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Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade

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Academic year: 2021

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Cópias da sentença do 17.° Juízo Cível da Comarca de Lisboa e do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferidos no processo de registo de nome de estabelecimento n.° 34 054.

A Caféeira, L.da, com sede na Estrada para Pirescoxe, Anaia, Santa Iria da Azoia, veio interpor o presente re- curso do despacho do Ex.mo Sr. Director-Geral do Insti- tuto Nacional da Propriedade Industrial de 22 de Dezem- bro de 1994, publicado no Boletim da Propriedade Industrial de 30 de Junho de 1995, que concedeu o regis- to do nome de estabelecimento «Cafeeira de Torres».

Alegou, em resumo, que:

A recorrente foi constituída em 2 de Julho de 1936 com a denominação que ainda hoje mantém.

É vulgarmente denominada pelo público em geral e em especial pelos seus clientes simplesmente por «Caféeira». Tem por objecto social o comércio de cafés, chás, ca- caus, mercearias, arroz, bacalhau e açúcares, mas desde sempre concentrou a tónica da sua actividade na importa- ção, torrefacção e venda de cafés.

Actualmente cobre com as suas vendas de café todo o território nacional, tendo escritórios e lojas de distribui- ção no Porto, Funchal, Olhão, Coimbra e Lisboa.

Além da denominação que usa, registada em 1939, é também titular do nome de estabelecimento n.° 17 021, «A Caféeira, Limitada», registado em 28 de Novembro de 1940, da marca n.° 246 630, A Caféeira, L.da, e da insíg- nia n.° 7285, «A Caféeira».

A Cafeeira de Torres, L.da, constituiu-se por escritura de 28 de Março de 1990 e tem por objecto a importação, torrefacção e comercialização de café, bebidas, aperitivos e outros produtos alimentares.

Tanto a recorrente como a Cafeeira de Torres, L.da, têm por objecto o comércio de café, ambas distribuem os seus produtos em todo o País e a sua clientela é potencialmen- te a mesma.

É manifesto o risco de confusão entre a denominação, a marca, o nome de estabelecimento e a insígnia da re- corrente com o nome de estabelecimento «Cafeeira de Torres», a que foi concedido o registo pelo despacho re- corrido, dado que tal nome de estabelecimento tem como elemento preponderante a palavra «Cafeeira», idêntica ao sinal distintivo utilizado pela recorrente.

Constituindo uma reprodução ou pelo menos imitação do elemento característico e distintivo dos sinais anterior- mente registado em nome da recorrente, o elemento «Cafeeira» não pode fazer parte do nome de estabeleci- mento de uma sociedade concorrente.

Conclui que o despacho recorrido é ilegal, porque não só não respeita as disposições gerais concernentes ao nome de estabelecimento como propicia as possibilida- des de concorrência desleal e sobretudo contende com os direitos privativos de propriedade industrial cuja pro- priedade e uso pertencem à recorrente, pelo que deve ser revogado.

Foi dado cumprimento ao disposto no artigo 40.°, n.° 1, do Código da Propriedade Industrial.

A Direcção do Serviço de Marcas respondeu nos ter- mos sucintos constantes a fl. 30, admitindo que o nome de estabelecimento a que foi concedido o registo pelo despacho recorrido é susceptível de se confundir com a denominação e a marca da recorrente, ambas prioritárias e com notoriedade no País, concluindo que, embora a questão ofereça dúvidas, a recorrente parece ter razão. Notificada, a Cafeeira de Torres, L.", respondeu ale- gando, em resumo, que:

Estando em causa um despacho do director-geral do Instituto Nacional da Propriedade Industrial proferido no exercício de funções administrativas, o recurso de tal des- pacho deveria ser interposto para os tribunais administra- tivos, sendo incompetente o tribunal cível.

Caso assim se não entenda o recurso deverá ser julga- do improcedente.

É que o termo «Cafceira» constitui a designação cor- rente da actividade de indústria e comercialização de ca- fés.

Sendo tal designação usual na linguagem corrente como caracterizadora de determinada actividade, não é só por si susceptível de apropriação.

O nome de estabelecimento «Cafeeira de Torres» não se confunde com as marcas, insígnias e nome de estabe- lecimento invocados pela recorrente, dado que o único elemento comum é a designação da actividade, ou seja, o termo «Cafeeira», insusceptível de apropriação exclusiva.

Tudo visto, cumpre apreciar e decidir.

