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1) Adoção Um gesto de amor e de responsabilidade

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Academic year: 2021

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- A ADOÇÃO POR CASAL HOMOAFETIVO

Autora: Cristine Borges da Costa Araújo 1) Adoção – Um gesto de amor e de responsabilidade

A adoção deve ser observada sob dois aspectos legais, que formam a base desse direito da criança e do adolescente, quais sejam:

O primeiro deles é o “Princípio do melhor interesse da Criança”, indicado no art. 3º da Convenção Internacional sobre Diretos da Criança (ONU, 1989), assegurando, em primeiro lugar, o bem estar da criança em detrimento de qualquer interesse dos pais.

O segundo aspecto é a regulamentação do art. 227 da Constituição Federal através da Lei nº 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que materializou o direito da criança e do adolescente de terem asseguradas a convivência familiar e comunitária.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), disciplina no artigo 3º: “A criança e adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.”

O artigo 19 da mesma Lei determina: “Toda a criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária”. (grifamos)

A Lei n.º 8.069/1990, na Subseção IV, arts. 39 a 52, e, 141, 159 e 206, dispõe acerca da adoção.

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O art. 41 determina: “A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais”. (grifamos)

No artigo 43 encontra-se a real fundamentação do instituto da adoção, qual seja: encontrar uma família adequada para determinado órfão ou criança abandonada, o que deve prevalecer, é o bem estar emocional, educacional e financeiro do menor:

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.

Percebe-se pela legislação acima, que a essência da Lei se baseia no bem estar da criança, para que esta possa se desenvolver emocional e socialmente na família que foi escolhida para acolhê-la, receber a educação, o amor e o carinho que não receberia se estivesse em um abrigo ou orfanato, muitas vezes destinada a um futuro incerto, com grandes chances de se tornar um adulto emocionalmente despreparado para a vida pessoal e profissional, quando não por acaso possível de cair na “teia” da marginalidade.

Está a se falar da filiação socioafetiva, a qual resulta da “posse do Estado de filho”, onde o fator biológico não é essencial, mas sim a convivência afetiva, que prova o vínculo parental pelo afeto, assim reconhecida produz todos os efeitos pessoais e materias que lhe são intrínsecos.

2) Entidade Familiar – União Homoafetiva - Adoção

É sabido que o Direito nasce de fatos sociais, das relações entre os seres humanos, as quais provocam transformações sociais e culturais, muitas vezes, sem norma regulamentadora, mas que se impõem perante o Direito, e este, tende a se adaptar àqueles.

Essa adaptação, na maioria das vezes, tem como base a Constituição Federal Brasileira, que contém em seu bojo uma séria de princípios e direitos que visam à implementação de uma sociedade mais justa.

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Dentre os Princípios, destaca-se o Princípio Fundamental da Dignidade da Pessoa Humana, como FUNDAMENTO DO ESTADO DE DIREITO (art. 1º, III). E dentro os direitos o que se destaca e o da Igualdade (art. 5º), o que significa que todos os cidadãos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza.

“A Constituição Federal de 1988 é um marco de ampliação dos direitos dos cidadãos, garantindo a consolidação de direitos a todos os excluídos pelas leis ordinárias.” (Paulo César Ribeiro Martins).

No meio deste turbilhão de mudanças sociais, encontra-se a família, a qual, não pode mais ser considerada somente aquela formada por homem e mulher através do casamento civil e religioso.

A mulher tornou-se independente, com direitos semelhantes a dos homens; proliferam as famílias monoparentais, muitas vezes em decorrência do divórcio; as pessoas se casam mais de uma vez, conforme os relacionamentos florescem, se desenvolvem, perecem e terminam e as uniões de pessoas do mesmo sexo, ganharam notoriedade, não sendo mais concebível, na atualidade, omitir a opção sexual por receio de preconceitos.

Cada indivíduo tem capacidade de desempenhar tanto a função materna como a paterna.

