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INFLUÊNCIA DOS FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA OCORRÊNCIA DE ACIDENTES ESCORPIÔNICOS EM UM MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO, ALAGOAS, BRASIL

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Academic year: 2021

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ANÁLISE DE SISTEMAS AMBIENTAIS

ALÉCIO MARCELO LIMA DOS SANTOS

INFLUÊNCIA DOS FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA

OCORRÊNCIA DE ACIDENTES ESCORPIÔNICOS EM UM

MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO, ALAGOAS,

BRASIL

MACEIÓ - AL 2020

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ANÁLISE DE SISTEMAS AMBIENTAIS

ALÉCIO MARCELO LIMA DOS SANTOS

INFLUÊNCIA DOS FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA

OCORRÊNCIA DE ACIDENTES ESCORPIÔNICOS EM UM

MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO, ALAGOAS,

BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Análise de Sistemas Ambientais do Centro Universitário CESMAC, na modalidade Profissional, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Thiago José Matos Rocha e

coorientação do Prof. Dr. João Gomes da Costa.

MACEIÓ-AL 2020

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ANÁLISE DE SISTEMAS AMBIENTAIS

ALÉCIO MARCELO LIMA DOS SANTOS

INFLUÊNCIA DOS FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA

OCORRÊNCIA DE ACIDENTES ESCORPIÔNICOS EM UM

MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO, ALAGOAS,

BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Análise de Sistemas Ambientais do Centro Universitário CESMAC, na modalidade Profissional, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Thiago José Matos Rocha e

coorientação do Prof. Dr. João Gomes da Costa.

Data da defesa: 25/06/2020 (14h)

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________

Orientador Prof. Dr. Thiago José Matos Rocha (PPGASA/CESMAC)

__________________________________________________________________

Coorientador Prof. Dr. João Gomes da Costa (PPGASA/CESMAC)

__________________________________________________________________

Prof

ª

. Dr

ª.

Adriane Borges Cabral (PPGASA/CESMAC)

__________________________________________________________________

Prof

ª

. Dr

ª.

Camila Calado de Vasconcelos (MPBiotec/CESMAC)

_________________________________________________________________

(5)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus queridos colegas da turma III do mestrado de Análise de Sistema Ambiental. Foi um prazer ter passado dois anos da minha vida junto a esses guerreiros. Obrigado por todos os momentos que passamos juntos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por todos os momentos da minha vida, tanto os de vitória quanto os de derrota. Todos esses momentos fizeram com que eu aprendesse a dar valor em cada conquista minha.

Agradeço ainda, a Deus, por ter colocado pessoas do bem em meu caminho, como foi o caso dos amigos João Gomes, Thiago Rocha, Ivan Guedes, Fábio Gomes, Ricardo Victor, Mônica Ferreira, Thais Casella, Tia Anita, Ana Lúcia, Lis Moraes e Luane Correia, que tanto contribuíram para esta pesquisa, e da mesma forma os meus colegas de turma, em especial aos meus queridos amigos Paully, Maurício e Evilma, simplesmente por serem os melhores!

Agradeço a minha amada esposa Priscila e a minha amiga/irmã Shymena, que sempre me encorajaram nos momentos de dificuldade.

Em especial, agradeço de coração a ajuda recebida de meu irmão Alexandre, que ao longo desta pesquisa me ajudou com os seus conhecimentos da língua portuguesa e de informática. Obrigado, irmão!

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Tudo posso naquele que me fortalece. (Filipenses 4:13)

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RESUMO

Um dos problemas cada vez mais recorrentes no Brasil são os acidentes causados pela picada do escorpião. Este animal tem invadido, com mais frequência, os ambientes urbanos. Sabe-se que, ambientes sujos têm colaborado para a proliferação de outros animais que na cadeia alimentar servem de alimentos para o escorpião. Isto posto, terrenos baldios, lixo acumulado e desmatamento devem ser evitados. Em Arapiraca, cidade alagoana, o problema trazido pela invasão dos escorpiões tem preocupado a população. Em razão desta preocupação, o presente trabalho teve como objetivo caracterizar os fatores socioambientais que influenciam os acidentes escorpiônicos na referida cidade. Para tanto, foi realizado um estudo retrospectivo dos acidentes, levantamento de indicadores do município e a estimativa das correlações existentes entre as variáveis que mais contribuem para os acidentes. Desta forma, realizou-se um estudo descritivo nos bairros urbanos de Arapiraca-AL, onde houve maior incidência dos acidentes em um período de 11 (onze) anos, ou seja, de janeiro de 2008 até dezembro de 2018, com base no total de casos notificados pelo SINAN, também foi utilizado o geoprocessamento com o objetivo de verificar possíveis alterações no ambiente. A correlação de Pearson foi utilizada para verificar os fatores associados à ocorrência de escorpionismo. Com relação aos casos de acidentes escorpiônicos em Arapiraca-AL, durante o período da pesquisa, foram notificados 9330 casos, havendo variação entre 674 (em 2009) a 1144 (em 2018) e média geral de 848 notificações. Os acidentes escorpiônicos ocorreram com mais frequência no ambiente doméstico, sendo a mulher na faixa etária de 20 a 29 anos, a vítima mais comum dos acidentes. Com relação ao local do corpo humano onde as vítimas são picadas, destacaram-se as mãos, os pés, os dedos das mãos e dos pés. No que se diz respeito à influência da sazonalidade, não houve diferença estatística entre os percentuais das estações do ano a 5% de probabilidade pelo teste do Qui-Quadrado. Com relação ao saneamento básico, os bairros de Arapiraca apresentam infraestrutura deficitária, conforme o mapeamento, com 21 bairros caracterizados entre 80 e 100% inadequados, ou seja, 55% dos bairros na área de estudo não possuem fossa séptica ou não estão ligados à rede geral de esgoto. Os dados de notificações de acidentes escorpiônicos por bairro permitiram observar que os bairros Brasília e Primavera apresentaram números bem elevados se comparados aos demais bairros da cidade, pois possuem esgotamento altamente inadequado, bem como a presença de feiras livres no local. O primeiro registrou, em 11 anos, um total de 881 casos, e o segundo apresentou o número de 1228 casos. Permitiu-se concluir que os casos de escorpionismo na cidade de Arapiraca têm aumentado ao longo dos anos. Não obstante, em razão da baixa oscilação térmica, o fator clima não se mostrou ser uma variável importante para os casos ocorridos. Pôde ser constatado que os bairros onde ocorrem feiras livres têm uma tendência maior de acidentes com escorpião, ante a potencialização da sujeira e a péssima condição de saneamento básico da cidade. Por sua vez, a pesquisa ratificou que o município arapiraquense cresce de forma desordenada e que fatores socioambientais podem ser apontados como responsáveis pelo aumento de acidentes por escorpião nos bairros da zona urbana.

PALAVRAS-CHAVE: Acidentes por escorpião. Saneamento básico. Clima. Condição

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ABSTRACT

In Brazil, one of the increasingly recurring problems is scorpionism, accidents caused by the scorpion’s bite. This animal has more often invaded urban environments. It is known that dirty environments have contributed to the proliferation of other animals that in the food chain serve as food for the scorpion. That being said, wasteland, accumulated garbage and deforestation must be avoided. In Arapiraca, a city of Alagoas, the problem brought by the invasion of scorpions has worried the population. Due to this concern, the present study aimed to characterize the socio-environmental factors that influence scorpionic accidents in the said city. Therefore, a retrospective study of accidents was carried out; the survey of the municipality’s indicators and the estimation of the correlations between the variables that contribute the most to accidents. Thus, a descriptive study was conducted in the urban neighborhoods of Arapiraca-AL, where there was a higher incidence of accidents in a period of 11 (eleven) years, that is from January 2008 to December 2018 based on the total number of cases notified by SINAN. Geoprocessing was also used in order to verifying possible changes in the environment. Pearson's correlation was used to verify the factors associated with the occurrence of scorpionism. Regarding cases of scorpionic accidents in Arapiraca-AL, during the research period, 9,330 cases were reported with a variation between 674 (in 2009) and 1144 (in 2018) and a general average of 848 notifications. The scorpionic accidents occurred more frequently in the domestic environment, and the women aged 20 to 29 years being the most common victim of accidents. With regard to the location of the human body where the victims are bitten, stood out the hands, feet, fingers and toes. Regarding the influence of seasonality, there was no statistical difference between the percentages of the seasons at 5% probability by the Chi-Square test. Regarding basic sanitation, the neighborhoods of Arapiraca have deficient infrastructure, according to the mapping, with 21 neighborhoods characterized between 80 and 100% inadequate, that is, 55% of neighborhoods in the study area do not have septic tank or are not connected to the network general sewage. Geoprocessing analysis allowed us to observe that the combination of the variables was free and absences of sanitary exhaustions enhanced the occurrence of scorpion accidents. The data from notifications of scorpionic accidents by neighborhood allowed us to observe that Brasília and Primavera neighborhoods presented very high numbers compared to the other neighborhoods in the city. The first registered, in 11 years, a total of 881 cases and the second presented the number of 1228 cases. It has been allowed to conclude that cases of scorpionism in the city of Arapiraca have increased over the years. Nevertheless, due to the low thermal oscillation, the climate factor was not an important variable for the cases that occurred. It could be seen that the neighborhoods where open markets occur have a greater tendency of scorpion accidents, due to the potentialization of dirt and the poor condition of basic sanitation in the city. In turn, the research has ratified that the municipality arapiraquense grows disorderly and that socio-environmental factors can be identified as responsible for the increase in scorpion accidents in some neighborhoods of the urban area.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Morfologia do escorpião ... 21