A requerente do registo excepcionou a incompetência absoluta deste tribunal, defendendo ser competente para o recurso o tribunal administrativo.

Carece, porém, de razão.

O artigo 2.° do Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro, que aprovou o actual Código da Propriedade Industrial, determina o seguinte:

Mantém-se a competência do Tribunal da Comarca de Lisboa nos precisos termos que lhe é atribuída pelo artigo 203.° do Código da Propriedade Industrial, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 30 679, de 24 de Agos- to de 1940.

Ora, o artigo 203.° do Código de 1940 dispõe que: Dos despachos por que se concederem ou recusa- rem as patentes, depósitos ou registos haverá recur- so para o Tribunal da Comarca de Lisboa.

Como assim, estando em causa um despacho que con- cedeu um registo, é este tribunal o competente para apre- ciar o recurso e não o tribunal administrativo.

Julgo, pois, improcedente a deduzida excepção da in- competência absoluta.

O processo não enferma de nulidades.

As partes são dotadas de personalidade e capacidade judiciária e têm legitimidade.

Inexistem outras excepções ou questões prévias de que cumpra conhecer.

Por acordo das partes, face aos elementos juntos pela recorrente e aos elementos constantes do processo n.° 34 054 da Direcção do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, apuram-se os seguin- tes factos, com interesse para a decisão.

1) Em 28 de Agosto de 1990 a sociedade Cafeeira de Torres, L.da, requereu ao Ex.mo Sr. Director do

(2)

Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Pro- priedade Industrial o registo do nome de estabe- lecimento «Cafeeira de Torres»;

2) A Caféeira, L.da, reclamou contra tal pedido, opondo o registo anterior da marca A Caféeira, L.da, do nome de estabelecimento «A Caféeira, Limitada», da sua denominação e da insígnia «A Caféeira»;

3) Os serviços técnicos do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial emi- tiram, em 22 de Dezembro de 1994, um parecer nos seguintes termos: «Não são confundíveis as peças em litígio uma vez que o nome reclamado não é composto somente pela palavra 'Cafeeira'. Na realidade, é a globalidade que constitui um nome que o individualiza e distingue dos restan- tes. A requerente possui a denominação social cuja-parte característica é igual ao nome pedido. Assim, proponho, de conceder o registo»; 4) O chefe de divisão lavrou na mesma data despa-

cho com o seguinte teor: «Concordo»;

5) Na mesma data o Sr. Director do Serviço de Marcas proferiu o despacho seguinte: «Concordo e defiro»;

6) O referido despacho foi publicado no Boletim da Propriedade Industrial de 30 de Junho de 1995; 7) A Caféeira, L.da, foi constituída em 1936 e tem por objecto o comércio de cafés, chás, cacaus, mercearias, arroz, bacalhau e açúcares;

8) Desde sempre se dedicou, como principal activi- dade, à importação, torrefacção e venda de ca- fés;

9) Exerce a sua actividade em todo o território na- cional, tendo escritórios e lojas de distribuição no Porto, Funchal, Olhão, Coimbra e Lisboa; 10) É titular do nome de estabelecimento n.° 17 021,

«A Caféeira, Limitada», desde 28 de Novembro de 1940, da marca n.° 246 630, A Caféeira, L.da, destinada a assinalar café em grão, moído, solú- vel e sucedâneos do café, cujo registo foi reque- rido em 8 de Abril de 1988, e da insígnia n.° 7285, «A Caféeira», desde 18 de Setembro de

1989;

11) A Cafeeira de Torres, L.da, foi constituída em 1990 e tem por objecto a importação, torrefac- ção e comercialização de café, bebidas e outros produtos alimentares;

12) Por Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 14 de Março de 1996, confirmada por Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de Janeiro de 1997, foi revogado o despacho que admitira a denominação Cafeeira de Torres, L.da.

Face aos factos apurados, cumpre aplicar o direito. O nome e a insígnia de estabelecimento destinam-se a facilitar a identificação da empresa e a conferir-lhe noto- riedade, servindo para designar e individualizar o próprio estabelecimento (artigo 145.° do Código da Propriedade Industrial vigente à data em que foi proferido o despacho recorrido e artigo 228.° do actual Código da Propriedade Industrial).

