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Uma Princesinha no País das Maravilhas

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Academic year: 2021

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Flavio P. Oliveira

Flavio P. Oliveira

Uma Princesinha no País das Maravilhas

Uma Princesinha no País das Maravilhas

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Edição (versão beta)

Edição (versão beta)

Delirium Editora Rio de Janeiro [2017]

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A Alice deste livro é fortemente inspirada no pe­ queno príncipe de Antoine de Saint-Exupéry. Algumas passagens — bem como frases, ensinamentos, ideias, sugestões, personagens etc. — desta história se inspi­ ram em algumas das aventuras do menino, contadas no livro O Pequeno Príncipe, outras se inspiram em parte das aventuras da Alice de Lewis Carroll, conta­ das em Alice no País das Maravilhas. Algumas situações vieram da mais pura e simples inspiração nascida des­ ses dois clássicos da literatura universal e de outras histórias. Certas referências estão explícitas, outras ca­ mufladas.

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"Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé." Antoine de Saint-Exupéry

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Quando estava com uns seis anos, tentei seguir os passos do chapeleiro real — o qual havia sido o costu­ reiro real, mas fora rebaixado de posto, devido a um acidente no vestido de copas — e desenhei usando lápis coloridos o meu primeiríssimo chapéu. Mostrei a mi­ nha obra-prima às pessoas grandes e perguntei a opini­ ão delas. Pasmem! Viram uma jiboia digerindo um ele­ fante, no meu desenho.

As pessoas grandes aconselharam-me a deixar os chapéus irregulares e a dedicar-me a qualquer outra atividade.

Desencorajado pelo insucesso do chapéu número um, pelo fato das pessoas grandes não entenderem nada sozinhas e ser cansativo para crianças explicar a todo instante um desenho, escondia minhas criações em tocas de coelhos nos arredores; no entanto tive no decorrer da vida contato com gente louca e com gente séria e, quando encontrava uma menos lúcida, fazia o teste do desenho número um, levado comigo no bolso.

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Sempre incluíam alguma cobra engolindo algum grande mamífero na resposta.

A Lebre de Março me aconselharia, anos depois, a desistir de mostrar o desenho e a usar uma manteiga diferente.

Enquanto termino a arrumação da mesa, o Leirão dorme encolhido, acordará a tempo e antes do chá es­ friar, não é nada gostoso chá resfriado. O Rei detesta também.

A mesa fica embaixo da árvore, em frente à casa. O Leirão dorme muito. A mesa é bem grande, espaçosa, mas estamos quase amontoados em um canto. Uma menina, elegante como poucas da idade dela, sem aque­ les sujinhos das brincadeiras, corridas e quedas, aproxi­ ma-se e diz:

— Por favor, desenha-me um passarinho.

A menina vestida a rigor — em roupa um tanto quanto masculina, parecendo uma princesa guerreira — não se mostra perdida, nem morta de cansaço, nem morta de fome, nem disposta a saborear um chá prepa­ rado por um chapeleiro. Ainda assim pergunto:

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— Por favor, desenha-me um passarinho — repete, seriamente.

Durante anos vi os meus desenhos serem incom­ preendidos pelas pessoas grandes e peguei pavor em mostrá-los. Mostro meus chapéus finalizados, não rabis­ cos e croquis, e jamais tentei desenhar roupas e acessó­ rios. Sou apenas um chapeleiro, por culpa da incom­ preensão das pessoas sérias.

Talvez essa pequena seja diferente, farei um teste. Pego as minhas canetinhas e uma folha de papel do bolso do paletó, desenho um chapéu similar a aquele meu primeiro e mostro.

— Não! Não! Eu não quero um chapéu para meu traje de gala.

Feliz após o primeiro sucesso obtido na carreira de desenhista, pego nova folha em branco e desenho, querendo provocá-la, o que viam as pessoas grandes.

— Não! Não! Eu não quero um elefante morando dentro de uma jiboia. As jiboias são perigosas e o ele­ fante ocupa muito espaço. Tudo é pequenino de onde venho. Preciso de um passarinho. Desenha-me um pas­ sarinho.

