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FRATERNIDADE HERMÉTICA. Junho de 2012

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FRATERNIDADE HERMÉTICA

Junho de 2012

SCHOLA PHILOSOFICA HERMÉTICA CLÁSSICA ITÁLICA

A “Schola Philosofica Hermética Clássica Itálica” (SPHCI) Ir + Tm+ de Myriam foi fundada por Giuliano Kremmerz e tem como base a Pragmática

Fundamental ( Estatuto), composta por 60 artigos aprovada na Convenção de 22 de dezembro de 1909, que ocorreu na Grande Ordem Egípcia sob cuja alta

proteção a Irmandade de Myriam está colocada.

Giuliano Kremmerz estabeleceu que a Irmandade siga um duplo método de estudo: um de leituras, conferências e publicações, com o objetivo de dar um

conjunto de conhecimentos de tudo o que se refere ao hermetismo, ciências antigas e psicologia moderna; o outro de práticas tradicionais e individuais,

através das quais se dirigem as manifestações das energias, para que sejam úteis à terapêutica hermética e à taumaturgia, através de uma experiência

científica controlável por todos.

A Irmandade tem, com efeito, finalidade exclusivamente terapêutica e contribui para aliviar e curar o sofrimento físico daqueles que a ela recorrerem, através

da atuação de quem compõe a sua corrente anímica, que atinge a força inexaurível da qual o Centro dispõe.

Na América Latina a Irmandade de Myriam usou o nome de Fraternidade Hermética e foi fundada em 1928 em Buenos Aires e sucessivamente em São Paulo

por Manlio Magnani, que tinha sido iniciado no hermetismo mágico na Itália, antes de sua viagem para a América do Sul.

Magnani instituiu a Secretaria para a América Latina da Fraternidade Hermética, dando-lhe um corpo ritual em boa parte afim àquele da Myriam.

Após a morte de Magnani em 1943, a Fraternidade se ocultou, e volta hoje a operar no Brasil.

Uma breve Biografia de Kremmerz

O sobrenome Kremmerz não deve enganar. Não se trata de um sobrenome de origem alemã ou norte-europeia: Kremmerz é o nome esotérico, tirado de um nhieroglífico egípcio, do doutor Ciro Formisano.

Ciro Formisano era napolitano, tendo nascido em Portici, perto de Nápoles, no dia 8 de abril de 1861, em uma família de classe média.

Fez os estudos clássicos em Nápoles e formou-se em literatura; trabalhou como professor de história e geografia em um ginásio perto de Caserta.

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para Montevidéu; do Uruguai transferiu-se para a Argentina que

naquele final de século era um centro ativo de espiritualismo e ocultismo. Ali completou os seus estudos formando-se em medicina e especializando-se em

homeopatia. As notícias que possuímos sobre a estadia sul americana de Kremmerz são muito vagas e de segunda mão, porque o mestre sempre evitou comentar este período da sua vida. Ficou na Argentina, viajando também para o Brasil (Mato Grosso) e para a Bolívia até 1893, onde dedicou-se com sucesso à medicina homeopática e onde, segundo o nosso ponto de vista, deixou sinais profundos de terapeuta em algum centro hermético; ao mesmo tempo conta-se que depois de algumas boas operações na bolsa conseguiu acumular uma fortuna que permitiu-lhe voltar para a Itália, reencontrar a família e continuar na sua missão de terapeuta.

Após o seu retorno para a Itália a sua vida pode ser dividida em dois períodos distintos, um que vai de 1895 a 1912 no qual Kremmerz continuou a morar em Nápoles e outro que vai de 1912 a 1930 no qual morava no principado de Mônaco. Morreu em Mônaco em 1930.

(Extraído da Palestra sobre a Myriam feita por Roberto Sestito em São Paulo em 2002)

Entre as muitas histórias e lendas, difundidas ao redor da figura de Giuliano

Kremmerz, aquela da viagem e de sua permanência na América Latina está entre

as mais fascinantes.

Sentimos o dever de contá-la sumariamente, já que quando falarmos do papel de Magnani na Fraternidade Hermética latino-americana, serão inevitáveis as comparações com a Fraternidade de Myriam e então com a viagem do hermetista de Portici para a Argentina.

No fascículo anônimo “O mito do Kremmerz”, escrito provavelmente por Alfonso Del Guercio, no capítulo “A permanência na América” lemos as seguintes informações:

“Antes de mais nada resulta que Kremmerz permaneceu na América, com certeza na Argentina, pelo menos por um período de tempo de mais ou menos três anos, e mais precisamente de maio de 1889 a março de 1892. E foi justamente no ano de 1892 que deve ter ocorrido o seu retorno para a Itália, quando em 8 de Março daquele ano a Comissão Diretiva do jornal “O Operario Italiano” de Buenos Aires tomou conhecimento da demissão de Formisano com a seguinte carta: “Temos o dever de participar à V.S. que na reunião de ontem esta Comissão diretiva, sentida pelo fato de que o Sr. tenha apresentado a sua demissão por ter que se repatriar, deliberou por unanimidade de votos, agradecê-lo muito pelos importantes serviços prestados ao jornal …”.

Em uma biografia de Kremmerz escrita por Arduino Anglisani lemos ao contrário que Formisano ” … tinha seguido uma expedição científica comandada por um Príncipe, da qual faziam parte vários cientistas, nas florestas do Mato Grosso”.

Com uma notícia como esta, a fantasia humana voa longe porque para quem não conhece o Estado brasileiro de Mato Grosso, na divisa com a Bolívia e com o Peru, não pode ter a mínima idéia de como pudesse ser esta região naqueles anos: uma interminável selva habitada por poucos indígenas misteriosos e inacessíveis e onde era impossível penetrar.

Sem dúvida, porém, o Mato Grosso, como a inteira bacia amazônica, conservavam e conservam os mistérios mais interessantes da tradição xamânica e da magia natural, aquela magia, principalmente baseada sobre o conhecimento das ervas, do qual Kremmerz teria dado prova de ser mestre quando fundou em Nápoles a Fraternidade de Myriam.

Então não é um absurdo supor que naquela breve estadia argentina Kremmerz tenha participado de algum sodalício hermético e que tenha praticado a terapêutica mágica, da qual, a partir de 1896, com o início da publicação do “Il mondo secreto” será promulgador nos círculos esotéricos italianos.

Uma outra hipótese, certamente mais ousada mas que se baseia em alguns elementos que nos

preocuparemos em evidenciar no decorrer do nosso texto, é que Kremmerz, durante suas viagens pela América do Sul, tenha descoberto na Argentina ou talvez em outro lugar uma fonte ou um pólo da tradição hermética, o qual assumiu na Itália, por obra do próprio Kremmerz, a direção e a aplicação conhecidas sob o nome de Myriam e na Argentina, por obra de Magnani, sob o nome de Fradernidad Hermetica, e a denominação comum da “Schola Philosofica Hermetica Classica”.

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(Extraído do prefácio do livro de Manlio Magnani-Supremo Vero– Associação Cultural IGNIS, 2006).

Porque o nome “Myriam”

Maria (ou Myriam) representa a alma humana perfeita, virgem e limpa das impurezas; é o estado de pureza virginal que concebe e faz nascer no homem o Christos milagroso – dito divino – que está dentro de nós, mas que se só se manifesta nas sobrecitadas condições. O Christos é o verbo divino feito carne:

verbum caro factum est.

Maria (ou Myriam) é então um estado operante por amor fraterno (manifestação do amor que nos atrai para o centro unitário de Deus); – novamente o símbolo da Rosa+Cruz que dá potência à vara dos magos, aqueles que são salvos das águas.

Para terminar, Myriam é a Minerva médica (todos os médicos sabem o que seja) que dispensa a sanidade pro salute populi (para a saúde de todos).

Este simbolismo da Myriam é anterior de muitos séculos ao Cristianismo e a Ísis velada egípcia e as divindades femininas ou lunares assírio-babilônicas são testemunhas.

A História da “Porta Hermética” de Roma

O alquimista Giuseppe Francesco Borri em 1659 foi acusado pela Santa Inquisição de heresia e

envenenamento. Fugitivo, após uma vida aventureira passada em várias cidades da Europa, onde exerceu a profissão médica, foi preso e ficou encarcerado em Roma na prisão de Castel Sant’Angelo entre 1671 e 1677.

