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Modelo para a gestão dos impactos socioambientais no setor de distribuição de energia elétrica: o estudo de caso COELBA

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(1)

SALVADOR

2011

(2)

FREDERICO NACOR FRAZÃO CARVALHO

MODELO PARA A GESTÃO DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

NO SETOR DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA:

O ESTUDO DE CASO COELBA.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Industrial - PEI, Faculdade Politécnica, Universidade Federal da Bahia, para obtenção de grau de Mestre em Engenharia Industrial.

Orientador: Prof. Dr. Ednildo Andrade Torres Co-Orientador: Profa.Dra. Sonia M. S. Gomes

Salvador - BA 2012

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C331 Carvalho, Frederico Nacor Frazão

Modelo para a gestão de impactos socioambientais no setor de distribuição de energia elétrica: o estudo de caso COELBA / Frederico Nacor Frazão Carvalho. – Salvador, 2012.

107 f. : il. color.

Orientador: Prof. Dr. Ednildo Andrade Torres

Co-orientador: Profa. Dra. Sonia Maria da Silva Gomes Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2012.

1. Responsabilidade social da empresa. 2. Impacto ambiental. 3. Serviços de eletricidade - Aspectos sociais. 4. Sustentabilidade. I. Torres, Ednildo Andrade. II. Gomes, Sonia Maria da Silva. III. Universidade Federal da Bahia. IV. Título.

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MODELO PARA A GESTÃO DE IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO SETOR DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA: O ESTUDO DE CASO COELBA.

FREDERICO NACOR FRAZÃO CARVALHO

Dissertação submetida ao corpo docente do programa de pós-graduação em Engenharia Industrial da Universidade Federal da Bahia como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de mestre em Engenharia Industrial.

Examinada por:

Prof. Ednildo Andrade Torres ______________________________________

Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil

Profª. Sonia Maria da Silva Gomes _________________________________

Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil

Prof. André Luiz C. Valente _________________________________________

Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil

Prof. Cláudio Osnei Garcia ________________________________________

Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil

Salvador, BA - BRASIL Abril/2012

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Dedico este trabalho aos meus filhos, Gabriela e Gustavo Carvalho, para que seja uma fonte de inspiração em suas jovens caminhadas.

Aos meus pais, Evandro e Maria dos Anjos, pelo amor, apoio, confiança e formação ética e moral, a quem dedico este trabalho e devo a minha vida.

A minha esposa, Theila, a quem reneguei um tempo precioso na realização deste trabalho.

As minhas irmãs, Erika e Larissa, que sempre torceram pelo meu sucesso.

Aos meus familiares, em especial a minha avó Denise Frazão, pelo carinho e fraternidade.

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AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho tornou-se possível graças às contribuições de diversas pessoas, a quem dedico meus sinceros agradecimentos. Na impossibilidade de citar todos os nomes, gostaria de agradecer em especial àqueles que participaram mais diretamente do processo de conclusão desta dissertação:

À Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA) pela oportunidade de participar do Mestrado em Engenharia Industrial promovido pela UFBA, através de um projeto de pesquisa e desenvolvimento aprovado pela ANEEL.

Aos professores Dr. Ednildo Andrade Torres e Dra.Sônia Gomes, meus orientadores de mestrado, pelos conselhos, orientação e oportunidades a mim concedidos.

A todos os professores, alunos e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial da UFBA, por possibilitarem meu desenvolvimento acadêmico-científico e pelas experiências compartilhadas.

Aos meus colegas de trabalho do Departamento de Planejamento e Controle da COELBA, pela confiança, incentivo e apoio.

Em especial ao colega de trabalho Prof. Dr. Claudio Osnei Garcia, grande amigo e incentivador desta caminhada acadêmica, pelas suas valiosas contribuições.

(7)

RESUMO

A sociedade tem requerido das empresas uma prestação de contas no sentido de demonstrar que além de obterem lucros, também são capazes de agregar valor à qualidade de vida de seus funcionários e da comunidade onde estão inseridas. Esta dissertação surge dessa necessidade de se apresentar um método prático para gestão das atividades de uma empresa com enfoque nos impactos sociais e ambientais. O objetivo deste estudo é apresentar o modelo para gestão de impactos socioambientais desenvolvido e aplicado pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA. A COELBA é uma empresa distribuidora de energia elétrica cuja concessão está restrita ao estado da Bahia no nordeste do Brasil. Para o desenvolvimento do trabalho, adotou-se como procedimentos de pesquisa o estudo de caso, a pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e entrevistas semi- estruturadas. A pesquisa adota como referências conceituais as dimensões propostas pelo modelo explicativo da RSC – Responsabilidade Social Corporativa - do Instituto Ethos, e também, as variáveis contempladas pelo modelo holístico do Triple Botton Line, utilizado pelo Banco Mundial. A aplicação deste modelo permite identificar, em cada um dos processos de negócio da COELBA, as atividades que possuem alto impacto social e ambiental. A utilização deste modelo na empresa resultou em maior controle dos custos associados a essas atividades, ajustes nos documentos responsáveis pela normalização dessas atividades, ajustes nas práticas de auditoria interna e a seleção de indicadores para o monitoramento das atividades. Os resultados alcançados com a implantação do método indicam que o mesmo pode ser utilizado pelas organizações do setor elétrico brasileiro, como instrumento para mitigar os impactos socioambientais gerados por suas atividades. O presente trabalho não esgota a discussão sobre a gestão da responsabilidade social corporativa, mas pretende contribuir para a evolução das práticas vinculadas ao tema.

Palavras-chave: Responsabilidade social corporativa; Impactos socioambientais;

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ABSTRACT

Society requires accountability from Companies to demonstrate that, in addition the pursuit of profit, they are capable of adding value to the quality of life of their employees and the community in which they operate. This study emerged from a need to present a practical method for the management of company activities focused on their social and environmental impacts. The aim of the study is to present the management model for socio-environmental impacts developed by and applied to the Electricity Company of the State of Bahia (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA). COELBA is an electric power distribution company whose concession is restricted to the state of Bahia in the northeast of Brazil. In developing this work we adopted the research procedures of: case study, documental research, bibliographic research and semi-structured interviews. The study adopted as its conceptual framework the model proposed by the ETHOS Institute’s Corporate Social Responsibility (CSR) explanatory model as well as variables from the Triple Bottom Line holistic model used by the World Bank. The application of this model allows us to identify those activities in each of COELBA’s business processes which result in high social and environmental impact. The use of this model within the company resulted in a greater control of costs associated with these activities, adjustments to the documents responsible for the regularization of these activities, adjustments to internal audit practices and the selection of indicators to monitor activities. The results achieved through the deployment of this method indicate that it could also be utilized by other organizations in the Brazilian Electricity Sector as an instrument to mitigate the socio-economic impacts generated by their activities. This work does not provide an exhaustive discussion of corporate social responsibility management, but rather aims to contribute to an evolution of practices related to this theme.