Embora o nome de estabelecimento possa ser consti- tuído com grande liberdade, a lei impõe algumas restrições. Assim, no Código da Propriedade Industrial vigente à data em que foi proferido o despacho recorrido tinham que ser tidas em conta as disposições restritivas constantes do

artigo 144.° daquele Código e actualmente as constantes do artigo 231.° do novo Código da Propriedade Industrial. A par de outras limitações, tais preceitos consagram os princípios da verdade e da novidade ou do exclusivismo, em ordem a evitar a confusão do consumidor comum. Concretizando tais princípios dispõem que não podem fazer parte do nome de estabelecimento, entre outros, os seguintes elementos: a firma ou denominação social que não pertencem ao dono do estabelecimento; os elementos constitutivos de marca registada por outrem para os pro- dutos que se fabriquem ou vendam no estabelecimento a que se pretende dar o nome; o nome que seja reprodução ou imitação de nome ou insígnia já registados por outrem; o nome que em todos ou alguns dos elementos contenha reprodução ou imitação total ou parcial de marca ante- riormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confu- são no mercado [n.os 1.°, 5.°, 6.° e 7.° do artigo 144.° e n.° 12.° do artigo 93.° do Código da Propriedade Indus- trial vigente à data em que foi proferido o despacho re- corrido e artigo 231.°, alíneas a), e), f) e g), e artigo 189.°, n.° 1, alínea m), do actual Código da Propriedade Indus- trial].

O nome de estabelecimento a que foi concedido o re- gisto pelo despacho recorrido tem como elemento funda- mental a palavra «Cafeeira».

O elemento «de Torres» indica apenas o local do esta- belecimento, não tendo eficácia distintiva.

Sendo também o elemento fundamental e distintivo da denominação, da marca, do nome de estabelecimento e da insígnia da recorrente anteriormente registadas, o termo «Cafeeira» não pode, por força do disposto nas disposi- ções legais acima citadas, fazer parte do nome do estabe- lecimento de outra sociedade concorrente.

Defende a requerente do registo que a palavra «Ca- feeira» é usual na linguagem corrente como caracteriza- dora da actividade de indústria de cafés, pelo que não seria susceptível de apropriação exclusiva.

Entendo que não tem razão, pois tal palavra nem se- quer consta de qualquer dos principais dicionários de lín- gua portuguesa.

Mas a ser verdadeira a tese da requerente do registo, então tal palavra também por esse facto não poderia fazer parte do nome de estabelecimento a que foi concedido o registo pelo despacho recorrido [artigos 144.°, n.° 5.°, e 79.°, § 1.°, do antigo Código da Propriedade Industrial e artigos 231.°, n.° 1, alínea e), e )88.°, n.° 1, alínea b), do actual], sendo que não cabe no âmbito do presente recur- so apreciar os despachos que concederam os registos da marca, do nome de estabelecimento e da insígnia da re- corrente, os quais enquanto se mantiverem em vigor con- ferem à recorrente o direito ao seu uso exclusivo.

Decisão.

Pelo exposto, julgo o recurso procedente e, conse- quentemente, revogo o despacho proferido em 22 de De- zembro de 1994, publicado no Boletim da Propriedade Industrial de 30 de Junho de 1995, que concedeu o regis- to do nome de estabelecimento «Cafeeita de Torres» re- querido pela sociedade Cafeeira de Torres, L.da

Custas pela requerente do registo, Cafeeira de Tor- res, L.da

Notifique e registe.

Após trânsito cumpra-se o disposto no artigo 44.° do actual Código da Propriedade Industrial.

(3)

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

Cafeeira de Torres, L.da, requereu, no dia 28 de Agos- to de 1990, ao Instituto Nacional da Propriedade Indus- trial o registo do nome do estabelecimento «Cafeeira de Torres», o que foi deferido por despacho de 22 de De- zembro de 1992, publicado no Diário da República de 30 de Junho de 1995, não obstante a impugnação de A Caféeira, L.da

Interpôs A Caféeira, L.da, para o tribunal de 1.ª instân- cia recurso do referido despacho, com fundamento na sus- ceptibilidade de lançar o consumidor em erro ou confusão e, consequentemente, na violação das normas relativas ao nome do estabelecimento, com propiciação da concorrên- cia desleal.

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial respon- deu que a firma é passível de anulação por se confundir com a conhecida denominação «A Cafécira» e com a sua marca, ambas prioritárias e com notoriedade no País.

