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A imunidade tributária dos templos de qualquer culto e a laicidade do estado

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THAISA ZAGUINI DA SILVA

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO E A LAICIDADE DO ESTADO

Ijuí (RS) 2013

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THAISA ZAGUINI DA SILVA

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO E A LAICIDADE DO ESTADO

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Lizelia Tissiani Ramos

Ijuí (RS) 2013

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A Luiz, meu querido esposo, amigo e companheiro de todas as horas, a quem tanto devo;

À minha mãe amada, Josane, que não pôde me acompanhar nessa jornada, mas que sempre torceu por mim e me apoiou;

Ao meu filho, Alef, meu maior motivo de orgulho.

Às minhas avós, Norma Görresen Zaguini e Júlia Sousa da Silva (in memoriam); e À minha tia, Jane Elisabeth da Silva, segunda mãe para mim;

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Josane Görresen Zaguini da Silva, pessoa maravilhosa, quem me transmitiu os mais ricos valores humanos;

Ao meu pai, Denizard Leon da Silva, sem o qual nada disso teria se realizado;

Ao meu filho, Alef Pereira, pelo simples fato de existir, mas também por todo incentivo;

Ao meu esposo, Luiz Antônio Favero, por sempre me fazer seguir em frente, e que muito me ajudou nos estudos;

Aos Professores que me fizeram tomar gosto pelo Direito, em especial: Profs. Valcir Gassen, Alexandre Vieira, Marcus Vinícius Motter Borges e Maristela Gheller Heidemann;

À minha orientadora, Lizélia Tissiani Ramos, por sua paciência.

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“As religiões, fundamentalmente, não são mais que as diversas encarnações da única verdade. Existe uma só árvore, mas com muitos ramos. Em última análise, a religião é inteiramente interior, pessoal, pois exprime as nossas relações com Deus.”

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RESUMO

O propósito do presente trabalho é fazer uma análise do instituto da Imunidade Tributária conferida pela Constituição Federal de 1988 aos templos religiosos, sua ligação com a laicidade do Estado, bem como as consequências da imunidade na administração dos templos. Para a realização deste estudo, utilizou-se o método indutivo. Com esta pesquisa, chegou-se ao entendimento de que a imunidade tributária de que gozam os templos abrange também o seu patrimônio, rendas e serviços, desde que atendam às suas finalidades essenciais. Porém, incide somente sobre impostos, não abarcando as taxas e contribuições sociais.

Palavras-chave: Direito Tributário. Imunidade. Templos de Qualquer Culto. Laicidade.

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ABSTRACT

The purpose of this paper is to analyze the Taxation Institute of immunity conferred by the 1988 Constitution to religious temples, its connection with the secular State, as well as the consequences of immunity in the administration of the temples. For this study was used the inductive method. With this research, came to the understanding that the tax immunity enjoyed by the temples also covers your assets, rents and services, provided they meet their essential purposes, but focuses only on taxes, not covering the fees and social contributions.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL ... 10

1.1 O poder de tributar do Estado ... 10

1.2 Competência tributária ... 11

1.3 Princípios gerais do sistema tributário ... 14

1.3.1 Princípio da legalidade ... 14

1.3.2 Princípio da isonomia ... 15

1.3.3 Princípio da capacidade contributiva ... 15

1.3.4 Princípios da Irretroatividade, Anterioridade e Vacância Especial ... 15

1.3.5 Princípio do não confisco ... 16

1.3.6 Princípio da liberdade de tráfego ... ..16

1.3.7 Princípio da uniformidade e outros princípios aplicáveis ao poder de tributar ... 17

1.4 Os tipos tributários com previsão no CTN ... 17

1.4.1 Impostos ... 19

1.4.2 Taxas ... 20

1.4.3 Contribuições de melhoria ... 21

1.4.4 Contribuições sociais ... .21

1.4.5 Contribuições de parafiscalidade ... 21

1.5 Isenção, imunidade e não incidência ... 22

2 A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO ... 26

2.1 Liberdade de crença e de culto ... 29

2.2 Laicidade... 33

2.2.1 O Estado laico... 33

2.3 Conceitos e definições de “templo” para efeitos tributários... 35

CONCLUSÃO ... 39

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INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico tem como objetivos fazer uma análise do instituto da Imunidade Tributária conferida aos Templos de Qualquer Culto e auferir dados que elucidam sua abrangência, ou seja, até que ponto os templos são imunes e o que não é abarcado por essa imunidade.

O trabalho está dividido em dois capítulos. O primeiro traz um apanhado geral acerca do sistema tributário nacional, passando pela competência tributária, pelos princípios gerais do direito tributário e, em seguida, pelos tipos de tributos, explicando cada um deles. Por último, a essencial distinção entre imunidade, isenção e não-incidência, tão corriqueiramente confundidas.

O segundo e último capítulo trata da Imunidade dos Templos de Qualquer Culto, objeto-cerne deste estudo. Nele é examinado o alcance do termo “templo”, assim como o alcance de tal imunidade, chegando-se à conclusão de que os templos não estão livres de todos os tipos de tributos, mas somente de impostos e, ainda assim, apenas dos impostos sobre seu patrimônio, renda e serviços, aí incluídos os prédios, os veículos, e até mesmo os objetos (bens), porém, desde que sejam realmente utilizados na realização dos cultos.

Após, discute-se sobre a liberdade de crença e a diversidade de cultos no Brasil, que, já tendo sido um País em que a Igreja Católica Apostólica Romana ditava as regras e o catolicismo era oficializado, hoje é Estado secular, garantindo o efetivo exercício de toda e qualquer religião a que seus cidadãos sejam adeptos. Por fim, tecem-se comentários a respeito de representantes de algumas igrejas, se esses estão ou não tirando proveito da imunidade para obter vantagens pessoais; de que maneira estão utilizando os recursos obtidos; se isso não seria caso de subversão e de injustiça para com outras seitas com menos recursos; e se o

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enriquecimento dos administradores de templos não seria uma afronta à própria concepção de religião.

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1 O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL

O Sistema Tributário Nacional é a estrutura formada pelos tributos instituídos nacionalmente ou nos entes federados, e o conjunto de normas que regulamentam esta atividade tributária do Estado. Portanto, não só a União possui competência para tributar, dividindo esta com os Estados-membros, Distrito Federal e Municípios. No Brasil, adota-se o princípio da estruturalidade orgânica do tributo, pelo qual a espécie tributária é determinada pelo seu fato gerador.

