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Rangelia vitalli EM UM CANINO RELATO DE CASO

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Rangelia vitalli EM UM CANINO – RELATO DE CASO

CECHIN, Marília¹* FONTANA, Eduardo Luiz¹

REFOSCO, Elias Tadeu¹ RIBICKI, Tiago Luís¹

WORST, Juliane¹ RIBEIRO, Ticiany Maria Dias²

SEBEM, Juliana Gottlieb² MAYER, Andrei Retamoso²

GALLIO, Miguel²

GRANDO, Rodrigo de Oliveira² OLIVEIRA, Daniela dos Santos²

RESUMO: Atualmente, as doenças transmitidas por vetores vêm crescendo significativamente, devido a facilidade de propagação de um local ao outro. As hemoparasitoses são enfermidades de ocorrência mundial causadas por parasitos intracelulares obrigatórios de células sanguíneas que podem causar um quadro de anemia, tristeza, hemorragias, sangramento da ponta das orelhas entre outros sinais clínicos, que se não tratados podem levar a um choque hipovolêmico, e posterior óbito do animal. O objetivo do artigo científico foi a detecção do parasita Rangelia vitalli, bem como, discustir com a literatura os resultados encontrados. Após o exame clínico, realizou-se a coleta de amostras para exames complementares tais como esfregaço sanguíneo e hemograma. Encontrou-se o hemoparasita Rangelia vitalli parasitando um eritrócito, visualizado através do esfregaço sanguíneo, concluindo assim o presente artigo com a forma mais comum a detecção do parasita.

Palavras-chave: “nambiuvú”, hemoparasita, anemia.

ABSTRACT: Currently, vector-borne diseases have been growing significantly, due to the ease of propagation from one place to another. Hemoparasites are diseases of global occurrence caused by obligate intracellular parasites of blood cells that can cause anemia, sadness, hemorrhages, bleeding of the tip of the ears among other clinical signs, that if untreated can lead to a hypovolemic shock, and later death of the animal. The objective of the scientific article was the detection of the parasite Rangelia vitalli, as well as, to discuss with the literature the results found. After the clinical examination, samples were collected for complementary tests such as blood smear and blood count. Rangelia vitalli hemoparasite was found parasitizing an erythrocyte, visualized through the blood smear, thus concluding the present article with the most common form of parasite detection.

Keywords: “nambiuvú”, hemoparasite, anemia. 1 INTRODUÇÃO

Atualmente, as doenças transmitidas por vetores vêm crescendo significativamente, devido a facilidade de propagação de um local ao outro. Essas enfermidades, são de extrema importância para os clínicos e responsáveis pela saúde pública, pois merecem atenção ao introduzir-se novas medidas profiláticas capazes de garantir a proteção do animal e do homem, devido algumas delas terem potencial zoonótico. Dentre estes agentes infecciosos, temos bactérias, protozoários, rickettsias, que são transmitidos por diferentes artrópodes.

As hemoparasitoses são enfermidades de ocorrência mundial causadas por parasitos intracelulares obrigatórios de células sanguíneas. São transmitidas biologicamente pela picada de artrópodes hematófagos, que também possuem importância no ciclo de algumas destas

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2 doenças. Acometem animais de várias espécies, dentre elas cães e gatos. Podem ser sub-clínicas, ou seja, não causarem sintomatologia ou podem levar os animais a desenvolverem manifestações clínicas variáveis e até quadros clínicos mais severos que podem evoluir para o óbito.

Comumente na clínica médica veterinária de pequenos animais, as doenças mais encontradas causadas por hemoparasitas são babesiose, rangeliose, anaplasmose e ehrlichiose, transmitidas por carrapatos aos cães e gatos. Sendo a mais corriqueira encontrada na maior parte do Brasil, a babesiose.

A hemoparasitose causa um quadro de anemia, tristeza, hemorragias, sangramento da ponta das orelhas entre outros sinais clínicos, que se não tratados podem levar a um choque hipovolêmico, e posterior óbito do animal.