Key Words: Corporate Social Responsibility; Socio-environmental impacts;

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo bidimensional de RSC 26

Figura 2 - Modelo de três temas centrais de RSC 27

Figura 3 - Mapa de Processos da COELBA 58

Figura 4 - Mapa de Estratégias da COELBA 2011 59

Figura 5 - Relação entre Estratégias e Processos 59

Figura 6 - Exemplo de Fluxograma de Processo da COELBA 60

Figura 7 - Estrutura do Programa Energia para Crescer 65

Figura 8 - Fluxograma do Modelo de RSC da COELBA 67

Figura 9 - Impactos Socioambientais das atividades do Processo VR01 71

Figura 10 - Exemplo de Ficha de Descrição dos Indicadores 75

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Exemplo de Subdivisão dos Temas de Responsabilidade Social 31

Quadro 2 - Critérios para a seleção das entrevistas 53

Quadro 3 - Classificação dos impactos socioambientais avaliados pela COELBA 66

Quadro 4 - Exemplo de Mapeamento dos Processos da COELBA 68

Quadro 5 - Exemplo de utilização da Matriz de Seleção 70

Quadro 6 - Parte da lista básica de indicadores 71

Quadro 7 - Parte da lista de indicadores socioambientais dos processos 72

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Ordenamento dos Processos da COELBA segundo o número de altos

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 14

1.1 TEMA E ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA ... 16

1.2 OBJETIVOS ... 16

1.3 JUSTIFICATIVAS ... 17

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ... 19

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 20

2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC)... 20

2.2. MODELOS EXPLICATIVOS DE RSC... 25

2.2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ... 25

2.2.2 O MODELO ETHOS DE RSC ... 27

3. SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO ... 33

3.1 HISTÓRICO ... 33

3.2. A RESTRUTURAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO ... 38

3.3 O NOVO MODELO INSTITUCIONAL DO SETOR ELÉTRICO ... 41

3.4 A COELBA ... 47

4. METODOLOGIA DO TRABALHO ... 51

4.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 51

4.2 COLETA E ANÁLISE DE DADOS ... 52

4.3 UNIDADE DE CASO... 55

5. MODELO DE GESTÃO DA RSC: O CASO DA COELBA ... 57

5.1 MODELO DE GESTÃO DE NEGÓCIO ... 57

5.1.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ... 57

5.1.2 GESTÃO POR PROCESSOS ... 61

(13)

5.2 PROGRAMA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL “ENERGIA PARA

CRESCER” ... 63

5.3 O MODELO DE RSC DA COELBA ... 65

6. CONCLUSÕES ... 78

REFERÊNCIAS ... 81

ANEXO A - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo SR01 .... 87

ANEXO B - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo SR02 .... 88

ANEXO C - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo SM01 ... 89

ANEXO D - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo SM02 ... 90

ANEXO E - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo SM03 .... 91

ANEXO F - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo SM04 .... 92

ANEXO G - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo SM05 ... 93

ANEXO H - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo VR01 .... 94

ANEXO I - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo VR02 ... 95

ANEXO J - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo VR03 .... 96

ANEXO K - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo VM01 ... 97

ANEXO L - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo VM02 .... 98

ANEXO M - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo VM03 ... 99

ANEXO N - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo GS01 .. 100

ANEXO O - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo GS02 . 101 ANEXO P - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo GS03 .. 102

ANEXO Q - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo GS04 . 103 ANEXO R - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo GS05 .. 104

ANEXO S - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo GS06 .. 105

ANEXO T - Mapeamento dos impactos socioambientais no processo GS07 .. 106

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1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento econômico e tecnológico que ocorreu após a Revolução Industrial ampliou a produção de riqueza no mundo, em alguns casos isso significou maximizar a utilização dos recursos naturais, ignorando o fato de serem renováveis ou não. Nos últimos anos, a sociedade tem cobrado tanto das empresas como do governo o desenvolvimento econômico sustentável de seus produtos e serviços. Segundo Rio (2008), o desenho de um produto ou processo levando em consideração o seu encargo para o meio ambiente tem ganhado relevância nos meios produtivos. A importância que a sociedade vem dando às questões ambientais causa uma pressão sobre a indústria no sentido da criação de produtos e/ou serviços com o menor impacto ambiental possível. Por essa razão, o tema responsabilidade social corporativa (RSC) ou empresarial tem ocupado uma parcela cada vez maior na agenda do mundo empresarial, com investimento crescente ano após ano.

O estudo coordenado pelo Banco Mundial (World Bank Publications 2002), a partir de mais de 240 casos de empresas de vários países, revelou que corporações que adotam medidas que melhorem o desempenho ambiental e social das suas atividades podem incrementar o valor da sua marca e imagem, promovendo o aumento do faturamento, maior atração de capital e parceiros, e maior retenção de seus talentos. Além disso, este estudo revelou que instituições financeiras em diversos países tendem a exigir cada vez mais evidências de uma gestão sólida das questões ambientais e sociais como pré-condição para qualquer negócio.

Seguindo esta mesma tendência, a 11ª. Pesquisa Nacional sobre Responsabilidade Social da Associação dos Dirigentes de Venda e Marketing do Brasil-ADBV1, realizada em 2010, com o envolvimento de 3.214 empresas em todas as regiões do país, 56% delas de médio porte, 33% grandes corporações e 11% pequenos negócios, revelou transformações significativas na visão das organizações brasileiras em relação a iniciativas de responsabilidade social corporativa. Esta pesquisa mostra um crescimento acentuado na adesão às práticas sustentáveis no país: em 2008, o percentual de empresas com algum tipo de engajamento social era de apenas 61%, subindo para 77% no ano seguinte e alcançando os 89% em 2010.

(15)

De acordo com este levantamento, o investimento médio das empresas está na casa de R$ 1,2 milhão ao ano, e os recursos vêm sendo canalizados majoritariamente para os setores de educação (71%), cultura (64%), esporte (60%), meio ambiente (58%) e qualificação profissional (55%). Outro dado importante é que além dos atuais investimentos, 34% das empresas já possuem novos projetos sociais a serem desenvolvidos.

A importância desse tema para as organizações instigou a instituição de várias normas, nacionais e internacionais, sobre Responsabilidade Social. Entre elas a SA8000, NBC T15 e Normas ISO. No Brasil, a ABNT, que é membro da ISO, possui um comitê para estudos das questões relacionadas à responsabilidade social, dando origem à publicação das normas ISO 16000 e 16001. Baseada no modelo da ISO 9001, a norma ISO 26000 trata dos requisitos mínimos necessários para um sistema de gestão da responsabilidade social, e utiliza o conceito de que a responsabilidade social está associada à concepção de desenvolvimento sustentável, e se reflete nas dimensões econômica, ambiental e social.

Em se tratando do setor energético, os artigos de Kamil Kaygusuz (2001) e, Stremikiene e Sivickas (2008) apresentam uma análise da recente situação da matriz energética da Turquia e de alguns países pertencentes à União Européia, ao mesmo tempo em que, discute os impactos sócio-ambientais causados nos últimos anos. O tema sustentabilidade é compreendido como a única forma de se tornar viável o crescimento dos investimentos na geração e distribuição de energia nesses países. A importância e relevância destes artigos ao tema da pesquisa se dão pelo fato de colocar o tema sustentabilidade como parte integrante das decisões futuras para o setor energético no mundo. Neste sentido, uma empresa do segmento de energia precisa avaliar as estratégias atuais de energia sustentável e analisar os problemas dessas estratégias (HUANG, EMDAD E STEPHAN, 2008). Markovska, Taseska e Jordanov (2009) defendem que a perspectiva holística de várias partes interessadas em matéria de energia (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças - SWOTs) deve ser utilizada como base para diagnosticar o estado atual e traçar linhas de ação futura para o desenvolvimento energético sustentável, cabendo a criação de indicadores para estabelecer as principais metas energéticas e ambientais.

