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A responsabilidade social e ética nas organizações: estudo de caso na indústria farmacêutica

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Academic year: 2021

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A R E S P O N S A B I L I D A D E S O C I A L E

É T I C A N A S O R G A N I Z A Ç Õ E S

E s tu d o d e C as o n a I n d ú s t ri a Fa r ma c ê u ti c a

S ó n ia C r is ti n a M a r q u es Go n çal v e s Ab r eu

L i s b o a , 1 6 d e D e z e m b r o d e 2 0 1 0

I N S T I T U T O P O L I T É C N I C O D E L I S B O A

I N S T I T U T O S U P E R I O R D E C O N T A B I L I D A D E

E A D M I N I S T R A Ç Ã O D E L I S B O A

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iii I N S T I T U T O P O L I T É C N I C O D E L I S B O A I N S T I T U T O S U P E R I O R D E C O N T A B I L I D A D E E A D M I N I S T R A Ç Ã O D E L I S B O A

A R E S P O N S A B I L I D A D E S O C I A L E

É T I C A N A S O R G A N I Z A Ç Õ E S

E s tu d o d e C as o n a I n d ú s t ri a Fa r ma c ê u ti c a

S ó n ia C r is ti n a M a r q u es Go n çal v e s Ab r eu

Dissertação submetida ao Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Contabilidade, realizada sob a orientação científica da Doutora Ana Maria da Silva Barbosa de Sotomayor, Professora Coordenadora da Área Científica de Organização e Gestão.

Constituição do Júri:

Presidente - Doutora Maria do Céu dos Reis Roseiro Pinto Almeida Arguente - Doutora Maria Manuela Rebelo Duarte

Vogal - Doutora Ana Maria da Silva Barbosa de Sotomayor

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iv

AGRADECIMENTOS:

 Doutora Ana Maria Sotomayor (orientadora da dissertação).

 Ao Pedro e Rodrigo (marido e filho), por todo o apoio e compreensão demonstrada em todos estes meses pela falta de atenção que não lhes pude dedicar.

 Ao Eduardo (irmão) por todo o apoio, ajuda e acima de tudo amizade.

 A todos os colegas desta turma do 1.º Mestrado em Contabilidade, pelo companheirismo e pelos bons momentos que passámos juntos, querendo agradecer especificamente a duas pessoas muito especiais à Susana Rodrigues e à Tânia Saraiva, por toda a amizade, apoio e entreajuda.

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v

RESUMO ANALÍTICO

Este trabalho visa fornecer uma visão clara e sucinta de aspectos inerentes aos diversos factores que compõem as temáticas da ética e responsabilidade social das empresas e o modo como os mesmos condicionam ou impulsionam o desempenho económico-financeiro das organizações.

Actualmente o papel da ética e da responsabilidade social nos negócios tem sido tema de significativos estudos e debates, quer nos meios académicos quer nos meios empresariais. No meio académico, com maior incidência para as duas últimas décadas, onde foram realizados inúmeros estudos sobre a influência de uma postura ética e sociavelmente responsável das empresas no comportamento dos seus diferentes stakeholders. Ao nível empresarial essa influência é mais antiga, como se poderá verificar no decorrer deste trabalho.

Para a execução deste trabalho, foi efectuada uma análise de diversos tipos de bibliografia, tais como livros, artigos, teses de mestrado e doutoramento e relatórios de sustentabilidade de empresas. Foi analisado todo o tipo de informação que, de um modo ou de outro, pudesse dar um contributo ao esclarecimento dos dois temas em estudo.

Para aferir da aplicabilidade deste tema teórico, foi realizado um inquérito numa empresa da indústria farmacêutica com o objectivo de determinar qual o seu comportamento em questões de ética e responsabilidade social e os resultados deste são aqui analisados em pormenor, numa análise descritiva do mesmo.

Palavras-Chave: Responsabilidade Social, Ética, Organizações, Stakeholders, Indústria

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vi

ABSTRACT

This paper aims to provide a clear and succinct aspects inherent to the various factors that make up the themes of ethics and corporate social responsibility and how these two factors constrain or boost the economic and the financial performance of the organizations.

Today the role of ethics and social responsibility in business has been a topic of significant study and debate, whether in academia or in business. In academia, with a higher incidence for the last two decades, which were conducted numerous studies on the influence of an ethical and sociable responsible business conduct in its various stakeholders. At the corporate level this influence is much older, as can be seen in this paper.

For the execution of this work was undertaken an analysis of various types of literature such as books, articles, masters theses and doctoral and sustainability reporting of companies. It was analyzed all types of information that, one way or another, could make a contribution to the clarification of two issues here under consideration.

To ascertain the applicability of this theoretical issue, a survey was conducted in a pharmaceutical company in order to determine what their behavior on issues of ethics and social responsibility and the results thereof are discussed in detail here, a descriptive analysis of the same.

Keywords: Social Responsibility, Ethics, Organizations, Stakeholders, Pharmaceutical

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ÍNDICE GERAL

INDÍCE DE FIGURAS ... viii

INDÍCE DE QUADROS ... ix

INDÍCE DE GRÁFICOS ... x

LISTA DE SIGLAS ... xii

1. INTRODUÇÃO ... 1

2. NOÇÃO DE MORAL, ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL ... 4

2.1 Abordagem Histórica ... 7

2.2 A Aplicabilidade da Responsabilidade Social nas Empresas ... 11

2.3 O Enquadramento Legal da RSE ... 23

2.4 A Gestão Ambiental em parceria com a RSE e a ética ... 28

3. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 36

3.2 Organizações de Regulamentação e Apoio ... 48

3.3 Normas ISO, definição e objectivo ... 50

4. ESTUDO EMPÍRICO ... 52

4.1 Metodologia ... 52

4.2 Análise estatística e tratamento de dados ... 53

4.3 Interpretação dos resultados ... 57

4.4 Considerações futuras ... 73

4.5 Conclusões ... 74

4.6 Limitações do estudo de caso ... 74

5. CONCLUSÕES ... 75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 79

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viii

INDÍCE DE FIGURAS

N.º Designação Página

I Modelo Piramidal Tridimensional de Carroll 12

II Triple Bottom Line (Teoria dos três P’s) 21

III Modelo de negócio proposto pelo WBSCD para cada um dos temas, Pobreza, Ambiente, População e Globalização

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ix

INDÍCE DE QUADROS

N.º Designação Página

I Função ocupada na empresa (actualmente) 55 II Quadro II – Práticas antiéticas praticadas na empresa 63 III H1: Relação entre o código de ética e as actividades que

representam o modo como a empresa se relaciona com a sociedade

65

IV H1: Relação da empresa com a sociedade 65 V Aplicação do Teste do Qui-Quadrado às variáveis em

estudo na H1: Código de ética e actividades desenvolvidas pela empresa na sociedade

66

VI H2: Relação entre o código de ética e as actividades ambientais que pratica

67

VII H2: Relação da empresa com o ambiente 67 VIII Aplicação do Teste do Qui-Quadrado às variáveis em

estudo na H2: Código de ética e actividades desenvolvidas pela empresa na área ambiental

68

IX H3: Resumo das respostas à questão 12 70 X H3: Relação entre a posição que o colaborador ocupa e as

práticas antiéticas da empresa

70

XI H3: Relação entre a posição que o colaborador ocupa e a identificação das práticas antiéticas da empresa

71

XII Aplicação do Teste do Qui-Quadrado às variáveis em estudo na H3: Relação entre a posição que o colaborador ocupa e a identificação das práticas antiéticas da empresa