As técnicas de identificação das hemoparasitoses vêm aumentando significativamente nos últimos anos, devido ao maior conhecimento sobre as doenças causadas por elas, à maior expansão geográfica de sua ocorrência e a melhoria das técnicas de diagnóstico. Como na maioria dos casos os animais acometidos por hemoparasitas apresentam sintomas inespecíficos, o diagnóstico através do exame clínico torna-se limitado. Desta forma, teste para diagnóstico de alta sensibilidade e especificidade tornam-se essenciais para a idenficação de animais portadores da doença.

A rangeliose é uma doença acometida por protozoário e transmitida por carrapatos e tem sido confundida clinicamente com outras doenças infecciosas de cães, as quais, causam sintomatologia semelhante apresentando esplenomegalia, linfadenomegalia, hemorragias, apatia, êmese, diarreia, edema de membros e sangramento em borda de orelha, sendo as principais alterações hematológicas, anemia, icterícia, trombocitopenia e leucocitose. Além disso, confunde-se-a com outros protozoários e riquétsias hemoparasitas. Devido a este fato, o assunto sobre a doença tem sido esquecido e ignorado por pesquisadores da área. No Brasil, o diagnóstico é realizado pela detecção do agente no esfregaço sanguíneo, PCR, e também hemograma completo.

Para o tratamento de hemoparitoses geralmente usa-se antibióticoterapia de 12 em 12 horas por no mínimo 21 dias, além de utilização de anti parasitário injetável em única dose. Mesmo o paciente respondendo ao tratamento em poucos dias, deve-se continuar o mesmo pelo tempo necessário estipulado pelo médico veterinário.

Objetivou-se com o presente trabalho, identificar o hemoparasita Rangelia vittali através de exames complementares, tais como, esfregaço sanguíneo, e relatar as principais

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3 alterações no hemograma completo e bioquímico, bem como seus sinais clínicos, sua ocorrência em caninos relacionando-o com a literatura.

2 DESENVOLVIMENTO

Será relatado abaixo, um caso clínico de rangeliose, em canino Pastor Alemão, 13 anos, fêmea. Como características da doença, sinais clínicos, vetor, bem como, seu tratamento.

2.1 Referencial Teórico

A Rangelia vittali, é um protozoário do filo Apicomplexa, ordem Piroplasmorida, transmitido por carrapatos (SOARES, 2006), acometendo cães de qualquer idade e causando uma doença chamada Rangeliose, popularmente conhecida como “peste de sangue” ou “nambiuvú”, que ao longo dos anos, vem sendo relatada apenas no Brasil. O do primeiro relato sobre a enfermidade foi realizado no ínicio do século passado por Carini em 1908, e posteriormente em 1910, Bruno Rangel Pestana constatou que o estado brasileiro mais acometido pela mesma, era São Paulo. Embora ter sido descrito a mais de 100 anos, ainda há poucos estudos a respeito do protozoário atualmente.

A rangeliose, é um distúrbio hemolítico extravascular, que afeta cães no sul do Brasil. Nos últimos 50 anos, até o final do século XX, essa doença foi esquecida pela comunidade acadêmica e, dessa forma, não é comentada em livros, e pouco descrita em artigos científicos, voltando a ser estudada com mais afinco a partir de 2001. Um estudo recente, conduzido no Laboratóriode Patologia Veterinária (LPV) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), demonstrou que R. vitalii representa a principal causa de doença hemolítica de cães necropsiados na Mesorregião do Centro Ocidental Rio-Grandense (FIGUERA, 2007). Soares et al. (2014), citou, ser o hemoparasita mais encontrado no Brasil.

Carrapatos ixodídeos das espécies Amblyomma aureolatum e Rhipicephalus

sanguineus, têm sido encontrados regularmente infestando aqueles cães acometidos pela

infecção por R. vitalli. Sugerindo-se que esses artrópodes sejam os possíveis vetores de R.

vitalli (LORETTI et al, 2004).

