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O CHEQUE

Conimentario ao Decreto n.' 2591, de 7 de Agosto de 1912.

IN T R O D U C Ç A O

§ 1. A

antiga

legislação

brasileira.

§ 2. A

nova

legislação

brasileira.

§ 3.

A

legislação

estrangeira.

§ 1 . N ão só o codigo do com m ercio silenciou sobre o cheque, como tam bem nen h u m a lei p o sterio r su b m etteu este in s titu to á d isciplina especial, e consoante á funcção econom i- ca do titu lo .

Com o in tu ito de rep rim ir o abuso da em issão dos titu lo s ao p o rtad o r, a lei n. 1.083 de 22 de agosto de 1860 im poz a m u lta do quádruplo do respectivo valor ao em itten te e ao to -m ador de n o tas, b ilh etes, vales, papel ou titu lo ao p o rtad o r ou com o nom e deste em branco, excepção feita dos recibos e man-datos ao portador, p assad o s p a ra serem p ag o s n a m esm a p ra ç a em virtud e de contas correntes, com tanto que fossem de q u an -tia su p erio r a 50$000.

E x ig iu m ais o legislador a apresentação d e ta e s recibos e m andatos d entro do prazo de tres dias, contados das resp e-ctivas datas, sob a p en a da perda do direito regressivo.

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REVISTA DA

Depois de haver reproduzido o preceito prohibitivo da lei n. 1083 citada, o dec. n. 2-694 de 17 de novem bro de 1860 estabeleceu duas excepções :

a) a emissão dos bancos auctorizada pelos seus estatu to s ap provados pelo poder com petenteena fórma da legislação em vigor;

b) os recibos e mandatos ao portador de qua n tia su p erio a 50$000, passados por banqueiros e negociantes de um a praça para serem pagos na mesma praça, e que deviam ser apresentados dentro do prazo de tres dias, contados das res-pectivas datas, sob pena de perder o portad o r o direito re-gressivo contra o passador.

P elo dec. n . 3.323 de 22 de outubro de 1864, o legis-lador exceptuou das disposições do art. 2? que vedava, sob a pena de m ulta do quádruplo do valor, a em issão ou a conser-vação em circulação das letras, notas prom issorias, créditos, bilhetes, vales, ficas e outros titulos, papeis ou escriptos que contivessem prom essa ou obrigação de valor recebido, ou de pagam ento por qualquer causa, com prazo ou sem elle, á pes-soa indeterm inada ou ao portador, ou com o nome deste em branco, além da emissão dos bancos de circulação auctoriza- dos pelos seus estatutos, os recibos e mandatos ao portador de quantia superior a 50$ÜÜÜ passados p ara serem pagos na mes-ma praça em virtude de contas correntes (art. 2, parag rap h o unico, ns. 1 e 2).

E ste decreto offereceu o modelo (1), do cheque, e determ i-nou que o mandato ao portador contivesse os seguintes requisitos:

(1) N, Data... N om e .. (quando fò r d esignado no titulo) ou Ao p o r t a d o r _________ < 5 3 I < i O . N. .186 — , d e _____ -\o B a n c o ____________________________ ou A ’ C asa B a n c a r i a ___________________________ P a g u e ___ a q u a n t i a _____________________de que le v a rá ao d e b ito de m in h a c o n ta R s. A ss ig n a tu ra do p a s s a d o r.

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FACULDADE LIVRE DE DIREITO 3

1? D eclaração do logar e data da emissão ;

2? D esignação do Banco ou banqueiro da mesma praça a quem fosse dirigido p ara o pagam ento, e com quem o passa-dor tivesse conta corrente ;

3? D eclaração por extenso, no corpo do titulo, da quan-tia cujo pagam ento se ordenasse, a qual devia ser superior a 50$000.

4? A ssig n atu ra do passador.

E stes mandatos podiam ser em ittidos sim plesm ente com a clausula — ao portador— ou designar o nome da pessoa a fa-vor de quem fossem passados com a addição da clausula—ou ao portador.

Podiam tam bem ser passados á pessoa determ inada com a clausula — d ordem— ou sem ella, mas em tal caso, não eram

considerados titulos ao portador (art. 8).

Os mandatos ao portador deviam ser apresentados ao ban-queiro no prazo de tres dias contados das respectivas datas, sob pena de perder o portador o direito regressivo co n tra o passador (art. 3).

O dec. n. 177 A de 15 de setem bro de 1893 exigiu que o m ontante do recibo ou mandato ao portador fosse superior a

100$000.

P o r estes dispositivos, o cheque era um a ordem dada pelo em ittente ao sacado (banqueiro) de pagar, na m esm a praça, á pessoa designada ou á sua ordem ou ao portador, de-term inada quantia de dinheiro superior a cem mil réis.

O cheque presuppunha a existencia de conta corrente en-tre o sacador e o sacado.

O legislador reclam ava a provisão prévia para im pedir que o cheque se convertesse em instrum ento de credito e não fos-se burlado o fos-seu intento de reprim ir o abuso dos titulos ao portador.

E ra indispensável a indicação do logar da emissão e do pagam ento.

O cheque repellia o requisito da distantia loci, pois devia ser pago na m esm a praça da emissão.

O requisito da data era reclam ado para se poder verificar si a apresentação do titulo ao sacado para o pagam ento h a

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-6

via sido feita dentro do prazo legal, que era de tres dias, sob p en a de perder o portador o direito reg ressiv o co n tra o p as-sador.

P e la d o u trina do A viso circular de 29 de o u tu b ro de 1864, os cheques, que não fossem ao p o rtad o r, não estavam su jeito s ás reg ras especiaes da apresentação ao banqueiro no alludido prazo de tres dias sob a referida pena, porque eram reg id o s em seus effeitos pelos principios geraes do d ireito v ig en te.

O utro requisito essencial era o da indicação do m o n ta n te no corpo do titu lo .

E ste m ontante devia ser de q u an tia de d in h eiro su p erio r a cem mil réis, afim de ev itar a confusão com o b ilh e te ao p o rtad o r e era lançado por extenso no corpo do cheque p ara elim inar a intervenção do elem ento da fraude por cau sa da difficuldade da falsificação.

O ultim o requisito exigido pelo leg islad o r era o d a assi-g n atu ra do em ittente.

O cheque devia ser pago á v i s t a ; não era p o rtan to , sus- ceptivel de acceite.

O visto no cheque fazia presu m ir a provisão, m as não tran sfe ria ao portador a propriedade d esta provisão. (A cc. da R ei. do Rio de 13 de setem bro de 1892).

P e la m elhor d o u trin a, apresentado o cheque ao p ag a m e n to , e este recusado pelo sacado, devia o p o rtad o r tira r o p ro -testo para ficar estabelecida a prova da ap resentação d en tro do prazo legal e da re,cusa do pagam ento.

Recusado o p ag am en to e tirad o o p ro te sto , o p o rtad o r podia exercitar a acção regressiva co n tra o em itte n te .

E s ta acção era a da assignação de dez dias, por se r o cheque titu lo de divida certa e liquida. (A rt. 2, le ttra / do dec. n . 917 de 24 de outubro de 1890. A rt. 2 da lei n. 2.024 de 17 de dezem bro de 1908).

Os cheques nom inativos com a clausula á ordem ou sem ella não estavam sujeitos á m esm a d iscip lin a ju rid ic a do ch e-que ao p ortador.

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K A C U L D A D E LIV R E d e d i r e i t o 7

A pena p a ra a falsidade ou falsificação, em issão ou cir-culação dolosa de cheques, foi estab elecid a pelo a rt. 20 do dec. n . 2.1 1 0 de 30 de setem bro de 1909.

N a legislação a n tig a, não encontram os referencia ao ch e-que cruzado.

§ 2 .

P a r a h arm o n izar as im periosas exigencias do p la -no de dim inuição da m assa de papel inconversivel c o n stitu ti-vo do nosso m eio circu lan te com a necessidade p a lp ita n te de fa c ilita r as operações m ercantes e de evitar as pressões m one- ta ria s, o M in istro da F aze n d a, a 31 de o utubro de 1906, em exposição de m otivos endereçada ao P re sid en te da R e p u b li-ca, lem brou a adopção de m edidas com plem entares, d en tre as quaes destacou a in stitu ição dos cheques, e offereceu p a ra ser sub m ettid o á deliberação do C ongresso N acio n al um p ro je-cto de lei, em que, como disse, p ro cu ro u a s sig n a la r a fig u ra ju rid ic a do cheque, pôz o sacado ao ab rig o de su rp resas por p arte do po'rtador, e ao m esm o tem po, cercar de g a ra n tia s os codevedores do titu lo , tudo com o in tu ito de g en eralizar o em -p reg o desse in stru m e n to , de ev itar a deslocação do n u m erá-rio , e, finalm ente, de fac ilita r a organização de associações d estin ad as ao encontro ou com pensação de contas re p re se n ta -das pelos cheques em ittidos.