(10)

x

INDÍCE DE GRÁFICOS

N.º Designação Página

I Género do inquirido 54

II Idade do inquirido 54

III Função ocupada na empresa (actualmente) 55

IV Estado Civil dos Inquiridos 56

V Rendimento Ilíquido Mensal dos Inquiridos 56 VI Modelo estratégico que integre simultaneamente ética e

lucro é uma necessidade do mundo empresarial actual

57

VII Existência de Código de Ética 58 VIII Comportamento da empresa perante a sociedade onde está

inserida

58

IX Desenvolve esforços na protecção do ambiente 59 X Métodos que lhe parecem mais adequados para

implementar e/ou aumentar os comportamentos éticos na sua empresa: ( 5 - mais importante; 1 - menos importante) – Elaboração de um Código de Ética Escrito

60

XI Métodos que lhe parecem mais adequados para

implementar e/ou aumentar os comportamentos éticos na sua empresa: ( 5 - mais importante; 1 - menos importante) – Criação de sanções para comportamentos não éticos

60

XII Métodos que lhe parecem mais adequados para

implementar e/ou aumentar os comportamentos éticos na sua empresa: ( 5 - mais importante; 1 - menos importante) – Incentivar a avaliação crítica do posicionamento ético dos superiores

61

XIII Métodos que lhe parecem mais adequados para

implementar e/ou aumentar os comportamentos éticos na sua empresa: ( 5 - mais importante; 1 - menos importante) –

(11)

xi Incentivar a transparência da estrutura interna e

comunicação com o mercado

XIV Métodos que lhe parecem mais adequados para

implementar e/ou aumentar os comportamentos éticos na sua empresa: ( 5 - mais importante; 1 - menos importante) – Reuniões profissionais periódicas para discussão de

questões éticas

62

XV Análise das Práticas Antiéticas praticadas pela empresa 63 XVI H3.1: Posição que o colaborador ocupa na empresa 69 XVII H3.2: Práticas antiéticas presentes na empresa 69

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xii

LISTA DE SIGLAS

APCER – Associação Portuguesa de Certificação APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial CE – Comissão Europeia

CEPAA – China Energy &. Environmental Policy Analysis Model CERES - Coalition for Environmentally Responsable Economies CRP – Constituição da República Portuguesa

CSR - Corporate Social Responsability CT – Código do Trabalho

EUA - Estados Unidos da América

GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial GRI – Global Reporting Iniciative

ICEP - Investimentos, Comércio e Turismo de Portugal IPQ – Instituto Português de Qualidade

ISCAL – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa ISO – International Organization for Standardization

MEA – Millennium Ecosystem Assessment MORI - Marketing & Opinion Research Institute NCP - National Contact Point

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONG – Organizações não governamentais ONU – Organização das Nações Unidas PME – Pequenas e Médias Empresas

RSE – Responsabilidade Social das Empresas RSO – Responsabilidade Social das Organizações SIDA – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida TI – Tecnologia e Informática

UE – União Europeia

UNICEF – United Nations International Children's Emergency Fund WBCSD - World Business Council for Sustainable Development

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1

1. INTRODUÇÃO

A tradição das questões sociais em Portugal remonta ao século XV, quando foram fundadas as Misericórdias, entidades muito ligadas à igreja católica. Durante o Estado novo, período de 1926 a 1974, o modelo corporativo favoreceu o domínio das principais empresas por um número restritivo de famílias, tendo florescido algumas iniciativas a favor dos empregados, consideradas socialmente avançadas para a época, embora em alguns casos tivessem um carácter paternalista. O equilíbrio que existiu nesta época foi quebrado temporariamente com a Revolução de 1974, com os fenómenos que daí derivaram como foi o caso das nacionalizações e da instalação de uma economia social. Mas rapidamente recomeçaram as preocupações sociais, pois os mercados nacional e internacional assim o exigiam, para tal houve necessidade de adoptar um comportamento que permitisse dar resposta às questões sociais e ambientais que surgiam em grande número e que denotavam que algo havia a mudar.

Em Portugal as questões ambientais não se fizeram sentir de forma muito intensa durante muitos anos, talvez pelo facto de o nível de industrialização não ser muito elevado; os níveis de poluição eram relativamente baixos, comparativamente com outros países europeus. Nos últimos anos, no entanto, houve mudanças substanciais e alguns indicadores ao nível da poluição atmosférica e das águas, construção selvagem e destruição do património ambiental levaram à introdução de legislação ambiental exigente, sobretudo impulsionada por pressões e financiamentos por parte da União Europeia (UE).

Este tema tinha vindo a ser tratado de modo informal por uma elevada percentagem de empresas incluindo as pequenas e médias empresas (PME’s) mas, em Março de 2000, com a Cimeira Europeia de Lisboa, as questões sociais e ambientais vieram emergir como uma disciplina autónoma de gestão.

Em Março de 2000, o Conselho Europeu aprovou a “Agenda de Lisboa 2010”, tratando-se esta de uma estratégia para a renovação económica, social e ambiental da UE. Com os objectivos aí traçados verificou-se que o conceito de responsabilidade social era

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2 ainda pouco conhecido da sociedade portuguesa (Pinto, 2004). Por esse motivo desde então surgiram em Portugal novas organizações dedicadas à responsabilidade social das empresas (RSE), o que provocou sem dúvida, um aumento significativo do interesse pelo tema. E este trabalho visa demonstrar na sua parte teórica essa evolução até à data, elucidando algumas questões ainda pouco conhecidas e evidenciar quais as tendências actuais.

Foi feita uma revisão da literatura sobre o tema onde foram focados aspectos como, a ética nos negócios e a evolução da aplicação da ética e da responsabilidade social nas organizações, salientando quais os meios existentes para a prossecução destes dois aspectos empresariais e sociais, assim como as entidades reguladoras existentes e o enquadramento legal que existe nestas áreas e a sua aplicabilidade. É dada ainda uma imagem da dimensão nacional e internacional da aplicabilidade da ética e da RSE.

Com toda esta análise efectuada verifica-se que existem diversas motivações para a aplicação na prática do conceito de RSE e que de facto ainda existe uma mentalidade a mudar, pois existem muitos gestores com valores contraditórios e que só avançam com esta vertente se os benefícios para a entidade forem evidentes.

Após todo este enquadramento, apresenta-se de seguida de forma sintética, o conteúdo deste trabalho que será desenvolvido nos capítulos seguintes. No capítulo 2, pretende-se elucidar os temas, moral, ética e RSE, dado que se tratam de conceitos facilmente confundíveis, assim como apresentar uma evolução histórica sobre os temas em análise, onde são demonstrados factos que ocorreram, que foram relevantes e que demonstram a evolução e o crescente interesse pelos temas, ética e RSE. Demonstram-se igualmente quais os meios existentes em Portugal que facilitam e controlam a aplicabilidade da ética e da RSE pelas organizações. Uma outra análise ainda efectuada neste capítulo refere-se ao enquadramento legal existente na área da RSE em Portugal. Uma outra vertente de RSE é a ambiental e neste capítulo é ilucidado o tema e o modo como este está a ser aplicado em Portugal. Sendo realizada uma análise sobre a gestão e o ambiente e o modo como ambas se relacionam entre si.

