Agência e distribuição arts. 710 a 721 do CC/2002
Definição
A agência e a distribuição são contratos em que uma das partes (agente ou distribuidor) desenvolve a aproximação e a mediação entre a outra e os interessados em adquirir bem de propriedade de uma das partes; não obstante virem identificados sob um único título no art. 710 do CC/2002, classificam-se de forma distinta.
a) Contrato de agência
É aquele em que determinada pessoa, designada agente, assume a obrigação de promover a mediação para a realização de determinados negócios, em área determinada, por conta da outra parte, designada proponente, e mediante o pagamento de remuneração por esta. Ressalte-se o fato de que o agente não tem à sua disposição o bem a ser negociado.
O agente pode dedicar-se a uma infinidade de negócios. Destaca-se agentes que promovem negócios de turismo, teatro, atores e cantores, orquestras e apresentações artísticas em geral, atletas profissionais, espetáculos esportivos, publicidade e propaganda, política, transportes, mercado financeiro, etc. O agenciado (proponente) contrata o agente tendo em vista suas qualidades pessoais, pois o agente deve ter a vivacidade e o conhecimento que lhe propicie fácil trânsito no meio em que atua, conhecendo e sendo bem recebido pelas pessoas certas, o que proporcionará bons negócios em favor do
b) Contrato de distribuição
Compreende basicamente a prática dos mesmos atos, que constitui objeto da agência, porém uma das partes - o distribuidor - tem à sua disposição o bem a ser negociado por conta do proponente, enquanto, na agência, o agente não o tem. O contrato de distribuição terá como objeto
a comercialização dos bens e produtos fornecidos pela empresa proponente à distribuidora, que exercerá essa atividade por sua conta e risco.
A agência e a distribuição caracterizam-se como contratos em que uma das partes (agente ou distribuidor) promove atos de captação de clientela associados à divulgação de produtos de propriedade do proponente, aproximando os interessados em comprá-los ao interessado em vendê-los (proponente).
Não há, porém, intermediação nas operações de venda e compra, na medida em que o agente não adquire referidas mercadorias do proponente para revendê-las com lucro a terceiros.
A agência e a distribuição têm por objeto uma atividade extremamente ampla: a promoção da realização de negócios por conta do proponente, podendo inclusive na distribuição ser disponibilizado, pelo proponente ao distribuidor, O bem a ser negociado, o que evidencia um alto grau de envolvimento deste último no próprio negócio.
Na representação comercial autônoma, a atuação do representante se limita à mediação para a realização de negócios, por meio da obtenção de pedidos ou propostas de venda dos produtos comercializados e/ou fabricados pelo representado.
Características gerais
A agência e a distribuição apresentam como principais características:
a) em regra, não se confundem com o mandato empresarial; entretanto, nos termos do art. 710, parágrafo único, do CC/2002, o proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos de seu interesse;
b) o agente ou distribuidor, conforme o art. 714 do CC/2002, deve ter uma zona de exclusividade para atuação, e, salvo ajuste em contrário, ele tem direito à remuneração correspondente aos negócios concluídos dentro de sua zona de exclusividade, ainda que sem a sua interferência;
c) caso o proponente, sem justa causa, esse o atendimento às propostas encaminhadas pelo agente ou distribuidor ou promova a sua redução ao ponto de tornar antieconômica a execução do contrato, conforme o art. 715 do CC/2002, o agente ou distribuidor terá direito a uma indenização;
d) a remuneração do agente ou distribuidor, conforme o art. 716 do CC/2002, será devida também na hipótese de o negócio deixar de ser realizado por fato imputável ao proponente;
e) se o contrato de agência ou de distribuição for celebrado por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá dissolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, nos termos do art. 720 do CC/2002, desde que transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto do investimento exigido por parte do agente ou distribuidor;
Obrigações das partes
Considerando a tênue distinção existente entre agência e distribuição, as partes contratantes estão sujeitas às seguintes obrigações comuns:
a) salvo ajuste em contrário, o proponente não pode constituir, ao mesmo tempo, mais de um agente, na mesma zona, com funções idênticas. O agente também não pode, nos termos do art. 711 do CC/2002, assumir o encargo de tratar de negócios do mesmo gênero, por conta de outros proponentes, na mesma zona em que atue como agente ou distribuidor de outro proponente;
b) o agente ou distribuidor, no desempenho que lhe foi atribuído, deve agir com toda diligência, atendo-se às instruções recebidas do proponente;
c) salvo estipulação diversa, todas as despesas com a agência ou distribuição, conforme o art, 713, correm por conta do agente ou distribuidor, ainda que isso se nos pareça contrário à lógica desse contrato, na medida em que o agente ou distribuidor presta serviços ao proponente e, nessa condição, deveria ser reembolsado das despesas incorridas na prestação de referidos serviços.
Concessão comercial Definição
A concessão comercial de vendas de veículos automotores é o contrato celebrado entre um empresário, fabricante de veículos automotores, designado concedente, e outro empresário, designado concessionário, com vistas à distribuição, pelo concessionário, de veículos de fabricação do concedente, associado à prestação de serviços de assistência técnica e à revenda de autopeças com a marca do concedente.
O contrato de concessão comercial possui o seguinte objeto:
a) a comercialização de veículos automotores, implementos e componentes fabricados ou fornecidos pelo produtor;
b) a prestação de assistência técnica a esses produtos, inclusive quanto ao seu atendimento ou revisão; e
c) o uso gratuito (pelo concessionário, mediante licença expressa do concedente) de marca da concedente, para sua
A concessão comercial, afigura-se como um contrato de distribuição-interrnediação, na medida em que abrange exclusivamente a distribuição de veículos de via terrestre (automóveis, caminhões, ônibus, tratores, motocicletas etc.), estando disciplinada no Brasil pela Lei 6.729/1979 (Lei de Concessão de Vendas de Veículos Automotores), alterada posterior e parcialmente pela Lei 8.132/1990.
Nessa modalidade contratual, à semelhança do que ocorre nas modalidades contratuais anteriores, a execução do contrato envolve ora atos de aproximação (o concessionário divulga a marca e os produtos do concedente, atraindo clientela e valorizando a marca do concedente), ora de intermediação (o concessionário, como empresário, adquire, em caráter continuado e em quantidades predeterminadas, veículos automotores fabricados pelo concedente, sob exclusividade, para fins de revenda ao consumidor, bem como autopeças de fabricantes autorizados pelo concedente).
Características gerais - Podem ser relacionadas como características do contrato de concessão comercial:
a) a concessão comercial deve ser ajustada em contrato escrito e padronizado para cada marca e, conforme o art. 20 da Lei 6.729/1979, deve especificar produtos, área demarcada, distância mínima e quota de veículos automotores, bem como as condições relativas a requisitos financeiros, organização administrativa e contábil, capacidade técnica, instalações, equipamentos e mão de obra especializada do concessionário;
b) o contrato de concessão comercial deve ser celebrado, em princípio, por prazo indeterminado, conforme o art. 21. Entretanto, inicialmente poderá ser ajustado por prazo determinado, não inferior a cinco anos, passando autocraticamente a vigorar por prazo indeterminado, se após o decurso do prazo inicial nenhuma das partes manifestar a intenção contrária de não prorroga-lo;
c) o concedente pode exigir exclusividade do concessionário, proibindo expressamente a comercialização de veículos automotores novos fabricados ou fornecidos por outro
d) a concessão pode compreender uma ou mais classes de produtos (por exemplo, caminhões, motocicletas etc.
e) o contrato de concessão deve ainda mencionar a área operacional de responsabilidade do concessionário para o exercício de suas atividades, bem como as distâncias mínimas entre estabelecimentos de concessionários da mesma rede;
f) é livre o preço de venda do concessionário ao consumidor, relativamente aos bens e serviços objeto da concessão, conforme dispõe o art. 13. O preço de venda aos concessionários, porém, deve ser fixado pelo concedente, de modo a preservar sua uniformidade e condições de pagamento para toda a rede de distribuição (art. 13, § 2.°).
Direitos e deveres das partes
a) o concessionário possui o direito de comercializar:
a.I) implementos e componentes novos produzidos ou fornecidos por;
a.2) mercadorias de qualquer natureza que se destinem a veículo automotor, implemento ou à atividade da concessão;
a.3) veículos automotores e implementos usados de qualquer marca;
b) o concessionário poderá ainda comercializar outros bens e prestar outros serviços compatíveis com a concessão;
c) o concessionário obriga-se à comercialização de veículos automotores, implementos, componentes e máquinas agrícolas, de via terrestre, e à prestação de serviços inerentes a estes, nas condições estabelecidas no contrato de concessão comercial, sendo-lhe vedada, nos termos do art. 5.°, § 2.°, a prática dessas atividades, diretamente ou por intermédio de prepostos, fora de sua área demarcada.
d) o concedente terá o direito de contratar nova concessão, se o mercado de veículos automotores novos da marca, na área delimitada, apresentar as condições justificadoras da contratação que tenham sido ajustadas entre o produtor e sua rede de distribuição; ou, ainda, pela necessidade de prover vaga de concessão extinta (art. 6.°); e) o concessionário deverá observar o índice
de fidelidade na compra de componentes dos veículos automotores que integram a concessão, sendo que a convenção de marca poderá estabelecer porcentuais para sua aquisição obrigatória (art. 8.°). Excetuam-se dessa obrigação acessórios para veículos automotores e implementos de qualquer natureza e máquinas agrícolas;
f) os pedidos do concessionário e os fornecimentos do concedente deverão corresponder à quota de veículos automotores e enquadrar-se no índice de fidelidade de componentes (art. 9°);
g) o concessionário somente poderá realizar a venda de veículos automotores novos diretamente a consumidor, sendo, nos termos do art. 12, vedada a comercialização pelo concessionário para fins de revenda a outros concessionários;
h) o concedente poderá efetuar vendas diretas de veículos automotores, conforme o art. 15, nas seguintes hipóteses:
h.l ) independentemente da atuação ou pedido de concessionário: à administração pública, direta ou indireta, ou ao corpo diplomático; bem como a outros compradores especiais;
h.2) pela rede de distribuição: à administração pública, direta ou indireta, ou ao corpo diplomático, incumbindo o encaminhamento do pedido a concessionário que tenha essa atribuição; a frotistas de veículos automotores, expressamente caracterizados, cabendo unicamente aos concessionários objetivar vendas dessa natureza; ou a outros compradores especiais, facultada a qualquer concessionário a apresentação do pedido.
Convenções
Na sistemática legal instituída para a concessão comercial, além do contrato escrito de concessão celebrado exclusivamente entre concedente e concessionário, são também celebradas convenções envolvendo a coletividade de concedentes e/ou de concessionários, com vistas a disciplinar questões de interesse comum.
Convenções das categorias econômicas São celebradas entre as categorias
econômicas de produtores e distribuidores de veículos automotores, cada uma representada pela respectiva entidade civil de âmbito nacional (por exemplo, associação dos fabricantes e dos distribuidores), com a seguinte finalidade (art. 18):
a) explicitar princípios e normas de interesse dos produtores e distribuidores de veículos automotores;
b) declarar a entidade civil representativa de rede de distribuição;
c) resolver, por decisão arbitral, as questões que lhe forem submetidas pelo produtor e pela entidade representativa da respectiva rede de distribuição;
d) disciplinar, por juízo declaratório, assuntos pertinentes às convenções da marca, por solicitação de produtor ou entidade representativa da respectiva rede de distribuição.
Convenções de marca
São celebradas entre cada fabricante e seus concessionários, estes representados conjuntamente por entidade civil de âmbito nacional, com a finalidade de estabelecer normas e procedimentos relativos a:
a) atendimento de veículos automotores em garantia ou revisão;
b) uso gratuito da marca do concedente;
c) inclusão na concessão de produtos lançados na sua vigência e modalidades
d) comercialização de outros bens e prestação de outros serviços;
e) fixação de área demarcada e distâncias mínimas, abertura de filiais e outros estabelecimentos;
f) venda de componentes em área demarcada diversa;
g) novas concessões e condições de mercado para sua contratação ou extinção de concessão existente;
h) quota de veículos automotores, reajustes anuais, ajustamentos cabíveis, abrangência quanto a modalidades auxiliares de venda e incidência de vendas diretas;
i) pedidos e fornecimentos de mercadoria; j) estoques do concessionário;
k) alteração de época de pagamento;
l) cobrança de encargos sobre o preço da mercadoria;
m) margem de comercialização, inclusive quanto à sua alteração excepcional, e seu porcentual atribuído a concessionário de domicílio do comprador;
n) vendas diretas, com especificação de compradores especiais, limites das vendas pelo concedente sem mediação de concessionário, atribuição de faculdade a concessionários para venda à administração pública e ao corpo diplomático, caracterização de frotistas de veículos automotores, valor de margem de comercialização e de contraprestação de revisões, e demais regras de procedimento;
o) regime de penalidades gradativas; p) especificação de outras reparações;
q) contratações para prestação de assistência técnica e comercialização de componentes.
Ressalte-se que a finalidade de tais convenções é uniformizar o relacionamento comercial entre as partes, bem como disciplinar certos procedimentos a serem adotados na concessão comercial.
Hipóteses de rescisão contratual
a) por acordo das partes ou força maior;
b) pela expiração do prazo determinado, estabelecido no início da concessão, salvo se prorrogado por prazo indeterminado;
c) por iniciativa da parte inocente, em virtude de infração a dispositivo da Lei 6.729/1979, das convenções ou do próprio contrato de concessão comercial, sendo considerada infração também a cessação das atividades do contraente.
As partes disporão do prazo necessário à extinção das suas relações e das operações do concessionário, nunca inferior a 120 dias, contados da data da resolução.