(16)

1.1 TEMA E ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA

De acordo com Kotler e Armstrong (2000), existe uma exigência cada vez maior da sociedade, no sentido de que as empresas se responsabilizem pelo impacto social e ambiental de suas atividades. A importância deste tema, na opinião de Esteves (2000), é incontestável, principalmente pelo fato de o Estado não comportar as demandas sociais que aumentam a cada dia. Dessa forma, parte dessa responsabilidade é repassada à iniciativa privada, que deve contar com avanços na gestão empresarial, necessários a proporcionar aos cidadãos uma vida mais digna e mais igualitária, impactando o mínimo possível o meio ambiente e a sociedade.

Com base no contexto apresentado, observa-se que todas as principais idéias destacadas no Capítulo 1 convergem para uma discussão da importância da criação de uma metodologia de gestão de impactos socioambientais em setores de infra-estrutura, em especial, a projetos vinculados ao setor elétrico.

Diante deste anseio, esta dissertação se propõe a responder a seguinte questão:

Qual é o modelo de gestão desenvolvido e aplicado pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA) para identificar os impactos sócio-ambientais resultantes dos serviços de distribuição de energia elétrica?

1.2 OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é caracterizar o modelo de RSC desenvolvido e aplicado na Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (COELBA) para a gestão de impactos socioambientais resultantes dos serviços de distribuição de energia elétrica. Com os desdobramentos do objetivo principal desta pesquisa temos, de forma mais específica, os propósitos a seguir:

• Discutir o conceito e os modelos explicativos de responsabilidade social corporativa ao longo dos últimos anos;

• Caracterizar o setor elétrico brasileiro, mais especificamente sua legislação e o modelo que regulamenta o setor.

(17)

• Caracterizar e analisar o modelo de gestão socioambiental na COELBA, baseada na gestão de seus processos;

1.3 JUSTIFICATIVAS

A responsabilidade social dentro da administração privada tem crescido constantemente, principalmente, durante os últimos anos. A sociedade tem requerido das empresas uma prestação de contas no sentido de demonstrar que além de obterem lucros, também são capazes de agregar valor à qualidade de vida de seus funcionários e da comunidade onde estão inseridas. Nesse contexto, o tema responsabilidade social corporativa tem, cada vez mais, despertado o interesse e o debate nos meios acadêmicos e empresariais.

De acordo com Rio (2008), as empresas vêm se preocupando, cada vez mais, em serem vistas por seus clientes e pela comunidade em que seus produtos são consumidos, como empresas socialmente responsáveis. Sob este viés, as ações voltadas para a redução de impactos ambientais e a proteção do meio ambiente começam a deixar de serem encargos meramente legais e passam a ser iniciativas espontâneas visando agregar valor a sua imagem.

Neste contexto, de acordo com Karkotli (2007), as empresas estão passando de um paradigma filantrópico, onde o foco era apenas a ação social, para o paradigma do desenvolvimento sustentável, onde a relação da empresa com seu ambiente passa a ter destaque. Com essas mudanças impostas pela globalização, o próprio conceito de empresa está mudando, uma vez que, antes o foco era apenas no lucro e na melhoria de seus processos e, atualmente, com a perda de poder do Estado e com a sociedade civil mais presente e informada, a carga de responsabilidade das empresas com as partes interessadas que envolvem o seu negócio passou a ser relevante.

No âmbito do setor energético, a distribuição de energia elétrica se constitui em elemento indutor do desenvolvimento de um País. O consumo per capita de energia elétrica tem sido considerado como um dos indicadores do grau de desenvolvimento

(18)

de uma sociedade (ROSA, 1995). O fato de desenvolverem atividades dessa natureza eleva a responsabilidade das empresas que atuam no setor para com a sociedade. Essas organizações se consolidam como grandes referências para todos os atores da sociedade. Tal fato, por si só, tem exigido das empresas

comportamentos coerentes com suas expectativas. Nesse contexto, a

responsabilidade social tem se caracterizado como um tema constante nas discussões sobre o papel das organizações (ETHOS, 2006).

Em relação à RSC, ainda existem algumas questões a serem resolvidas, de maneira satisfatória. Dentre essas questões estão a medição, o gerenciamento, a contabilização e divulgação dos impactos socioambientais. Têm-se trabalhos relevantes que discutem modelos conceituais explicativos da responsabilidade social corporativa: Zenisek (1979); Carroll (1991); Wartick e Cochran (1985); Quazi e O’Brien (2000). Em contrapartida, existem poucos trabalhos que associam diretamente o tema responsabilidade social às atividades operacionais das empresas e à sua vinculação com o gerenciamento e apuração dos seus custos por processos, ou seja, que apresente um método de gerenciamento dos impactos socioambientais das atividades empresariais. De acordo com Husted e Allen (2007), os estudos acadêmicos elaborados nos últimos anos não conseguiram contribuir de maneira significativa no entendimento de como a RSC influencia no desempenho de uma empresa ou de como esta prática poderá servir de base para o planejamento estratégico de um negócio.

Atualmente, existem várias iniciativas das empresas voltadas para este tema, porém não existe um modelo específico para o tratamento do tema sustentabilidade no setor elétrico, especialmente na área de distribuição de energia elétrica. Além disso, poucos são os trabalhos de natureza científica que tratam deste assunto relacionando-o com a lógica dos sistemas complexos e com realidade do setor de distribuição de energia no Brasil. Os diversos trabalhos acadêmicos que abordam este tema apresentam os conceitos de responsabilidade social, porém ainda sem foco na definição das atitudes a serem adotadas para ser socialmente responsável e na materialização da responsabilidade social corporativa.

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Este trabalho busca fornecer uma estrutura de referência prática para o conceito de responsabilidade social corporativa no setor de distribuição de energia no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento do tema na sociedade. O presente trabalho é parte integrante de um projeto de pesquisa e desenvolvimento elaborado a partir da experiência vivenciada pelo seu proponente, entre novembro de 2009 e novembro de 2011, no Departamento de Controle e Gestão da COELBA, projeto este intitulado “Ferramenta para a redução de impactos socioambientais das atividades operacionais de uma empresa de energia elétrica”, desenvolvido em parceria com a Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O resultado desta pesquisa poderá gerar impactos na segurança e na qualidade de vida da comunidade, uma vez que, irá contribuir para o mapeamento dos impactos socioambientais de todas as atividades executadas por uma concessionária de distribuição de energia.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

Esta dissertação está assim estruturada: a Introdução aborda um breve histórico sobre o crescimento da importância da gestão de impactos sócios ambientais para a sociedade; no Capítulo 2 é apresentado o referencial teórico sobre o tema abordado, dando ênfase na conceituação de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e de seus modelos explicativos; o Capítulo 3 contém um histórico simplificado da formação do setor elétrico no Brasil, aspectos regulatórios desta indústria, incluindo o novo modelo institucional do setor elétrico e a caracterização da empresa que detém a concessão do fornecimento de energia elétrica na Bahia, a COELBA; o Capítulo 4 apresenta a metodologia utilizada, um estudo de caso; o

Capítulo 5 apresenta o modelo de gestão de RSC da COELBA e um de seus

projetos mais relevantes nesta área, dando maior destaque a sua metodologia de gestão de impactos socioambientais; e por fim no Capítulo 6 são apresentadas as considerações finais sobre este trabalho.