Figura 2. Filhotes de escorpião no dorso da fêmea ... 22

Figura 3. Espécie T. stigmurus ... 23

Figura 4. Resíduos de construção civil. ... 35

Figura 5. Mapa com a porcentagem de domicílios com esgotamento sanitário inadequado nos bairros da zona urbana de Arapiraca-AL, no período de 2008 a 2018. ... 36

Figura 6. Mapa com a análise dos casos escorpiônicos nos bairros de Arapiraca-AL. ... 37

Figura 7. Saneamento básico em Arapiraca... 38

Figura 8. Feira do Bairro Brasília. ... 38

Figura 9. Bosque das Arapiracas. ... 40

Figura 10. Ausência de saneamento do Bosque das Arapiracas. ... 41

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2 - Filhotes de escorpião no dorso da fêmea... 21 Figura 3 - Espécie T.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Análise de tendência de escorpionismo em Arapiraca, Alagoas. ... 29 Gráfico 2. Número de casos de escorpionismo em Arapiraca de acordo com as

estações do ano - 2008 a 2018. ... 30

Gráfico 3. Temperatura média mensal do ar de Arapiraca durante 10 anos. ... 31 Gráfico 4. Percentagem média de incidência por estação do ano. Temperatura

média mensal do ar de Arapiraca durante 10 anos. Umidade relativa média mensal do ar de Arapiraca durante 10 anos. ... 31

Gráfico 5. Precipitação média mensal de Arapiraca durante 10 anos. ... 32

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Acidentes escorpiônicos em Arapiraca no período compreendido entre

2008 e 2018. ... 28

Tabela 2. Percentagem média de incidência por estação do ano. ... 30 Tabela 3. Estimativas de correlações (r) entre variáveis climáticas e a incidência de

escorpião no período de 2008 a 2018 em Arapiraca, Alagoas. ... 33

Tabela 4. Acidentes escorpiônicos em Arapiraca por faixa etária em 11 anos. ... 33 Tabela 5. Acidentes escorpiônicos em Arapiraca conforme o local da picada no

período de 11 anos. ... 34

Tabela 6. Acidentes escorpiônicos em Arapiraca de acordo com o sexo da vítima no

período de 11 anos. ... 34

Tabela 7. Notificações média de escorpião por bairro e respectivos percentuais

relativo ao período de 2008 a 2018 em Arapiraca, AL. ... 39

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LISTA DE SIGLAS

CASAL - Companhia de Saneamento de Alagoas CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais DATASUS - Departamento de informática do SUS FII - Ficha Individual de Investigação

FIN - Ficha Individual de Notificação

FUNEC - Fundação Educacional do Agreste Alagoano

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMA - Instituto do Meio Ambiente

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia PAA - Programa de Aquisição de Alimentos PIB - Produto Interno Bruto

SES – Secretarias Estaduais de Saúde

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação SUS - Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 15 2.1 Arapiraca ... 15 2.1.1 Localização ... 15 2.1.2 População ... 15 2.1.3 Economia ... 16 2.1.4 Educação ... 17 2.1.5 Saúde Pública ... 17 2.2 Saneamento ... 18

2.3 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) ... 19

2.4 O escorpião ... 20 2.4.1 Características do animal ... 20 2.4.2 Escorpiões no Brasil ... 22 2.4.3 Gênero Tityus ... 22 2.4.3.1 T. stigmurus ... 23 3 MATERIAL E MÉTODO ... 25 4 RESULTADOS ... 28 4.1 Análise descritiva/retrospectiva ... 28

4.2 Análise Sazonal e climática ... 29

4.3 Análise do perfil da vítima ... 33

4.4 Análise do escorpionismo na zona urbana de Arapiraca ... 34

5 DISCUSSÃO ... 42

6 CONCLUSÃO ... 46

REFERÊNCIAS ... 47

ANEXOS ... 52

ANEXO A - NORMAS DE PUBLICAÇÃO DA BRAZILIAN JOURNAL OF BIOLOGY ... 53

ANEXO B - ARTIGO SUBMETIDO A VERISTA BRAZILIAN JOURNAL OF BIOLOGY ... 56

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1 INTRODUÇÃO

O modelo de desenvolvimento social e urbano, que vem sendo utilizado no Brasil, tem proporcionado padrões de produção e consumo que se baseiam, principalmente, na marginalização social e política de alguns grupos sociais na degradação do meio ambiente e no crescimento desordenado dos grandes centros urbanos (FRACOLLI, 2017). Esta situação favorece a incidência de animais peçonhentos. Estudos mostram, há muito tempo, que o problema do escorpionismo está fortemente associado às condições socioeconômicas da população, como esta ocupa o solo e como a mesma se relaciona com as questões ambientais (BARBOSA; DE MEDEIROS; COSTA, 2015).

O processo evolutivo permitiu uma ampla adaptação de vários grupos de escorpiões, possibilitando uma maior disseminação que os levou a ocupar desde regiões desérticas a centros urbanizados (DABO et al., 2011). As modificações promovidas nos ecossistemas pelo homem são algumas das razões da invasão destes animais no ambiente urbano. Estas mudanças alteram as condições ambientais, favorecendo a presença de alguns grupos de animais enquanto outros têm perspectivas de sucesso quase que totalmente suprimidas (CARVALHO et al., 2011).

A invasão de aracnídeos, como o escorpião, ocorre devido fatores como a falta de saneamento básico e más condições de moradias, principalmente em grandes centros, sendo indicados dois fatores como as principais causas da ocorrência destes animais: 1 – os ambientes urbanos oferecem abrigos, locais de difícil acesso para o homem e predadores naturais, impossibilitando assim um controle biológico; 2 – o acúmulo de lixo nas cidades traz consigo baratas e outros insetos que são fontes de alimentação fartas para aranhas e escorpiões (STROPA, 2010).

Os casos de acidentes com animais peçonhentos começaram a ser registrados a partir de 1988 pelo Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN). Neste sentido, as lesões causadas por cobras, aranhas e escorpiões passaram a ser controladas em todo o país (SINAN, 2016).

Estima-se que, anualmente no Brasil, ocorram mais de 100 mil casos de acidentes por picadas de animais peçonhentos, chegando a ser contabilizada a quantidade de 200 óbitos por ano, sendo o escorpionismo um dos principais fatores para a incidência de tais números (CARMO et al., 2016).

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O Brasil passou a encarar os casos de escorpionismo como problema médico-sanitário, uma vez que as lesões causadas pelas picadas têm ocasionado quadros clínicos graves, até com registro de óbitos. Os números têm aumentado em todo o país, razão pela qual a comunidade científica procura entender os fatores que estão contribuindo para tal fenômeno (SOUZA; BOCHNER, 2019).

Em Alagoas, a espécie preponderante em todo o estado é a Tityus Stigmurus,

popularmente conhecida como escorpião amarelo, é a única espécie causadora de acidentes graves. Ela é caracterizada, como o nome indica, pela sua coloração amarelada e por uma faixa longitudinal de manchas escuras no dorso do mesossoma. Durante os meses quentes, ocorre um notável crescimento na população dessa espécie, tendo como consequência um aumento no número de acidentes (SILVA; TIBURCIO; CORREIA, 2005).