A Lebre de Março, impaciente, retruca: — Sirva-se com um cálice de vinho e deixe os passarinhos voarem em liberdade.

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— Eu quero soltar um passarinho no meu planeta. Os pássaros selvagens passam por lá, migrando, mas não ficam.

Faço o desenho, ela atentamente analisa e diz: — Esse me parece triste e pouco colorido. Desenha-me ou­ tro.

Desenho de novo, e de novo, e de novo.

O sonolento Leirão mistura bocejos e pitacos, a Lebre de Março resmungando do chá a esfriar. A cada desenho, ela responde com uma crítica diferente, ora o passarinho parece triste, ora é grande, ora é muito pe­ lado, ora tem um bico largo demais etc.

Perco a paciência, desenho uma bota, a minha primeira — meu trabalho de desenhista se resume a chapéus de todos os tipos e extravagâncias —, e digo:

— O passarinho fez ninho dentro da bota.

A Lebre de Março dá gargalhadas; todavia, para a nossa surpresa, um brilho ilumina a face da pequena juíza.

— Perfeito! O passarinho já veio no seu ninho. Depois sorri e me pergunta: — Ele precisará de mais capim para aumentar o ninho?

— Por quê?

— Porque é muito pequeno onde moro.

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tanto alpiste, é um passarinho pequenininho. Não é um corvo.

— Não conheço nenhum corvo.

Ainda em pé, inclina a cabeça sobre o desenho e prossegue:

— Ouviram? Ele está assobiando.

Senta-se depois em uma grande poltrona, ao meu lado. O Leirão cochila. A Lebre de Março deposita a mão em forma de concha ao redor do ouvido. Pego um grande cone de papelão e encaixo no meu. Todos que­ remos ouvir o passarinho cantar dentro da bota.

Quebro o silêncio após alguns minutos.

— Por que um corvo se parece com uma escriva­ ninha? Ninguém soube responder essa charada. Se acer­ tares, darei uma gaiola para você prender teu passari­ nho.

— Prendê-lo? Essa é uma ideia absurda! A gaiola é uma invenção absurda.

— Mas se você não prendê-lo, ele pode voar, ir embora e se perder.

— E para onde ele iria?

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as xícaras a serem lavadas em cima dela, mas um passa­ rinho voaria sempre em frente.

A pequenina me observa, bem séria.

— Ah, não faz mal. Ele pode voar ou migrar, mas voltará ao lar, porque voltar ao lar é parte da melhor parte da vida.

Essa menina certamente não atravessou um espe­ lho nem correu para dentro de uma toca. Talvez seja apenas uma louca sem chapéu. Ela pergunta se temos algum avião. A Lebre de Março diz, retornando ao as­ sunto anterior:

— O Rei gosta de gaiolas, mas a Rainha prefere de­ capitações.

A menina cai em silêncio. ∴

— Não tenho um avião nem caí dos céus. Tenho sim um relógio diferente — digo, retiro o meu relógio do bolso, chacoalhando-o e levantando-o no ar. A meni­ na volta a se interessar, como fazem os gatos curiosos por caixas de papelão deixadas no chão.

— Que dia do mês é hoje? A pequena princesa pensa e diz:

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onde venho, tudo passa rápido, até as férias. O dia é meio arrastado, quando não temos muito espaço vazio — responde e depois: — Esse seu relógio é divertido e engraçado.

Se ela não sabe dizer os dias, provavelmente não conhece o Tempo tão bem quanto eu.

— Você já adivinhou a charada?

— Não, nada sei de escrivaninhas. Qual a resposta da charada?

— Não tenho a mínima ideia — respondo.

A pequena, demonstrando irritação: — Acho um pouco estranho gastar o tempo com brincadeiras sem respostas ou prendendo passarinhos em gaiolas.

— Se você conhecesse o Tempo de verdade, não falaria em gastá-lo como se fosse uma coisa gastável, tipo o dinheiro dos pais e dos bancos. Ele é uma pessoa, e você provavelmente nunca falou com o Tempo.

