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REDES: ESPAÇO DE AUTONOMIA, E/OU ESPAÇO DE CONTROLE NETWORK : AUTONOMY SPACE AND/OR CONTROL SPACE.

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REDES: ESPAÇO DE AUTONOMIA, E/OU ESPAÇO DE CONTROLE

Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque – PUC (SP)i RESUMO: De consumidores passivos rapidamente estamos nos transformando em criadores do que outros como nós consomem uma mudança que parece pequena, mas vem provocando uma verdadeira revolução no ambiente digital (Clay Shirk, 2011). As redes se constituem como espaço de poder, onde há poder há contrapoder, o desafio se situa em manutenção desse espaço como lugar de ajustes contínuos, híbrido. A comunicação nesses processos de tecnologia digital converge a um pensamento e trocas permeadas por diferentes contextos emergindo espacialidades e interações diversas. A regra é não criar regras (M. Castells, 1999, 2013) e se todo corpo é Corpomídia (KATZ e GREINER) pensar a complexidade das relações em um campo que se auto-organiza de acordo com essa dinamicidade das redes midiáticas em um processo criativo em dança implica em reconhecer a necessidade de ajustes perceptivos para sobrevivermos.

PALAVRAS-CHAVE: Corpomídia. Redes. Espacialidades. Corpo.

NETWORK : AUTONOMY SPACE AND/OR CONTROL SPACE.

ABSTRACT: From passive consumers, we are quickly becoming creators than others as we consume. A change that seems small, but it has been leading to a true revolution in the digital environment (Clay Shirk, 2011). The networks are constituted as space of power, where there is power, there is countervailing power. The challenge lies in the maintenance of this space as a place of continuous adjustments, hybrid. The communication in these processes of digital technology converges to a thought and exchanges permeated by different contexts, emerging spacialities and several interactions. The rule is not to create rules (M. Castells, 1999, 2013) and if all bodies are “corpomídia” (KATZ e GREINER) to think that the complexity of relationships in a field that organizes itself according to this dynamics of media networks in a creative process in dance implies to recognizing the need for perceptual adjustments for us to survive.

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Somos/estamos em fluxo contínuo

O homem é menos ele mesmo quando fala de sua pessoa. Mas deixe que se esconda por trás de uma máscara, e então ele contará a verdade.

Oscar Wilde Nesse momento de mudanças que estamos atravessando o que se instaura são possibilidades de informar, compartilhar e criar novas conexões em ambientes virtuais. A habilidade de nos comunicarmos saiu do âmbito doméstico. Busca-se um diálogo que amplie caminhos, intersecções e articulações e que geram novas compreensões dessas relações midiáticas. Formas de ativismo e de participação política de alguns movimentos/organizações em rede apontam para uma reformulação dos entendimentos sobre os modos de agir on offline: participar e compartilhar são verbos que nomeiam ações com implicações sociais diferentes. Essas outras configurações de conviver e o muito do que se faz/produz na internet é uma combinação de processos e experiências em fluxo contínuo que se configuram numa lógica sem ponto fixo com vários tipos de conexões.

Capaz de crescer e se avolumar por todos os lados, essa plataforma se faz via processo de contaminação a partir de proposições distribuídas no ambiente digital, configurando outros agenciamentos, trocas e ajustes contínuos. Mudanças fomentadas por anseios e interesses pessoais ocorrem motivadas pela participação entre pessoas que longe de se estabilizarem continua a crescer e a satisfazer desejos de informação.

O papel desempenhado pela internet viabiliza, potencializa e agencia mecanismos pensando corpo como agente da comunicação. Clay Shirky1(2011, p.111) cita, “ a natureza humana muda devagar, mas inclui um inacreditável leque de mecanismos para que nos adaptemos. O corpo fruto de ajustes contínuos e como um sistema aberto, se insere numa lógica organizativa, em que “ a habilidade que se repete melhora gradualmente através do treinamento que burila o exercício. No entanto eventualmente, irrompem novas circuitações que surpreendem o controle” (KATZ, 2005, p. 38).

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As redes sociais se tornaram os vínculos mais rápidos e capazes de lidar com essa lógica autoconfigurável e participativa, ou seja, “A lógica da mídia digital, por outro lado permite que Pessoas Antes Conhecidas como Espectadoras agreguem valor umas às outras, todos os dias” (Clay Shirk, 2011, p. 41).