Os animais parasitados podem apresentar palidez de mucosa, seguido de icterícia, febre intermitente, apatia, anorexia, emagrecimento progressivo, esplenomegalia, hepatomegalia, linfoadenomegalia, edema subcutâneo dos membros pélvicos e petéquias nas mucosas (FIGHERA, 2007).

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4 Imediatamente após a infecção, o parasita se multiplica no sangue e pode ser visualizado no plasma na sua forma livre e/ou dentro dos leucócitos e eritrócitos. Embora os animais jovens sejam mais suscetíveis, os adultos também desenvolvem a rangeliose. A enfermidade causa alterações significativas no hematológico do animal, onde essas alterações fisiológicas podem afetar as enzimas do sistema colinérgico, que estão presentes em células sanguíneas (SILVA, 2013).

O sangramento através dos orifícios cutâneos e bordos das orelhas também são achados comuns no parasitismo por R. vitalli (LORETTI, 2004), vindo deste sinal clínico seu nome popular nambi-uvú.

A enfermidade ocorre em qualquer época do ano, sendo mais frequente nos meses de verão pois coincide com o ciclo de seu vetor, o carrapato; porém, há possibilidades dessa doença ter seu reservatório em animais silvestres no estado do Rio Grande do Sul/RS (LORETTI et al, 2004).

Na avaliação morfológica do esfregaço sanguíneo dos cães acometidos pela doença, comumente se observa anisocitose, policromasia, metarrubricitemia e corpúsculos de Howell-Jolly (FRANÇA, 2010), e raramente encontra-se a R. vitalli parasitando os eritrócitos (LORETTI, et al, 2004). Fighera (2007), citou que no Brasil, não estão disponíveis testes comerciais para a detecção de R. vitalli.

2.2 MATERIAL E MÉTODOS

Um canino, fêmea, da raça Pastor Alemão, com idade de aproximadamente 13 anos, chegou no hospital veterinário São Francisco da Faculdade IDEAU com relato de seu proprietário que a paciente alimentava-se normalmente, porém estava com emagrecimento progressivo, percebendo agravamento do quadro 30 dias antes da consulta, o animal apresentava 25kg e emaciação.

A médica veterinária responsável pelo atendimento, realizou a anamnese questionando ao proprietário o tipo de alimentação, se houve mudança de rotina, se o animal possuia todo o protocolo vacinal, vermifugação, se havia animais contactantes ou acesso à rua e também se o animal possuía ou já havia entrado em contato com ectoparasitas. O proprietário por sua vez respondeu os questionamentos explicando à médica que o animal alimentava-se de restos de comida caseira e de ração duas vezes ao dia, que havia recebido todas as doses vacinais, bem como reforço anual, vermifugação em dia, também que o contactante era outro Pastor Alemão macho, e apresentava-se bem saudável, e também que não havia observado ectoparasitas.

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5 Iniciou-se a consulta fazendo exame clínico geral, tais como, ausculta cardíaca e pulmonar, aferiu-se temperatura retal, TPC, e grau de desidratação. Ao realizar o exame visual no animal, observou-se áreas de alopecia e feridas.

Para chegar ao diagnóstico final, solicitou-se exames complementares como hemograma completo, bioquímico, exame citológico do ouvido, raspado de pele, esfregaço sanguíneo e laminocultivo. Para a realização dos exames de hemograma, bioquímico (TSH e T4 livre), realizou-se coleta sanguínea da veia cefálica do animal (Figura 1), enviando as amostras sanguíneas para o laboratório do Hospital veterinário São Francisco de Assis em Getúlio Vargas/RS e AXIS em Porto Alegre/RS. O hemograma completo, nos indica a quantidade de leucócitos totais, linfócitos, granulócitos, hemoglobina, hematócrito, VCM, CHCM e plaquetas, já no bioquímico nos mostra a avaliação de órgãos e sistemas através da dosagem de enzimas, proteínas e metabólitos no sangue, neste caso, solicitou-se creatina e uréia, que avalia a função renal e hepática, e TSH e T4 livre, que avaliam a função da tireoide.