A pesquisa teve por finalidade avaliar a influência dos fatores socioambientais na ocorrência de acidentes escorpiônicos em bairros da zona urbana de um município do nordeste brasileiro.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Arapiraca

O município de Arapiraca, localizado no agreste alagoano, tem registrado ocorrências de picadas de escorpião tanto na zona urbana da cidade, quanto em sua zona rural. Este trabalho teve como foco principal os bairros da zona urbana, tendo como destaque os bairros onde mais têm ocorrido registros das picadas, para compreender os fatores que estão contribuindo para a ocorrência dos acidentes escorpiônicos.

2.1.1 Localização

Localizada a 136 km da capital Maceió, o município tem sido reconhecido como o segundo de maior importância para o estado de Alagoas, que ao todo tem 102 municípios (TENÓRIO FILHO; LIMA, 2018). Geograficamente, está localizado na parte central do estado, servindo como rota para quem vai ao sertão e ao agreste do estado.

Com uma área de 345,655 m2, Arapiraca tem como vizinhas as cidades: ao norte - Craíbas, Igaci e Coité do Nóia; ao sul - Feira Grande, São Sebastião e Junqueiro; a leste - Limoeiro de Anadia e Junqueiro; a oeste - Lagoa da Canoa e Feira Grande (SOUZA, 2009).

2.1.2 População

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, apontaram que a população estimada para a cidade de Arapiraca no ano de 2018 foi de 230.417 pessoas. Não obstante, levando-se em consideração o censo de 2010, último censo oficial realizado pelo governo federal, a população era de 214.006 pessoas. Deste número, 181.481 pessoas vivem na área urbana da cidade e 32.525 pessoas moravam na zona rural. Em 2010, a densidade demográfica da cidade era de 600,83 hab/km2 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2010a).

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Ainda com relação aos números acima mencionados, na zona urbana, as pessoas com idade entre 25 a 40 anos são aquelas que correspondem a maioria da população, apresentando números semelhantes na zona rural, onde também tem prevalecido as pessoas da mesma faixa etária, correspondendo a 22% da população. No total, há mais mulheres na cidade, sendo elas responsáveis por 52,4% da população (IBGE, 2010a).

2.1.3 Economia

Como normalmente ocorre com as cidades do interior do Brasil, Arapiraca não foge à regra. A cidade tem como sua principal fonte de receita, a agricultura. Historicamente, o município já foi a capital brasileira do fumo. Por sua vez, foi o cultivo da mandioca que deu início à atividade agrícola na região. A bandeira da cidade mostra os ramos da folha do fumo e da folha da mandioca, demonstrando a importância de seus cultivos para a região desde o ano de 1848 (ARAPIRACA, 2015).

O cultivo do fumo sofreu importante crise na década de 90, forçando os agricultores da região a buscarem alternativas para a crise da monocultura do fumo. Em 2003, foi implantado o projeto Cinturão Verde, deixando para trás a prática da monocultura. O plantio de hortaliças, oriundo do projeto, tem gerado bons números para o município, que tem movimentado valores superiores a 50 milhões de reais por ano (ARAPIRACA, 2019a).

A agricultura familiar tem sido uma importante parceira nessa alavancada frente à crise passada pela monocultura do fumo. As famílias estão organizadas em cooperativas e têm tido ajuda do governo federal com políticas públicas. Um exemplo de sucesso é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criado em 2003 (ARAPIRACA, 2019b).

O PAA é um programa que ajuda a desburocratização na aquisição de produtos cultivados pela agricultura familiar. Assim, o foco do programa é ajudar tanto os agricultores na venda de seus produtos quanto ajudar a população carente em obter alimentos para a sua subsistência (MENEZES, 2016).

Arapiraca tem sido destaque no que tange a geração de empregos. Em 2015, a revista Exame destacou o município como a sétima cidade, a nível nacional, que mais gera emprego, tendo como referência o primeiro semestre daquele ano.

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Segundo a matéria, foram criadas 2,8 mil novas vagas de empregos (ABRANTES, 2015).

Segundo dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010a), o Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,649, tendo o município arapiraquense, em 2016, apresentado o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 17.245,95 reais (IBGE, 2019).

2.1.4 Educação

Somente após 16 anos de sua emancipação, o município de Arapiraca inaugurava a sua primeira escola primária, o Grupo Escolar Adriano Jorge, fato ocorrido no ano de 1940. Anos depois, na década de 50, foram inauguradas outras escolas no município, tendo como destaque o Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, o Instituto São Luiz e o Colégio São Francisco de Assis, este, inicialmente, somente para meninas (ARAPIRACA, 2019c).

A demora no processo de escolarização se deu em razão das famílias arapiraquenses trabalharem em grupo familiar no cultivo da mandioca e do fumo. Mais tarde, com a necessidade de novos conhecimentos para a propagação de novos negócios, surgiu a necessidade da qualificação da mão de obra local. Neste sentido, o ensino superior no município teve como marco inicial a Fundação Educacional do Agreste Alagoano (Funec), década de 70. Desde então, a cidade vem sendo polo de várias faculdades públicas e privadas (ARAPIRACA, 2019c).

Embora Arapiraca seja um importante polo educacional em Alagoas, os números divulgados em 2017 pelo IBGE apontam que o desenvolvimento da educação básica em escolas públicas não é satisfatório, colocando o município na 34º posição do estado e na posição 3830º a nível nacional, referente aos alunos dos anos iniciais. Já com relação aos alunos dos anos finais, o município ocupa a posição 40º do estado e a posição 3672º a nível nacional (IBGE, 2019).

2.1.5 Saúde Pública

Verificando as condições da saúde pública da cidade, mais precisamente no que se refere aos casos de mortalidade infantil, vislumbra-se que em 2017 o município ocupou a posição 71º em Alagoas, no total de 102 municípios, sendo ranqueada a

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nível nacional na posição 2979º, no total de 5.570 cidades. Foram 10,63 óbitos por mil pessoas nascidas vivas (IBGE, 2019).

Em 2016, a cidade teve a ocorrência de 2,6 pessoas internadas para cada mil habitantes, tendo como causa a diarreia, ocupando nacionalmente a posição 1287º e a 14ª colocação em Alagoas, salientando que apenas 19,1% das residências possuem esgotamento sanitário adequado (IBGE, 2019).

É justamente pela ausência de infraestrutura e pela falta de saneamento básico, bem como em razão de questões meteorológicas, que doenças como a dengue tem sido cada vez mais frequente na cidade. Em 2014 e 2015, de um total de 33.939 casos no estado, Arapiraca teve a ocorrência de 11.409 casos (CORREIA FILHO, 2017).

Com relação aos acidentes escorpiônicos, todos os casos são encaminhados para o Hospital de Emergência Dr. Daniel Houly, localizado em Arapiraca. A unidade atualmente é composta por 41 leitos no setor de internação e 21 leitos no setor de Unidade de Terapia Intensiva. O hospital tem atendido também, pacientes oriundos dos estados de Sergipe, Pernambuco e Bahia (ALAGOAS, 2019).

Segundo o site Portal do Cidadão, quando da ocorrência de envenenamento, o cidadão deve entrar em contato com o número 192 para relatar a ocorrência e já receber os primeiros serviços médicos durante a ligação. Também informa o portal que o paciente deverá estar portando os seus documentos de identificação e o cartão do SUS quando chegar à unidade (ALAGOAS, 2019).

2.2 Saneamento

No município, segundo o IBGE (2019), apenas 19,1% dos domicílios apresentam esgotamento sanitário adequado quando comparado a outros municípios no país, ocupando a posição 3130º do total de 5570º municípios analisados. No estado, ocupa a posição 24°, e na microrregião, a posição de 2° no ranking. Ainda segundo o IBGE (2019), desses domicílios, 51.931 possuem abastecimento de água e 6.345 não são atendidos pelo abastecimento de água. A coleta de lixo atende 10.285 (20,71%) e não atende 39.186 (79,29%). Em relação à pavimentação, 26.045 domicílios possuem pavimentação, (59,84%), e 17.303 não possuem, (39,75%). Assim, como em relação à drenagem urbana, 30.794 domicílios possuem meio-fio,

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(71,16%), 12.554 não possuem meio-fio, (28,82%), 6.171 domicílios possuem bueiro e boca de lobo, (14,58%) e 37.177 não possuem bueiro e boca de lobo, (85,42%).