Cafeeira de Torres, L.da, respondeu, por seu turno, em tanto quanto releva no recurso, estar em causa o registo do nome do estabelecimento «Cafeeira de Torres», que se não confunde com as marcas, insígnias ou com o nome do estabelecimento de A Cafeeira, L.da

O tribunal de 1.ª instância, com fundamento no ele- mento comum «Cafeeira» e no facto de o elemento de «Torres» não ter eficácia distintiva, por apenas se referir ao local do estabelecimento, concedeu provimento ao re- curso.

Apelou a Cafeeira de Torres, L.da, concluindo: O nome de estabelecimento «Cafeeira de Torres» não

estabelece confusão no circuito comercial com os registos da recorrida que utilizam a expressão «Cafeeira», por o nome do estabelecimento não estar vertido na comercialização dos produtos; Embora não faça parte do léxico português, a pala-

vra «Cafeeira» qualifica, no vocabulário corrente, a actividade produtora e comercializadora de café e, como tal, é insusceptível de apropriação por quem quer que seja;

Insusceptível de apropriação, o registo daquela ex- pressão não pode opor-se ao registo do nome de estabelecimento que a contenha;

A decisão recorrida violou o disposto nos artigos 79.°, § 1.°, e 144.°, n.° 5.°, do Código da Propriedade Industrial de 1940.

Respondeu a recorrida, concluindo:

O nome comercial da recorrida abrange a denomi- nação e o estabelecimento, pelo que há caso jul- gado resultante da decisão do Tribunal da Rela- ção de Lisboa, confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça;

Os princípios da verdade e a da novidade ou do exclusivismo visam obstar à confundibilidade no que tange ao consumidor comum;

Há risco de confundibilidade entre os nomes do es- tabelecimento da recorrente e da recorrida; Não deve ser tomado conhecimento do recurso ou

deve ser-lhe negado provimento.

Colhidos os vistos, importa apreciar e decidir.

II

É a seguinte a factualidade relevante considerada pro- vada na l.ª instância:

1.° A Caféeira, L.da, foi constituída em 1936, com o objecto do comércio de cafés, chás, cacaus, mer- cearias, arroz, bacalhau e açúcares, e desde sem- pre se dedicou, como principal actividade, à im- portação, torrefacção e venda de cafés;

2.° Exerce a sua actividade em todo o território na- cional e tem escritórios e lojas de distribuição no Porto, no Funchal, em Olhão, em Coimbra e em Lisboa;

3.° É titular do nome de estabelecimento n.° 17 021, «A Caféeira, Limitada», desde 28 de Novembro de 1940, da marca n.° 246 630, A Cafeeira, L.da, destinada a assinalar café, cujo registo foi reque- rido no dia 8 de Abril de 1988, e, desde 18 de Setembro de 1989, da insígnia n.° 7285, «A Cafécira»;

4.° A Cafeeira de Torres, L.da, foi constituída em 1990 e tem por objecto a importação, torrefac- ção e comercialização de café, de bebidas e de outros produtos alimentares;

5.° Em 28 de Agosto de 1990, A Cafeeira de Tor- res, L.da, requereu ao Instituto Nacional da Pro- priedade Industrial o registo do nome de estabe- lecimento «Cafeeira de Torres»;

6.° Por despacho do director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, proferido no dia 22 de Dezembro de 1994, foi concedido a A Cafeeira de Torres, L.da, o registo referido no n.° 5.° sob a argumentação de que não eram confundíveis as peças em litígio, por o nome reclamado não inserir só a palavra «Cafeeira» e ser a globalidade que constitui um nome que o individualiza e distingue dos demais, e por a requerente possuir a denominação social cuja parte característica é igual ao nome pedido; 7.° Por Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 14 de Março de 1996, confirmado pelo Acór- dão do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de Janeiro de 1997, foram revogados o despacho do director-geral do Registo Nacional de Pessoas Colectivas que julgou improcedente o recurso in- terposto por A Caféeira, L.da, do despacho que admitira a denominação Cafeeira de Torres, L.da, e este último despacho.

Colhidos os vistos, importa apreciar e decidir. III

A questão essencial decidenda é a de saber da legali- dade ou da ilegalidade da protecção registral do nome do estabelecimento «Cafeeira de Torres», requerido pela ape- lante.

A resposta à referida questão pressupõe a análise da seguinte problemática:

Lei substantiva aplicável; Lei processual aplicável;

Relevo ou irrelevo da invocação pela recorrida do caso julgado;

Regime legal do nome do estabelecimento; Natureza da expressão «Cafeeira»;

(4)

Legalidade ou ilegalidade da coexistência registral dos nomes de estabelecimento «A Caféeira, Limi- tada» e «Cafeeira de Torres».