A importância ao tratar desse assunto se localiza em pensar como processos que irrompem no corpo se constituem enquanto corpo nesse ambiente e como essas informações se tornam necessárias para refletimos imediatamente em relação à possibilidade ou estratégia para continuidade sem estimular as hierarquias de poder. As implicações políticas e as fissuras que essa condição provoca são prováveis indicadores de uma atitude que não pode ser separada dos entendimentos de participação e colaboração, próprias de quem compõem dança. Pensando nos processos criativos nas redes digitais, surge a questão: Quais processos de comunicação se estabelecem entre os criadores, de modo a manter um ambiente com vários protagonistas na criação?

Numa sociedade das redes (Castells, 1999) integram-se novos nós desde que consigam comunicar-se, ou seja, que compartilhem os mesmos códigos de comunicação. Nos movimentos sociais (de moradores, sem teto, etc.) esses grupos se articulam com outros grupos com a mesma identidade social ou política, a fim de ganhar visibilidade e produzir impacto na esfera pública e obter conquistas para a cidadania. Os grupos de dança que atuam nas redes digitais buscam disseminar informações, assim como os movimentos sociais, criar composições em articulação com outros pares e atuar coletivamente no mesmo ambiente de criação. A hipótese é a de que o processo de criação em dança fora das redes digitais, que ocorria de forma majoritariamente solista, e o que agora é possível ser praticado nelas de forma colaborativa têm ontologias distintas e que seu eixo de distinção está na transformação dos meios técnicos de comunicação.

O ser humano encontra-se implicado no meio em que vive, ou seja, viver em rede sugere, em viver em um mundo onde tudo pode ser inventado para ser partilhado com outros, que também podem estar nesse processo imaginário. O ato de comunicação está na constituição dessas redes, assim comunicar implica compartilhar e trocar informações.

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Em todas as sociedades, a humanidade tem existido em um ambiente simbólico e atuado por meio dele. Portanto, o que é historicamente específico ao novo sistema de comunicação organizadopela integração eletrônica de todos os modos de comunicação, do tipográfico ao sensorial, não é a indução à realidade virtual, mas a construção da realidade virtual . (CASTELLS, 1999, p.459)2

As reflexões propostos pela prof. Dr. Helena Katz3 (2014) no artigo “O PENSAMENTO CRÍTICO NO MUNDO DO CORPO APPS E DA LÓGICA DO SOFTWARE”, no III Congresso Nacional de Pesquisadores em Dança, Salvador/Bahia, refletem o quanto a internet pode criar condições para ações coletivas sobreviverem:

Vivemos hoje um cotidiano de prontidão permanente para a comunicação[...]A multiplicidade de formas de contato fica estampada em cada uma das telas que nos acompanham (computadores, celulares e tablets), atestando a habilidade quedesenvolvemos para conviver, cada vez mais confortavelmente, com diferentes programas ao mesmo tempo (sms, facebook, e-mail, instagram, twitter, whatsappetc) .(KATZ, 2014, p.3)

E em consequência:

O corpo tornou-se um aplicativo (corpo apps) da biopolítica que nos governa. Não é prudente, portanto, pensar a dança fora dessa moldura. (KATZ, 2014, p.3)

Outra questão faz surgir durante essa escrita: Nos processos criativos colaborativos que atuam em redes como se localizam as estruturas de poder? Numa prática artística isso se torna parcialmente verdadeiro. No processo em uma rede digital há elos mais fortes (Interlocutores, lideranças, mediadores, coordenadores, etc)4 que influenciam, direcionam, e colaboram de forma mais efetiva,são questões que geram o empoderamento nesse ambiente.Viver nesta realidade que foi construída implica em novos hábitos cognitivos, como estar junto, conviver sem estar passivo, respeitar outras proposições e também não impor determinadas ações no espaço.

2 Professor universitário e Sociólogo espanhol. Autor da Trilogia, "Sociedade em Rede - A Era da informação: Economia, sociedade e cultura".

3Helena Katz, crítica de dança desde 1977, professora na PUC-SP desde 1995, coordenadora do CED-Centro de Estudos em Dança, que fundou em 1986. Em parceria com a Profa. Dra. Christine Greiner, desenvolve a Teoria Corpomídia.

4Isso ficou evidenciado no trabalho de pesquisa com os alunos da UESB/Jequié. Espetáculo D3SABAFO, 2014.

