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NIVALDA COSTA E SUA PRODUÇÃO TEATRAL NA IMPRENSA BAIANA

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Academic year: 2021

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NIVALDA COSTA E SUA PRODUÇÃO TEATRAL NA IMPRENSA BAIANA

Débora de Souza1 Rosa Borges dos Santos (Coautora, Orientadora)2

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A produção teatral da dramaturga baiana Nivalda Costa, especificamente, os textos teatrais produzidos e censurados no período da ditadura militar constituem o corpus da pesquisa de mestrado, desta pesquisadora, a ser desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura, da Universidade Federal da Bahia.

A referida pesquisa faz parte dos estudos desenvolvidos no Grupo de Edição e Estudo de textos teatrais censurados na Bahia, coordenado pela Profa. Dra. Rosa Borges (UFBA), que tem como principal objetivo recuperar e interpretar, por meio de atividade filológica, o texto teatral censurado no período da ditadura milita, na Bahia, visando à preservação e à transmissão da memória cultural escrita de um povo.

Além da recolha, organização, descrição e transcrição de textos teatrais censurados, para o preparo de edições desses textos e de análises filológicas, buscam-se recuperar pareceres, solicitações, certificados de censura, fontes impressas, jornais e revistas, esboçando o panorama que envolve a literatura dramática baiana, a crítica teatral e o teatro enquanto movimento de resistência, no período de 1964-1985i.

O corpus utilizado pelo Grupo de pesquisa encontra-se, em sua maioria, na Biblioteca Central do Estado da Bahia, especificamente, no Acervo do Espaço Xisto Bahia e no setor de periódicos, daquela instituição. São realizadas ainda entrevistas com pessoais ligadas ao teatro, o que possibilita o acesso a Acervos outros, de posse privada.

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação Literatura e Cultura da Universidade Federal da Bahia

(UFBA) e Licenciada em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES. E-mail: deboras_23@yahoo.com.br – Autora.

2 Professora Adjunta no Departamento de Fundamentos para o Estudo das Letras do Instituto de Letras da

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Nessa perspectiva, propõe-se, neste trabalho, uma leitura da produção teatral da dramaturga Nivalda Costa, especificamente, dos textos teatrais produzidos na época da ditadura militar, a partir de matérias de jornais que fazem alusão a tal produção.

2 TRABALHO FILOLÓGICO E TEXTOS DE IMPRENSA

No processo crítico de investigação, interpretação e estabelecimento do texto, busca-se conhecer todo o conjunto de testemunhos de uma obra assim como todos os elementos referentes àquela, ou seja, tudo que tem relação, explícita ou implícita, com o objeto estudado. Desse modo, o pesquisador busca em diferentes lugares, acervos, arquivos, bibliotecas etc, documentos, testemunhos, que o auxiliem na leitura de determinada obra, bem como do seu contexto de produção.

Os acervos e arquivos, unidades administrativas, têm como função recolher, conservar e disponibilizar documentos vários aos diferentes pesquisadores. Para a Arquivística Literária e para a Crítica Textual, como aponta Oliveiraii, essas unidades são consideradas “lugares de memória privilegiados”. De acordo com a autora,

Lugares e temp(l)os de memória, os manuscritos e outros documentos que integram os arquivos pessoais de autores contemporâneos ora espelham o pulsar da oficina própria de cada criador (mostrando a gestação e o devir da sua obra), ora desvendam o especioso percurso de que foi feito o impulso, sucesso ou insucesso, de muitas intervenções singulares e movimentos coletivos (literários, artísticos, cívicos, etc.) que marcaram decisivamente a nossa história cultural mais recente.

Na Biblioteca Central do Estado da Bahia encontra-se significativa quantidade de periódicos que memoram a história da Bahia em diferentes épocas. Em relação ao período da ditadura militar, especificamente, no Acervo do Espaço Xisto Bahia, há diferentes pastas com recortes de jornais e de revistas referentes ao teatro e à censura ao teatro, além de textos teatrais censurados que foram submetidos ao exame de Censura.

Na Bahia, segundo Francoiii, a crítica e o colunismo teatral, nos anos 1960, foram publicadas em quatro periódicos: Jornal da Bahia, A Tarde, Estado da Bahia e Diário de Notícias. Ainda nessa década, com a inauguração do Teatro Vila Velha, do Teatro Castro Alves e de espaços alternativos, “as artes cênicas ocuparam todos os

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periódicos através de críticas, colunas teatrais e sociais, crônicas, ensaios, matérias assinadas e um ou outro editorial” iv.