Vejamos, de per si, cada uma das referidas questões. 1 - O Código da Propriedade Industrial de 1995, apro- vado pelo Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro, entrou em vigor no dia 1 de Junho de 1995 (artigo 9.° do Decre- to-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro).

Como o pedido do registo em causa foi formulado no dia 28 de Agosto de 1990 e o despacho de deferimento ocorreu no dia 22 de Dezembro de 1994, isto é, antes do início da vigência do Código da Propriedade Industrial de 1995, a lei substantiva aplicável ao caso vertente é o Código da Propriedade Industrial de 1940 (artigo 12.°, n.° 1, do Código Civil).

2 - O recurso para o tribunal de 1.ª instância do acto administrativo proferido pelo Instituto da Propriedade In- dustrial foi apresentado, em juízo, no dia 28 de Setembro de 1995.

Em consequência, a lei processual aplicável à matéria da causa é a anterior ao Código de Processo Civil revisto (artigo 16.° do Decreto-Lei n.° 329-A/95, de 12 de De- zembro).

3 - a) O Acórdão da Relação de Lisboa de 14 de Março de 1996, confirmado pelo Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 22 de Janeiro de 1997, declarou a confundibilidade das firmas A Caféeira, L.da, e Cafeeira de Torres, L.da, e, consequentemente, a ilegalidade do re- gisto desta última.

O trânsito em julgado da referida decisão é anterior à prolação da decisão que agora está em recurso, que ocor- reu no dia 15 de Julho de 1997.

A Caféeira, L.da, não invocou, nos articulados da acção, normais ou subsequentes, a excepção ou a prejudicial idade do caso julgado.

Juntou a certidão dos referidos acórdãos no dia 11 de Abril de 1997, limitando-se, no requerimento respectivo, a referir que o fazia para todos os efeitos legais.

O tribunal recorrido não se pronunciou expressamente sobre a questão do caso julgado, limitando-se a afirmar, previamente ao conhecimento de mérito, inexistirem ex- cepções ou outras questões prévias de que cumpra conhe- cer.

A Caféeira, L.da, não recorreu da sentença e a recorren- te não suscitou a problemática do caso julgado em sede do recurso, sendo a primeira que, nesta sede, a suscita. b) É de salientar, como já se referiu, porque o recurso do acto administrativo proferido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial foi apresentado no tribunal de 1 instância antes de 1 de Janeiro de 1997, que a natureza do caso julgado em apreciação tem de ser aferida à luz da lei processual civil anterior à que integra o Código de Pro- cesso Civil revisto (artigo 16.° do Decreto-Lei n.° 329-A/ 95, de 12 de Dezembro).

Assim, tem de se concluir que o caso julgado integra- va uma excepção peremptória [artigo 496.°, alínea a), do Código de Processo Civil].

Como nenhuma das partes invocou, em algum dos ar- ticulados próprios da causa, a excepção peremptória de caso julgado, não podia o tribunal recorrido conhecer dessa excepção (artigo 495.°, a contrario, do Código de Proces- so Civil).

Não tendo conhecido oficiosamente da aludida excep- ção, o tribunal de 1.ª instância cumpriu a lei (artigo 660.°, n.° 2, do Código de Processo Civil).

Os recursos têm por objecto o conteúdo das decisões judiciais sobre que incidem (artigo 676.°, n.° 1, do Códi-

go de Processo Civil).

Como a problemática do caso julgado não foi objecto da decisão recorrida, por isso se configurando agora como uma questão nova, de conhecimento não oficioso, certo é que vedado está a este tribunal dela conhecer.

Mas ainda que se entendesse dever o tribunal de 1.ª ins- tância por virtude da mera junção da certidão do texto dos acórdãos mencionados no ponto II, n.° 7.°, conhecer da excepção peremptória de caso julgado, não podia este tri- bunal de recurso pronunciar-se sobre ela, porque, nessa parte, não tendo sido interposto recurso da sentença, teria ocorrido a preclusão derivada do trânsito em julgado.

Dir-se-á, no entanto, considerando a argumentação da recorrida, que se anteriormente ao Código da Propriedade Industrial de 1940 se usava o nome comercial para desig- nar a firma e o nome do estabelecimento, tal já depois disso não faz sentido, porque, em regra, salvo a alcunha do dono, o nome, a firma ou a denominação deixaram de poder integrar o nome do estabelecimento (José de Oli- veira Ascensão, Direito Comercial. Direito Industrial, vol. 11, Lisboa, 1988, p. 125).

