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Construtivismo Político e Coerentismo em J. Rawls

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IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação

PUCRS

Construtivismo Político e Coerentismo em J. Rawls

Aluna: Elnora Gondim, Nome do Orientador (

Nythamar Hilario Fernandes de Oliveira Junior

)

Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Faculdade de Filosofia, PUCRS

Resumo

A teoria de Rawls da justiça como eqüidade teve uma ampla repercussão nos meios acadêmicos. É de se pressupor que o caráter de novidade que trouxe a referida teoria ocasionou tal movimento; o aspecto diferencial que ela encerrava, presumidamente, pode-se conjecturar que ocorreu em virtude da forma pela qual os problemas suscitados pela citada teoria eram abordados, porquanto o método utilizado por ela como, também, a sua justificação diferenciavam-se dos utilizados das correntes de pensamento enaltecidas à época de seu aparecimento. No entanto, se for detectado que a justiça como eqüidade é mais uma teoria fundacionista, a citada repercussão e, por conseguinte, a “revolução” que a teoria rawlsiana ocasionou pode ter sido, somente, algo aparente e que, posteriormente, não vai trazer nada de especial. Portanto, nossa proposta é saber se a justiça como eqüidade utiliza de uma justificação do tipo coerentista. Em caso afirmativo, sob quais condições é evidenciada na teoria rawlsiana? Em caso negativo, quais implicações acarretariam para a teoria justiça como eqüidade? Todavia, neste trabalho a justificação epistêmica coerentista é tomada como o objeto privilegiado da investigação. Por que se busca qual a forma justificação epistêmica na justiça como eqüidade? Para se responder a tal questionamento, reportamo-nos ao chamado “problema de Gettier”. Edmund Gettier, em 1963, publicou um pequeno artigo que modificou as perguntas clássicas propostas pela epistemologia até então: É o Conhecimento Crença Verdadeira Justificada? Tendo como ponto de argumentação a análise da afirmação sobre a verdade justificada do conhecimento proposicional acerca dos fatos, Gettier constatou uma falha na justificação do conhecimento, que tradicionalmente era compreendido como crença verdadeira justificada. Em outras palavras, um dado sujeito pode possuir uma crença

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verdadeira justificada e não ter conhecimento. Subseqüentemente ao ensaio de Gettier, seguiu-se uma série de artigos que procuravam responder a análise sobre a definição tradicional do conhecimento: buscava-se saber se crenças justificadas podem constituir conhecimento. O problema de Gettier, inicialmente restrito à epistemologia, também influenciou a esfera da moral; ou seja, tornou-se inconcebível não se colocar como problema à questão de justificabilidade das crenças morais. Por conseguinte, é condição fundamental saber de que forma determinado teórico moral procede para construir sua teoria. Por este motivo, tratar-se-á aqui do modo como, e se Rawls utiliza da justificação coerentista através do seu método em suas várias fases. É de se pressupor que Rawls utilizou, na sua teoria da justiça como eqüidade, do procedimento coerentista do equilíbrio reflexivo para justificar princípios e juízos morais. No entanto, pode-se plausivelmente supor que existem vários argumentos contra a utilização, por parte da justiça como eqüidade, do argumento coerencial. Há quem afirme que na teoria rawlsiana há um intuicionismo disfarçado. Assim sendo,vários críticos sugeriram isto e levantaram várias questões contra o coerentismo de Rawls. Dentre eles:Brandt, (1998), afirmou que na estratégia rawlsiana pode ser constatado a presença de compromissos morais antecedentes (provavelmente, crenças básicas), restringindo o teste racional à mera sistematização das crenças de uma pessoa ou grupo; Lyons, (1989), defendeu a tese que a justiça como eqüidade não esclarecia a sua natureza como justificação; e Hare e Tugendhat, (1999), que afirmam que a justiça como eqüidade é um tipo de relativismo, porquanto suas conclusões dependem de um consenso moral com papel epistemológico central. É neste sentido que procuramos uma analogia entre Gettier e Rawls. O princípio da eqüidade defendido por Rawls, muito discutido subseqüentemente ao seu livro Uma Teoria da Justiça, suscita um debate, inclusive acerca do seu coerentismo, equivalente ao epistemológico que seguiu após o artigo de Gettier. O problema de Rawls, como o de Gettier, causou uma série de polêmicas e tentativas de respostas; daí, dentre outras coisas, a importância de tal tema. Como exemplo, observa-se que a obra magna de John Rawls publicada em 1971, Uma Teoria da Justiça, suscitou muitas críticas, por este motivo o texto original de 1971 é revisado em 1975. As mudanças feitas, basicamente, são sobre: (i) a questão da liberdade, onde ele afirma que “...não se atribui prioridade alguma à liberdade como tal; se assim fosse, o exercício de uma coisa chamada ‘liberdade’ teria um valor preeminente e seria a meta principal, se não a única, da justiça social e política ; (ii) a questão dos bens primários. No entanto, pode-se relacionar a origem do método da justiça como eqüidade, e, por conseguinte, do seu coerentismo, a partir de Uma Teoria da Justiça e melhor