(20)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo tem como objetivo dar a sustentação teórica necessária para o desenvolvimento deste estudo. Para tanto, se faz necessário discutir sobre o conceito de Responsabilidade Social Corporativa e seus modelos explicativos.

2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC)

Apesar da vasta literatura referente à responsabilidade social, observa-se que a sua conceituação ainda é muito confundida com filantropia ou caridade.

“A filantropia é individualizada, pois a atitude e a ação são do empresário. A responsabilidade social é uma atitude coletiva e compreende ações de empregados, diretores e gerentes, fornecedores, acionistas e até mesmo clientes e demais parceiros de uma empresa. É, portanto, uma soma de vontades individuais e refletem um consenso. A responsabilidade social é uma ação estratégica da empresa que busca retorno (...). A filantropia não busca retorno algum, apenas o conforto pessoal e moral de quem a pratica”. (Melo Neto, 2001)

Esta associação, no entanto surge da história da responsabilidade social. Os primeiros estudos teóricos sobre o tema surgiram em 1950, quando já havia o entendimento de que as empresas estavam inseridas num ambiente complexo, onde suas atividades influenciavam não apenas seus funcionários, mas também a comunidade e a sociedade. Um negócio visando atender apenas os interesses dos acionistas não era mais suficiente, sendo necessária a inclusão de objetivos sociais, como forma de integrar as empresas à sociedade.

Para compreender a complexidade subjacente ao fenômeno da responsabilidade social das empresas é imprescindível que se observem as diferentes perspectivas acerca do tema. Uma importante referência para a discussão sobre a RSC é a obra seminal de Bowen (1953), intitulada Social Responsibilities of the Businessman, cuja abordagem teórica enfatizava que as obrigações do homem de negócios, ou seja, do empresário, deveriam estar alinhadas com os valores pretendidos pela sociedade.

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Seguindo as teorias econômicas de KEYNES, o “Estado de Bem-Estar Social” (Wellfare State) se tornou, logo depois da Segunda Guerra Mundial, o mais sofisticado sistema de proteção social até então adotado. Esse sistema propiciava ao Estado um amplo papel no desenvolvimento econômico, ao lado de total responsabilidade pelo desenvolvimento social. Nesse contexto, as empresas eram julgadas apenas em termos de seus resultados econômicos (lucro para os acionistas). Apesar dos empresários considerarem como importantes alguns aspectos tais como ajuda social, ética e meio-ambiente, estes eram deixados sob a competência do próprio governo, das organizações sociais e das ações individuais.

A partir da primeira crise do petróleo, em 1973, o Estado passou a ser taxado de perdulário e foi duramente responsabilizado pela alta da inflação, havendo uma grande pressão para enxugamento dos gastos públicos e para a saída do Estado do âmbito produtivo. Em conseqüência, o orçamento público passou a ser mais rígido e mais fiscalizado, e começou uma “onda” de privatização das empresas estatais. Busca-se o “enxugamento” do Estado.

Essa tendência, iniciada nos países ricos, logo passa a ser necessária para os países em desenvolvimento, tendo em vista, inclusive, a incorporação da exigência de um Estado “equilibrado”, para obtenção de empréstimos internacionais.

Assim, respaldado pelos clamores neoliberais, os governos se viram quase que “desobrigados” da responsabilidade pela implementação de programas sociais mais específicos. Por outro lado, a sociedade cobra, das empresas privadas, uma atuação socialmente responsável. Neste contexto, de acordo com LEE (2008), começa a existir uma sinergia entre as correntes de pensamento existente até então, passando a caracterizar a RSC através de definições orientadas a satisfação das necessidades da sociedade, mas sempre pensando na maximização dos lucros das organizações.

Uma empresa era considerada sustentável, até meados da década de 1970, se tivesse economicamente saudável, ou seja, tivesse um bom patrimônio e um lucro sempre crescente, mesmo que houvesse dívidas. Para o novo contexto econômico, uma empresa é considerada sustentável se interagir de forma holística com os três aspectos do triple bottom line ou tripé da sustentabilidade (aspectos econômicos,

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ambientais e sociais). O triple bottom line, também conhecido como os 3 Ps (People, Planet and Proift, ou PPL - Pessoas, Planeta e Lucro). A motivação para se adotar essas práticas pode vir de uma preocupação com a sociedade, ou ser apenas uma estratégia para melhorar a imagem perante os consumidores e dessa forma obter vantagem competitiva. Nesse sentido, o tema sustentabilidade adquiriu importância na tomada de decisão no processo de expansão do setor energético mundial. De acordo com Wang, Jing, Zhao e Zhang (2009), as análises de decisão de múltiplos critérios (MCDA) tornaram-se cada vez mais populares nas tomadas de decisões para uma energia sustentável, devido à multi-dimensionalidade da meta da sustentabilidade e da complexidade dos sistemas socioeconômicos e biofísicos.

De acordo com Stremikiene e Sivickas (2008), a criação de indicadores de controles de sustentabilidade para os futuros investimentos na área de energia é uma necessidade real e de grande importância para a tomada de decisão. Além disso, o acompanhamento de uma tabela de controle de indicadores de sustentabilidade deverá auxiliar na criação de novas políticas públicas de regulação do setor de energia, além de estabelecer metas para o cumprimento de exigências de equilíbrio sócio-ambiental. Dando continuidade à importância do tema nas políticas públicas, os artigos “Public policy discourse, planning and measures toward sustainable energy strategies in Canada” de Huang Liminga, Emdad Haqueb e Stephan Bargc (2008); e “Problems in Electricity Sector Restructuring Policies in Some European Countries in Transition” de Saboli & Grcic (2009), analisam os esforços feitos pelo Canadá e por países do Leste Europeu, para o cumprimento do tratado de Kyoto, e buscam definir uma estratégia energética sustentável com o objetivo de melhorar a eficiência energética e promover as energias renováveis.

Este assunto faz parte da agenda das empresas e das pesquisas acadêmicas; por exemplo, Serpa e Ávila (2006) conduziram uma pesquisa experimental, no contexto brasileiro, que indicou que os consumidores estariam dispostos a pagar mais pelo produto de uma empresa socialmente responsável, sobretudo por perceberem um benefício adicional nessa compra. Strahilevitz (1999) e Smith (1996) argumentam que o consumidor, ao comprar de uma empresa socialmente responsável, tem a sensação de estar contribuindo para algo positivo, benéfico para a sociedade – uma sensação de “estar fazendo a coisa certa”.

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Entorno do tema responsabilidade social corporativa existem muitos significados. Para alguns autores a RSC traduz a idéia de responsabilidade ou obrigação legal (PRESTON e POST, 1981); para outros reflete a idéia de filantropia (PORTER e KRAMER, 2002); para um terceiro grupo, significa um comportamento ético empresarial (HOMANN, 2004; SUCHANEK, 2003); outra concepção do termo incorpora ainda a noção de legitimidade das empresas (DAVIS, 1973; WARTICK e COCHRAN, 1985); o termo pode ainda ser compreendido como obrigação fiduciária empresarial (FREEMAN, 1984).