4 - O nome do estabelecimento é, a par de outros, um sinal distintivo do exercício da actividade comercial lato sensu.

Consubstancia-se em sinal nominativo individualizador ou particularizador do estabelecimento a que se reporta. Visa facilitar a identificação respectiva, em via de re- gra através da sua inscrição em tabuletas, bandeiras, fa- chadas, montras, correspondência e publicidade (arti- go 145.° do Código da Propriedade Industrial de 1940). Surge, em regra, configurado pela espécie de negócio nele exercido, ou por esta e por uma ou outra designação de fantasia e, algumas vezes, apenas por esta última (José Gabriel Pinto Coelho, Lições de Direito Comercial, Lis- boa, 1942, pp. 210 a 215).

Vejamos a lei:

Prescreve o proémio do artigo 142.° do Código da Pro- priedade Industrial de 1940 que o nome do estabelecimento é susceptível de ser integrado por algum dos seguintes elementos:

1.° Pseudónimo ou alcunha do dono;

2.° Nome histórico, excepto se do seu emprego re- sultar menoscabo ou ofensa da consideração que geralmente lhes é atribuída;

3.° Denominações de fantasia ou específicas; 4.° Nome da propriedade ou local do estabelecimen-

to, quando este seja acompanhado de um elemen- to distintivo.

É de salientar, face ao n.° 4.° desse artigo, que a firma é susceptível de integrar o nome do estabelecimento, mas não exclusivamente, porque tem de ser acompanhada de algum elemento distintivo.

No que concerne às restrições ou limites à atribuição de nome ao estabelecimento, resulta do disposto no arti- go 144.° do Código da Propriedade Industrial de 1940, em tanto quanto releva no recurso, que ele não pode ser inte- grado por:

Elementos constitutivos de marca registada por ou- trem para os produtos que vendam no estabeleci- mento a que se pretende dar o nome;

Nome que seja reprodução ou imitação de algum já registado por outrem;

(5)

Nome exclusivamente constituído por sinais ou in- dicações que possam servir no comércio para de- signar a espécie, a qualidade, a quantidade, o des- tino, o valor, o lugar de origem dos produtos ou a época da produção, ou que se tiverem tornado usuais na linguagem corrente ou nos hábitos leais e constantes do comércio;

Nome que em todos ou alguns dos elementos conte- nha reprodução ou imitação total ou parcial de marca anteriormente registada por outrem para o mesmo produto ou produto semelhante, em termos de poder induzir confusão no mercado.

Assim, sob inspiração do princípio da novidade, deve ser recusado o registo do nome do estabelecimento que contenha reprodução ou imitação total ou parcial de nome de estabe- lecimento anteriormente registado por outrem que possa in- duzir o mercado em erro ou confusão (artigos 93.°, n.° 12.°, e 144.°, n.° 5.°, do Código da Propriedade Industrial).

O conceito de semelhança surge numa relação dialética com o conceito de identidade, o qual traduz a ideia de analogia ou intensa semelhança por referência a factos ou coisas com a mesma forma ou aspecto de outros já vistos (Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, vol. 11, Rio de Ja- neiro, Brasil, 1963, p. 774).

O conceito de identidade relativa tem essencialmente a ver com o conceito de contrafacção, consubstanciado na mera reprodução de um nome de estabelecimento já ob- jecto de protecção registral, enquanto o conceito de seme- lhança tem a ver com a imitação, que se traduz na seme- lhança com outro nome de estabelecimento, em termos de susceptibilidade de provocar a confusão do consumidor. Por outras palavras, a reprodução do nome de um esta- belecimento é a sua cópia fiel, e a imitação a característica do nome do estabelecimento cuja semelhança em relação a outro, em virtude de os sinais distintivos serem parcialmen- te idênticos, é susceptível de gerar confusão (Carlos Olavó, «Propriedade Industrial, noções fundamentais», Colectânea de Jurisprudência, ano XII, t. 2, pp. 19 a 28).

Na determinação do conceito de imitação, que é o in- verso do conceito de novidade, releva, sobretudo, a situa- ção de semelhança gráfica, figurativa ou fonética.