— Ah, mas eu sei que o tempo me avisa quando é de manhã e devo acordar, fazer a minha toalete e de­ pois começar a cuidar da toalete do planeta.

— Ele não ficará apressando os segundos para você, em nenhum planeta. Agora, se você tratá-lo bem, poderá fazer o que quiser com o relógio, por exemplo: suponha que seja nove horas da manhã, bem na hora de começar a toalete do planeta, basta você insinuar no

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ouvido do Tempo, e o ponteiro dá uma virada num pis­ car de olhos, e bum!, chegou a hora do almoço.

A pequena princesa coça o queixo, usando três dedos, pensativa, e diz: — Isso seria ótimo, certamente, se não existisse a questão da disciplina. É preciso se conformar em arrancar regularmente os baobás logo que se distinguem da roseira — no meu planeta o cravo não briga com a rosa, mas talvez os baobás sim. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução, além disso eu poderia estar sem fome e achar os baobás crescidos.

— A princípio eles não crescem se o Tempo salta espaços, mas se a tarefa exige concentração e energia, você poderá ficar na hora o quanto quiser.

— Isso é legal! É assim que vocês fazem aqui? Caio em melancolia e interior lamento, meneio a cabeça e respondo: — Não, infelizmente não. Eu e o Tempo tivemos uma severa discussão março passado…

— Mas não uma sobre quais sentimentos seriam mais sólidos — intromete-se a Lebre de Março.

Discutir o quão sólido é cada sentimento é tarefa árdua, porque em cada indivíduo um determinado sen­ timento se manifesta de forma menos ou mais aerada.

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Ouvi boatos dizendo ser a loucura um treco bem massudo e ossudo.

Já o amor é menos sólido.

— Não tenho relógio, mas queria medir a solidez dos sentimentos usando algum aparelhinho. De onde venho, a solidão é bem sólida.

Que curiosa máquina seria.

Mudamos de lugar na mesa. Eu pego uma xícara limpa, a princesa não bebe chá, criaturinha estranha, todos amamos chá por aqui.

A conversa sobre a solidez dos sentimentos tem idas e vindas e uma certeza: o amor não é nada sólido.

— A ganância é bem sólida e se materializa em tudo.

— A ganância não se materializa em um abraço — diz a menina.

— Verdade, e o amor vem em maior quantidade do que a inveja nos braços do abraço.

Uma certeza sensível ao toque: dentro de um de­ morado abraço se solidificam os bons sentimentos. Um abraço de urso apertado faz do amor algo palpável. Já a ganância, essa não se materializa em um abraço verda­ deiro — há também abraços fingidos —, nem em um beijo carinhoso — há quem dê beijos interesseiros —, nem em um sincero obrigado dito em agradecimento. A

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ganância é um sólido ruim. Nem os gansos têm ganância, os patos não têm prepotência, os hipopótamos não acreditam no impossível, mas existem impossibilidades até para os hipopótamos.

— Os hipopótamos não acreditam no impossível — sussurro a frase, enquanto levo a xícara aos lábios. A menina sorri em minha direção.

Um passarinho desenhado dentro de uma bota é tão sólido quanto a nossa vontade de imaginar a reali­ zação do impossível.

— O meu aparelhinho de verificar a solidez dos sentimentos não conseguiria medir a intensidade do amor nos abraços apertados. Preciso de uma máquina do tamanho de um avião.

— O abacate é bem sólido — diz a Lebre de Março. A princesinha deixa escapulir uma gostosa risada. — Abacate não é sentimento — digo.

— Então, não quero mais brincar! — diz a Lebre de Março, enfezadinha.

— Esse meu passarinho gostou do ninho dentro de uma bota?

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solidez dos sentimentos — a ganância é bem pesada, já o amor é levíssimo e precisa ser bem guardado, senão o vento leva embora —, e ela me pergunta do passarinho. Observo a pequena com um tantinho minúsculo de in­ dignação e certa curiosidade, antes de responder um sim.

— Ah, bom. Assim ele não voará atrás de galhos de baobás ou outros arbustos.