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As redes, assim como qualquer relação numa sociedade, estão sempre impregnadas pelo poder e por possibilidades de reciprocidade e de compartilhamento. O que interessa é saber como tecer o equilíbrio entre essas tendências opostas e como possibilitam ou não a autonomia dos atores/autores envolvidos. Segundo Castells, “... o papel da internet ultrapassa a instrumentalidade: ela cria as condições para uma forma de prática comum que permite a um movimento sem liderança sobreviver, deliberar, coordenar e expandir-se” (2013, p.167).

O desafio se situa em, como compor dança no ambiente comunicação-tecnologia de determinados atores/autores menos ativos ou cooperativos no sentido de não estimular as hierarquias de poder. Ao investigar esses processos a tensão se situa em manutenção desse espaço como lugar de ajustes sucessivos.

Nesse momento o desejo de se manter conectado, se relacionar e não se isolar representa a sociedade atual. Uma proliferação de corpos e singularidades que emergem de um fazer ativo nas redes, postando e cooperando, se fazendo permanecer entre agenciamentos e trocas nas suas práticas, em fluxo continuo e normatizado. Afinal, o nosso viver em sociedade se dá a partir de normas (KATZ, 2011, p.25).

Projeto d3SABAFO

Na cultura do software, funcionar/performar bem é a senha de acesso. Helena Katz (2014)

d3SABAFO5 foi uma proposta de dança contemporânea desenvolvida com

estudantes do curso de Licenciatura em Dança e Teatro da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/Jequié, como finalização da disciplina Processo de Criação Cênica: Dança e Contemporaneidade I, em 2014.2. O evento acontece como uma prática didático/artística e se realiza com apoio de um projeto chamado Engenho de

5A grafia foi feita pensando na estética simbolista. Os artistas dessa época tinham como característica colocar letras maiúsculas no meio dos versos, nesse projeto foi usados essa referência no título.

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Composição6. A discussão do projeto d3SABAFO se situa num ambiente imaginário de cores e sons, em colaboração com os alunos inserindo percepções coletivas.

Opera em diálogo com a estética simbolista, porém sem considerar a dança imanente como os simbolistas propunham. Sugere encontros e desencontros com o outro, com a música e com imagens criadas do/no corpo, nascendo um resultado final afetado pelas sensações desses estímulos.

O projeto durante sua feitura partilhou ideias e muitas conversas que foram se ajustando nas cenas de acordo em que foram sendo concebidas. Foi feito um grupo aberto no FACEBOOK7 para toda comunidade e outro fechado, para resoluções internas. Segundo Sennett (2012, p.37), “A conversa é como um ensaio, que depende da capacidade de escuta”. A metodologia de criação foi sendo desenvolvida de acordo com as necessidades do processo. Durante a composição foram estimuladas leituras e pesquisas em relação ao tema, porém os referenciais bibliográficos não deram conta da reflexão proposta sobre o assunto. Nesse sentido recorremos a vídeos e cartas/depoimentos, e um jogo de perguntas que culminassem em respostas/movimento.

Esses procedimentos nos ajudaram a tecer/compor as cenas na medida em que foram sendo postadas. A importância disso se configura na realimentação e na participação colaborativa que se opera indistintamente entre vários atores/autores. Os processos colaborativos de criação em redes sociais formam estruturas que facilitam a informação circular livremente, de pontos diversos e de maneira não linear a uma infinidade de emissores/receptores de informação.

O ser humano nem é um ator essencialmente dotado de agência, nem um produto passivo ou uma marionete de forças culturais; a agência é produzida no curso de práticas sob uma grande variedade de relações de força e restrições mais ou menos onerosas, mais ou menos explícitas, punitivas ou sedutoras, disciplinares ou passionais (ROSE, 2011, p. 262)

6“Engenho de Composição” constitui-se em uma atividade extensionista contínua que integra estudantes dos Cursos de Licenciatura em Dança e Teatro Da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia, Campus Jequié com a sociedade civil em torno da promoção de uma atividade artística de composição e de apreciação estética.

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Lidar com essas informações nesse ambiente, em se tratando de processo de criação se situa numa ação de deslocamento da percepção enquanto criação/composição em dança.

Considerações finais

A complexidade para tratar do tema nesse espaço descentrado conduz a autonomia e/ou controle e nos aproximam a reconhecer configurações necessárias para lidar com todas as informações. Ao descrever como um processo de criação opera num contexto complexo de uma rede conexionista a partir da compreensão do que sucede no corpo e ambiente com mediação do espaço virtual a partir dos entendimentos propostos pela Teoria Corpomídia (KATZ & GREINER) as singularidades se tornam perceptíveis em cada postagem.