O juízo de semelhança deve ser aferido em face do consumidor em geral medianamente esclarecido, sendo o critério a prognose póstuma da susceptibilidade de fácil confusão, devendo entender-se semelhantes os nomes dos estabelecimentos que só se destingam através do exame atento no confronto de uns e de outros.

Ideia central nesta matéria é também a de erro e a de confusão consubstanciando-se, grosso modo, o primeiro na falsa concepção acerca de um facto ou de uma coisa, e a última na perturbação da sua percepção.

Para se saber se se verifica ou não uma situação de facto que induza facilmente em erro o consumidor que não tenha os nomes dos estabelecimentos em presença, não pode considerar-se isoladamente um elemento de semelhan- ça entre eles, antes se devendo atender ao conjunto res- pectivo (Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 24 de Maio de 1990, Boletim do Ministério da Justiça, n.° 397, p. 506, e de 10 de Dezembro de 1997, Colectâ- nea de Jurisprudência, ano v, t. 3, p. 162).

Importa ainda considerar, face ao disposto nos n.os 5.° a 7.° do artigo 144.° do Código da Propriedade Industrial

de 1940, que, havendo identidade total ou parcial de ob- jecto de negócio, não pode ter protecção registral o nome de um estabelecimento que inclua expressões inserentes de marca ou insígnia anteriormente registadas a favor de outrem.

5 - Estão em confronto dois nomes de estabelecimen- to comercial, o prioritário integrado pela expressão «A Caféeira, Limitada» e o subsequente integrado pela expres- são «Cafeeira de Torres», esta da titularidade da recorren- te e aquela da titularidade da recorrida.

U m e outro daqueles nomes de estabelecimento tem directa conexão com a actividade de importação, torrefac- ção e comercialização de café.

Tal como se refere na sentença recorrida, o nome do estabelecimento da recorrente e da recorrida inclui a ex- pressão nuclear «Cafeeira».

A expressão «fantasia», numa das suas concepções, designa a imaginação ou a capacidade de representar sen- sivelmente o mundo da consciência, significando algo in- termédio entre a ordem sensitivo-externa e a ordem inte- lectiva.

Está para além do sentido comum, designa, em regra, a pura representação de alguma coisa, à margem da cons- ciência do sentimento da sua existência (M. Moraes, Ver- bo - Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. 8.°, Lisboa, 1969, pp. 354 a 356).

Nesta perspectiva, consideram-se designações de fanta- sia as expressões relativas ao nome de estabelecimentos, tais como «Estrela Polar», «leão de ouro», «mandarim chinês», «carnaval de Venesa» - (José Gabriel Pinto Coelho, ob. cit., p. 216).

O vocábulo «Cafeeira» é derivado do vocábulo «café», ou seja, o produto proveniente dos grãos do cafezeiro, espécie botânica da família Coffea L., depois de torrados e moídos (J. de Vasconcellos, Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. 4.°, Lisboa, 1966, pp. 409 a 416).

A expressão «Cafeeira», em jeito de substantivo femi- nino, foi criada, naturalmente, com vista a designar a en- tidade que produz ou transforma os grãos do café ou que comercializa o produto final.

Inserida no nome do estabelecimento da recorrente e da recorrida, a expressão «Cafeeira» pretende significar a espécie de negócio que nele cada uma exerce.

Assim, ao contrário do que a recorrida afirma, não se traduz em mera designação de fantasia.

Por outro lado, ao invés do que afirma a recorrente, a expressão «Cafeeira», embora derivada do vocábulo «café» consubstancia-se num termo original e sugestivo tendente a designar a entidade que exerce actividade produtora ou distribuidora daquele produto final (Acórdão da Relação de Lisboa, 6.ª Secção, 1.ª Subsecção, de 14 de Março de

1996, recurso n.° 800/95).

Não se tornou, por isso, aquela expressão usual na lin- guagem corrente, pelo que se não enquadra na previsão do n.° 5.° do artigo 144.° do Código da Propriedade In- dustrial de 1940.

Em consequência, a expressão «Cafeeira» é susceptível, no quadro do direito de propriedade industrial, de apro- priação exclusiva, nos termos da lei.

O direito de propriedade industrial desempenha a fun- ção social de garantir a lealdade da concorrência, pela

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atribuição de direitos privativos sobre os diversos proces- sos técnicos de produção e desenvolvimento da riqueza (artigo 1.° do Código da Propriedade Industrial).

A garantia da lealdade da concorrência visa permitir aos agentes do comércio e da indústria, incluindo os con- sumidores, o benefício da ordem jurídica estabelecida e dos usos honestos dos meios de produção e de comer- cialização.

