Flavio P. Oliveira
Flavio P. Oliveira
Uma Princesinha no País das Maravilhas
Uma Princesinha no País das Maravilhas
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aaEdição (versão beta)
Edição (versão beta)
Delirium Editora Rio de Janeiro [2017]
A Alice deste livro é fortemente inspirada no pe queno príncipe de Antoine de Saint-Exupéry. Algumas passagens — bem como frases, ensinamentos, ideias, sugestões, personagens etc. — desta história se inspi ram em algumas das aventuras do menino, contadas no livro O Pequeno Príncipe, outras se inspiram em parte das aventuras da Alice de Lewis Carroll, conta das em Alice no País das Maravilhas. Algumas situações vieram da mais pura e simples inspiração nascida des ses dois clássicos da literatura universal e de outras histórias. Certas referências estão explícitas, outras ca mufladas.
"Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé." Antoine de Saint-Exupéry
Quando estava com uns seis anos, tentei seguir os passos do chapeleiro real — o qual havia sido o costu reiro real, mas fora rebaixado de posto, devido a um acidente no vestido de copas — e desenhei usando lápis coloridos o meu primeiríssimo chapéu. Mostrei a mi nha obra-prima às pessoas grandes e perguntei a opini ão delas. Pasmem! Viram uma jiboia digerindo um ele fante, no meu desenho.
As pessoas grandes aconselharam-me a deixar os chapéus irregulares e a dedicar-me a qualquer outra atividade.
Desencorajado pelo insucesso do chapéu número um, pelo fato das pessoas grandes não entenderem nada sozinhas e ser cansativo para crianças explicar a todo instante um desenho, escondia minhas criações em tocas de coelhos nos arredores; no entanto tive no decorrer da vida contato com gente louca e com gente séria e, quando encontrava uma menos lúcida, fazia o teste do desenho número um, levado comigo no bolso.
Sempre incluíam alguma cobra engolindo algum grande mamífero na resposta.
A Lebre de Março me aconselharia, anos depois, a desistir de mostrar o desenho e a usar uma manteiga diferente.
∴
Enquanto termino a arrumação da mesa, o Leirão dorme encolhido, acordará a tempo e antes do chá es friar, não é nada gostoso chá resfriado. O Rei detesta também.
A mesa fica embaixo da árvore, em frente à casa. O Leirão dorme muito. A mesa é bem grande, espaçosa, mas estamos quase amontoados em um canto. Uma menina, elegante como poucas da idade dela, sem aque les sujinhos das brincadeiras, corridas e quedas, aproxi ma-se e diz:
— Por favor, desenha-me um passarinho.
A menina vestida a rigor — em roupa um tanto quanto masculina, parecendo uma princesa guerreira — não se mostra perdida, nem morta de cansaço, nem morta de fome, nem disposta a saborear um chá prepa rado por um chapeleiro. Ainda assim pergunto:
— Por favor, desenha-me um passarinho — repete, seriamente.
Durante anos vi os meus desenhos serem incom preendidos pelas pessoas grandes e peguei pavor em mostrá-los. Mostro meus chapéus finalizados, não rabis cos e croquis, e jamais tentei desenhar roupas e acessó rios. Sou apenas um chapeleiro, por culpa da incom preensão das pessoas sérias.
Talvez essa pequena seja diferente, farei um teste. Pego as minhas canetinhas e uma folha de papel do bolso do paletó, desenho um chapéu similar a aquele meu primeiro e mostro.
— Não! Não! Eu não quero um chapéu para meu traje de gala.
Feliz após o primeiro sucesso obtido na carreira de desenhista, pego nova folha em branco e desenho, querendo provocá-la, o que viam as pessoas grandes.
— Não! Não! Eu não quero um elefante morando dentro de uma jiboia. As jiboias são perigosas e o ele fante ocupa muito espaço. Tudo é pequenino de onde venho. Preciso de um passarinho. Desenha-me um pas sarinho.
