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Tempos de pandemia: rupturas, desafios e paradoxos para a educação infantil

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Academic year: 2021

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EDITORIAL

Tempos de pandemia: rupturas, desafios e paradoxos para a educação infantil

És um senhor tão bonito Quãnto ã cãrã do meu filho Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Vou te fãzer um pedido Tempo, Tempo, Tempo, Tempo (...) Aindã ãssim ãcredito Ser possí"vel reunirmo-nos Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Num outro ní"vel de ví"nculo Tempo, Tempo, Tempo, Tempo (Cãetãno Veloso) A mu"sicã de Cãetãno, convidã-nos ã olhãr pãrã o tempo… Ésse tempo que ficou suspenso, esse tempo que pãssou veloz, esse tempo em que não nos vimos de perto, esse tempo tão fugãz, esse tempo… A poesiã fãlã ãindã dã crençã em um tempo em que ãcreditã-se ser possí"vel o reencontro… Quem sãbe? So" o tempo nos dirã" (…) Énquãnto isso, juntãmos os escritos desse tempo em que foi preciso (re)olhãr, (re)significãr, (re)construir… Sem ã pretensão de dizer tudo ou fixãr sentidos sobre ãs experie.nciãs vividãs, nãrrãmos ãgorã o cãminhãr deste processo, ã formã como olhãmos estes movimentos e fomos dãndo sentidos ã eles.

Fomos surpreendidos com ã chegãdã ão Brãsil dã ãnunciãdã Pãndemiã do Covid-19, que jã" vinhã se ãlãstrãndo mundiãlmente em proporçoes ãlãrmãntes, e com ãs medidãs de proteção sãnitã"riãs necessã"riãs pãrã conter suã disseminãção.

Nesse momento fomos furtãdos dã ãrte do encontro, ãssim e neste movimento de impossibilidãde de encontros, ãssistimos come"rcios, escolãs, empresãs, universidãdes, trãnsportes, turismo serem suspensos e com eles mãntiverãm-se suspensãs nossãs “certezãs” que derãm lugãr ão medo, ã insegurãnçã e ão distãnciãmento. Tempos difí"ceis, de rupturãs. Rupturãs no tempo, nãs relãçoes, rupturã dos sonhos, dos projetos.... Diãnte desse cenã"rio, formãs mu"ltiplãs de viver e estãr no mundo se mãnifestãrãm. Forãm ãflorãdãs novãs formãs de nos relãcionãrmos, pãrã ãlgumãs pessoãs ãs prioridãdes forãm

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repensãdãs, surgirãm novãs necessidãdes, tãnto emocionãis e sociãis quãnto econo.micãs, sãnitã"riãs e polí"ticãs.

Apo"s ã ãbruptã e necessã"riã rupturã, ãssistimos, ãos poucos, come"rcios, trãnsportes, empresãs, de modo gerãl, voltãrem ã funcionãr cumprindo com ãs medidãs de proteção ãnunciãdãs, entendendo ser possí"vel, em seus cotidiãnos de contãto e interãção humãnãs, ãtender ãs determinãçoes sãnitã"riãs. Mãs e ãs escolãs? Como experimentãr umã escolã sem encontro, sem o toque, sem o colo, sem o ãbrãço? É, mãis especificãmente pãrã ã Éducãção Infãntil, que tem como premissãs ãs interãçoes e brincãdeirãs, como pensãr um retorno presenciãl ou mesmo prã"ticãs remotãs sem o contãto pro"ximo, sem compãrtilhãr espãços e mãteriãis, enfim, sem ãs tão temidãs ãglomerãçoes?

Éntidãdes de ensino e Éscolãs de todo o mundo se debruçãrãm sobre estrãte"giãs possí"veis diãnte dã situãção. Seriã preciso orgãnizãr novos currí"culos, repensãr prã"ticãs, encontrãr cãminhos outros. Ém meio ã essã situãção encontrãm-se os profissionãis de educãção, criãnçãs e fãmí"liãs de diferentes esferãs implicãdãs diretãmente com ã problemã"ticã impostã. Nesse sentido, ãlgumãs indãgãçoes gãnhãrãm cãdã vez mãis forçã e expressividãde: Como ãs infã.nciãs ve.m sendo pensãdãs? Que propostãs, ideiãs e experie.nciãs estão sendo oferecidãs e/ou proporcionãdãs pãrã ãs criãnçãs nã fãixã etã"riã de 0 ã 6 ãnos? Que sentidos existem nos novos formãtos e prã"ticãs pedãgo"gicãs? Como esses tempos te.m ãfetãdo ã vidã de criãnçãs, fãmí"liãs e profissionãis?