Nessa conformidade, são contrários ao princípio da lealdade da concorrência, além do mais, os factos susceptí- veis de gerar a confusão de produtos ou actividades, bem como as indicações susceptíveis de induzir o público em erro sobre a natureza ou modo de fabrico, as caracterís- ticas, a possibilidade de emprego ou a quantidade das mer- cadorias (José Mota Maia, Propriedade Industrial, Comu- nicações e Artigos do Presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, Lisboa, 1996, p. 15).

Do nome do estabelecimento prioritariamente registado na titularidade da recorrida ressalta, naturalmente, para o consumidor comum, no aspecto gráfico e sonoro, a expres- são «Cafeeira».

No conjunto a letra «A» é gráfica e sonoramente insig- nificativa, ficando obnubilada pela expressão «Cafeeira». A expressão «Limitada» não assume conteúdo dife- renciador relevante, porque é um elemento juridicamente caracterizador de uma ampla espécie de sociedades, as sociedades por quotas.

Do nome do estabelecimento registado a favor da re- corrente depois do registo do nome do estabelecimento da titularidade da recorrida também ressalta particularmente, para o consumidor comum, a expressão «Cafeeira».

A expressão «de Torres», integrante do nome do esta- belecimento registralmente inscrito na titularidade da re- corrente, é susceptível de ser associada à localidade de instalação, seja da respectiva sede, seja do próprio estabe- lecimento.

Este elemento do nome do estabelecimento da recor- rente não assume, porém, o relevo distintivo que, à pri- meira vista, lhe poderia ser assacado.

Com efeito, como a recorrida exerce a sua actividade em todo o território nacional e tem escritórios e lojas de distribuição no Porto, no Funchal, em Olhão, em Coimbra e em Lisboa, o que implica, necessariamente, a existência de alguma área geográfica comum de mercado para aquela e para a recorrente, pode o consumidor médio considerar que o estabelecimento designado por «Cafeeira de Torres» se integra no âmbito empresarial da titúlaridade da recor- rida, ou seja, pode fazer gerar a ideia de existência de uma

relação de dependência, subsidiariedade ou interdepen- dência entre os estabelecimentos em causa.

Assim, impõe-se a conclusão de que a coexistência do estabelecimento da recorrida e do estabelecimento da re- corrente, um sob a designação «A Caféeira, Limitada», e outro sob a designação «Cafeeira de Torres», é susceptí- vel de gerar a confusão do consumidor comum.

É inexacto que o nome do estabelecimento não seja relevante para as escolhas dos consumidores, designa- damente quando ele sugira o produto objecto da activida- de económica do seu titular, como, aliás, ocorre no caso vertente.

Em consequência, o registo do nome do estabelecimento da recorrente, no confronto do registo prioritário do nome do estabelecimento da recorrida, viola os princípios da novidade e da exclusividade a que acima se fez referência. Ademais, a recorrida é titular da marca A Caféeira, L."", destinada a assinalar café, e da insígnia «A Caféeira», também relacionada com aquele produto, e sugerido pelo nome do estabelecimento da recorrente.

No fundo, a expressão «Cafeeira» assume, no quadro da organização empresarial da recorrida, uma função as- saz relevante, certo que integra a firma, a marca, o nome do estabelecimento e a insígnia.

Conforme resulta do disposto nos n.os 5.° a 7.° do arti- go 144.° do Código da Propriedade Industrial de 1940, não é legalmente admitida a inserção, no nome do estabeleci- mento da recorrente, da designação «Cafeeira» que já fa- zia parte da marca e da insígnia da recorrida.

O recurso não pode, por isso, deixar de improceder. Vencida, é a recorrente responsável pelo pagamento das custas relativas ao recurso (artigo 446.°, n.os 1 e 2, do Código de Processo Civil).

Considerando o relevo da matéria objecto do recurso, inexiste fundamento para que o seu valor para efeito de custas seja diverso do respectivo valor processual, ou seja, a fixar no montante de 2 000 001$ [artigos 312.° do Códi- go de Processo Civil e 6.°, n.° 1, alínea a), do Código das Custas Judiciais].

IV

Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso e conde- na-se a recorrente no pagamento das custas respectivas, com base no valor tributário de 2 000 001$.

Lisboa, 12 de Novembro de 1998. - (Assinaturas ile- gíveis.)

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