A com m issão de C onstituição e Ju stiç a da C am ara dos D eputados, á qual foi ap resen tad a a m ensagem pela qual o P o d er E x ecutivo, em 3 de novem bro de 1906, su b m etteu á apreciação do C ongresso N acional o projecto do M in istro da F aze n d a, acceitou-o com m odificações.

A com m issão repudiou o rigorism o do pro jecto , p a ra fa-c ilita r a em issão de fa-cheques tam bem fa-co n tra fa-com m erfa-ciantes, m as não ju stifico u a elim inação do cheque c o n tra pessoa não co m m erciante, o que é de e x tra n h ar porque p a ra a m odifica-ção do pro jecto , acceitou a licodifica-ção de V id ari, que não estab ele-ce a a rg u id a restricção .

A com m issão reconheceu que o prazo p a ra a ap re se n ta -ção do cheque ao sacado devia ser breve, não só p o r cau sa ca n atu re za econom ica do titu lo , que, m eio de p ag am en to e pre- suppondo a provisão exigia rap id a satisfação, como tam b em

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REVISTA DA

porque cumpria que o cheque não usurpasse as futicções da letra de cambio.

Sem embargo do exposto, considerou bastante curto o prazo estabelecido no art. 4? do projecto, e propoz em substi-tuição o prazo de cinco dias da data, quando passado na pra-ça em que deve ser pago, e de oito dias, quando sacado de outro logar.

A Commissão não justificou as outras emendas por ella propostas, que conjunctamente com o projecto do Ministro

da Fazenda indicamos em seguida :

PROJECTO DE LEI

Art. l.o Cheque é ordem de paga-mento á vista, sacado contra banco, sobre saldo disponível em conta cor rente.

Art. 2.° Deve ser datado e assigna- gnado pelo sacador, com indicação do

logar onde é feito.

Em falta dessa indicação, presume- se passado no logar onde tem de ser pago.

Art. 3.° Póde ser ao portador, no-minativo ou á ordem.

Ò cheque ao portador transfere-se por simples tradição, e é pagavel a quem o apresentar.

0 nominativo com clausula á ordem é transmissivel por via de endosso, que póde ser em branco, contendo só mente a assignatura do endossante.

Art. 4.° O clieque deve ser apresen-tado dentro de tres dias, quando pas-sado na praça onde tem de ser pago, e de seis dias quando em outra praça.

Nâo se conta no prazo o dia da data. Art. 5.° 0 portador que nâo apre-sentar o cheque no prazo legal, ou deixar de protestal-o por falta de paga-mento perderá direito e acção contra os endossantes e abonadores.

Se, durante esse prazo, houver suííi- ciente provisão de fundos, que deixou de existir sem facto do sacador, .lam-bem este llcará exonerado.

Art. G.° Aquelle que emittir cheque sem data, com.'data falsa, ou por con-tra ordem procurar frustar o seu pa-gamento sem motivo, legal, ílca sujeito a multa do 10 por cento, além dos ju-ros da mora.

EMENDAS DA COMMISSÃO Art. 1.° Cheque é ordem de paga-mento á vista, sacado contra estabe-lecimento bancario ou commerciante, e sobre saldo disponível em conta corrente.

Ao art. 4.°, em vez de tres dias, diga-se ♦cinco dias.», e onde se diz seis dias, diga-se «oito dias*.

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1-ACUI.DADK IJVRlv DF, DIREITO 9

Art. 7.° Aquelle que emittir elieque sem te r saldo suíliciente disponível em p o d er do sacado incorre nas penas de estellionato (art. 338 do Codigo Penal).

A rt. 8.° O beneficiário adquire a provisão de fundos desde a data do cheque.

A rt. 9.° O cheque é titulo mercan-til. Sáo-lhes applicaveis as disposi-ções do Codigo Commercial sobre lo-ir a s quanto á responsabilidade solida-r ia do sacadosolida-r, abonadosolida-r e endossan- tes, protestos, acção regressiva, inter-v en ç ão , extrainter-vios de titulos <■ prescri- p ç à ó .

Art. 10. 0 cheque ó isento do sel- lo . As cadernetas dos bancos pagarão, a n tes do primeiro lançamento, o sello n a proporção de lg5(H> por cinco fo-lhas, comportando cada uma somente tre s en trad as.

Art. 11. 0 visto, carimbo, ou marca do sacado assegura ao cheque á prio-rid a d e sobre outros do mesmo soca- dor, que forem apresentados em data p o sterio r.

A rt. 12. Si o portador consentir, q u e o sacado marque o cheque para certo dia, exonera todos os outros res-p o n sá v eis.

Art. 13. 0 sacado poderá exigir ex-p lic a ç õ e s ou garantia ex-para ex-pagar o ch e q u e ròto, mutilado, partido em

di-verso s pedaços, contendo borrões ou em en d as, ou data suspeita.

A rt. 11. Só póde ser pago a um b an c o o cheque cruzado, isto é. a tra -v essad o por dois traços parallelos ; e se o cruzamento consistir no nome de um ban co , só a este poderá ser feito o p a g a m e n to .

A rt 15. 0 recebimento do cheque d a s m ãos do sacado»* ou endossante im p o r ta pagamento effectivo do seu de bito, d esd e que exista suííicienie pro-visão de fundos disponivel em poder do sa c a d o .

Art. 10. Apresentando-se ao mesmo te m p o , a favor do diversos, muitos c h e q u e s do mesmo sacador, sommando

q u a n t i a superior ao seu credito dispo-nivel, s e rá recusado o pagamento n to d o s.

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REVISTA DA Si forem de d iffercn tes d a ta s, serâo p re fe rid o s os m ais an tig o s.

Sendo to d o s cm fa v o r d a m e sm a pes-, soa, ou a p re se n ta d o s p o r um só p o r ta -do r, serão p agos p rim e iro os de m aio r im p o rtan c ia , seg u in d o -so os o u tro s até onde c h e g a r a p ro v is ã o d isp o n ív e l.

A rt. 17. H av en d o d iffe re n ç a e n tre S u p p rim a -se . a q u a n tia em a lg a rism o c a e n u n c ia d a

p o r ex te n so , s e r á p a g a a m en o r d as d u a s.

A rt. 18. O c h eq u e , com o titu lo li- S u p p rim a -se . quido e c e rto , d á lo g a r á acçâo de dez

d ia s.

A rt. 19. A s c a d e rn e ta s q u e os b a n cos e m ittire m p a r a o serv iço d as co n -ta s c o rre n te s de m o v im en to , c o n te rã o im p resso s os a r ts . G, 7, 10 e 14.

A rt. 20. R ev o g am -se as d isp o siçõ es em c o n tra rio .

Ouvida a Com missão de F in an ç as, esta a 6 de outubro de 1909 foi de parecer que o projecto en trasse na ordem do dia, e reservou p ara o debate as em endas que, en tre o u tras, provo-cavam os a rts . 10, 11,17 e 19, e a falta de fixação de q u an tia m inim a segundo a tradição co nstante das nossas leis.

P elo conceito desta com m issão, não b asta d ecretar um a lei m eticulosa, definir e cercar de g ara n tias o cheque p a ra a sua acclim ação entre nós, porque este titu lo suppõe institu içõ es bancarias, diffundidas em filiaes, para a liquidação de tra n s- acções sem dispendio e sem tran sp o rte de n u m e rá rio .

São estes estabelecim entos, que relacionados uns com ou-t r o s ^ com agencias em ou-to d a a p arou-te , anim am e facu lou-tam a circulação dos cheques, que, levados afinal ás cam aras de com -pensação por um in tellig en te m echanism o de g rad u a l concen-tração, liquidam g ran d e som m a de negocios por sim ples jo g o de escripta, m ediante tran sferen cias n as colum nas do credito e do debito.

S alientou a Com missão que a m ais in te n sa vida do cheque está no m ovim ento das contas correntes, em que o credito se alarga e as transacções se facilitam , dispensada a p ró p ria p ro -visão dos fundos, e ad m ittidos os cheques sem co b ertu ra contra banqueiro que abriu ao em itten te co n ta co rrente com a sim -ples base da confiança.

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Sobre a nossa situação em face do cheque, disse a

Com-m i s s ã o : , .

« In stitu içõ es b an carias, como e possível que po s-sam m edrar en tre nós quando as te n ta tiv a s de b anco de depositos, p erm ittin d o não se g u a rd a r em casa, e possuir a sua caderneta de cheques, se liquidam com desastres como o recentem ente fallido B anco U n ião do Com mercio, levando a ru in a a ta n to s lares e a d es-confiança contra os bancos nacionaes a ta n ta g e n te ?

In stitu içõ es de credito não vingam onde im p e ra o jo g o alim entado pelas condições de in stab ilid ad e peculiares ao curso forçado ; ahi, to d a a sad ia activi- dade b an caria é su b stitu id a pelos p alp ites dos b aix is-tas, pela exploração do boato, p ela ag io tag em em que o G overno é parceiro co n stan te.