Nas famílias tradicionais, muitas vezes, o pai assume a função materna e a mãe a função paterna, sem que isso prejudique o desenvolvimento da orientação sexual dos filhos, haja vista, que o contexto familiar adequando para o bom desenvolvimento da criança está mais ligado ao tipo de relação que os pais estabelecem entre si, com os filhos e com a sociedade, formando um conjunto familiar saudável, que independe de orientação sexual.

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Na perspectiva moderna, o Instituto da adoção constitui-se na busca de uma família para uma criança, onde se observa o melhor interesse para esta, primando pelo seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, a ser desenvolvido em ambiente familiar adequado.

O ambiente moralmente sadio, é aquele onde se encontram pessoas comprometidas em criar e educar o adotando, tendo como impedimento básico a má formação moral dos adotantes, o que, de maneira alguma, tem a ver com a orientação sexual destes.

Uniões estáveis afetivas, onde prevalece um lar respeitável e duradouro, havendo entre os parceiros lealdade, fidelidade, assistência recíproca, respeito mútuo, numa verdadeira comunhão de vida e interesse, caracteriza todos os requisitos de ambiente familiar adequado à educação da criança ou adolescente, sendo compatível com a medida de adoção.

“Como vimos, a família é uma instituição construída

socialmente para dar conta de necessidades econômicas, religiosas, de filiação e pertencimento, sociais, etc., mas não há uma concepção de família pronta e acabada, pois os modelos sociais da constituição familiar são transitórios e consoantes à ideologia dominante. Seus membros cumprem, com isso, papéis específicos e distintos.

Nesse constante devir, chega-se a modelos familiares na contemporaneidade que contemplam a diversidade, a pluralidade e as concepções variadas de agrupamentos de pessoas, que prioriza vínculos de solidariedade, amor e companheirismo. Nesse registro afetivo, ganha visibilidade o casal composto por duas pessoas do mesmo sexo, que passa a deter o direito, como qualquer outro casal heteroativo, de adotar uma criança conjuntamente.” (Cruz, Carlos Henrique Souza da. Duas filhas: dois pais – adoção homoafetiva. Idéia.2009, p.98)

A união pelo amor, fundamentada no afeto, é o que melhor caracteriza a entidade familiar, uma vez que conduz estas duas pessoas a viverem juntas, a compartilharem os bons e os maus momentos da vida, compartilhando-os de forma pública e contínua e com o objetivo de constituir uma família, acrescida de filhos adotivos, sendo esta muito similar a união estável, por isso, deve a esta ser atribuídos iguais direitos.

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No Brasil, alguns magistrados vem entendendo que a dinâmica do Estatuto da Criança e do Adolescente, no que pertine a Adoção, deve voltar-se unicamente para o bem estar e a felicidade das crianças e adolescentes carentes e abandonados, encontrando para estes uma família adequada, dentro do que preceitua ECA, desvinculando-se de convenções sociais, muitas vezes preconceituosas e arcaicas.

No que se refere à viabilidade da adoção por partes desses casais, o Estatuto da Criança e do Adolescente é neutro, pois não dispõe a favor nem contra, posto que, em seu art. 42, preconiza que “podem adotar os maiores de 21 anos, independentes do estado civil.”

- Amparados por tal premissa, encontramos vários julgados nesse sentido, a saber:

No Estado de São Paulo, mais especificamente na cidade de Catanduva, em junho de 2005, foi concedido a um casal (masculino) que conviviam há mais de 14 (quatorze) anos em união afetiva estável o direito a adoção de uma menina.

No referido processo, com parecer favorável do Ministério Público, a decisão judicial teve como base a Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia, proferida pelo Magistrado da Vara da Infância e da Juventude daquela Comarca, Dr. Júlio Spolare Domingos, a qual provocou grande divulgação nacional, uma vez ser esta pioneira no país.

No Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Bagé, em novembro de 2005, foi concedida adoção de dois meninos a duas mulheres gaúchas, que conviviam em união afetiva estável há mais de 07 (sete) anos, pelo Juiz da Vara da Infância e da Juventude daquela Comarca, Dr. Marcos Danilo Edon Franco.

