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Fatores associados à depressão entre jovens de 18 a 29 anos no Brasil em 2013

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Fatores associados à depressão entre jovens de 18 a 29 anos no Brasil em 2013

RESUMO

O objetivo desse estudo é identificar a associação entre depressão e fatores sociodemográficos (sexo, idade, escolaridade, raça/cor) e de estilo de vida (prática de atividades físicas) para a população de jovens de 18 a 29 anos no Brasil em 2013. Utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, foram analisados 14.321 casos de jovens desse grupo etário, tendo sido empregados modelos de regressão de Poisson para identificar a associação entre depressão e fatores selecionados para essa subpopulação. Observou-se que a razão de prevalência do grupo etário 25 a 29 anos foi 41% maior com relação ao grupo etário mais jovem, de 18 a 24 anos (RP=1,41; p<0,05). Ser do sexo masculino revelou-se fator associado protetor ao recebimento de diagnóstico de depressão (RP=0,42; p<0,05). A razão de prevalência de diagnóstico de depressão entre jovens que frequentavam escola foi 33% menor com relação àqueles jovens entre 18 e 29 anos que não frequentavam (RP=0,67; p<0,05). A razão de prevalência de diagnóstico de depressão entre jovens autodeclarados pardos, pretos ou indígenas foi 30% menor com relação àqueles jovens entre 18 e 29 anos autodeclarados brancos ou asiáticos (RP=0,70; p<0,05) e a razão de prevalência entre aqueles que não usam tabaco 37% menor com relação àqueles que disseram fumar diariamente ou menos que diariamente (RP=0,63; p < 0,05). De um modo geral, pode-se dizer que fatores como sexo e raça/cor foram mais a expressão de comportamentos com relação à procura de serviços médicos e acesso aos serviços de saúde, respectivamente, e que a exposição ao tabaco pode ser também um fator associado importante à depressão também entre jovens.

Palavras-Chave: Juventude; Depressão; Fatores sociodemográficos; Estilo de Vida;

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INTRODUÇÃO

Estima-se que em todo o mundo o número de pessoas com depressão já passa de 300 bilhões, sendo essa doença não somente a principal responsável pelos suicídios em todo o mundo, como também causa de 7,5% de anos vividos com incapacidade em escala global (WHO, 2017). No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde (2013) estima que 7,6% das pessoas de 18 anos ou mais de idade receberam diagnóstico de depressão por profissional de saúde mental naquele ano, o que representa 11,2 milhões de pessoas. Estima-se também, que a carga de desordens depressivas na população mundial seja maior na população em idade produtiva (Ferrari et al, 2013), o que pode se refletir em perdas econômicas, tendo em vista o adoecimento e a retirada precoce de uma parcela importante de trabalhadores do mercado de trabalho. O objetivo do presente estudo é identificar a associação entre depressão e fatores sociodemográficos (sexo, idade, escolaridade, raça/cor) e de estilo de vida (prática de atividades físicas) para a população de jovens de 18 a 29 anos, utilizando dados da amostra representativa para todo o Brasil da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013.

MÉTODOS

Na PNS 2013, a população respondente de 18 anos ou mais foi inquirida se recebeu diagnóstico de depressão por parte de algum médico ou profissional de saúde mental (como psiquiatra ou psicólogo). Assim, a variável dependente assumiu o valor um (1) se o respondente de 18 a 29 anos recebeu diagnóstico de depressão por parte de algum médico ou profissional de saúde mental, e valor igual a zero (0) no caso contrário. Chegou-se, portanto, a uma base de dados constituída por 14.321 casos de jovens de 18 a 29 anos, para todo o Brasil, em que 482 deles reportaram ter recebido diagnóstico para depressão. Foi ajustado modelo de regressão de Poisson, que normalmente é utilizado em estudos de corte transversal e quando se pretende analisar a ocorrência de um pequeno número de eventos e em função de um conjunto de variáveis explicativas. Para considerar o desenho amostral complexo da PNS, utilizou-se no cálculo das proporções e estimativas dos intervalos de confiança, bem como das razões de prevalência (RP) dos modelos de regressão, comandos específicos da biblioteca svy para amostras complexas, disponível no pacote estatístico STATA, versão 12. Com relação aos fatores associados selecionados foram incluídos nas análises: sexo do respondente, grupo etário, se frequenta escola,