Para Ashley et al (2003), a expressão responsabilidade social corporativa está relacionada ao compromisso que uma organização deve ter com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que afetam positivamente, de modo amplo, ou em alguma comunidade, de modo específico, agindo de forma pró-ativa e coerente, no que tange o seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com a mesma. Wood (1991, p. 695) afirma que “a idéia básica da responsabilidade social corporativa é que o negócio e a sociedade são entrelaçados, ao invés de entidades distintas; a sociedade tem certas expectativas para um comportamento empresarial apropriado e com resultados”. Ainda, para Karkotli (2007), RSC é o comportamento ético e responsável na busca de qualidade nas relações que a organização estabelece com todas as suas partes interessadas, associada direta ou indiretamente ao negócio da empresa, incorporando a orientação estratégica da empresa e refletindo em desafios éticos para as dimensões econômica, ambiental e social.

Para o Instituto ETHOS (2006), a RSC é uma forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade. Toda essa prática, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Essa definição contempla alguns aspectos importantes que serão abordados no item 2.2.2. Para gerenciar a RSC e os impactos socioambientais a organização precisa escolher um modelo que considere a sua cultura organizacional e que esteja alinhado ao planejamento estratégico.

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A importância desse tema para as organizações instigou a instituição de várias normas, nacionais e internacionais, sobre Responsabilidade Social. Neste contexto, a International Organization for Standardization (ISO) criou, recentemente, a norma ISO 26000 que permitirá que a organização integre a responsabilidade social em seus sistemas e modelos de gestão já existentes. Para esta Norma, Responsabilidade Social é definida como “Responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento transparente e ético que:

• Seja consistente com o desenvolvimento sustentável e o bem estar da sociedade;

• Considere as expectativas das partes interessadas

(stakeholders);

• Esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com normas internacionais;

• Seja integrado por toda a organização.”

De acordo com Husted e Allen (2007) empresas que possuem uma estratégia de RSC eficiente, conseguem obter vantagem competitiva ao seu negócio, através do alinhamento das necessidades de seus stakeholders às suas atividades de maior valor agregado, conseguindo alocar melhor seus recursos para atender as demandas sociais. Outro beneficio importante com esta prática é o fato das empresas serem encorajadas a encontrar alternativas para transformar seus projetos sociais em uma fonte de rentabilidade aos acionistas.

O tema RSC ainda está em formação como prática social e como objeto de investigação científica no Brasil. Atualmente, a RSC é essencial para a sustentabilidade do negócio. No Brasil, muitas empresas estão se engajando em funções de responsabilidade do Estado, principalmente de educação e saúde, devido a este nem sempre cumprir seu papel de prestar serviços básicos à população. A motivação para se adotar essas práticas pode vir de uma preocupação com a sociedade, ou ser apenas uma estratégia para melhorar a imagem perante os consumidores e dessa forma obter vantagem competitiva.

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2.2. MODELOS EXPLICATIVOS DE RSC

Nas últimas décadas, muitos modelos foram propostos, alguns dos quais se destacaram mais do que os outros, evidenciando diferentes fases. Ainda que apresentem uma extensa multiplicidade, se constituem em verdadeiros referenciais para a compreensão da evolução e aprofundamento do debate sobre a responsabilidade social das empresas ao longo do tempo. Considerando as diferentes proposições e variedades de modelos, surgidos principalmente em áreas de estudo relacionadas com a ética empresarial, o item 2.2 descreve-os de forma sucinta, dando enfoque ao modelo desenvolvido pelo Instituto Ethos utilizado como referência pela empresa objeto de estudo deste trabalho.

2.2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Segundo Welzel, Luna e Bonin (2008) existem trabalhos relevantes que discutem modelos para explicar a responsabilidade social corporativa. O modelo de Zenisek (1979) apresenta três perspectivas de RSC: i) ideológica, ii) social e iii) operacional. Carroll (1991) traz um modelo piramidal, o qual é aceito como um modelo explicativo fundamental de RSC, onde descreve que a empresa possui quatro graus com categorias diferentes de responsabilidade social, a saber: i) responsabilidade econômica - a empresa precisa gerar lucro; ii) responsabilidade legal - a empresa deve obedecer à lei; iii) responsabilidade ética - a empresa deve fazer o que é certo e agir sempre de forma correta e leal; iv) responsabilidade de ação discricionária - a empresa deve contribuir para a melhoria das condições da sociedade em geral, engajando-se em projetos sociais comunitários de cunho educacionais, culturais e esportivos.

Wartick e Cochran (1985), com base no trabalho de Carroll (1979), definiram os principais desafios de RSC como sendo: i) a responsabilidade econômica; ii) a responsabilidade pública e iii) a responsabilidade social. Wood (1991) modificou o modelo de performance social corporativa de Wartick e Cochran (1985), remodelando os princípios em três níveis: i) institucional (legitimidade); ii) organizacional (responsabilidade pública); iii) individual (gerenciamento

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discricionário). Definiram também três processos: i) avaliação do ambiente onde a empresa atua; ii) gestão dos stakeholders e; iii) gestão social. O modelo conceitual de RSC proposta por Enderle e Tavis (1998) definiu três níveis éticos – de mínimo à idealista – para as principais dimensões de RSC (econômica, social e ambiental).

Quazi e O’Brien (2000) desenvolveram o modelo bidimensional (Figura 1), ou seja, com duas dimensões: i) a amplitude da responsabilidade - entendida dentro de uma perspectiva que pode se estender entre extremos que vão de restrita a ampla; (ii) os efeitos de ações de RSC - enquadrados em um extremo como benéfica para a empresa e do outro, causadoras de custos. A contribuição do modelo bidimensional está no fato de que a responsabilidade empresarial é avaliada a partir da perspectiva de seus custos, podendo ser enquadrada em quadrantes: i) visão clássica - responsabilidade da empresa é gerar lucro; ii) visão sócio-econômica - onde se entende que a empresa deve empreender ações sociais desde que estas tragam benefícios para a empresa, ou seja, agir em interesse próprio; iii) visão moderna - que contempla a combinação entre motivações éticas e os pressupostos da teoria dos stakeholders, tanto para garantir benefícios de curto e longo prazo; iv) visão filantrópica - corresponde a responsabilidade de ação discricionária de Carroll (1991). Visão Moderna Visão Sócio-econômica Visão Filantrópica Visão Clássica

Custos das ações de RSC Responsabilidade

ampla

Responsabilidade estreita Benefícios das ações de RSC

Figura 1 - Modelo bidimensional de RSC.

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O modelo apresentado por Schwartz e Carroll (2003) Figura 2, coloca três temas centrais da RSC: a) a questão econômica; b) a questão legal; e c) a questão ética em um diagrama que possibilita a combinação entre os temas centrais, resultando em sete categorizações das atividades das empresas, eliminando a errônea interpretação de que há uma hierarquia entre os temas centrais da RSC.

2.2.2 O MODELO ETHOS DE RSC

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins lucrativos, caracterizada como Oscip (organização da sociedade civil de interesse público). A sua missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na

construção de uma sociedade justa e sustentável.

Criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos oriundos da iniciativa privada, o Instituto Ethos é um pólo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável. É também uma referência internacional nesses assuntos, desenvolvendo projetos em parceria com diversas entidades no mundo todo. 3) puramente ético 1) puramente legal 2) puramente econômico 6) ético-legal 4) ético- econômico 7)econômico-ético-legal 5) econômico- legal

Figura 2 - Modelo de três temas centrais de RSC.