O capítulo 3, refere-se ao tema desenvolvimento sustentável, tema este intimamente relacionado com o desenvolvimento ambiental e que revela as preocupações existentes a

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3 nível mundial pelo tema ambiente versus organizações. No ponto 3.1 deste capítulo, pretende-se esclarecer o tema investimento socialmente responsável (ISR), dada a sua relação directa à ética e à responsabilidade social e a importância que tem no desenvolvimento das organizações. São ainda, reveladas as orientações da UE para um desenvolvimento sustentável empresarial. Dado que em Portugal já existem diversas organizações de regulamentação e apoio às empresas, no que diz respeito à área de RSE, logo um outro objectivo deste capítulo (no ponto 3.2) é dar a conhecer algumas delas e revelar quais os seus propósitos. Enunciam-se ainda as normas ISO (ponto 3.3) directamente relacionadas com esta área de estudo, explicando do que se tratam e os seus objectivos.

No capítulo 4, é elaborado um estudo empírico, com a análise de uma pequena empresa na área da indústria farmacêutica, com o intuito de verificar qual o comportamento desta em relação à ética e RSE.

Por fim, no capítulo 5, realizam-se as conclusões a este trabalho dando uma análise sucinta de todos os pontos desenvolvidos ao longo deste.

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4

2. NOÇÃO DE MORAL, ÉTICA E RESPONSABILIDADE

SOCIAL

Para melhor compreensão do tema deste trabalho, é importante definir e elucidar as noções de moral, ética e responsabilidade social, dada a confusão que muitas vezes ocorre sobre os respectivos conceitos. Segundo Cabral, (2000:76-78):

“Moral é o conjunto de normas de conduta, quer em geral, quer aquelas que são

reconhecidas por um determinado grupo humano”. “A realidade moral propriamente dita é o agir livre do homem, confrontando com a norma que o rege, por outras palavras, é a decisão livre perante o bem e o mal próprios do homem enquanto tal, enquanto racional e livre.”

A moral está intimamente ligada ao indivíduo em si, à sua forma de estar, aos seus hábitos, costumes e valores. É transmitida pela educação que se recebe no seio da família, amigos, professores e de todo o relacionamento que se tem ao longo da vida. Daí a confusão existente entre ética e moral.

Nunes (2004:22), considera que:

“A moral indica, assim, as grandes linhas gerais do comportamento do cidadão, reguladas pela sua consciência e pela tendência para a concretização dos objectivos individuais. A ética por seu turno, indica as razões filosóficas das decisões de acção, ou seja, é a ciência que estuda as regras de comportamento e a sua fundamentação.”

Quanto à ética, segundo Lama (2003:31): “o que determina se um acto é ético ou não, é o efeito que ele produz sobre a experiência ou a expectativa de felicidade que os outros têm.”

Outra definição é dada por Nunes (2004:18):

“O comportamento ético de uma empresa deve reportar-se à avaliação concreta da acção empreendida. Isto é, a caracterização de uma acção no mundo empresarial, tal como noutras circunstâncias, deve ter em conta: 1) a motivação e a intenção do agente com poder de decisão (sendo geralmente uma decisão do grupo e não individual) e 2) as consequências previsíveis a curto, médio e longo prazo.”

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5 A ética é hoje considerada e aceite como uma disciplina ou campo de conhecimento. Refere-se à teoria ou aos estudos sistemáticos sobre a prática moral. Dessa forma analisa e critica os fundamentos e princípios que orientam ou justificam determinados sistemas e conjuntos de valores morais. É, em outras palavras, a ciência da conduta, a teoria do comportamento moral dos homens em sociedade; não é mais do que a aplicabilidade dos conceitos morais e individuais a uma sociedade ou a uma entidade.

Segundo Donnelly et al (2000) a finalidade da ética ou de um código de ética é de preparar os indivíduos para a escolha entre comportamentos alternativos. A importância da ética aumenta na proporção das consequências dos resultados do comportamento adoptado. A ética de uma pessoa é tanto mais importante quanto das suas acções decorram consequências para os outros.

A ética nos negócios tem vindo a registar, em primeiro lugar, um interesse crescente entre os gestores e o público. Pelo facto de um grande número de escândalos relativos a actividades contrárias à ética envolvendo grandes empresas terem sido amplamente publicitados. O segundo factor a ter em conta é a tomada de consciência de que a má conduta ética por parte da gestão pode ter custos muito elevados para a empresa e para a sociedade no seu conjunto. Por fim, tanto os gestores como o público compreenderam que a dinâmica da ética nas decisões a tomar pela gestão é muitas vezes um fenómeno complexo e estimulante. Determinar o que é ou não ético é por vezes muito difícil, mesmo que se trate de uma tarefa simples. Sabe-se, por exemplo, que aceitar um suborno de um fornecedor é claramente contrário à ética, assim como falsificar registos ou utilizar publicidade enganosa na promoção de um produto. Contudo a ética nos negócios é, muitas vezes, mais complexa. Todos os dias os gestores enfrentam questões éticas cujas respostas não são fáceis. Como, por exemplo, o que é “um lucro justo?”, “qual é o preço “certo” para um produto?”, “até que ponto uma empresa deve ser honesta para com os seus clientes?”.

Precisamente porque a ética em situações de negócio é frequentemente complexa, os pontos de vista dos gestores acerca das acções éticas divergem muitas vezes. As questões éticas vêm sendo debatidas no mundo dos negócios como, por exemplo, em situações que os gestores estão a debater quanto à ética da vigilância dos empregados, pois existem gestores que estão a querer fiscalizá-los ao nível da utilização dos

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6 computadores e telefones para medir a sua produtividade e noutros casos estão mesmo a fazer o teste de despistagem de drogas e SIDA (Gonçalves, 2007).

Devido a essa complexidade e porque os gestores frequentemente discordam daquilo que constitui uma decisão ética, duas questões assumem particular relevância: as bases que o gestor pode utilizar para determinar qual a alternativa possível numa situação de tomada de decisão; e o que as organizações podem fazer para assegurar que os gestores se regem por padrões éticos nas suas tomadas de decisão. A determinação dos benefícios e dos beneficiários raramente é uma tarefa simples. No entanto, seria uma vantagem para os gestores na tomada de decisão ética, ao tentar agir correctamente, possuírem uma base orientadora para o fazer. Hoje em dia e dadas as crescentes preocupações com a ética das organizações, um número cada vez maior de empresas está a tentar fornecer esta orientação aos seus gestores. No centro dos esforços de muitas empresas está o desenvolvimento de um código de ética, frequentemente também designado por código de conduta. É habitualmente estabelecido pelos gestores de topo, consistindo numa declaração escrita de valores, crenças e normas de comportamento ético da empresa e tem como finalidade a orientação dos colabores da organização no âmbito da execução das suas tarefas.

E, por fim, o último conceito aqui em análise, a responsabilidade social, que não é um conceito recente, mas está na ordem do dia, não como mais uma tendência passageira, mas sim como uma exigência de cidadania.

Segundo o Livro Verde da UE (2001:4): “a responsabilidade social das empresas é, essencialmente, um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo.”

A RSE é um conceito a promover. As empresas devem assumir, em todas as suas acções, comportamentos socialmente responsáveis, não pondo em risco o desenvolvimento sustentado, os direitos do Homem, nomeadamente o trabalho, o ambiente e os recursos naturais, reconhecendo a responsabilidade que lhes cabe nesse mesmo desenvolvimento, na qualidade de vida dos seus colaboradores e das comunidades em que se inserem. Respondendo aos apelos e à consciencialização da comunidade internacional ao nível mundial, a RSE tem vindo a tornar-se, também em

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7 Portugal, um movimento voluntário de empresários e de outros actores: parceiros sociais, cidadãos, Organizações não Governamentais (ONG’s) e organizações de administração central e local, todos eles solidários em compromissos de mudança sustentável, partilhando uma vontade comum focada no desenvolvimento das pessoas, para um mundo melhor e mais solidário. O desenvolvimento de melhores práticas de responsabilidade social deverá ter tradução na melhoria das condições de trabalho, nomeadamente de saúde, segurança e bem-estar, não apenas pelo simples cumprimento da lei, mas por acções voluntárias de criação de ambientes mais saudáveis e gratificantes para quem neles trabalha e que, deste modo, possam ser potenciadores de desenvolvimento profissional e pessoal.