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elucidada no The Independence of Moral Theory (1975). Neste, Rawls verificou que a teoria moral é independente da epistemologia, da filosofia da linguagem e da filosofia da mente e constatou a diferença entre o equilíbrio reflexivo largo (wide) e estreito (narrow); este mais voltado para as preferências do agente quando se chega a um acordo quanto à concepção de justiça política que pareça mais razoável e que mostre mais condições de ser publicamente aceita. Em contrapartida, o equilíbrio reflexivo largo é aquele em que as pessoas têm que considerar os julgamentos em todos os níveis de generalidade, por meio de princípios para formar e abstrair condições sobre concepções morais. Isto objetiva saber como as pessoas ajustam suas várias convicções em um esquema coerente, revisando algumas crenças, reforçando e expandindo outras, supondo que uma sistemática organização pode ser fundada, onde os julgamentos não são imunes à revisão. No texto de 1975, o equilíbrio reflexivo largo é visto de forma mais explícita. No entanto, a idéia do equilíbrio reflexivo largo só tem uma proeminência maior no O Liberalismo Político, o ponto-chave desta obra, porquanto a justiça como eqüidade é constituída como uma argumentação prática que, através de um processo dinâmico, reconstrói a moralidade política nas sociedades bem-ordenadas, extraindo sua justificação da razão pública, no qual a concepção normativa de pessoa é o seu ponto de partida. Assim, Rawls afirma que há várias formas de equilíbrio reflexivo, dentre os quais aquele que o intuicionismo utiliza. No entanto, não é este o tipo que Rawls utiliza. Rawls criticou não só o intuicionismo, mas, também, explicitamente, outras correntes da filosofia prática, mais precisamente, o utilitarismo. O utilitarismo é, para ele, uma teoria ética frágil, encontra-se em embaraços ao procurar um único fim para as atividades humanas. O liberalismo político, por sua vez, supõe que existam muitas doutrinas razoáveis e conflitantes, onde cada uma apresenta suas próprias concepções do bem; no entanto, mesmo e apesar do pluralismo, com o uso do equilíbrio reflexivo, tem-se a possibilidade de se obter um consenso sobreposto às doutrinas morais compreensivas. Neste contexto, Rawls adota uma postura na qual prescinde das teorias acima citadas e das justificações metafísicas, não recorrendo aos aspectos procedimentais como o teleológico e o substancial; fato que mostra uma desvinculação da teoria rawlsiana em relação às crenças básicas. Com isto, nota-se cada vez mais enfatizado, no desenvolvimento do seu pensamento, a expansão quanto à utilização da justificação coerentista nas suas obras. Como exemplo, Rawls, em O Liberalismo Político, reconhece que, contrariamente a Uma Teoria da Justiça, não se deve considerar a teoria da justiça como eqüidade como uma teoria da decisão racional, porque isto só não basta e não é o essencial: o que é importante é modelar as convicções bem ponderadas (ênfase ao

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coerentismo), fazendo com que os cidadãos adotem um procedimento que não parte de crenças fundacionais e que, ao contrário, o busca através de uma forma a organizar as intuições morais relacionadas à política tornando-as consistentes e coerentes em um movimento de construção, isto é, o equilíbrio reflexivo.