Fonte: Adaptado de Schwartz e Carroll (2003, p.519, apud Welzel, Luna e Bonin 2008)

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O Instituto ETHOS (2004) define Responsabilidade Social Corporativa como uma “Forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.”.

Essa definição contempla três importantes aspectos a respeito da Responsabilidade Social Corporativa como um elemento que promove integração dos interesses da organização com os dos seus stakeholders:.

1º. Ela é passível (e deve) de ser gerenciada

2º. Abrange o impacto das atividades organizacionais a todos os stakeholders 3º. Deve ser considerada em nível estratégico

De modo a propiciar às organizações um instrumento de diagnóstico e gerenciamento dos aspectos de responsabilidade social o Instituto ETHOS apresenta um modelo organizado em sete temas classificados segundo os stakeholders de qualquer organização:

1) Valores, Transparência e Governança: De acordo com o Instituto ETHOS,

valores e princípios éticos formam a base da cultura de uma empresa, orientando sua conduta e fundamentando sua missão social. A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação das empresas deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A adoção de uma postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da empresa fortalecem a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente no conjunto de suas relações.

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2) Público Interno: A empresa socialmente responsável não se limita a

respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista e nos padrões da OIT (Organização Internacional do Trabalho), ainda que esse seja um pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas relações com os empregados. Também deve estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável com as minorias e instituições que representam seus interesses.

3) Meio Ambiente: Na visão do ETHOS, a empresa deve criar um sistema de

gestão que assegure que ela não contribui com a exploração predatória e ilegal de nossas florestas. Alguns produtos utilizados no dia-a-dia em escritórios e fábricas como papel, embalagens, lápis etc. têm uma relação direta com este tema e isso nem sempre fica claro para as empresas. Outros materiais como madeiras para construção civil e para móveis, óleos, ervas e frutas utilizadas na fabricação de medicamentos, cosméticos, alimentos etc. devem ter a garantia de que são produtos florestais extraídos legalmente contribuindo assim para o combate à corrupção neste campo.

4) Fornecedores: A empresa socialmente responsável envolve-se com seus

fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos estabelecidos e trabalhando pelo aprimoramento de suas relações de parceria. Cabe à empresa transmitir os valores de seu código de conduta a todos os participantes de sua cadeia de fornecedores, tomando-o como orientador em casos de conflitos de interesse. A empresa deve conscientizar-se de seu papel no fortalecimento da cadeia de fornecedores, atuando no desenvolvimento dos elos mais fracos e na valorização da livre concorrência.

5) Consumidores e Clientes: A responsabilidade social em relação aos clientes

e consumidores exige da empresa o investimento permanente no desenvolvimento de produtos e serviços confiáveis, que minimizem os riscos de danos à saúde dos usuários e das pessoas em geral. A publicidade de produtos e serviços deve garantir seu uso adequado. Informações detalhadas

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devem estar incluídas nas embalagens e deve ser assegurado suporte para o cliente antes, durante e após o consumo. A empresa deve alinhar-se aos interesses do cliente e buscar satisfazer suas necessidades.

6) Comunidade: A comunidade em que a empresa está inserida fornece-lhe

infra-estrutura e o capital social representado por seus empregados e parceiros, contribuindo decisivamente para a viabilização de seus negócios. O investimento pela empresa em ações que tragam benefícios para a comunidade é uma contrapartida justa, além de reverter em ganhos para o ambiente interno e na percepção que os clientes têm da própria empresa. O respeito aos costumes e culturas locais e o empenho na educação e na disseminação de valores sociais devem fazer parte de uma política de envolvimento comunitário da empresa, resultado da compreensão de seu papel de agente de melhorias sociais.

7) Governo e Sociedade: É importante que a empresa procure assumir o seu

papel natural de formadora de cidadãos. Programas de conscientização para a cidadania e importância do voto para seu público interno e comunidade de entorno são um grande passo para que a empresa possa alcançar um papel de liderança na discussão de temas como participação popular e corrupção.

A avaliação da situação da organização a respeito de cada um desses temas é feita a partir de um conjunto de indicadores agrupados segundo os subtemas. O Quadro 1 demonstra o subtema público interno.

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Quadro 1 - Exemplo de Subdivisão dos Temas de Responsabilidade Social. Fonte: Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social Empresarial (2006)

Cada um dos indicadores é composto por uma questão de profundidade (avalia a situação atual da gestão do aspecto em questão, na empresa), por questões binárias (do tipo sim/não, que qualificam a profundidade indicada) e por questões quantitativas (utilizadas para monitoramento do aspecto em questão). Esse instrumento permite à organização identificar o seu atual estágio de gestão dos aspectos de responsabilidade social (e de apontar diretrizes para o estabelecimento de metas de aprimoramento). A prática demonstra que uma boa quantidade de organizações apresenta dificuldades para levantamento dos dados necessários ao preenchimento do questionário e não conseguem desenvolver adequada gestão dos aspectos diagnosticados. Uma parte significativa de organizações não tem conseguido aproveitar todo o potencial do modelo do Instituto ETHOS. Tal fato é conseqüência da dificuldade de levantamento e de manipulação dos dados necessários e/ou da ausência efetiva de uma cultura de gestão vinculada a questões dessa natureza.

Observa-se, também, que a prática da gestão dos aspectos de responsabilidade social corporativa é centralizada. Tal fato ocorre em função do entendimento de que a responsabilidade social se constitua em uma “função” e não um “valor” incorporado à cultura organizacional. Além deste aspecto, alguns estudos vêm demonstrando que os programas de responsabilidade social de várias empresas são, na maioria das vezes, focados em filantropia e educação.

Tema Subtemas Indicadores

Relações com Sindicatos Gestão Participativa

Compromisso com o Futuro das Crianças Compromisso com o Desenvolvimento Infantil

Valorização da Diversidade e Promoção da Eqüidade Racial e de Gênero

Compromisso com a Eqüidade Racial Compromisso com a Eqüidade de Gênero Relações com Trabalhadores Terceirizados Política de Remuneração, Benefícios e Carreira

Cuidados com Saúde, Segurança e Condições de Trabalho

Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade

Comportamente Frente a Demissões Preparação para a Aposentadoria

Diálogo e Participação Respeito ao Indivíduo Trabalho Decente Público Interno

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Assim, uma significativa parte das organizações não tem conseguido aproveitar todo o potencial de gestão dos aspectos de responsabilidade social contemplado pelo instrumento do Instituto ETHOS. Tal fato é conseqüência da dificuldade de levantamento e de manipulação dos dados necessários e/ou da ausência efetiva de uma cultura de gestão vinculada a questões dessa natureza. Dentro deste contexto e com o propósito de resolver essas questões, a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia – COELBA desenvolve sua metodologia para gestão de impactos socioambientais.

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3. SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

A história do setor elétrico se confunde com o desenvolvimento do nosso país. Os fatos que caracterizam este setor são importantes para que se conheça como tudo começou. Se ao final, pretende-se apresentar um modelo para a gestão de impactos socioambientais de uma distribuidora de energia elétrica, é necessário que se conheça um pouco da história do setor elétrico e o cenário em que sua reforma ocorreu. O objetivo deste capítulo é mostrar como se deu a formação da indústria de energia no Brasil, seu histórico com principais marcos e aspectos regulatórios, e um breve histórico da COELBA, objeto de estudo de caso desta pesquisa.