FIGURA 1: Coleta de sangue da veia cefálica em canino Pastor Alemão. FONTE: Marília Cechin, Getúlio Vargas/RS

O raspado de pele é um exame de microscopia direta, com a finalidade de encontrar ácaros no animal, causadores da sarna demodécica e sarcóptica. Realizou-se com auxílio de bisturi e lâmina de vidro, ambos estéreis, realizando raspagem nas partes alopécicas e nas feridas, findando o exame após coletar pele e crostas de feridas, bem como algumas gotas de sangue. Enviou-se o material para laboratório para posterior diagnóstico.

O esfregaço sanguíneo é um exame que consta em retirar gotas de sangue periférico do animal para a realização de quatro lâminas de esfregaço sanguíneo com o objetivo de avaliar

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6 quanto a presença de parasitas sanguíneos tais como, Anaplasma platys, Ehrlichia canis,

Babesia canis e Rangelia vittali. O exame foi realizado com auxílio de agulha 25x7 e lâmina

de vidro, ambos estéreis. Retirou-se gotas de sangue da face interna da orelha do animal, colocadas diretamente na lâmina. Após isto, com auxílio de outra lâmina estéril, colocou-se em ângulo de 45º, espalhou-se bem a gotícula de sangue e puxou-a, para ficar a camada fina e homogênea. Esperou-se secar o sangue e corou-se com o kit de corantes panótico, esperou-se secar novamente aplicou-se óleo de imersão e realizou-se a análise com auxílio do microscópio, no aumento de 1000X.

O teste de laminocultivo é destinado ao isolamento de fungos causadores de dermatofitoses como Microsporum, Epidermophyton e Trichophyton, e o fungo Candida. Contém 3 meios de cultura: Ágar D.T.M., Ágar Sabouraud glicose e Ágar BIGGY, produto que facilita a coleta e interpretação de resultado. Para a realização do laminocultivo, semeou-se nos meios de cultura pelos e raspado de pele do animal, o qual deixou-semeou-se por 7 dias em temperatura ambiente, e observou-se a mudança de coloração, sendo, vermelho, indicativo de crescimento de algum destes microrganismos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a realização dos exames clínicos e físicos do animal e coleta de amostras para exames laboratoriais, constatou-se que o animal possuía alopecia em dorso e patas, e feridas no pescoço. O animal também apresentava mau odor nas orelhas, com presença de cerúmen amarelado, o que pode caracterizar otite, comprovado no exame citológico do ouvido, onde a otite encontrada no exame foi otite por Malassezia sp. A avaliação de parâmetros vitais do paciente estava dentro da normalidade quando comparado com as referências fisiológicas da espécie, conforme mostra na tabela 1.

TABELA 1: Resultados obtidos da avaliação clínica. Getúlio Vargas/RS

Valor de referência Resultados encontrados

Temperatura retal C° 37,5 à 39,2°C 38,5°C

Frequência cardíaca 60 à 160btm/min 72 btm/min Frequência respiratória 18 à 36 resp./min 23 resp./min

TPC* 2 segundos 2 segundos

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7 Após a coleta de sangue para o hemograma completo, visto que diante de um quadro patológico é de suma importância analisar e interpretar o resultado deste (Tabela 2).

TABELA 2. Hemograma completo de um canino femêa Pastor Alemão, 13 anos.