Quando lhe foi concedida a semi liberdade em 1678, voltou a frequentar seu velho amigo Massimiliano Palombara que o acolheu em sua casa nos anos sucessivos até a sua morte em 1680. Entre os anos de 1678 e 1680 Borri e Palombara fizeram as inscrições enigmáticas, e sabe-se com certeza que pelo menos uma inscrição da casa (aquela acima do arco da porta na rua Merulana) é de 1680. Borri foi novamente detido no Castel Sant’Angelo em 1691 onde teria morrido em 1695, mas apenas três anos após, presume-se que tenha nascido um dos mais misteriosos personagens do século XVIII: o Conde de St. Germain, um lendário alquimista que teria encontrado o segredo do elixir da longa vida, cuja existência se sobrepõe em parte com aquela do mago Cagliostro que por sua vez declarava ter vivido por dois séculos. A comparação entre os retratos de Francesco Giuseppe Borri e do Conde de St. Germain, mesmo que sejam separados por um século, mostram de acordo com algumas opiniões, que se referem à mesma pessoa.

Manlio Magnani

As notícias que temos sobre a vida de Manlio Magnani são poucas e fragmentárias

no que se refere ao período “italiano” que

vai desde o nascimento até 1928, o ano de sua viagem para a Argentina.

As notícias são mais abundantes durante o período “sul-americano” que vai de 1928 até 1943, ano de sua morte. Foi um engenheiro mecânico, especializado na criação de sistemas de ar condicionado. Casou em Parma com Irene Valenti, com a qual teve dois filhos: um homem que quando tinha vinte anos foi com

ele para a Argentina e que morreu logo após a sua chegada e uma mulher, Cleofe, que viveu até a morte na casa paterna em Corniglio, pequena cidade perto de Parma. Em Parma, o jovem Manlio foi iniciado na Maçonaria do Rito Escocês. Em Palermo foi iniciado no Rito Oriental Antigo e Primitivo de Memphis,

o mesmo Rito no qual foi iniciado em 1902 Arturo Reghini, e no qual obteve o grau de Grande Inspetor. Pertencia à Irmandade Terapêutica+Mágica de Myriam, provavelmente inscrito pelo próprio Ciro Formisano, visto que Magnani possuía o cordão, a Pragmática e os Ritos na edição original usados

naqueles anos, e elaborados por Giuliano Kremmerz, objetos que eram dados reservadamente apenas aos afiliados da Myriam.

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OBSERVAÇÕES SOBRE O TRABALHO DE MANLIO MAGNANI

de Ivan della Rosa (*)

Com “Supremo Vero”, publicado pela Associação Cultural Ignis, Roberto Sestito propõe à atenção do público italiano o retrato de um esoterista da cidade de Parma pouco conhecido pela maioria dos cultores desta matéria. Engenheiro, físico e estudioso de hermetismo, Manlio Magnani (1881-1943) pertence àquele grupo de estudiosos formado pela escola pitagórica contemporânea de Amedeo Armerntano (1886-1966) e de Arturo Reghini (1878-1946). Iniciado no Rito Filosófico Italiano, no Rito Primitivo Oriental de Memphis e na Ordem Martinista, foi inscrito na “Schola Philosophica Hermetica Classica Italica” (S.P.H.C.I.) de Giuliano Kremmerz como testemunham os fascículos e outros objetos originais da Miriam encontrados em seu arquivo. (…)

Em 1928 deixou a Itália por motivo de trabalho e foi para Buenos Aires, onde ficou por alguns anos antes de transferir-se definitivamente para São Paulo no Brasil convidado por Armentano. São Paulo o hospedou até a sua morte em 1943.

Na introdução bem orientada deste pequeno livro, Sestito nos apresenta então o ambiente hermético sul-americano da época ajudando-nos a colher as diferentes condições de vida de Magnani e dos poucos, mas interessantes, personagens e sodalícios com os quais entrou em contato. Destes ambientes são

testemunhas as cartas e as informações, poucas mas de segura procedência, que vêem o nosso

protagonista pertencer ao círculo de uma não muito bem identificada “Schola Philosophica Hermetica” – semelhante no objetivo àquela kremmerziana mas caracterizada com relação a esta última por uma colocação mais acentuadamente Órfico-pitagórica dentro da qual conduziu o seu trabalho e uma exemplar experiência terapêutica.

Traçam-se assim os contornos de um esoterista com uma personalidade muito singular. Prova disto são os profundos conteúdos da coleção selecionada de ensaios, no livro apresentados nos quais o autor manifesta uma maturidade de idéias e uma intensidade de pensamento incomuns. Um erudito, então, em plena coerência com a tradição filosófica antiga, nas quais páginas não se encontra somente a exposição ordenada de um sistema, mas também um empenho espiritual “ativo” que, indo de Plotino à Gnose, das Upanishads à Kabbalah, tem ao mesmo tempo o raro valor de fornecer um quadro atento e um estímulo vital para com a dimensão da transcendência.

(O texto integral foi publicado pela revista “Politica Romana” nº. 9)

(*) Ivan dalla Rosa, nasceu em Bolzano (Itália) em 1958. Formado em filosofia em Bologna. Estudioso dos textos de Giuliano Kremmerz, René Schwaller de Lubicz e Massimo Scaligero, conhece profundamente a história do hermetismo ocidental com particular referência à sua dimensão mediterrânea aplicando-se ao estudo do pensamento filosófico hermético das origens com relação aos conceitos e às doutrinas dos autores pertencentes à assim dita Escola Partenopéia. A este propósito, dedicou-se à analise de um vasto e variegado “corpus” de fontes da idade antiga e moderna que compreendem os textos do Corpus

Hermeticum, aqueles da alquimia muito antiga e aqueles dos mais credenziados mestres da modernidade. Publicou para a World Futures: The journal of general evolution, para as Edições Rebis e Política Romana artigos e ensaios sobre várias temáticas que se referem à filosofia hermética.

Tendo tido como base o ensinamento kremmerziano, atualmente dedica-se à escritura de um trabalho monográfico sobre o Arcano Mágico nas doutrinas da Escola napolitana. Vive e trabalha em Bolonha (Itália).

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Indicador bibliográfico

(Algumas leituras sugeridas por Manlio Magnani)

Hinos Órficos

Cesare della Riviera, Il mondo magico degli eroi Paracelso, Obras completas

Franz Cumont, Os mistérios de Midras, Editora Madras CORPUS HERMETICUM

Enrico Cornelio Agrippa, La filosofia occulta Thomas Burgoyne, La luz de Egipto

Sedir, Historia Y Doutrina De La Rosa-cruz

Luigi Valli, Il linguaggio segreto di Dante e dei Fedeli d’Amore G. Meyrink, O Golem

James George Frazer, The Golden Bough Lucio Apuleio, O asno de ouro

Jámblico, Vida pitagórica. Madrid,Editorial Gredos Plotino, Enéadas

Ino Orfico a Igea

(Saude)

Amável e querida, Fecundadora, rainha universal,

Escuta oh bendita Igea, Que trazes felicidade,

Mãe de todos,

Os males dos mortais são destruídos por ti; Toda casa por teu mérito floresce alegre,

e as artes florescem, o mundo te deseja,

oh Soberana,

somente o Hades que destrói as almas te odeia, oh sempre jovem, o desejada,

Repouso dos mortais:

Sem ti todas as coisas são inúteis para os mortais, nem mesmo a riqueza traz felicidade para as festas,

e sem ti o homem se torna um velho sofredor; Somente tu comandas a todos e imperas sobre todos. Então tu, deusa, vem aos iniciados sempre protetora,

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Julho de 2012

O FUTURO DO BRASIL

Este artigo faz parte de uma coleção de escritos que foram publicados no livro “Supremo Vero” de Manlio Magnani, pela “Associazione Culturale Ignis”.

Considerando-se a atual situação política do Brasil, que está se tornando uma potência mundial assim como a China, a ĺndia e a Rússia, este artigo de 1937 pode ser considerado realmente profético.

°°°

É permitido a um filósofo da História, provisoriamente hóspede da grande República americana, exprimir as suas íntimas convicções sobre o presente e sobre o futuro do Brasil?

Acredito que sim. E me preparo para escrever as minhas convicções porque admiro e amo o Brasil, porque nesta terra maravilhosa e estando no meio deste povo privilegiado sinto vibrar as forças criadoras de um imenso destino.

Há mais de vinte anos eu renunciei a publicar os meus escritos. Somente o contato com aquele prodígio de beleza e força que é o Brasil e a clara percepção que está se formando para ele um futuro incomparável, puderam operar em mim a profunda mudança que me induz a pegar novamente em uma caneta. Que o leitor me perdoe a digressão e venhamos ao argumento.

