RESTRIÇÕES VERTICAIS
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ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL
(EAE 508)
Prof. Dr. Eduardo Luzio
eluzio@usp.br
Blog: h:p:/eduardoluzio.wordpress.com
2015
C&P, Cap. 16 e CABRAL. Cap. 11.
“O que é pior do que um monopolista?
Introdução: Restrições VerFcais
• A maior parte das empresas vendem seus produtos e serviços para outras empresas, não para os consumidores finais.
• Ex. Sony vende consoles de games para o Ponto Frio / motores x carros • JBS vende carnes para o Pão de Açúcar
• Apple vende iPhones para a Vivo
• Monsanto vende sementes transgênicas para produtores de milho, algodão e soja • Laboratórios de referência vendem remédios para farmácias
• Isso tem pelo menos três implicações na relação entre o fabricante e o varejista: 1. A empresa que vende direto ao consumidor (downstream) controla a maior parte
das variáveis que afetam a decisão de compra: ² preço de varejo,
² quan`dade, ² prazo,
Introdução: Restrições VerFcais
2. Compe`ção: cada varejista não só se importa com o preço de varejo que compra, mas também o preço de atacado que seus concorrentes compram.
² O atacadista (upstream) determina o custo marginal do varejista! ISSO É UMA
RESTRIÇÃO VERTICAL!
3. Vender para intermediários é diferente de vender aos consumidores. Se o número de intermediários for pequeno (ex. grandes redes de supermercado) e o número de consumidores alto, então o downstream tem mais poder de mercado que o
upstream
• As clausulas contratuais envolvendo relações ver`cais são conhecidas como
restrições ou contenções verFcais (ver8cal restrains)
Introdução ao Problema da Dupla Marginalização
Considere:
• Apenas uma empresa upstream (M = manufacturer) e apenas uma downstream
(R = retailer)
• Ou seja, não há compeFção no upstream e no downstream, ou que seus produtos sejam suficientemente diferenciados para serem percebidos como únicos
• Há informação completa: M conhece os custos de R e vice-‐versa • A demanda pelo produto final vendido por R é D(p)
• Função produção é simples:
– para R vender 1 unidade do produto precisa comprar 1 unidade de M (ex. TVs Sony vendidas pelo Ponto Frio)
– R não tem custos adicionais além do preço de atacado pago (w) a M por unidade do produto
Empresa Integrada
Se M e R fossem uma empresa só (integradas verFcalmente):
• o preço de atacado preço de atacado (w) seria um preço de transferência • O lucro total da empresa integrada seria:
• π = (p – c) x D(p) (*)
• Considere que pM é o preço de monopólio que R cobra para maximizar o lucro da
empresa integrada (pM = pR):
• Lucro da empresa integrada = πM = (pM – c) x qM > 0
5 c pM P D qM RM
π
M Excedente do consumidor Perda de Eficiência• A empresa integrada, vendendo qM teria
seu lucro maximizado, mas haveria
consumidores dispostos a pagar acima de pM.
• A empresa também poderia vender mais (qD) e ainda lucrar se diminuísse seus
preços até c (consumidores estão dispostos a comprar mais (>qM) pagar mais que c!)
Dupla Marginalização: Ex. Rio Reno
• Múl`plos monopolistas!
• Preços são muito altos não só para os consumidores, mas também para os próprios monopolistas
• Preços muito altos reduzem o trafego no rio e todos perdem!
• Se houvesse um único rei, poderia haver só um pedágio cobrando o preço
Dupla Marginalização
Suponha que M e R sejam empresas separadas Suponha que DR é a curva de demanda do Varejista (R)Dado o preço do atacado, w, R decide quanto comprar. O lucro de R seria:
πR = (pR – w) x D(p) (**)
w é o custo marginal de R
O preço ó`mo para R maximizar seu lucro é p*, onde RM
R
= CMR
A curva de receita marginal de R (RMR) é a curva de
demanda de M
Se M por sua vez, cobrar de R, w = c, seu lucro seria ZERO na equação (*)
Portanto, é ó`mo para M cobrar w > c, por exemplo w**.