Já varias ten tativ as se fizeram en tre nós p a ra que o cheque nos prestasse os g ran d es serviços de ev itar as crises oriundas da m igração periódica do n u m e rá-rio, o ra a ttra h id o p ara o extrem o n o rte nos m ezes da safra da borracha, ora solicitado pelas necessidades dos agricultores da can n a e do algodão, sem p re fazendo o vacuo, rarefafazendose e creando situações te n -sas, ora n esta praça, o ra naquella.

A creditou-se que ao m enos n a p raç a do R io de Janeiro, mais culta e com m aior num ero de estab e le-cim entos bancarios, fosse possivel n a fa lta de a lg u n s m ilhares de contos de réis que tivessem em ig rad o p a ra o A m azonas e P a rá — reduzir m uito as n ecessidades de num erário pelo uso generalizado e co rren te do cheque com as seguranças do cheque cruzado e as v an tag e n s

do Clearing House.

T a n to mais plausivel era a supposição q u an to é sabido que não foi p o r via leg islativ a, nem por d e-creto, que se in troduziu esse ju d icio so costum e de saldar avultados com prom issos e ap ro v eitar in te llig en - tem ente o encontro de contas, eífectuando g ran d e s transacções por meio de cheques.

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REVISTA DA

P o i proxim am ente no anno de 1775, in form a S tanley Jevons, que alguns banqueiros da City alu garam um a sala onde os seus caixeiros deveriam reu -nir-se p ara tro car os effeitos do com m ercio e os b i-lhetes a liquidar as suas dividas rec ip ro c as.

A sociedade era um a sorte de club de caracter in teiram en te p riv a d o ; o publico de m odo nenhum a

conhecia e as suas transacções eram d irigidas cm ab -soluto segredo.

A inda hoje, um a associação p riv ad a e livre, sem estatu to s, e de facto desconhecida pela lei, a C learing- H ouse tem co n stan tem en te crescido em im p o rtan cia, dando á publicidade as suas operações.

Seja como fô r, tivem os as leis e decretos de 22 de agosto de 1860, de 22 de o utubro de 1864 e 15 de setem bro de 1893, além do ensaio de um Llearing- House em 1889 ; e n tre ta n to , c o ntinuam os brasile iro s a realizar directam ente os seus pag am en to s em d in h ei-ro, desconhecendo ou não sabendo apro v eitar as grandes v an tag en s da conta corrente de m ovim ento, da conta co rrente em ju ro s reciprocos, e da caderneta de cheques.

O facto é Tjue em geral h a m uito quem g u ard e em casa av u ltad as qu an tias, ou porque não faça caso dos ju ro s que poderia lu c ra r, ou m ais ain d a porque lhe não inspirem confiança nem os bancos, nem a com pli-cada, dispendiosa e le n ta acção da ju s tiç a ... Si houvessem os de crer n a conveniencia de ado- p ta r as p raticas que em outros paizes tã o bons resu l-tados têm dado, lem braríam os o papel que, á falta de estações bancarias, poderiam desem penhar as caixas econom icas, as agencias postaes e as collectorías dis-sem inadas em todo o nosso te rrito rio .

A epidem ia dos desfalques e o triu m p h o cada vez m ais accentuado da im punidade, fertil em novos al-cances e desvios, nos estão, porém , a dizer que o m al é m ais profundo, não lhe valendo rem edios politicos

(11)

e n o s desaconselhando qualquer in iciativ a em tão

deli-cado assum pto.

O projecto su scitará m uitos rep aro s a que a d is -cussão dará resp o sta.»

F o i relato r deste p arecer o deputado B arb o sa L im a .

N a sessão de 15 de outubro de 1909, após o discurso do d ep u tad o Ju stin ian o de S erp a em defesa das idéas co n sig n ad as n o parecer por elle em ittido, foi en cerrad a a discussão do p ro -je c to , que, votado, passou á terceira discussão, assim re d ig id o :

N . 206 A — 1909

R e lacção p ara terceira discussão do p ro jecto n . 206, de 1909, que reg u la a em issão e circu lação de cheques.

O Congresso N acional resolve:

A rt. 1? Cheque é ordem de p ag am en to á v ista, sacado contra estabelecim ento b ancario ou com m erci- ante e sobre saldo disp o n iv elem co n ta co rren te.

A r t . 2? Deve ser datado e assig n ad o pelo saca-dor, com indicação de lo g ar onde é feito .

Km falta desta indicação, presum e-se p assad o no logar onde tem de ser p a g o .

A rt. 3? P óde ser ao p o rtad o r, n o m inativo ou á ordem.

O cheque ao p o rtad o r tran sfere-se p o r sim ples tradição e é pagavel a quem o ap resen tar.

O nom inativo com clausula á ordem é tra n s m is -sível por via de endosso, que póde ser em b ran co , contendo som ente a a s sig n a tu ra do end o ssan te.

A rt. 4'.’ O cheque deve ser ap resen tad o d e n tro de 5 dias quando passado n a praça onde tem de ser pago, e de oito dias quando em o u tra p ra ç a .

N ão se con ta no prazo o dia da d ata.

A rt. 5? O p o rtad o r que não ap re se n ta r o cheque no prazo legal, ou deixar de p ro testal-o p o r fa lta de pagam ento, p erd erá direito a acção co n tra os endos-

santes e abonadores.

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REVISI.A DA

Si d u ran te este prazo houver sufficiente provisão de fundos, que deixou de ex istir sem facto do saca-dor, tam bem este ficará ex o n erad o .

A rt. 6? A quelle que em ittir cheque sem d ata, com d ata falsa, ou que, por contra-ordem , p ro cu rar frustar o seu p agam ento sem m otivo legal, fica sujeito á m ulta de 10 •/., além dos ju ro s da m ora.

A rt. 7? A quelle que em ittir cheque, sem te r sal-do sufficiente disponível em poder sal-do sacasal-do, in co rre nas penas de estellionato (art. 338 do Codigo P en al).

A rt. 8? O beneficiário adquire a provisão de fundos desde a d ata do cheque.

A rt. 9? A o cheque são applicaves os dispositi- tivos sobre letras de cam bio em tudo que lh e fôr

ade-quado.

A rt. 10. O cheque é isento de sello.

A s cadernetas dos bancos p ag arão , an tes do p ri-m eiro lançari-m ento, o sello n a proporção de 1$500 por cinco folhas, com portando cada um a som ente tres e n tra d a s.

A rt. 11. O visto, carim bo ou m arca do sacado assegura ao cheque a p rio ridade sobre outros do m es-mo sacador que forem ap resentados em d ata pos-terior.

A rt. 12. Si o p o rtad o r co n sen tir que o sacado m arque o cheque p a ra certo dia, exonera todos os outros responsáveis.

A rt. 13. O sacado poderá exigir explicações, ou g ara n tia p ara p ag a r o cheque rô to , m u tilado, p artid o em diversos pedaços, contendo borrões ou em endas ou d ata suspeita.

A rt. 14. Só póde ser p ago a um banco o cheque cruzado, isto é, atravessado p o r dois traço s parallelos; e si o cruzam ento consistiu no nom e de um banco, só a este poderá ser feito o pag am en to .

A rt. 15. O recebim ento do cheque das m ãos do sacador ou endossante im p o rta p ag am en to effectivo de

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seu debito, desde que exista sufficiente p ro v isão de fundos disponível em poder do sacado.

A rt. 16. A p resen tan d o -se ao m esm o tem p o , a favor de diversos, m uitos cheques do m esm o sacador, som m ando q u an tia superior ao seu cred ito disponivel, será recusado p ag am en to a todos.

S i forem de differentes d atas, serão p referid o s os m ais an tig o s.

Sendo todos em favor da m esm a pessoa, ou ap re-sentados por um só p o rtad o r, serão p ag o s p rim eiro

os de m aior im portancia, seg'uindo-se os o u tro s até onde chegar a provisão disponivel.

A rt. 17. A s cad ern etas que os bancos em ittirem p ara o serviço das contas co rren tes de m ovim ento,

conterão im pressos os a rts . 6, 7, 10 e 14.

A rt. 18. R evogam -se as disposições em con-tra rio .

Frederico Borges, p re s id e n te .—Jttstiniano Serpa, re-la to r.Germano Hasslocher. Ctinha Machado. Domingos Guimarães.— Pedro Moacyr.

N a terceira discussão, a C o m m issão d e C o n stitu ição e Ju s-tiç a apresentou este su b stitutivo.

SU BSTITU TIV O AO PROJECTO N. 206 A

(3* discussão)

A rt. 1? A pessoa que tiv er fundos disponiveis em determ inado banco ou casa b an caria, sobre elles, na to talid ad e ou em p arte , póde em ittir cheque ou ordem de pagam ento á vista em favor p ro p rio ou de te r-ceiro.

P ara g ra p h o unico. Consideram-se fundos dispo-niveis as im portancias depositadas em co n ta co rren te ou proveniente de ab ertu ra de credito, com m unicada ao sig n atario da ordem.

A rt. 2? O cheque deve ser d atado e conter m ais as segfuintes indicações:

(14)

REVISTA DA a) da im portancia a pagar;

b) do banco ou casa b an caria que deve pag ar; c) do lo g a r em que o p a g a m e n to deve se r feito; d) do lo g ar em que é em ittido.