2.3 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)

A preocupação com os acidentes escorpiônicos não é algo recente. Estudos sobre escorpionismo datam o início do século passado, tanto no Brasil quanto no mundo. Em terras brasileiras, no início da década de 90, surge o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), pertencente ao Ministério da Saúde (SINAN, 2016).

Esclarecendo, a epidemiologia é uma ciência cujo foco principal é o manuseio de informações. Estas informações serão utilizadas pelos órgãos de vigilância epidemiológica, que é um ramo da ciência acima citada, estabelecendo assim, políticas públicas voltadas ao bem-estar da população (SILVA, 1992).

Com a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) surgiu o Departamento de Informática do SUS (DATASUS), sendo responsável pela coleta e análise dos dados que são recebidos das unidades de saúde de todo o país (ARAUJO; SILVA, 2015).

O SINAN é um sistema nacional de informação de saúde voltado à vigilância epidemiológica. Embora tenha sido criado no início da década de 90, a alimentação dos dados em seu sistema não era obrigatória, fato que tornou a ser com a vigência da Portaria GM/MS n. 1882 de 18 de dezembro de 1997. A partir de então, todos os entes da federação eram obrigados a alimentar a base de dados nacional (BRASIL,1997).

No SINAN NET, criado em 2007, poderá ser encontrado a ficha de notificação e investigação de acidentes por animais peçonhentos que contém, por exemplo, dados como as características do paciente, seus dados clínicos e informações do acidente (FURTADO, 2015).

Na prática funciona assim: se a doença for de notificação obrigatória, segundo determina a Portaria n. 33 de 14 de julho de 2005, os municípios precisarão informar o sistema através da Ficha Individual de Notificação (FIN) ou da Ficha Individual de Investigação (FII) (BRASIL, 2005). Semanalmente, essas fichas são repassadas para as Secretarias Estaduais de Saúde (SES), que de forma quinzenal comunica à

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Secretaria de Vigilância à Saúde (SVS) que está vinculada ao Ministério da Saúde (IBGE, 2019b).

Com relação aos acidentes escorpiônicos, objeto da presente pesquisa, só entraram na lista de notificação compulsória em 2010 por força da Portaria n. 2.472 de 31 de agosto de 2010, uma vez que, por se tratar de um país tropical, propenso a acidentes com animais peçonhentos, vislumbrou-se a necessidade de acompanhamento dos casos em razão do alto número de notificações e, consequentemente, a busca de estratégias para melhor assistir a população (SINAN, 2016).

Não restam dúvidas quanto à importância do SINAN para a saúde pública brasileira. Como órgão estratégico, tornou-se peça importante no planejamento e no combate a várias doenças em território nacional, sendo imprescindível fonte de dados para os pesquisadores do Brasil e do mundo.

2.4 O escorpião

O Brasil registra por ano uma média de 110.000 acidentes em razão de picadas de animais peçonhentos. Aranhas, abelhas, cobras e escorpiões são os maiores responsáveis por tais ocorrências. Um dos principais estudiosos desta área foi o cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha (CARNEIRO et al., 2015).

Vital Brazil realizou estudos tendo como escopo principal a análise dos venenos produzidos pelos animais, a ação no corpo humano e o soro adequado para o tratamento (SILVA et al., 2005). Foi a partir de seus estudos que o Governo Federal começou a dar a devida importância ao tema e, consequentemente, deu-se início a aquisição e distribuição de antivenenos em todo o país (RECKZIEGEL, 2013).

Carneiro et al. (2015), explica o conceito de animais peçonhentos como “aqueles que possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes, ferrões, ou aguilhões, estruturas por onde o veneno é injetado”.

2.4.1 Características do animal

Entre os animais peçonhentos, encontra-se o escorpião. Ele pertence ao Filo Arthropoda (arthro: articulado/podos: pés), classe Arachnida (por terem oito patas) e da ordem Scorpiones, salientando que a palavra escorpião deriva do latim

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scorpio/scorpionis. A fauna escorpiônica brasileira é composta pelas famílias

Bothriuridae, Chactidae, Liochelidae e Buthidae. A família Buthidae representa 60% das espécies brasileiras (BRASIL, 2009).

Há registros desse animal que datam 400 milhões de anos. São carnívoros, tendo como principal fonte de alimentos outros insetos como, por exemplo, baratas, grilos e aranhas. Neste sentido, podem ser encontrados em locais próximos a lixos domésticos bem como em entulhos. Possui hábito noturno, motivo pelo qual é comum que os acidentes escorpiônicos ocorram neste período (GUERRA, 2007).

Os escorpiões são artrópodes, animais com esqueleto externo de quitina e proteína, apêndices articulados que, juntamente com aranhas, ácaros, carrapatos e outros animais menos conhecidos, formam o grupo dos aracnídeos, sendo comuns em regiões tropicais e subtropicais, tendo como uma de suas principais características a sua boa capacidade adaptativa (SILVA; TIBURCIO; CORREIA, 2005).

Figura 1. Morfologia do escorpião

Fonte: Manual de controle de escorpião (BRASIL, 2009).

É na parte final da cauda do animal, Télson, que há duas glândulas produtoras do veneno. A composição geral do veneno varia de acordo com a espécie, sendo que a gravidade do caso será de acordo com os sintomas apresentados pelas vítimas. Os casos são classificados em leve, moderado ou grave, sendo importante a classificação para a aplicação correta do soro antiescorpiônico. O veneno pode causar, por exemplo, dor local, náuseas, vômitos, sudorese e taquicardia (ARAÚJO, 2016).

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2.4.2 Escorpiões no Brasil

O Brasil contempla 131 espécies de escorpião, destacando-se a pessoa do Dr. Willson Lourenço como um dos grandes colaboradores no trabalho de descrição de várias espécies. Somente ele, descreveu 70 espécies entre os anos de 1982 e 2010 (FURTADO, 2015).

O Brasil passou a encarar os casos de escorpionismo como problema médico-sanitário, uma vez que as lesões causadas pelas picadas têm ocasionado quadros clínicos graves, até com registro de óbitos, sendo comuns os estudos das espécies

Tityus serrulatus, T. bahiensis e T. stigmurus (BARBOSA, 2016).

2.4.3 Gênero Tityus

Como já mencionado, esse gênero de escorpião ganha importância científica, uma vez que é responsável pelas ocorrências consideradas graves e por se adaptar facilmente em ambientes urbanos (BRASIL, 2009).

Figura 2. Filhotes de escorpião no dorso da fêmea

Fonte: Brasil (2009).

Ainda com relação ao gênero Tityus, pertencente à família Buthidae, sabe-se que seu período de gestação dura três meses e que os filhotes, recém-nascidos, ficam no dorso da mãe por alguns dias até a realização da primeira troca de pele. Com

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poucos dias após essa troca, o animal começa a ter vida independente. Percebe-se assim que são animais vivíparos.

2.4.3.1 T. stigmurus

Em Alagoas, a espécie preponderante em todo o estado é T. stigmurus.

Popularmente conhecida como escorpião amarelo, é uma das espécies causadoras

de acidentes graves (SILVA; TIBURCIO; CORREIA, 2005).

Figura 3. Espécie T. stigmurus

Fonte: Brasil (2009).

A espécie é caracterizada pela sua coloração amarelada e por uma faixa longitudinal de manchas escuras no dorso do mesossoma. Durante os meses quentes ocorre um notável crescimento na população dessa espécie, tendo como

consequência um aumento no número de acidentes (SILVA; TIBURCIO; CORREIA,

2005).

Durante o período de 2012 a 2016, os acidentes escorpiônicos foram responsáveis por 84,5% das notificações no estado de Alagoas. Não obstante, nenhum caso ocasionou mortalidade. Cerca de 88,6% destes acidentes foram oriundos da zona urbana, tendo como principais vítimas pessoas na faixa etária de 20 a 39 anos (SOUZA et al., 2017).

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Ainda com relação às informações acima citadas, Maceió foi a cidade alagoana que mais sofreu em virtude dos acidentes escorpiônicos. Foram 54,4% dos casos notificados, sendo a espécie T. stigmurus responsável por quase 100% dos acidentes. Atribuiu-se a expansão imobiliária, a falta de instrução da população, principalmente nos bairros periféricos, a falta de saneamento básico e a coleta de lixo deficiente, como fatores que contribuem para a perfeita condição de habitat do animal (SOUZA et al., 2017).

