• Nenhum resultado encontrado

A dinâmica do tráfico interno de escravos na franja da economia cafeeira paulista (1861-1887)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A dinâmica do tráfico interno de escravos na franja da economia cafeeira paulista (1861-1887)"

Copied!
413
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

GABRIEL ALMEIDA ANTUNES ROSSINI

A dinâmica do tráfico interno de escravos na franja da

economia cafeeira paulista (1861-1887).

Campinas

Março de 2015

(2)
(3)

GABRIEL ALMEIDA ANTUNES ROSSINI

A dinâmica do tráfico interno de escravos na franja da

economia cafeeira paulista (1861-1887)

Profª. Drª. Lígia Maria Osório Silva – Orientadora

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico, área de concentração em História Econômica do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de doutor em Desenvolvimento Econômico, na área de concentração em História Econômica.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO

GABRIEL ALMEIDA ANTUNES ROSSINI E

ORIENTADA PELA PROFª. DRª. LÍGIA MARIA OSÓRIO SILVA.

CAMPINAS 2015

(4)
(5)

TESE DE DOUTORADO

GABRIEL ALMEIDA ANTUNES ROSSINI

A dinâmica do tráfico interno de escravos na franja da

economia cafeeira paulista (1861-1887)

Defendida em 20/03/2015

(6)
(7)

Quando os debates tomaram impulso, a sociedade repentinamente ficou polarizada: os partidos políticos dividiram-se, porque já não era mais possível permanecerem neutros. (...) Aqueles que se opunham à mudança salientaram, antes de mais nada, o direito à propriedade. Os senhores de escravos, como os latifundiários de hoje, insistiram em que os deserdados eram realmente felizes até serem agitados por demagogos inescrupulosos. Richard Graham, Escravidão, reforma e imperialismo. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1979.

A história não revela submissão e resignação, mas sobrevivência e revide. Warren Dean. Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura, 1820-1920. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1977.

A idealização da escravatura, a ideia romântica da suavidade e brandura da escravatura no Brasil, a descrição do escravo leal e do senhor benevolente, amigo do escravo – interpretações que acabaram prevalecendo em nossa literatura e nossa história – foram alguns dos mitos formados por uma sociedade escrava para defender um sistema considerado essencial. Emília Viotti da Costa. Da senzala à

(8)
(9)

Agradecimentos

À Universidade Estadual de Campinas.

À minha orientadora, professora Dra. Ligia Osorio Silva, que sempre se mostrou receptiva e paciente.

Agradeço muitíssimo aos membros das bancas de qualificação e defesa pela leitura atenta, sugestões, questionamentos e críticas. Compuseram a banca de qualificação os professores doutores: Robert W. Slenes, José Flávio Motta e Ligia Osorio. Na defesa, além dos professores que participaram da qualificação, pude contar com as contribuições dos professores Renato Leite Marcondes e Maria Alice Rosa Ribeiro.

Aos tabeliães e funcionários dos cartórios cujos acervos relativos ao tráfico interno de escravos possibilitaram essa pesquisa.

Aos meus professores e colegas do Programa de Doutorado do Instituto de Economia da UNICAMP.

À PUC-SP, que além da rica experiência, propiciou-me auxílio capacitação docente, diminuindo a minha carga horária durante um semestre letivo.

Aos amigos e colegas da PUC-SP.

Aos amigos, que de diferentes formas participaram desta empreitada.

À minha família, que sempre está por perto me apoiando e estimulando.

À Marília, minha paciente leitora e minha querida companheira de todas as horas. Eu te amo e te quero sempre por perto. Ao Antonio, meu homem de ferro, que acaba de fazer 4 anos e apenas conheceu o pai na versão doutorando...

(10)
(11)

Resumo

Esta pesquisa aborda a dinâmica do tráfico interno de escravos na franja da economia cafeeira paulista, entre 1861-1887. Este estudo tem como lócus privilegiado alguns importantes centros cafeicultores do Oeste Paulista pertencentes à Zona da Baixa Paulista (Rio Claro, Araras e Araraquara). Os resultados apresentados nesta pesquisa foram decorrentes da análise de 814 escrituras de compra e venda de escravos que registraram a comercialização de 1.756 indivíduos das mais diferentes idades, origens e ambos os sexos. Este estudo é estruturado em quatro partes. Além da introdução, na segunda parte, discutimos aspectos relativos aos recortes espacial, temporal e ao núcleo documental utilizado e também abordamos elementos da expansão cafeeira e do comércio interno de escravos. Na terceira, expomos os resultados das diversas apreciações econômicas e demográficas relativas aos indivíduos que sofreram o fado das diferentes modalidades do tráfico interno de cativos. Por fim, expomos as nossas conclusões.

Palavras-chave: escravo, café, São Paulo, tráfico interno, século XIX.

Abstract

This research deals with the dynamics of internal slave trade during the coffee boom era in São Paulo, between 1861 and 1887. The localities where we focus this research are the cities of Rio Claro, Araras and Araraquara, in the western zone of the São Paulo, also known as “Baixa Paulista”, where important coffee plantations were developed. The research is based on the analysis of 814 deeds of purchase and sale of slaves, with these transactions involving 1.756 persons, of different ages, origins and sex. The study is structured in four parts, an introduction, a section focused on describing our local samples, including aspects related to growth of coffee production and associated growth of the trade of slaves. In the third section, we present the results of our economic and demographic analysis developed upon the territorial, economic and demographic sample. This section is followed by a conclusion.

(12)
(13)

LISTA DE MAPAS, GRÁFICOS E TABELAS

PARTE I

CAPÍTULO I - Aspectos relativos aos recortes espacial, temporal e ao núcleo documental.

Mapas

Mapa 1 – Divisão geográfica do território paulista adotada por Sérgio Milliet em Roteiros do Café

...35

Mapa 2 – Divisão geográfica do território paulista adotada por Sérgio Milliet em Roteiros do Café. Posição do município de Rio Claro em relação ao território paulista ... 42

Mapa 3 – Divisão geográfica do território paulista adotada por Sérgio Milliet em Roteiros do Café. Posição do município de Araras em relação ao território paulista ... 42

Mapa 4 – Divisão geográfica do território paulista adotada por Sérgio Milliet em Roteiros do Café. Posição do município de Araraquara em relação ao território paulista .... 53

Gráficos Gráfico 1 – Produção de café (em @) em diferentes regiões de São Paulo .... 36

Gráfico 2 – População escrava em diferentes regiões da província de São Paulo ...37

Gráfico 3 – População total em diferentes regiões de São Paulo ...37

Gráfico 4 – Produção de café (em @) em Rio Claro ...46

Gráfico 5 – População escrava em Rio Claro ...46

Gráfico 6 – Chegada de imigrantes em Rio Claro, 1883-1921 ...51

Gráfico 7 – Produção de café Araraquara ...58

Gráfico 8 – População escrava baixa paulista, pop. total Araraquara e pop. escrava Araraquara, 1836-1900 ...59

Tabelas Tabela 1 – Alguns dados concernentes aos municípios em apreço – 1905 ...38

Tabela 2 – Atividades econômicas encontradas de acordo com o Almanak de São João de Rio Claro para o ano de 1873 ...50

Tabela 3 – Evolução da população de Rio Claro, 1822-1920 ...51

Tabela 4 – Inventários Araraquara, 1830-1860 ...54

Tabela 5 – Inventários Araraquara, 1860-1890 ...57

Tabela 6 – População de Araraquara segundo condição social, nacionalidade e sexo ...59

(14)

CAPÍTULO II - Notas sobre a expansão cafeeira, o tráfico interno de escravos e o colonato.