Pãrã estã edição hãví"ãmos ãberto chãmãdã, ão fim do ãno de 2019, com vistãs ã? publicãção de mãis um nu"mero dã nossã Revistã, previstã pãrã esse ãno de 2020. Não obstãnte, diãnte dã situãção colocãdã pelã crise sãnitã"riã que ãtingiu ã todos em situãção globãl e impo.s, de modo especiãl, ã?s escolãs e ã seus profissionãis novãs configurãçoes e desãfios, ã Revistã Prã"ticãs em Éducãção Infãntil, decidiu lãnçãr em suã Edição 5, Número 6 ã Edição Especial: Educação Infantil em Tempos de Pandemia, e, com elã, propor um formãto de comunicãção e diã"logo diferente, ãbrindo espãço pãrã submissoes em que ãutores/ ãs - profissionãis e estudiosos dã ã"reã de educãção - pudessem expressãr, de mãneirã inteirã e ãbertã, sentimentos, pensãmentos, reflexoes, prã"ticãs, impãctos e pãrãdoxos provocãdos nesse perí"odo, em especiãl, pãrã ã Éducãção Infãntil.

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Portãnto, em cãrã"ter excepcionãl, estã edição contã, pãrã ãle"m de Artigos Acãde.micos, com textos em formãtos literã"rios diversos, tãis como: Cro.nicãs, Énsãios, Resenhãs e Poesiãs. A multiplicidãde de estilos literã"rios e" umã tentãtivã de contemplãr ãs diferentes mãnifestãçoes insurgentes nesse perí"odo pãnde.mico.

Assim, dentre os 52 textos submetidos pãrã estã edição, forãm selecionãdos 29 textos ine"ditos – 9 Artigos Acãde.micos, 7 Cro.nicãs, 4 Énsãios, 8 Poesiãs e 1 Resenhã – que nos permitem pensãr ã Éducãção Infãntil por diferentes perspectivãs: memo"riãs de infã.nciã, reflexoes sobre o cotidiãno, prã"ticãs pedãgo"gicãs, questoes polí"ticãs, formãção docente, direitos dã infã.nciã, ãtribuiçoes dã Éducãção Infãntil, dentre outros.

Os nove artigos selecionãdos, por viãs distintãs e questionãmentos diversos, instigãm reflexoes sobre ã incompãtibilidãde de um ensino remoto que diãlogue com o que ãssumimos como premissã pãrã ã infã.nciã (Luciana Helena

Monsores), e de modo ãmbivãlente convidãm-nos ã, diãnte dãs especificidãdes

subscritãs ã este tempo, encontrãrmos cãminhos pãrã diãlogãr com ãs criãnçãs (Débora Luiza Chagas de Freitas e Tatiane Silva Pereira Gontijo) e criãr espãços pãrã que os ví"nculos se mãntenhãm (Rosemeire de Araujo Gomes e Tamar Barbosa

da Silva). Mãrcã-se ãindã ã possibilidãde de ví"nculo por meio de relãçoes ãfetuosãs

com ã mu"sicã (Ronaldo Murtinho Braga Cotrim e Wasti Silvério Ciszevski) e de mãnutenção de ví"nculos entre ã escolã, fãmí"liãs e criãnçãs (Cristiane Suzart Cop

Guimarães, Michele Morgane de Melo Mattos e Priscila de Melo Basílio). A

perspectivã dã formãção iniciãl e continuãdã, especiãlmente em tempos de pãndemiã, encontrã eco nãs proposiçoes de se pensãr, de formã cuidãdosã, ã ãtuãção deste profissionãl rece"m-formãdo (Adriane Soares, Andrezza Cardoso de

Freitas e Yandra Guimarães). Aindã sobre ã perspectivã de formãção, hã" um diã"logo

com ã possibilidãde de reinvenção do currí"culo em tempos de pãndemiã (Amanda

Lobosco Pinto, Danielli Cristina Machado Lidugério e Kathlyn Bernardo Duarte Almeida) e umã experie.nciã de formãção continuãdã em que ã trocã de cãrtãs entre

duãs professorãs serviu como estrãte"giã pãrã reflexão sobre este tempo. (Rayssa

Prudêncio da Silva e Silvaneide Figuerêdo de Siqueira). Por fim, evidenciãmos um

relãto de experie.nciã que colocã em questão ã posição ãmbivãlente ocupãdã por umã professorã regente e coordenãdorã, fãzendo-ã repensãr e reinventãr ãs

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possibilidãdes de trocã com ãs criãnçãs, ãs fãmí"liãs e ã equipe de educãdores num contexto de isolãmento sociãl imposto pelã pãndemiã mundiãl (Ana Paula Lima da

Silva).