+ + + A situação mundial pode ser resumida assim:

- A Europa chegada às horas críticas da velhice está ocupada com um trabalho importantíssimo: aquele de rejuvenecer, e as suas energias de vida operam em tal sentido com grande fervor;

- A Ásia está elaborando alguma coisa de enorme através das vicissitudes de seu próprio despertar depois de uma milenar letargia. Está próximo o despertar, iminente; este despertar será formidável quando terá se realizado o peso asiático sobre a vida mundial. Vive agora a vigília do completo despertar. O Japão

enquanto talvez acredite preparar uma conclusão, é ao contrário um portador, muito eficaz, de estímulos para o despertar. A primeira a despertar será a China, depois a ĺndia, depois... enfim a Ásia inicia uma nova era histórica;

- a América do Norte é um mastodonte consagrado ao fracasso. Colocada entre a Europa e a Ásia ela não soube entender os seus rumos, e não soube ou não pôde nem mesmo intuir o caminho para seu próprio destino . Mentalidade e sentimento focalizados sobre meras aparências de vida e não sobre várias atividades e essências de vida, provará somente os esplendores fáceis de benefícios transitórios obtidos através de reflexos de atividades históricas que continuaram a ser estranhas para ela. Nada de diferente, nada além disto.

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Para que um equilíbrio mundial seja possível, e para que o jogo da translação das civilizações sobre o planeta seja completo é necessária também a participação do outro hemisfério. Agora a vida em nosso planeta tem respiração e ritmo universais, não pode ficar localizada próxima a um só polo.

+ + +

De fato a América do Sul sente ser chamada para funções mundiais, talvez funções ainda não bem compreendidas pelas mentes, porém pressentidas pelos povos, intuídas pelas inteligências.

Europa, América do Norte, e o agente mais ativo do despertar asiático, o Japão, apontam a atenção sobre a América do Sul com curiosidade, interesse, prevenção e também com uma vaga sensação de temor. Na América do Sul todo profundo observador o qual seja acostumado a considerar os fenômenos nas causas e em seus desenvolvimentos, - e não somente nas aparências como é próprio de uma certa fácil e vaga ciência – descobre fácilmente o férvido operar de impulsos vitais cujo jogo procede com firmeza, fortemente e com coordenação inegável, mesmo que as aparências possam dissimulá-la ou ocultá-la. Nada de igual se manifestou durante a formação da potência Norte Americana. Lá operavam impulsos menos profundos, os quais depois se confundiram com aquilo que eu chamei antes de reflexo de atividades históricas que continuaram estranhas. E por isto aquela potência será sempre instável, extremamente traiçoeira, estéril de eficácia históricamente e mundialmente duradoura ou geratriz de eventos de ampla potência.

O Brasil se apresenta de uma maneira especialmente típica. Para expressá-la eu me sirvo de um conceito comum a muitos estudiosos mesmo que não seja suficientemente difundido: o Brasil é a América do Sul inteira. Não é preciso dar às palavras um sentido comumente político; aqui falamos das forças íntimas, profundas da vida.

Eu considero o conceito o Brasil é a América do Sul inteira por si só tão evidente que a sua veracidade não precisa de demonstração. Então não é para dissertar sobre esta verdade evidente que eu escrevo.

Existe neste conceito muito mais; e agora peço aos homens brasileiros de pensamento um pouco de sua atenção.

+ + +

A maravilhosa realidade que está em processo de elaboração no Brasil tem valor e sentido não somente Sul-Americanos, não sómente americanos, mas universais.

No Brasil, e só no Brasil, se manifesta, em desenvolvimento perfeitamente observável um processo de formação étnico-psicológico ao qual não posso, não sei encontrar confrontos.

Todos os povos – com exceção do Brasileiro – oferecem aspectos equivalentes, não obstante aparentes e por isto superficiais diferenças, naquela que podemos considerar a nota falsa de seus desenvolvimentos. Aqueles aspectos, por mais que sejam numerosos, nós podemos incluí-los em três categorias principais: - relativismo e unilateralidade;

- involuntária, inconsciente escravização a correntes, tradições ou modos já estabelecidos, próprios ou importados;

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Sem dúvida o mundo deve ao prevalecer absoluto nas nações velhas e novas de uma ou mais destas características,a impotência para resolver as questões mais importantes e gerais, males gravíssimos do presente momento.

Ao invés de pensar em crises econômicas ou políticas ou morais, quando consideramos o mundo atual – especialmente nos últimos cinquenta anos – seria mais apropriado pensar em uma verdadeira insuficiência étnico-psicológica. Cuja insuficiência foi e é a causa pela qual nenhum país e nenhum grupo político tenha podido compreender em tempo como na base de todas as questões de hoje exista uma causa mais vasta, absolutamente mundial, aonde encontram origem todos os problemas, questões debatidas, e aonde fatalmente todos precisam ser resolvidos. A falta ou até mesmo somente a imperfeição de uma tal compreensão inibe que se possa inventar meios aptos para as soluções adequadas.

Nos momentos mais solenes e trágicos da história verificou-se o aparecimento de um novo explendor de vida e de civilização, justamente quando entre os povos competidores, um se manifestou capaz de sentir mais universalmente, e então capaz de levar-nos para as suas concepções e para os desejos ousados para um ponto mais longe, para uma ordem mais geral de todos os particularismos e relativismos conhecidos. A origem e o estabelecer-se das grandes épocas sucessivas de civilização na história da humanidade, vos demonstra a exatidão deste princípio. As civilizações de Roma, Grécia, Egito, Pérsia, Extremo Oriente, todas foram sempre assim. Até mesmo a salvação da qual desfrutou a Europa no final da Idade Média, e que conduziu depois às possibilidades da grandiosa América, deve-se justamente ao repetir-se do mesmo fenômeno.

Ora, aonde encontrar hoje as possibilidades de uma tal elevação? do surgir de uma visão apta a atingir a base mais profunda dos fenômenos? do surgir de inteligência e vontade de ação capaz de traçar o sulco no qual curso possa e deva desenvolver-se um novo ciclo de civilização?

Todas estas possibilidades eu as vejo no Brasil, na nação Brasileira. + + +

Um complexo processo étinico-psicológico muito amplo para poder ser descrito em um artigo - , que se desenrola no Brasil, favorecido extraordinariamente pelas condições naturais e geográficas, é “substância” da minha fé e “razão” das minhas afirmações.

A atenção que pedi pouco antes aos homens Brasileiros de pensamento, eu gostaria que fosse direcionada a observar melhor o quanto a inteligência e o sentimento brasileiros estão forjando lentamente sob este sol quente em meio a uma exuberância verde e florida da natureza muito bonita. É um fluir de pensamento e de sentimento em ritmos sempre mais amplos, em ritmos que vão longe e se alargam em distâncias infinitas como as ondas do mar agitado. E não obstante fica, como diria o antigo Poeta, “fixo em seu centro”, isto é fixo em uma maravilhosa unidade fundamental, básica.

As improvisações modernas de todo gênero, especialmente aquelas da economia, da técnica e da literatura e dos costumes, em uma palavra as modernas improvisações da vida artificial, chegam aqui também, assim como em todos os lugares. Os fantasmas antigos e novos também estão presentes aqui assim como em qualquer outro lugar. Não se fala das coisas mais profundas, mas delas não se fala em nenhum lugar do mundo. A alma Brasileira não é seduzida pelas improvisações nem pelos fantasmas. É a única a não sofrer esta sedução. Por que?

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As coisas mais profundas, isto é a realidade do espírito e as verdades essenciais da vida, aquelas que agora não encontram uma maneira para expressar-se na filosofia ou na arte, agem na alma Brasileira, lhe dão a virtude de aproximar-se do novo e deter-se sobre o antigo com um senso de jogo, um senso de senhor que sabe ou sente de não estar ligado nem a um nem ao outro, que sabe de ser sí mesmo e naquele ser sí mesmo está pressentido todo o futuro.

Qual futuro?

Analisem profundamente o sereno olho do brasileiro, o jovem ou o velho, indaguem o secreto vigor espiritual que está no profundo de sua alma, e poderão adivinhá-lo. A profundidade e a vastidão da descoberta se revelarão com um senso de universalidade.

E isto nos garante que no Brasil de hoje começa o mundo americano de amanhã.

São Paulo 22/IX/1937 Manlio Magnani

Amadeu Rocco Armentano

Nasce em Scalea (Itália) no ano de 1886. Músico, filósofo, mestre oculto da “Scuola Italica”, iniciado em Florença nos graus da Maçonaria Simbólica e em Roma nos elevados graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, membro do Supremo Conselho e fundador, juntamente com o filósofo pitagórico Arturo Reghini, do “Rito Filosofico Italiano”. Foi doutor em hermetismo membro da “Società Alchemica Italiana”, da qual também fez parte Giuliano Kremmerz.