Mapas

Mapa 1 – Marcha cronológica do café ...82

Mapa 2 – Carta da Província de S. Paulo ...87

Gráficos Gráfico 1 – Exportações brasileiras de café em grãos – totais por quinquênios. Milhares de sacas de 60 kg ...94

Gráfico 2 – Evolução do preço médio do escravo padrão por quinquênio e sexo, em Pernambuco. 1800-1887 – Mil Réis ...126

Gráfico 3 – Evolução do preço médio da tonelada do açúcar exportado por quinquênio. 1800 – 1887 – Mil Réis ...126

Tabelas Tabela 1 – Escravos manumitidos a título oneroso e gratuito (até 30 de junho de 1885) e por meio do fundo de emancipação (entre set/1871 – jan/1885) ...109

Tabela 2 – População escrava segundo estado civil ...116

Tabela 3 – População escrava brasileira por província em percentual 1819-1887 ...120

Tabela 4 – Aspectos da estatística escrava existente no Império até 30 de junho de 1885 ...128

Tabela 5 – Percentual masculino na composição da população escrava Bahia e São Paulo ...133

Tabela 6 – Escravos existentes em 30 de junho de 1885, em diversas províncias do Império ...134

PARTE II CAPÍTULO III - Tráfico interno de escravos: Rio Claro, 1861 – 1869. Gráficos Gráfico 1 - Número de escravos transacionados segundo sexo e ano de registro da escritura. Rio Claro, 1861 – 1869 ...145

Gráfico 2 – Relação preço nominal médio versus idade dos escravos (homens e mulheres) negociados, individualmente, em Rio Claro, ao longo dos anos 1860 ...151

(15)

Gráfico 3 – Relação preço nominal médio versus idade das escravas negociadas, individualmente, em Rio Claro, ao longo dos anos 1860 ...151

Gráfico 4 – Relação preço nominal médio versus idade dos escravos negociados, individualmente, em Rio Claro, ao longo dos anos 1860 ... 151

Gráfico 5 – Número de escravos jovens (15-29 anos) negociados em Rio Claro segundo sexo (1861-1869) ...153

Gráfico 6 – Preço médio nominal dos escravos jovens (15 a 29 anos) negociados em Rio Claro segundo sexo (1861-1869) ...153

Gráfico 7 – Preço médio nominal dos escravos adultos jovens (15 a 29 anos) negociados, individualmente, em Rio Claro segundo sexo (1861-1869) ...158

Gráfico 8 – Preços nominais médios (Contos de Réis) dos escravos crianças, por faixa etária e sexo. Rio Claro, 1861-1869 ...165

Gráfico 9 – Maior participação do grupo de escravos crianças do sexo masculino, de 12-14 anos, registrados em Rio Claro, entre 1861-1869 ...166

Gráfico 10 – Maior participação do grupo de escravas crianças do sexo feminino, de 12-14 anos, registradas em Rio Claro, entre 1861-1869 ...166

Gráfico 11 – Estado conjugal e filhos declarados de acordo com as Escrituras de Compra e Venda de Escravos - Rio Claro (1861-1869) ...168

Gráfico 12 – Número de crianças escravas comerciadas em Rio Claro, 1861-1869 ...173

Gráfico 13 – Crianças escravas vendidas individualmente e no âmbito de grupos em Rio Claro, 1861-1869 ...174

Gráfico 14 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram apenas um escravo sendo negociado ...177

Gráfico 15 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram mais de um escravo sendo negociado ...177

Gráfico 16 – Tráfico interprovincial: nordeste, sul e MG + RJ para a província de São Paulo e Município de Rio Claro (1861-1869) ...186

Gráfico 17 – A participação de MG no bojo dos escravos comerciados, no âmbito interprovincial, com destino a Rio Claro, 1861-1869 ...188

Gráfico 18 – Escravos de nação negociados em Rio Claro segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio (1861-1869) ...193

Gráfico 19 – Escravos crioulos negociados em Rio Claro segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio (1861-1869) ...195

Gráfico 20 – Escravos negociados no tráfico interprovincial segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio (Rio Claro, 1861-1869) ...198

Gráfico 21 – Escravos negociados no tráfico local segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio (Rio Claro, 1861-1869) ...199

Gráfico 22 – Escravos negociados no tráfico intraprovincial segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio (Rio Claro, 1861-1869) ...200

(16)

Tabelas

Tabela 1 – Preços médios, em mil-réis, de escravos masculinos, de 15 a 29 anos Rio Claro - SP 1862-1869 - Confronto dados W. Dean e G. Rossini ...148

Tabela 2 – N. de escravos, sexo, idade media, mediana, desvio padrão e preços médios nominais dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos individualmente em Rio Claro, 1861-1869 ...154 Tabela 3 – Preço médio nominal dos escravos jovens (15 a 29 anos), negociados individualmente, de acordo com a cor da pele indicada na escritura. Rio Claro (1861-1869) ...162

Tabela 4 – Preços médios nominais dos escravos crianças (menores de 15 anos) registrados em Rio Claro, entre 1861-1869 ...164

Tabela 5 – Tráfico local, intra-regional e inter-regional (%), Rio Claro 1861-1869 ...178

Tabela 6 – Escravos negociados segundo sexo, origem e tipo de tráfico - Rio Claro (1861-1869) ...182

Tabela 7 – Entradas e saídas de Rio Claro segundo sexo (1861-1869) ...184

Tabela 8 – Tráfico intraprovincial: entradas em Rio Claro, 1861-1869 - Distância entre as localidades ...185

Tabela 9 – Escravos jovens (15-29 anos de idade) negociados individualmente de acordo com: tipo de tráfico, sexo e preço nominal médio (Rio Claro, 1861-1869). Em Réis ...201

Tabela 10 – Escravos negociados em Rio Claro segundo sexo e ocupação (1861-1869) ...202

CAPÍTULO IV - Tráfico interno de escravos: Rio Claro, Araras e Araraquara, 1870 – 1880.

Gráficos

Gráfico 1 – Escravos negociados segundo tipo de tráfico, localidades pesquisadas. 1870 - 1880 ...209

Gráfico 2 – Número de escravos transacionados segundo ano de registro da escritura. Rio Claro, 1870, 1871, 1876 e 1877 ...217

Gráfico 3 – N. de escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...219

Gráfico 4 – Preços médios nominais, em Contos de Réis, dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...220

Gráfico 5 – Estado conjugal e filhos declarados de acordo com as Escrituras de Compra e Venda de Escravos - Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...224

Gráfico 6 – Número de crianças escravas comerciadas em Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...226

Gráfico 7 – Crianças escravas vendidas individualmente e no âmbito de grupos em Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...227

Gráfico 8 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram apenas um escravo sendo negociado (Rio Claro, 1870, 1871, 1876 e 1877) ...229

(17)

Gráfico 9 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram mais de um escravo sendo negociado (Rio Claro, 1870, 1871, 1876 e 1877) ...229

Gráfico 10 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram cinco ou mais escravo sendo negociado (Rio Claro, 1870, 1871, 1876 e 1877) ...229

Gráfico 11 – Tráfico interprovincial: Nordeste, Sul, MG e RJ para a província de São Paulo e Município de Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...233

Gráfico 12 – Escravos 'de nação' negociados segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio (Réis) (Rio Claro, 1870, 1871, 1876 e 1877) ...235

Gráfico 13 – Escravos 'crioulos' negociados segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio (Réis) (Rio Claro, 1870, 1871, 1876 e 1877) ...236

Gráfico 14 – Escravos negociados no tráfico local segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio (Réis). Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...237

Gráfico 15 – Escravos negociados no tráfico intraprovincial segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio- (Réis). Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...238

Gráfico 16 – Escravos negociados no tráfico interprovincial segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio- (Réis). Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...238

Gráfico 17 – Número de escravos transacionados segundo sexo e ano de registro da escritura. Araras, 1875-1880 ...244

Gráfico 18 – N. de escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Araras ,1875-1880 ...246 Gráfico 19 – Preços médios nominais, em Contos de Réis, dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Araras, 1875-1880 ...247

Gráfico 20 – Estado conjugal e filhos declarados de acordo com as Escrituras de Compra e Venda de Escravos - Araras (1875-1880) ...250

Gráfico 21 – Número de crianças escravas comerciadas em Araras, 1875-1880 ...251

Gráfico 22 – Crianças escravas vendidas individualmente e no âmbito de grupos em Araras, 1875-1880 ...252

Gráfico 23 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram apenas um escravo sendo negociado (Araras, 1875-1880) ...253

Gráfico 24 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram mais de um escravo sendo negociado (Araras, 1875-1880) ...253

Gráfico 25 – Tráfico interprovincial: Nordeste, Sul, MG e RJ para a província de São Paulo e Município de Araras (1875-1880) ...258