A Lebre de Março, impaciente, retruca: — Sirva-se com um cálice de vinho e deixe os passarinhos voarem em liberdade.
— Eu quero soltar um passarinho no meu planeta. Os pássaros selvagens passam por lá, migrando, mas não ficam.
Faço o desenho, ela atentamente analisa e diz: — Esse me parece triste e pouco colorido. Desenha-me ou tro.
Desenho de novo, e de novo, e de novo.
O sonolento Leirão mistura bocejos e pitacos, a Lebre de Março resmungando do chá a esfriar. A cada desenho, ela responde com uma crítica diferente, ora o passarinho parece triste, ora é grande, ora é muito pe lado, ora tem um bico largo demais etc.
Perco a paciência, desenho uma bota, a minha primeira — meu trabalho de desenhista se resume a chapéus de todos os tipos e extravagâncias —, e digo:
— O passarinho fez ninho dentro da bota.
A Lebre de Março dá gargalhadas; todavia, para a nossa surpresa, um brilho ilumina a face da pequena juíza.
— Perfeito! O passarinho já veio no seu ninho. Depois sorri e me pergunta: — Ele precisará de mais capim para aumentar o ninho?
— Por quê?
— Porque é muito pequeno onde moro.
tanto alpiste, é um passarinho pequenininho. Não é um corvo.
— Não conheço nenhum corvo.
Ainda em pé, inclina a cabeça sobre o desenho e prossegue:
— Ouviram? Ele está assobiando.
Senta-se depois em uma grande poltrona, ao meu lado. O Leirão cochila. A Lebre de Março deposita a mão em forma de concha ao redor do ouvido. Pego um grande cone de papelão e encaixo no meu. Todos que remos ouvir o passarinho cantar dentro da bota.
∴
Quebro o silêncio após alguns minutos.
— Por que um corvo se parece com uma escriva ninha? Ninguém soube responder essa charada. Se acer tares, darei uma gaiola para você prender teu passari nho.
— Prendê-lo? Essa é uma ideia absurda! A gaiola é uma invenção absurda.
— Mas se você não prendê-lo, ele pode voar, ir embora e se perder.
— E para onde ele iria?
as xícaras a serem lavadas em cima dela, mas um passa rinho voaria sempre em frente.
A pequenina me observa, bem séria.
— Ah, não faz mal. Ele pode voar ou migrar, mas voltará ao lar, porque voltar ao lar é parte da melhor parte da vida.
Essa menina certamente não atravessou um espe lho nem correu para dentro de uma toca. Talvez seja apenas uma louca sem chapéu. Ela pergunta se temos algum avião. A Lebre de Março diz, retornando ao as sunto anterior:
— O Rei gosta de gaiolas, mas a Rainha prefere de capitações.
A menina cai em silêncio. ∴
— Não tenho um avião nem caí dos céus. Tenho sim um relógio diferente — digo, retiro o meu relógio do bolso, chacoalhando-o e levantando-o no ar. A meni na volta a se interessar, como fazem os gatos curiosos por caixas de papelão deixadas no chão.
— Que dia do mês é hoje? A pequena princesa pensa e diz:
onde venho, tudo passa rápido, até as férias. O dia é meio arrastado, quando não temos muito espaço vazio — responde e depois: — Esse seu relógio é divertido e engraçado.
Se ela não sabe dizer os dias, provavelmente não conhece o Tempo tão bem quanto eu.
— Você já adivinhou a charada?
— Não, nada sei de escrivaninhas. Qual a resposta da charada?
— Não tenho a mínima ideia — respondo.
A pequena, demonstrando irritação: — Acho um pouco estranho gastar o tempo com brincadeiras sem respostas ou prendendo passarinhos em gaiolas.
— Se você conhecesse o Tempo de verdade, não falaria em gastá-lo como se fosse uma coisa gastável, tipo o dinheiro dos pais e dos bancos. Ele é uma pessoa, e você provavelmente nunca falou com o Tempo.
— Ah, mas eu sei que o tempo me avisa quando é de manhã e devo acordar, fazer a minha toalete e de pois começar a cuidar da toalete do planeta.