E m falta desta u ltim a indicação, presum e-se p a s-sado no lo g ar onde tem de ser pago.

A rt. 3? P óde ser ao p o rtad o r, nom inativo ou á ordem .

O cheque ao portad o r tran sfere-se p o r sim ples tradição e é pagavel a quem o ap resen tar.

O nom inativo, com clausula á ordem , é tran sm is- sivel por via de endosso, que póde ser em branco, co n -tendo som ente a assig n atu ra do endossante.

Si o cheque não indicar o nom e da p essoa a quem deve ser pago, considerar-se-á ao p o rtad o r.

A rt. 4? O cheque deve ser ap resentado d entro de cinco dias, quando passado n a praça onde tem de ser p ago, e de oito dias, quando em o u tra p raça.

N ão se conta no prazo o dia da data.

A rt. 5? O p o rtad o r que não ap re sen ta r o cheque nos prazos indicados no artig o an teced en te, ou deixar de o p ro testar por fa lta de p ag am ento, p erd erá a acção regressiva co n tra os endossantes e av alistas.

P e rd e rá igualm ente co n tra o sacador, si este, por culpa delle, soffrer prejuizo da p arte do sacado.

A rt. 6? A quelle que em ittir cheque sem d ata ou com d ata falsa ou que por co n tra ordem e sem m o ti-vo legal, procurar fru sta r o seu p ag am en to , fica su jei-to á m u lta de 10 •/. sobre a respectiva im p o rtan cia, em proveito do beneficiário, além dos ju ro s da m ora.

A rt. 7? A quelle que em ittir cheques sem te r suf-ficiente provisão de fundos em poder do sacado, in co r-re nas penas de estellionato (Cod. P en . a rt. 338).

A rt. 8? O beneficiário adquire a provisão de fu n dos desde a d ata do cheque, por esta razão, ap re sen -tando-se ao m esm o sacador, em som m a su p erio r aos fundos disponiveis, serão preferidos os m ais an tig o s.

(15)

FACULDADE LIV R E DE DIREITO 17 Si, porém, todos tiverem a m esm a d ata e não fo-rem emittidos em favor da m esm a pessoa, será re-cusado o pagam ento de todos.

Sendo em favor da m esm a pessoa, ou ap re se n ta -dos por um só procurador serão pagos p rim eiro os de m aior im portancia, seguindo-se os outro s até onde ch e-g ar a provisão disponivel.

A rt. 9? H avendo differença en tre a q u an tia em algarism o e a enunciada por extenso, sera p a g a a m e-nor das duas.

A rt. 10. O recebim ento do cheque das m ãos do sacador ou endossante im p o rta p ag am en to effectivo do seu debito, desde que existe sufficiente provisão de fundos disponíveis em p o der do sa c a d o .

A rt. 11. O cheque é pag av el á v ista , a in d a que o não declare; o sacado, porém , p o d erá ex ig ir ex p li-cações ou g ara n tia p ara p ag a r o cheque m u tilad o , p a r-tido em diversos pedaços, ou que contiver b o rrões, em endas ou d ata suspeita.

A rt. 12. S i o p o rtad o r co n sen tir que o sacado m arque o cheque p ara certo dia, exonera to d o s os outros responsáveis.

A rt. 13. O chequc ruzado, isto é, atrav essad o por dois traços parallelos, só póde ser p ago a um b a n -co; e, si o cruzam ento contiver o nom e de um banco, só a este poderá ser feito o p ag am en to .

A rt. 14. Os bancos e casas b an carias poderão com pensar seus cheques p ela fórm a que ju lg a rem conveniente, respeitadas as disposições d esta lei.

A s cam aras de com pensação (clearing-houses), porém , não poderão funccionar sem a u c to m a ç ã o do P o d er Executivo F ed eral.

A rt. 15. ü cheque é isento de sello, m as as cadernetas que os bancos e as casas b an c aria s em itti- rem p ara o m ovim ento de co n tas— co rren tes p ag a rão o sello estabelecido na lei respectiva e p ela fórm a nella indicada.

(16)

18 REVISTA DA

A rt. 16. São applicaveis ao cheque os dispositi-vos da lei n. 2.044 de 31 de dezem bro de 1908, em tudo que lhe íô r adequado, inclusive a acção: execu-tiva.

A rt. 17. A s cadernetas, de que tr a ta o a r t. 15., conterão im pressos os arts. 6, 7, 10 e 14.

A rt. 18. Revogam -se as disposições em co n tra-rio .—Frederico Borges, presidente. — Jastiniano Serpa, relator. — Germano Hasslocher. — Alvaro de Carvalho, com restricçõ es.—Pedro Moacyr.— Domingos Guimarães. Raul Fernandes.

F o ram offerecidas diversas em endas e sobre ellas p ro n u n -ciou-se a Com missão de C onstituição e Ju stiça.

Sobre a capacidade passiva do sacado, á Com m issão accei- tou a em enda extensiva aos com m erciantes, por e s ta r a restri- cção aos bancos e casas ban carias condem nada p o r com m er- cialistas de nota em P o rtu g a l, n a Italia, n a P ra n ç a , n a A lle- rnanha, na B élgica, n a S uissa e na A m erica do N o rte, além de accrescer a circum stancia de se não dever p riv ar o com m er- ciante no B rasil de um a faculdade de que está de p o sse h a m ais de meio seculo.

A Com missão observou, en tre tan to , que a essa am pliação do dispositivo do art. 1? foi sem pre co n trario o M in istro da F azenda, auctor do ante-projecto, por ju lg a r que a adopção do system a italiano-portuguez acarreta, en tre outros inconvenien-tes, o desprestigio do in stitu to , im possibilitando, assim , a crea- ção, h a m uito am bicionada, de um a C am ara de Com pensação (clearing house) p a ra o en c o n tro e com pensação de c o n ta s.

P o r inexistencia de razões de ordem po litica ou econom i- ca, e porque, co n tra o exem plo arg en tin o , póde-se invocar a le-gislação de quasi todos os povos cultos, foi pela Com m issão condem nada a em enda pela qual o cheque só p ro d u ziria effeitos nas relações in tern as das p raças b rasileiras.

F o i acceita a idéa da exigencia do req uisito da den o m in ação de cheque no respectivo titu lo , pela conveniencia de h arm o -nizar quanto possivel os dispositivos da lei sobre cheques com os da lei sobre cam biaes, ficando, en tre tan to , fóra de duvida que a denom inação no cheque não te m o e ffe ito da clausula á ordem .

(17)

FACULDADE LIV R E DE DIREITO

O relator da com m issão havia im pugnado a exigencia da d a ta p o r extenso «) por ser rigoroso e esteril form alism o; b) p o rq u e a lei franceza de 1874 no art. 6? só exigia a d ata por e x te n so nos cheques de praça a praça; c) porque ao exem plo do C o d ig o F ederal Suisso das obrigações que a to rn a o b rig a to ria p a r a todos, podia oppose o exem plo da A llem an h a que, refo r-m a n d o a sua lei sobre cheques er-m 1908, não fez d aquella con-d iç ão um requisito form al; con-d) porque nen h u m a lei sobre le tras de cam b io fez da d ata por extenso req uisito de titu lo ; c) porque s e n d o o cheque usado entre nós, h a m ais de meio seculo, e não e s ta n d o nos nossos hábitos a d ata por extenso, a exigencia des-te re q u isito agora, talvez produzisse m ais d esv an tag en s que b en efício s; /') porque o proprio V ivante» que adverte o le g isla-d o r ita lia n o por não haver feito isla-da isla-denom inação um req u isito fo rm a l, não faz a m esm a questão da d a ta por extenso; g) p o r-q u e, finalm ente, a lei som ente deve d eterm in ar as condições n e c e s sa ria s á conceituação do in stitu to , á sua in teg ração como fig u ra ju ríd ic a á p a rte e ao p reenchim ento da sua funcção econo- m ic o —ju ríd ica.

ü novo e mais dem orado estudo da m atéria levou o alludi- do re la to r a aconselhar á Com missão a d o u trin a o pposta, p o r-q u e a d a ta no cher-que tem m uito m ais im p o rtan cia r-que n a le tra d e cam bio.

A p ro p ria brevidade da circulação do titu lo reclam a e ju s ti-fica u m a providencia legislativa ten d en te a asseg u rar a exacti- d ão do tem po da em issão.

S o b re a em enda que, ju lg a n d o o cheque titu lo form al, cons id e ra v a econsconsenciaecons determ inadocons req uiconsitocons, a com m iconsconsão o b se rv o u que o projecto não havia cogitado de um titu lo em in en te m e n te form al, isto é, de um titu lo sem elhante á le tra de cam -b io com um a fórm a precisam ente determ inada, devendo resu l-ta r d a sim ples om issão de qualquer requisito a nu llid ad e d a o r d e m , como consequencia do seu rig o r cam biario.