Gráfico 26 – Escravos negociados no tráfico interprovincial segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio – (Contos de Réis). Araras, 1875-1880 ...262

Gráfico 27 – Escravos negociados no tráfico intraprovincial segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio – (Contos de Réis). Araras, 1875-1880 ...262

Gráfico 28 – Escravos negociados no tráfico local segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio – (Contos de Réis). Araras, 1875-1880 ...263

Gráfico 29 – Número de escravos transacionados segundo sexo e ano de registro da escritura – Araraquara 1870-1880 ...268

(18)

Gráfico 31 – Preços médios nominais dos escravos jovens (15-29 anos) por sexo – Araraquara (1870-1880). Réis ...269

Gráfico 32 – Estado conjugal e filhos declarados de acordo com as Escrituras de Compra e Venda de Escravos - Araraquara (1870-1880) ...274

Gráfico 33 – Número de crianças escravas comerciadas em Araraquara, 1870-1880 ...275

Gráfico 34 – Crianças escravas vendidas individualmente e no âmbito de grupos em Araraquara, 1870-1880 ...276

Gráfico 35 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram apenas um escravo sendo negociado – Araraquara, 1870-1880 ...278

Gráfico 36 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram mais de um escravo sendo negociado – Araraquara, 1870-1880 ...279

Gráfico 37 – Tráfico interprovincial: Nordeste, RJ e MG para a província de São Paulo e Município de Araraquara (1870-1880) ...283

Gráfico 38 – Escravos negociados no tráfico local segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio - Araraquara (1870-1880). Réis ...284

Gráfico 39 – Escravos negociados no tráfico interprovincial segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio - Araraquara (1870-1880). Réis ...285

Gráfico 40 – Escravos negociados no tráfico intraprovincial segundo faixa etária, sexo e preço nominal médio - Araraquara (1870-1880). Réis ...286

Gráfico 41 – Escravos transacionados em cada uma das localidades que temos em apreço, de acordo com o tipo de tráfico (1870-1880) ...290

Gráfico 42 – Estado conjugal e filhos declarados dos escravos declarados, ao longo dos anos 1870-1880, nas localidades selecionadas ...291

Gráfico 43 – Preços nominais médios dos escravos jovens (15-29 anos), negociados individualmente, segundo sexo, localidade e tipologia do tráfico interno. Localidades selecionadas (1870-1880) ...292

Tabelas

Tabela 1 – Escravos vendidos segundo localidade, sexo e ano de registro da escritura ... 208

Tabela 2 – Tráfico local, intra-regional e inter-regional (%), Rio Claro, Araras e Araraquara, 1870-1880 ...210

Tabela 3 – Principais compradores de escravos em Rio Claro, 1870-1880 ...214 Tabela 4 – Principais vendedores de escravos em Araras, 1870-1880 ...214

Tabela 5 – Preços médios, em mil-réis, de escravos masculinos, de 15 a 29 anos, Rio Claro – SP, 1870-1879. Confronto dados W. Dean e G. Rossini ...231

Tabela 6 – N. de escravos, idade média, mediana, desvio padrão e preços médios nominais (Réis) dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos individualmente em Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...221

Tabela 7 – Escravos negociados segundo sexo, origem e tipo de tráfico - Rio Claro (1870, 1871, 1876 e 1877) ...230

(19)

Tabela 8 – Entradas e saídas de escravos de Rio Claro segundo sexo (1870, 1871, 1876 e 1877) ...231

Tabela 9 – Escravos jovens (15-29 anos de idade) negociados individualmente de acordo com: tipo de tráfico, sexo e preço nominal médio (Rio Claro, (1870, 1871, 1876 e 1877). Em Réis ...239 Tabela 10 – Escravos negociados em Rio Claro segundo sexo e ocupação (1870, 1871, 1876 e 1877) ...241

Tabela 11 – N. de escravos, idade média, mediana, desvio padrão e preços médios nominais (Réis) dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos individualmente em Araras, 1875-1880 ...247 Tabela 12 – Escravos negociados segundo sexo, origem e tipo de tráfico - Araras, 1875-1880 ...255 Tabela 13 – Entradas e saídas de Araras segundo sexo (1875-1880) ...256

Tabela 14 – Escravos negociados: faixa etária, origem, sexo e preço nominal médio (Araras, 1875-1880) ...259

Tabela 15 – Escravos jovens (15-29 anos de idade) negociados individualmente de acordo com: tipo de tráfico, sexo e preço nominal médio (Araras, 1875-1880). Em Réis ...264

Tabela 16 – Escravos negociados em Araras segundo sexo e ocupação (1875-1880) ...265

Tabela 17 – N. de escravos, idade média, mediana, desvio padrão e preços médios nominais (Réis) dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos individualmente em Araraquara, 1870-1880 ...271

Tabela 18 – Entradas e saídas de Araraquara segundo sexo (1870-1880) ...280 Tabela 19 – Tráfico intraprovincial: entradas em Araraquara, 1870-1880 ...281

Tabela 20 – Escravos jovens (15-29 anos de idade) negociados individualmente de acordo com: tipo de tráfico, sexo e preço nominal médio (Araraquara, 1870-1880). Em Réis ...287

Tabela 21 – Escravos negociados em Araraquara segundo sexo e ocupação (1870-1880) ...288

CAPÍTULO V - Tráfico interno de escravos: Rio Claro, Araras e Araraquara, 1881-1887.

Gráficos

Gráfico 1 – Escravos negociados segundo tipo de tráfico, localidades pesquisadas. 1870 - 1880 ...297

Gráfico 2 – Número de escravos transacionados segundo sexo e ano de registro da escritura. Araras, 1881 – 1883 ...298

Gráfico 3 - Número de escravos transacionados segundo sexo e ano de registro da escritura. Rio Claro, 1883 – 1887 ...300

Gráfico 4 – Número de escravos transacionados segundo sexo e ano de registro da escritura. Araraquara (1881 – 1887) ...301

Gráfico 5 – Gráfico 3 – N. de escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Araras (1881-1883) ...303

Gráfico 6 – Preços médios nominais, dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Araras (1881-1883). Réis ...303

(20)

Gráfico 7 – N. de escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Rio Claro (1883-1887) ...304 Gráfico 8 – Preços médios nominais, dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Rio Claro (1883-1887). Réis ...304

Gráfico 9 – Número de escravos adultos jovens (15-29 anos) transacionados segundo sexo e ano de registro da escritura - Araraquara (1881-1887) ...306

Gráfico 10 – Preços médios nominais, dos escravos adultos jovens (15-29 anos) vendidos em Araraquara (1881-1887). Réis ...306

Gráfico 11 – Estado conjugal e venda de crianças escravas de acordo com as escrituras de compra e venda de escravos – Araras (1881-1883) ...310

Gráfico 12 – Estado conjugal de acordo com as escrituras de compra e venda de escravos – Rio Claro (1883-1887) ...311

Gráfico 13 – Estado conjugal de acordo com as escrituras de compra e venda de escravos – Araraquara (1881-1887) ...314

Gráfico 14 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram apenas um escravo sendo negociado - Araraquara, 1881-1887 ...315

Gráfico 15 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram mais de um escravo sendo negociado - Araraquara, 1881-1887 ...315

Gráfico 16 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram apenas um escravo sendo negociado – Rio Claro 1883 – 1887 ...315

Gráfico 17 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram mais de um escravo sendo negociado – Rio Claro 1883 – 1887 ...315

Gráfico 18 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram apenas um escravo sendo negociado – Araras, 1881-1883 ...316

Gráfico 19 – Tipo de tráfico segundo as escrituras que registraram mais de um escravo sendo negociado – Araras, 1881-1883 ...316

Gráfico 20 – Escravos transacionados em cada uma das localidades que temos em apreço, de acordo com o tipo de tráfico (1881-1887) ...325

Gráfico 21 – Estado conjugal e filhos declarados dos escravos declarados, ao longo dos anos 1881-1887, nas localidades selecionadas ... 326

Gráfico 22 – Preços nominais médios dos escravos jovens (15-29 anos), negociados individualmente, segundo sexo, localidade e tipologia do tráfico interno. Localidades selecionadas, em Réis, 1881-1887 ...327

Tabelas

Tabela 1 – Escravos vendidos segundo localidade, sexo e ano de registro da escritura ...296

