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Abertura do Colóquio Internacional: dez anos de Instituto Oriental
Autor(es):
Carreira, José Nunes
Publicado por:
Instituto Oriental da Universidade de Lisboa
URL
persistente:
URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24194
Accessed :
19-Aug-2021 13:41:31
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CADMO
Revista do Instituto Oriental
Universidade de Lisboa
Actas do Coloquio Internacional
SOCIEDADE, RELIGIÃO E LITERATURA
NO PRÓXIMO ORIENTE ANTIGO
ABERTURA DO COLOQUIO INTERNACIONAL
- DEZ ANOS DE INSTITUTO ORIENTAL
Senhor Pró-Reitor, em nome da Universidade de Lisboa e do seu Reitor,
e também Presidente do Departamento de Historia
Senhor Representante da Presidente do Conselho Directivo Senhor Vice-Presidente do Conselho Científico
Senhor Presidente do Conselho Pedagógico
Lapso de tempo de algum modo apreciável na vida de urna pes- soa, dezasseis anos são quantidade desprezível na vida de urna ins- tituição. E, no entanto, a mim e aos meus colaboradores dizem muito.
O Instituto Oriental foi concebido num sonho de quatro anos (perdoem-me a imodéstia da referência pessoal). Integrado numa Universidade acabada de nascer - a Universidade dos Açores - em 1978, com todas as limitações próprias de quem começa, sonhava com uma grande Universidade e uma Faculdade bem madura, onde pudesse desenvolver a história e as culturas do Próximo Oriente antigo. O sonho concretizou-se dois anos após a transferência para Lisboa: em 1986, o Conselho Científico da Faculdade de Letras aprovava a criação do Instituto Oriental.
O nome soava bem, a ponto de ser copiado por outra univer- sidade portuguesa. A realidade, essa estava a anos luz de institutos estrangeiros de nome idêntico ou igual - o prestigiado Instituto Orien- tal da Universidade de Chicago é só um exemplo. Bem vistas as coisas, nos quatro primeiros anos de existência, o sonho só passou a
acto de fé. Sem espaço próprio, sem biblioteca, sem curso de Mes-
trado, o Instituto Oriental realizava perfeitamente a definição clássica da virtude teologal da fé: sperandarum substantia rerum, argumentum
non apparentium (Heb 1,1), «substância das nossas esperanças, cer
JOSÉ NUNES CARREIRA
teza das coisas que se não vêem». O Instituto Oriental, se tinha alguma substância, essa era completamente invisível.
Passaram dez anos de funcionamento efectivo. Defenderam-se três teses de doutoramento. Deram-se quatro cursos de Mestrado e escreveram-se dez teses, nas áreas de Egiptologia, Assiriologia, Hiti- tologia e Hebraística. Colheita magra? Não tenho a menor dúvida. Mas esforço ingente, dadas as precárias condições de acervo biblio- gráfico e a inacessibilidade radical da leitura das línguas pré- clássicas. Foi preciso mandar vir tudo ou quase tudo do estrangeiro, no original ou em fotocópia. Mal imaginava Eça de Queirós que a piada se tornaria triste realidade (oxalá não seja triste sina!) mais de cem anos depois: «A ciência fica-nos caríssima em direitos de alfândega». Tem de vir tudo do estrangeiro, se não em caixotes e de comboio, como no século XIX, certamente em pacotes de livros e maços de fotocópias pelo correio, ou pelo canal da Internet. Faltam meios; abunda e alicia a aventura do intercâmbio com institutos e investigadores da Inglaterra, da Alemanha, da França, da Suíça, da Itália, da Espanha, dos Estados Unidos e do Brasil.
Passou a era da fé. O que se vê já não se acredita. Só que a definição clássica persiste: ainda navegamos na sperandarum subs-
tantia rerum, na «substância das coisas que esperamos».
Senhor Pró-Reitor da Universidade de Lisboa, senhores repre- sentantes dos órgãos de gestão da Faculdade de Letras: nas vossas mãos depositamos as «nossas esperanças». A primeira é que o Instituto Oriental não definhe e acabe por morrer. As inexoráveis leis da vida e da função pública afastarão os doutores com o tempo, que não perdoa. Sem novos assistentes, será o fim anunciado. Outra esperança confunde-se com o sonho. Com bases metodológicas e filológicas seguras, sonhamos cultivar um dia as quatro grandes áreas da Orientalística antiga: Egiptologia, Assiriologia, Hititologia e Hebraís- tica e, cruzando ao dobrar da esquina com a história de Portugal, estendê-las aos previstos horizontes da Indoiogía, Sinología e Japano- logia. Sonhar é legítimo e nada custa. Empenhar-se-ão as autoridades académicas em dar asas às esperanças e sonhos e, ao menos par- cialmente, ajudá-los a converter-se em realidade? A aceitação pronta a estar presentes, honra que agradecemos e nos sensibiliza, já é motivo de esperança.
Saúdo os cientistas convidados a participar neste colóquio: os colegas Prof. Mario Liverani, da Universidade «La Sapienza» de Roma, Prof. Alberto Bernabé, da Universidade Complutense de Madrid, Prof. Antonio Loprieno da Universidade de Basileia, Prof. Francolino Gonçalves da também minha École Biblique et Archéo
ABERTURA DO COLÓQUIO INTERNACIONAL
logique Française de Jérusalem, Prof. Geraldo Coelho Dias da Univer- sidade do Porto, Dr.® Maria João Machado da Universidade Autónoma de Lisboa. Bem hajam por terem aceite o nosso convite e estarem presentes. Que o convívio intelectual e humano dos próximos dias em Lisboa lhes seja tão agradável como a nós é honroso e proveitoso.
Lisboa, 23 de Novembro de 2000.
José Nunes Carreira
Director do Instituto Oriental