Assim, o exercício crítico nos periódicos “foi assumido publicamente por jovens intelectuais envolvidos com o movimento teatral, musical e cinematográfico da cidade, interligados durante algum tempo, em saudável ebulição”v como Glauber Rocha, Emanuel Araújo, Caetano Veloso, Carlos Falck, Geraldo Portela, Orlando Senna, Walter Weeb, João Augusto, Luís Carlos Maciel, Carlos Coqueijo, Alvinho Guimarães, dentre outros.

Nos anos 1970, de acordo com Francovi, “a imprensa local [...] foi revolucionada pelo aparecimento da Tribuna da Bahia”, além das colunas cênicas, implantam-se nos jornais, os roteiros, a fim de anunciar diariamente a programação cultural, registrando-se os espetáculos em cartaz, elencos, direções, autores e sumários dos temas. O teatro, portanto, segundo a autora, foi assunto de centenas de matérias, principalmente, do Jornal da Bahia e do Tribuna da Bahia.

Dessa forma, as informações obtidas através desses periódicos possibilitam, além de compreender o contexto de produção, melhor interpretar e ler o texto teatral, efêmero por natureza, por sua existência como literatura e espetáculo. Portanto, o acesso a tais informações auxiliam no estabelecimento crítico do texto teatral já que “desde as primeiras fases da escritura teatral, o componente cênico é parte integrante do processo e lhe confere, assim, aspectos particulares” vii.

Nessa perspectiva, as matérias veiculadas em diferentes jornais podem contribuir com a prática editorial de textos teatrais censurados da baiana Nivalda Costa, possibilitando melhor compreender um processo de escrita elaborada para o palco, bem como a atuação daquela artista como mulher, negra, engajada com questões sociais, políticas e estéticas.

3 NIVALDA COSTA E SUA PRODUÇÃO TEATRAL NA IMPRENSA BAIANA

Nivalda Silva Costa, dramaturga, diretora, atriz e poetisa baiana, começou a fazer teatro no período ginasial, no Colégio Estadual Severino Vieira, e cursou a Escola de Teatro a Universidade da Bahia, ETUB, no período da ditadura militar. Participou da equipe do programa Fêmea, da TV Educativa, como uma das diretoras na década de 80.

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Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (1984), especialização em Antropologia pela Universidade Federal da Bahia (1986) e especialização em Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (2001).

Aqui, destacam-se as seguintes produções teatrais realizadas na época da ditadura militar: Aprender a nada-r [1975]; Hamlet, Príncipe da Dinamarca [1976]; O Pequeno Príncipe ou Ciropédia [1976]; Pequeno Príncipe: aventuras [1977]; Girassóis [1977]; Vegetal vigiado [1977]; Anatomia das feras [1978]; Glub! Estória de um espanto [1979]; Casa de cães amestrados [1980]viii.

Mostrar-se-ão, a seguir, algumas matérias de jornais em que se tratam de diferentes produções teatrais apresentadas pelo Grupo de Experiências Artísticas, Testa, criado por Nivalda Costa, e fundado em janeiro de 1975. Observam-se:

Figuras 1e 2 – Recortes do Jornal Tribuna da Bahia, 09 ago. 1976, á esquerda, e do Jornal do Comércio, 26 jun. 1977, à direita.

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Figuras 3 e 4 – Recortes do Jornal A Tarde, 11 out. 1977, á esquerda, e do Jornal da Bahia, 02 jun. 1978, à direita. Fonte: Acervo Privado de Nivalda Costax

Figuras 5 – Recorte do Jornal da Bahia, 23 abr. 1979. Fonte: Acervo Privado de Nivalda Costaxi

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Do exposto, a partir das informações veiculadas nas matérias, ressalta-se que Nivalda Costa configura-se como uma artista engajada com questões políticas, sociais e estéticas, usa(va) o teatro como arma frente às injustiças, e ao mesmo tempo, buscava outras formas de linguagens, ultrapassando o teatro ancorado na palavra, explorando a expressividade dos gestos, a composição visual das cenas e as possibilidades significantes, através da dialética semiológica introduzida por Brechtxii, onde todo o espaço significa.

Outra observação diz respeito à estrutura dos textos teatrais, que se apresentam, em sua maioria, como roteiros teatrais, desta forma, o dramaturgo e/ou encenador opera(m) sobre os textos para a cena, o que provoca outros modos de escrita.