Tabela 2 – Preços médios, em mil-réis, de escravos masculinos, de 15 a 29 anos, Rio Claro – SP, 1881-1887. Confronto dados W. Dean e G. Rossini ...302

(21)

Tabela 3 – Preços médios nominais dos escravos adultos jovens (15-29 anos), vendidos

individualmente, em Araras (1881-1883) ...303

Tabela 4 – Preços médios nominais dos escravos adultos jovens (15-29 anos), vendidos individualmente, em Rio Claro (1883-1887) ...305

Tabela 5 – Preços médios nominais dos escravos adultos jovens (15-29 anos), vendidos individualmente, em Araraquara (1881-1887) ...307

Tabela 6 – Escravos negociados: faixa etária, tipo de tráfico, sexo e preço nominal médio (Araras, 1881-1883) ...317

Tabela 7 – Escravos negociados: faixa etária, tipo de tráfico, sexo e preço nominal médio (Rio Claro, 1883-1887) ...318

Tabela 8 – Escravos negociados: faixa etária, tipo de tráfico, sexo e preço nominal médio (Araraquara, 1881-1887) ...319

Tabela 9 – Escravos jovens (15-29 anos de idade) negociados individualmente de acordo com: tipo de tráfico, sexo e preço nominal médio (Rio Claro, Araras e Araraquara, 1881-1887). Em Réis ...320

Tabela 10 – Entradas e saídas de Araras segundo sexo (1881-1883) ...321

Tabela 11 – Entradas e saídas de Rio Claro segundo sexo (1883-1887) ...322

Tabela 12 – Entradas e saídas de Araraquara segundo sexo (1881-1887) ...322

Tabela 13 – Escravos negociados em Rio Claro segundo sexo e ocupação (1883-1887) ...322

Tabela 14 – Escravos negociados em Araras segundo sexo e ocupação (1881-1883) ...322

(22)
(23)

Índice

INTRODUÇÃO...1

PARTE I ...33 CAPÍTULO I

Aspectos relativos aos recortes espacial, temporal e ao núcleo documental utilizado...34

CAPÍTULO II

Expansão cafeeira e o tráfico interno de escravos...79

PARTE II...143 CAPÍTULO III

Tráfico interno de escravos: Rio Claro, 1861 – 1869...144 CAPÍTULO IV

Tráfico interno de escravos: Rio Claro, Araras e Araraquara, 1870 – 1880...207 CAPÍTULO V

Tráfico interno de escravos: Rio Claro, Araras e Araraquara, 1881-1887...293

CONCLUSÕES...329

FONTES E BIBLIOGRAFIA... 339

(24)

Introdução

A dinâmica conflituosa das relações sociais de produção e sua interação com o desenvolvimento das forças produtivas no Brasil, entre 1850 e o final do século XIX, conformou cenário excepcionalmente fecundo de consequências. Durante esse largo e essencial período ocorreram acontecimentos fundamentais. Temos na esfera internacional, a intensificação da crise da escravidão. Concomitantemente, ocorreu o repúdio do Estado absolutista e da política mercantilista, o aprofundamento da divisão do trabalho, as densas transformações nos meios de produção, transporte e comunicação, o crescimento da população europeia e o alargamento do mercado internacional.

Em decorrência dessas metamorfoses e superações, a escravidão tornou-se paulatinamente disfuncional. Além dos aspectos mencionados, como era de se esperar, ao longo desse processo, a interrupção das diversas ramificações do tráfico internacional de cativos e a abolição da escravatura constituíram-se em novas armas que passaram a integrar o arsenal da luta pelo poder nas metrópoles e colônias, sejam, essas últimas, formais ou informais.

Todavia, nenhum acontecimento imbuído de significado histórico ocorre sem percalços, penumbras e meandros. Com a introdução do trabalho livre não foi diferente. Em distintas situações e localidades, a passagem para o trabalho livre nas áreas avançadas reiterou a escravidão nas áreas atrasadas, pois a expansão dos mercados e a crescente demanda por gêneros coloniais reforçaram, em muitas regiões menos desenvolvidas, a compra e utilização do braço escravo.1

1

Cf. Dale W. Tomich. Pelo prisma da escravidão: trabalho, capital e economia mundial. São Paulo: Edusp, 2011. Tomich, neste livro, objetiva “deslindar de que modo as histórias de certas formações escravistas das Américas foram moldadas pela sua inserção no mercado global, na divisão do trabalho e no sistema interestatal” p. 13. Ver também: Rafael de Bivar Marquese. Estados Unidos, Segunda Escravidão e a Economia Cafeeira do Império do Brasil. Almanack, v. 5, p. 51-60, 2013. Rafael de Bivar Marquese. Capitalismo & escravidão e a historiografia sobre a escravidão nas Américas. Estudos Avançados, USP, V. 26, p. 341-354, 2012.

(25)

Observamos essa consequência no Império brasileiro. Aí, além de alguns processos fundamentais ocorridos no século XIX2, temos o fato de a expansão das áreas dedicadas ao café e de a crescente exportação desse produto (a partir da década de 1830, o café tornou-se o principal produto de exportação brasileiro) terem, por um lado, ocasionado o recrudescimento do tráfico de escravos e da utilização da mão de obra cativos e, por outro, acarretado mudanças socioeconômicas profundas, tai como o deslocamento do centro político e econômico da Bahia e Pernambuco para o ‘sul’ e o surgimento de uma nova aristocracia rural.

Sobretudo, a partir da terceira década do Oitocentos, os interesses vinculados ao café tornaram-se tão robustos que fizeram o governo brasileiro ignorar o tratado de 18313 e as pressões da diplomacia inglesa e admitir intenso contrabando de escravos, que possibilitou a marcha ascendente dos cafeeiros no Vale do Paraíba e, posteriormente, no Oeste Paulista. A traficância ilegal de escravos ocorreu até 1850, quando o quadro criado pelo aumento e maior eficácia da pressão e repressão inglesa4, a maior centralização do aparato estatal do Império brasileiro e o largo abastecimento de cativos, decorrente das volumosas entradas ocorridas nos anos precedentes, impuseram uma nova e efetiva legislação repressora do comércio transatlântico de escravos para o Brasil5.

Como teremos oportunidade de acompanhar ao longo desta pesquisa, a interdição do tráfico transatlântico de escravos teve copiosos resultados, tais como: alta abrupta e consistente do preço dos escravos e consequente concentração dos

2

Estamos pensando na atividade de mineração, vinda da família real, na abertura dos portos, na independência, na construção do Estado Nacional (escravista, fundado na manutenção da esfera privada de exercício da violência, na grande propriedade monocultora e no contínuo apossamento da terra, evitando a demarcação das terras públicas, base para a instituição do imposto territorial), a promulgação da Lei de Terras (1850), a proclamação da República. Cf. Ligia Osório Silva, Terras devolutas e latifúndio. Campinas: Ed. UNICAMP. 2008. Wilma Peres Costa. A economia mercantil escravista nacional e o processo de construção do Estado no Brasil. In. História econômica da independência e do Império. Tamás Szmrecsanyi e Lapa, J. R. Amaral (Orgs.) São Paulo: EDUSP, Imprensa Oficial e HICITEC. 2002

3

Cf. Sidney Chalhoub, A Força da Escravidão: Ilegalidade e Costumes no Brasil Oitocentista. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

4

Cf. Leslie Bethell, The abolition of the Brazilian slave trade. Brazil and the slave question, 1807-1869. Cambridge, 1970.

5

(26)

cativos em um menor número de propriedades, com os senhores menos prósperos vendendo seus escravos para os mais ricos6; ‘ladinização’ dos cativos; ligeira melhora do tratamento despendido pelos fazendeiros aos seus escravos, dada a restrição da oferta paralelamente à expansão dos cafeeiros para o Oeste Paulista; expressiva diminuição da população cativa, pois as mortes superavam os nascimentos; dinamização do tráfico interno de escravos (os deslocamentos ocorriam, sobretudo, das zonas urbanas e rurais menos prósperas para as zonas mais produtivas do Sudeste do Império); concentração dos cativos nas províncias cujas fronteiras agrícolas estavam sendo subjugadas pela marcha do café; desmantelamento mais recorrente das famílias escravas, em virtude das vendas de apenas alguns indivíduos do grupo. Por fim, na medida em que a propriedade de cativos se “concentrava em mãos menos numerosas e nas áreas rurais e não nos centros urbanos, o número de defensores entusiásticos com o qual a instituição da escravidão podia contar diminuía”7

.