Dentre ãs sete crônicas selecionãdãs pãrã compor essã edição, hã" um convite ã olhãr ã vidã e os tempos ãtuãis pelã perspectivã de um pintor (Mariana da Silva Machado Nascimento). Temos ãindã ã reflexão sobre possibilidãdes de encontros virtuãis cheios de ãfeto (Valdete Barbosa Henrique Ferreira) e tãmbe"m ãs memo"riãs de diãs de umã escutã mãis pro"ximã (Cristina dos Santos e Luciana Jesus de Souza). O olhãr se fãz sensí"vel ãos sentidos do choro e ão desconhecido (Carmen Lucia Orfanó) e mediãnte ã necessidãde imperãtivã de um pãrãr e ãproveitãr esse tempo pãrã se olhãr, se ouvir, se cuidãr pensãndo em um novo e necessã"rio recomeçãr (Elidiane Almeida Barros Feliciano). Nesse contexto de tãntãs perdãs e incertezãs, pode-se dizer que vivemos tempos de bãrbã"rie (Débora Sabina da Silva Geraldo); ã esperãnçã se renovã, pore"m, num reencontro regãdo de ãfetos e sentimentos (Iacy Carvalho Ferreira dos Santos).

Outrãs questoes são ãprofundãdãs nos quãtro textos em formã de ensaio. Apresentã-se umã ãnã"lise sobre ãs ãtividãdes didã"tico-pedãgo"gicãs cãtegorizãdãs como ãtividãdes remotãs (Marta Nidia Varella Gomes Maia). São ãbordãdos os desãfios dã dinã.micã do cotidiãnã dã relãção mãe e filhã em tempos pãnde.micos (Simone de Abreu Duarte Kluser de Jesus) e ãindã os desãfios e questoes que envolvem ã trãnsição dãs criãnçãs dã Éducãção Infãntil pãrã o Énsino Fundãmentãl (Alexandra Borges Barbosa Schayder dos Santos e Marília Gabriela Esteves de

Moraes). Reflexoes ãcercã dos vãlores civilizãto"rios ãfro-brãsileiros e sobre ã

presençã negrã como referenciãl pãrã ãs criãnçãs pequenãs tãmbe"m se fãzem presentes (Camila Machado de Lima).

Com pãlãvrãs que podem ser sensí"veis mãs tãmbe"m potentes e cheiãs de sentidos, os oito poemas destã edição mãrcãm ã forçã dã educãção como combãte ão rãcismo estruturãl (Denise Cruz Candido Miranda de Souza), pensãm ã educãção dãs criãnçãs em tempos de pãndemiã (Nayara de Oliveira Nunes) e ãs incongrue.nciãs do tempo e dã sãudãde durãnte este perí"odo (Gláucia L. Drumond

Bispo). Somos convidãdos ã questionãr ã infã.nciã em tempos de pãndemiã (Laís Ribeiro Santos Sales e Beatriz Pereira Serrão) e como se encãixãriã nesse contexto o

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tempo tão pro"prio dãs criãnçãs (Gabrielle Carvalho de Aragão Santana). Somos ãtrãvessãdos por questoes sociãis, polí"ticãs e estruturãis que ãbãlãm ã infã.nciã

(Debora Cristina da Silva Cruz Conceição) e impelidos ã pensãr sobre ãs memo"riãs

de infã.nciã em tempos de pãndemiã (Ingrity Leandro da Silva e Camile Barbosa de

Abreu), tempo esse mãrcãdo por emoçoes diversãs e reinvenção dã rotinã (Fernanda Alves Vendas).

Por fim, ãs reflexoes de Giorgio Agãmben (Isabela Pereira Lopes) ãcercã dã pãndemiã e diversãs contrãdiçoes e indãgãçoes oriundãs delãs são explãnãdãs em formã de resenha.

Os textos que compoem estã edição são diversos e ãbordãm diferentes impressoes, reflexoes e diã"logos sobre esse perí"odo ãtí"pico que estãmos vivendo. Perí"odo esse que, ão chegãr de formã ãbruptã e desestruturãnte, de tão longo e incerto, fãz pãirãr o risco de que o tomemos como umã normãlidãde em nossãs vidãs. As ãçoes remotãs, o pouco contãto e o distãnciãmento necessã"rio tornãrãm-se prã"ticãs cotidiãnãs. Nem por isso, no entãnto, devemos deixãr de olhã"-lãs com estrãnhãmento.

É compreendendo que “O processo de estrãnhãr o fãmiliãr tornã-se possí"vel quãndo somos cãpãzes de confrontãr intelectuãlmente, e mesmo emocionãlmente, diferentes versoes e interpretãçoes existentes ã respeito de fãtos, situãçoes.” (VÉLHO, 1978, p.45)1 que convidãmos nossos leitores ã nos questionãrmos e reinventãrmos diãnte dos tempos ãtuãis.

Ésse nu"mero e" um convite pãrã que leiãm estãs pesquisãs, histo"riãs, poesiãs, cro.nicãs, resenhãs e ensãios e (re) olhem pãrã este tempo suspenso como possibilidãde de reflexão sobre o vãlor dã escolã, o vãlor dãs infã.nciãs, o vãlor dos encontros e dã vidã!

Fernanda Alves Vendas, Maria Clara de Lima Santiago Camões e Thaysa Galeno do Vale

Rio de Jãneiro, 10 de novembro de 2020

1VELHO, Gilberto. Observando o Familiar. In: NUNES, Edson de Oliveira – A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

Referências

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