Introdução

O presente trabalho pretende demonstrar, e provar, se há e de que forma a justificação existente na teoria de Rawls é do tipo coerentista, ou seja, aquela que é possível sem pressuposição antecedente de um acordo sobre normas sociais específicas. Embora Rawls não mencione em nenhum de seus textos tal postura, no entanto pretender-se-á saber se é possível a presença deste aspecto em sua teoria. É plausível supor que a justiça como eqüidade se utiliza da justificação coerentista, se levarmos em consideração que os critérios de justificativas encontram-se subjacentes à construção da sua teoria da justiça como eqüidade expressas pelas seguintes idéias: (i) só as crenças podem justificar outras crenças, e nada, além disso, pode contribuir para uma justificação; (ii) todas as crenças justificadas dependem de outras crenças para a sua justificação. Também, pode-se, presumidamente supor a presença da justificação coerentista quando Rawls: (i) tece críticas ao utilitarismo (não buscando um único paradigma para resolver questões morais); (ii) tece críticas ao intuicionismo quando a justiça como eqüidade não adota uma postura de busca da verdade e sim da razoabilidade e (iii) procura superar aspectos metafísicos no curso de suas obras.

Metodologia

A presente pesquisa tomará como fontes primárias as obras de Rawls intituladas Uma Teoria Da Justiça, Justiça e Democracia, Justiça como Equidade: uma reformulação, Collected Papers (org. Samuel Freeman), História da Filosofia Moral e O Liberalismo Político. Nestas obras tem-se uma amostragem significativa para se constatar se e como a justificação rawlsiana é do tipo coerentista, elucidando as teses centrais e as retificações ocorridas no âmbito da teoria da justiça como eqüidade. Metodologicamente, tomar-se-á como centro de análise da citada pesquisa o conceito rawlsiano de equilíbrio reflexivo como, também, seu histórico nas obras de Rawls, na medida em que este é o alicerce fundamental de que servirá de suporte teórico para se constatar ou não a presença da justificação coerentista na justiça como eqüidade. É na formulação e na análise deste conceito que poder-se-á buscar a

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evidência ou não de justificação coerentista na teoria rawlsiana. Para tanto, o desenvolvimento da presente pesquisa bibliográfica exige uma contextualização histórica, embora não exaustiva, da teoria de Rawls, no sentido de expor suas críticas às correntes da filosofia prática da sua época.

Resultados (ou Resultados e Discussão)

Dentre outras coisas, a discussão que se pretende apresentar envolve a tentativa de mostrar que, embora tenham várias formas de equilíbrio reflexivo, dentre os quais aquele que o intuicionismo utiliza. No entanto, não é este o tipo que Rawls utiliza. Ele critica o intuicionismo racional por este justificar as normas de uma forma epistemológica, assegurando que existem princípios materiais a priori que podem ser conhecido por intuição. Por este motivo, há diferenças substantivas entre o modo como o intuicionista utiliza o equilíbrio reflexivo e o modo como o construtivismo utiliza tal recurso. A distinção entre essas duas visões decorre da maneira como cada uma destas interpreta as conclusões que tem que ser revistas: o (a) intuicionismo crê que um procedimento é correto quando este o leva a um julgamento correto; o (b) construtivismo avalia um julgamento correto conforme o resultado de um procedimento razoável e racional de construção. Discutir-se-á, também, que, diferentemente do utilitarismo, Rawls não se utiliza de crenças básicas: se as utilizasse a proposta da justiça como eqüidade não teria sentido e, seria, tal qual o utilitarismo, uma busca por um paradigma. No entanto, para Rawls o utilitarismo é uma teoria ética frágil, encontra-se em embaraços ao procurar um único fim para as atividades humanas. De acordo com Rawls, Platão e Aristóteles – e toda a tradição cristã – afirmam que as instituições são justificáveis na medida em que promovem um único bem razoável e racional. Seguindo esta mesma linha de pensamento, encontram-se os utilitarismos clássicos de Bentham, Edgeworth e Sidwick. Ao contrário disso, o liberalismo político rawlsiano supõe, mesmo e apesar do pluralismo, com o uso do equilíbrio reflexivo, a possibilidade de se obter um consenso sobreposto às doutrinas morais compreensivas. Com isto, há um desenvolvimento do pensamento rawlsiano marcado pela expansão quanto à utilização da justificação coerentista nas suas obras, separando o conteúdo das mesmas de qualquer justificação com aspectos metafísicos ou a priori, aproximando-as, cada vez mais, de uma justificação do tipo coerentista.