Afora os acontecimentos que acabamos de mencionar, houve maior atenção e diligência, principalmente por parte dos fazendeiros situados no Oeste de São Paulo, em prol da organização da imigração. De uma forma geral, as experiências iniciais relativas ao incentivo e à coordenação da imigração foram mal sucedidas, esmorecendo tanto o ânimo dos colonos quanto dos fazendeiros. Temos, por exemplo, os emblemáticos acontecimentos da fazenda Ibicaba, do Senador Vergueiro, já largamente revisitados por diversas pesquisas, e a lei de Locação de Serviços promulgada em inícios de 1879 e apelidada de Lei Sinimbu8. A falta de bons resultados dessas primeiras experiências, moldadas pelo regime de parceria, e o fato de os fazendeiros, até os anos 1870, não estarem convencidos de que a ‘solução escravidão’ estava condenada, fez com que as plantações abertas no

6

Esse processo é estudado por Hebe Maria Mattos, Das cores do silêncio. O significado da liberdade no sudeste escravista: Brasil, século XIX. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1998. p. 121.

7

Richard Graham. Nos tumbeiros mais uma vez? O comércio interprovincial de escravos no Brasil. Afro-Ásia, Salvador, n. 27, p 121-160, 2002. p. 133.

8

(27)

Oeste Paulista, até meados da década de 1870, continuassem se norteando essencialmente pelo trabalho escravo9.

Todavia, a partir da segunda metade do século XIX, conformou-se um novo horizonte que possibilitou condições adequadas à transição do trabalho escravo para o livre. Os processos mais marcantes desse novo cenário foram:

(i) A dinamização das exportações e a consequente acumulação de capital que possibilitaram aos cafeicultores internalizarem os avanços no processo de beneficiamento do café e acessarem as incríveis melhorias do sistema de transporte. Esses acontecimentos permitiram o incremento da divisão do trabalho e a resultante maior especialização e eficácia na execução das tarefas, consentindo em redução e uso mais eficiente da mão de obra. Esse processo traduziu-se também na utilização de trabalhadores extras nos momentos de pico de trabalho, notadamente as colheitas10.

(ii) A acumulação de capitais e o crescimento do mercado doméstico motivaram a diversificação dos investimentos e aplicações financeiras, permitindo a redução do risco enfrentado quando a totalidade dos investimentos se dirigia para a agricultura (terras, escravos e demais insumos necessários). Ao longo do século XIX, os fazendeiros passaram a direcionar parte dos seus capitais para companhias de seguro, ferrovias, empresas comerciais, indústrias e intermediação financeira, ou seja, empreendimentos que embora muitas vezes não propiciassem o mesmo lucro oriundo do cultivo do café possibilitavam diversificação e alocação inicial de recursos mais moderada;

(iii) A ampla disponibilidade de terras11 convenientemente reservadas à apropriação/apossamento/grilagem das classes dominantes, a despeito da Lei de Terras de 185012;

9

Ver, por exemplo: Thomas Davatz. Memórias de um colono no Brasil. 1850. Tradução, prefácio e notas de Sérgio Buarque de Holanda. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980. E Verena Stolcke & Michael Hall, A introdução do trabalho livre nas fazendas de café de São Paulo. In: Revista Brasileira de História, n. 6. São Paulo: Marco Zero, 1983.

10

Cf. Cláudia Alessandra Tessari, Braços para colheita: sazonalidade e permanência do trabalho temporário na agricultura paulista (1890-1915). São Paulo: Alameda Editorial, 2012.

11

(28)

(iv) O desenvolvimento do capitalismo na Europa que, em fins do século XIX, culminou na Grande Depressão, teve como uma de suas consequências a expropriação de grande número de camponeses que, ‘duplamente livres’, dispuseram-se a “fazer a América”. Esses imigrantes – no caso brasileiro, sobretudo italianos, seguidos pelos espanhóis e portugueses – juntamente com o expressivo crescimento da população livre nacional – segundo os dados dos censos disponíveis – ocasionaram extensa oferta de mão de obra13

. Entretanto, apesar da contínua formação de um mercado de trabalho livre, a oportunidade de substituir o braço escravo pelo livre não foi equânime. Os fazendeiros do Vale do Paraíba – por motivos que não se restringem às idiossincrasias psicológicas e ideológicas, mas dizem respeito a dívidas, erosão do solo, moléstias nos cafezais, menor produtividade, diminuição da margem de lucro e pequena possibilidade de culturas intercalares – não tiveram as mesmas condições dos plantadores do Oeste Paulista para incorporar trabalhadores livres14. Assim sendo, não se trata de contrapor uma mentalidade senhorial a uma empresarial, “mas de contrastar duas condições objetivamente diversas que permitiram a uns assistir com relativa indiferença aos progressos do abolicionismo e levaram outros a defender até o último instante a ordem tradicional15”;

(v) A crescente contrariedade acerca da centralização do poder que permitia às oligarquias regionais dominarem a terra, a vida de grande parcela da população ativa (escravos e livres) e as oportunidades econômicas por parte, sobretudo, das classes médias urbanas;

(vi) A ocorrência de contendas entre setores da própria oligarquia – de um lado, os fazendeiros das áreas novas, cujo interesse residia principalmente na imigração e

12

Cf. Lígia Osório Silva, Terras Devolutas e Latifúndio: efeitos da Lei de 1850. Campinas/SP: Ed. da Unicamp, 2008.

13

Maria Thereza Schorer Petrone, Imigração assalariada. In: Sergio Buarque de Holanda História geral da civilização brasileira. Tomo II. O Brasil monárquico. Reações e transações. 3. ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1976.

14

Paula Beiguelman, A formação do povo no complexo cafeeiro. São Paulo: Pioneira, 1977.

15

(29)

que advogaram moderadamente o abolicionismo, dentro dos limites da legalidade16 e, de outro, os fazendeiros escravocratas do Vale do Paraíba solapados por problemas que redundavam em taxas de lucro baixas ou negativas, vivendo com dificuldades para atrair o braço livre – impulsionaram as ações abolicionistas, que paulatinamente foram corroboradas e estimuladas pelas promulgações do parlamento;

(vii) Acontecimentos legais, igualmente relevantes, debatidos e ecoados pela imprensa, contribuíram para a marcha do processo. As Leis do Ventre Livre (aprovada, sobretudo, pelos representantes do Nordeste, onde o trabalho livre já ganhara espaço) e dos Sexagenários contestaram a licitude e pertinência da propriedade escrava e apontaram, no longo prazo, para o fim da instituição. Além disso, a Lei de 1871 minou o regime escravista ainda de outra maneira. Os ingênuos não poderiam servir de garantia para crédito. Por outro lado, “ao avaliar por baixo os escravos adultos, as juntas de emancipação também limitavam os montantes que os bancos emprestariam contra os escravos”17

.

(viii) A variação da magnitude do compromisso com a escravatura nas diferentes regiões do país também foi muito relevante. A despeito de o regime escravista brasileiro ter enfrentado pouca oposição organizada até seus últimos anos, “brechas regionais na fachada do consenso nacional pró-escravatura já eram aparentes nas décadas de 1860 e 1870, brechas essas que se alargam rapidamente durante a década de 1880, ameaçando a estabilidade de toda a estrutura”18

. Durante os últimos 30 anos, os maiores defensores da instituição foram as províncias cafeeiras (MG, RJ e SP), enquanto no Nordeste, produtor de cana e algodão, e noutras regiões menos prósperas, o amparo a essa instituição – ao longo do mesmo período – desfalecia como consequência da pobreza e da transferência de cativos para o Sudeste;

16

Porém, é importante termos em vista que a não ser apenas alguns meses antes da abolição, poucos deles de fato avançaram para o sistema de trabalho livre.

17

Warren Dean, Rio Claro um sistema brasileiro de grande lavoura. 1820-1920. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. p. 131. Ver também: Josephina Chaia e Luís Lisanti. O escravo na legislação brasileira (1808-1889). Revista de História (USP). Nº 99 - 3º trimestre de 1974.