3.1 HISTÓRICO

O início da indústria de geração e distribuição de Energia Elétrica desenvolveu-se na segunda metade do século XIX, principalmente na Europa e América do Norte. Um dos marcos mais importantes deste setor foi o advento da lâmpada elétrica, pois revelou o problema da quantidade de energia requerida para transformar energia térmica em energia luminosa. As baterias não eram mais viáveis para esta aplicação o que levou a criação dos primeiros geradores de corrente contínua e posteriormente os primeiros motores de corrente contínua. Com o aumento da demanda, problemas referentes a níveis de tensão e intensidade de correntes levaram a criação de geradores e motores de corrente alternada, tecnologia utilizada até os dias atuais.

O terreno no qual os primeiros serviços de eletricidade se desenvolveram, no Brasil, foi o da expansão dos serviços públicos, ainda na Velha República. Eram serviços, tipicamente, municipais, especialmente os de iluminação pública e tração, dos quais a municipalidade era o poder concedente (DIAS, 1995).

A implantação da indústria da eletricidade no Brasil deu-se de maneira bastante limitada. Mesmo não tendo um amplo parque industrial baseado na tecnologia da primeira revolução industrial, sua economia tinha como principal elemento o cultivo e

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a exportação da cana açúcar e do café. Possuía, portanto, uma economia basicamente agrária, com uma indústria de bens de produção bastante incipiente. Por este motivo, as principais utilizações da energia elétrica no país foram nos meios de transporte e na iluminação pública.

Em 1879, é inaugurada, na cidade do Rio de Janeiro, a iluminação elétrica da Estação Central da Estrada de Ferro D. Pedro II (atual Central do Brasil). Seis lâmpadas substituíram os quarenta e seis bicos de gás que até então iluminavam este local. A partir desse período, se multiplicaram as aplicações desse recurso no País. Em 1883, ocorreu a primeira utilização de energia hidrelétrica no Brasil em Diamantina, Minas Gerais. No mesmo ano, também seria inaugurada a primeira linha de bondes elétricos, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro. Nos anos seguintes, seria difundida com maior intensidade a utilização da energia elétrica para fins de iluminação pública, como, por exemplo, em Campos (RJ), Rio Claro (SP), Porto Alegre (RS).

Ao final do século XIX, houve uma nova onda de industrialização capitalista no Brasil, que demandou um grande desenvolvimento dos serviços públicos no país. Neste período, setores da indústria de produção de insumos pesados, principalmente de siderurgia e indústria química, estimularam o desenvolvimento de setores vinculados à infra-estrutura energética, em especial a energia elétrica e o petróleo. Associadas a esta nova matriz industrial, desenvolveram-se, também, imensas corporações voltadas para a prestação de serviços públicos e a produção de equipamentos. Em 1930, foram estes investimentos que promoveram um grande desenvolvimento da iluminação pública, da tração, dos portos e demais setores de infra-estrutura nacionais.

Nos anos 30 o Governo Federal assume seu papel intervencionista na gestão do setor de águas e energia elétrica com a formalização do Código de Águas (Decreto 24.643, de 10 de julho de 1934). A partir daí, a União passa a legislar e outorgar concessões de serviços públicos antes regidos por contratos regionais. Criou-se, em 1939, o Conselho Nacional das Águas - CNAE -, a fim de sanar os problemas de

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suprimento, regulamentação e tarifas referentes à indústria de energia elétrica do país. A nova política setorial revê os critérios para estabelecimento de preços a fim de garantir ao prestador do serviço a cobertura das despesas de operação e das cotas de depreciação e reversão e a justa remuneração do capital investido.

Posteriormente à Segunda Guerra Mundial, em decorrência do processo de urbanização (Êxodo Rural), a demanda começou a ultrapassar a oferta, iniciando um processo de racionamento nas principais capitais brasileiras. Tais fatores passaram a impor um ritmo de crescimento na demanda que rompia seus parâmetros históricos, forçando à realização de mais investimentos em novas usinas hidrelétricas (VEIGA & FONSECA, 2002).

Diante das dificuldades enfrentadas pelo governo federal, quanto à necessidade de investimentos no setor, os governos estaduais se viram motivados a agir. Verifica-se, então a elaboração de uma série de planos estaduais de eletrificação e o surgimento de algumas companhias estaduais.

Ao longo dos anos 40, seguindo a tendência de outros setores estratégicos, o Estado amplia seu papel e passa a atuar diretamente na produção. O primeiro investimento nesse sentido foi a criação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) em 1945.

Na década de 1950, as empresas estaduais assumem importância significativa para o sistema energético nacional. Surge um novo projeto para o desenvolvimento da economia brasileira. O Estado assume a responsabilidade pelo desenvolvimento da infra-estrutura e da indústria pesada no País. Para tanto, utiliza suas boas relações internacionais para a capitação dos recursos necessários ao cumprimento desta tarefa. Verifica-se a continuidade da política de fortalecimento das empresas estaduais, com uma conseqüente estatização do setor elétrico brasileiro. A industria pesada do País se desenvolve rapidamente, ao lado de uma expansão significativa do setor elétrico (GARCIA, 2005).

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No entanto, a política de estatização do setor elétrico adotada pelo governo de Juscelino, se por um lado foi a responsável pelo grande desenvolvimento industrial verificado no País, também colocou sob os ombros do governo federal a responsabilidade pelo financiamento do setor.

Durante o período de 1950 a 1965, a economia brasileira registrou um desenvolvimento acelerado. O Plano de Metas desenvolvido pelo Governo de Kubitschek conseguiu atingir grande parte de seus objetivos. Inclusive aqueles relacionados ao setor elétrico nacional. Verificou-se, uma expansão significativa da capacidade instalada no setor. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, as metas de 5.000 MW instalados para 1960 e 8.000 MW para 1965 foram atingidas (MEMÓRIA DA ELETRICIDADE, 1995).

Nos últimos anos da década de 1950, as dificuldades para a realização de investimentos nesta área já se faziam presentes de forma intensa. Uma tarifa de serviços irreal, aliada à corrosão dos impostos (Imposto Único sobre Energia Elétrica - IUEE) provocada pela elevada inflação do período, se apresentava como a principal causa do esgotamento dos recursos gerados pelo setor. Observa-se uma priorização, por parte do governo central, das atividades relacionadas ao desenvolvimento da industria de base nacional. É nesse contexto que, em 1962, surgiu a Centrais Elétricas Brasileiras (ELETROBRAS).

A ELETROBRAS surge como uma holding das concessionárias federais -Chesf, Furnas, Chevap e Termelétrica de Charqueadas (Termochar). Em seus primeiros relatórios sobre o setor, a ELETROBRAS já acusa as dificuldades vividas pelo setor elétrico nacional para a realização dos investimentos necessários ao seu sistema.