No ano de 1924 transferiu-se para o Brasil e foi recebido pelas maiores instituições maçônicas de São Paulo. Em 1927, para sanar uma cisão criada no Grande Oriente de São Paulo, foi encarregado pelo Supremo Conselho dos Kadosh de presidir uma comissão de pacificação, que assumiu a tarefa de acabar com o desacordo.

No arquivo histórico de Armentano está conservada interessante documentação, que a Fraternidade Hermética se propõe a classificar e publicar tão logo possível. Reproduzimos aqui ao lado a capa do “Manifesto” que o Grande Oriente de São Paulo imprimiu no ano de 1928 por razão do acordo conseguido. Armentano foi um hábil compositor e suas músicas foram publicadas pela “Ricordi” brasileira. Fundou em Mogi das Cruzes o conservatório Santa Cecília.

Em São Paulo foi amigo e conselheiro espiritual de Manlio Magnani, que introduziu no Brasil em 1930 a Fraternidade Hermética, fundada em Buenos Aires pelo hermetista italiano no ano de 1928.

Armentano foi amigo das maiores personalidades artísticas e esotéricas de seu tempo, de Papus a Guénon, de Giovanni Papini a Arturo Reghini, seu discípulo. A sua obra “Massime di Scienza Iniziatica” foi publicada na Itália pela editora “Ignis”.

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Agosto de 2012

Tudo o que pode impedir o desenvolvimento espiritual

Entre os valores humanos e o desenvolvimento iniciático existe uma diversidade que pode ser resumida na seguinte imagem: se para os valores humanos existem infinitas direções horizontais, para o

desenvolvimento espiritual existe só uma direção vertical.

Colocando no alto o céu ou seja o espírito e embaixo a matéria e o corpo, adota-se o símbolo da linha vertical para exprimir o modus vivendi iniciático; efetivamente é suficiente, sobre esta única direção vertical, distinguir os dois sentidos, aquele descendente da “queda” e aquele ascendente da “ascensão”. Assim fazendo o símbolo indica um radical antagonismo entre as duas tendências e atitudes de vida. A vida espiritual não consiste somente no imitar a natureza, ocorre ajudá-la com o rito e com a arte. Antigamente não se pensava que o desenvolvimento espiritual de cada um dependesse de uma exaltação dos valores humanos e da mudança do homem comum em homem bom e melhor. Tratava-se não de prolongar a fase humana da vida mas de terminá-la. A iniciação marca o início de uma vida nova e consequentemente o fim e não a continuação e o melhoramento da velha.

§ § §

Entre o organismo corpóreo e a consciência existe um vínculo em virtude do qual, mesmo que se teóricamente o corpo pudesse viver autônomamente, este exercitaria de fato uma sua ação sobre a consciência.

O organismo subsiste e vive em virtude de uma contínua troca à qual ocorre prover para nutrí-lo, defendê-lo e conservá-defendê-lo. Mas cada organismo vivo quer antes de mais nada viver e sobreviver.

A consciência é continuamente empurrada por este profundo desejo de vida para ganhar um modo decente de existir.

Não obstante os esforços e as lutas o indivíduo é no final destinado a morrer e mesmo quando tenha consciência não desiste da luta pela vida.

Aquilo que é importante relevar é que esta inexorável lei tem como efeito o exercitar um chamado muito forte sobre a consciência, vinculando-a às condições e ao plano material de vida. Isto determina a

identificação e a limitação da consciência na consciência individual orgânica polarizada para o externo.1 Esta exasperação da consciência e da sensibilidade corpórea para o mundo externo e as necessidades da vida comum acontece quase sempre prejudicando parcial ou totalmente a sensibilidade e as percepções de ordem diferente e superior. Qualquer atenção é acompanhada e diremos quase possível por uma

concomitante desatenção. A atenção voltada, através dos sentidos, para a vida e para o mundo exterior é acompanhada por uma desatenção pela vida e o mundo interior.

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As exigências da vida física desenvolvem e afinam os sentidos e a inteligência, mas não desenvolvem a espiritualidade. Pelo contrário, a férrea necessidade da adaptação ao ambiente comporta o ocultamento e a perda da sensibilidade espiritual.2

Ocorre perceber o estado das coisas, ocorre afastar a consciência do instinto natural, livrar-se do hábito de sentir a vida na forma exterior. Não é uma coisa simples urta-se na incompreensão de todos.3

Reconhecida a antítese radical entre as condições e as exigências da vida física e aquelas da vida espiritual, ocorre decididamente fazer marcha ré.4

Não se trata mais de resolver o atormentador problema da vida quotidiana, mas de enfrentar o mistério da vida eterna; é necessário que não se viva mais para os outros e se comece a viver para o si interior (não no sentido egoísta, mas no sentido altruísta, porque aprendendo a amar o próprio si aprende-se a amar o tudo). O início da vida espiritual consiste portanto no interiorizar-se, no fechar-se.

Se retornamos ao simbolismo da linha vertical, o símbolo nos diz imediatamente qual é a vida a ser vivida: parar de descer, de cair e começar a subir, a ressurgir.

Existem várias vias para a percepção da realidade interior. A via régia é aquela tradicional da arte e do rito.5 Mas nem mesmo a arte régia pode fazer desaparecer o contraste entre as condições e as exigências peculiares das duas atitudes de vida: tal contraste pelo contrário acentua-se necessariamente em algumas operações do rito que requerem isolamento e tranquilidade especiais. E o isolamento e a tranquilidade são necessários para alcançar a condição de silêncio interior.

Em tais casos o contraste com o ambiente externo é tão forte e as reações são tão imprevisíveis que é aconselhável prevení-las evitando de colocar os outros em condições de dizer coisas e emitir sentenças contra as quais não se pode rebater absolutamente nada.

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Ocorre que se esclareça aqui em que consiste esta adaptação ao ambiente para a vida espiritual. Neste entra o ambiente de trabalho e o ambiente de família especialmente quando ambos sejam afins e voltados quase exclusivamente para os valores materiais da vida. Em tais casos a oposição é tão radical e profunda ao ponto de constringir o noviço que começa uma prática iniciática a ter que fazer escolhas até mesmo dolorosas, mas necessárias para a continuação de uma ascensão espiritual.

3 Reforçando o que foi dito na nota precedente este livrar-se do hábito comporta consequências, pelo menos no início, muito pesadas sobre a vida de todo dia: da incompreensão total de todas as pessoas (incluídos os familiares) que se frequentam, até o rompimento (casamentos tediosos que acabam, relações com pais e filhos que perdem o interesse etc.) e isto porque esta fase preliminar coincide com o trabalho mais duro da prática ritual, aquele da purificação.

4 Trata-se na maior parte dos casos do momento mais difícil, porque coloca-se em discussão o próprio passado e no momento da autocrítica mais radical percebe-se que só nós mesmos somos responsáveis por aquilo que nos acontece e que o nosso futuro depende só de nós.

5

Falamos óbviamente de vias mágicas e esotéricas excluindo aqui qualquer envolvimento de caráter religioso ou místico que não entra no nosso gênero de estudos e de práticas. Chama-se rito o trabalho organizado por uma Escola e entende-se por arte a disciplina aplicada por um discípulo sob a guia de um Mestre.

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GIULIANO KREMMERZ E A ESCOLA HERMÉTICA

Este escrito não pretende ser uma das muitas biografias de Giuliano Kremmerz ou uma história da Fraternidade terapêutica mágica de Myriam ou da “Schola Philosophica Hermetica Classica italica”, mas propõe-se apenas a realçar o significado da obra deste Iniciado, tentando mostrar a maneira na qual a idéia e a tradição hermética encarnaram-se nele.

Ciro Formisano, nascido em Portici no dia 8 de Abril de 1861, após a aprendizagem sob a orientação de Izar, entrou quando tinha vinte e cinco anos na “Ordine Osirideo Egizio”. E foi precisamente Pasquale De Servis, Izar, que apresentou Ciro Formisano, em 1886, a Giustiniano Lebano, o depositário do Grande Oriente Egípcio ou Grande Ordem Egípcia.

Em 1893 De Servis deixou a vida terrena e Ciro Formisano, o futuro Giuliano Kremmerz, prosseguiu a sua evolução dentro do círculo de Giustiniano Lebano, o qual, mesmo tendo compreendido o seu grande poder iniciático, percebeu também o seu caráter exuberante e a sua inclinação absoluta para o uso pro salute populi de tudo aquilo que aprendia.

O relacionamento entre Lebano e Formisano foi bom até 1897, e isto permitiu que fosse aprovada em 20 de março de 1896 na Grande Ordem Egípcia a primeira idéia de “Schola Ermetica” com finalidades

terapêuticas; o primeiro esbôço de tal idéia se tornará em um segundo momento a Fraternidade Terapêutica-Mágica de Miriam.