Essa teoria nos aproxima a repostas a questões em relação a autonomia e controle nessa era digital, onde muitos discursos são produzidos de forma horizontal que reflete posicionamentos diversos e constitui-se num local gerador produtor de conhecimento, e instigador de questões ligadas ao indivíduo. Na abordagem dessa teoria e entendimento ao ser aplicado ao corpo que dança on-offline, cartografa informações e constrói discursos apoiado no processo em que as informações se tornam corpos e ao serem processadas negociam com as já existentes. A própria ação lógica de “curtir”, “postar” e “comentar” são respostas nesse contexto que envolve todo o sistema cognitivo produzindo sentido e desencadeando ações instantâneas em que espaços e fronteiras se encontram dissolvidas e que segundo Katz, “a dança precisa estar sendo feita”. E o corpo atesta a veracidade das informações nas trocas que procedem aos encontros, numa perspectiva co-evolutiva em constante negociação com seu ambiente.

Citando as manifestações ocorridas, verifica-se o quanto esses movimentos assim como os processos de criação em redes sociais se constituem por interesses, urgências, reciprocidade e compartilhamento. Justifica-se pensar processo colaborativo em dança nesse espaço dinâmico como uma tentativa de permanecer,

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capaz de oportunizar aos seres humanos administrar coletivamente suas vidas e um terceiro espaço ou espaço de autonomia8.

Castells (2013), cita esse terceiro espaço como uma potência geradora de uma autonomia, e exemplifica isso com a ação desses movimentos sociais sobre as instituições da sociedade, assim como sobre si mesmos.

Em resumo, para que as redes de contra poder prevaleçam sobre as redes de poder embutidas na organização da sociedade, elas tem de reprogramar a organização política, a economia, a cultura ou qualquer dimensão que pretendam mudar, introduzindo nos programas das instituições, assim como em suas próprias vidas, outras instituições, incluindo, em algumas versões utópicas, a regra de não criar regras sobre coisa alguma. (CASTELLS, 2013, p.21).

Outra hipótese que proponho se relaciona ao conceito desenvolvido por Nikolas Rose (2011) e no pensamento de Katz (2014) em que formação de sujeitos se dá no interior de agenciamentos, na reunião de forças, movimentos e afetos com outros humanos, objetos e espaços e como estamos co-implicados nessa habilidade cognitiva, cada vez mais impaciente, intolerante e significante, pois para participar basta usar a mesma ponta do dedo (o dígito) para subscrever alguma petição. Ou seja, nesse mundo construído, o corpo de carne e osso ainda tem uma função importante.

Para lidar com essa outra lógica, o critério que conta é o da eficiência de sua performance. Não importa tanto o que está sendo performado, mas sim se está realizando de forma competente o que deve (KATZ,2014, p.7

Durante o processo de criação o exercício da mobilidade (postar as ações criativas na rede social) do ambiente motivou os alunos a estarem agindo em colaboração. A disciplina é oferecida no segundo semestre e os alunos ainda se encontram no início de sua formação na instituição acadêmica. A universidade mesmo como uma rede de dispositivos ou mecanismos que nada ou ninguém escapa, ao partilhar ações de criação na rede digital com discussão de vídeos e textos, postagens de impressões fílmicas e montagem em grupo de um teaser para canal de youtube,

8Segundo Manuel Castells(2013), é um terceiro espaço(cibernética e espaço urbano), hibrido, porque se pode garantir autonomia na capacidade de se organizar no espaço livre das redes de comunicação, mas ao mesmo tempo ela pode ser exercida como força transformadora, desafiando a ordem disciplinar ao reclamar o espaço da cidade para seus cidadãos.

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possibilita ao estudante diversificar o seu campo de atuação em relação a sua prática profissional/artística e suas co-implicações.

Ao expressar as preferências nesse ambiente, esses estudantes se tornam personagens ativos e admitem suas escolhas assumindo uma postura política de forma parcial. Durante o processo os acordos se fizeram necessários assim como as maneiras de fazer na produção de sentidos “coletivos”.

Em um ambiente atravessado por um jorro de novidades tecnológicas que parece inestancável, novas formas de comunicação não param de surgir. Para além da fascinação que elas produzem em nós, podemos tentar parar de celebrá-las pelo que elas estão fazendo por nós, começar a prestar atenção no que elas estão fazendo conosco (KATZ, 2014, p.5)

O conceito de Corpomídia (KATZ&GREINER, 2005) e o pensamento de Nikolas Rose dialogam na tentativa de pensar que tipo de rede estamos criando em relação a dança disponibilizada no ambiente digital. Esses autores nos ajudam a apontar essa relação como processo co-evolutivo na constituição de sujeitos de suas próprias práticas. A maneira como as ações acontecem em um processo de criação colaborativa on offline e as trocas com o ambiente e como eles atuam co-implicados com vários programas ao mesmo tempo (sms, facebook, instagram, whatsapp) confirma a argumentação proposta por essa teoria.