Valores obtidos Valores de referência

Eritrócitos 5,02 5,5 - 8,5 x 106

Hemoglobina 11,8 11 – 19g/dL

Hematócrito 29,9 39 – 56%

VCM* 59,5 62 – 72 fL

CHCM** 39,5 30 – 38g/dL

Leucócitos totais 10,5 6 – 17x 10³/uL

Linfócitos 2,3 0,8 – 5,1 x 10³/uL

Granulócitos 8 4 – 12 x 10³/uL

Plaquetas 357 117 – 460 x 10³/uL

*VCM: Volume corpuscular médio **CHCM: Concentração de hemoglobina corpuscular média

Como pode ser observado na tabela acima, o paciente estava apresentando anemia, devido os eritrócitos e hematócrito diminuídos, e classificou-se esta como microcítica normocrômica pelos resultados obtidos do VCM e CHCM, respectivamente. Embora não exista anemia hipercrômica, neste hemograma observou-se um falso aumento de CHCM na amostra, o que indica teor falsamente aumentado de hemoglobina, conforme dizia Thrall (2015), o CHCM aumentado é devido à lipemia e hemólise intravascular.

No exame bioquímico solicitou-se ureia e creatinina e também T4 livre e TSH e ambos apresentavam-se dentro dos parâmetros fisiológicos da espécie, (Tabela 3).

TABELA 3: Resultados exame bioquímico do canino fêmea Pastor Alemão, 13 anos.

Resultado Referência

T4 livre 0,63 0,6 – 2,0 ng/dL

TSH* 0,31 0,01 – 0,50 ng/mL

Ureia 49 15- 65mg/dL

Creatinina 0,7 0,5 – 1,5 mg/dL

*TSH: Hormônio estimulante da tireoide.

O resultado do exame de raspado de pele, para possível diagnóstico de acáros obteve-se negativo para ácaros como Demodex spp e Sarcoptes spp. Já o laminocultivo, apreobteve-sentou- apresentou-se de coloração avermelhada em todos os meios de cultura testado, podendo apresentou-ser Microsporum,

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Epidermophyton, Trichophyton ou Candida albicans, porém devido à carência do

proprietário, não realizou-se outro exame para identificação de qual dos fungos encontrava-se na pele do animal, o que sabe-se é que estes fungos são zoonoses.

Nas quatro lâminas de esfregaço sanguíneo realizadas, ao visualizar-se no microscópio em aumento de 1000x, duas delas encontrou-se o hemoparasita Rangelia vitalli, parasitando um eritrócito (Figura 2).

FIGURA 2: Rangelia vitalli indicada por seta parasitando eritrócito, em aumento de 1000x. FONTE: Marília Cechin. Getúlio Vargas/RS

Embora seja de fácil detecção de R. vitalli pelo exame de PCR, já confirmado em estudo por Gottlieb et al., (2016), e alguns autores como Loretti et al., (2004), afirmem serem achados raros de R. vitalli em esfregaços sanguíneos parasitando eritrócitos, relataram também que R. vitalli seria mais facilmente observada no sangue no inicío da infecção e que há mais chances de observação do parasita em esfregaço sanguíneo quando as amostras de sangue são coletadas durante o momento em que o animal apresente febre. Entretanto no caso estudado, o animal apresentou os parâmetros vitais dentro da normalidade. França (2015), também obteve-se R. vitalli parasitando eritrócito em esfregaço sanguíneo.

Na literatura o ciclo evolutivo da R. vitalli, é questão de polêmica e arrodeado de dúvidas, pois em alguns estudos há indícios de que ocorre um estágio de desenvolvimento eritrocitário, em que o protozoário se replica nos eritrócitos, e em um segundo estágio de desenvolvimento, exo-eritrocitário, o parasita, se multiplica no interior de um vacúolo parasitóforo situado no citoplasma do endotélio dos capilares sanguíneos (CARINI, 1908).