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3 MATERIAL E MÉTODO

Foi realizado um estudo retrospectivo/descritivo dos fatores que corroboram para a ocorrência do escorpionismo no município de Arapiraca-AL, tendo como foco bairros do município de Arapiraca com maior ocorrência de acidentes escorpiônicos.

A amostra foi composta pelo total de casos registrados nas Fichas de Investigação Epidemiológica do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde. Essas fichas são referentes aos acidentes por animais peçonhentos, sendo selecionados para este estudo, apenas os casos que tiveram o escorpião como animal envolvido no acidente, e cujas vítimas residiam no município de Arapiraca-AL, entre os anos de 2008 a 2018.

Dos casos notificados, no período supramencionado, após a verificação de registros duplicados e verificação de inconsistências, foram excluídas as notificações que não possuíam endereços para o georreferenciamento.

Também foram utilizados os dados obtidos pelo SINAN como faixa etária, sexo, bairro e dados climáticos como temperatura, umidade e precipitação, esses oriundos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

O geoprocessamento foi utilizado para identificar as possíveis alterações no ambiente no período do estudo, através de um banco de dados geográficos da área objeto, construído a partir de imagens de satélites e dados digitais disponibilizados por órgãos públicos, quais sejam: malha municipal (IBGE, 2010b); drenagem (CPRM, 2007); dados estatísticos de esgotamento sanitário por bairros (IBGE, 2010a); e dados climáticos (INMET, 2009). Estes dados foram levantados a partir de diversos órgãos de administração pública, disponibilizados em suas páginas na internet, em formato shapefile (SHP), ou extraídos de mapas temáticos.

Nesse sentido, para a determinação da relação espacial entre bairros e as áreas vulneráveis para escorpionismo foi adotado o QGIS, um Sistema Geográfico de Informação (SGI), licenciado sob a GNU “General Public License”, que suporta vários formatos vetoriais, raster, de banco de dados e outras funcionalidades (CASELA, 2019).

A partir desse conjunto de dados digitais, foram elaborados mapeamentos digitais (da evolução urbana da área de estudo, da distribuição do esgotamento sanitário por bairros, da ocorrência de acidentes escorpiônicos) baseados nos parâmetros definidos como pertinentes para a identificação dos fenômeno estudados,

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para a análise e identificação de indicadores e áreas de risco nas diversas regiões do município, utilizando os dados de incidência por bairro/ano.

Esta etapa do estudo refere-se à conjunção direta entre as variáveis levantadas para a construção da análise do escorpionismo no município de Arapiraca, onde relacionou-se as variáveis através do método de codificação Dummy, que indica a presença ou ausência de atributo, no qual as variáveis originais são transformadas em artificiais, assumindo valores de 0 ou 1, onde zero indica ausência de atributo e um, sua presença (GOMES, 2012).

Visto a inviabilidade da análise de correlação quando uma ou mais das variáveis apresentam tipo categórico nominal, portanto, torna-se necessário transformar os valores qualitativos em quantitativos.

Seguindo este método, para melhor análise no software, foram selecionadas as 3 variáveis que apresentaram dados estratificados por bairros e de maior relevância estatística (casos escorpiônicos, esgotamento sanitário, feiras livres) conforme o quadro a seguir, onde: 1 – representa presença da característica de interesse; 0 – representa ausência da característica de interesse.

Quadro 1. Variáveis transformadas em binárias.

Variáveis Codificação

1 0

Casos escorpiônicos

Bairros com mais de 28 acidentes;

Bairros com menos de 28 acidentes;

Esgotamento sanitário

Bairros com domicílios com porcentagem maior de 60% de esgotamento inadequado;

Bairros domicílios com

porcentagem menor de 60% de esgotamento inadequado;

Feiras Livres Bairros com presença de feiras

livres.

Bairros com ausência de feiras livres.

Fonte: Dados extraídos e compilados de IBGE (2010a); IBGE (2010b); CPRM (2007).

Por meio da estatística aplicada aos cartogramas de acidentes escorpiônicos e de esgotamento sanitário, foi possível identificar os valores altos e baixos da

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ocorrência do fenômeno. Estes valores foram utilizados para definir o ponto de corte para a geração do cartograma de análise dos casos escorpiônicos.

Foi considerada para o esgotamento sanitário, uma inadequação igual ou superior a 60%, e para os acidentes escorpiônicos, casos iguais ou superiores a 28, visto que, em termos operacionais, se adotado outros valores, não seria possível realizar a análise integrada dos cartogramas ou a aplicação do método Dummy.

Por fim, com o uso do QGIS, as variáveis artificiais foram sobrepostas, gerando uma base codificada de dados binária, contendo a correlação entre as áreas com escorpionismo e as áreas com fenômenos relevantes. Cabe ressaltar que as bases binárias iniciadas com 0 foram agrupadas como áreas com baixa/média concentração de casos escorpiônicos.

Os dados obtidos foram submetidos à estatística descritiva, estimados os coeficientes de correlações de Pearson entre as variáveis socioeconômicas e ambientais com a incidência de escorpião e uma análise de tendência com a série temporal. Também foi utilizado o teste do Qui-quadrado ao nível de 5% de probabilidade para comparar os percentuais de incidência entre as estações do ano. As análises foram realizadas utilizando-se os softwares Genes (CRUZ, 2016) e Action Stat 3.6.

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4 RESULTADOS

4.1 Análise descritiva/retrospectiva

No período da pesquisa foram notificados 9330 casos e houve uma variação entre 674 (em 2009) a 1144 (em 2018) e média geral de 848 notificações (Tabela 1). Constata-se que tem anos que a incidência reduz um pouco e depois volta a crescer no ano seguinte como no período que compreende 2008 a 2011. Entretanto, verifica-se períodos com casos crescentes como entre 2011 e 2014 e entre 2015 e 2018.

De acordo com os resultados apresentados na Tabela 1 e pelo Gráfico 1, constata-se que há uma tendência de um acentuado acréscimo para os próximos anos caso providências não sejam tomadas. Assim, como a ocorrência de escorpião está associada a condições inadequadas de saneamento, devido à proliferação de baratas (um dos alimentos do escorpião), políticas públicas em relação ao saneamento básico serão essenciais para que a incidência não aumente nos próximos anos.

Tabela 1. Acidentes escorpiônicos em Arapiraca no período compreendido entre 2008 e 2018.

Ano de notificação Número de casos % Taxa/100.000 hab

2008 720 7,72 2009 674 7,22 2010 853 9,14 398,59 2011 750 8,04 2012 755 8,09 346,11 2013 872 9,35 2014 927 9,94 2015 813 8,71 2016 833 8,93 358,02 2017 989 10,60 2018 1144 12,26 496,49 Total 9330 100,00 Média 848 9,09

Fonte: Fichas de investigação epidemiológica/Sistema de Informação de Agravos de Notificação/ Ministério da Saúde (SINAN, 2019).

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Gráfico 1. Análise de tendência de escorpionismo em Arapiraca, Alagoas.

Fonte: autor, 2019.

Os dados mostram que em Arapiraca, as ocorrências de acidentes escorpiônicos já ultrapassaram mil casos por ano. Comparando-se o período de 2008 a 2013, verifica-se um aumento de 152 casos, o que corresponde a um acréscimo de 21% de ocorrências. O aumento dos casos é ainda mais expressivo quando comparados os períodos compreendidos entre os anos de 2013 e 2018, devido ao acréscimo de 272 casos, o que representou em um aumento de 31% de ocorrência.

4.2 Análise Sazonal e climática

Com a finalidade de associar a ocorrência do escorpionismo e as variáveis climáticas, avaliou-se a incidência entre as estações do ano. Assim, verifica-se que não houve variações acentuadas entre as estações, evidenciando que, na região do estudo, o clima não tem influenciado na maior ou menor ocorrência de escorpião (Gráfico 2 e Tabela 2). Esse resultado difere de outros estudos realizados em outras regiões, os quais apontam que existe uma tendência de crescimento na população de

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escorpião nos meses mais quentes do ano (SILVA; TIBURCIO; CORREIA, 2005). Entretanto, essa hipótese pode não ter sido confirmada pelo fato de que na região de Arapiraca, a temperatura e outros dados climáticos não apresentam variações muito acentuadas.

Verifica-se na Tabela 2 que, em geral, os percentuais de ocorrência entre as estações do ano no período estudado não apresentaram variações significativas entre elas (p>0,05).

Gráfico 2. Número de casos de escorpionismo em Arapiraca de acordo com as estações do ano - 2008 a 2018.