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raça/cor, frequência de consumo semanal de bebida alcóolica, idade com que começou a consumir bebida alcóolica, se pratica atividade física e se atualmente faz uso de tabaco. Para seleção das variáveis do modelo multivariado, procedeu-se a uma análise univariada utilizando modelos de regressão de Poisson, sendo elegível para compor o modelo multivariado aqueles fatores associados que alcançassem valor de p inferior a 0,25. Nesse procedimento, as variáveis frequência de consumo semanal de bebida alcóolica e idade com que começou a consumir bebida alcóolica não alcançaram esse valor de significância estatística, e, portanto, não foram incluídas no modelo multivariado. O próximo item apresenta os principais resultados da análise descritiva e do modelo de regressão de Poisson multivariado ajustado.

RESULTADOS

Conforme anteriormente mencionado, dos 14.321 casos de jovens de 18 a 29 anos analisados, apenas 482 deles reportaram ter recebido diagnóstico para depressão, o que representa uma parcela de apenas 3,37%.

Tabela 1: Distribuição percentual de jovens de 18 a 29 anos que declararam já ter recebido diagnóstico de depressão por parte de algum médico ou profissional de saúde mental (como psiquiatra ou psicólogo), por fatores selecionados, com indicação do intervalo de confiança (IC) de 95%, Brasil,

2013 (N=14.321).

Fatores selecionados N % IC(95%) N % IC(95%) N %

Grupos etários 18 a 24 anos 202 3,25% 2,54 - 4,16 7.621 96,7% 95,8 - 97,5 7.823 100 25 a 29 anos 280 4,89% 4,05 - 6,00 6.218 95,1% 94,1 - 96,0 6.498 100 Sexo Feminino 356 5,36% 4,44 - 6,46 7.719 94,6% 93,5 - 95,6 8.075 100 Masculino 126 2,39% 1,78 - 3,21 6.120 97,6% 96,8 - 98,2 6.246 100 Se frequenta escola 100 Não 379 4,25% 3,55 - 5,09 10.699 95,7% 94,9 - 96,5 11.078 100 Sim 103 2,64% 1,94 - 3,57 3.140 97,4% 96,4 - 98,1 3.243 100 Raça/cor 100 Branco e amarelo 234 4,66% 3,86 - 5,61 5.060 95,3% 94,4 - 96,1 5.294 100

Pretos, pardos e indígenas 248 3,28% 2,55 - 4,21 8.779 96,7% 95,8 - 97,5 9.027

Se nos últimos três mese praticou algum tipo de

exercício físico ou esporte 100

Não 299 4,34% 3,58 - 5,24 8.387 95,7% 94,8 - 96,4 8.686 100

Sim 183 3,31% 2,53 - 4,32 5.452 96,7% 95,7 - 97,5 5.635

Consumo semanal de bebida alcóolica 100

Não bebe nunca 261 4,09% 3,30 - 5,07 7.772 95,9% 94,9 - 96,7 8.033 100

De 1 a 2 vezes na semana 112 3,20% 2,35 - 4,36 2.822 96,8% 95,6 - 97,7 2.934 100

3 vezes na semana ou mais 22 3,86% 2,06 - 7,12 627 96,1% 92,9 - 97,9 649

Idade com que começou a consumir bebida alcóolica 100

Antes dos 18 anos 90 3,19% 2,32 - 4,36 2.430 96,8% 95,6 - 97,7 2.520 100

Com 18 anos ou mais 61 3,69% 2,34 - 5,78 1.374 96,3% 94,2 - 97,7 1.435

Se atualmente faz uso de tabaco 100

Diariamente/Menos que diariamente 72 4,99% 3,40 - 7,23 1.475 95,0% 92,7 - 96,6 1.547 100

Não fuma atualmente 410 3,75% 3,16 - 4,44 12.364 96,3% 95,6 - 96,8 12.774 100

Fonte dos dados básicos: PNS, 2013.

Se já recebeu diagnóstico de depressão por parte de algum médico ou profissional de saúde mental (como psiquiatra ou psicólogo)

Sim Não Total

Entre os principais resultados, conforme é possível verificar na Tabela 1, que compara para cada fator selecionado a proporção de jovens que receberam/não

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receberam diagnóstico para depressão, entre aqueles que disseram “sim” cerca de 5% deles eram do sexo feminino, 4,25% não frequentavam a escola e 4,66% correspondiam a raça/cor branco e amarelo. Sobre o uso atual de tabaco, entre aqueles que disseram fazer uso dessa substância diariamente/menos que diariamente o percentual de jovens que disseram ter recebido diagnóstico de depressão foi maior (4,99%) em relação àqueles que disseram que não fumavam naquele momento (3,75%). A Tabela 2 apresenta as razões de prevalência do modelo multivariado de regressão de Poisson. Verifica-se que com exceção da prática de atividade física, todos os demais fatores selecionados (e que alcançaram p valor menor que 0,25 na análise univariada, conforme mencionado na metodologia) se associaram ao recebimento de diagnóstico de depressão entre os jovens. Se revelaram fatores associados protetores a esse diagnóstico ser do sexo masculino (RP=0,42; p<0,05), frequentar escola (RP=0,67; p<0,05), se autodeclarar preto, pardo ou indígena (RP=0,70; p<0,05) e não fumar atualmente (RP=0,63; p < 0,05).

Tabela 2: Razões de prevalência (RP) multivariadas de fatores selecionados para diagnóstico de depressão por parte de algum médico ou profissional de saúde mental (como psiquiatra ou psicólogo) entre jovens de

18 a 29 anos, Brasil, 2013. RP IC (95%) Grupos etários 18 a 24 anos - 25 a 29 anos 1,41** 1,03 - 1,94 Sexo Feminino - Masculino 0,42** 0,29 - 0,62 Se frequenta escola Não - Sim 0,67** 0,46 - 0,98 Raça/cor Branco e amarelo -

-Pretos, pardos e indígenas 0,70** 0,51 - 0,94

Se nos últimos três meses praticou algum tipo de exercício físico ou esporte

Não -

Sim 0,98 0,71 - 1,36

Se atualmente faz uso de tabaco

Diariamente/Menos que diariamente -

-Não fuma atualmente 0,63** 0,42 - 0,97

Teste de Wald

Valor de F Valor de p

Fonte dos dados básicos: PNS, 2013. *valor de p igual ou menor que 0,10 **valor de p igual ou menor que 0,05

6,46 0,0000

Fatores Selecionados Modelo (N=14.321)

A razão de prevalência do grupo etário 25 a 29 anos foi 41% maior com relação ao grupo etário mais jovem, de 18 a 24 anos, se mostrando, portanto, um fator associado deletério (RP=1,41; p<0,05).

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O objetivo deste trabalho consistiu em identificar fatores sociodemográficos e de estilo de vida associados à depressão. Entre os resultados encontrados, verificou-se que o sexo masculino e a raça/cor preta, parda ou indígena como fatores protetores ao recebimento de diagnóstico para essa doença. No caso do resultado encontrado para o fator associado sexo, ele pode ter sido mais o reflexo do comportamento masculino em procurar menos os serviços de saúde do que as mulheres, em vez de uma menor exposição deles a essa doença. E no caso da raça/cor, possivelmente, o menor acesso aos serviços de saúde para a população de raça cor preta/parda/indígena, que representam, na média, parcela da população com menores recursos socioeconômicos, pode ter se refletido no resultado encontrado. Destacou-se ainda o fato de que não usar tabaco no momento atual representou fator protetor ao recebimento de diagnóstico para depressão, indicando que a exposição a essa substância pode ser um fator importante para esse tipo de adoecimento, um resultado condizente com o que se tem verificado para outros grupos etários mais velhos (ELSMARY et al, 2014).

BIBLIOGRAFIA

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Referências

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