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9 A difícil detecção de R. vitalli nos esfregaços sanguíneos está totalmente ligada a questão do ciclo evolutivo do parasita, a qual, apenas estará presente na corrente sanguínea no pico da doença, ou seja, quando o animal, apresenta, a maioria dos sinais clínicos (LORETTI, et al. 2004). Novamente o caso relatado, está mostrando-se contrário a literatura, pois apresentou-se contra o ciclo evolutivo, mostrando-se facilmente encontrada microscopicamente na visualização da lâmina de esfregaço sanguíneo.

A rangeliose é mais comum em cães filhotes, menos frequente, mas pode acometer caninos adultos e idosos, e principalmente cães destinados à caça ou que tenham acesso às áreas rurais ou contato com o carrapato (LORETTI et al. 2004). Podendo ser observada o ano todo, é mais comum no verão (CARINI e MACIEL, 1914).

Mesmo não tendo sido encontrados carrapatos no canino, sugere-se que o animal tenha

sido parasitado há algum tempo. Carrapatos ixodídeos das espécies Amblyomma aureolatum e

Rhipicephalus sanguineus têm sido encontrados regularmente infestando aqueles cães

acometidos pela infecção por R. vitalli, sugerindo estes, os possíveis vetores da doença, já estudado por Loretti et al. (2004).

Embora a literatura nos mostre que geralmente caninos jovens e com acesso a pátios e áreas rurais infestadas pelo vetor sejam mais sucetíveis a doença (LORETTI et al., 2004), neste relato de caso, provou-se o contrário, pois o animal acometido pela moléstia era idoso e habitante de área urbana, e mesmo com acesso ao pátio, segundo relato do proprietário, neste local não havia infestação, ou seja pode-se classificar como raro.

A doença apresenta três formas, a força benigna, geralmente não tem sinais aparentes, podendo passar despercebida pelo proprietário do animal, a forma hemorrágica (geralmente a mais comum), podendo causar apatia, anorexia e emagrecimento progressivo, sangramento das orelhas, e a forma mais grave, que apresenta sangramento interno, principalmente intestinal (CARINI, 1914). Neste caso clínico, o animal apresentou rangeliose de forma benigna, pois o animal mesmo apresentando anemia, continuava-se alimentando-se de maneira normal, porém com emagrecimento progressivo, e nos relatos do proprietário, nunca houve sangramento nas orelhas.

Os tratamentos empregados para o paciente canino Pastor Alemão, foi de antibióticoterapia com Doxiciclina por via oral, e antiparasitário Dipropionato de Imidocarb em dose única por via subcutânea e também, indicou-se uso de antipulgas e carapaticidas tópicos ou orais para não reincidência de carrapatos. Loretti et al. (2004), utilizou também os

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10 fármacos Doxiciclina e Dipropionato de Imidocarb, além destes, citou a eficácia no uso de corticoides no tratamento da doença.

As drogas acima enunciadas, são empregadas para o tratamento de babesiose e ehrlichiose e apresentam-se eficazes no tratamento de rangeliose (LORETTI et al., 2004) e o fato do tratamento mostrar-se eficaz para todas as enfermidades, acredita-se o porque desta ser tão confundida e consequentemente de certa forma esquecida pela literatura.

Apesar dos poucos casos relatados sobre a doença, os mesmos têm sido encontrados na região Sul e Sudeste do Brasil, porém acredita-se que a doença ocorra em todo território nacional, nas mesmas condições de clima (PESTANA, 1910).

CONCLUSÃO

Ao concluir o presente artigo, pode-se afirmar, que conseguiu-se de maneira mais simples identificar o hemoparasita Rangelia vitalli através de esfregaço sanguíneo, aprender a técnica, executando-a na prática. Foi de suma importância a elaboração, pois a literatura não nos mostra muitos relatos sobre a Rangeliose, podendo-se perceber que refere-se a uma doença de alta relevância, principalmente no estado do Rio Grande do Sul, onde a doença é endêmica, portanto, o correto diagnóstico, possibilita o tratamento eficaz da doença, bem como como maneira de controle do seu vetor.

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