7 w* = c P* P DR Q q* RMR = DM
π
R w* = c w** = p* P DRπ
R Q q* RMR = DM P** q**π
M Excedente do consumidor é menor também! Perda de Eficiência RMMPorém, neste caso, R definiria seu preço acima de p* , o
que não seria bom para R e M como um grupo (R compraria menos que M gostaria para maximizar seu lucro): PROBLEMA DA DUPLA MARGINALIZAÇÃO
πM + πR é menor do que se R e M fossem uma empresa
só, pois há duas decisões de preços monopolís`cos sendo feita
Duas margens de monopólio são adicionadas aos custos marginais resultando em um preço maior do que o preço de monopólio da empresa integrada (o excedente do consumidor também será menor)
Possíveis Efeitos da Dupla Marginalização
• Dois monopólios ver`calmente integrados podem aumentar o bem estar social do que dois monopólios separados com mark-‐ups dis`ntos
• Patentes criam monopólios x Inovação cumula`va
² Se a patente no upstream ajuda a criar monopólios do downstream
• Desenvolvimento econômico: monopólios em insumos e serviços básicos podem reduzir o tamanho da economia!
² Ex. monopólio na geração de energia
² Exploração do petróleo (Petrobrás & Braken?) ² Setor bancário (BNDES & bancos repassadores?)
² Insumos para remédios de referência x laboratórios de referência • Fisher Body x GM...
Aplicação Dupla Marginalização: Ex. GM x Fisher Body
• Começo do século XX
• Carrocerias eram feitas de madeira. Fisher Body era um dos fabricantes
• GM buscava garan`r volume de produção e custos menores
• GM queria que FB fabricasse carrocerias de metal com aFvos específicos
• Até então, GM comprava carrocerias de madeira da FB com contratos de curto prazo
• Fisher temia o problema do “hold up” (dependência da GM / altos custos de comutação
(switch costs))
• GM ofereceu contrato de compra de longo prazo
• Em 1919, GM e Fisher assinaram o contrato de LP
• Demanda por carros da GM foi maior que o esperado e GM estava descontente com os
termos do contrato de LP
• GM propôs que FB construísse fábrica adjacente a sua para reduzir custos de logís`ca
• Risco de comportamento oportunista pós contratual aumentou para FB
• Em 1924, GM adquiriu Fisher (integração para traz (backwards integra8on))
• Make-‐or-‐buy decision
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Dilema da coordenação (fornecedores externos) x controle (fornecedores internos) => problema da mo`vação (não há mais a pressão da concorrência externa)
Solução? Manter um fornecedor externo e o interno (tapered integra3on)? Ex.:
engarrafamento da Coca-‐Cola e Pepsi; fornecedores de óleo cru e refinarias; franquias da Hering x lojas próprias,...
Dupla Marginalização x Tarifas Duplas
• Agora suponha que M cobre de R uma tarifa fixa, f, (taxa de franquia para R poder comprar de M) e uma variável w.
• O varejista terá de escolher p maximizar a seguinte função lucro:
ü πR = (pR – w) x D(pR) -‐ f
• Como f é um custo fixo para R, não afetará sua decisão de maximizar lucros
• M tem de escolher w para maximizar: πM = (w – c) x D(pM) + f
• Se M definir:
1. preço de atacado (w) igual a c (CM real de M) para
maximizar o lucro da indústria
ü Pois, R definirá seu preço como pM (tarifa de
uso)
2. Definir f para capturar este valor. Se f = πM = (pM –
c) x D(pM) => preço de monopólio para a empresa
ver`calizada, então:
ü πM = (c – c) x D(pM) + f = f (tarifa de entrada)
c pM P D
π
R Q qMπ
MRMR
Ex.: um hospital de renome que oferece à um plano de saúde duas opções de preço:
• uma taxa anual alta por um número
fixo de atendimentos mais uma taxa por atendimentos adicionais (baixa);
Dupla Marginalização x Tarifas Duplas
1. O contrato é eficiente (maximiza o lucro) para ambas as empresas. – Para R, o preço será igual a pM, o preço que a empresa ver`calizada
monopolista definiria, pois o custo marginal de R é c
2. O lucro bruto de R será π = πM = (pM – c) x D(pM), portanto estará disposto a pagar
a tarifa fixa até f = πM
3. M receberá um lucro variável igual a zero, pois w = c, mas recuperará todo seu lucro monopolista através da taxa fixa f
• Ou seja, se preços não lineares forem possíveis (tarifas duplas), então a decisão ó`ma das empresas separadas é igual a decisão ó`ma das empresas integradas • Podendo cobrar uma taxa de franquia, o Atacadista (M) buscará maximizar o
lucro da indústria (M + R)!
Dupla Marginalização x Tarifas Duplas
• Esse resultado depende da premissa que não há concorrência em cada estágio (downstream e upstream)
• Consideramos também que R sabe os custos de M. Se isto não for verdade, M poderá definir seu preço w acima de c (informação incompleta)
• Se há concorrência e a informação é incompleta, um alterna`va a tarifa de franquia (f) é exigir que R não cobre acima de um preço máximo ao varejo. • Neste caso, M não cobraria f, mas imporia o preço máximo de varejo em pM e
definiria w = pM
• Outra premissa importante é que R não incorre em custos adicionais na venda do produto além do preço paga a M. Se este não for o caso, M teria de definir seu preço w abaixo de pM para remunerar R pelo “serviço” de vender seu produto!