— Ele não ficará apressando os segundos para você, em nenhum planeta. Agora, se você tratá-lo bem, poderá fazer o que quiser com o relógio, por exemplo: suponha que seja nove horas da manhã, bem na hora de começar a toalete do planeta, basta você insinuar no
ouvido do Tempo, e o ponteiro dá uma virada num pis car de olhos, e bum!, chegou a hora do almoço.
A pequena princesa coça o queixo, usando três dedos, pensativa, e diz: — Isso seria ótimo, certamente, se não existisse a questão da disciplina. É preciso se conformar em arrancar regularmente os baobás logo que se distinguem da roseira — no meu planeta o cravo não briga com a rosa, mas talvez os baobás sim. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução, além disso eu poderia estar sem fome e achar os baobás crescidos.
— A princípio eles não crescem se o Tempo salta espaços, mas se a tarefa exige concentração e energia, você poderá ficar na hora o quanto quiser.
— Isso é legal! É assim que vocês fazem aqui? Caio em melancolia e interior lamento, meneio a cabeça e respondo: — Não, infelizmente não. Eu e o Tempo tivemos uma severa discussão março passado…
— Mas não uma sobre quais sentimentos seriam mais sólidos — intromete-se a Lebre de Março.
∴
Discutir o quão sólido é cada sentimento é tarefa árdua, porque em cada indivíduo um determinado sen timento se manifesta de forma menos ou mais aerada.
Ouvi boatos dizendo ser a loucura um treco bem massudo e ossudo.
Já o amor é menos sólido.
— Não tenho relógio, mas queria medir a solidez dos sentimentos usando algum aparelhinho. De onde venho, a solidão é bem sólida.
Que curiosa máquina seria.
Mudamos de lugar na mesa. Eu pego uma xícara limpa, a princesa não bebe chá, criaturinha estranha, todos amamos chá por aqui.
A conversa sobre a solidez dos sentimentos tem idas e vindas e uma certeza: o amor não é nada sólido.
— A ganância é bem sólida e se materializa em tudo.
— A ganância não se materializa em um abraço — diz a menina.
— Verdade, e o amor vem em maior quantidade do que a inveja nos braços do abraço.
Uma certeza sensível ao toque: dentro de um de morado abraço se solidificam os bons sentimentos. Um abraço de urso apertado faz do amor algo palpável. Já a ganância, essa não se materializa em um abraço verda deiro — há também abraços fingidos —, nem em um beijo carinhoso — há quem dê beijos interesseiros —, nem em um sincero obrigado dito em agradecimento. A
ganância é um sólido ruim. Nem os gansos têm ganância, os patos não têm prepotência, os hipopótamos não acreditam no impossível, mas existem impossibilidades até para os hipopótamos.
— Os hipopótamos não acreditam no impossível — sussurro a frase, enquanto levo a xícara aos lábios. A menina sorri em minha direção.
Um passarinho desenhado dentro de uma bota é tão sólido quanto a nossa vontade de imaginar a reali zação do impossível.
— O meu aparelhinho de verificar a solidez dos sentimentos não conseguiria medir a intensidade do amor nos abraços apertados. Preciso de uma máquina do tamanho de um avião.
— O abacate é bem sólido — diz a Lebre de Março. A princesinha deixa escapulir uma gostosa risada. — Abacate não é sentimento — digo.
— Então, não quero mais brincar! — diz a Lebre de Março, enfezadinha.
∴
— Esse meu passarinho gostou do ninho dentro de uma bota?
solidez dos sentimentos — a ganância é bem pesada, já o amor é levíssimo e precisa ser bem guardado, senão o vento leva embora —, e ela me pergunta do passarinho. Observo a pequena com um tantinho minúsculo de in dignação e certa curiosidade, antes de responder um sim.
— Ah, bom. Assim ele não voará atrás de galhos de baobás ou outros arbustos.
