Introdução
Antonio Castelnou
Introdução
A
História da Arquitetura Contemporânea
tem
suas bases nas mudanças produzidas pela
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1750-1830)
,
caracterizada pelo conjunto de transformações
econômicas, sociopolíticas, culturais e
tecnológicas, que se processaram entre finais do
século XVIII e a primeira metade do século XIX.
Ocorrendo inicialmente na Inglaterra, seguiu-se
pela França, pelos Países Baixos e pelos EUA,
para depois se disseminar por todos os países
A INDUSTRIALIZAÇÃO
consistiu na passagem da produção baseada na
ferramenta (artesanato/ manufatura) para aquela
baseada na máquina
(indústria), por meio do desenvolvimento contínuo da técnica para fornecimento, em maior quantidade e melhor qualidade, de inventos. Máquina-de-tear Jenny (1764) James Hargreaves (1720-78)
Ela processou-se a partir do aumento dos conhecimentos
científicos e tecnológicos, proporcionado pela crescente
demanda por bens devido a um incremento populacional
ocorrido desde 1750. Graças aos progressos da
INDUSTRIALIZAÇÃO, houve tanto modificações técnico-construtivas como avanços científico-culturais
que afetaram toda a
arquitetura e construção civil.
Máquina à vapor (1769) James Watt (1736-1819)
Quanto às modificações técnico-construtivas, houve: Racionalização no emprego de materiais tradicionais (melhoria de qualidade, acabamento e transporte) Sistematização do uso de
materiais novos (ferro, vidro e concreto simples/armado)
Difusão de máquinas,
apare-lhamento dos canteiros e
melhoria das vias (geometria, topografia, pavimentos, etc.) Palácio de Cristal
(1851-1936, Londres GB)
Sir Joseph Paxton (1803-65) Sistemas de fundação Thomas Telford (1757-1834) Sistemas de pavimentação John MacAdam (1756-1836)
Em relação aos
progressos científico-culturais, ocorreram:
Surgimento das regras
de Geometria Descritiva (Método Mongeano)
Difusão do sistema
métrico decimal
Desenvolvimento de
novos conceitos físicos (Elasticidade, eletro-magnetismo, etc.)
Métodos de representação gráfica em escala métrica Gaspard Monge (1746-1818) Leis de elasticidade Robert Hooke (1635-1703) Leis de eletromagnetismo Charles A. Coulomb (1736-1806)
Uma das mudanças mais impactantes foi a CISÃO entre
os ensinos de arquitetura e
engenharia, com a fundação de Escolas Politécnicas e
posterior incorporação da arquitetura às Escolas de
Belas-Artes no início do século XIX. Além disso, o desenvolvimento
industrial resultou em vários fenômenos socioespaciais como:
a urbanização acelerada, a
periferização de trabalhadores e a proletarização de artesãos, intensificadas com o êxodo rural. Jean-Baptiste Rondelet (1743-1829) Jean-Nicolas Louis Durand (1760-1835)
École Polytechnique de Paris (1796)
Em 1800, apenas 22 cidades
europeias possuíam mais de 100.000 habitantes e na América nenhuma. Londres tinha cerca de 860.000, Paris 540.000, Nova York 80.000 e
Chicago nem existia.
Em 1900, a Europa já possuía
84 cidades desse tamanho ou maiores; e a América 53. Londres atingia 6,5 milhões
de habitantes, seguida por Nova York (4,2), Paris (3,3), Berlim (2,7) e Chicago (1,7).
Com a industrialização, apareceram também problemas
de transporte, habitação, serviços e salubridade, o que fez com que providências sanitárias e de planejamento
fossem tomadas a fim de resolver essa situação, primeiro na Inglaterra e depois nos demais países.
Paris serviu de modelo para
o chamado URBANISMO
NEOCONSERVADOR, que produziu uma série de
reformas urbanas em
diversas cidades do mundo, tanto na Europa como fora
dela, inclusive no Brasil. Ao mesmo tempo, nos EUA,
medidas semelhantes foram tomadas para sanar os problemas trazidos com o desenvolvimento industrial. Ildefons Cerdà (1815-76)
Plano de Barcelona (1859/70, Espanha)
Ringstrasse (1857/69, Viena - Áustria) Ludwig Förster (1797-1863) et al.
PLANO DE HAUSSMANN (1853/69)
O PLANO DE NOVA
YORK caracterizou-se pela retícula uniforme que desconsiderava a
topografia, sendo composto por avenidas Norte-Sul e ruas
Leste-Oeste, com a previsão de uma área verde (Central Park), depois
ampliada e destinada ao lazer público somente em 1858. Gouverneur Morris I (1752-1816), John Rutherford (1760-1840) e Simeon DeWitt (1756-1834) Commissioners’ Plan (1811) N. York (1860)
Com cerca de 80.000 habitantes em 1800, NOVA YORK
passou a ter um pouco mais de 390.000 em 1840, ultrapassado Boston e Filadélfia; e tornando-se a maior
cidade do país. Cinquenta anos depois, em 1890, a cidade atingia a marca de 2,5 milhões de habitantes.