De acordo com Ricardo Varsano, coordenador de Estudos Tributários da Diretoria de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA):

O sistema tributário vigente em um dado momento é fruto de um processo de evolução que, na maior parte do tempo, é contínuo. Com efeito, uma vez fixada sua estrutura básica, ele é capaz de adaptar-se, mediante alterações tópicas nas normas legais e administrativas, a modificações nas condições econômicas e sociais reinantes e, assim, operar satisfatoriamente durante períodos relativamente longos. (VARSANO, 2002, p. 231)

Desarte, o Sistema Tributário é atrelado a uma realidade social e econômica e acaba por sofrer modificações na medida em que esta realidade se altere.

1.1 O poder de tributar do Estado

O Estado tem o dever de desenvolver determinadas atividades instituídas na sua Carta Magna. Para efetivamente levar a cabo tais ditames, necessita de recursos econômicos.

Nesse sentido, Maristela Gheller Heidemann ensina:

A relação tributária é uma relação de interesse coletivo, pois a imposição tributária, como atividade financeira do Estado, é o caminho pelo qual são buscados os recursos necessários ao sustento da administração pública. Assim o Direito Tributário é um ramo do direito público, através do qual são fixadas as regras relativas ao exercício da imposição e arrecadação de tributos. (HEIDEMANN, 2011, p.16)

Pode-se definir imposição tributária como sendo a atividade financeira do Estado que, através de ações administrativas previstas e limitadas por lei, busca receitas perante a própria sociedade com a finalidade de viabilizar o cumprimento de suas funções sociais e de autonomia política e

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organizacional, além de também servir como instrumento de políticas reguladoras de mercado e geradoras de desenvolvimento. (HEIDEMANN, 2011, p. 24)

Por prerrogativa constitucional, compete à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios o poder de instituir tributos, que são exigíveis quando da ocorrência concreta de determinadas situações (fatos geradores).

Esse poder de tributar é, na verdade, uma forma de socializar, mesmo que de forma coercitiva, parte do patrimônio privado, para usá-lo na busca de um bem comum da sociedade.

A sociedade atual está organizada sob a égide do “contrato social”; então, este poder estatal, por invadir a esfera particular, não pode ser ilimitado. Esses limites estão sulcados em nossa atual Constituição Federal (CF) – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 –, que estabelece as competências tributárias dos entes federados.

1.2 Competência tributária

Competência tributária é o poder de criar tributos, sendo esse poder conferido pela Constituição Federal à União, aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios. O legislador constitucional determinou quais tributos cada ente político pode criar, bem como limitou esse poder de criação, impondo limites que determinam um perímetro de atuação ao legislador e aos aplicadores das normas tributárias, assentes nos princípios constitucionais tributários.

Nesse sentido, a definição apresentada por Luciano Amaro:

No que respeita às receitas (ou, mais genericamente, aos ingressos) de natureza tributária, optou a Constituição por um sistema misto de partilha do produto da arrecadação. No primeiro mecanismo – que mais de perto vai interessar-nos – o poder de criar tributos é repartido entre os vários entes políticos, de modo que cada um tem competência para impor prestações tributárias, dentro da esfera que lhe (sic) é assinalada pela Constituição. Temos assim a competência tributária – ou seja, a aptidão para criar tributos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Todos têm, dentro de certos limites, o poder de criar determinados tributos e definir seu alcance, obedecidos os critérios de partilha de competência estabelecidos

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pela Constituição. A competência engloba, portanto, um amplo poder político no que respeita a decisões sobre a própria criação do tributo e sobre a amplitude da incidência, não obstante o legislador esteja submetido a vários balizamentos.

No segundo mecanismo, o produto da arrecadação de determinados tributos, instituídos por certo ente político, não é por este apropriado, ou não é por ele totalmente apropriado, mas partilhado com outros entes políticos. Desse modo, as decisões sobre o nível de incidência dependem do ente político titular da competência; mas a arrecadação resultante das leis que ele editar não lhe pertence integralmente, pois é partilhada. (AMARO, 2006, p.93-94)

Podemos concluir que competência tributária é a competência legislativa que os entes políticos possuem de criar tributos, e competência legislativa é a competência de criar leis; então, competência tributária é o poder de criar tributos por meio de leis.

O Código Tributário Nacional (CTN) trata do tema nos artigos 6º a 8º:

Art. 6º. A atribuição constitucional de competência tributária compreende a competência legislativa plena, ressalvadas as limitações constitucionais contidas na Constituição Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios, e observado o disposto

nesta lei.

Parágrafo único. Os tributos cuja receita seja distribuída, no todo ou em parte, a outras pessoas jurídicas de direito público pertencem à competência legislativa daquela a que tenham sido atribuídos.

Art. 7º. A competência tributária é indelegável, salvo a atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos termos do § 3º do art. 18 da Constituição.

§ 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios processuais que competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir. § 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato unilateral da pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido. § 3º Não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas jurídicas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos. Art. 8º. O não exercício da competência tributária não a defere a pessoa jurídica de direito público diversa daquela a que a Constituição a tenha atribuído.

O art. 6º do CTN mostra que quem tem competência tributária tem também competência legislativa plena. Não há como confundir as duas definições, até porque o próprio dispositivo ressalva as limitações ao poder de tributar. Assim, haverá momentos em que, embora exista a competência para tributar, ficará

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obstaculizada a competência legislativa de tributar, como ocorre nos caso da imunidade.

A competência tributária é caracterizada pela indelegabilidade, pela irrenunciabilidade e pela incaducabilidade.

De acordo com o procurador Federal Francisco Gilney Bezerra de Carvalho Ferreira, a indelegabilidade estabelece que a competência tributária não pode ser declinada; é indelegável. Nesse sentido, conforme disposição expressa do artigo 7º do CTN, um ente político não pode delegar, conferir a outra pessoa de direito público a competência tributária que tenha recebido da Constituição Federal. O poder de tributar é exclusivo do ente político que o recebeu.

O mesmo autor comenta acerca da característica da irrenunciabilidade, que define que o ente político pode até não exercer a competência tributária que lhe foi atribuída; contudo, ela permanecerá irrenunciável, pois quem a possui não pode dela abrir mão. A incaducabilidade, por sua vez, é a característica que determina que o poder de tributar é um poder-faculdade, o ente político o exerce quando lhe seja mais conveniente e oportuno; o fato de permanecer inerte e não criar o tributo não altera em nada sua competência tributária, que permanece a mesma. O não exercício da competência não tem como consequência a perda da mesma. (FERREIRA, 2012).

Com relação à classificação, a competência tributária pode ser dividida em três modalidades, quais sejam: competência privativa, competência residual e competência comum.

A competência privativa é aquela direcionada para a criação de impostos, atribuída com exclusividade a um ente político, conforme disciplinam os arts. 153, 155 e 156, da CF; a criação de contribuições especiais, atribuídas à União pelo art. 149 da CF; a criação das contribuições previdenciárias do funcionalismo público estadual, distrital e municipal, atribuída aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, nos termos do art. 149, §1º, da CF; bem como a instituição de empréstimos compulsórios pela União, consoante o art. 148 da CF.