A Lebre interrompe a princesinha, dizendo:
— Os baobás são árvores grandes, e não arbustos, e se você quiser ajuda para arrancá-los, não conte com um passarinho. Melhor levar uma manada de elefantes. Desenhe uma manada de elefantes para a menina, se nhor Chapeleiro.
Essa ideia absurda faz rir a menina. Se o planeta for realmente pequeno, seria preciso colocar um em cima do outro em cima do outro.
— Você se esquece, os baobás, antes de crescerem, são pequenos.
A extinção dos baobás parece incomodar a Lebre de Março: — Um absurdo tamanho arrancar os baobás, um absurdo! — faz uma pausa e conclui: — Poderíamos estar agora embaixo da sombra de um.
A mesa fica embaixo da sombra de uma árvore, em frente à casa.
Às vezes dentro da beleza exterior mora alguma coisa que faz mal, às vezes fazem mal sem querer, ape nas por necessidade de viver e crescer. Algumas pessoas crescidas fazem mal, os baobás crescidos atravancam todo o planeta, perfuram-no com as grandes raízes. Um planeta pequeno acaba rachando ao meio assim.
A extinção dos baobás definitivamente incomoda a Lebre de Março, ela retorna, motivada por um aciden te, ao tema da solidez dos sentimentos: — Um senti mento sólido de fim de mundo acontece quando um biscoito se parte ao meio, dentro da xícara, quando mo lhado no chá.
— Horror! Horror! — diz o dorminhoco Leirão. A princesinha sorri e entrega uma colherzinha à Lebre de Março.
— Basta deixar a raiva de lado e usar uma colher zinha para remover o apocalipse do biscoito partido na xícara.
Às vezes basta uma colherzinha para a resolução dos grandes problemas.
∴
Mudamos de lugar, a mesa fica embaixo de uma árvore. A princesinha diz o quanto adora ver o pôr do
sol, quer um agora durante o chá. — Devemos esperar — digo. — Esperar o quê?
— Esperar que o sol se ponha.
Ela faz um trejeito de surpreendida, mas logo cai em si e dispara graciosos sorrisos.
— Imagino sempre estar em casa.
Eis aqui a evidência: em pequenos planetas, basta arrastar a cadeira um pouco mais para trás e assim ver o crepúsculo novamente, e novamente, e de novo. Esse pensamento me deixa entristecido.
Odeio ficar triste e deprimido.
A depressão deveria visitar só as pessoas grandes e mal-humoradas, gente com cara de gente a todo ins tante disposta a brigar e discutir por bobagens.
Eu fujo das bobagens.
Fico triste, mas a princesinha fala de combater à tristeza vendo seguidamente o sol se pôr e de ter visto um dia o astro-rei se esconder no horizonte umas trin ta vezes.
Estou triste, porque briguei com o Tempo.
— Aqui poderíamos ver o pôr do sol várias vezes por dia também.
— Poderiam?
a tristeza exigisse, você poderia ficar no pôr do sol o quanto quiser. Eu combato a tristeza colando meus chapéus.
A princesinha concorda, um chapéu bem colorido e um pôr do sol em dia ensolarado curam tristezas. Ainda acrescenta: — Um abraço apertado cheio de um amor sólido também cura umas tristezas e outras en fermidades.
— Os arco-íris também são fantásticos. Até mesmo os hipopótamos que não acreditam existir o impossível apreciam um arco-íris — digo.
— Talvez saibam a correta medida do sucesso os hipopótamos, sem usar instrumento algum. Talvez te nham aprendido, na escola da vida, o quanto vale a pena viver — acrescenta, agora menos emburrada, a Le bre de Março.
∴
O sucesso financeiro não é nada se comparado ao sucesso de superar um inédito desafio. As pessoas gran des tendem a ignorar o sucesso merecido, aquele que solidifica os sentimentos mais profundos e planta boas memórias.
da xícara vazia, menciono o estrondoso sucesso obtido no começar a andar, maior se comparado a ganhar mi lhões vendendo chapéus.
