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DELIBERAÇÃO. 3 O registo foi efectuado como provisório por dúvidas com base nos motivos que a seguir se transcrevem:

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Academic year: 2021

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P.º n.º R.P. 175/2010 SJC-CT Partilha extrajudicial. Composição do património comum do dissolvido casal – activo e passivo. Assunção das dívidas comuns pela adjudicatária sem liquidação do património comum.

DELIBERAÇÃO

1 – Em ... de … de … foi pedido na Conservatória do Registo Predial de ... o registo de aquisição da fracção autónoma descrita sob o n.º …, da freguesia de …, concelho de …, a favor da ..., com base numa escritura de partilha por divórcio outorgada por esta e pelo ex-marido … no Cartório Notarial do ora recorrente.

2 – Da referida escritura consta que o património comum do dissolvido casal é composto por uma fracção autónoma – a supra identificada –, à qual atribuem o valor de 84 000 euros, sendo a meação de cada um dos cônjuges de 42 000 euros. A fracção autónoma em causa é adjudicada à … que pagou ao ex-marido a quantia de 42 000 euros, a título de tornas.

Sobre a referida fracção incidem dois registos de hipoteca voluntária a favor d …, resultantes de dois empréstimos contraídos pelo dissolvido casal, assumindo agora a adjudicatária a total responsabilidade pelo pagamento dos referidos empréstimos.

Por fim, consta ainda a advertência de que a assunção da dívida em causa só exonera o ex-cônjuge marido após declaração expressa do credor, por força do disposto no n.º 2 do artigo 595.º do Código Civil.

3 – O registo foi efectuado como provisório por dúvidas com base nos motivos que a seguir se transcrevem:

«O prédio em apreço encontra-se onerado com duas hipotecas cujo montante em dívida importa apurar para efeitos de partilha dos bens do casal, pois cada um dos cônjuges participa por metade no activo e no passivo tendo reflexos nos cálculos das tornas. Artigos 68.º do Cód. do Registo Predial e 1730.º do Código Civil».

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apenas quiseram partilhar o património activo do casal e fizeram-no de forma correcta, tendo o registo sido pedido em conformidade.

O despacho que procedeu à qualificação do registo de aquisição como provisório por dúvidas atenta contra o princípio da liberdade contratual consagrado no artigo 405.º do Código Civil, devendo, por isso, o registo em causa ser convertido em definitivo.

5 – A Senhora Conservadora profere despacho de sustentação nos termos e com os fundamentos que aqui damos, de igual modo, por reproduzido, sem prejuízo de salientarmos, sumariamente, o seguinte:

5.1 – Resulta do n.º 1 do artigo 1730.º do Código Civil que os cônjuges participam por metade no activo e no passivo de comunhão, sendo nula qualquer estipulação em sentido diverso, pelo que não é pelo facto de a ... declarar que assume total responsabilidade pelo pagamento dos empréstimos que torna desnecessária a realização das contas da partilha nas quais se inclui não só o activo como também o passivo.

5.2 – Não se põe em causa a possibilidade de se efectuar uma partilha parcial do património conjugal mas, além de não ser isso o que resulta do teor da escritura, sendo partilhado um bem hipotecado o passivo tem de ser considerado nos cálculos efectuados e abatido o valor apurado ao do respectivo bem.

6 – Descrita sumariamente a factualidade dos autos e a controvérsia que opõe recorrente e recorrida, e observando-se que o processo é o próprio, as partes têm legitimidade, o recurso foi interposto tempestivamente, e inexistem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do seu mérito cumpre sobre ele tomar posição, o que se faz adoptando a seguinte

Deliberação

I – Decorre do disposto no artigo 1688.º do Código Civil que as relações pessoais e patrimoniais entre os cônjuges findam pela

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dissolução, declaração de nulidade ou anulação do casamento, salvo no que respeita a alimentos1.

II – Cessando as relações patrimoniais entre os cônjuges na sequência de divórcio é efectuada a partilha dos bens, recebendo cada um os seus bens próprios e a sua meação no património comum, nos termos prescritos no artigo 1689.º do Código Civil2.

1 Findas as relações pessoais e patrimoniais entre os cônjuges, extinguem-se,

naturalmente, os inerentes deveres pessoais e patrimoniais, com excepção do direito a alimentos nos casos devidos – cfr. o disposto nos artigos 2003.º e segs. do Código Civil.

2 Como claramente decorre do disposto no artigo 1688.º do Código Civil, as relações

pessoais e patrimoniais entre os cônjuges cessam, designadamente, por dissolução do casamento. Ora, cessando as relações patrimoniais entre os cônjuges, procede-se à partilha dos bens do casal nos termos prescritos no artigo 1689.º do Código Civil.

Salvo nos casos em que se deva ter em consideração as excepções previstas nos artigos 1719.º e 1790.º do Código Civil, a partilha faz-se de harmonia com o regime de bens adoptado.

Assim, cada cônjuge receberá na partilha subsequente a divórcio os seus bens próprios e a sua meação no património comum, conferindo previamente o que por cada um deles for devido a esse património.

Contudo, havendo dívidas a solver, manda o n.º 2 do citado preceito que, em primeiro lugar, sejam pagas as dívidas comunicáveis à custa do património de afectação especial, que é a massa dos bens comuns, e só depois as restantes – Veja-se, o que CRISTINA M.ARAÚJO DIAS, «Das compensações pelo pagamento de dívidas do casal (O caso especial da sua actualização)», in Comemorações dos 35 anos do Código Civil e dos 25 anos de Reforma de 1977, pág. 319 e segs., escreve sobre o ponto.

Decorre da aludida norma que os credores comuns se encontram sempre em posição mais vantajosa que a dos demais, além de beneficiarem da solidariedade legal estabelecida no n.º 1 do artigo 1695.º do mesmo Código.

É pacífico o entendimento de que na partilha devem ser observadas três operações básicas e de acordo com a ordem cronológica seguinte: 1) a separação de bens próprios – como operação ideal preliminar; 2) a liquidação do património comum – destinada a apurar o activo comum líquido, através do cálculo das compensações e da contabilização das

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III – Atento o princípio da liberdade contratual das partes consagrado no artigo 405.º do Código Civil, estas podem conformar os negócios jurídicos em que intervenham nos termos que lhes aprouver desde que não violem as disposições legais que não podem, por definição, ser afastadas pela sua simples vontade, isto é, as normas imperativas3.

Neste sentido, ANTUNES VARELA e PIRES DE LIMA, in Código Civil Anotado, Volume IV, 1992, pág. 322 e segs., salientam que na partilha devem, em primeiro lugar, ser entregues a cada um dos ex-cônjuges os seus bens próprios, depois cada um deles há-de conferir ao património comum o que lhe dever e, por fim, proceder-se-á à divisão da massa dos bens comuns, entregando a cada um dos seus titulares a respectiva meação.

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O artigo 405.º do Código Civil, ao consagrar a liberdade contratual das partes, ressalva, como não podia deixar de ser, «os limites da lei», o que quer dizer que esta delicada questão se prende também com os limites da autonomia privada e, mais precisamente, os da liberdade contratual. No que respeita aos princípios fundamentais do regime dos contratos, veja-se, entre outros, ALMEIDA COSTA, in Direito das Obrigações, 1979, pág. 183 e segs.

Consequentemente, a validade do aludido princípio tem como limite as normas imperativas que, como é sabido, não podem, por definição, ser afastadas pela simples vontade das partes.

Uma dessas normas cogentes encontra-se consagrada no artigo 1730.º do Código Civil inserto no Capítulo IX – «Efeitos do casamento quanto às pessoas e aos bens dos cônjuges», Subsecção II – «Regime da comunhão de adquiridos», prescrevendo no seu n.º 1 que os cônjuges participam por metade no activo e no passivo da comunhão, sendo nula qualquer estipulação em sentido diverso.

O regime da comunhão de adquiridos, embora supletivo, constitui o regime paradigmático dos regimes de comunhão, aplicando-se, por simples remissão, aos aspectos da comunhão geral que não se encontrem especificamente regulados. Consequentemente, as disposições relativas à comunhão são, ex vi do disposto no artigo 1734.º, também aplicáveis, com as necessárias adaptações, ao regime da comunhão geral.

Assim, por força da referida remissão, considera-se aplicável ao regime da comunhão geral, inter alia, a disposição plasmada no artigo 1730.º do Código Civil, que fixa em termos imperativos a participação do cônjuge por metade no património comum, que engloba o activo e o passivo. Este preceito visa fixar a quota a que cada um dos cônjuges terá, forçosamente, direito no momento da dissolução e partilha do património comum – cfr., em conformidade, ANTUNES VARELA e PIRES DE LIMA, in Código Civil Anotado, Volume IV,

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IV – Assim, em face da escritura apresentada para titular o pedido, o registo de aquisição deve ser efectuado em termos definitivos visto que a nulidade (se de nulidade se pudesse falar) da partilha não é, de modo algum, manifesta4.

pág. 437, e, ainda, ANTUNES VARELA,in Direito de Família, 1987, pág. 433, e ABÍLIO NETO, in Código Civil Anotado, 1990, pág. 1267.

No entanto, a aludida norma não nos parece aplicável ao caso configurado nos autos uma vez que não é manifesta a nulidade das disposições negociais dos interessados assistindo, assim, razão ao recorrente (que cumula também a veste de titulador), ao alegar que a escritura foi efectuada em conformidade com a vontade dos cônjuges, expressa dentro dos limites da lei, que apenas quiseram proceder a uma partilha parcial do património comum, nada havendo na lei que impeça a concretização de tal pretensão.

4 Da escritura de partilha subjacente ao questionado registo, bem com da situação

jurídica acolhida nas tábuas, ressalta que o prédio partilhado se encontra onerado com duas inscrições hipotecárias resultantes dos empréstimos concedidos pela entidade bancária aos dois cônjuges na vigência do casamento.

O montante máximo do capital e acessórios que figura em cada uma das inscrições hipotecárias é, respectivamente, de … € e de ... €, desconhecendo-se, porém, o valor exacto do montante da quantia em dívida naquele preciso momento.

A adjudicatária assumiu a responsabilidade pelo pagamento dos aludidos empréstimos, sem que conste da escritura que tenha sido aprovado o seu montante e deduzido o mesmo ao valor do imóvel partilhado, mas tal não equivale inexoravelmente a dizer que o mesmo não tenha sido devidamente considerado (bem como a existência de outras eventuais dívidas ou créditos) entre os outorgantes.

Por outro lado, também, a assunção do passivo e a transmissão da dívida só exonera o devedor se nisso convir expressamente o credor, como decorre do disposto no n.º 2 do artigo 595.º do Código Civil.

A propósito do pagamento dos direitos de terceiros a considerar no momento da liquidação da herança, o artigo 2100.º do Código Civil prescreve que os direitos de terceiros podem ser remíveis entrando os respectivos bens desonerados na partilha, mas, se tal não acontecer, o interessado que pagar a remição tem direito de regresso contra os demais. Neste sentido, veja-se o acórdão do TRL, de 20 de Setembro de 2007, disponível em www.itij.pt, segundo o qual a lei possibilita que os dois interessados, em partilha

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5 – Nos termos do que precede, o entendimento deste Conselho vai no sentido de que o presente recurso hierárquico merece provimento.

Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 28 de Abril de 2011.

Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora.

acordem em que a responsabilidade pelo respectivo pagamento seja atribuída a ambos, em igual proporção.

Também LOPES CARDOSO, in Partilhas Judiciais, II Volume, 1980, págs. 157 e segs., ensina, relativamente a dívidas hipotecárias e pignoratícias, que, se a remição da dívida não for efectuada, os bens entram na partilha com esse ónus, descontando-se neles o respectivo valor, e o interessado a quem forem atribuídos os bens suportará exclusivamente a satisfação do encargo.

Se tal desconto não for efectuado – a regra plasmada no n.º 1 do artigo 2100.º do Código Civil é considerada de carácter supletivo –, o interessado que pagar a remição tem direito de regresso contra os outros na proporção do seu quinhão – n.º 2 do mesmo preceito.

Sobre o ponto, veja-se, também, ANTUNES VARELA e PIRES DE LIMA, in Código Civil Anotado, Volume VI, pág. 163.

Relembramos, ainda, que já defendemos neste Conselho (proc.ºs R.P.214, 215 e 217/2009 SJC-CT, disponível na Intranet), muito embora a propósito de partilha hereditária, que o legislador coloca, em último termo, a defesa da posição dos herdeiros nas suas próprias mãos, não cabendo ao conservador «decretar» a nulidade, por pretensa violação das normas imperativas atinentes à regulamentação sucessória, salvo se a mesma for manifesta.

Ora, à luz dos elementos que o processo registal nos faculta, não vislumbramos na partilha em apreço sinal seguro de que atente contra a norma imperativa consagrada no n.º 1 do artigo 1730.º do Código Civil, invocada pela recorrida em defesa da sua tese, antes se devendo presumir que os direitos de cada um dos ex-cônjuges se encontram devidamente acautelados.

Consabidamente, apenas a manifesta nulidade do facto determina a recusa do acto de registo peticionado nos termos do disposto na alínea d) do n.º 1 do artigo 69.º do CRP, e essa não se encontra aqui patente.

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Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 10.05.2011.

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FICHA

Proc.º n.º R.P. 175/2010 SJC-CT – Súmula das questões abordadas

Partilha subsequente a divórcio – artigos 1688.º e 1689.º do Código Civil. Dívidas comuns – artigo 1695.º do Código Civil.

Liberdade contratual – artigos 405.º e 294.º, ambos do Código Civil.

Apenas a manifesta nulidade da partilha determina a recusa do registo – alínea d) do n.º 1 do artigo 69.º do CRP.

Referências

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