No caso, o Juízo estendeu à companheira da mãe adotiva, o vínculo da maternidade para com os menores, pois, além da convivência de fato, sendo educados e convivendo com ambas, o pedido da outra mãe sócio-afetiva se baseou no desejo de compartilhar, juridicamente, com a sua companheira (legalmente mãe adotiva), as mesmas responsabilidades e deveres jurídico-parentais com os menores.

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O Ministério Público da Comarca em questão recorreu da decisão, por entender que “a adoção por casal convivente em união estável somente poderia ocorrer da união entre homem e mulher”.

Não obstante, o vanguardista Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, por intermédio da Sétima Câmara Cível, negou provimento, por unanimidade, à Apelação Cível interposta pelo Ministério Público (Proc. 70013801592), confirmando a possibilidade de adoção por casal homoafetivo. Segue o ementário:

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. ADOÇÃO. CASAL FORMADO POR DUAS PESSOAS DO MESMO SEXO. POSSIBILIDADE.

- Reconhecida como entidade familiar, merecedora de proteção estatal, a união formada por pessoas do mesmo sexo, com características de duração, publicidade, continuidade e intenção de constituir família, decorrência inafastável é a possibilidade de que seus componentes possam adotar.

- Os estudos especializados não apontam qualquer inconveniente em que crianças sejam adotadas por casais homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do afeto que permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga aos seus cuidadores.

- É hora de abandonar de vez preconceitos e atitudes hipócritas desprovidas de base científica, adotando-se uma postura de firme defesa da absoluta prioridade que constitucionalmente é assegurada aos direitos das crianças e dos adolescentes (art. 277 da Constituição Federal). Caso em que o laudo especializado comprova o saudável vínculo existente entre as crianças e as adotantes.

- NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME.”

Reportando-nos ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, não podemos deixar de citar trecho de artigo escrito pela Desembargadora Maria Berenice Dias, especialista em Direito Homoafetivo, no que diz respeito a adoção (www.mariaberenicedias.com.br):

“Vivendo em famílias homoafetivas e possuindo um vínculo jurídico com relação a apenas um par, resta absolutamente desemparada com relação ao outro, que também é considerado pai ou mãe. A ausência do estabelecimento de

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uma relação chancelada juridicamente gera a absoluta irresponsabilidade de um dos genitores para com a criança. ... Negar a possibilidade de reconhecimento da filiação que tem por base a afetividade, quando os pais são do mesmo sexo é uma forma perversa de discriminação que só vem prejudicar quem apenas quer ter alguém para chamar de mãe, alguém para chamar de pai.

Se são dois pais ou duas mães, não importa, mais amor irá receber.”

No Estado do RIO GRANDE DO NORTE, em

decisão pioneira

neste Estado, no ano de 2009, foi proferida sentença favorável a casal em união

estável afetiva envolvendo a adoção de uma criança, no caso, a adoção foi concedida ao casal, decisão proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Natal/RN.

Como se percebe a sociedade se modifica e com ela novos paradigmas vão surgindo, o antigo conceito de família foi se dilatando, transformando-se à luz da Constituição Federal que enlaçou temas sociais inovadores, garantindo efetividade à intervenção Estatal nas relações de direito privado, antes arcaicas e precárias, se Observado o Código Civil de 1916.

A família atual possui como base o afeto, o respeito, a igualdade e a dignidade humana, entre outros fundamentos que regem os Princípios Constitucionais no Direito das Famílias.

Bibliografia: Dias, Maria Berenice: Manual de direito das famílias – 7ª edição revista, atualizada e ampliada – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

Site: Âmbito Jurídico: www.ambito-juridico.com.br, acesso em 23/10/2008; Pai Legal.net: www.pailegal.com.br, acesso 23/10/2008; Advocacia Romano: www.advocaciaromano.com, acesso em 23/10/2008; PHP-NUKE: www.mgm.org.br, acesso em 23/10/2008; Paraná Online, www.parana-online.com.br, acesso em 23/10/2008

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