Anos mais tarde o governo promoveria importantes mudanças na legislação tarifária brasileira. Uma lei de 1971 (5.655/71) estabeleceu a garantia de 10% a 12% de retorno sobre o capital investido, a ser computada na tarifa. A medida visava a dar sustentação financeira ao setor e serviu também para financiar sua expansão. Havia

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ainda a facilidade de obtenção de recursos junto à Eletrobrás e a entrada de empréstimos externos. Foi um período em que o setor desenvolveu sólidas bases financeiras. Havia, entretanto, enormes diferenças no custo de geração e distribuição entre as diversas regiões. Na tentativa de amenizar esta disparidade, o governo instituiu, em 1974, a equalização tarifária mantida por um sistema no qual as empresas superavitárias transferiam recursos para as deficitárias.

Uma série de ações foi adotada pelo governo central, com reflexos altamente negativos para o setor elétrico. Com o objetivo de estimular o crescimento industrial do País, o governo lançou mão de uma série de incentivos fiscais, por exemplo, a redução de impostos como o IUEE, direcionados a grandes empresas do setor. No mesmo período, programa-se a desvinculação dos recursos tributários do financiamento do setor com a passagem dos recursos oriundos do IUEE para o Fundo Nacional de Desenvolvimento. A contenção tarifária sobre os serviços públicos, entre elas a referente ao fornecimento de energia elétrica, também se torna instrumento de incentivo ao crescimento industrial.

Tais ações protecionistas provocaram o esgotamento da capacidade do setor elétrico brasileiro de gerar seus próprios recursos financeiros. Como conseqüência, suas concessionárias encontraram no endividamento externo a saída para a obtenção dos recursos necessários para seus investimentos (ROSA, 1995). Aprofundou-se o processo de endividamento das empresas concessionárias de energia elétrica, estaduais e federais.

A década de 1980 se iniciou profundamente influenciada pelo segundo choque do petróleo e pela crise econômica internacional. A economia nacional apresentava de enormes dificuldades relacionadas à sua política externa. Durante essa década, todas as atenções da área econômica do governo brasileiro estavam voltadas para esse setor.

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tentativa de administrar seus constantes déficits de caixa. Tal postura tira de cena a cultura de planejamento estratégico de longo prazo, desenvolvida por este setor durante os anos sessenta. A inadimplência e o atraso no cumprimento de compromissos financeiros assumidos, tanto dentro do próprio setor elétrico, como na esfera privada, são instrumentos utilizados com freqüência pelas concessionárias na busca de seus objetivos financeiros de curto prazo. Essa inadimplência generalizada afeta sensivelmente a credibilidade do setor elétrico brasileiro. Como conseqüência, os conflitos intra-setoriais se multiplicam (GARCIA, 2005).

3.2. A RESTRUTURAÇÃO DO SETOR ELÉTRICO

O setor elétrico brasileiro inicia a década de 1990 sob a ameaça de um surto inflacionário e envolvidos pelo plano de estabilização do governo Collor, que continha algumas propostas de reforma do Estado. Os primeiros anos dessa década não tornam evidentes apenas a crise do setor elétrico, mas a própria crise do Estado brasileiro em processo inflacionário descontrolado e com um déficit público elevado.

A redução de investimentos estatais, aliado à política de utilização das empresas públicas como instrumentos para conter a inflação e o déficit público do País, originaram uma série de efeitos perversos sobre as empresas estatais. Tal situação, aliada a uma outra série de disfunções da máquina pública (corrupção, degradação de serviços social) consolidou a imagem de um Estado incompetente, frente à opinião pública nacional. Segundo Villela (1996), esse contexto se constitui em um terreno muito propício para a aplicação na economia brasileira de idéias neoliberais. Nesse momento, o contexto internacional corroborava para a expansão dessas idéias na América Latina.

Neste cenário, surgem as primeiras discussões no país sobre a sustentabilidade do setor elétrico, colocando a privatização do setor como alternativa, discutindo-se o papel do Estado e da ELETROBRÁS. Um novo encaminhamento relativo à

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organização básica do setor é apresentado através da Lei 8.631, que propõe a desequalização tarifária e o encontro de contas. A partir desta Lei, mantém-se o princípio de fixar os níveis tarifários em função dos custos do serviço, porém de forma individual, possibilitando a flexibilização e diferenciação das tarifas do setor de acordo com as características do mercado de cada concessionária. A remuneração das empresas concessionárias também deixou de ser garantida, tornando-se objeto de negociação com o poder concedente, quando das solicitações de reajustes tarifários.

Em função da defasagem tarifária existente no momento da promulgação da Lei, o Governo Federal implementou ações no sentido de promover a recuperação destas tarifas, ainda em 1993. Entre maio e outubro de 1993, foram concedidos seis aumentos reais mensais e consecutivos (BRUNETTI, 1996).

As grandes propostas de alterações implementadas no setor surgem com a aprovação da Lei de Concessões - Lei nº. 8987 - de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previstos no artigo 175 da Constituição Federal. Complementando esta Lei, na mesma data, é publicada a Medida Provisória 890, que mais tarde também é transformada em lei (Lei nº. 9074/95).

A Lei de Concessões alterou significativamente a filosofia de concessões estabelecidas para os serviços públicos, estabelecendo novos princípios para a prestação desses serviços no País. A partir desse momento, as concessões para estas modalidades de serviço tornam-se obrigatoriamente objeto de licitações. Além de estabelecer os princípios gerais para a prestação do serviço público, tal Lei também esboça o regime tarifário a ser utilizado, constituindo-se em uma sinalização para a iniciativa privada de possível participação nos investimentos de infra-estrutura do País. No entanto, somente a partir da promulgação da Lei nº.9074, publicada em 08 de julho de 1995, são estabelecidas regras específicas para a reestruturação do setor elétrico brasileiro.

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A reforma do setor elétrico nacional não se limita apenas ao arcabouço legal que disciplina o setor. A própria Autoridade Reguladora do setor - DNAEE - foi objeto de intervenções. Em 27 de dezembro de 1996, é sancionada a Lei nº. 9427, instituindo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) com a finalidade de regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica no País.

A Lei nº. 9427 estabelece, também, a possibilidade de descentralização das atividades complementares de regulação, controle e fiscalização dos serviços e instalações de energia elétrica, da União para os Estados e Municípios, mediante convênio de cooperação. Essa delegação somente será conferida diante da confirmação de competência técnica e administrativa para a execução das respectivas atividades por parte destes Estados e Municípios. Estabelece ainda que durante o período de trinta e seis meses, a contar da data de publicação desta Lei, os reajustes e revisões de tarifas do setor serão efetuados segundo as condições estabelecidas nos respectivos contratos e legislação pertinente.

A Lei nº. 9074 também abriu possibilidades para a ocorrência de cisões, fusões, incorporações ou transformações societárias de concessionárias, facilitando em muito o desmembramento e a venda parcial das empresas. A promulgação dessa Lei vem auxiliar em muito o processo de privatização das concessionárias de energia elétrica incluídas no Programa Nacional de Desestatização. A definição objetiva das regras que irão reger o setor incentiva a participação do capital privado na área. Um bom exemplo desse efeito é o caso da Espírito Santo Centrais Elétricas S.A (ESCELSA) cujo leilão de privatização ocorreu quatro dias após a promulgação da Lei nº.9074. Essa mesma Lei ainda confere reconhecimento legal a consórcios na área de geração, oficializando, assim, os consórcios entre concessionárias estatais e a iniciativa privada. Já existem alguns consórcios desta natureza, como por exemplo, os casos de Itá (SC) e Igarapava (MG).

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