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Construtivismo Político e Coerentismo em J. Rawls

Aluna: Elnora Gondim, Nome do Orientador (

Nythamar Hilario Fernandes de Oliveira Junior

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Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Faculdade de Filosofia, PUCRS

Resumo

A teoria de Rawls da justiça como eqüidade teve uma ampla repercussão nos meios acadêmicos. É de se pressupor que o caráter de novidade que trouxe a referida teoria ocasionou tal movimento; o aspecto diferencial que ela encerrava, presumidamente, pode-se conjecturar que ocorreu em virtude da forma pela qual os problemas suscitados pela citada teoria eram abordados, porquanto o método utilizado por ela como, também, a sua justificação diferenciavam-se dos utilizados das correntes de pensamento enaltecidas à época de seu aparecimento. No entanto, se for detectado que a justiça como eqüidade é mais uma teoria fundacionista, a citada repercussão e, por conseguinte, a “revolução” que a teoria rawlsiana ocasionou pode ter sido, somente, algo aparente e que, posteriormente, não vai trazer nada de especial. Portanto, nossa proposta é saber se a justiça como eqüidade utiliza de uma justificação do tipo coerentista. Em caso afirmativo, sob quais condições é evidenciada na teoria rawlsiana? Em caso negativo, quais implicações acarretariam para a teoria justiça como eqüidade? Todavia, neste trabalho a justificação epistêmica coerentista é tomada como o objeto privilegiado da investigação. Por que se busca qual a forma justificação epistêmica na justiça como eqüidade? Para se responder a tal questionamento, reportamo-nos ao chamado “problema de Gettier”. Edmund Gettier, em 1963, publicou um pequeno artigo que modificou as perguntas clássicas propostas pela epistemologia até então: É o Conhecimento Crença Verdadeira Justificada? Tendo como ponto de argumentação a análise da afirmação sobre a verdade justificada do conhecimento proposicional acerca dos fatos, Gettier constatou uma falha na justificação do conhecimento, que tradicionalmente era compreendido como crença verdadeira justificada. Em outras palavras, um dado sujeito pode possuir uma crença