A partir dos depoimentos da dramaturga sobre o processo de criação dos textos e das adaptações livres, percebe-se que no conjunto dos textos que compõem a produção dramática de Nivalda Costa, em seu processo de escritura, ou de criação, a dramaturga “articula, agrupa, faz bricolagem do texto alheio”xiii, e ainda retoma sua obra e a reescreve. Desse modo, forma-se, nesta relação de construção da obra com seus precedentes, um texto maior formado pela inter-relação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No trabalho filológico, investigativo e interpretativo, faz-se essencial a busca de informações em lugares vários. Nesse sentido, a recolha, organização e arquivamento de periódicos são de extrema relevância para aquele labor.

As matérias sobre a produção teatral do grupo Testa, bem como sobre a atuação da artista Nivalda Costa, como dramaturga, diretora e cidadã, são verdadeiros documentos imprescindíveis para o trabalho proposto no âmbito da Crítica Textual Moderna e da Crítica de Processo.

NOTAS

________________________

i Atualmente estão sendo organizados, por bolsistas de Iniciação Centífica (IC) e voluntários, dois catálogos descritivos, digitais, de textos teatrais censurados, na Bahia, e de matérias de jornais referentes ao teatro e à censura ao teatro, que servirão como material de consulta para diferentes especialistas.

ii Oliveira, 2007, p. 374-5. iii Franco, 1994, p. 139-40.

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iv Ibid., p. 139-40. v Ibid., p. 139-40. vi Ibid., p. 201-2.

vii Grésillon, 1995, p. 271.

viii Em entrevista concedida ao grupo Edição e estudo de textos teatrais censurados na Bahia, em 2009, Costa informou as datas dos textos, pois nenhum é datado.

ix Fotografia digital por Luis César Souza. x Fotografia digital por Luis César Souza. xi Fotografia digital por Luis César Souza. xii Roubine, 1998, p. 67.

xiii Sant’anna, 1991, p. 46.

RESUMO

Propõe-se, neste trabalho, uma leitura da produção teatral da dramaturga Nivalda Costa, especificamente, dos textos teatrais produzidos na época da ditadura militar, a partir das matérias de jornais que fazem alusão a tal produção. Nesse sentido, no processo de investigação, interpretação e estabelecimento do texto, busca-se conhecer todo o conjunto de testemunhos de uma obra assim como todos os elementos referentes àquela, ou seja, tudo que tem relação, explícita ou implícita, com o objeto estudado. O presente trabalho se realiza a partir de estudos desenvolvidos no Grupo de Edição e Estudo de textos teatrais censurados na Bahia, coordenado pela Profa. Dra. Rosa Borges (UFBA) que tem como principal objetivo recuperar e interpretar, por meio de atividade filológica, o texto teatral censurado, na Bahia, visando à preservação e à transmissão da memória cultural escrita de um povo.

PALAVRAS-CHAVE: Acervo. Nivalda Costa. Texto Teatral.

ABSTRACT

This research aims to analyze, via articles of newspapers, the theater texts by the playwright Nivalda Costa that were written during the military dictatorship. It is intended in the process of investigation, interpretation and establishment of the text to know the testimonial set of a work and everything connected to it, explicitly or implicitly. This research is one of the works developed by the team of Edição e Estudo de textos teatrais censurados na Bahia, which is supervised by Dr Rosa Borges (UFBA), and its objective is to recover and interpret censored theater text - in Bahia - through philological methods in order to preserve and transmit the written cultural memory of a people.

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REFERÊNCIAS

FRANCO, Aninha. O teatro na Bahia através da imprensa: século XX. Salvador: FCJA; COFIC; FCEBA, 1994.

GIRASSOIS, teatro infantil com o grupo Testa. Jornal do Comércio, Salvador, 26 jun. 1977.

GLUB! Vem aí mais uma peça de Nivalda Costa. Jornal da Bahia, Salvador, 23 abr. 1979.

GRÉSILLON, Almuth. Nos limites da gênese: da escritura do texto de teatro à encenação. Estudos Avançados, São Paulo, v. 9, n. 23, abr 1995. Disponível em: <http://scielo.br/scielo.php>. Acesso em: 10 abr 2010.

OLIVEIRA, Antônio Braz de. Arquivística literária: notas de memória e perspectiva. Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, Porto Alegre, v. 8, p. 373-382, 2007.

”O PEQUENO príncipe” no ICBA em setembro. Tribuna da Bahia, Salvador, 09 ago. 1976.

PROGRAMA da semana (03 a 09 de julho ‘78). Jornal da Bahia, Salvador, 02 jun. 1978.

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