18

Robert Conrad, Os últimos anos da escravatura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1975. p. XVII.

(30)

(ix) Já no âmbito dos fenômenos de média e curta duração, a intensificação das rebeliões na senzala e as reiteradas fugas de escravos, a despeito da maior recorrência das alforrias, propiciaram mudanças no comportamento dos cafeicultores paulistas, sobretudo, entre aqueles que se encontravam para além de Campinas. No passado, a moral prevalecente condenava a rebelião dos cativos. Já na segunda metade do século XIX (sobretudo, a partir do início da década 1880), as ações empreendidas pelos escravos encontraram, em muitas situações, respaldo na justiça e em extensas esferas da sociedade. “Os escravos foram incorporados à ação abolicionista e seus atos de protesto adquiriram um significado político que não tinham anteriormente”19

. No âmbito desse encadeamento, por exemplo, os abolicionistas não satisfeitos com os métodos legais como os comícios, desfiles e fundos de emancipação, montaram, em 1886, uma organização ativa e ramificada que incitava os escravos, notoriamente os maltratados, a abandonarem as fazendas de seus proprietários20. Essas formas diretas de ação – que, ao longo dos anos 1880 (inclusive desde os seus anos iniciais), estendiam-se da não submissão à disciplina dos feitores e da reivindicação incisiva da liberdade ao abandono das fazendas em levas21 – constituíram o “fator dinâmico primordial” para o término da escravidão no Brasil22 (essas ações foram caracterizadas, vale frisarmos, por largo espontaneismo, principalmente por parte dos escravos). Ou tal como ressalta Toplin, a partir da análise dos debates da Câmara dos Deputados e do Senado: “a quebra da ordem nas fazendas e sua constante violência foram os mais significativos fatores na motivação dos líderes em votar pela abolição imediata”23

.

19

Emília Viotti da Costa, OP. Cit. p. 43.

20

Robert Conrad, Op. Cit. p. 294.

21

Ver Maria Helena P. T. Machado. O Plano e o Pânico. Os Movimentos Sociais na Década da Abolição. 2o. ed. São Paulo: EDUSP, 2010.

22

Jacob Gorender, O Escravismo Colonial. São Paulo: Ática, 1978.

23

Robert B. Toplin. Upheaval, violence and the Abolition of Slavery in Brazil: the case of São Paulo.Hispanic American Historical Review. Nov. 1969. p. 665. Ver também: Ronaldo Marcos Santos. Resistência e Superação do Escravismo na Província de São Paulo (1885-1888). São Paulo: Instituto de Pesquisas Econômicas, 1980.

(31)

(x) Por fim, os extraordinários reflexos que o fim do tráfico negreiro no Atlântico Sul imprimiu na economia mercantil e cafeeira nacional, a partir de 1850. Muitas fazendas de café do sudeste brasileiro foram organizadas com capitais transferidos do setor mercantil, destacadamente do tráfico internacional de escravos24.

Em virtude do cenário formado por esses processos, as amarras do escravismo foram gradativamente afrouxadas – principalmente a partir da década de 1880, quando a maior parte do Império brasileiro já rumava definitivamente para um sistema de trabalho livre – até que os proprietários passaram, ainda que relutantes, a admitir a inevitabilidade da abolição, não obstante um poderoso grupo de fazendeiros e seus representantes terem defendido seus “direitos” até o fim.

Para além dos processos enumerados acima, ressaltamos, ainda nestes passos iniciais, que não encaramos a abolição como um evento apenas produzido pelas elites. Não a entendemos tão somente a partir das categorias e dualidades tecidas por Joaquim Nabuco. Por conseguinte, tal como evidenciam dentre outros, Warren Dean, Richard Graham, Robert Slenes, Maria Helena P. T. Machado, Célia Maria Marinho Azevedo, José Flávio Motta e Elcine Azevedo25 nas suas respectivas pesquisas, não corroboramos as formulações que atribuem pouca ênfase ao papel dos próprios escravos – ao desconsiderarem suas possibilidades e seu conhecimento do sistema geral – e que postulam ter cabido a uma elite branca, ilustrada e supostamente vanguardista a promoção da transição do trabalho compulsório para o livre no Brasil, a partir de paulatinas promulgações emancipacionistas garantidoras da legalidade e da ordem do processo. Advogamos, em contrapartida, que, por um lado, a oposição entre legalidade e radicalismo é insuficiente para apreendermos o desenrolar do processo e, por outro, que a percepção da proximidade da abolição também foi decorrente da decisiva ação e reação, à revelia do alvitre da camada dominante, dos escravos e da arraia-miúda, com as camadas populares das cidades – formado, mormente, por libertos, pardos e

24

João Manuel Cardoso de Mello, O Capitalismo Tardio: Contribuição à revisão crítica da formação e do desenvolvimento da economia brasileira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986, p. 54.

25

Esses autores e as suas análises aparecem devidamente citados em diferentes momentos da nossa pesquisa.

(32)

imigrantes paupérrimos26. Estas parcelas da sociedade participaram como atores importantes ao longo da década final da escravatura. Entraram em conflito, em diversas oportunidades, com as lideranças políticas, com os fazendeiros e bacharéis. Mostravam o seu cunho aguerrido e ofensivo nos motins urbanos (p.ex. Revolta do Vintém - 1880), em meetings abolicionistas, no planejamento e promoção de fugas de escravos, na paulatina penetração nas senzalas, nas demais ações diretas e nos confrontos de rua.

Esses processos certamente acentuaram a percepção de proximidade da abolição e fizeram com que a argumentação e as ações dos proprietários passassem a se pautar pelo arranjo de medidas preventivas, que recaiam nos estímulos à imigração, formação de adequado mercado de trabalho interno, indenização como contrapartida aos escravos libertos pela abolição (o que não ocorreu) e paz social.

Temos na emergência do colonato uma nova forma de relação de trabalho, um novo universo dinâmico de elementos originados e constituídos no âmbito da própria difusão da economia cafeeira, sobretudo, a partir do prenúncio da escassez da mão de obra escrava, passando pela acentuação da sua inelasticidade e culminando com a extinção do regime de trabalho imposto àquele que, juntamente com a terra, foi o elemento imprescindível de produção durante quase quatro séculos. A abolição e o desenvolvimento do trabalho livre constituíram, em larga medida, os pontos de confluência dos movimentos de longa e média duração transcorridos durante o do século XIX.

26

Célia Maria Marinho Azevedo direcionou sua pesquisa para a investigação do medo da rebeldia escrava por parte das elites brancas em São Paulo em Onda negra medo branco: o negro no imaginário das elites, século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Maria Helena P. T. Machado, a partir dos relatórios secretos da polícia, evidenciou que a atuação direta e organizada dos escravos contra a sua situação ocorria desde o início da década de 1880. Maria Helena P. T. Machado. Op. Cit. 2010. Elcine Azevedo. Orfeu de Carapinha: A Trajetória de Luiz Gama na Imperial Cidade de São Paulo. Campinas, SP. Ed. UNICAMP, 1999 e, da mesma autora, O direito dos escravos. Campinas, SP Ed. UNICAMP, 2010. Ver também: Warren Dean OP. Cit. e Cleveland Donald Jr., “Slavery and Abolition in Campos, Brazil: 1830-1888”, Ph. D. Diss., Cornell University, 1973; Cleveland Donald Jr., “Slave Resistance and Abolitionism in Brazil: The Campista Case, 1879-1888”, Luso-Brazilian Review, 13, 2 (1976), pp. 182-93. Por sua vez, para vislumbrarmos o movimento do abolicionismo parlamentar liberal, sobretudo de Rebouças e Nabuco, ver, por exemplo: Luiz Felipe de Alencastro. De Nabuco a Nabuco. In “Folhetim”, Folha de São Paulo, 8 de maio de 1987, caderno B, pp.6-8. Sobre o relacionamento entre escravos rebeldes e abolicionistas brancos ver: Lana Lage da Gama Lima, Rebeldia negra e abolição, Rio de Janeiro, Achiamé, 1981.