Torna-se necessário que os envolvidos em um projeto colaborativo, professor, alunos e técnicos assumam sua participação e sua efetiva colaboração conjunta, um exercício de cooperação, troca de ideias e uma atenção para que se prossiga com a proposta. Não é fácil lidar com vários aspectos ligados ao ensino, ou seja, ser professor ou profissional da dança (dançarino, coreógrafo, crítico) requer um exercício constante e diário de escuta, colaborativo, que precisar ser aprofundado e desenvolvido. Essa prática de cooperação habilita ao desenvolvimento de uma convivência harmoniosa, em que a regra é não criar regras (M. Castells, 1999, 2013). Na atualidade, ninguém quer perder mais tempo, existe a dificuldade em ouvir e aceitar o outro que pensa diferente, isso se revela na incapacidade de dialogar e posteriormente entrar em acordo. Atuar em rede trata-se de um exercício de aptidão em que ser eficiente constitui o sujeito capaz de se inserir e performar.

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A conversa é como um ensaio, que depende da capacidade de escuta. Ouvir bem é uma atividade interpretativa que funciona melhor quando focalizamos a especificidade do que está sendo ouvido e buscamos entender com base nesses elementos específicos o que a outra pessoa dá por descontado, sem chegar a dizer explicitamente (SENNET, 2012, p. 37)

A proposta sugerida é também refletir sobre as consequências e condições que determinados discursos/falas se instauram e contaminam de forma duradoura tornando-se verdades eternas. A liberdade propagada funciona de forma inversa, somos constantemente vigiados, sendo a internet uma zona militarizada:

Se voltarmos um pouco, vamos lembrar que nos anos 1990 já estávamos inteiramente conectados pelo uso de browsers e instrumentos de busca. Com a expansão da mobilidade, viver online tinha passado a ser sinônimo de viver e nós, havíamos nos tornado sujeitos conectados „em tempo real‟. Não demorou muito para que o Facebook ultrapassasse o primeiro bilhão de usuários. A euforia pela „liberdade na ponta dos dedos‟ e pelo „triunfo da comunicação horizontal‟ era saudada como a manifestação ampla, geral e irrestrita dos ideais iluministas de liberdade/igualdade/fraternidade. (KATZ, 2014, p.3)

Vale a pena pensar em relação aos acordos que se instauram, como também no desenvolvimento de sujeitos com relativa autonomia na construção de seus destinos pessoais e coletivos no ciberespaço. E, sobre quais possibilidades os corpos que atuam/dançam nesse ambiente que longe de estabilizar, convocam à produção de conhecimento reconhecendo a necessidade de ajustes perceptivos para sobrevivermos. Castells (2003, p.99) já havia feito uma crítica a visão da internet como “terreno privilegiado para as fantasias pessoais” e Lazaratto (2006, p.65) define que “as relações de poder são virtuais, instáveis, não localizáveis, não estratificadas, potenciais, e definem apenas possibilidades, probabilidades de interação (...)”.

Apesar do nível de complexidade e de velocidade das informações nesse ambiente comunicacional no qual hoje fazemos parte, gerir essa sociedade implica em relativizar determinados assuntos pelo qual nos propomos discutir e assumir como formas de vida.

Referências

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

________________. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

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_________________. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013

KATZ, Helena. O Pensamento crítico no mundo do corpo apps e da lógica do

software. ANAIS DO III CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISADORES EM

DANÇA – ANDA. SALVADOR, 2014.

____________. Para ser contemporâneo da Biopolítica: Corpo, moda, trevas e luz. IN:Corpo, moda e ética: pistas para uma reflexão de valores, São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011.

____________. Por uma teoria do corpomídia. IN: O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Annablume, 2005.

LAZZARATTO, Maurízio. As revoluções do capitalismo. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

SENNETT, Richard. Juntos. Rio de Janeiro: Record, 2012.

SHIRKY, Clay. A cultura da participação: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de janeiro: Zahar, 2011.

i *Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque é doutoranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora assistente do curso de Licenciatura em Dança na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB.Email:iacerqueira@hotmail.com

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