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A competência residual é atribuída à União para instituir outros impostos, conforme o art. 154, inciso I, da CF; como também para instituir outras contribuições sociais de seguridade social, com menção no art. 195, § 4º, da CF.

Existe, ainda, a competência comum: competência para criação de taxas e contribuições de melhoria, atribuída a todos os entes políticos, nos termos do art. 145, II e III, da CF.

1.3 Princípios gerais do sistema tributário

Assente nos alicerces do Estado fixados na Constituição Federal, os princípios tributários servem para definir o perímetro de competência e poder do legislador e do aplicador das normas tributárias.

1.3.1 Princípio da legalidade

Tendo como norte a segurança jurídica e a própria essência de um Estado Democrático de Direito, o princípio da legalidade é marco fundamental, e base do sistema normativo. Encontrado nos artigos 5º, II; 150, e 153, §1º, da CF, e nos artigos 3º e 97 do CTN, diz que qualquer tributo só pode ser exigido após disposto em lei.

De acordo com Hugo de Brito Machado:

A rigor, o que a lei deve prever não é apenas a hipótese de incidência, em todos os seus aspectos. Deve estabelecer tudo quanto seja necessário à existência da relação obrigacional tributária. Deve prever, portanto, a

hipótese de incidência e o consequente mandamento. A descrição do fato temporal e da correspondente prestação, com todos os seus elementos

essenciais, e ainda a sanção, para o caso de não prestação. (MACHADO, 2010, p.38)

Na inteligência de Machado (2010, p. 40), no Brasil, bem como nos países que consagram a divisão dos poderes do Estado, esse princípio traduz o mais significativo limite aos governantes na prática da tributação. Em função disso, os teóricos a serviço dos governos tentam minimizar tal princípio, colocando a

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solidariedade acima da legalidade. É o Poder buscando maneiras para burlar o que o Direito a muito custo constrói.

1.3.2 Princípio da isonomia

Prima por um tratamento tributário igualitário àqueles que se encontram numa mesma situação. Caracteriza a igualdade formal.

Em matéria tributária, mais do que em qualquer outra, tem relevo a ideia de igualdade no sentido da proporcionalidade. Seria verdadeiro absurdo pretender-se que todos pagassem o mesmo Tributo. Assim, no campo de tributação, o princípio da isonomia às vezes parece confundir-se com o princípio da capacidade contributiva. (MACHADO, p. 293)

Dessarte, todos os contribuintes que se encontrarem na mesma categoria de atividade serão igualitariamente tributados.

1.3.3 Princípio da capacidade contributiva

Disciplinado pelo art. 145 da Constituição Federal, possui aplicação subjetiva e busca estabelecer uma justiça fiscal, tributando o sujeito passivo de acordo com sua capacidade contributiva.

A possibilidade de aplicação deste princípio se dá apenas em relação aos impostos, não atingindo, portanto, as taxas e contribuições de melhoria, pois esses tributos têm caráter retributivo a um serviço prestado ao contribuinte, pela realização de obra pública ou a um benefício pessoal. (HEIDEMANN, 2011, p. 29)

1.3.4 Princípios da irretroatividade, anterioridade e vacância especial

Esses três princípios estabelecem regras próprias referentes à vigência e aplicação das normas tributárias no tempo, visando a equilibrar as relações do fisco

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com o contribuinte, bem como a garantir-lhes segurança jurídica. Estão assentados no art. 150, III, da CF.

Calcado na alínea ‘a’ do inciso e artigo supracitados, o princípio da irretroatividade complementa o princípio da legalidade, determinando que lei tributária que instituir ou aumentar tributos não poderá incidir sobre fatos anteriores à sua publicação e vigência. (HEIDEMANN, 2011, p. 30)

Na alínea ‘b’ do mesmo dispositivo, o princípio da anterioridade prevê que, em regra, a instituição de novos tributos e a majoração de tributos já existentes somente poderá ocorrer a partir do exercício financeiro (o qual coincide com o ano civil) seguinte àquele da publicação da norma que os criou ou majorou. (HEIDEMANN, 2011, p. 31).

A fim de trazer efetividade aos princípios anteriores, o princípio da vacância especial (ou da noventena), sulcado na alínea ‘c’ do inciso III do art. 150, diz que não se pode instituir ou majorar tributos antes de decorridos noventa dias da publicação da lei que os instituiu ou aumentou. (HEIDEMANN, 2011, p. 32).

Sem a noventena, os tributos poderiam ser criados ou aumentados no último dia do ano e ser exigidos no primeiro dia do ano subsequente, o que acabaria com a previsibilidade.

1.3.5 Princípio do não-confisco

Com sede no art. 150, IV, da CF, tal princípio estabelece uma limitação à atividade estatal de tributar, estipulando que a carga tributária não poderá exorbitar a ponto de causar a perda do bem ou da mercadoria sobre que esteja incidindo. Se assim o fosse, estar-se-ia diante da possibilidade de violar o princípio da garantia da propriedade privada, o que não se coaduna com o ordenamento pátrio, que tanto a tutela (a propriedade privada). (HEIDEMANN, 2011, p. 33).

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O direito de ir e vir é um dos direitos constitucionais mais festejados, pois diz respeito à liberdade. Trata-se de garantia constitucional, prevista no art. 5º da CF, em seu Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais.

Não pode o Estado impingir tributos pelo simples tráfego de pessoas e/ou bens de seus Estados-membros ou de seus Municípios. Não há por que confundir tráfego com circulação; o que o princípio veda é a tributação cuja hipótese de incidência seja a simples transposição de fronteiras internas. (HEIDEMANN, 2011, p. 34)

1.3.7 Princípio da uniformidade e outros princípios aplicáveis ao poder de tributar

Princípio consignado no art. 151, I, da CF, indica que à União é vedada a instituição de tributos que não sejam uniformes em todo o território nacional. É também conhecido por princípio da uniformidade geográfica.

Segundo Wanderley José Federighi, a exceção são os incentivos fiscais, que objetivam evitar a deterioração de determinada região do país, em detrimento de outras, mais ricas.

Nas palavras de José Cretella Jr.,

Incentivo fiscal é a medida imposta pelo Poder Executivo, com base constitucional, que exclui total ou parcialmente o crédito tributário de que é detentor o poder central em prol do desenvolvimento de região ou de setor de atividade do contribuinte. Consequência do intervencionismo estatal, a exoneração fiscal ou exoneração tributária por um lado, quebrando o princípio da uniformidade do imposto, suspende a incidência do imposto, exonerando o contribuinte de recolhê-lo e, por outro lado, propicia a expansão econômica de certa região ou de certa atividade do particular contribuinte. (1992, p. 3584)

Outros princípios também norteiam o poder de tributar, tais como o da

indiscriminação (art. 152 CF); o da transparência (art. 150, § 5º CF) e o das limitações específicas de alíquotas, que atribui ao Senado Federal o poder de

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estabelecer alíquotas máximas do ICMS, IPVA e ITCD; e ao Congresso Nacional, a do ISS.