(33)

No Brasil, a constituição de uma força de trabalho ajustada às condições que emolduraram a segunda metade do século XIX e início do XX, não foi tão somente uma questão demográfica, pois o alargamento e o arranjo da força de trabalho livre originaram uma luta orientada pela atuação dos fazendeiros e pela reação dos trabalhadores, movimento delineado pelo ambiente econômico, social, político e ideológico prevalecente e que acabou por originar os contornos mais marcantes presentes nos contratos de trabalho estabelecidos27.

A partir do pano de fundo formado pelos vários elementos que acabamos de pontuar – parte dos quais revisitamos no decorrer dos capítulos subsequentes –, a presente pesquisa discute aspectos concernentes à produção e reprodução da mão de obra escrava residente em certas áreas de São Paulo, ao longo de grande parte da segunda metade do Oitocentos. Para tanto, investigamos parte do passado de São Paulo procurando entender as mudanças econômicas, demográficas e sociais que permitiram o abastecimento dos braços utilizados no eito, possibilitando a manutenção da expansão cafeeira paulista após o fim do tráfico transatlântico de escravos. Deste modo, procuramos reconstituir, a partir dos dados por nós compulsados, aspectos de um tema que, em virtude do amplo feixe de implicações decorrentes, constitui um dos mais importantes da história econômica brasileira: a transição do trabalho compulsório para o livre, no âmbito da grande lavoura paulista. Tendo essa finalidade em vista, debruçamo-nos especificamente sobre a dinâmica do tráfico interno de escravos ocorrido no Oeste Paulista.

*

Algumas importantes pesquisas já analisaram a dinâmica de muitos aspectos atinentes ao tráfico interno de escravos, sobretudo, no contexto pós Lei Eusébio de Queirós (fim do tráfico transatlântico), ou seja, quando se conformou o “problema nacional básico”28

. Ele decorreu da inelasticidade da oferta de escravos, pois o abastecimento desses restringiu-se, após 1850, aos indivíduos existentes no Brasil

27

Verena Stolcke & Michael Hall, A introdução do trabalho livre nas fazendas de café de São Paulo. Revista Brasileira de História. N. 6. 1981. Págs. 81-82.

28

(34)

Império, o que em última instância constituiu o mais sério obstáculo para a acumulação do complexo exportador cafeeiro29.

Sobretudo, a partir dos 1970, foram publicados diversos trabalhos que buscaram lançar luz sobre o comércio doméstico de escravos. Diversas questões passaram a ser investigadas, tais como: Qual a origem dos escravos desembarcados nos portos do Rio de Janeiro e Santos?; Quais as suas ocupações?; Quais foram as consequências sofridas pelas zonas exportadoras e importadoras?

A seguir, abordamos algumas pesquisas que buscaram responder essas e outras perguntas atinentes ao comércio doméstico de escravos. Vale pontuarmos que, ao longo dos capítulos subsequentes, retomaremos formulações postuladas pelos trabalhos apresentados nas páginas seguintes e incorporaremos diversas outras análises e conclusões decorrentes de outras pesquisas atinentes ao nosso tema.

A construção de respostas para essas questões constituíram o cerne do artigo de Herbert Klein The internal slave trade in nineteeth-century Brazil: a study of

slave importations into Rio de Janeiro in 1852, uma das investigações pioneiras

acerca do comércio interno de escravos no Brasil, publicado em 197130. Klein pautou suas análises a partir de registros manuscritos decorrentes do porto do Rio de Janeiro (registros da polícia carioca relativos à entrada de cativos na província). Inicialmente, chama atenção para o fato de que o comércio interno de escravos não teve início em 1850, pois, antes do fim do tráfico transatlântico, o tráfico doméstico de cativos ocorreu continuamente, sobretudo no âmbito local, intraprovincial e entre províncias contíguas. O comércio doméstico, envolvendo longas distâncias e realizado por via marítima (cabotagem), por sua vez, tornou-se relevante após a lei Eusébio de Queirós. Neste ramo, dada à dinâmica econômica do Brasil Império, as ligações entre os portos do Nordeste e as zonas cafeeiras do Sudeste assumiram

29

Cf. João Manoel Cardoso de Mello, Capitalismo Tardio. Op. Cit. Cap. I, parte II.

30

Herbert Klein, The Internal Slave Trade in Nineteenth Century Brazil: A Study of Slave Importations into Rio de Janeiro in 1852. Hispanic American Historical Review, LI, no. 4 (Nov. 1971), pp. 567-568. Posteriormente este artigo foi incorporado como capítulo em Herbert S. Klein, The Middle Passage: Comparative Studies in the Atlantic Slave Trade, Princeton, Princeton University Press, 1978.

(35)

particular importância31. Além disso, o trabalho de Klein merece destaque por evidenciar que os escravos desembarcados no RJ não foram decorrentes do contexto casa-grande e senzala da Zona da Mata, ou seja, do complexo açucareiro nordestino (ao menos não de suas propriedades mais estáveis e de maior porte), mas sim dos centros urbanos, dos serviços domésticos ou de regiões vinculadas à criação de gado32. O artigo de Klein elenca ainda importantes informações sobre o sexo, a idade, a ocupação e a origem dos escravos (África e Brasil) importados para Rio de Janeiro em 1852, além de considerações acerca dos portos de origem dos cativos desembarcados no RJ33.

Robert Slenes, em sua tese de doutoramento defendida na Universidade de Stanford em 1976, além de discutir a mentalidade da elite vinculada ao café e ao açúcar34, examinou o impacto dos fatores econômicos sobre a dinâmica demográfica e institucional, ao longo do período de declínio do escravismo no Brasil (1850-1888). Sem negar a importância de aspectos não econômicos para evolução do escravismo, o autor enfatiza que “o estudo irá mostrar que certas variáveis demográficas e econômicas tiveram relação muito próxima ao longo do século XIX

31

Idem. págs. 567-568. Para corroborar essa afirmação ver a tabela 9 do artigo do Klein que acabamos de citar: TABLE 9: Brazilian Ports of Origin of Slaves Imported into Rio de Janeiro in 1852. p. 579.

32

Klein corrobora essa conclusão com alguns documentos oficiais, quais sejam: João Mauricio Wanderley, Falla recitada na abertura da assembleia legislativa da Bahia. (Bahia, 1855), p. 38. & Marquez de Olinda, Relatório da Repartição dos Negócios do Império, 1858. (Rio de Janeiro, 1858), Anexo G, p. 6. Nestes documentos o autor constata que: “Em 1855, o presidente da Província de Bahia informou que dos 1.835 escravos exportados da província, em 1854, 836 eram dos centros urbanos, e apenas 583 eram decorrentes do trabalho agrícola e outros 416 eram desconhecidos. Três anos mais tarde, o presidente da província do Ceará também informou sobre a exportação de escravos de seu distrito. Ele relatou ao Governo central que "a maior parte desses escravos exportados não são empregados na agricultura (...). Observou que muitos dos escravos exportados eram [anteriormente] empregados em serviços domésticos ou na criação de gado.” Idem. p. 582.

33

Os registros policiais consultados por Klein mostram que três quartos dos navios que transportavam escravos eram provenientes de portos situados ao Norte do Rio de Janeiro e mais de 80% dos escravos brasileiros, cujos registros informam a província de nascimento, tinham nascido no nordeste.

34

Nesse momento, questões relacionadas ao paternalismo versus racionalidade são abordadas e as conclusões do autor contrariam argumentos frequentes presentes na literatura tradicional acerca do tema. Ademais, questões relacionadas à caracterização dos senhores de escravos como agentes pré-capitalistas ou capitalistas foram abordadas.

(36)

no Brasil e que essas relações foram, de certa forma, decorrentes dos interesses e ações dos senhores de escravos” 35

.

No que diz respeito ao tráfico doméstico, os resultados da pesquisa de Robert Slenes decorrentes, por exemplo, da análise do imposto da meia sisa (pago no momento da venda dos escravos) e das procurações – instrumento que possibilitou o deslocamento de cativos no âmbito do tráfico entre diferentes províncias do Brasil Império (sobretudo no mercado inter-regional) – abriu diversas possibilidades de estudo e indicaram fontes até então pouco exploradas.