A Lebre interrompe a princesinha, dizendo:

— Os baobás são árvores grandes, e não arbustos, e se você quiser ajuda para arrancá-los, não conte com um passarinho. Melhor levar uma manada de elefantes. Desenhe uma manada de elefantes para a menina, se­ nhor Chapeleiro.

Essa ideia absurda faz rir a menina. Se o planeta for realmente pequeno, seria preciso colocar um em cima do outro em cima do outro.

— Você se esquece, os baobás, antes de crescerem, são pequenos.

A extinção dos baobás parece incomodar a Lebre de Março: — Um absurdo tamanho arrancar os baobás, um absurdo! — faz uma pausa e conclui: — Poderíamos estar agora embaixo da sombra de um.

A mesa fica embaixo da sombra de uma árvore, em frente à casa.

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Às vezes dentro da beleza exterior mora alguma coisa que faz mal, às vezes fazem mal sem querer, ape­ nas por necessidade de viver e crescer. Algumas pessoas crescidas fazem mal, os baobás crescidos atravancam todo o planeta, perfuram-no com as grandes raízes. Um planeta pequeno acaba rachando ao meio assim.

A extinção dos baobás definitivamente incomoda a Lebre de Março, ela retorna, motivada por um aciden­ te, ao tema da solidez dos sentimentos: — Um senti­ mento sólido de fim de mundo acontece quando um biscoito se parte ao meio, dentro da xícara, quando mo­ lhado no chá.

— Horror! Horror! — diz o dorminhoco Leirão. A princesinha sorri e entrega uma colherzinha à Lebre de Março.

— Basta deixar a raiva de lado e usar uma colher­ zinha para remover o apocalipse do biscoito partido na xícara.

Às vezes basta uma colherzinha para a resolução dos grandes problemas.

Mudamos de lugar, a mesa fica embaixo de uma árvore. A princesinha diz o quanto adora ver o pôr do

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sol, quer um agora durante o chá. — Devemos esperar — digo. — Esperar o quê?

— Esperar que o sol se ponha.

Ela faz um trejeito de surpreendida, mas logo cai em si e dispara graciosos sorrisos.

— Imagino sempre estar em casa.

Eis aqui a evidência: em pequenos planetas, basta arrastar a cadeira um pouco mais para trás e assim ver o crepúsculo novamente, e novamente, e de novo. Esse pensamento me deixa entristecido.

Odeio ficar triste e deprimido.

A depressão deveria visitar só as pessoas grandes e mal-humoradas, gente com cara de gente a todo ins­ tante disposta a brigar e discutir por bobagens.

Eu fujo das bobagens.

Fico triste, mas a princesinha fala de combater à tristeza vendo seguidamente o sol se pôr e de ter visto um dia o astro-rei se esconder no horizonte umas trin­ ta vezes.

Estou triste, porque briguei com o Tempo.

— Aqui poderíamos ver o pôr do sol várias vezes por dia também.

— Poderiam?

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a tristeza exigisse, você poderia ficar no pôr do sol o quanto quiser. Eu combato a tristeza colando meus chapéus.

A princesinha concorda, um chapéu bem colorido e um pôr do sol em dia ensolarado curam tristezas. Ainda acrescenta: — Um abraço apertado cheio de um amor sólido também cura umas tristezas e outras en­ fermidades.

— Os arco-íris também são fantásticos. Até mesmo os hipopótamos que não acreditam existir o impossível apreciam um arco-íris — digo.

— Talvez saibam a correta medida do sucesso os hipopótamos, sem usar instrumento algum. Talvez te­ nham aprendido, na escola da vida, o quanto vale a pena viver — acrescenta, agora menos emburrada, a Le­ bre de Março.

O sucesso financeiro não é nada se comparado ao sucesso de superar um inédito desafio. As pessoas gran­ des tendem a ignorar o sucesso merecido, aquele que solidifica os sentimentos mais profundos e planta boas memórias.

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da xícara vazia, menciono o estrondoso sucesso obtido no começar a andar, maior se comparado a ganhar mi­ lhões vendendo chapéus.

Ela me observa com ares de aceitação.

Sucesso muito maior do que comprar a joia mais cara na joalheria vem quando não caímos da bicicleta sem rodinhas pela primeira vez.

— Quando aprendemos a nadar, ganhamos uma estrela no pedacinho do cérebro responsável pelas boas memórias. Um céu estrelado dentro da nossa cabeça é o melhor bem que teremos sempre. Um céu lotado de boas memórias e quase sem nuvens negras e poucas tempestades é visto no cérebro de quem sabe dar valor a cada conquista, a cada realização, a cada boa primeira vez. Aprender a andar, a andar de bicicleta, a nadar, o primeiro amor, o primeiro beijo, o primeiro tombo ra­ lando os joelhos e tanto mais formam as estrelas das memórias.

— As memórias são estrelas dentro do nosso céu particular? — pergunta o Leirão.

— As pessoas são feitas de estrelas coloridas e nu­ vens acinzentadas. As nuvens não surgem das águas evaporando dentro de nós, mas das angústias e más no­ tícias. As estrelas são as boas memórias. Todos gosta­ mos de olhar as estrelas no céu estrelado e de recordar

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os bons acontecimentos.

— O primeiro amor traz borboletas ao estômago e, quando correspondido, estrelas de boas memórias — complemento o raciocínio.

Há tanta tristeza no cérebro de quem só pensa no sucesso das conquistas materiais. Nunca trocaria minha primeira volta andando de bicicleta sem rodinhas por um carro novo em folha e metal.

— Há… — diz e boceja — muito sucesso também… — cai no sono antes de completar a frase, e sou forçado a acordá-lo, dando uns petelecos no focinho. — Pare! Pare! Há muito sucesso em compartilhar o sucesso en­ tre amigos — termina a frase o sonolento Leirão.

Verdadeiramente há uma quantidade enorme de sucesso em apreciar e aplaudir o sucesso alheio, em compartilhar o sólido sentimento de ser parte da reali­ zação de um amigo ou familiar.

A princesa aplaude o dito e prepara a garganta para contar uma história.

— Havia em um planeta um rei muito alto e al­ tíssimo, que tirava pedacinhos das nuvens, bastando es­ ticar os braços assim para cima. — diz e ergue os braços

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imitando o movimento — Ele dizia serem as nuvens feitas de bondade com marshmallow, os arco-íris, de açúcar colorido e bastante alegria… — faz uma pausa e prossegue: — As estrelas dentro de nós são feitas de pudim de leite e boas memórias.

Somos, segundo a princesinha, a combinação de sabores, memórias, árduo trabalho gasto removendo os baobás em crescimento, doçuras e amarguras.

Quem é criativo é mais propenso a ter doces den­ tro de si.

Uma pessoa preenchida de sólidos amores pelos familiares e estrelas de pudim conseguiria diferenciar um chapéu meio torto de uma jiboia digerindo um ele­ fante.

Cascavel tem chocalho e toca na banda dos ofí­ dios. Eu não sou um doce, mas tenho uma centena de estrelas cadentes dentro de mim.

Ela se levanta e diz: — Eu não alcanço as nuvens daqui. Talvez necessite de uma escada mágica ou de acreditar no impossível. Talvez conversar com algum hipopótamo. — após uma pausa, termina: — Não sei de tudo, mas é melhor ter potes de açúcar colorido no fi­ nal do arco-íris do que ouro. O ouro é alimento da ga­ nância.

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— A ganância e o abacate são sólidos sentimentos — diz a Lebre de Março.

— Conte mais coisas do universo e mais coisas das coisas feitas de doces — peço à princesinha.

— Ah, essa altíssima alteza fabricava mentiras em formato de sobremesa e um dia me disse: “O trovão — ela imita a voz rouca do rei — é o arroto após comer pi­ menta de um sapo gigante morando no céu, as gotas de chuva são lágrimas das fadas e salgadinhas, pois le­ vam coentro na fórmula, um dragão gigantesco voa de um lado para o outro produzindo o vento, e um dia vi um cometa rindo tanto da cauda apagada”.

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