Historicismo
Na Europa, as transformações provocadas pela
INDUSTRIALIZAÇÃO
tiveram repercussões
tanto tecnológicas (aparecimento das máquinas)
como espaciais (nova distribuição territorial da
população), além de mudanças sociopolíticas
(ascensão burguesa e proletarização).
Tal impacto refletiu-se nas artes do século XIX,
que acabaram recaindo em uma atitude de
resgate de fontes históricas (
revivalismo
), a qual
passou a ser defendida teoricamente como sinal
No início, o principal foco de resgate foi a ANTIGUIDADE CLÁSSICA, o que conduziu ao Estilo Neoclássico, que
expressava os interesses, os hábitos e a mentalidade da
burguesia mercantilista. Esta assumira a direção da sociedade europeia com a
Revolução Francesa (1789/99) e o Império Napoleônico
(1804/14), exigindo uma arte que rompesse com os excessos do barroco aristocrático.
Jacques-Louis David (1748-1825) Napoleão em seu estúdio (1812)
Pauline Borghese (1808) Antonio Canova (1757-1822)
Embora iniciado na Itália – devido às descobertas em 1748
das ruínas de Pompéia e Herculano –, foi na França
que o NEOCLASSICISMO
(1780-1830) encontrou sua máxima expressão, cuja
arquitetura caracterizou-se por: exatidão, monumentalidade e emprego de elementos
greco-romanos (frontões, colunas, arcos, cúpulas, entablamentos)
Germain Soufflot (1713-80)
Ste. Geneviève – Atual Phantéon (1757/92, Paris)
Église de La Madeleine (1807/42, Paris) Pierre B. Vignon (1763-1828)
Também chamado de
Academicismo, o Estilo Neoclássico caracterizava-se pelo uso dos pressupostos de
HARMONIA, regularidade da
forma, temática heroica e serenidade da expressão, os quais idealizavam a sociedade
burguesa e alienavam os artistas da vida social e
política de sua época. Grande Odalisque (1814) Jean-Dominique Ingres (1780-1867)
A Banhista de Valpinçon (1808)
Fundamentado nos ideais iluministas (Princípios da “Razão” humana), o NEOCLASSICISMO difundiu-se graças às ideias do alemão Johann J. Winckelmann
(1717-68), estas baseadas na busca pelo “Belo”
absoluto, a partir da inspiração nos modelos clássicos. Johann Winckelmann (1717-68) Carl Langhans (1732-1808) Portão de Brandenburg (1788/91, Berlim) Statue of Liberty (1876/86) Frédéric Auguste Bartholdi
Jacques-Louis David (1748-1825)
A Morte de Sócrates (1787)
O Rapto das Sabinas (1799)
Antonio Canova (1757-1822) Cupido e Psiqué (1787) As Três Graças (1814) Pauline Borghese (1808) Cupido e Psiqué (1809)
Place de L’Étoile (1853/54) Champs-Elysées (1853/69) L’Arc de Triomphe (1806/11, Paris) Jean Chalgrin (1739-1811)
William Wilkins (1778-1839) National Gallery (1824, Londres GB) Altes Museum (1823/30, Berlim Al.) Karl F. Schinkel (1781-1841) U.S. Capitol (1792-1827, Washington DC) William Thornton (1759-1828), Benjamin Latrobe (1764-1820) & Charles Bulfich (1763-1844)
Foi a partir dos ideais de liberdade e rebeldia de
Jean-Jacques Rousseau (1712-78)
que o ROMANTISMO eclodiu e atingiu as artes, que passaram a
serem marcadas pela ampliação dos meios de comunicação e expressão artísticas (exposições
individuais, colecionismo burguês, empastamento das
tintas, etc.).
J. J. Rousseau (1712-78)
Liberdade guiando o Povo (1830) Eugène Delacroix (1789-1863)
Teseu e o Centauro (1876) Antoine L. Barye (1796-1875)
A arte romântica caracterizou-se pela oposição ao rigor neoclássico em desenho e
composição através do
MOVIMENTO e da COR, voltando-se assim à natureza,
à individualidade e ao sentimentalismo.
Houve maior liberdade de criação, com pinceladas pastosas e irregulares, além de planejamentos ondulados,
movimentação das formas e temática emocional.