Na segunda parte de seu trabalho, Slenes analisou a migração escrava e certos aspectos econômicos da escravidão no Brasil e, particularmente, no município de Campinas. No Capítulo III dessa parte, há a mensuração das migrações inter-regionais de escravos, sobretudo decorrentes do tráfico interno de escravos entre 1850-188836. Ainda, o autor discutiu que as mudanças no volume do tráfico inter-regional de escravos foram fundamentalmente resultado do movimento internacional dos preços dos principais itens que conformavam a pauta brasileira de exportações (café cultivado no Sudeste e açúcar e algodão cultivados no Nordeste). No bojo dessas discussões, Slenes chama atenção para o fato de que, mesmo durante os anos 1870, quando o preço do café subiu consideravelmente e os preços do açúcar e do algodão declinaram, os fazendeiros vinculados ao açúcar não se tornaram os maiores fornecedores de escravos para o Sudeste, como outras pesquisas haviam sugerido. “De fato as comunidades escravas residentes nas

plantations do Nordeste, talvez tanto quanto as do Sudeste, foram bastante

estáveis”37. A queda nos preços do açúcar e do algodão, durante os anos 1870,

acarretaram a redução da demanda por escravos no mercado inter-regional do Norte-nordeste e configuraram o redesenho desse comércio, com o direcionamento, para o Sudeste, de número significativo de escravos, sobretudo das áreas não vinculadas ao açúcar.

35

Robert Slenes, The demography and economics of Brazilian slavery: 1850-1888.Tese de doutorado. Stanford University, Stanford, 1976.P. 31.

36

Ao longo do nosso segundo capítulo, retomamos aspectos decorrentes da pesquisa do professor Robert Slenes, tais como as suas ponderações acerca do volume de escravos traficados no âmbito do tráfico inter-regional.

37

(37)

Ponderações relativas à racionalidade da atuação dos fazendeiros brasileiros acerca da tomada de decisões sobre o processo produtivo, volume e composição da sua força de trabalho, lucratividade da indústria açucareira (Pernambuco e Bahia) e cafeeira (Rio de Janeiro), particularmente entre 1850 e 1870, também estão presentes na segunda parte da pesquisa que é concluída com a construção de uma resposta para a seguinte pergunta: por que, mesmo com a crescente incerteza que perpassava a continuidade do escravismo, os fazendeiros continuaram demandando escravos durante os anos 1870? A terceira parte da tese se ocupa das taxas de natalidade e mortalidade dos escravos. A quarta e quinta foram dedicadas à apreciação de elementos fundamentais da vida dos cativos, tai como: casamento, família, mobilidade ocupacional e alforrias.

Tal como o próprio autor enfatizou, a sua investigação buscou discutir três aspectos centrais presentes na história da escravidão brasileira, entre 1850 e 1888. (i) A dinâmica econômica e demográfica relativas aos escravos, num esforço para compreender as perspectivas desses indivíduos em diferentes contextos; (ii) A natureza da relação entre senhor e escravo, particularmente nas áreas de plantation; (iii) O papel desempenhado por fatores demográficos e econômicos no declínio da escravidão38.

Uma dos principais resultados obtidos por Robert Slenes enfatiza que, após a abolição do tráfico transatlântico de escravos, não é possível falar em escravidão brasileira de forma geral, pois havia muitas diferenças, possibilidades e particularidades na vida dos grupos de escravos. Essas ficam evidentes, por exemplo, quando confrontamos escravos residentes nas áreas de plantation de açúcar e café ou entre os cativos vinculados às plantations e aqueles que viviam no meio urbano. Os escravos atrelados às grandes propriedades tinham maior possibilidade de estabelecer relações conjugais estáveis sancionadas pela igreja ou consensuais e, consequentemente, de manter um senso de identidade individual e comunitária mais forte que nas zonas não vinculadas aos cultivos de exportação39.

As maiores taxas de manumissão entre os cativos urbanos em relação àqueles

38

Idem. p. 574.

39

(38)

associados às grandes propriedades também conformou um dos elementos de diferenciação40.

Robert Conrad (1978) dedica um capítulo do livro Os últimos anos da

escravidão no Brasil; 1850-188841 ao estudo do comércio de escravos

interprovincial. Inicialmente, chama atenção para as semelhanças entre esse tráfico no Sul dos EUA e no Brasil, concernentes à evolução dos preços dos cativos, à migração compulsória dos escravos (acompanhados pelos seus senhores ou não), à abertura de novas áreas de cultivo de algodão (EUA) e café (Brasil) e à reafirmação do compromisso com a escravatura. Em seguida, discorre sobre a relevância do comércio interno de escravos que antecedeu o fim do tráfico transatlântico. Enfatiza que, durante séculos, os cativos foram deslocados para as áreas onde eram mais necessários e onde alcançavam melhores preços. Ao longo do século XVI e XVII (neste último sobre a batuta dos bandeirantes paulistas), os escravos índios e negros foram direcionados para o cultivo do açúcar no Nordeste. No Setecentos, muitos escravos negros foram encaminhados para as zonas de exploração de ouro das Gerais e Mato Grosso. A decadência da mineração e o evolver da cafeicultura promoveu, desde a primeira metade do XIX, deslocamentos intra e inter-regionais42.

Tal como o autor enfatiza, com a interrupção do tráfico transatlântico, o comércio interno de escravos foi grandemente impulsionado e passou a ser

40

Há diversas outras contribuições importantes do professor Robert Slenes, assim como dos demais autores que aparecem pontualmente ao longo dessas páginas introdutórias. Vale frisarmos que no decorrer da nossa pesquisa encaminharemos os leitores para diversos outras analises centrais acerca dos aspectos que formam a nossa pesquisa. Aproveitamos essa nota para chamarmos atenção para outro trabalho do Professor Slenes. Em texto mais recente, Slenes além de retomar diversos aspectos relevantes presentes na literatura acerca do tráfico interno de escravos, aponta as proximidades e dessemelhanças que existiram entre o comércio de escravos interno brasileiro e o ocorrido no sul dos EUA. Ademais há o exame dos padrões econômicos e demográficos que perpassam o funcionamento do mercado doméstico de escravos e seus impactos na experiência dos indivíduos traficados. Além disso, Slenes direciona a sua atenção para um dos elementos mais característicos do comércio de cativos ocorrido no Brasil na segunda metade do século XIX: a sua existência em um cenário de crescente mobilização nacional e internacional contra o trabalho compulsório. Robert Slenes, The Brazilian Internal Slave Trade, 1850-1888: Regional Economies, Slave Experience, and the Politics of a Peculiar Market. In Walter Johnson (Org.) The Chattel Principle: Internal Slave Trades in the Americas. Yale University Press, 2004.

41

Robert Conrad, Os últimos anos da escravidão no Brasil: 1850-1888, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

42Segundo Conrad, “em 1842, o movimento de escravos entre as províncias já era suficientemente

amplo para precisar de regulamentos e, em 1847, uma grande seca, na província do Ceará e em sua volta, já aumentara grandemente o fluxo espontâneo dos escravos do Norte para o sul”. Idem. P. 65.

Referências

Documentos relacionados

Com a projeção da inflação para 12 meses, observa-se que o índice de Pavimentação agora se encontra na última posição, projetando um aumento de 0,5% de inflação anual, ao

Dessa forma, esse trabalho procurou identificar as principais vulnerabilidades existentes na comunidade, e que dificultam a implementação de medidas de prevenção do câncer de colo

Valvole a labbro: Viton® (FPM); su richiesta: Dutral® (EPDM), NBR, Silicone Valvole a sfera: su richiesta: Pyrex, AISI 316, Ceramica, PTFE. MATERIAUX EN CONTACT

acumulação ilegal de cargos e empregos apontados na Solicitação de Auditoria nº 1782/2003/GAB/CGURJ/CGU-PR, da Controladoria Geral da União. A Comissão Especial de Acumulação

 Transitório oscilatório de alta frequência : componente de frequência maior do que 500 kHz e com uma duração típica medida em microssegundos (ou

Porém, quanto ao aprendizado, verifica-se bons resultados de resistência à compressão do cimento fosfato de zinco e amálgama quando tra- balhados por alunos do primeiro

Existem, basicamente, dois processos de obtenção de infraestruturas metálicas em prótese fixa: um processo sem a utilização de pontos de solda – Monobloco -

Livro 03- Por dentro da História, este material foi elaborado pelos autores Pedro Santiago (Mestre em História Social do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas-