigações no âmbito interno; (V) Julgue pela não-obrigação do Estado em pagar, também, gastos e custas processuais (VI) Declare a improcedência do pedido de reconhecimento público de responsabilidade internacional por parte das autoridades do Estado; (VII) Declare a improcedência de quaisquer pedidos de investigação, diante do fato do Estado ter esgotado todas as diligências possíveis nesse sentido; (VIII) Aceite a proposta do Estado para, em um prazo de dois anos, a fábrica Tamoio-Volta Baterias implementar tecnologias ambientalmente adequadas para resolução definitiva dos efeitos ambientalmente adversos que constituem o cerne deste litígio, nos termos do especificado no parágrafo 54 da presente peça.

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