Fonte: Fichas de investigação epidemiológica/Sistema de Informação de Agravos de Notificação/ Ministério da Saúde.

Tabela 2. Percentagem média de incidência por estação do ano.

Estação % de incidência

Primavera 24,87

Verão 25,71

Outono 25,89

Inverno 23,53

Não houve diferença estatística entre os percentuais das estações do ano a 5% de probabilidade pelo teste do Qui-Quadrado. Fonte: SINAN (2016).

0 50 100 150 200 250 300 350 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

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O gráfico 3 mostra os dados de temperatura mensal média do ar dos últimos 10 anos. Constata-se que a variação existente entre os meses é muito pequena.

Gráfico 3. Temperatura média mensal do ar de Arapiraca durante 10 anos.

Fonte: Silva (2019).

Da mesma forma da temperatura, a umidade mensal média de Arapiraca, no período estudado, apresentou pouca variação (GRÁFICO 4). Ressalta-se que o laboratório que fez o controle do clima do município, iniciou suas atividades em meados de 2008, bem como apresentou problemas em alguns meses dos anos de 2017, motivo pela qual, para efeitos dessa variável, o período investigado foi de 10 anos (SILVA, 2019).

Gráfico 4. Percentagem média de incidência por estação do ano. Temperatura média mensal do ar de Arapiraca durante 10 anos. Umidade relativa média mensal do ar de Arapiraca durante 10 anos.

Fonte: Silva (2019).

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Máx. 32,8 32,7 33,3 31,8 29,5 28,2 27,0 27,3 29,1 31,2 33,0 33,2 Méd. 26,0 26,0 26,5 25,8 24,4 23,3 22,3 22,1 23,2 24,7 25,7 26,0 Mín. 21,6 21,8 22,1 22,1 21,3 20,2 19,1 18,6 19,2 20,4 20,9 21,4 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 Tem p e ra tu ra d o A r (° C)

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Máx. 89,5 90,9 89,8 90,7 93,4 93,8 92,7 92,2 91,0 88,0 86,7 88,3 Méd. 68,7 70,5 70,0 75,0 82,1 83,3 82,1 79,6 75,0 69,2 64,8 66,1 Mín. 36,9 39,4 38,3 45,6 57,0 58,3 57,2 52,5 45,9 38,8 32,9 33,7 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0 U .R . M é d ia d o A r (% )

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Ao contrário da temperatura e umidade relativa do ar, a precipitação média mensal da cidade, ao longo do período estudado, apresentou grandes variações. O período chuvoso se inicia em meados de abril e se encerra entre agosto e setembro, como pode ser visto no Gráfico 5.

Gráfico 5. Precipitação média mensal de Arapiraca durante 10 anos.

Fonte: Silva, 2019.

Em nosso trabalho, a pouca variação de precipitação entre os meses pode ser atribuída às condições climáticas da região estudada, que é caracterizada por uma temperatura média anual de 28ºC. Além disso, a temperatura nesta região varia pouco entre o verão e o inverno, especialmente quando comparada com as regiões Sul e Sudeste. Esta condição climática estável favorece a reprodução de escorpiões, levando à ocorrência de casos em todo o ano. Assim, as ações preventivas contra picadas de escorpião devem ser realizadas durante todos os meses do ano.

Com a finalidade de verificar possíveis correlações entre a ocorrência de escorpionismo e as variáveis climáticas, foram estimadas as correlações de Pearson como pode ser visto na Tabela 3. Constatou-se que não houve correlação significativa (p>0,05) entre as variáveis climáticas e a incidência de escorpião. Esses resultados evidenciam que outras variáveis são responsáveis pela incidência de escorpião na região.

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

2009 12,6 61,0 75,0 75,8 289,0 212,8 90,0 204,6 2,2 84,8 5,4 76,0 2010 68,2 76,6 28,0 131,6 72,6 263,4 187,2 81,0 92,6 93,2 1,2 10,8 2011 71,0 28,2 3,6 226,2 174,8 86,0 207,6 77,8 150,0 8,2 68,4 0,8 2012 15,0 139,0 11,6 46,2 76,0 159,6 128,4 50,8 18,8 1,6 3,4 2013 7,6 8,0 17,6 194,0 127,4 80,4 139,6 103,0 22,4 62,0 5,2 89,6 2014 14,2 27,2 17,0 136,2 190,4 116,8 174,4 103,6 63,6 150,0 16,0 6,4 2015 4,2 25,6 81,2 13,6 58,8 225,2 132,2 50,8 29,2 27,6 4,8 50,4 2016 38,2 18,0 59,6 89,2 101,6 104,2 69,0 9,8 1,4 4,4 Média 28,9 48,0 36,7 123,8 132,6 145,6 145,0 107,0 58,7 56,8 13,0 30,2 0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0 P re c ipit a ç ã o ( m m )

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Tabela 3. Estimativas de correlações (r) entre variáveis climáticas e a incidência de escorpião no período de 2008 a 2018 em Arapiraca, Alagoas.

Incidência escorpião r Temperatura média 0,27 Precipitação média -0,13 Umidade do ar -0,24 Amplitude média 0,04 Fonte: autor, 2019.

4.3 Análise do perfil da vítima

No presente tópico foram investigados os acidentes por faixa etária, local da picada, sexo e ocupação, conforme pode ser observado na Tabela 4.

Tabela 4. Acidentes escorpiônicos em Arapiraca por faixa etária em 11 anos.

Faixa etária 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total < 1 0,69 0,74 0,58 1,60 0,79 0,91 1,29 1,35 1,56 1,61 0,26 96 1 a 4 5,27 4,45 4,45 5,60 5,96 5,61 4,42 5,53 4,44 4,34 4,89 464 5 a 9 9,44 7,56 6,09 5,33 6,35 5,96 7,01 5,53 6,48 5,15 6,99 606 10 a 14 10,83 9,05 9,49 9,33 7,81 7,33 7,22 6,76 7,80 7,58 7,69 763 15 a 19 10,69 12,46 11,01 10,80 9,80 9,97 9,16 9,96 9,36 10,61 8,74 946 20 a 29 18,47 19,58 18,87 18,93 20,26 18,80 16,72 12,20 17,52 19,31 18,35 1727 30 a 39 14,0 14,24 15,82 17,20 14,56 15,48 17,90 15,86 15,48 13,85 16,60 1457 40 a 49 12,36 12,01 12,66 11,86 14,43 13,76 12,94 14,51 13,80 13,34 12,67 1226 50 a 59 9,16 7,56 11,95 7,86 7,41 10,66 12,18 11,19 11,04 11,32 9,96 949 60 a 69 4,86 8,45 6,56 7,46 8,47 7,22 6,68 7,25 7,08 6,77 8,21 672 70 a 79 3,47 3,11 1,87 2,93 2,91 3,32 3,99 3,56 3,84 4,14 4,02 320 > 80 0,69 0,74 0,58 1,06 1,19 0,91 0,43 1,23 1,56 1,92 1,57 104 TOTAL 99,93 99,95 99,93 99,96 99,94 99,93 99,94 99,93 99,96 99,94 99,95 9330 Fonte: Fichas de investigação epidemiológica/Sistema de Informação de Agravos de Notificação/ Ministério da Saúde.

Pode ser notado que os maiores números de vítimas estão na faixa etária de 20 a 29 anos. No entanto, a tabela mostra que esses números permanecem altos até a faixa etária de 50 a 59 anos.

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Tabela 5. Acidentes escorpiônicos em Arapiraca conforme o local da picada no período de 11 anos. Local da picada 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total Ign*/Em branco 15,97 11,12 9,73 14,53 8,60 6,88 9,06 8,85 17,88 14,86 13,28 1111 Cabeça 1,52 1,63 1,17 3,73 3,57 2,63 3,45 2,70 1,56 2,32 2,18 225 Braço 2,91 4,89 3,75 2,26 3,04 3,44 2,80 2,46 3,60 3,53 3,84 311 Antebraço 1,94 3,11 2,81 1,46 3,31 2,40 2,91 2,33 1,56 1,31 1,31 203 Mão 19,58 14,39 17,58 14,6 11,65 15,71 12,72 13,53 13,44 13,95 12,32 1342 Dedo da mão 11,94 18,24 16,99 17,06 16,68 16,74 18,66 17,09 12,96 13,95 14,33 1476 Tronco 4,72 5,34 3,98 3,46 4,50 4,93 5,28 4,67 4,44 7,28 7,60 490 Coxa 2,63 2,22 2,11 2,93 1,98 2,40 4,20 3,93 3,0 3,23 3,32 276 Perna 4,58 5,78 4,45 3,33 4,50 4,01 4,53 3,32 3,72 2,83 4,28 381 Pé 27,36 23,73 27,54 28,93 31,71 30,96 27,29 35,0 30,97 29,82 29,98 2760 Dedo do pé 6,80 9,49 9,84 7,60 9,40 9,86 9,06 6,02 6,84 6,87 7,51 755 Fonte: Fichas de investigação epidemiológica/Sistema de Informação de Agravos de Notificação/ Ministério da Saúde (*Ignorado).

Os adultos em atividade laboral têm sido as principais vítimas, uma vez que tem prevalecido como local da picada do escorpião no corpo humano as mãos, os pés, os dedos das mãos e os dedos dos pés.

Quanto ao sexo, as mulheres são as mais acidentadas, com aproximadamente 61% das ocorrências.

Tabela 6. Acidentes escorpiônicos em Arapiraca de acordo com o sexo da vítima no período de 11 anos.

Sexo 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Masculino 38,61 40,35 39,03 36.93 39,86 38,87 37,54 37,63 39,37 39,83 40,90 3644 Feminino 61,38 59,64 60,96 63,03 60,13 61,12 62,45 62,36 60,62 60,16 59,09 5686 Fonte: Fichas de investigação epidemiológica/Sistema de Informação de Agravos de Notificação/ Ministério da Saúde.

4.4 Análise do escorpionismo na zona urbana de Arapiraca

Não restam dúvidas que Arapiraca tem sido uma das cidades brasileiras que mais tem se destacado no aspecto crescimento econômico. O que parecia ser uma boa notícia, aparentemente, tem sido um problema de ordem socioambiental.

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Figura 4. Resíduos de construção civil.

Fonte: o autor, 2019.

A figura mostra uma realidade muito comum nas ruas da cidade. Principalmente nos bairros próximos ao centro da cidade, onde é normal se deparar com novos pontos comerciais, ou seja, o acúmulo de resíduos oriundos de reformas é constante.

Na figura 5, encontra-se o mapa com os principais bairros de Arapiraca e a percentagem de saneamento básico deles. Verifica-se que a maior parte dos bairros apresentam condições inadequadas de saneamento. Esse mapa evidencia que a elevada ocorrência de escorpionismo em Arapiraca deve-se a falta de saneamento básico, o que gera a presença de baratas e consequentemente atrai os escorpiões.

Os bairros de Arapiraca apresentam infraestrutura deficitária, conforme o mapeamento, com 21 bairros caracterizados entre 80 e 100% de esgotamento sanitário inadequado, ou seja, 55% dos bairros na área de estudo não possuem fossa séptica ou não estão ligados à rede geral de esgoto, portanto, o despejo dos resíduos são realizados em valas, lagoas e rios ou em fossas rudimentares (FIGURA 7).

Os dados do IBGE (2010a) demonstraram que a cidade possui apenas 20% de saneamento básico. Ressalta-se que somente 2 bairros, Manoel Teles e Verdes Campos, corresponderam a 20-40% de esgotamento sanitário inadequado.

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Figura 5. Mapa com a porcentagem de domicílios com esgotamento sanitário inadequado nos bairros da zona urbana de Arapiraca-AL, no período de 2008 a 2018.

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Figura 6. Mapa com a análise dos casos escorpiônicos nos bairros de Arapiraca-AL.

Fonte: autor, 2019.

A figura 6 mostra que a junção das variáveis: feira livre e ausência de esgotamento sanitário potencializam a ocorrência de acidentes escorpiônicos.

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Importante destacar que outros bairros também apresentaram alta concentração dos casos, sendo eles os bairros Caititus, Canafistula e o Centro da cidade. Em comum a todos eles é o fato da realização de feiras livres (FIGURA 8), atividade econômica importante para a cidade, não obstante, sem as devidas condições de higiene. Foi possível verificar esgoto perto dos produtos comercializados, bem como resíduos sólidos espalhados pelas ruas e calçadas da cidade, destacando sangue e restos dos animais (carne e peixe) abatidos.

Figura 7. Saneamento básico em Arapiraca

Fonte: autor, 2019.

Figura 8. Feira do Bairro Brasília.

Fonte: autor, 2019.

Os dados de notificações de acidentes escorpiônicos por bairro encontram-se na Tabela 7. Verificou-se que os bairros Brasília e Primavera têm apresentados

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números bem elevados se comparados aos demais bairros da cidade. O primeiro registrou, em 10 anos, um total de 881 casos, e o segundo apresentou o número de 1228 casos.

Tabela 7. Notificações média de escorpião por bairro e respectivos percentuais relativo ao período de 2008 a 2018 em Arapiraca, AL. Bairro NA % Primavera 147,30 17,37** Brasília 105,66 12,46** Cacimbas 56,82 6,70 * Centro 44,01 5,19 Canafistula 41,21 4,86 Alto do Cruzeiro 37,82 4,46 Baixão 36,29 4,28 Cavaco 31,21 3,68 Baixa Grande 26,88 3,17 Jardim Planalto 26,71 3,15 Caititus 26,12 3,08 Manoel Teles 23,66 2,79 Jardim Esperança 22,39 2,64 São Luiz 22,05 2,60 Eldorado 20,61 2,43 Boa Vista 17,38 2,05 Nova Esperança 15,43 1,82 Ouro Preto 15,43 1,82 Santa Esmeralda 14,75 1,74 Jardim Tropical 13,40 1,58 Caititus2 13,23 1,56 Guaribas 10,18 1,20 Capiatã 8,65 1,02 Novo Horizonte 8,39 0,99 Itapoã 8,39 0,99 Brasiliana 7,89 0,93 Nilo Coelho 7,21 0,85 Santa Esmeralda 6,61 0,78 Arnon de Melo 6,19 0,73 Verdes Campos 5,17 0,61 Capiatã 2 4,58 0,54 Brasiliana 2 4,07 0,48 Rosa Cruz 3,14 0,37 Teotônio Vilela 2,63 0,31 Jardim Paineiras 2,37 0,28 Poço Frio 1,78 0,21 Rosa Cruz 2 0,93 0,11 Jardim Planalto 0,68 0,08 Total 848 100 Média 22,32 2,63

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Em dias de feira livre, a depender dos bairros, muitos resíduos são produzidos oriundos desta atividade econômica. São restos de animais e de comida que se espalham ao longo das feiras. Informações contidas no site da prefeitura de Arapiraca mostram os bairros que realizam a mencionada atividade, são: Centro; Baixão; Brasília; Primavera; Itapuã; Senador Teotônio Vilela; Jardim Esperança e Canafistula (ARAPIRACA, 2019d).

O bairro Brasília já registrou mais de 100 casos de acidentes por ano, sendo eles nos anos de 2012, 2014 e 2018. Já o bairro Primavera tem registrado mais de 100 ocorrências por ano desde 2010, mantendo um padrão elevado em seus números (SINAN, 2018).

Agrava a situação o fato destes resíduos permanecerem nas ruas por longos períodos de tempo. Além disso, a coleta dos resíduos domésticos não é realizada diariamente, sendo realizada por dias, turnos e zoneamento (urbana/rural), de forma alternada, a depender da localização dos bairros (ARAPIRACA, 2019c).

Mas não é somente o poder público que tem sido omisso quanto às suas responsabilidades no quesito limpeza. O Bosque das Arapiracas, parque onde normalmente ocorrem os principais eventos, localizado no centro da cidade, é um exemplo negativo do comportamento antrópico da população arapiraquense; foi feita a análise por meio de visita ao local com registro de imagens (FIGURAS 9 e 10).

Figura 9. Bosque das Arapiracas.

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Figura 10. Ausência de saneamento do Bosque das Arapiracas.

Fonte: o autor.

As figuras inseridas demonstraram a falta de educação da população bem como o descaso da prefeitura municipal. Observou-se que a coleta de lixo não é diária e que não há incentivos à coleta seletiva de resíduos sólidos, alarmando, ainda, as péssimas condições de saneamento básico em toda a cidade.

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5 DISCUSSÃO

No munícipio de Arapiraca-AL, os acidentes escorpiônicos, no período de 2008 a 2018, apresentaram uma média geral de 848 notificações. Considerando-se a taxa de ocorrência por 100.000 habitantes, verificou-se que os dados são muito elevados em relação a outras regiões como as relatadas por Mesquita et al. (2015) para o período entre 2002 a 2012, que foram da ordem de 5,13 a 31,58.