Concorrência no Varejo
• Quanto maior a compe`ção no varejo, maior será o preço no atacado (w)! • Por que?
• Considere dois varejistas (R1 e R2)
• Considere que o único custo variável de Ri é w e que Ri pode comprar quanto quiser de M (ou seja, não há limitações a capacidade de R)
• Na concorrência do varejo à lá Bertrand (fixando preços), se R1 fixar o preço a pRi =
pM, R
2 terá o incen`vo para baixar o preço e roubar todo o mercado de R1
• A solução ó`ma no varejo é fixar o preço do varejo, igual ao preço do atacado: pRi
= pM = w, pois caso contrário, se p = w = c, então ambos M e Ri terão lucro zero
• Na solução ó`ma no varejo é pRi = pM = w, onde M captura o lucro do monopólio
• Na concorrência do varejo à lá Cournot (fixando quan`dades), o preço do atacado ficará entre c e pM
Externalidades de InvesFmentos
• Ex.: laptops diferentes de biscoitos, são produtos de venda complexa, onde o vendedor precisa explicar ao cliente as caracterís`cas do produto. O varejista precisa inves`r no esforço de venda
• Suponha que R1 fez altos inves`mentos no seu esforço de vendas, mas R2 não. E R2 vende o mesmo laptop por preços inferiores a R1 e lhe rouba os clientes mais sensíveis à preços...
• O inves`mento de R1 criou uma externalidade, pois criou um bene~cio à R2... • R2 é um free-‐rider...
• Consequência?
• Se investe pouco no esforço de venda no varejo! • Quem sofre?
• O fabricante e o consumidor!!!
• Um saída: o fabricante impor um preço mínimo de venda ao varejista alto o suficiente para remunerar o inves`mento
• Outra saída: publicidade
• A publicidade do fabricante produz externalidades para o varejista (ex. concessionárias de carros)
Controle Indireto x Dilema do Fabricante
• Suponha que o esforço de venda de Ri seja si.
• Suponha s* seja o esforço ó`mo de vendas no varejo
• Suponha p* seja o preço ó`mo no varejo
• Questão: será que o fabricante (M) consegue definir uma tarifa de duas partes (f,w) de maneira a incen`var o varejista a operar com s* e p*?
• Vimos que sim quando si = 0 => seria ó`mo para o M definir o preço de atacado alto e zero de taxa de franquia
• Mas, quando si > 0, o varejista deve receber uma margem adicional para
compensar seu inves`mento. Esta margem adicional é pRi -‐ w (margem do varejo)
• Para a indústria (M e Ri), quanto mais Ri inves`r, mais se vende, tanto Ri quanto M ganham mais. Portanto, para a indústria, o ganho marginal do inves`mento é p – c, que é maior que p – w, pois w > c.
• Este é o dilema do fabricante, que por um lado ganha com w > c, mas também ganha quando p – w aumenta!
• Se o fabricante monopolista definir o preço mínimo para o varejo ao preço de monopólio e cobrar no atacado w = c
• Neste caso, todo o bene~cio de aumento da demanda será capturado pelo varejo que escolherá inves`r em s*
• O fabricante não tem controles suficientes sobre todas as decisões dos varejistas
O que acontece se há concorrência entre fabricantes (upstream)?
• Ex. grandes redes de supermercados x indústria de bens de consumo • Resultados:
1. Como há muitos produtos subs`tutos em cada categoria, há um custo de
oportunidade do espaço da prateleira em carregar um produto em par`cular. 2. Este custo de oportunidade do espaço da prateleira representa um custo fixo para
o varejista
3. Como o poder de mercado esta no varejo e o custo fixo é alto, a taxa de franquia é nega`va!
• Ou seja, o fabricante tem de pagar ao varejista para ocupar o espaço na prateleira! • Outro mecanismo que o varejo pode usar é cobrar exclusividade do fabricante na
venda de um determinado produto
• Quando há externalidades no treinamento que o fabricante oferece aos varejistas (ex. venda de carros), o fabricante pode exigir exclusividade do varejista
Questões para Reflexão
1. Deveria ser proibido acordos de exclusividade entre fabricantes de cervejas e bares?
2. Roupas de moda, eletrodomés`cos e perfumes pra`cam preços mínimos no varejo. Por que? Quais são suas consequências para o consumidor?
3. Preços diferenciados para computadores que usam Microso€ so€ware e Intel processadores beneficiam ou não o consumidor?