Ela me observa com ares de aceitação.
Sucesso muito maior do que comprar a joia mais cara na joalheria vem quando não caímos da bicicleta sem rodinhas pela primeira vez.
— Quando aprendemos a nadar, ganhamos uma estrela no pedacinho do cérebro responsável pelas boas memórias. Um céu estrelado dentro da nossa cabeça é o melhor bem que teremos sempre. Um céu lotado de boas memórias e quase sem nuvens negras e poucas tempestades é visto no cérebro de quem sabe dar valor a cada conquista, a cada realização, a cada boa primeira vez. Aprender a andar, a andar de bicicleta, a nadar, o primeiro amor, o primeiro beijo, o primeiro tombo ra lando os joelhos e tanto mais formam as estrelas das memórias.
— As memórias são estrelas dentro do nosso céu particular? — pergunta o Leirão.
— As pessoas são feitas de estrelas coloridas e nu vens acinzentadas. As nuvens não surgem das águas evaporando dentro de nós, mas das angústias e más no tícias. As estrelas são as boas memórias. Todos gosta mos de olhar as estrelas no céu estrelado e de recordar
os bons acontecimentos.
— O primeiro amor traz borboletas ao estômago e, quando correspondido, estrelas de boas memórias — complemento o raciocínio.
Há tanta tristeza no cérebro de quem só pensa no sucesso das conquistas materiais. Nunca trocaria minha primeira volta andando de bicicleta sem rodinhas por um carro novo em folha e metal.
— Há… — diz e boceja — muito sucesso também… — cai no sono antes de completar a frase, e sou forçado a acordá-lo, dando uns petelecos no focinho. — Pare! Pare! Há muito sucesso em compartilhar o sucesso en tre amigos — termina a frase o sonolento Leirão.
Verdadeiramente há uma quantidade enorme de sucesso em apreciar e aplaudir o sucesso alheio, em compartilhar o sólido sentimento de ser parte da reali zação de um amigo ou familiar.
A princesa aplaude o dito e prepara a garganta para contar uma história.
∴
— Havia em um planeta um rei muito alto e al tíssimo, que tirava pedacinhos das nuvens, bastando es ticar os braços assim para cima. — diz e ergue os braços
imitando o movimento — Ele dizia serem as nuvens feitas de bondade com marshmallow, os arco-íris, de açúcar colorido e bastante alegria… — faz uma pausa e prossegue: — As estrelas dentro de nós são feitas de pudim de leite e boas memórias.
Somos, segundo a princesinha, a combinação de sabores, memórias, árduo trabalho gasto removendo os baobás em crescimento, doçuras e amarguras.
Quem é criativo é mais propenso a ter doces den tro de si.
Uma pessoa preenchida de sólidos amores pelos familiares e estrelas de pudim conseguiria diferenciar um chapéu meio torto de uma jiboia digerindo um ele fante.
Cascavel tem chocalho e toca na banda dos ofí dios. Eu não sou um doce, mas tenho uma centena de estrelas cadentes dentro de mim.
Ela se levanta e diz: — Eu não alcanço as nuvens daqui. Talvez necessite de uma escada mágica ou de acreditar no impossível. Talvez conversar com algum hipopótamo. — após uma pausa, termina: — Não sei de tudo, mas é melhor ter potes de açúcar colorido no fi nal do arco-íris do que ouro. O ouro é alimento da ga nância.
— A ganância e o abacate são sólidos sentimentos — diz a Lebre de Março.
— Conte mais coisas do universo e mais coisas das coisas feitas de doces — peço à princesinha.
— Ah, essa altíssima alteza fabricava mentiras em formato de sobremesa e um dia me disse: “O trovão — ela imita a voz rouca do rei — é o arroto após comer pi menta de um sapo gigante morando no céu, as gotas de chuva são lágrimas das fadas e salgadinhas, pois le vam coentro na fórmula, um dragão gigantesco voa de um lado para o outro produzindo o vento, e um dia vi um cometa rindo tanto da cauda apagada”.