Boas condições de trabalho pressupõem custos. Porém as más condições de trabalho, incluindo o mau clima de trabalho, têm consequências muito graves ao nível pessoal e também ao nível económico. A empresa socialmente responsável deve reflectir o seu posicionamento no seu funcionamento global, nas dimensões interna e externa à empresa, na promoção dos direitos, interesses e expectativas dos trabalhadores, na gestão dos processos de mudança/inovação, protecção dos recursos naturais e ambientais, na interacção com a comunidade, contribuindo para o seu desenvolvimento económico e social e para o combate à exclusão social (GRACE, 2004). A RSE interna exige, pois, uma filosofia de gestão integrada e centrada na pessoa, promovendo a saúde e segurança no trabalho, sabendo que os colaboradores são o recurso estratégico por excelência e que o ambiente da empresa se reflecte na qualidade do seu desempenho e na credibilidade externa, com reflexos na fidelidade dos clientes.

2.1 Abordagem Histórica

Para um melhor entendimento do tema é efectuada uma breve análise histórica, com alguns acontecimentos marcantes desde o momento respeitante ao seu aparecimento e a sua consequente evolução ao longo do último século, sendo enunciados factos relevantes ao nível nacional e internacional.

O período aqui em análise situa-se entre 1820 e 2010. Foi realizada uma divulgação de diversos factos com base no estudo de vários autores, como Karkotli e Aragão (2004),

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8 Freeman (1984), Guimarães (2005), Monteiro (2004) e ainda informações divulgadas pelas diferentes entidades aqui referidas.

Em 1828, o grupo Bureau Veritas, importante grupo francês em áreas como a gestão de qualidade, higiene, saúde, segurança ocupacionais e meio ambiente, salientou-se com uma experiência largamente reconhecida no campo de apoio aos seus clientes.

Foi em 1899 que surgiu a primeira grande abordagem ao tema responsabilidade social ao nível das grandes empresas americanas. Foi nesta data que, por exemplo, a Republic Iron and Steel Company aderiu a práticas de responsabilidade social através de acções de caridade e de custódia. O princípio da caridade consistia no facto de que os mais abastados tinham de contribuir financeiramente para os menos favorecidos, tais como os idosos, os desempregados e os inválidos. Por outro lado, o princípio da custódia tinha como pressupostos que as empresas e os particulares ricos tinham a obrigação moral de multiplicar essa riqueza pela sociedade.

Em 1919/20, Henry Ford destacava-se no mundo empresarial por defender que as empresas deviam participar no bem-estar colectivo e, como tal, levou a cabo acções de mecenato e de apoio social. A sua dedicação a este tema foi tal que, em 1920, dois accionistas da empresa interpuseram uma acção em tribunal no sentido de que Henry Ford fosse condenado pelo abuso dos seus poderes de presidente e de accionista maioritário, pois havia tomado decisões contrárias aos interesses dos restantes accionistas.

É na década de 50 do século passado, após todos os reflexos que se haviam feito sentir com a grande depressão que surgiu com o crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929 e após a Guerra do Vietname, que o conceito de responsabilidade social voltou a emergir, pois a sociedade americana repudiou a produção de armamentos bélicos, dado que estes eram prejudiciais ao Homem e ao ambiente. Surgiram movimentos populares que se manifestaram relativamente a questões éticas e de RSE. Emergiu no início dos anos 50 a problemática relativa às relações entre ética, empresas e sociedade, pois os Estados Unidos da América (EUA) ocupavam já na sociedade mundial uma posição capitalista de relevo, o que gerava no mercado empresarial grandes conflitos entre empresas e sociedade, questão que viria a ser o foco de estudo na disciplina da ética empresarial.

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9 Como resposta a todos estes factores existiu a necessidade das empresas melhorarem a sua imagem e foi na década de 50 que tais repercussões se começaram a fazer sentir. Foi nesta década que se julga terem aparecido os primeiros estudos nesta área, com trabalhos como o de Bowen (1953).

Entre 1970 e 1985 surgiram a nível mundial fenómenos sociais, tais como a luta entre a igualdade de direitos entre os homens e as mulheres, assim como entre raças. Surgiram novos valores e atitudes, tais como a análise do comportamento das empresas com o meio ambiente. Em França deu-se o aparecimento de vários relatórios, sendo o de maior relevo o Balanço Social, obrigatório (à data) para empresas com mais de 750 trabalhadores. Nesta época ocorreu uma extraordinária mobilização cívica e revolucionária, tal como um extraordinário desenvolvimento científico e tecnológico. Tratou-se de uma época de grandes mudanças, o exterior à empresa passou a ter maior importância e um significativo peso no seu desenvolvimento, inúmeros movimentos da sociedade civil passaram a exercer pressão sobre as empresas em questões relacionadas com a poluição, consumo, emprego, discriminações raciais e de género ou até mesmo respeitante à natureza do produto produzido.

No início dos anos 80 e ao longo da década de 90 do século passado, consolida-se definitivamente a ideia de que a empresa e a sociedade são uma só rede de interesses e que não podem subsistir em separado. Surge nesta época a teoria dos stakeholders (todas as entidades que se relacionam com a empresa, têm um papel muito importante no desempenho da mesma). A problemática ambiental é tema de diversas conferências internacionais e surge o conceito do desenvolvimento sustentável, que pretende conciliar o desenvolvimento económico com a protecção do ambiente.

No que concerne ao nosso país, a realização do primeiro congresso de ética empresarial data de 1996 e resultou de uma organização conjunta da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, da Fundação Gomes Teixeira e da Associação Portuguesa de Management. Desde essa data até ao momento actual, a noção de ética empresarial tem evoluído significativamente, sendo hoje universalmente aceite. Qualquer organização para ter sucesso não só tem de mobilizar empenho, criatividade, energia e motivação de todos os seus membros, como também tem de o fazer com carácter, ética e responsabilidade social.

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10 Em 2000 foi criada em Portugal por um grupo de empresas maioritariamente multinacionais, uma entidade denominada por Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial (GRACE), cujo objectivo era o de aprofundar o desenvolvimento social em simultâneo com o desenvolvimento empresarial. Realizou-se em Portugal a Cimeira de Lisboa, apresentada pela UE, com o objectivo de apresentar um conjunto de medidas para diferentes áreas como a tecnológica, científica, económica e social no sentido do seu desenvolvimento e consequente combate à exclusão social.

Em 2001 foi publicado pela UE o Livro Verde sobre a responsabilidade social das empresas, com grande enfoque para a questão ambiental. Sendo salientado no mesmo, o carácter voluntário dos compromissos assumidos pelas organizações empresariais.

Em 2006, em Portugal, a Associação Portuguesa de Ética Empresarial (APEE) organizou pela primeira vez a semana da responsabilidade social, tratando-se de um encontro realizado entre os diferentes stakeholders com o objectivo de discussão de temas inerentes a esta temática e respectiva troca de conhecimentos. Encontrava-se igualmente em discussão a norma internacional de responsabilidade social - ISO 26000, sendo esta aprovada no final de 2010.

Entre muitos outros eventos que ocorreram em 2009, destacam-se as comemorações do “250º Aniversário da Aula do Comércio” no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (ISCAL), semana onde se realizaram conferências sobre diferentes temas salientando, por exemplo, “Ética, Responsabilidade Social das Organizações e Competências nos Negócios” proferida pelo Doutor Jorge Rodrigues ou "Da Responsabilidade Social das Organizações (RSO) à Gestão pela Cultura Ética" proferida pela Doutora Fátima Jorge. Um acontecimento relevante ocorrido em Abril de 2010 foi a convenção anual da rede nacional de responsabilidade social, com o propósito de promover a responsabilidade social em Portugal, na qual se propôs fazer um balanço da actividade do ano transacto, assim como uma reflexão sobre o contributo da rede para a estratégia europeia 2020 e a apresentação do plano de actividades para 2010. Realizou-se, igualmente em 2010, a 5.ª Semana da Responsabilidade Social da APEE. Todos estes factos aqui referidos são alguns dos muitos que ocorreram no último século relacionados com este tema, a nível nacional e mundial e que pela sua

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11 importância conduziram ao desenvolvimento das temáticas da ética e RSE, de grande relevância nos dias de hoje.

2.2 A Aplicabilidade da Responsabilidade Social nas Empresas

A responsabilidade social das empresas é a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais nas suas operações e na sua interacção com todas as partes interessadas. Assim, as empresas contribuem para a satisfação das necessidades dos seus clientes, gerindo simultaneamente as expectativas dos trabalhadores, dos fornecedores e da comunidade local. Florencio et al (2009) consideram que se trata de contribuir, de forma positiva, para a sociedade e de gerir os impactos ambientais da empresa, o que poderá proporcionar vantagens directas para o negócio e assegurar a competitividade a longo prazo. Segundo Mogollón e Romero (2004) as empresas devem considerar a responsabilidade social um investimento, através do qual podem adoptar uma abordagem correcta do ponto de vista financeiro, comercial e social, conducente a uma estratégia a longo prazo que minimize os riscos decorrentes de incógnitas. A motivação dos trabalhadores e o seu consequente aumento de produtividade podem ser alcançados adoptando medidas, como:

- a formação (onde recentemente surgiu o e-learning);

- a igualdade em termos de remuneração e de perspectivas de carreira para ambos os sexos; para tal terá de existir transparência na avaliação de desempenho, assim como incentivos e reconhecimento;

- uma preocupação relativamente à empregabilidade e à segurança dos postos de trabalho, apoio ao nível dos serviços sociais, como cuidados de saúde, centros de cultura, desporto e ocupação de tempos livres, medicina no trabalho e prevenção da exclusão e isolamento social após a reforma, são tudo acções que as empresas podem praticar com o objectivo de melhorar a vida dos seus colaboradores.

Uma redução na exploração dos recursos, nas emissões poluentes ou na produção de resíduos, pode contribuir, entre outros aspectos, para a redução das despesas energéticas, para a eliminação de resíduos e para a redução dos custos de matéria-prima e despoluição.

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12 Para que uma empresa se consolide à frente de outras empresas suas concorrentes deve publicar as suas acções socio-ambientais, comunicando a sua política de RSE, sendo que com este factor pode melhorar a reputação da empresa, o que gera maior valorização para os clientes, o que leva por sua vez a uma maior vantagem competitiva (Godfrey et al., 2009).

Já em 1979 e posteriormente em 1991, Carroll defendia a aplicabilidade de um modelo tridimencional de responsabilidade social corporativa, onde eram defendidas as diferentes categorias em que se pode manifestar um comportamento socialmente responsável numa empresa. Essas responsabilidades eram de quatro tipos: económicas, legais, éticas e discricionárias. Com este modelo piramidal tridimensional pretendia-se dar aos profissionais um modo de entendimento e aplicabilidade do conceito de responsabilidade social no seu negócio.

Figura I – Modelo Piramidal Trimensional de Carroll

Fonte: Adaptação de Carroll (1979, 1991)

Segundo Carroll (1991) existe um primeiro estádio, o obrigatório, que indica as responsabilidades que afectam directamente a organização; o segundo nível corresponde a questões que lhe são exigíveis; e o terceiro e último nível é a actuação, a realização de acções sociais que se consideram desejáveis. Em suma, ter um espírito empresarial

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13 responsável significa saber gerir uma empresa de um modo a reforçar o seu contributo positivo para a sociedade e ao mesmo tempo minimizar o impacto negativo sobre as populações e o ambiente. Este espírito traduz-se na forma como os empresários interagem quotidianamente com as várias partes interessadas, clientes e parceiros comerciais no mercado, trabalhadores no local de trabalho, comunidade local e ambiente.

Os empresários responsáveis:

- tratam os clientes, os parceiros comerciais e os concorrentes em equidade e honestidade;

- preocupam-se com a saúde, a segurança e o bem-estar geral de trabalhadores e consumidores;

- motivam os seus trabalhadores, proporcionando-lhes formação e oportunidades de desenvolvimento;

- agem como “bons cidadãos” na comunidade local; e - respeitam os recursos naturais e o ambiente.

Segundo Santos et al. (2006), embora promovida habitualmente por grandes empresas ou multinacionais, a RSE deverá fazer parte da estratégia de qualquer empresa e de qualquer sector de actividade, incluindo as PME’s. É importante salientar que o que se entende por RSE não se limita ao que é exigido por lei relativamente às condições de trabalho e protecção do ambiente, devendo ir para além disso e abranger acções voluntárias que contribuam para o desenvolvimento da sociedade através da educação, cultura e melhoria das condições de vida.

Uma empresa socialmente responsável respeita os direitos dos seus trabalhadores, não recorre à exploração de mão-de-obra infantil, não exerce práticas discriminatórias e no caso de recorrer a mão-de-obra localizada noutros países, nomeadamente, de países em desenvolvimento, tem preocupação pelas condições de vida destes trabalhadores. O conceito de comércio justo consiste precisamente em proporcionar aos produtores de países em desenvolvimento, um rendimento justo pelo seu trabalho e condições para o seu desenvolvimento.

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14 Santos et al. (2006) salientam que, uma empresa socialmente responsável tem um papel importante no desenvolvimento das comunidades locais e pode fazê-lo através de patrocínios, doações, mecenato e voluntariado em áreas como a educação, cultura e desporto, por exemplo. O número de actividades que se pode desenvolver é enorme e a nível nacional existem exemplos de empresas a apoiar a construção de escolas e hospitais, fornecimento de material para escolas, conservação de edifícios ou monumentos. Há casos de empresas em que os empregados participam voluntariamente em acções de educação e apoio a pessoas idosas ou doentes, durante o horário de trabalho.

A ideia que vigorou durante muitos anos era a de que a gestão limitar-se-ia a assumir o mínimo de responsabilidades para com os empregados, repeitando apenas as obrigações legais relativas à relação empresa – colaborador. Estas leis abordavam questões relativas a condições físicas de trabalho (particularmente, as questões de segurança e saúde), fixação de salários e tempos de trabalho, sindicatos e sindicalização. Com estas leis o objectivo era o de induzir a gestão a criar locais de trabalho seguros e produtivos, nos quais os direitos cívicos básicos eram respeitados. Mas modernamente esta visão foi alterada e para além destas responsabilidades, as empresas passaram a dar aos seus colaboradores benefícios suplementares, como fundos de reforma e seguros de saúde. Cada vez mais empresas estão a aperceber-se de que os empregados enfrentam grandes dificuldades em conjugar as responsabilidades profissionais e familiares. O crescente número de casais com um filho, em que ambos trabalham e a maior esperança de vida dos idosos, implicam cada vez mais que os empregados necessitem de apoio para cuidar dos seus filhos e familiares idosos.

As empresas estão a responder a estas questões de diversas formas; um dos instrumentos que estão a utilizar é o horário flexível. Este envolve diversas combinações flexíveis, incluindo horas extraordinárias, trabalho repartido, licenças por ausência e trabalho em casa. Do ponto de vista das empresas, permitir aos empregados trabalhar menos ou com maior flexibilidade de horário laboral, constitui uma excelente forma de atrair e manter pessoas de alto nível.

Segundo Donnelly et al. (2000), um número crescente de empresas apoia de alguma forma a assistência a crianças e idosos. Por exemplo a IBM depois de se ter apercebido

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15 que 30% dos seus colaboradores tinham a cargo familiares idosos, criou, em 1987, para os empregados o primeiro serviço de assistência a idosos de âmbito nacional; o que se verificou foi que logo no primeiro mês de funcionamento cerca de 4.000 empregados e de 33.000 reformados da IBM recorreram a esse serviço.

Os esforços desenvolvidos têm uma natureza reactiva, pois constituem uma resposta a pressões de empregados ou mesmo de entidades externas. As empresas são socialmente sensíveis, se iniciam pró-activamente estas actividades na ausência de qualquer pressão. No entanto, este tipo de acções desenvolvidas no interesse dos seus empregados também beneficia a organização, pois as empresas que criaram, por exemplo, centros de dia, registaram melhorias substanciais na assiduidade e na produtividade dos empregados envolvidos.

Existem, ainda, outras acções tendo em vista o relacionamento, as regalias e a satisfação dos empregados face ao trabalho que podem incluir a concessão de regalias visando necessidades muito significativas dos seus colaboradores como, por exemplo, a criação de creches nas suas instalações. Na área do emprego e apoio às minorias e às mulheres, o negócio pode ser socialmente responsável orientando-se para a contratação de minorias e incentivando o seu desenvolvimento profissional. Medidas no sentido de proporcionar um ambiente de trabalho limpo, seguro e confortável são actividades socialmente responsáveis no domínio da segurança e saúde dos empregados. Existe ainda outra área onde as empresas são socialmente responsáveis, situação que ocorre quando são efectuados donativos a universidades, a fundações artísticas e culturais, aos hospitais e instituições humanitárias.

As empresas têm desenvolvido igualmente esforços para resolver ou prevenir problemas ambientais ou ecológicos, tais como a poluição da água, do ar e sonora, ou a destruição de lixo e resíduos radioactivos. As acções desenvolvidas por várias empresas são exemplos de actividades nesta área. Um desses exemplos foi o caso da empresa japonesa Hitachi Corporation1 que foi pioneira na tecnologia da remoção de óxidos de azoto de centrais geradoras encerradas, tendo também lançado sistemas de remoção de enxofre e de recuperação de calor, que comercializa em todo o mundo. A Scannia em

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16 2007 apresentou o autocarro do futuro, um autocarro urbano híbrido a etanol com piso rebaixado de tamanho completo que reduz as emissões fósseis de dióxido de carbono em 90 por cento se alimentado a etanol.2 A Hewlett-Packard Company produziu equipamento de análise para identificar os químicos tóxicos existentes em amostras de lixo3. O que se verificou nos últimos anos é que a nível mundial as empresas estão a desenvolver uma abordagem mais pro-activa na gestão e acompanhamento das suas operações ambientais.

Especificando um pouco a situação das PME’s de acordo com Santos et al. (2006), estas são essenciais para alcançar o objectivo estratégico definido em Lisboa para a UE no horizonte de 2010, assente em três pilares de desenvolvimento sustentável: crescimento económico, coesão social e defesa do ambiente.

Entre outros benefícios de ordem comercial, podem referir-se uma maior satisfação e fidelização do cliente, colaboradores mais motivados, melhoria das relações com a comunidade local e as autoridades públicas, redução dos custos e melhor imagem. Para muitos proprietários e gestores, mais do que benefícios comerciais previsíveis, são os valores pessoais a força principal que os motiva para o empenhamento social, em especial no que se refere às actividades em prol da comunidade local. Apesar de essas actividades serem muitas vezes realizadas pontualmente e não estarem associadas a uma estratégia comercial, elas demonstram o carácter verdadeiramente “voluntário” do empenho das PME’s. Noutros domínios, como a saúde e a segurança ou o ambiente, a regulamentação ou a pressão da cadeia de produção desempenham um papel mais importante. As actividades de muitas PME’s, em especial no tocante ao envolvimento com a comunidade, são ainda na sua maioria espontâneas e sem ligação a uma estratégia comercial. Muitas empresas, porém, já admitiram que as actividades sociais relacionadas com a actividade principal da empresa têm mais possibilidades de serem bem sucedidas a longo prazo e de virem a trazer benefícios comerciais no futuro. Ao contrário das empresas de grandes dimensões, que têm departamentos especializados em RSE, numa pequena empresa é(são) muitas vezes a(s) mesma(s) pessoa(s) a tratar de todas as questões, em conjunto com as operações quotidianas e a sobrevivência da empresa.

2 Fonte: Sítio da Scania na internet. 3

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17 Assim, as PME’s devem ser encorajadas a adoptar uma abordagem de gestão mais integrada que inclua preocupações sociais e ambientais. Uma participação mais activa dos trabalhadores e da administração em actividades sociais como, por exemplo, através do voluntariado pode contribuir para reforçar as competências e o moral dos colaboradores, mais do que a entrega anual de um cheque pelo proprietário a uma obra de caridade.

Segundo Gonçalves (2007), no estudo “Atitudes dos Consumidores Europeus face à Responsabilidade Social das Empresas”, elaborado pela Marketing & Opinion Research Institute (MORI) e pela CSR Europe, apresentando em Novembro de 2000 e que abrangeu cerca de 12.000 pessoas e 12 países da UE, foram apresentadas as seguintes conclusões:

- 70% dos consumidores europeus afirmaram que o empenho das empresas para a sua responsabilidade social é importante aquando da decisão de adquirir um produto ou um serviço;

- 44% destes consumidores estão dispostos a pagar mais por um produto que seja social e ambientalmente responsável.

Sendo estas as principais conclusões relativamente ao público europeu, importa analisar mais atentamente o nosso país. A qualidade dos produtos, o serviço de apoio ao cliente, o empenho nas suas responsabilidades sociais, o respeito pelos direitos humanos e a existência de um ambiente de trabalho seguro e saudável, são em regra os factores considerados mais importantes pelos portugueses quando fazem um juízo de valores sobre uma empresa (Gonçalves, 2007).

Historicamente, algumas grandes empresas disponibilizam aos seus colaboradores serviços de natureza social, tais como cantinas, apoio para os estudos e mesmo creches e infantários. Também são frequentes os grupos desportivos e as associações de empregados apoiadas pelas empresas. Mas existem infelizmente factores de grande importância e que ainda não mudaram em Portugal, pois continua a ser o país da UE com a maior taxa de abandono escolar, apesar dos valores terem vindo a descer desde 1999. Em 2009 a taxa de abandono escolar precoce foi de 31,2%, representando uma descida de 4,2% em relação a 2008. Os dados do Eurostat (Centro Estatístico da UE),

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18 divulgados em Julho de 2010, indicam que Portugal tem a mesma taxa que a Espanha e somente Malta tem uma taxa superior (36,8%). A média de abandono escolar dos 27 países da UE situou-se nos 14,4%. O nível de escolaridade em Portugal é muito baixo, o abandono escolar tem ainda uma elevada taxa e, infelizmente, a formação ao longo da vida também apresenta índices preocupantes. Deste modo, toda esta conjugação de factores ajuda a explicar, em grande parte, o baixo nível de produtividade existente em Portugal, pois nesta área não há de facto um investimento real. No entanto, é sabido que Portugal é um dos países da Europa onde se trabalha até mais tarde, sobretudo os quadros e os trabalhadores por conta própria, sem que tal se traduza, necessariamente em acréscimo de produtividade. Muitos portugueses têm por hábito fazer pausas prolongadas ao longo do dia e mesmo trabalhando mais horas, estas acabam por ser insuficientes para compensar os tempos perdidos. Outra situação que também ocorre muito no nosso país é que algumas pessoas, sobretudo as que auferem menores rendimentos, mantêm situações de duplo emprego para ajudar a equilibrar o orçamento familiar.

Ao se analisar estas conclusões é de fácil entendimento a importância cada vez maior da RSE como factor determinante para a imagem das empresas. As empresas devem, então, repensar e redefinir as suas estratégias de aproximação a um mercado que é cada vez mais exigente relativamente ao papel das várias instituições. Para tal, é fundamental que as empresas, que desenvolvem boas práticas, partilhem as suas experiências com o intuito de aumentar o número de empresas com práticas socialmente responsáveis, contribuindo desta forma para uma sociedade mais justa. Quanto ao ambiente interno das empresas, Melo e Froes (2001) argumentam que as acções socialmente responsáveis das empresas aumentam a produtividade no trabalho, criam maior motivação, auto-estima e orgulho entre os funcionários.

Para Drucker (1984) e Porter e Kramer (2002) este enfoque pressupõe a integração dos aspectos sociais e económicos, uma vez que ajudam a melhorar a competitividade da empresa, preconizando as relações positivas entre a responsabilidade social e os resultados empresariais (Alén et al., 2006).

Segundo Donnelly et al. (2000) existem dois instrumentos de gestão socialmente responsável cujo objectivo é orientar as acções das organizações no sentido do cumprimento de acções éticas e de responsabilidade social. São eles:

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19 - Código de conduta – tende a designar as condutas e as práticas relacionadas com resultados e com virtudes como a pontualidade e o rigor; contempla linhas de orientação práticas que capacitam a implementação de uma conduta ética;

- Código de ética – é uma expressão mais associada a documentos focalizados em princípios como a justiça e o carácter; enuncia os valores filosóficos de uma organização.

Estes documentos podem ser muito úteis, pois vão ajudar as organizações a formalizar um conjunto de valores que poderão já estar ou não interiorizados na sua cultura ou ainda poderão ajudá-las a partilhar algumas linhas de orientação, não só com todos os colaboradores, mas também com outras partes interessadas, como fornecedores ou clientes. O código de ética/conduta está inserido num amplo processo ético que, para ser eficaz, deve conter várias fases primordiais, tais como, informar, explicar, aderir, agir e medir.

Em cada uma destas fases podemos encontrar actividades muito diferentes que podem ter como alvo, quer as pessoas individualmente, quer a organização como um todo. Por exemplo, na fase de informar está a criação do código ético/conduta, a inserção do mesmo no manual de acolhimento para novos colaboradores ou a divulgação propriamente dita, que poderá ser efectuada através de diversos processos de comunicação interna ou externa.

Na fase de explicar pode-se encontrar acções de sensibilização ou mesmo formação jurídica sobre o tema, enquanto que na fase de adesão pode-se ter, por exemplo, acções de formação ética. As fases de agir e medir são cruciais para manter o processo vivo, incorporando, por exemplo, no processo de recrutamento critérios éticos ou criando um sistema eficaz de sanções e prémios relativos a desempenho ético que deverá ser auditado e medido periodicamente. Verifica-se que são tão importantes quanto o conteúdo ou o processo de criação do código, as fases posteriores de implementação e monitorização do mesmo. Estas fases são muitas vezes “esquecidas” ou descuradas pelas organizações. É igualmente importante para que o documento se mantenha actual, que seja frequentemente revisto.

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20 Já existem também várias entidades cujo objectivo é orientar e fiscalizar as empresas em diferentes formas de RSE e ética. Uma delas é, por exemplo, a GRACE, que criou um guia denominado de “Primeiros Passos – Guia para a Responsabilidade Social das Empresas”. Este guia (disponível on-line em: www.grace.pt) pretende ser uma ferramenta para as “empresas que procuram formas de integrar a responsabilidade social na cultura das suas actividades”. De igual modo, “deve ser entendido como uma fonte de ideias e não como um recurso definitivo para a empresa que se considera socialmente responsável ou pretende evoluir nesse sentido.” Na sua simplicidade, este guia procura ser uma ferramenta inicial para ajudar as empresas a reflectirem quanto às suas práticas sociais, no seu papel enquanto cidadãs responsáveis e na adopção desses valores nas suas estratégias de gestão.

A RSE PORTUGAL trata-se de uma outra entidade portuguesa criada com o objectivo de promover a responsabilidade social das empresas, contribuindo para o desenvolvimento e competitividade sustentável através da concepção, execução e apoio a programas e projectos nas áreas educacional, formativa, social, cultural, científica, ambiental, cívica e económica, no âmbito nacional e internacional.

Segundo o Livro Verde para a Responsabilidade Social das Empresas (2001), publicado pela Comissão Europeia (CE), a RSE é a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais, por parte das empresas, nas suas operações e na sua interacção com as outras partes interessadas. Daqui salientamos as duas dimensões da RSE:

- interna – adopção de políticas de recrutamento não discriminatórias; acesso a formação; equilíbrio família/trabalho; higiene e segurança, entre outras;

- externa – cooperação com, por exemplo, a comunidade, responsabilidade ambiental e mecenato.

Incentivando as empresas a uma participação mais activa na sociedade, a RSE Portugal considera que as empresas devem assumir três tipos de preocupações que se designam mais comummente por “Triple Bottom Line”: preocupações financeiras (geração de riqueza), preocupações sociais (capital humano) e preocupações ambientais (redução dos impactos nocivos).

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Figura II – Triple Bottom Line (Teoria dos três P’s)

Fonte: Adaptado do Livro Verde 2001 e de McIntosh et al. (1998)

Em suma, as empresas podem ser socialmente responsáveis adoptando medidas como, por exemplo,

- informando o consumidor;

- reportando o impacto social da empresa; - trabalhando em parceria;

- investindo responsavelmente;

- integrando os desfavorecidos e marginalizados; e - atraindo e retendo os melhores talentos.

Outros instrumentos de implementação da RSE são a obtenção de certificações de qualidade e de adequação ambiental, como as normas ISO e a comunicação dos seus

Triple Botton Line (Teoria dos três P’s) Profit = Lucro Planet = Planeta People = Pessoas Geração de Riqueza Redução dos impactos nocivos Dar valor ao capital humano

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22 desempenhos ambientais através da realização de relatórios. Estes são indicadores claros dos avanços que têm sido conseguidos em alguns aspectos importantes da RSE.

Há no entanto, um amplo trabalho a desenvolver, que passa pela implicação, nesta temática, não só das empresas, mas de outros agentes sócio-económicos, parceiros sociais, institucionais e comunitários, autarquias e comunidade técnico-científica, aos quais não são alheias as responsabilidades sociais. Ao nível empresarial, os princípios e actuações de responsabilidade social passam por uma multiplicidade de acções tomadas pela empresa na gestão do seu negócio. O comportamento baseado em princípios éticos e na prioridade da qualidade nas relações são manifestações de RSE. É uma exigência cada vez mais presente a adopção de padrões de conduta ética que valorizem o ser humano, a sociedade e o meio ambiente. Relações de qualidade constroem-se a partir de valores e condutas capazes de satisfazer necessidades e interesses dos parceiros, gerando valor para todos. As empresas da sua rede social compartilham valores respeitantes à RSE, destacando-se a confiança, o compromisso, a igualdade, o respeito, a participação, a justiça e a sustentabilidade. Sendo a sustentabilidade o objectivo mais ambicioso de todo o processo de consulta entre todos os multistakeholder e constitui a referência da RSE (Archel e Husillo, 2009).

A empresa é socialmente responsável quando vai além da obrigação de respeitar as leis, de pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores e comporta-se desse modo por acreditar que assim estará a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. A prática da RSE revela-se também internamente, na constituição de um ambiente de trabalho saudável e propício à realização profissional das pessoas. A empresa, com isso, aumenta a sua capacidade de recrutar e manter quadros eficientes, factor chave para o seu sucesso numa época em que criatividade e inteligência são recursos cada vez mais valiosos. A prática da RSE passa também pela avaliação e monitorização do impacto durante todo o ciclo de vida do seu produto ou serviço. A competição torna vital a fidelização dos consumidores e clientes, que têm cada vez mais acesso à informação e à educação. A adopção de um comportamento ético que ultrapassa as exigências legais agrega valor à imagem da empresa, aumentando o vínculo que os seus consumidores e clientes estabelecem com ela.

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23 A empresa demonstra a sua RSE ao comprometer-se com programas sociais vocacionados para o futuro da comunidade e da sociedade. O investimento em processos produtivos comparáveis com a conservação ambiental e a preocupação com o uso racional dos recursos naturais são essenciais, por serem do interesse da empresa e da colectividade. É igualmente crucial que a empresa se rodeie de parceiros que partilhem os seus valores, sobre os quais pode exercer influência no sentido de orientar as suas performances de RSE.

2.3 O Enquadramento Legal da RSE

Actualmente ao nível dos encargos com a protecção social voluntária (Segurança Social), uma das obrigações legais das empresas é a contribuição para a Segurança Social de 23,25% da massa salarial, enquanto os trabalhadores contribuem com 11%. Os trabalhadores por conta própria têm ao seu dispor duas hipóteses de contribuição: pagam 25% ou 32%, estes últimos se pretenderem ter direito a subsídio de doença (normas a alterar a partir de 2011 com a entrada em vigor do Código Contributivo da Segurança Social).

Algumas empresas, sobretudo as grandes empresas, contribuem para fundos de pensões, quer para cumprir obrigações assumidas em convenções colectivas de trabalho, quer por sua livre iniciativa. No entanto, este tipo de contribuições abrange uma pequena parte da população.

Em Portugal, quanto ao nível da saúde e segurança no trabalho não existe uma verdadeira cultura de RSE, pois ainda não se investe muito em políticas e práticas de prevenção de acidentes de trabalho, resiste-se ao cumprimento de regras e tende-se a ser descuidado, confiando que “os acidentes só acontecem aos outros!”. Por vezes os equipamentos de segurança até existem, mas os trabalhadores optam por não os utilizar, por comodidade, por ignorância ou teimosia. Só que infelizmente no que respeita à segurança, esta mentalidade acaba por resultar em custos elevados quer para o indivíduo, quer para a sociedade.

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24 A segurança no trabalho é um factor que tem vindo a assumir uma importância crescente. O número de empresas certificadas OHSAS 18001, certificação que permite à empresa atingir, controlar sistematicamente e melhorar o nível do desempenho da saúde e segurança do trabalho por ela mesma estabelecido, nomeadamente em questões como a prevenção e controle de riscos de acidentes e doenças ocupacionais, era, em 2003, muito baixo (havia apenas 54 empresas certificadas), mas esta tendência tem sido de crescimento, o que já se traduziu uma diminuição significativa do número de acidentes mortais (Pinto, 2004).

No Código do Trabalho (CT) estão estabelecidas as obrigações do empregador e do trabalhador. O processo de informação e consulta aos trabalhadores e a formação mínima exigida nesta área, são actualmente responsabilidades exigidas ao empregador.

O balanço social é um instrumento de gestão que disponibiliza informação diversa sobre os recursos humanos de uma organização, demonstrando como a sua gestão eficiente contribui decisivamente para atingir os objectivos da entidade. No âmbito da inovação, modernização e promoção da qualidade dos serviços o balanço social permitirá ainda demonstrar, objectivamente, as necessidades e até os riscos associados à gestão de recursos humanos da organização. Na elaboração do presente balanço social são observadas as disposições constantes do Decreto-Lei nº 190/96, de 9 de Outubro, onde os pontos de incidência e análise da organização são emprego, custos com o pessoal, higiene e segurança, formação profissional, protecção social complementar, relações profissionais e disciplina.

As orientações da CE no âmbito da estratégia de desenvolvimento sustentável indicam que as empresas cotadas na bolsa e com mais de 500 trabalhadores deverão publicar relatórios anuais relativos ao desempenho ambiental, económico e social. O Global Reporting Iniciative (GRI) é a referência mundial para a elaboração destes relatórios. Trata-se de uma iniciativa da Coalition for Environmentally Responsable Economies (CERES) em conjunto com organizações, como as Nações Unidas. Além da importância que terão para os accionistas e investidores, os relatórios de desempenho social, deverão ser lidos pela comunidade em geral funcionando como um meio de dar a conhecer o esforço das empresas no âmbito da sua responsabilidade social e permitir aos consumidores estarem mais informados na sua escolha de produtos e serviços.

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25 Ao nível da formação profissional o CT estabelece os princípios e as normas sobre a sua aplicabilidade. Quanto aos objectivos e princípios, o CT estipula do art.º 162º ao art.º 170º, a garantia de uma qualificação inicial de jovens; a promoção da formação contínua dos trabalhadores; a garantia do direito individual à formação ou a promoção da reabilitação profissional das pessoas com deficiência. Relativamente aos deveres gerais do empregador, destacam-se dar formação aos seus trabalhadores, proporcionar-lhes acções de formação profissional, assim como, ao próprio trabalhador incumbe o dever de participar diligentemente nas acções de formação profissional que lhe sejam proporcionadas.

Quanto aos trabalhadores efectivos é estipulado o direito a formação contínua certificada, que deve ser cumprido anualmente e que corresponde a 35 horas/trabalhador, obrigação prevista a partir de 1 de Janeiro de 2006. Em contraponto ao dever do empregador de dar formação, o trabalhador tem o direito de recebê-la, direito esse que se vence no dia 1 de Janeiro de cada ano civil. Já para os trabalhadores contratados a termo, o dever do empregador de dar formação só é exigível para contratos cuja duração total exceda os seis meses.

No que concerne à protecção das mulheres, minorias e portadores de deficiências foram previstos tipos de protecção social que determinam direitos de personalidade, igualdade e não discriminação em geral ou em particular, protecção da maternidade e paternidade, trabalho de menores, trabalhadores com capacidades reduzidas, com deficiência ou doença crónica, trabalhadores-estudantes e trabalhadores estrangeiros, temas vinculados no CT.

Tal como o CT a Constituição da República Portuguesa (CRP) de 1976 consagrou os seguintes princípios e direitos: o princípio da igualdade entre mulheres e homens; o direito de todas as pessoas à liberdade e à segurança; ao trabalho; à livre escolha da profissão ou do género de trabalho; à igualdade de participação na vida pública de todos os cidadãos e cidadãs; e à igualdade de direitos e deveres dos conjuges quando à capacidade civil e política e à manutenção dos filhos. Desde Setembro de 1979, com a publicação do Decreto-Lei n.º 392/79, de 20 de Setembro, que Portugal concretiza a

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