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fundamentos e princípios para formar e abstrair condições sobre concepções morais. Isto objetiva saber como as pessoas ajustam suas várias convicções em um sistema coerente, revisando algumas convicções, reforçando e expandindo outras – supondo, obviamente, se uma sistemática organização pode ser fundada. Desta forma, Rawls em The Independence of Moral Theory considera especificar o tipo de equilíbrio reflexivo que ele adota: o largo (wide) em contraposição ao estreito (narrow). No artigo O Construtivismo Kantiano, a filosofia rawlsiana inicia um processo de aprofundamento dos conceitos originários apresentados em seu primeiro livro, tais como: a racionalidade agora não significa uma teoria da escolha racional e ela está subordinada ao conceito de razoabilidade. Logo, no escrito de 1980, o autor fala em ser humano razoável como elemento fundador de sua teoria e, não mais, como em 1971, em ser humano racional; os bens primários não são mais aquilo que satisfaz às necessidades vitais, mas aquilo indispensável à realização pelo ser humano de sua personalidade moral no sentido kantiano. Em Justiça como Eqüidade: uma teoria política e não metafísica, Rawls reavalia, completamente, o conceito de racionalidade e a ambição universalista visto em Uma Teoria da Justiça. Com isto exclui referência à verdade, limitando o campo de aplicação da sua teoria da justiça às sociedades democráticas, afirmando que o objetivo da mesma é o prático, baseado em uma razão pública, enfatizando a diferença entre a sua teoria da justiça como eqüidade em relação ao liberalismo kantiano. Neste sentido, a teoria da justiça como eqüidade não pode ter a pretensão de ser a única base das instituições democráticas nem a mais apropriada e nem a única correta. Em contrapartida, a justiça como eqüidade tenta mostrar uma concepção que está enraizada nas idéias intuitivas básicas da cultura pública de uma democracia, onde nela o valor da autonomia completa está concretizado em uma sociedade bem ordenada. No Justiça como Eqüidade: uma reformulação, Rawls comenta, tal qual em The Independence of Moral Theory, que em Uma Teoria da Justiça o equilíbrio reflexivo amplo é mais importante que o restrito, embora estes termos, infelizmente, não são empregados ali. Em O Liberalismo Político, Rawls reformula, em partes, o seu pensamento filosófico político. Ele continua concebendo a justiça como um problema de imparcialidade, tal como é apresentado em Uma Teoria da Justiça, mas modifica alguns aspectos da sua teoria precedente quando constata que é pouco realista a concepção de uma sociedade bem ordenada, como, também, vê que as sociedades modernas são compostas por doutrinas abrangentes, muitas vezes incompatíveis entre si. O que ocorre é que Rawls revê alguns conceitos originários de sua teoria da justiça com o intento de aprofundar as teses centrais da mesma, inaugurando um processo daquilo que pode ser chamado de

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“desenvolvimento do pensamento rawlsiano”, explicitamente, o construtivismo, levando-o a optar como uma importante característica da sua teoria o fato do pluralismo nas sociedades modernas, constatação que o conduz à seguinte questão: como uma sociedade estável e justa de cidadãos livres e iguais pode viver em harmonia quando está profundamente dividida por doutrinas abrangentes? Rawls responde a isto com uma redefinição de contrato e de sociedade bem ordenada: ele procura esclarecer que uma sociedade bem ordenada tem uma concepção de justiça advinda de um consenso justaposto de doutrinas razoáveis e gerais onde os cidadãos se unem para afirmar uma mesma concepção política, baseada em suas próprias doutrinas que, embora distintas, convergem para um mesmo ponto. Desta maneira, Rawls, em O Liberalismo Político, tem como procedimento um tipo diferente de construtivismo onde as faculdades da reflexão e do julgamento se desenvolvem no quadro de uma cultura comum que as forma. Dentro deste contexto, ele afirma que os princípios de justiça além de serem políticos, são, também, o resultado de um procedimento de construção. Os princípios de justiça, neste caso, utilizam certas concepções puramente políticas da pessoa e da sociedade para elaborarem uma concepção de um regime constitucional justo que possa ser admitido por quem detém diferentes concepções abrangentes. Para Rawls, as concepções de pessoa e sociedade são idéias fundamentais que os cidadãos compartilham na cultura política, ainda quando eles têm doutrinas abrangentes diferentes. No entanto, aqui cumpre ressaltar que tal consenso não tem a pretensão da universalidade nem da verdade nem do paradigma. O Rawls do O Liberalismo Político é mais restrito quanto à aplicação de sua teoria da justiça, pois delimita o seu campo às sociedades democráticas modernas. Diferentemente de Uma Teoria da Justiça, em O Liberalismo Político, Rawls afirma que a razoabilidade é mais aceitável do que a verdade moral. Portanto, o acima exposto garante um suporte argumentativo para que se possa defender a justificação coerentista utilizada por Rawls, ou seja, o professor de Harvard abandona, no decurso de suas obras, concepções que possam ser entendidas como crenças básicas, tais como: (i) a utilização do indutivismo lógico, da verdade moral e da objetividade; (ii) a universalidade dos princípios morais, a realidade da sociedade bem-ordenada, a prioridade na posição original, dentre outras.

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IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2009

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