Furtado (2015) comenta que no Ceará também houve aumento durante o período de 2007 a 2013, tendo uma incidência média anual de 18,57 casos/100.000 habitantes. Para ele, o aumento pode ser explicado por vários motivos como, por exemplo, o crescimento desordenado das cidades, a boa capacidade de adaptação dos escorpiões em áreas urbanas, a melhoria do sistema de notificação e o maior conhecimento da população sobre a necessidade da notificação do acidente no hospital credenciado para o atendimento e a maior degradação ambiental próximas das cidades.

As péssimas condições de saneamento básico de Arapiraca podem ser verificadas, também, em todo o estado de Alagoas. Ribeiro (2014) demonstra que no Nordeste, Alagoas só está à frente dos estados do Maranhão e Piauí no quesito esgotamento sanitário. No estado alagoano, em 2008, somente 9,6% dos domicílios possuía rede de esgoto. Para o autor, esse pode ser o fator que fez com que Alagoas se tornasse o estado do Nordeste com mais ocorrência de escorpionismo no período de 2000 a 2009, tendo a incidência média de 82,5/100.000 hab.

Lira da Silva et al. (2009) investigaram casos de acidentes escorpiônicos na cidade de Salvador, tendo a pesquisa compreendido o período de 1982 a 2000. Perceberam que a espécie mais comum foi a T. stigmurus com 64,1% dos casos, destacando a boa capacidade adaptativa da espécie ao ambiente urbano. Notou um crescimento dos números de picadas na década de 90, atribuindo ao aumento três fatores: 1 - crescimento urbano desorganizado da cidade de Salvador; 2 - baixas condições socioeconômicas de alguns bairros; 3 - o maior conhecimento da população referente ao serviço de coleta de dados.

Mesquita et al. (2015) entendem que o crescente aumento do número de notificações no estado de Sergipe pode estar relacionado com a forma de coleta dos dados, sendo que o aumento começou a partir do ano de 2008, defendendo, também,

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que o aumento pode estar ocorrendo em virtude do crescimento desordenado das áreas urbanas, associado às precárias condições de moradia e saneamento básico.

A cidade arapiraquense tem passado por um processo de verticalização, sendo muito comum encontrar, nos bairros próximos ao centro, resíduos sólidos oriundos de reformas. Sabe-se que tais entulhos contribuem para o aumento de temperatura, aliado ao fato da escassa arborização do município e das residências não serem adequadas para a circulação do ar. Além disso, Arapiraca é caracterizada por ser uma cidade horizontal de sombreamento precário (SILVA, 2019).

Os dados obtidos mostram que as variáveis climáticas na região Nordeste não é fator preponderante para o escorpionismo, destacando que nas regiões onde as estações são mais definidas é possível notar uma variação maior no número de casos. Estudos corroboram os resultados obtidos como os Barbosa (2004); Barros et al. (2014); Lira da Silva et al. (2009). Nesses estudos, verificou-se que os casos foram bem distribuídos ao longo dos anos, sem variações significantes entre os meses.

Neste trabalho, a pouca variação entre os meses pode ser atribuída às condições climáticas da região estudada, que é caracterizada por uma temperatura média anual de 28ºC. Além disso, a temperatura nesta região varia pouco entre o verão e o inverno, especialmente quando comparada com as regiões Sul e Sudeste. Esta condição climática estável favorece a reprodução de escorpiões, levando à ocorrência de casos em todo o ano. Assim, as ações preventivas contra picadas de escorpião devem ser realizadas durante todos os meses do ano.

No que diz respeito aos acidentes escorpiônicos em nosso estudo, a mulher na faixa etária de 20 a 29 anos é a vítima mais comum dos acidentes. Em uma pesquisa realizada na cidade de Belo Horizonte, durante os anos de 1993 e 1996, mostrou que o perfil das vítimas de acidentes escorpiônicos pertencia à faixa etária de 25 a 49 anos (138 casos, 39,2%), sendo destacado que a gravidade dos acidentes é maior na faixa etária < 15 anos e > 60 anos, uma vez que nestes casos há risco de morte (NUNES; BEVILACQUA, JARDIM, 2000).

As mãos e os pés também foram as partes do corpo humano mais vulneráveis aos ataques do escorpião em pesquisa ocorrida na cidade de Salvador durante os anos de 1999 e 2000. Outro ponto em comum foi a constatação do ambiente doméstico, como o local mais frequente para os acidentes (BARBOSA, 2003).

Furtado (2015) entende que o risco de escorpionismo é inerente às atividades domésticas rotineiras, com impacto significativo sobre as crianças, que apresentam

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maior risco de morte do que os adultos. Explica também, que em alguns países, a maioria dos casos de escorpionismo ocorrem na zona rural, como acontece no Irã e no México, mostrando que há diferença na zona de ocorrência dos acidentes entre o Brasil e outros países.

É comum encontrar lixos espalhados por toda sua área verde, principalmente em dias de eventos culturais, mesmo existindo lixeiras públicas disponíveis à população. Os resíduos ficam espalhados por dias até que a prefeitura realize a limpeza do local. A falta de educação ambiental dos munícipes tem contribuído para o agravamento da poluição da cidade.

Para Philippi Junior et al. (2014) é preciso investir na educação ambiental da população, sendo esta a chave para uma eficaz gestão ambiental, tanto nas áreas urbanas quantos nas áreas rurais, pois é preciso elevar o grau de educação da população local para que tal eficácia ocorra. Acrescenta que os conceitos de saúde, saúde pública, saneamento e meio ambiente estão interligados. Por isso, tais ciências, atualmente, são estudadas conjuntamente, formando novos ramos do conhecimento humano. O somatório desses conhecimentos originou o termo saúde ambiental, uma vez que as atividades humanas e os fatores ligados às condições socioeconômicas e ambientais podem potencializar os casos de doenças, mortes e lesões, principalmente entre os grupos vulneráveis como populações carentes, mulheres e crianças.

Corroborando com o entendimento de Philippi Junior et al. (2014), Guedes e Guedes (2007) salientaram a necessidade da gestão pública destinar atenção aos fatores de saneamento básico, tratamento de água e esgoto, drenagem de águas pluviais e a coleta de resíduos sólidos. Explicam que disposição de resíduos em locais não apropriados podem trazer epidemias como historicamente a pulga do rato fora responsável pela peste bubônica durante a Idade Média.

Por todas as razões levantadas, é compreensível entender o porquê do aumento dos acidentes escorpiônicos no município. Fatores antrópicos e a omissão do poder público, destacando-se a falta de políticas públicas voltadas à limpeza da cidade e conscientização da população, têm contribuído para perfeitas condições de habitats para o escorpião, seja pela sujeira acumulada, seja em inúmeros terrenos baldios existentes em toda a cidade.

A análise do escorpionismo no município de Arapiraca, através dos dados de esgotamento sanitário inadequado e da presença de feiras livres, considerou iterações

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possíveis entre essas variáveis por bairros, de forma a destacar somente as vulnerabilidades existentes na região em questão.

Apesar de ser um polo do ensino superior na região, as informações obtidas no IBGE demonstraram que o indicador educação básica não é satisfatório. Constatou-se que a cidade é uma das piores a nível nacional, quando o foco são as escolas públicas. Se comparada com outras cidades alagoanas, sua posição é a 40º no estado.

A população e o próprio poder público também são responsáveis pela elevação do aumento de casos escorpionismo, sendo observado lixo espalhado pelas ruas e praças da cidade, mesmo havendo lixeiras para o depósito de tais materiais.

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6 CONCLUSÃO

Em relação aos casos de acidentes escorpiônicos, o munícipio de Arapiraca-AL registrou elevado número de casos nos últimos 11 anos, tendo uma tendência de aumento dos casos apresentados. Ficou evidente que durante o período de estudo não existiu relação estatística quando se correlacionou fatores climáticos aos acidentes escorpiônicos. Por sua vez, ao verificar os resultados da análise de geoprocessamento foi visto que fatores antrópicos têm sido motivadores da potencialização da ocorrência desses acidentes, possivelmente devida à falta de educação ambiental associada à falta de políticas públicas. Desta forma, existe a necessidade da realização de campanhas de educação ambiental voltadas para diminuição no registro do número de acidentes escorpiônicos no município de Arapiraca-AL.

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