1.4 Os tipos tributários com previsão no CTN

Embora a Constituição Federal faça várias referências ao termo tributo, ela não o define, até porque não seria essa a função do constituinte. Normalmente, os conceitos partem de premissas de várias disciplinas, a lei serve para definir comportamentos em face destes conceitos. No entanto, no Brasil, tributo é definido por lei. O conceito de tributo vem estampado no próprio Código Tributário Nacional (CTN), em seu art. 3º:

Art. 3º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Não obstante a existência de conceito legal, a doutrina especializada também se dedica à conceituação de tributo. Ricardo Lobo Torres traz uma definição que pode ser utilizada para o entendimento de outros eventos. Diz esse autor:

O tributo, noção nuclear do Direito Constitucional Tributário, é a categoria básica sobre a qual se edificam os sistemas tributários e a partir da qual se firmam as diferenças para com as figuras próximas do preço público, das multas, das custas e emolumentos e de outros ingressos integrantes dos fenômenos da quase-fiscalidade, da extrafiscalidade, da parafiscalidade ou da não-fiscalidade. (TORRES, p. 369).

Uma vez definido, cumpre analisar cada um de seus elementos, conforme destaca Machado (2010), senão vejamos.

Tributo é uma prestação pecuniária; assim, os pagamentos devem ser em moeda, não existe mais pagamento de tributo in natura. A dação em pagamento, quando a lei a permitir, será possível, desde que transformável em moeda. Todo tributo é compulsório, ou seja, o dever de pagar tributo não é volitivo, o pagamento é resultado de imposição legal, independe da vontade da parte contribuinte. Referido pagamento deve, ainda, ser realizado em moeda, afastada a possibilidade de pagamento de tributos in natura ou in labore.

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O tributo não pode consistir em sanção de ato ilícito, pois tributo não é penalidade. Significa dizer que a lei não pode incluir no elemento hipótese de

incidência uma ilicitude. Todavia, um fato gerador pode ocorrer em circunstâncias

ilícitas, por exemplo, se alguém afere rendas em jogo de azar, por certo o imposto de renda lhe será exigido. Não está incidindo sobre a atividade, mas porque a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica dos rendimentos ocorreu.

Todo tributo deve, ainda, ser instituído em lei, o que decorre do princípio da legalidade, ao qual o Estado de Direito é submetido. A lei instituidora normalmente é ordinária; somente nos casos expressos na Carta Magna é que será instituído por lei complementar.

Cumpre também destacar que a cobrança do tributo ocorre mediante atividade administrativa plenamente vinculada. “O administrador público não goza do poder e da liberdade de apreciar conveniência e a oportunidade de agir, nem tão pouco lhe permite a possibilidade de quantificar a obrigação tributária, segundo o interesse das partes.” (HEIDEMANN, 2011, p. 40). A atividade administrativa, por sua vez, classifica-se em arbitrária, discricionária e vinculada, e Hugo de Brito Machado assim as define:

Arbitrária: é aquela em cujo desempenho a autoridade não sofre qualquer limite. Sua liberdade é absoluta.

Discricionária: é aquela em cujo desempenho a autoridade administrativa dispõe de liberdade para decidir sobre a conveniência e a oportunidade de agir e sobre como agir.

Vinculada: é aquela em cujo desempenho a autoridade administrativa não goza de liberdade para apreciar a conveniência nem a oportunidade de agir.

De acordo com o CTN, os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria (CTN, art. 5º). No entanto, o doutrinador Machado vai além, ao levantar consideração sobre as contribuições sociais, in verbis:

O art, 217 do CTN, com a redação que lhe deu o Decreto-lei nº 27, de 14.11.1966, estabeleceu que as disposições do Código não excluem a incidência e exigibilidade de outras contribuições, que indica. Isto tornou evidente a existência de uma quarta espécie de tributo, integrada pelas

contribuições sociais. Tal conclusão restou reforçada pelo art. 145 da

Constituição Federal de 1988. (MACHADO, 2010, p. 69).

Por não ser pacífica essa conclusão, atente-se para os tributos nos termos do art. 5º do CTN.

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1.4.1 Impostos

Ex vi do art. 16 do CTN, imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato

gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Trata-se de um tributo de hipótese de incidência não vinculada.

Nas palavras de Torres (2005, p. 373), imposto é:

O dever fundamental, consistente em prestação pecuniária, que limitado pelas liberdades fundamentais, som a diretiva do princípio constitucional da capacidade contributiva e com a finalidade principal ou acessória de obtenção de receita para as necessidades públicas gerais, é exigido de quem tenha realizado, independentemente de qualquer atividade estatal em seu benefício, o fato descrito em lei elaborada de acordo com a competência especificamente outorgada pela Constituição.

Os impostos podem ser classificados a partir de diferentes perspectivas. Nesse sentido, quanto à repercussão da carga tributária, podem ser classificados como diretos ou indiretos; quanto à objetividade, podem ser reais ou pessoais. Classificam-se, ainda, como proporcionais, fixos ou progressivos.

1.4.2 Taxas

Tratam-se de tributos vinculados; ou seja, a taxa é contraprestacional, já que vinculada a uma prestação do Estado ao contribuinte. Essa prestação pode ser de serviço público ou do exercício do poder de polícia.

Na definição de taxas, o CTN estabelece:

Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

O poder de polícia vem definido no art. 78 do CTN:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a

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prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.

Para Machado (2010, p. 448), a ideia de contraprestação não deve ser incluída no conceito de taxa; para ele o conceito deve se resumir a “[...] espécie de tributo cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia, ou o serviço público, prestado ou posto à disposição do contribuinte.”

1.4.3 Contribuições de melhoria

Da mesma forma que nos tributos anteriores, a definição se dá por lei, como se observa no CTN:

Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

Ou seja, o contribuinte retribui ao Estado, por valorização imobiliária que experimenta. É uma contrapartida. É decorrente de uma atuação indireta e mediatamente referida ao contribuinte.

1.4.4 Contribuições Sociais

Tratam-se de tributos instituídos com destinação específica: financiar a seguridade social – como ensina Heidemann (2011, p.48) –, tanto no aspecto previdenciário como no assistencial. Conforme estabelecem os arts. 149 e 150 da Constituição Federal, a competência geral é da União, cabendo aos demais entes

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federativos o custeio de seus próprios sistemas previdenciários, cobrando apenas de seus servidores.