Fuzilamentos de 3 de maio de 1808 (1814/15) Francisco de Goya (1746-1828)
Theodore Géricault (1791-1824) Cavalo bravo (1817)
Eugène Delacroix (1789-1863) A Morte de Sardanapal (1927) A Barca de Dante (1822) O Rapto de Rebeca (1846)
O Incêndio da Casa dos Lords & Commons (1835)
Tempestade (1842)
Joseph William Turner (1775-1851) John Constable
(1776-1837) Dedham Vale (1828)
Do mesmo modo, a escultura romântica mostrava movimentos livres, maior variedade e expressividade. Pantera atacando um cervo (1833)
Angélica e Roger montados no hipogrifo (1840) Antoine-Louis Barye (1796-1875) Jean-Baptiste Carpeaux (1827-75) As Quatro Partes do Mundo (1868/72) A Dança (1869)
Também conhecido como Neomedievalismo, o
ROMANTISMO (1820-60) refletiu-se na arquitetura
através do Estilo Neogótico, que se disseminou rapidamente, elegendo o sentimento e a imaginação como fontes
artísticas e apontando para o emprego de formas medievais (arcos ogivais, abóbadas, vitrais, pináculos, etc.).
Basilique de Ste.-Clotilde (1846/57, Paris) Franz C. Gau (1790-1854) e Théodore Ballu (1817-85) Louis Delacenserie (1838-1909) Saint-Petrus-en-Pauluskerk (1899, Ostend Bélgica) Votivkirche 1856/79, Viena Áustria) Heirinch von Ferstel (1828-83)
Sir Charles Barry (1795-1860) e Augustus Pugin (1812-52) Houses of Parliament - Palace of Westminster (1840/52, Londres) Fachada da Catedral (1806/13, Milão Itália) Giuseppe Zanoia (1752-1817) Catedral de Saint-Patrick (1858/79, N. York EUA) James Renwick Jr. (1818-95)
Surgida por volta de 1850, a ARTE REALISTA foi
fruto do aumento das críticas tanto à idealização
neoclássica como à subjetividade e liberdade
de interpretação dos românticos.
Assim, inclinava-se mais para temas populares e atuais, caracterizando-se
pela veracidade de suas criações artísticas. Camille Corot (1796-1875) Mulher lendo com paisagem (1869)
Mulheres peneirando trigo (1854) Gustave Coubert (1819-77)
Tanto a pintura como a
escultura realistas buscam o nacionalismo (temas
nacionais), o cientificismo
(caráter descritivo baseado em fatos exatos) e o sentido
de contemporaneidade
(preocupações políticas e sociais do presente e não mais do passado clássico ou
medieval).
Colhedoras de grãos (1857) Jean-François Miller (1814-75)
Honoré Daumier (1808-79) Vagão de terceira classe (1863/65)
Também denominado de
Naturalismo, o
REALISMO (1850-90)
foi a corrente artística predominante da segunda
metade do século XIX, certamente o período em que a arte pela arte (arte
entendida como resultado da situação de
excepcionalidade em que o artista coloca-se diante da
sociedade) adquiriu uma força considerável. Emmanuel Fremiet (1824-1910) Famas das Indústrias, das Artes e das Ciências
Pont Alexandre III (1892/96, Paris.)
Gorila carregando
As Sombras (1884) Auguste Rodin (1840-1917) A Porta do Inferno (1880/1917) O Pensador (1902/04) O Beijo (1882)
Camille Claudel (1864-1943)
Abandono (1905)
A Valsa (1884/85)
Na arquitetura, a expressão eclética foi a que mais se
aproximou dos ideais realistas da arte
oitocentista. A partir de 1850, a arquitetura voltou-se totalmente para a estéril discussão estilística através do chamado ECLETISMO.
Basílica de São Estevão (1851/67, Budapeste Hungria)
HISTORICISMO NO BRASIL
Aprox. ARTE ARQUITETURA 1780 a 1830 Neoclassicismo Idealismo Temática Heroica Serenidade de Expressão Estilo Neoclássico Classicismo Simetria e Regularidade Elementos Greco-Romanos 1820 a 1860 Romantismo Sentimentalismo Temática Emocional Movimento e Liberdade Estilo Neogótico Anticlassicismo Tensão e Espiritualidade Elementos Medievais 1850 a 1890 Realismo Cientificismo Temática Nacionalista Sentido de Contemporaneidade Estilo Eclético Revivalismo Fantasia e Variedade Mistura Estilística
HISTORICISMO OITOCENTISTA
Leitura Complementar
APOSTILA – Capítulos 1 e 2. BENEVOLO, L. História da arquitetura moderna. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.
PEVSNER, N. Origens da arquitetura moderna e
do design. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
COLIN, S. Uma introdução à arquitetura. Rio de Janeiro: Uapê, 2000.
SNYDER, J.; CATANESE, A. Introdução à arquitetura. Rio de Janeiro: Campus, 1984.