A n te s parece que entrou no plano do seu au cto r reg u la r a em issão e a circulação de um in stitu to que estava nos nossos

hábitos,

dando-lhe a feição que tem na m aior p a rte dos paizes e u r o p e u s e am ericanos, notadam ente a F ra n ç a , a Ita lia , a H es-p a n h a , P o rtu g a l, a A rg en tin a, o Chile e A m erica do N o rte

(18)

M as, quando as em endas modifiquem o typo do projecto de modo a dar ao cheque — entre nós — o caracter de titu lo form al, que tira da fórm a a sua existencia, não será possivel equiparal-o á le tr a de cam bio, com a qual, effectivam ente, tem as m aiores analogias e affinidades, m as da qual se d istin g u e essencialm ente quanto á funcção econom ica e extrem am ente quanto á regulam entação ju rid ic a .

Q uando, porém , fosse inatacavel do po n to de vista da dou-trin a, a idéa contida na em enda, ainda assim , seria de pondrar que nenhum a lei sobre cheques adoptou dispositivo sem e-lh a n te.

A com m issão reconhecia que os requisitos indicados eram necessários á in teg ração do cheque, m as, p ara serem como taes considerados, não era m istér que a le i o declarasse.

O ccorrida a om issão de qualquer delles a nu llid ad e decor-reria da n atureza do titu lo .

Sobre a em enda que reclam ava a declaração de que a au -sência de determ inados requisitos não acarretav a irremissivel- mente a nullidade, a C om m issão disse ser essa q u estão da ap re ciação do in terp rete, que pro n u n ciaria ou não a n u llidade co n -form e a natu reza e im p o rtan cia da om issão, porque a lei não deve conter disposições que sejam de sim ples d o u trin a .

A Com missão não acceitou a em enda da reducção a tres dias do prazo de apresentação do cheque n a m esm a praça, p ara pôr a lei de accordo com as resoluções do C ongresso de B ru- xellas, que tem sido seguidas pelos paizes que reform aram p o steriorm ente as leis sobre cheques como se vê do Codigo F e d e -ral Suisso das O brigações, a r t. 834.

A Com m issão condem nou o cheque a prazo, sem desco-nhecer que, do ponto de vista da d o u trin a, m uitos o defendem , eq u e alguns paizes o ad m ittiram , como a Ita lia ( C o d ., a r t. 340), P o rtu g a l ( C o d ., a rt. 341, § 2“ ) e R u m an ia ( C o d ., a rt. 3 6 5).

O projecto filiou-se, porém , á o u tra corrente d o u trin aria, e preferiu como modelo as legislações que som ente ad m ittem o cheque á vista, m uito m ais num erosas e algum as m ais recentes, além de accrescer a circum stancia de não p reen ch er o cheque a prazo a funcção de meio de com pensação.

(19)

J

F A C U LD A D E L IV R E D E D IR E IT O

Manifestando-se sobre um a em enda ao art. 6?, offerecida p e lo dr. Alberto Sarm ento, affirmoua Commissão que a m u lta e r a sobre o m ontante do cheque e em proveito do portador, por n ã o haver outro interessado.

S obre a em enda ao m esm o a rt. 6? p ara a suppressão das p a la v ra s «sem data» por ser a d ata req u isito form al, e p a ra a elim in ação das ultim as palavras «além dos juros da mòra», porque e s te s som ente seriam cobrados depois da in terp ellação ju d ic ia l, se m ser necessaria nova disposição leg islativ a, a C om m issão a c ce ito u a segunda p arte e rejeitou a p rim eira.

Sobre a im portancia da d ata, e relativ am en te aos effeitos d a s u a om issão no titu lo não são uniform es as leg islações, e d i-v e rg e m os escriptores, e os que consideram o req u isito da d a ta essen c ial nem sem pre concluem pela invalidade do titu lo .

A ccresce que a nullidade im posta á ordem , n a au sên cia de re q u is ito essencial, em attenção á n atu reza/w » /# / do titu lo , não a c a rre ta , como consequencia, a extincção das relações ju rid ic a s

e n tr e o em ittente e o po rtad o r.

K m conclusão, pelo se n tir da Com m issão, ex actam en te p o rq u e a d ata constitue requisito essencial é que a om issão ou fa

l-s id a d e delia determ ina a applicação de um a p en a.

A irregularidade indicada no a rt. 7? m ereceu d iscip lin a es-p e c ia l, es-porque a em issão da ordem sem sufficiente es-provisão de fu n d o s im porta em m aior desrespeito á lei, co n stitu e phenom e- n o ju rid ic o mais g rave e p o rtan to teve qualificação e classifica-ç ã o á parte.

A ’ em enda ao a rt. 7? p ara depois das palavras — incorrerá nas penas de estelliçnato, serem accrescentadas as p alav ras «uma ve~ verificados os elementos constitutivos deste crime», — foi im p u -g n a d a pela Com m issão, por con ter a alludida em enda p receito m e ra m en te do u trin ário , e, como tal, dispensável na lei.

1 ela licçao de L yon-C aen et R en au lt, propoz a C om m iss a s e g u in te m odificação ao a r t. 8?:

« O beneficiário adquire direito a ser pago pela provisão de fundos existente em poder do sacado desde a d ata do cheque.

< > pagam ento do cheque far-se-á á m edida que forem apre^ se n ta d o s.

(20)

22 k e v is t a d a

A presentando-se ao mesmo tem po, dous ou m ais ch eq u es, em somma superior aos fundos disponíveis, serão preferidos os mais an tigos. Si tiverem a m esm a data, os de num ero in ferio r.»

N ão foi acceita a idéa de rateio p o r inconciliável com a natureza e funcção do titu lo .

T am bem foi condem nada a em enda que considerava o beneficiário cessionário do em ittente com direito á p rovisão de fundos correspondente ao m o ntante do cheque e desde a sua data.

A Commissão neste ponto declarou seg u ir a d o u trin a italian a, porque a em issão do cheque dava lo g a r apenas a d u as ordens de relações ju r íd ic a s : um a en tre o em itten te e o sa ca-do e o u tra en tre o em itten te o o tom aca-dor ca-do titu lo .

C ontra o sacado não tem acção o p o rtad o r, e. p o rtan to , este não deve ser equiparado ao cessionário.

O utras em endas aos a rts . 9, 10 e 11 foram acceitas p ela Com missão.

A pprovado em terceira discussão, foi o p rojecto, com as modificações nelle introduzidas, rem ettid o ao Senado a 10 de jan eiro de 1911 p or esta fórm a que se to rn o u a definitiva por não

haver sido alterada:

x . 9 _ 1911

O C ongresso N acional decreta :

A rt. 1? A pessoa que tiv er fundos disponíveis em bancos ou em poder de com m erciantes, sob re elles, n a to talid ad e ou em p arte, póde em ittir ch eque ou ordem de pagam ento á vista, em favor pro p rio ou de te rc e iro :

§ 1? Consideram-se fundos disponíveis :

a) as im p o rta n c ia s co n s ta n tes de co n ta c o rre n te b a n c a ria ;

b) o saldo exigivel de co n ta c o rre n te co n tra ctu a l ; c) a som m a p rovenie n te de a b e r tu ra de cre d ito . § 2.’ F ica, todavia, dependente de an n u en cia do devedor a em issão da ordem nos casos tias le ttra s b e c.

(21)

KACUI.DADE U Y R E HE DIREITO A rt. 2? O cheque deve c o n te r:

it) a denom inação cheque — ou o u tra eq u iv a-lente, se fôr escripto em lin g u a e x tra n g eira ;

/>) indicação, em cifra e por extenso, da som m a a p a g a r ;

r) d ata, com p reh en d end o o lo g a r, dia , mez e a nno da em issão, sendo o dia e anno por e x te n s o ;

tf) a s sig n atu ra do r e m e tte n te ;

c) nome da firm a social ou pessoa que deve p a g a r ;

j ) indicação do lo g a r onde o p a g a m e n to deve se r feito .

N a falta de indicação do lo g ar da em issão, p re -sume-se que a ordem foi p assada no lo g a r onde tem de ser paga.

A rt. 3? O cheque póde ser ao p o rtad o r n om i-nativo e com ou sem clausula á ordem . O cheque ao portador, transfere-se por sim ples trad ição , e é p agavel a quem o ap resen tar. O n om inativo, com clau -sula á ordem , é transm issivel por via de endosso, que póde ser em branco, contendo som ente a assi-g n atu ra do endossante.

Si o cheque não in d icar o nom e da p essoa a quem deve ser pago, considerar-se-á ao p o rtad o r.

A rt. 4? O cheque deve ser ap resen tad o d entro de 5 dias, quando passado n a p raça onde tem de ser pago, e de oito dias, quando em o u tra p raça.

N ão se conta no prazo o dia da d ata.

A rt. 5? O portad o r que não ap re se n ta r o ch e-que nos prazos indicados no a rtig o an teced en te, ou deixar de o p ro te sta r por falta de p ag a m e n to , p e r-derá a acção reg ressiva co n tra os en d o ssan tes e avalistas.

P erd erá tam bem co n tra o em itte n te , si este t i -ver, ao tem po, sufficiente provisão de fundos e esta deixar de existir sem facto que lhe seja im p u tav e l.

(22)

REVISTA DA

A rt. 6? A quelle que em ittir cheques sem d a ta ou com d ata falsa, ou que p or co n tra ordem e sem m o tivo legal p ro cu rar fru stra r o seu p ag am en to , ficará s u -je ito á m u lta de 10 °/0 sobre o respectivo m o n ta n te .

A rt. 7? A quelle que em ittir cheque sem t e r sufficiente provisão de fundos em p o der do sa c a d o , ficará sujeito á m ulta de 10 °/, sobre o resp e ctiv o m ontante, além de o u tras penas em que p o ssa i n -correr (Codigo P e n a l, art. 338).

A r t . 8? O beneficiário adquire direito a ser p a g o pela provisão de fundos em itten tes em poder do s a -cado desde a d a ta do cheque.

O p agam ento dos cheques far-se-á á m edida q u e forem apresentados.

A presentando-se, ao mesmo tem po, dois ou m a is cheques, em som m a superior aos fundos d isp o n ív e is, serão preferidos os m ais an tig o s. Si tiverem a m e s-m a d ata serão preferidos os de nus-m ero inferio r.

A rt. 9? H avendo differença en tre a q u an tia e m algarism os e a enunciada p o r extenso, será p ag a e s ta .

A rt. 10. O clieque é pagavel á vista, ain d a q u e o não declare. O sacado, porém , poderá ped ir ex -plicações ou g ara n tias p ara p ag a r o cheque m u tilad o ou p artid o , ou que contiver borrões, em endas ou d a ta suspeita.

A rt. 11. S i o p o rtad o r co n sentir que o sacad o m arque o cheque p ara certo dia, exonera todos os o u -tros responsáveis.

A rt. 12. O cheque cruzado, isto é, atra v essad o por dois traços parallelos, só póde ser pago a u m b a n c o ; e se o cruzam ento contiver o nome de u m banco, só a este poderá ser feito o p ag am en to .

A rt. 13. Os bancos e os com m erciantes p o d e -rão com pensar seus cheques p ela fórm a que ju lg a re m conveniente, resp eitad as as disposições d esta lei.

A s cam aras de com pensação (clearinghouse), p o rém , não poderão funccionar sem au cto rização do g o -verno federal.

(23)

/

l'ACULDAr»K I-.IVK1Í n ií D IRIÍITO 25 A rt. 14. O cheque é isento de sello, m as as ca-dernetas que os bancos e com m erciantes em ittirem p ara o m ovim ento de co ntas co rren tes p ag a rão o sello estabelecido n a lei respectiva e p ela fórm a n e lla in

-dicada.

A rt. 15. São applicaveis ao cheque as d isp o si-ções da lei n. 2 .0 4 4 , de 31 de dezem bro de 1908, em tudo que lhe fôr adequado, inclusive a acçao exe-cutiva.

A rt. 16. A s cadern etas, d e q u e tr a ta o a r t . 1.4, conterão im pressos os arts. 6?, 7?, 11? e 12'.'

A rt. 17. R evogam -se as disposições em con-trario .

Cam ara dos D eputados, 10 de ja n e iro de 1911.— Sabino Barroso Junior, p resid e n te .— Estacio de Albuquer-que Coimbra, 1? s e c r e ta rio .—-Antonio Simeão dos Santos Leal, Í2? secretario.

No Senado, foi o projecto á Com m issão de L eg islação e Ju stiça , que a 20 de outubro de 1911 em ittiu o seu p arecer.

P o r este, o projecto atten d e a um a necessidade de h a m uito sentida na nossa legislação deante do desenvolvim ento d as operações de credito em que o cheque in terv ém .

N a analyse da definição do cheque, co n tid a no a rt. 1?, af- firm ou a Commissão que o cheque deve ser sem pre uni titu lo pagavel á vista, porque perm ittiil-o a pra^o é d e sn a tu ra r a sua funcção, tirarlh e as vantagens econom icas com o in stru m e n -to de liquidação e confundil-o com a le tra de cam bio e ou tro s m andatos de pagam ento.

Sobre a capacidade passiva do sacado, a C om m issão não propoz em enda, por não querer innovar os nossos costum es

n este ponto, em bora com bons fundam entos podesse d efender a faculdade de em issão de cheques co n tra qualquer pessoa que te n h a fundos disponíveis do em itten te.

A definição de ftindos disponíveis foi co n siderada h arm ô n ica com os princípios de direito e com a co n sag rad a n as le g isla

-ções m odernas. °

O art. 2? estabelece os requisitos formaes e essenciaes do ch e-que.

(24)

REVISTA DA

P o r m ais procedentes que pareçam as razões da ex ig en cia do lançam ento por extenso do dia e do mez da em issão, esta in - novação, no sen tir da Com m issão, co n traria de tal modo os nossos hábitos com m erciaes, e rep resen ta um a tão pequena g a -ra n tia pa-ra o objectivo collim ado, que ella não aconselhou a sua adopção, sem em bargo de estar acceita pelas leis fran ceza, allem ã e ita lia n a.

O art. 3? contém d o u trin a pacifica. O p razo de oito d ia s fixado pelo art. 4? p ara os cheques de um a p ara o u tra p ra ç a , em paiz de difficeis com m unicações como o nosso, é m uito re - stricto ; pelo que, opinou a Com m issão p ara que fosse elevado a quinze dias.

Salientou a Com missõo um vicio de redacção no a rt. 5?, alin ea 2a., quando prescreve que o p o rtad o r p erd erá tam bem a

acção regressiva contra o em itten te, si este tiver ao tempo suffi-ciente provisão de fundos.

Si o cheque em ittido sem provisão dá lo g ar á m u lta d e 10 °/0, e póde im portar em estellionato (art. 7?), a condicional g ry p h ad a não tem razão de ser, e é um a contradição com o s outros principios acceitos pelo projecto.

O art. 6? não declara em favor de quem é fixada a m u lta de 10 °/0 do vale do cheque, m as o p en sam ento, em face d o debate da Cam ara, é que essa m u lta é estabelecida em favor do portador.

A com m issão offereceu em enda nesse sen tid o aos a r ts . 6? e 7?. por não haver inconveniente em to rn ar isso claro, com o faz o a rt. 837 do Codigo Suisso.

A p ro p o sito d o a rt. 7? observou que a provisão, no d ire ito m oderno, é um dos traço s distinctivos en tre o cheque e a le -tr a de cam bio.

E sta , titu lo de credito, a dispensa, porque a sua circ u la -ção depende só do credito das pessoas que nelle in te rv é m . A quelle, titu lo de p ag am ento, a exige porque a sua circu lação se funda na existencia de m oeda disponivel á vista em p o d er do sacado.

A em issão do cheque sem provisão é, p o is, um abuso d e confiança, um ataque á boa fé do p o rtad o r.

(25)

Querendo dar á circulação do cheque — in stru m e n to de p ag am en to e de liquidação— to d a a seg u ran ça, não p o d ia a le i deixar de p u n ir severam ente o em itte n te que não te n h a fu n d o s em poder do sacado (cod. italian o , a rt. 344).

O preceito da prim eira alin ea do a rt. 8? som ente póde te r dois fins : tran sfe rir ao beneficiário a propriedade da provisão, e d ar-lhe acção contra o sacado.

P o sto que reconheça a existencia, p rin cip alm en te n a F r a n -ça, de opiniões auctorizadas em defesa da th e o ria d atra n sm is* são da propriedade da p ro visão ao beneficiário desde a d a ta da em issão do cheque, a Com missão im pugnou-a p o r inconciliável

c o m a faculdade que tem o sacador de, directam en te ou por

o u tro s saques, esgotar a provisão, sem resp o n sab ilid ad e p a ra o sacado (arts. 6? e 7?), an tes que o beneficiário receba a im -p o rtan cia do cheque.

«A ccrescentarem os, diz Inglez de Souza, que de-fende a th eo ria da não tra n sfe re n c ia , apoiando-se em Y idari, que em v irtude da conta co rren te , as q u an tias recebidas por um co rren tista p assaram a ser da sua propriedade, m ediante um lan çam en to a cred ito de

outro correntista.

Si a provisão ou os fundos disponíveis que o sa -cador tin h a em conta co rren te são, p o r força do con-tracto de conta corrente, propriedade do sacado, como póde o sacador tran sfe rir essa propriedade?» ( Titulos ao portador, p a g . 370, n . 390.)

Nem o u tra é a lição de Supino :

P a ra tran sfe rir um a p ro priedade, é sab id o , é preciso ser p ro p rietário , m as quem em itte um cheque é proprietário da respectiva provisão ?

N ão, certam ente ; não podendo a p ro visão con-sistir senão em um credito do sacador co n tra o saca-do, ou em um a ab ertu ra de credito feita p o r este em favor daquelle.

A inda que a provisão te n h a sido effectiv am en te en tregue pelo em itten te ao sacado, ella não c o n s titu e mais do que um credito de um p ara com o o u tro ; o

(26)

2S REVISTA DA

que é ta n to m ais evidente si, com o acontece ás m ais das vezes, entre o sacador e o sacado existe um a con-ta corrente e este, recebendo um a provisão daquelle, lança-a a credito n a conta.

Si, pois, o sacador não é p ro p rietário da p ro v i-são de fundos, é claro que não póde in v e stir nessa propriedade o tom ador do cheque. (Delia cambiale e deli’assegno bancario, pag\ 408 n. 72<>j.

E ssa. aliás, foi a opinião da C om m issão de C o n stitu ição e Ju stiça da Cam ara, o que não obstou a que acceitasse o d is-positivo que com batem os.

Mas, si este dispositivo não tem por fim reconhecer que a propriedade da provisão se tra n sfe re ao beneficiário, te rá por effeito dar a este acção contra o sacado ?

Tam bem n ão . A p ró p ria Com m issão da C am ara disse no seu parecer :

« ...a em issão do cheque não dá lo g ar se-não a duas ordens de relações ju rid ic as : um a en tre o em itten te e o sacado e o u tra en tre o em itte n te e o tom ador do titu lo . C ontra o sacado nenhum a acção tem o portador.

E ’ a lição dos m ais in sig n es ju r is ta s .

O ue elle (o p o rtad o r do cheque) não póde exer-cer acção cam bial algum a co n tra o sacado, p arece cla-ríssim o, desde que a firm a d este não fig u ra no titu lo . (Supino, op. « V .,pag. 407, n. 72f>).

O p o rtad o r não póde co ag ir o sacado a p ag ar-lh e o cheque.

N o caso de não execução da ordem de p ag am en -to, elle deve lim itar-se a exercer acção regressiv a tra o passador que, este sim , tem acção d irecta con-tra o seu devedor, não já pelo cheque, m as p a ra co-bran ça da divida, si divida e x iste ... (Inglez de Sou-za, op. cit., n. 391, p a g . 370».

O ra, si a propriedade da provisão não se tran sfe re ao p o r-tador, e si este não tem acção cambial co n tra o sacado, que d i-reito é esse que lhe p retende asseg u rar o a rt. 8? alinea 1? do projecto de ser pago pela provisão ?

(27)

w

l-‘ ACUI,DAnE T.TVRK DK DIREITO

A Commissão, por esse m otivo, propoz a sup p ressão de tal dispositivo, sem im p u g n ar os outros preceitos do m esm o artig o p o rq u e contêm as m elhores providencias.

T am bem considerou que a declaração por extenso da q u an -tia a p agar, reclam ada pelo a r t. 9?, é a que m elhor exprim e a v o n tad e do em ittente, e a que m ais asseg u ra os d ireito s dos que intervém no cheque—endossantes, avalistas e sacado por isso que a Somma declarada pot extenso é o m ais difficil de ser

a lte ra d a do que a lançada em algarismos. O art. 10 contem duas p artes.

N a prim eira, confirm a-se a conceituação ju rid ic a do ch e-que, constante do a rt. 1?, como ordem de p ag am en to á v ista.

T re s hypotheses podem occorrer quanto ao prazo de p a g a -m en to do cheque: a) declaração expressa de que elle é p agavél á vista, caso em que se conform a com a lei; b) au sên cia de d ecla-raç ão do prazo p ara o pagam ento; c) declaração de qUe o cheque é pagavel em certo prazo.

O projecto, accrescentou a Com m issão, seg u iu a m elhor d o u trin a , porque depois de te r declarado que o cheque é sem -p re um a ordem de -pagam ento à vista, determ in a que a fa lta de declaração de prazo significa que o titu lo é exigivel á v ista.

N este ponto, está o projecto de accordo com o C odigo S uis- so (a rt. 833), m as delle diverge quanto ao cheque que m arque p raz o .

Segundo o citado Codigo, o cheque é sem pre pag av el á vis-ta , ain d a que indique outro pra:;o de vencim ento.

P elo projecto, o titulo que marque pra^o de pagamento não é cheque; será, conform e o caso, um titu lo de ob rig ação civil ou com m ercial, sujeito ás reg ras do direito com m um .

Si a não declaração do prazo estabelece a presum pção ju r is e t de jure de que o em itten te se conform ou com a exigencia

d a lei, de ser o titu lo pagavel á vista, a declaração desse p razo , c o n tra o preceito legal relativo ao cheque, significa que o e m it-te n it-te e o tom ador tiveram em vista o u tra obrigação que n ão a re su lta n te do cheque.

P o r esse m otivo, preferiu a Com m issão a d o u trin a do p ro -je c to á do Codigo Suisso.

(28)

REVISTA DA

P o sto quep areça, á p rim eira vista, desnecessário o a rt. 11 em face do disposto nos a rts . 5? e 15., observou a C om m issão que assim não é, bem ponderado o assum pto.

Com effeito, o a r t. 5? prevê a circum stancia da fa lta d e apresentação a p agam ento no p ra io legal; ou de falta de p r o -testo por não pagam ento do cheque.

O art. 15. m anda applicar ao cheque as reg ras rela tiv a s ú le ttra de cam bio, entre as quaes não se en co n tra a h y p o th e se do art. 11.

E ste refere-se ao caso em que o p o rtad o r, tendo o d ire ito de exigir o pagam ento á vista (arts 4? e 10.) ou de p r o te s ta r por falta delle (art. 5?), não só não exerce esse d ireito , co m o consente que o sacado, marcando dia para o pagamento, m o d ifiq u e a natu reza do titu lo , p o r meio de um a novação a que são e x tra - nhos o sacador e os interv en to res, que não podem ficar s u je ito s

ás respectivas consequencias.

A ’ funcção do cheque repugnam essas dilações c o m b in a -das e acceitas en tre sacado e po rtad o r, e, p o rtan to , su je ite -s e este ás consequencias do seu voluntário accordo com o sa c a d o , certo de perder a sua acção contra o em itten te, os en d o s sa n te s e avalistas.

Os arts 12 e 13 legalizam os chequos cruzados e a in s titu i-ção das camaras de compensai-ção.

O cheque cruzado, de origem ingleza (crossed chek), é, co m o diz o projecto, um titu lo atravessado por dois traço s p a ra lle lo s .

O cruzam ento indica que o titu lo só póde ser pago a u m banco, o que o g ara n te co n tra os p erigos do fu rto , ex travio o u perda.

O p o rtad o r do cheque cruzado que quizer receber a r e s p e -ctiva im portancia, te rá de tran sferil-o a um banco q u alquer o u ao banco nelle designado como auctorizado a cobral-o.

Sobre esse titu lo dá clara e succin ta n o ticia o Dictionnairc financierde M eliot (E d . de 1911):

«Todo com prador en tre g a ao vendedor um c h e -que sobre o qual traç a duas lin h as p arallelas, v e rti- caes ou diagonaes; o vendedor escreve entre estes d o is traços o nome do seu banqueiro, a quem e n tre g a o titulo.

(29)

k a c u i.d a d e l i v k e DE D IR EITO

D iariam ente, o vendedor e n tre g a ao seu b an q u e i-ro os cheques recebidos pelas suas vendas do dia, com os quaes não m ais se preoccupa; sabe que estes cheques não serão pagos pelo com prador, assim como não te rá de p ag ar os que elle m esmo em ittiu p a ra as suas próprias com pras, o que pouco lh e im p o rta, porque sabe que o seu banqueiro tem sem pre á sua disposição o saldo do balanço en tre as suas com pras e as suas vendas.

T a l e o system a do cheque cruzado (b arré), que. generalizado n a In g la te rra , em proporções eno rm es e crescentes, é adoptado p o r todas as classes d a socie-dade . . . »

Ü cheque cruzado, porém , só póde pro d u zir todas as suas vantagens com a creação da cam ara de com pensação (clearing- house, chambre, de compensation, stança di compensazjone, etc.)

O clearing-house é a in stitu ição pela qual, sem tra n sp o rte de num erário, os bancos liquidam os cheques de que são p o rta -dores (cre-dores) e de que são sacados (deve-dores).

Subordinada á auctorização do G overno p ara fu n ccio n ar, é de esperar que a in stituição da clearing-house p reste serviço á nossa praça e aos nossos bancos, assegurando ao cheque a sua funcçãode in strum ento de liquidação— :<in m odo chè il cheque fmisce coll, esser pagato se n za tra n sp o rto m ateriale di denaro con un sim p lic etratto cli penna» (Supino, op. cit., in tr o d ., n. X X II, pag. 19).

O a rt. 15 m anda applicar ao cheque os p receitos da lei n. 2.044 de 31 de dezem bro de 1908, no que lhe fôr adequado, isto é, m anda adoptar, quanto ao cheque, no que lhe fôr applicavel, os preceitos que regem a le tra de cambio

E sse tam bem é o p rincipio do Codigo S uisso, a r t. 836.

O Codigo Italian o declara quaes os preceitos relativ o s á letra de cam bio applicaveis ao ch eq u e.

São os que se referem ao endosso, aval, firm as de p esso as incapazes, firm as falsas ou falsificadas, v en cim ento, p ag a m e n -to. protesto, acção e letra de cam bio.

(30)

A Commissão considerou preferível o system a do p ro je c to , justificável porque si en tre o cheque e a le tra de cam b io h a

differenças essenciaes, h a tam bém gran des an alogias.

A s differenças são regidas pelo projecto; as an alo g ias p e la lei cam bial.

A pprovando o p rojecto, a Com m issão propôz as s e g u in te s em endas:

I

A o a rt. 2? letra C su b stitu a-se pelo s e g u in te : «a d ata, com prehendendo o logar, dia, mez e a n n o de em issão.»

II

A o art. 4?, onde se diz «oito dias» diga-se: «15 dias.»

III

A os a r t s . 7? e 8?, depois das palavras multa de io °/0 diga-se: «em favor do beneficiário .»

IV

Ao a rt. 5?, alinea 2“, su b stitu a-se pelo s e g u in te : « perderá tam bém co n tra o em itten te si, sem c u lp a deste, deixar de existir a provisão de fundos. »

V

Ao a rt. 8?, supprim a-se to d a a alin ea 1? d esde a s palavras — o beneficiário — até ás palav ras data do cheque. Ouvida a respeito, a Com m issão de F in an ç as do S e n a d o deu em 20 de ju n h o de 1912 o seu assen tim en to ás e m e n d a s sob os núm eros I I e I I I , Sem revelar os m otivos de d is c o r- dancia das outras em endas, e, n a p arte final do seu p a re c e r, ju lg o u preferível acceitar in teg ralm en te, e re je ita r as e m e n d a s, p ara evitar a volta á o u tra casa do C ongresso de um a p r o p o -sição «votada em h arm onia de v ista com o P o d er E x e c u tiv o , que o solicitou officialm ente, e que vem p reen ch er um a la c u n a de nossa legislação, system atizando um in stitu to ju ríd ic o d e incontestável im p o rtan cia no m om ento presente.»

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FACULDADE LIV R E DE DIREITO 33 O projecto foi discutido no Senado ap en as pelo d r. L eo -poldo de Bulhões n a sessão de 20 de ju lh o .

Declarou que o projecto enviado á C am ani pelo (jo v ern o não é de sua lavra ; foi elaborado a pedido seu pelo d r. U bal- dino do A m aral, então P resid en te do B anco do B rasil.

P elo seu conceito, a proposição em debate p reen ch e um a lacuna da nossa legislação com m ercial, p re sta um in estim áv el serviço ao com mercio e á in d u stria , e p a s sa ra a fig u rar ao lado da lei de 1908 sobre a letra de cam bio, como um a das m elho-res leis do paiz.

Depois de longas considerações sobre o desenvolvim ento do credito bancario na R epublica A rg e n tin a e do respectivo confronto com o Brasil , observou que, sem em bargo de a la rg a -da a capaci-dade passiva do sacado, a co n ta dos cheques será sem pre estabelecida com os B ancos, e, assim , o desenvolvi-mento do in stitu to creado pelo projecto dependerá d a expan-são do credito bancario.

Sem em bargo de num erosas as em endas e da m odifica-ção na feiodifica-ção do projecto, reconheceu que foram m u ito bem fundam entadas, inspiradas por d outrinas liberaes, e co n sag ra-das nas legislações de nações de g ran d e cu ltu ra ju rid ic a , além de sustentadas por com m ercialistas notáveis.

N a analyse da proposição, di ;e o illu stre sen ad o r que o cheque é realm ente um a ordem de p agam ento á v ista.

K’ titu lo cujo pagam ento não póde ser deferido ; deve ser im m ediato, p ara se não a lterar a sua n atu reza.

A Gamara extendeu a faculdade p assiva do cheque aos com m erciantes, considerando, aliás m uito bem , que estes já gosavam deste direito h a mais de meio seculo en tre nós.

E m vez de «saldo disponivel», a C am ara em endou «fun-do disponivel». A Com m issão de Ju stiça da C am ara precisou e com pletou o pensam ento do projecto.

Com effeito, um freguez de um a casa com m ercial ou b a n -caria póde retira r fundos que te n h a nesse estab elecim en to , em virtude de saldos de conta co rrente de m ovim ento, de saldos de contas correntes co ntractuaes, ou p rov enientes da a b e rtu ra de um credito.

(32)

34 REVISTA DA

E m seguida, occupouse o em inente senador com a d i s -cussão havida na C am ara sobre os dem ais artig o s do p r o je c to .

E ste foi a 24 de ju lh o approvado na te rc eira discu ssão e, rem e ttid o á sancção, foi convertido no D ecreto n . 2 .5 9 1 , d e 7 de agosto de 1912.

§ 55. P a r a não alo n g ar em dem asia este trab a lh o , m e n -cionarem os em resum o apenas as legislações daquelles p a iz e s com os quaes m anterem os mais estreitas relações m e rc a n tis .

F r a n ç a. — O cheque é o escripto que, sob a fó rm a d e

m andato de pagam ento, serve ao sacador p a ra re tira r, em p r o -veito proprio ou de outrem , todo ou p arte dos fundos d isp o - niveis creditados n a sua conta (L ei de 14 de ju n h o de 1865, a r t. 1?).

E ’ pagavel na m esm a ou em diversa praça.

Deve m encionar o logar da em issão, e trazer a d ata l a n -çada por extenso (L ei de 19 de fevereiro de 1874).

O legislador não fe^ referencia ao requisito da in d ic a ç ã o do m ontante, e dispensou a do valor.

P ela falta de d ata, ou pela d ata falsa, no cheque p a g a v e l na mesma praça, fica o em itten te sujeito á m u lta de 6 °/0, n u n -ca inferior porém a 100 francos.

A m esm a m u lta é im posta ao endossador ou ao p o rta d o r do cheque pagavel em praça diversa com d ata p o ste rio r á época do endosso ou da apresentação (L ei de 1874, cit. a rt. 6?).

T am bem incorre n esta m u lta o em itten te do cheque, se m que exista provisão prévia e disponivel em poder do sa c a d o (L ei de 1874 cit., art. 6?).

N a m esm a praça, o cheque deve ser apresen tad o ao p a -gam ento dentro de 5 dias, em p raça diversa, dentro de 8 d ia s (L ei de 1865 cit., art. 5?).

A falta da apresentação do titu lo ou a do pro testo , o u a da respectiva notificação, pela recusa do pagam ento, elim in a o direito de regresso co n tra os endossadores, e tam bem c o n tra o sacador que houver feito a provisão.

Além destas, são applicaveis ao cheque as d i s p o s i ç õ e s relativas as letras de cam bio (L ei de 1865 c it., arts. 4o e 5 o)

E stas leis de 1865 e de 1874 não produziram os effeito s visados pelo legislador.

(33)

FACULDADE LIV R E DE DIREITO

Os particulares conservaram o hab ito de effectuar os seus pagam entos em num erário, e os cheques co n tin u aram a te r restricta circu lação ; explicável o facto, en tre o u tra s causas, pela grande quantidade de notas b an carias, p ela fraca p e n a li-dade applicada ao em itten te do cheque sem a p ro visão, e pela facilidade das subtracções de taes titu lo s.

P a ra prevenir estes abusos, a lei de 30 de dezem bro de 1911 determ ina que o cheque atravessado p o r duas b a rra s pa- rallelas não possa ser sacado senão sobre ban q u eiro , e som en-te por banqueiro possa ser ap resentado ao p ag am en to .

O cruzam ento póde ser feito pelo sacad o r ou pelo p o r-tad o r.

E ’ geral, quando não existe en tre as duas b arras d esig n a-ção algum a ; é especial, quando en tre ellas é in d icado o nom e de um banqueiro.

O cruzam ento geral póde ser tran sfo rm ad o em cru zam en -to especial.

Com o cruzam ento especial, o cheque som ente p elo b a n -queiro designa do póde ser ap resentado ao p ag am en to .

Não é facultado ao portad o r elim inar o cru zam en to ou o nome do banqu eiro designado.

N ão fica e::onerado o sacado que p ag a o cheque com o cruzam ento geral á pessoa que não é ban q u eiro , e o cheque com o cruzam ento especial á pessoa differente do b an q u eiro de-sig n ad o .

São estas as disposições da lei de 30 de dezem bro de 1911, vivam ente criticada por não d eterm in ar com exactidão a .accepção do vocábulo banqueiro, e p o r não te r estab e

le-cido sancção penal energica co n tra aquelles que su p p rim irem os cruzam entos dos cheques.

Al l e m a n iia A lei de 11 de m arço de 1908 não define o cheque.

Indica os requisitos essenciaes : a) a denom inação de ch e-que ; b) o m andato do sacador ao sacado de p a g a r d e te rm in a -da somma ao portador, retira d a do fundo disponivel em seu p o d e r; c) a assig n atu ra do sacador ; d) a indicação do lo g a r e do dia da em issão.

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