1.4.5 Contribuições de parafiscalidade

Geraldo Ataliba, citado por Wanderlei Federighi, aduz que a parafiscalidade significa:

A atribuição, pela lei, da capacidade de serem sujeitos ativos de tributos que arrecadam em benefício de suas próprias finalidades – pessoas diversas da União, Estados e municípios (autarquias, empresas estatais delegadas de serviço público, entes paraestatais). “Distinguir-se-ia de fiscalidade, porque esta é a arrecadação de tributos próprios pelo Estado.” (ATALIBA, apud FEDERIGHI, 2004, p.57).

Federighi ainda mostra, pelo ensinamento de Aliomar Baleeiro, os quatro elementos característicos da parafiscalidade, a saber:

a) Delegação do poder fiscal do estado a um órgão oficial ou semi-oficial autônomo;

b) Vinculação especial ou “afetação” dessas receitas aos fins específicos cometidos ao órgão oficial ou semi-oficial investido daquela delegação;

c) Em alguns países, exclusão dessas receitas delegadas no orçamento geral;

d) Subtração de tais receitas à fiscalização do Tribunal de Contas ou órgão de controle da execução orçamentária. (BALEEIRO, apud FEDERIGHI, 2004, p. 57)

1.5 Isenção, imunidade e não incidência

Segundo Marcone Hahan de Souza (2008), economista do Instituto Jetro, a maioria dos dirigentes de Igrejas no Brasil, se perguntados, não sabem responder se a sua Igreja está isenta, imune, ou tem que pagar determinado tributo, bem como

(24)

não sabe se sobre a mesma recai alguma obrigação tributária acessória, ou até mesmo, se deve prestar informações sobre o tributo objeto da isenção ou imunidade.

Inicialmente, então, faz-se mister esclarecer a diferença entre o entendimento do que é imunidade e do que é isenção tributária.

Luciano Amaro assim define:

A imunidade e a isenção distinguem-se em função do plano em que atuam. A primeira opera no plano da definição da competência, e a segunda atua no plano da definição da incidência. Ou seja, a imunidade é técnica utilizada pelo constituinte no momento em que define o campo sobre o qual outorga competência. Diz, por exemplo, o constituinte: "Compete à União tributar a renda, exceto a das instituições de assistência". Logo, a renda dessas entidades não integra o conjunto de situações sobre que pode exercitar-se aquela competência. A imunidade, que reveste a hipótese excepcionada, atua, pois, no plano da definição da competência tributária. Já a isenção se coloca no plano da incidência do tributo, a ser implementada pela lei (geralmente ordinária) por meio da qual se exercite a competência tributária. (AMARO, 2010, p. 305)

A isenção, na explicação de José Eduardo Soares de Melo, em obra coordenada por Marcelo Magalhães Peixoto, é instrumentalizada através de lei ordinária, e delimita a regra de incidência tributária, impedindo que venha a ocorrer o fato gerador. (2005, p. 191)

No afinado diapasão de Heidemann (2011, p. 130), a isenção é um benefício que o poder tributante concede, mediante lei específica, e que dispensa o sujeito passivo do pagamento de algum tributo, nos termos do art. 176 do CTN:

Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre decorrente de lei que especifique as condições e requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração.

Parágrafo único. A isenção pode ser restrita a determinada região do território da entidade tributante, em função de condições a ela peculiares.

Na observância do art. 177 do diploma supracitado, está claro que a isenção não se estende às taxas e às contribuições de melhoria, nem a tributos instituídos após a edição de lei concessiva (HEIDEMANN, 2011, p.130).

Art. 177. Salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é extensiva: I - às taxas e às contribuições de melhoria;

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E, nesse caso, a autora lembra-se da obrigatoriedade da interpretação literal da norma instituidora, conforme reza o art. 111 do CTN:

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; II - outorga de isenção;

III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

Assim, segue Heidemann (2011, p. 130): “A lei concessiva de isenção deverá especificar as condições, a amplitude e o prazo de sua vigência, alcançando fatos geradores futuros”. Então, nesse caso, o tributo é devido, mas lei específica exonera o sujeito passivo do pagamento.

A não-incidência, por sua vez, nas palavras de Machado ( 2010, p. 243), “é a situação em que a regra jurídica de tributação não incide porque não se realiza a sua hipótese de incidência, ou, em outras palavras, não se configura o seu suporte fático.”

Já a imunidade, de acordo com Melo (2005, p. 191), se dá pela exclusão de competência dos entes federados, para tributar determinados atos, fatos ou pessoas, na forma expressa que assentado na Constituição Federal. Então, da mesma forma que a Constituição outorga competência para criar tributos relativos a determinadas materialidades, ela veda a aplicação de tributos em outros casos.

O objetivo da imunidade é fomentar valores considerados de alto interesse nacional, tais como a manutenção das entidades federadas, das atividades religiosas, da democracia, dos educandários, das instituições filantrópicas, o acesso a informação, enfim, atividades que vão ao encontro dos mais altos valores da nação.

Machado (2010, p. 244) define a imunidade como um obstáculo criado por uma norma da Constituição que impede a incidência de lei ordinária de tributação sobre determinado fato, ou em detrimento de determinada pessoa, ou categoria de pessoa. E complementa: “a imunidade é uma forma qualificada de não incidência.”

Ensina o doutrinador Márcio Pestana (2001, p. 69), que as normas imunizantes são elaboradas especificamente a partir de enunciados constitucionais,

(26)

“incogitável, portanto, falar-se de norma jurídica imunizatória tendo como assento enunciados jurídicos infraconstitucionais.”

O mesmo autor divide as normas imunizantes em duas categorias, as em sentido amplo, em que a Constituição se refere ao gênero tributo, podendo aí agasalhar qualquer uma das diversas espécies tributárias, e as em sentido estrito, onde a Constituição é específica, chamando a espécie pelo nome, impedindo, assim, que se estenda a outra espécie tributária. (2001, p. 71).

.Essas considerações se fazem necessárias numa análise acerca da imunidade dos templos de qualquer culto, preceito constitucional vigente no Brasil, que, apesar de ser um Estado laico, confere essa prerrogativa às igrejas. No segundo capítulo este tema será abordado.

Tal assunto já foi fruto de celeumas nos Tribunais pátrios. Existem os que entendem que a separação Estado-Igreja não comporte qualquer deferimento especial às Igrejas, as quais deveriam ser tratadas apenas como associações privadas. Já por outro lado, há os que pensam no alargamento da abrangência da imunidade tributária, discutindo o que é templo e o que é culto, e quais deles gozam ou não desse dispositivo.

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2 A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO

A imunidade tributária dos templos de qualquer culto mostra-se, há tempo, como um tema polêmico, motivador de várias reportagens pela imprensa, que, por sua vez, se utiliza desse preceito constitucional para atacar esta ou aquela ordem religiosa, este ou aquele dirigente de ordem religiosa.

A garantia tributária de imunidade conferida aos templos de qualquer culto é norma constitucional, com previsão no art. 150:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI - instituir impostos sobre: a) [...]

b) templos de qualquer culto; c) [...]

d) [...]

A carta Magna concedeu, portanto, a prerrogativa da imunidade de impostos aos templos religiosos, independentemente da orientação espiritual praticada.

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Segundo Gilberto Garcia, especialista em Direito Religioso e autor do livro O

Novo Código Civil e as Igrejas, entende que:

A Igreja deve requerer junto aos órgãos públicos o “reconhecimento da imunidade”, eis que ela já possui a “prerrogativa constitucional”, pelo fato de ter sido constituída como Organização Religiosa, juntando o Estatuto Associativo devidamente averbado no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, a Ata da Diretoria Eleita, também registrada no Cartório, bem como, as comprovações da propriedade dos bens, tais como: a Escritura de Compra e Venda do Imóvel, averbado no Cartório do Registro Geral de Imóveis etc. [...] A Igreja, como qualquer instituição da sociedade civil, esta (sic) sujeita a (sic) Legislação Federal do Imposto de Renda, que a obriga a entregar Declaração Anual a (sic) Receita Federal, bem como é sua responsabilidade legal, em nível federal, reter e recolher os valores devidos ao fisco de seus ministros religiosos e/ou prestadores de serviços, sejam funcionários ou autônomos. (parte II).

Então, na inteligência do art. 150 da CF, a imunidade recai apenas sobre os impostos; assim, os demais tributos, numa primeira impressão, podem ser exigidos.

De acordo com Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho (2008, p.185):

E, neste âmbito de impostos, o Excelso Supremo Tribunal Federal tem consagrado uma imunidade ampla, já tendo afastado, por exemplo, a incidência do chamado IPMF – imposto provisório sobre a movimentação ou a transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira – sobre as movimentações financeiras das instituições religiosas (ADIn 939/DF, RTJ 151-3/755), bem como não tem admitido, em relação às entidades imunes, a incidência de IOF – imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores imobiliários – e do IR – imposto sobre a renda – sobre as suas apelidadas operações financeiras (AgRg no RE 249.980, DJU 14.06.2002; RE241.090, DJU 26.04,2002; RE 232.080-AgR, DJU 31.10.2001) e rendimentos decorrentes dessas aplicações financeiras (ADIn 1.758-4/DF, DJU 11.03.2005).

Alerta Saraiva Filho (2008, p. 186) que não se amparam sob o véu da imunidade os imóveis de características próprias separados dos prédios dos templos, não se caracterizando como acessório afetado ao templo, desde que a renda deles proveniente não seja para manter o templo e o culto – imóveis de fins meramente mercantis, como imóveis alugados, emissoras de rádio e televisão, etc., quando suas respectivas rendas forem desviadas da atividade fim da instituição religiosa, ou até mesmo as arrecadadas em culto, que venham ser aplicadas para outros fins, dentro ou fora do país, pois não contemplam o dispositivo constitucional.

Nesse viés, Mesquita Filho (2012, p. 59) ressalta que a locação de imóveis pertencentes ao culto goza de imunidade, desde que a locação seja eventual, não quando essa atividade é permanente, pois, no seu modo de ver, trata-se de

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atividade econômica, que nada tem a ver com um culto religioso. E, ainda, alicerçado na opinião de Machado, o desenvolvimento de atividades industriais e comerciais, a pretexto de angariar meios financeiros para a manutenção do culto e se utilizando da imunidade tributária, estariam praticando concorrência desleal, em detrimento da livre iniciativa, chocando-se com o art. 170 da CF.

Saraiva Filho (2008, p. 196) conclui que, com a Constituição Federal de 1988, a imunidade dos templos de qualquer culto deixou de ser objetiva, passando a ser subjetiva, o que lhe dá maior amplitude. Porém, se estendida demasiadamente essa imunidade, ela fugiria de seu intento, podendo até causar abusos, como o desequilíbrio na livre concorrência.

Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - [...]

II - [...] III - [...]

IV - cobrar imposto sobre: a) [...]

b) templos de qualquer culto; c) [...]

d) [...]

§ 1º O disposto no inciso IV não exclui a atribuição, por lei, às entidades nele referidas, da condição de responsáveis pelos tributos que lhes caiba reter na fonte, e não as dispensa da prática de atos, previstos em lei, assecuratórios do cumprimento de obrigações tributárias por terceiros.

Na leitura do supracitado dispositivo do CTN, Mesquita Filho (2012, p. 63) diz serem essas obrigações acessórias, e, portanto, as instituições têm o dever de cumpri-las perante o fisco, informando aos órgãos tributários e procedendo a retenções e recolhimento de tributos como ISS, Previdência Social, IRRF e outros. Também se obrigam no pagamento de taxas, recolhimento do FGTS e do PIS. Deve o líder religioso, enquanto responsável perante a instituição, atentar quanto às obrigações tributárias e contribuições retidas de terceiros. Não o fazendo, estará incorrendo em crime de apropriação indébita, e, assim, sujeito às cominações da Lei nº 8.137/90 (Crime Contra a Ordem Tributária).

O mesmo autor lembra, ainda, que as Igrejas devem observar alguns requisitos, conforme o art. 14 do CTN. Seu não cumprimento é causa de suspensão da imunidade de impostos, submetendo a Igreja ao devido processo legal do direito administrativo, estabelecido pela Lei nº 9.430/96. (2012, p. 63)

(30)

Para Werner Nabiça Coelho (2003, p. 128), “O Estado é fruto da laicização do poder religioso, pois antes dos reis se tornarem reis deviam ser consagrados pela autoridade religiosa.”

De acordo com Coelho (2003, p. 128), “a intuição dos constitucionalistas americanos assegurou a seu povo a liberdade de culto, e consagrou a separação do Estado e da Igreja, já preconizada como princípio social desde quando Cristo mandou dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”

Na opinião desse autor (2003, p. 130), a ratio legis da imunidade tributária é a sedimentação de um assunto extremamente conflituoso, que merece o distanciamento respeitoso do Estado, o qual deve limitar-se na ordem constitucional, para não transformar seus instrumentos legais em meios de repressão social. O Estado é composto de homens; então, falível. Os aparatos institucionais nem sempre evitam que os seus instrumentos caiam nas mãos de fanáticos que, em nome de sua fé, excluem as demais, ou dos que não permitem o exercício da fé aos que alguma possuem. E vai além:

O Estado não é sucedâneo da perfeição, salvo para os que admiram Hegel; logo, como o homem é obra do Criador, e o Estado é obra do homem, pela ordem das precedências (sic) ao Estado só cabe, ao menos, manter-se respeitosamente distante, mas bem distante, dos assuntos d’Ele, pois é historicamente provado que toda a (sic) vez que o Estado interferiu, positiva ou negativamente, em assuntos que o superam, foram momentos de muita dor, sofrimento, perseguição, e injustiças; portanto, leitores, mantenham o Estado e a religião em seus devidos lugares, um cuidando dos assuntos terrenos e o outro dos divinos. (COELHO, 2003, p. 130).

Evidentemente que todos esses conceitos têm um caráter axiológico, pois o limite de um valor é subjetivo, e tênue é a linha que os separa de um desvalor.

2.1 Liberdade de crença e de culto

A liberdade de crença, no Brasil, é um dos valores mais robustos da sociedade. Até porque, num país com enorme diversidade de culturas e etnias, não haveria de ser diferente.

(31)

A liberdade de crença – entende o renomado constitucionalista José Afonso da Silva – abrange outras liberdades:

[...] a liberdade de escolha da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, mas também compreende a liberdade de não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo. Mas não compreende a liberdade de embaraçar o livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença [...]. (SILVA, 1989, p. 221).

A liberdade de crença e de culto existia, de certa forma e muito limitada, desde a Constituição do Império, de 1824, que começava, preambularmente, com uma invocação religiosa: “EM NOME DA SANTISSIMA TRINDADE” – forma que o governo imperial encontrou para a legitimação do poder, apoiando-se no poder da Igreja Católica.

Aquela Constituição instituiu, em seu artigo 5º, o catolicismo como a religião oficial do Império, assim redigido:

Art. 5º A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo. (Brasil, 1824).

Com o fim do Império, veio a primeira Constituição Republicana, em 1891, e a separação da Igreja com o Estado, visível no art. 72:

Art. 72 A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

§ 3º Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum. (...)

§ 7º Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações de dependência ou aliança com o Governo da União ou dos Estados. (Brasil, 1891).

Naquela Constituição não havia qualquer menção a Deus no seu preâmbulo. Aquele momento, segundo Fábio Dantas de Oliveira (2011), tem um significado de irreversibilidade, “a Constituição Federal de 1891 representou um marco no que tange à laicidade do Estado, pois todas as Constituições que lhe sucederam mantiveram a neutralidade inerente a um Estado Laico, ainda que teoricamente.”

(32)

A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1934, traz em seu preâmbulo “pondo a nossa confiança em Deus”. No texto, reafirma a laicidade do Estado, e preconiza uma colaboração com a Igreja.

Art. 17. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I – [...]

II - estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos; III - ter relação de aliança ou dependência com qualquer culto, ou igreja sem prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse coletivo;

Art. 113. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à

subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 1) [...]

2) [...] 3) [...]

4) Por motivo de convicções filosófica, políticas ou religiosas, ninguém será privado de qualquer dos seus direitos, salvo o caso do art. 111, letra b . 5) É inviolável a liberdade de consciência e de crença e garantido o livre exercício dos cultos religiosos, desde que não contravenham à ordem pública e aos bons costume. As associações religiosas adquirem personalidade jurídica nos termos da lei civil.

6) Sempre que solicitada, será permitida a assistência religiosa nas expedições militares, nos hospitais, nas penitenciárias e em outros estabelecimentos oficiais, sem ônus para os cofres públicos, nem constrangimento ou coação dos assistidos. Nas expedições militares a assistência religiosa só poderá ser exercida por sacerdotes brasileiros natos.

7) Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados pela autoridade municipal, sendo livre a todos os cultos religiosos a prática dos respectivos ritos em relação aos seus crentes. As associações religiosas poderão manter cemitérios particulares, sujeitos, porém, à fiscalização das autoridades competentes. É lhes proibida a recusa de sepultura onde não houver cemitério secular.

A Constituição de 1937 não oferece modificações nas relações entre o Estado e a Igreja, não fez menção à divindade, apenas mantém a proibição do embaraço aos cultos religiosos.

Já a de 1946, além de invocar a proteção de Deus em seu preâmbulo, traz inovações ao estabelecer a liberdade de consciência, e cria a figura da imunidade tributária. Inovou, ainda, ao prever pioneiramente a “escusa de consciência”. A lei poderia estabelecer obrigações alternativas àqueles que se recusassem a cumprir obrigações impostas por lei a todos os brasileiros. Também havia previsão da instituição de descansos remunerados, em dias de feriados religiosos, a possibilidade de efeitos civis ao casamento religioso e ainda a previsão do ensino religioso.

(33)

Art. 31. A União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é vedado:

I - [...]

II - estabelecer ou subvencionar cultos religiosos, ou embaraçar-lhes o exercício;

III - ter relação de aliança ou dependência com qualquer culto ou igreja, sem prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse coletivo;

IV - [...]

V - lançar impostos sobre: a) [...]

b) templos de qualquer culto bens e serviços de Partidos Políticos, instituições de educação e de assistência social, desde que as suas rendas sejam aplicadas integralmente no País para os respectivos fins;

Art. 141. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

§ 7º - É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública ou os bons costumes. As associações religiosas adquirirão personalidade jurídica na forma da lei civil.

§ 8º - Por motivo de convicção religiosa, filosófica ou política, ninguém será privado de nenhum dos seus direitos, salvo se a invocar para se eximir de obrigação, encargo ou serviço impostos pela lei aos brasileiros em geral, ou recusar os que ela estabelecer em substituição daqueles deveres, a fim de atender escusa de consciência.

§ 9º Sem constrangimento dos favorecidos, será prestada por brasileiro (art. 129, nº s I e II) assistência religiosa às forças armadas e, quando solicitada pelos interessados ou seus representantes legais, também nos estabelecimentos de internação coletiva.

§ 10 Os cemitérios terão caráter secular e serão administrados pela autoridade municipal. É permitido a todas as confissões religiosas praticar neles os seus ritos. As associações religiosas poderão, na forma da lei, manter cemitérios particulares.

Na Constituição de 1967 ou na sua Emenda de 1969, ocorreram poucas alterações. Não há referência à divindade, não expressa obrigações como na Constituição anterior, e mantém a imunidade tributária.

A atual Constituição, de 1988, invoca a proteção de Deus em seu preâmbulo; é expressa quanto à liberdade de consciência e ao exercício de culto. Mantém a assistência religiosa ao militares e nas entidades de internação coletiva, retirando a imposição de condição de brasileiro nato para esta atividade.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

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VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

[...]

Ratifica a separação Estado-Igreja, mas resgata a possibilidade de colaboração.

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

[...]

Mantém o ensino religioso, embora facultativo.

Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.

§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.

Mantém o status do casamento religioso:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

Ratifica a imunidade tributária.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI - instituir impostos sobre: a) [...]

b) templos de qualquer culto; c) [...]

d) [...]

Quanto à liberdade religiosa, ensina José Afonso da Silva (1999, p. 251-253) que esta engloba três tipos de liberdade intrinsecamente relacionados: a liberdade de crença, que compreende a liberdade de escolha da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, e também a liberdade de não aderir a religião alguma, bem como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo:

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[...] a religião não é apenas sentimento sagrado puro. Não se realiza na simples contemplação do ente sagrado, não é simples adoração a Deus. Ao contrário, ao lado de um corpo de doutrina, sua característica básica se exterioriza na prática dos ritos, no culto, com suas cerimônias, manifestações, reuniões, fidelidades aos hábitos, às tradições, na forma indicada pela religião escolhida.

Não engloba, contudo, a liberdade de embaraçar o livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença, “pois aqui também a liberdade de alguém vai até onde não prejudique a liberdade dos outros”; a liberdade de culto, e a liberdade de organização religiosa, que, segundo ele, diz respeito à possibilidade de organização destes estabelecimentos e sua relação com o Estado.

2.2 Laicidade

Laicidade é a qualidade do que é laico, leigo, secular; que não sofre influência ou controle por parte de nenhuma igreja ou religião; que não pertence a instituição ou ordem religiosa.

2.2.1 O Estado laico

Estado laico é Estado neutro, leigo, secular. É Estado não eclesiástico.

Celso Lafer ensina que laico significa tanto o que é independente de qualquer confissão religiosa quanto o relativo ao mundo da vida civil (2009, p. 226), e que “em um Estado laico, as normas religiosas das diversas confissões são conselhos dirigidos aos seus fiéis e não comandos para toda a sociedade” (2009, p. 228).

Roberto Blancarte, citado por Luiz Mesquita Filho, define a laicidade como “Um regime social de convivência, cujas instituições políticas estão legitimadas principalmente pela soberania popular e já não mais por elementos religiosos.” (2012, p. 50).

Isso significa dizer que quando o poder político deixa de ser legitimado pelo sagrado, a soberania deixa de residir no monarca, criando repúblicas e, mesmo se persistir como monarquia, estas deixam de ser absolutas e passam a ser

(36)

constitucionais. Isso demonstra a intrínseca ligação entre a laicidade e a democracia representativa. (MESQUITA FILHO, 2012, p. 50).

Nos países onde o catolicismo é majoritário, há uma tensa relação nessa separação da Igreja com o Estado, que busca uma autonomia de gestão, enquanto aquela pretende moldar a política pública. O Estado é, então, mais ou menos laico. (BLANCARTE apud MESQUITA, 2012, p. 51).

A laicidade vem sulcada no art. 19 da nossa Constituição Federal:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

II - recusar fé aos documentos públicos;

III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

Esse artigo da Constituição é fundamental na completude da laicidade, pois se o Estado pudesse alcançar vantagens às instituições religiosas, teriam os mandatários governistas, na prática, como beneficiar ou perseguir grupos religiosos para obter vantagens eleitorais. Por outro prisma, existem incompatibilidades com a tão propagada laicidade. Mesquita Filho (2012, p. 51) cita os feriados em reverência aos Santos, o que contraria o Estado não confessional. No entanto, são da própria cultura brasileira; datam de longo tempo, resultado da época em que a religião Católica Apostólica Romana gozava de oficialidade.

Não obstante, a Lei nº 12.328, de 15 de setembro de 2010, consagra o dia 30 de novembro de cada ano como o Dia Nacional do Evangélico, sancionada pelo então Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Pois bem, esse mesmo Presidente, em audiência com Sua Santidade o Papa Bento XVI, em 13 de novembro de 2008, firmou acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, promulgado pelo Decreto nº 7.107/10, o qual, em função de seus dispositivos, repercute no exercício da laicidade. (MESQUITA FILHO, 2012, p. 52).

Na visão do mesmo autor (2012, p. 53), existe um estilo peculiar de religiosidade sendo praticado, através das emissoras religiosas de televisão, o que gera uma relação comportamental incompatível com a laicidade, na medida em que

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as concessões ficam com os grupos mais afortunados, em detrimento dos grupos religiosos que não dispõem da mesma oportunidade para proclamar o seu credo.

2.3 Conceitos e definições de “templo” para efeitos tributários

Os dicionários assim definem a palavra “templo”:

“Substantivo masculino

1. Casa de oração em que se adora uma divindade; igreja. 2. Sinagoga, mesquita.

3. Local onde a maçonaria celebra as suas sessões. 4. A Ordem dos Templários.

5. [Figurado] Lugar sagrado ou venerável.”

(in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013). “Substantivo masculino.

1. Na Roma antiga, espaço descoberto e delimitado, orientado e consagrado pelos áugures para a realização de ato sagrado ou prática de suas observações;

2. Qualquer edifício público erigido em honra de uma ou mais divindades. Ex.: t. de Diana;

3. Qualquer edifício destinado ao culto religioso (...)” (in Dicionário HOUAISS).

Segundo Edmar Oliveira Andrade Filho:

A palavra ‘templo’ pode ser interpretada sob pelo menos duas perspectivas. Em sentido amplo pode designar toda uma ordem religiosa, composta dos locais de culto e da administração, o que inclui o pessoal necessário ao funcionamento desses locais e da administração da ordem como um todo. Em sentido estrito a palavra designa apenas e tão somente o local em que são celebrados os rituais próprios do culto respectivo. Parece-nos que interpretação ampla é a mais correta porquanto empresta maior espectro (máxima efetividade) a importantes princípios de organização social de nossa comunidade. (2005, p.117).

Ainda sobre o tema, em festejada doutrina, leciona Sacha Calmon Navarro Coelho:

Templo, do latim templum, é o lugar destinado ao culto. Em Roma, era lugar aberto, descoberto e elevado, consagrado pelos augures, sacerdotes da adivinhação, a perscrutar a vontade dos deuses, nessa tentativa de todas as religiões de religar o homem e sua finitude ao absoluto, a Deus. Hoje, os templos de todas as religiões são comumente edifícios (...).

Onde quer que se oficie um culto, aí é o templo. No Brasil, o Estado é laico. Não tem religião oficial. A todas respeita e protege, não indo contra as instituições religiosas com o poder de polícia ou o poder de tributar (...). O templo, dada a isonomia de todas as religiões, não é só a catedral católica, mas a sinagoga, a casa espírita kardecista, o terreiro de candomblé ou de umbanda, a igreja protestante, shintoísta ou budista e a mesquita

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