De 1896 a 1899 Formisano, que a partir deste momento se apresentava como Giuliano Kremmerz, publicou os fascículos do Mundo Secreto.

Nestes fascículos ele começou a expor as bases elementares da doutrina hermética.

Sentia dentro de si que a herança hermética deveria apresentar-se de maneira conforme aos novos tempos e ao novo nível de evolução da humanidade, e que a própria Tradição Hermética não podia mais ser herança de círculos restritos detentores de uma transmissão documentária, mas que deveria ser exposta inteligentemente, com a finalidade de chamar para si os homens de boa vontade.

O temor de ver profanadas e dadas ao povo as verdades sagradas da Tradição fez com que o relacionamento entre Lebano, alguns de seus discípulos e Kremmerz sofresse as consequências.

Nos escritos presentes no Mundo Secreto e sucessivamente, de 1899 a 1900, nos Fascículos da publicação A Medicina Hermética, se nota ainda, se lidos atentamente, uma visão da Tradição, ligada aos esquemas derivantes do material iniciático da Escola Hermética Napolitana.

No primeiro fascículo da Medicina Hermética ( julho de 1899 ) ele expõe porém o primeiro pacto de constituição da Fraternidade Terapêutica Mágica de Miriam colocando como única finalidade desta Fraternidade a Terapêutica e no Mundo Secreto de setembro publica um primeiro regulamento de 42 artigos, com a finalidade de disciplinar o funcionamento da Escola.

Ele, sucessivamente, faz aprovar pela Grande Ordem Egípcia a Pragmática Fundamental da “Schola Philosophica Classica Italica” – Fraternidade Terapêutica Mágica de Miriam. (22 de dezembro de 1909). Em 1910 desaparece da vida terrena Giustiniano Lebano e aparece a obra, talvez a mais significativa, de Kremmerz: A Porta Hermética.

Esta obra tem que ser considerada como o Manifesto de uma nova Escola, de um novo modo de expressão da Tradição Única.

Com este “Manifesto” Kremmerz não assume o papel de transmissor “ortodoxo” dos documentos iniciáticos da Escola Hermética Napolitana, mas cria as bases para uma nova expressão da própria Tradição.

Então todas as polêmicas com respeito ao fato de que Kremmerz possa ou não ser considerado um continuador do Grande Oriente Egípcio, não tem mais sentido. Ele, nutrido pelo hermetismo de matriz egípcia e napolitana, evoluiu até sentir dentro de si o chamado das Inteligências da Tradição, que fazem dele um instrumento para renovar o modo no qual a própria Tradição precisa manifestar-se na humanidade.

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Kremmerz escreve na Porta Hermética:

“ Eu sou o espírito do tempo e falo sobre a procura da verdade na ciência humana com a liberalidade que o critério moderno aconselha. [...] E digo com o bom senso itálico, com aquele bom senso medíocre que todos possuem, que a via justa, despida de qualquer propósito sectário, deve ser indicada para os pesquisadores da verdade. Filósofos palavreiros, e cientistas com limitados sentidos indagativos, precisam deixar o lugar para uma escola racional de cultura que indicará a via para o povo para que marque o limite no qual o filósofo deve fundir-se ao cientista e caminhar para a conquista da verdade pro salute populi”. Na pág. 20, da obra “A Porta Hermética”, Kremmerz continua: “ Eu fundo nesta noite na sua casa da Esperança esta Escola Integral Itálica”.

Eis a fundação de uma nova Escola, de um novo suporte para uma nova expressão da Tradição.

Com esta ação ele se destaca de uma forma cristalizada da Tradição, para colher desta o sentido imutável, vital e transmití-lo e colocar em prática um “experimento” de aplicação da Ciência Hermética para a saúde do homem.

Kremmerz escreve na pág. 71:

“ *…+eu espero que a escola hermética integral possa criar ou propiciar uma tentativa de milagre sem templo, pro salute populi.

E digo brevemente.

Da integração pode-se obter tudo, o bem e o mal. É sabido porém que aqueles que se dedicaram às boas práticas fizeram somente o bem. É lógico. Obtendo progressos, intelectuais e psíquicos, não se pode conceber o mal, não se saberia praticar o mal, o qual é uma concepção restritiva da natureza e uma baixa fisionomia do Universo. Por isto os Rosacruzes tradicionais foram praticantes da taumaturgia e foram taumaturgos todos os grandes iniciados nas ciências sagradas. Uma escola de integração não é possível sem uma finalidade de realização e a finalidade, uma finalidade de nobre caridade civil, é o fazer convergir as forças ocultas, que se integram em nós, com o objetivo de aliviar os sofrimentos humanos”.

Este trecho é importante seja porque define uma finalidade prática na humanidade, seja porque recorda o verdadeiro sentido da missão dos Rosacruzes, dos verdadeiros e invisíveis Rosacruzes.

Este è o grande ideal que Giuliano Kremmerz precisava realizar.

Nos anos seguintes a 1910, ele tentou criar uma estrutura que pudesse encarnar este alto Ideal.

Conseguiu em parte, com a criação das Academias. Ele mesmo dizia que não queria ser lembrado como um fundador de Academias.

Em 1911 a “Schola Philosophica Hermetica Classica Italica” tinha quatro Academias, A “Vergiliana” de Roma, dirigida por Pietro Bornia, a “Pitagora” de Bari, fundada por Alberto Russo Frattasi e dirigida pelo advogado Vignali, a “Porfiriana” de Taranto, dirigida por Giuseppe De Carlo, a “Sebezia” de Nápoles, dirigida por Di Martino. Estas Academias eram unidas em duas circunscrições: a do Sul foi entregue a Giacomo Borraci e a do Norte a Luciano Galleani. Logo após foi constituída também a Academia “Giuliana”, dirigida por Alfredo Carreras.

Mais uma vez porém houve, como sempre na história, a dificuldade de se manter pura a expressão da Tradição, no momento em que esta se encarna em um suporte. Como sempre os homens prestaram maior atenção à estrutura do que ao Ideal que esta encerrava e encarnava.

Mas, apesar de tudo, a tentativa tinha que ser feita.

Esta sua Obra, a serviço da mais pura Tradição, não foi aceita pelos sucessores de Giustiniano Lebano, que não reconheceram nela a renovação necessária da expressão e da ação da própria Tradição e se preocuparam com o fato de que as verdades sagradas fossem profanadas, das quais eles se consideravam os legítimos herdeiros.

É justo que exista o medo da profanação das Verdades Sagradas, mas isto não deve levar a um endurecimento cristalizado da forma na qual se exprimem, porque este fato impede o correto fluir da Tradição.

A Tradição verdadeira, justamente, como a Vida, escorre e não pode ser considerada propriedade exclusiva de ninguém e, mesmo que se preste atenção para que não aconteçam profanações, não é possível obstacular o seu fluxo.

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abandonar a Itália em 1912; ele se transferiu para Beausoleil, na França.

Com a chegada do governo fascista, as Academias tiveram que ser fechadas ou colocadas em sono.

Giuliano Kremmerz escreveu outras obras depois da Porta Hermética; em particular modo recordamos os fundamentais Diálogos sobre o Hermetismo, escritos durante os últimos anos de sua vida terrena.

No Prefácio desta obra, em março de 1929, um ano antes de seu falecimento, ocorrido em 7 de maio de 1930, ele exprime este desejo, válido ainda hoje:

“Eu desejo somente uma coisa: que os estudiosos de Hermetismo mágico, italianos, não se separem, não se dividam, não combatam entre eles com polêmicas áridas, mas que se sintam filhos da grande arte (uso uma fórmula e um atributo comum nos escritos dos alquimistas) e sejam unidos com amor entorno do delicadíssimo ponto da procura pela ciência mais humana que o homem jamais possuiu. O Hermetismo, a magia, a filosofia das forças ocultas não se reduzem a simples erudição nem a exercícios verbais e oratórios. É preciso conquistar, possuir, conservar, assim como a Esfinge, para depois doar aos pobres da Ciência e da Arte quando estivermos prontos para o sacrifício de nos sentirmos nobremente pródigos”. Esta última frase, que foi colocada em cursivo é de fundamental importância, para que se compreenda a Obra realizada por Kremmerz.

Ele dedicou toda a sua vida para a realização daquela Escola Integral, que deveria encarnar o alto Ideal da nova expressão da Tradição.

Temos que ser agradecidos a Kremmerz por tudo aquilo que nos transmitiu, mas acredito também que nesta época, após cem anos da publicação da Porta Hermética, nós estamos diante de um desafio: tentar superar todos os obstáculos causados pelos egoismos pessoais, sair dos esquemas de falsas ortodoxias, que muitas vezes escondem somente cristalizações egoistas, e tentar colher aquela pureza e aquela Luz, que esperam somente encontrar um suporte adapto para que possam exprimir-se novamente entre os homens. Será que conseguiremos nesta época encontrar a medida certa, para consentir à tradição de operar na sociedade, sem que existam profanações e desvios? Conseguiremos ser “inteligentemente abertos” e permitir que a tradição escorra como linfa vital? Este é o desafio. (FDA)

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Setembro de 2012

Giuliano Kremmerz e a religiosidade grego-romana

Falar sobre a figura, e sobre a obra humana e magistral de Giuliano Kremmerz, nome iniciático de Ciro Formisano, com relação a espiritualidade que em Pitágoras, em Platão, encontrava na doutrina dos mistérios antigos os seus eixos essenciais de referência, não é fácil, sobretudo por causa das

incompreensões às quais podemos estar expostos. Portanto, nas breves análises que desenvolveremos, serão evidenciadas não somente as afinidades de um sentir comum, mas também as devidas diferenças entre a dimensão mágica e aquela religiosa conhecida como pagã.

Partiremos evidenciando que em diferentes pontos da sua obra escrita e em particular nos “Diálogos sobre o Hermetismo”6 o hermetista de Portici quis muitas vezes sinalizar o fato de pertencer a uma identidade ancestral da Tradição espiritual Itálica e Romana, muitas vezes colocando-se propositalmente em contraste com os fanatismos exóticos de um espiritualismo suspeito do final de 1800 e dos primeiros anos de 1900: “Como italiano eu me orgulho de operar italianamente e romanamente, no sentido de coordenar toda a parte realmente importante desta filosofia, para resgatar o nosso primado de pensadores da hegemonia das invasões de falsos teólogos estrangeiros, que vem na nossa terra para trazer o verbo construído com interpretações ainda mais manipuladas com mentalidade que não é aquela latina, não é itálica, não é clara, impondo-nos comentários a teorias filosóficas orientais que não são as nossas, claras, límpidas, cristalinas, aptas a entender o pouco conhecimento religioso de outras latitudes e longitudes”.

Nesta ótica, alguns estudiosos definiram o hermetismo de Kremmerz pagão. As referências em tal sentido não são poucas nem de modesta importância, justamente para indicar uma real comunhão com a sábia herança destas civilizações antigas. Neste sentido, tem que ser notada a profundidade dada seja à iniciação órfica seja ao ensinamento pitagórico:

“O nosso círculo é Círculo Pitagórico. Pitágoras ensinava que a vida deveria ser vivida com a positividade da realização. Queria que a imagem da evolução humana caminhasse em direção de um estado de paz absoluta que talvez pudesse chegar até à compenetração da vida dos seres animais”.

Daquilo que se entende da “Opera Omnia” de Kremmerz7 nas páginas reservadas à purificação hermética, o pitagorismo assume na prática ascética e terapêutica uma primária importância. O que está indicado com respeito à denominada neutralidade mágica, isto é dissolver da alma os vínculos do corpo, os vínculos passionais e de herança genética, pode ser tranquilamente colocado com relação a todas aquelas práticas da ascensão nas antigas Escolas de Crotone, de Metaponto e de Taranto.

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Texto do qual pegamos, por simplicidade e homogeneidade, todas as citações de Kremmerz neste artigo. 7

A publicação desta obra está sendo preparada no Brasil. O primeiro volume “A Ciência dos Magos” estará disponível brevemente nas livrarias, e será publicado pela editora Incógnito: http://www.editoraincognito.com.br

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Além disso, não é casual, lendo alguns estudos sobre o tradicionalismo itálico do século XX, como o ótimo ensaio de Fabio Giorgio “Roma Renovata Resurgat” editado pela “Settimo Sigillo di Roma”, mas também de outros pesquisadores, uma contiguidade entre alguns pertencentes da Fraternidade de Myriam de Giuliano Kremmerz e alguns pertencentes à “Schola Italica” de Amadeu Armentano e Arturo Reghini.8 Continuando na mesma linha de raciocínio, não podemos não reconhecer uma profunda ligação ideal que Ciro

Formisano teve com a civilização romana, compreendida não somente em seu significado histórico, mas sobretudo em toda a sua importância de Idéia imortal de Civilização Solar.

Além de tudo ele não deixou de lado a importância do Nome Secreto da Cidade Eterna e a importância do sagrado direito que nela é reconhecido, como ato normativo de civilização dos povos, talvez pela primeira vez na história da humanidade:

“...a religião romana na sua integração era parte das funções estaduais, como um dever público...É um ritual da iniciação latina que deu ao ocidente, como recordação da sua potência divina, o nome oculto da cidade sagrada, não mística, sagrada no sentido profundo porque tinha conhecimento sobre o Homem, muito antes que a peste de origem oriental alterasse a visão da Verdade Eterna.”

Em tudo isto, não poderíamos não enfrentar a chegada do cristianismo no ocidente clássico, evento, que como confirmará o próprio Kremmerz, representará uma verdadeira pandemia de involução da civilização grego-romana:

“A missão de transformar o homem de lobo voraz em doce cordeiro, foi dada ao cristianismo, o responsável absoluto pela vitória dos povos bárbaros sobre o mundo romano e de uma longa e obscura noite medieval, na qual a loucura e a ignorância envolveram a grande Europa em um estado tal de esterilidade intelectual que um silabário parecia uma obra de arte.”

A este ponto é oportuno enfrentar um aspecto delicado do ensinamento hermético Kremmerziano, o qual, de acordo com algumas escolas mágicas do século IX e com grandes expoentes das mesmas, como por exemplo Eliphas Levi, apresenta uma série de simbologias e de práticas que reconduziam a uma ritualidade não somente pitagórica, caldéia e egípcia, mas também cabalística e cristã.

O Hermetismo por sua íntima natureza tem uma dimensão absolutamente diferente com respeito à qualquer culto religioso, seja este pagão, monoteísta ou meditativo.

Toda a Humanidade é UMA. Assim como UM é o sol pêgo como fonte de luz e de vida de todo o universo solar. Em consequência um é Deus, porque é o criador e o criado, isto é a síntese personificada de tudo o que é visível, Um, Universo. Se a dicotomia religiosa tem sentido em um nível de fé e de culto, o perde, absolutamente, no campo da prática hermética, aonde não nos confrontamos com um antropomorfismo sagrado e emocional, mas com forças no estado puro, que são evocadas com técnicas que a Tradição Ocidental usa não como crença, mas por eficácia energizada e acumulada durante os séculos.

Acreditamos, por outro lado, que se observássemos com atenção a estrutura sagrada do Antigo Egito, através dos preciosíssimos estudos do egitólogo simbolista Renè Schwaller de Lubcz e de sua mulher Isha, poderíamos compreender como tais dimensões, aquela do culto e aquela iniciática, sejam

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Quanto a alguns personagens que trabalharam seja com a magia terapêutica, seja com o pitagorismo itálico, assinalamos a singular personalidade de Manlio Magnani, que em seu texto “Supremo Vero” contém uma interessante introdução de Roberto Sestito, com divulgação de um certo valor sobre a vida e os relacionamentos herméticos de Magnani.

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hierárquicamente e organicamente compreendidas na unidade do Sagrado e no reconhecimento da presença real dos Deuses.

Enfim, o que podemos compreender do pensamento de Kremmerz quanto à religiosidade grego-romana? Nós agora ofereceremos a nossa resposta, que é justamente pessoal e então parcial, que não deve ser universalizada, porque cada um precisa construir o próprio percurso, em total liberdade e sem

condicionamentos. Este é o ponto de partida e em seguida nos confrontaremos com a nossa própria vontade e com as nossas próprias qualidades. Aqueles que conservam Oro Alchemico9na própria mineira poderão subir da base até o vértice da pirâmide, que é uma conversão do multíplice na Unidade,

conquistando a alquimia vegetal daquela Força, que como ensina justamente Kremmerz, informa o Universo inteiro.

Então manter o máximo possível a neutralidade interna, a liberdade de juízo, dos ipse dixit, para que se possa manter longe de qualquer dogmatismo obtuso, seja ele cristão, islâmico, pagão. O mal da

modernidade é multiforme e esconde-se atrás da falsa dicotomia dos dogmatismos contrapostos. Giuliano Kremmerz e a espiritualidade clássica nos oferecem as armas para ver além do aspecto formal, para descobrir no profundo a modernidade, que é homologação, escravidão, sonambulismo:

“Quem pode afirmar que o auge do progresso humano não foi alcançado em épocas muito distantes? E que a tradição religiosa de um pecado de origem ou de uma prevaricação, não seja a típica acusação feita a estes distantes progenitores que lançaram no abismo o mundo no qual viviam, ignorando a possibilidade de destruição da onipotência que possuíam por causa da inconsciência do orgulho?”

Luca Valentini

HERMES – HERMETISMO - ESCOLA HERMÉTICA

1 – Hermes.

Atualmente os estudos sobre as forças emanadas pelo organismo humano e sobre os estados da mentalidade que acompaham e que precedem ou seguem os fenômenos assim ditos psíquicos,

progrediram muito, considerando o servilismo da consciência religiosa de alguns e da negatividade das pessoas mais cultas e de fama indiscutível, no aceitar novidades científicas que destroem métodos considerados ótimos até hoje.

Muitas palavras novas foram construidas para poder indicar estas ou aquelas variedades de

manifestações, enquanto que a descoberta da lei, nos limites da qual os fenômenos se realizam, está longe de ser uma conquista concreta.

Sem a bagagem moderna de vocábulos e de experiências ordinárias, até poucos séculos atrás esta era matéria de uma escola filosófica misteriosa e curiosa que se proclamava hermética.

Na palavra que qualifica esta filosofia, encontro os atributos de seus meios de pesquisa e de realização:

hermes é o Mercúrio alado dos Fenícios e dos Romanos; a palavra hermes talvez tenha sido pêga pelos

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Gregos do “huerma” hebraico porque tal palavra significava sutileza, astúcia, sagacidade, e Mercúrio nas características antigas era astuto e sagaz, embaixador dos Deuses, e a origem vem do hebraico marcor, comércio, e então o traficante que sabe enganar com atúcia, ladro.

Corresponde ao Anubi egípcio10 desenhado com a cabeça de cachorro, para indicar vulgarmente a Constelação da Canícula, para indicar hieraticamente as qualidades vigilantes e sob um determinado aspecto, com uma serpente que se retorce no próprio corpo, do Oriente esch-caleph, vir canis; Esculápio também era considerado inventor da medicina e guardião da vida.

Então Hermes, Anubi, Mercúrio, Esculápio, indicavam a mesma propriedade mental que nos une à verdade dos céus antropomórficos divinos das religiões simbólicas do passado.

Na linguagem grega hermes é mercúrio é Templo11: a faculdade de interpretar chamava-se ermenìa e

ermeneus o intérprete; ermeneuo significa ensinar, ermoglifi: a arte do estatuário, a escultura, isto é a

expressão plástica das formas mentais. Ermeneutica é a interpretação dos livros sagrados antigos. Então filosofia hermética foi a filosofia sutil, capaz de interpretar e fazer manifestar o hermes, então ciência por excelência, que penetra na parte mais misteriosa do nosso campo mental, e hermetista chamou-se o artista que colocava em prática e realizava os predicados da ciência hermética como ciência sutil a ponto de acreditar que fosse divina.

Basicamente, hermes é o intelecto da força que diviniza o homem. O poeta nos momentos de inspiração (istros=furor) – o matemático que resolve problemas dificílimos – o físico que encontra uma lei e a prova – um orador que seduz uma assembléia – um músico que encanta os seus ouvintes – são manifestações do hermes, intelecto sutil das mais altas pulsações hiper-cerebrais.

A filosofia hermética é a ciência que procura este deus inatingível e o fixa. Assim todas as utopias do bem, do divino, do altíssimo, são matérias herméticas.

O Hermes vulgar é o Mercúrio traficante que se manifesta na necessidade de adaptação da vida ao ambiente, o Hermes filosófico, o Mercúrio generoso que sobe até o Olimpo aonde os deuses se divertem, e procura – se for possível – o elixir da longa vida e a transmutação do chumbo em ouro.

O hermes vulgar dá o sucesso da vida prática, o bom cidadão utilitário, respeitado, enriquecido, muitas vezes condecorado e premiado. O Hermes filosófico ou dá o telégrafo sem fio ou o avião ou abre a porta do manicômio.

Eu disse que todas as utopias generosas são herméticas, porque todas as utopias que hoje, são voltadas para um ideal de bem, e que não o alcançam, se tornarão a realidade do amanhã. A história de todas as civilizações está repleta destes exemplos; assim os povos conquistaram a liberdade de consciência, assim foi inventada a máquina a vapor, assim a utopia da paz sobre a terra reinará entre os povos e se tornará carne e realidade.

10 Plutarco o chama Hermanubi, e refere que foi filho adúltero de Nefte, esposa de Typhon, e de Osíris. Quando Ísis soube do abandono do menino, procurou-o e criuou-o e Anubi tornou-se o guardião da Deusa, da mesma maneira que os cães protegem o homem. Vigílio o chama latrator.

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No Hermetismo, simbólica fonte de verdade absoluta e relativa, todos podem procurar a realização do próprio desejo; quanto mais alto é o objetivo, mais nobre é o Hermes que o propicia.

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Outubro de 2012

Aforismos

Estes Aforismos fazem parte da “Opera Omnia” de Giuliano Kremmerz (ed. Italiana, traduzidos em português por E.A.).

Iniciação: Iniciar quer dizer começar. Initium, princípio. Para este início ninguém dá um fim. Porque o

arcano é de uma natureza tal que quem o viu de perto não pode comunicá-lo. (I,10). A palavra initia indica também um movimento para o interno.

Programa hermético: A preparação para o poder mágico ou para o hermetismo puro e simples é de caráter

diferente: o seu programa pode ser explicado em poucas palavras: fazer com que os poderes integrativos do intelecto humano (vontade) tenham o domínio absoluto do invólucro animal para torná-lo um servo obediente e pronto para obedecer a autoridade psicodinâmica que existe em nós; purificar-se de todo obstáculo ao exercício livre da vontade inteligente sobre o corpo, instrumento necessário à vida humana; livrar-se de todas as necessidades. (II,92)

Educação hermética: o seu pensamento age com tanta segurança sobre o corpo que se você tiver a

paciência de exercitar-se poderá usá-lo de acordo com a sua vontade. Você não terá medo de doenças, nem de contágios, nem de desordens orgânicas de nenhum tipo. Será suficiente pensar querendo, com segurança no comandar, que aquela determinada coisa em seu organismo não aconteça. Esta é educação hermética. (II, 110)

Purificação: O hermetismo se abre somente para as consciências já livres de todos os fatores obscuros,

baseadas em uma moral pura, não ofuscada por nenhuma paixão, nem mesmo pelo preconceito da própria infalibilidade. A chave mestra do conceito educativo da própria personalidade está justamente nesta purificação da consciência da névoa da convenção humana. (II,159-160)

Regime de vida: Colocar-se em condições de grande equilíbrio físico e intelectual, com um regime de vida

sóbrio, sem esforços que possam conduzir ao ascetismo, observar em silêncio, no sagrado silêncio que separa o adepto da vaidade da palavra, não é uma coisa muito difícil. Fazendo assim propicia-se em vocês o desenvolvimento da inteligência hermética, isto é o poder sutil e penetrativo da mente humana que se aproxima da realidade existente nas coisas que chamam a atenção dos nossos sentidos humanos [...] Nebo, Hermes, Mercúrio, Lúcifer, Espírito Santo são sinônimos do mesmo estado de ser da inteligência humana cujas leis secretas ainda são desconhecidas pelos homens. (II, 224). 1-continua

HERMES – HERMETISMO - ESCOLA HERMÉTICA

II – A medicina hermética

As forças ocultas, isto é não manifestadas, que tem origem no organismo humano, herméticamente e idealmente podem ser dirigidas e adaptadas para as mais diversas direções. A magia, em seu conceito osirideu, teve que ser concebida como o estado completo de possessão hermética, porque foi sinônimo de ciência por excelência a qual não encontrava nenhuma realização que para ela fosse impossível. Mas para que as coisas sejam reduzidas à singular pobreza dos casos práticos, é necessário que qualquer pessoa que queira estudar dentro de si e fora de si esta aplicação de suas faculdades, que não sejam vulgarmente estudadas, se proponha um objetivo a ser conseguido.

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A nossa Escola (S.P.H.C.I.) uma vez que se determine em seus discípulos um movente de ação e um controle de experiência, se ocupa somente de Medicina Hermética.

Esta Medicina Hermética ou Divina (ou seja a qual dá origem aos poderes divinizantes do homem) existe? Pode existir? é uma utopia? uma fábula? um símbolo? Temos procurar e provar, práticamente e

cientificamente, com método positivo.

Nos últimos séculos as ciências médicas progrediram muito. Todos os dias, talentos de primeirissima ordem e experimentadores incansáveis, nos laboratórios, nas universidades, nos hospitais, dão admirável prova da potencialidade crítica do engenho humano que tenta roubar da Natureza o segredo que nunca foi

alcançado da vida sã, com a nobilíssima finalidade de combater a dor e fazer com que a morte recue. Quando um psicógrafo descobre um remédio ou um magnetizador consegue curar um corpo enfermo para logo após cantar um hino de desprezo à ciência uficial, se faz uma injustiça grosseira contra aqueles que nos deram um conjunto belíssimo de precisas observações, que contribuem para a formação de uma arte infalível que é o ideal científico do futuro.

Entre a anatomia imperfeitíssima da Idade Média, e a anatomia topográfica e comparada contemporânea, existe um abismo. A clinica, a patologia médica e cirúrgica, a química analítica, a histologia, a técnica cirúrgica, a diagnóstica, a biologia, a fisiologia, a microscopia, são a base da sabedoria experimental para conquistar um poder benéfico contra um princípio morboso único, que determina ou a dor ou a morte. E é ciência indiscutível nos dados positivos da observação contínua.

Hoje em dia o insucesso deste grupo de ciências na prática da aplicação acontece por causa da deficiência da terapêutica, ao redor da qual delineiam-se as divergências das escolas, porque todos os métodos são insuficientes nas aplicações das premissas, porque o princípio vital que se manifesta em todos os lugares e de todas as maneiras, é tão impoderável, de origem tão obscura, que quando não intervém de maneira enérgica sob o estímulo fácil de um medicamento bio-químico, o homem da ciência não consegue curar nem mesmo uma forma leve ou manifestação de um morbo.

Alopáticos12, homeopáticos13, isopáticos14 e todos os descobridores de novos métodos e de remédios potentes, se equivalem na terapêutica. Chegam aonde um elemento misterioso assim o permite, param aonde o próprio elemento – dono da vida e da morte – para.15

Todos os ingredientes que a natureza nos oferece, são usados para enriquecer a farmacêutica e

impressionara a imaginação do paciente. Minerais, metais, vegetais, venenos, produtos orgânicos, banhos de luz, águas de toda a espécie, eletricidade, vegetarianismo, soros, a humanidade prova tudo. Quando

12 Contraria contrariis curantur.

13 Similia similibus curantur.

14 Cura com os mesmos produtos morbosos específicos os diferentes males que especificamente invadem um organismo são. Ienner, com a vacina, foi isopatico para prevenir a varíola. O tuberculinum e os soros a base de atenuações, são isopáticos. Vem de isos, igual.

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Esta ignorância sobre o princípio vital, como se desenvolve ou se dissolve, é a causa da necessidade misteriosa de criar um deus, do qual se teme a ira porque se ignora a sua lei de função. A vida humana era representada por uma matrona vestida de verde, a esperança, com uma coroa de espinhos e rosas sobre a cabeça, era a alternativa dos sofrimentos e das alegrias.

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alguma coisa é insuficiente, o condenado pela ciência recorre – como última esperança – à fé em uma ajuda divina ou morre.

Quem nunca viu uma sala ou um consultório de hospital, nunca poderá imaginar a imensa quantidade de dores humanas que a ciência não pode curar, nem poderá imaginar o cansaço de um médico diante da insuficiência dos nossos meios, que se deparam contra os males inevitáveis. A tuberculose, o diabetes, o câncer, ainda não são curados... mas também as coisas mais aparentemente simples continuam a ser um mistério: por exemplo, a dor de cabeça contínua não se cura.16

A humanidade tem medo da morte. Este medo garante o sucesso das religiões que se ocupam da nossa alma após a desagregação do corpo físico, e a indústria dos milagres legendários.

Permanece na humanidade a história impressionante ou a fábula generosa de homens ou deuses que aparecem periodicamente, os quais diante da natureza que destrói um organismo, comandaram que parasse e que o reconstituisse. Estes homens ou deuses se chamaram Apollonio de Tiana ou Cristo,

Rosacruzes, Templários ou Santos, Paracelso, Borri ou Cagliostro. A antiga fábula nos conta dos templos de Esculápio, as fábulas modernas dos santuários milagrosos.

Então, hoje assim como no passado, surje um antigo aforisma hermético que dificultou os alquimistas do século XVII: A vida comanda à vida, todas as escolas de terapia são boas ou falsas, dependendo do médico que usa um remédio qualquer, do azeite ao stramonium, do sal de cozinha à estricnina, tenha ou não o poder , a virtude, a força de infundir no medicamento a vitalidade que compensa as energias dispersas no corpo enfermo; em outras palavras o médico que realiza o milagre, dá parte do seu princípio vital

necessário ao enfermo. Assim o princípio terapêutico hermético é o mesmo princípio vital, cuja deficiência determina o estado morboso.

2 - continua

16 A resignação à dor e a dor como necessidade, são conceitos místicos, diante dos iniciados que representam a ciência e a consciência do homem. A ciência não pode aceitar a premissas da dor necessária, caso contrário o estímulo da utopia hermética da abolição da dor fica faltando. Se procedemos do pressuposto que a dor física, por exemplo, é uma necessidade inevitável, deveríamos fechar as universidades que ensinam a medicina, enquanto que a civilização é caracterizada justamente pela soma dos progressos humanos que eliminam os maiores sofrimentos dos bárbaros. Cito um exemplo na higiene que é uma ciência recente, após a decadência da civilização grego-romana que eliminou o banheiros públicos e expôs, através da sujeira do corpo, a vida do homem a infinitas variedades de infecções

dermatológicas. Os resultados da falta de limpeza do corpo, que produzia dores, eram considerados uma necessidade até quando a ciência venceu a resistência do misticismo cristão.

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Novembro de 2012

Aforismos

Estes Aforismos fazem parte da “Opera Omnia” de Giuliano Kremmerz (ed. Italiana, traduzidos em português por E.A.)

Esta escola tem como programa de ensino “Nosce te ipsum”, isto é o “conheça a si mesmo” dos antiquíssimos, de um ponto de vista não religioso nem místico mas intensamente introspectivo. Se propõe o estudo do organismo humano em seu complexo de mente e corpo físico, com todos os seus poderes físicos manifestos e escondidos, para que o estudioso, bom observador, possa integrar-se completamente. (III,7)

A nossa Fraternidade não procura por irmãos perfeitos, senão seria uma verdadeira associação de santos e de heróis, mas procura e inclui em si todos os homens de boa vontade que, mesmo não sendo perfeitos, possam ser considerados como perfectíveis. (III, 258)

Não acreditar em nada só por ter ouvido falar; não acreditar nas tradições que chegam até nós velhas e alteradas pela linguagem humana; não acreditar nas coisas muito faladas pelos homens, e não acreditar também só porque diante de você se encontra o testemunho de um sábio; não acreditar em uma coisa só porque algumas probabilidades lhe demonstram a sua verdade ou porque por antigo hábito a considere verdadeira; não acreditar na única autoridade de seu Mestre e de seu Sacerdote. Aceite como verdade, e viva de acordo com ela, só o que a sua procura e a sua experiência lhe demonstraram correspondente à sua saúde, ao seu bem e ao bem dos outros homens como você. (op. Ris)

O silêncio não significa somente o não falar, mas o fazer calar todo o mundo exterior em volta de você de modo que possa despertar o sentimento de escutar a voz íntima, interna, profunda. (op. ris )

Se você despreza o escárnio da multidão, se entre o equilíbrio da razão bem sólido e o movimento dos senhores que riem de você, você for bastante forte para se separar do mundo, você começará a ser; você começará a viver de vida própria; você começará a vitória sobre a maioria numérica da ilusão. [...] O cérebro do homem é um santuário que reflete, no absoluto da lógica, todo o esplendor da razão divina quando não trabalha para congestões de paixões humanas. (I, 105)

Breve nota sobre as finalidades da Myriam

René Guénon em uma obra com o eloquente título Considerações sobre a Iniciação (obra traduzida

também em português e que recomendamos a todos aqueles que se aproximam da nossa Fraternidade; ver o link “Biblioteca” no presente site ndc) escreve que as verdadeiras organizações iniciáticas, que são

sempre a expressão de um Centro detentor de uma sabedoria de origem sobre-humana, colocam-se, por causa desta dimensão transcendente, acima das seitas religiosas e das simples sociedades secretas, com as quais não devem ser confundidas por nenhum motivo.

Se estas (e outras) elementares mas indispensáveis explicações não estiverem claras e sobre as quais a obra de Guénon é generosa de esclarecimentos, é difícil ter uma ideia exata da verdadeira essência da

Organização iniciática conhecida como Fr+Tm+de Myriam (Fraternidade Terapêutica Mágica de Myriam), fundada por Giuliano Kremmerz com a aprovação do Centro iniciático do qual ele dependia.

Referências

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