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Núcleo de Estudos em Concorrência e Sociedade - USP RESENHA DE CONCLUSÃO DO CURSO SEMESTRAL. Segundo Semestre de 2017

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Núcleo de Estudos em Concorrência e Sociedade - USP

RESENHA DE CONCLUSÃO DO CURSO SEMESTRAL

Segundo Semestre de 2017

João Ricardo Oliveira Munhoz

Nº USP 8998 165

A ideia de uma "sociologia da concorrência" é algo que a priori causa certo estranhamento se tomamos por base uma acepção convencional de

sociologia, que nos remete à ciência que estuda as relações sociais

enquanto relações entre pessoas. Seja pensando na categorização destas relações, a partir dos tipos ideais de Weber e suas formas sociais de dominação, ou na análise dos próprios liames que as constituem, como vemos na descrição dos laços de solidariedade que marca o pensamento de Durkheim, a forma com que encaramos a sociologia tradicionalmente não costuma incluir elementos mais complexos, como empresas, enquanto os próprios sujeitos e agentes do estudo sociológico. Nos elementos sociológicos extraídos do pensamento marxista ainda que possamos encontrar a análise do comportamento dos agentes econômicos, esta se dava sob o prisma das relações sociais de classe, não tendo como objeto central a compreensão da concorrência entre os entes do mercado, mas sim a questão da luta de classes. Observa-se, contudo, que a partir destas relações de classe podemos encontrar alguns elementos relevantes para a sociologia da concorrência, como nos mostra o próprio Adam Smith em passagem que já descrevia alguns dos fundamentos da ação colusiva dos agentes econômicos:

Os trabalhadores desejam ganhar o máximo possível, os patrões pagar o máximo possível. Os primeiros procuram associar-se

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entre si para levantar os salários do trabalho, os patrões fazem o mesmo para baixá-los. Não é difícil prever qual das duas partes, normalmente, leva vantagem na disputa e no poder de forçar a outra a concordar com as suas próprias cláusulas. Os patrões, por serem menos numerosos, podem associar-se com maior facilidade.1

Ainda que essa perspectiva aborde temas interessantes sob o ponto de vista de uma convergência entre a sociologia e a concorrência - como o comportamento cooperativo de indivíduos orientado a uma finalidade comum - ela não compreende diretamente elementos essenciais presentes no complexo de relações sociais abrangidas pela sociologia concorrencial - até porque possuem escopos e campos de estudo distintos - como por exemplo, a figura do consumidor ou então as categorias utilizadas como lentes de classificação dos fenômenos concorrenciais, quais sejam a competição, o conflito e a concorrência. Louis Stern, antes de dissertar sobre tais categorias, compara os objetos da sociologia e da economia. Na primeira identifica o estudo de agregados sociais a partir de (i) uma organização institucional (ii) orientada a determinados valores presentes no sistema social. Já na segunda, observa o processo racional de tomada de decisões considerando a alocação de recursos escassos.

Dessa forma, o autor se propõe a unir a análise do processo decisório dos agentes econômicos à compreensão destes enquanto "entidade social", de sorte a ter em vista, inclusive, as medidas em que as interações promovidas no ambiente concorrencial são aptas a atender a um interesse público.

A competição é trazida sob a ideia de uma oposição não em si, mas centrada num determinado objeto. Isto é, não se trata do antagonismo imediato entre os agentes econômicos, mas sim de uma contraposição

1SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1988. p.

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mediada por um objeto comum buscado por ambos. Nela encontram-se três características principais:

(i) A escassez dos recursos, que enseja a própria ratio da competição, de forma que sua fartura reduz a necessidade da disputa para seu compartilhamento.

(ii) O caráter indireto, visto que, como já indicado, a oposição entre os agentes é mediada pela disputa pelo consumidor. Isto é, busca-se a superação dos concorrentes e o consequente domínio de mercado para assim ter pleno acesso aos consumidores.

(iii) A natureza impessoal, decorrente da própria característica indireta da competição, pois os agentes têm sua atuação antagônica voltada ao "terceiro elemento", geralmente o consumidor, se opondo ao concorrente apenas porque visa atingir este último.

A característica essencial da competição, é, contudo, a já mencionada centralidade no objeto externo, nas palavras de Stern, "in which a third

party controls the goals". Assim, há um compartilhamento de objetivos

entre os competidores, mas um antagonismo na busca por aquele em função da escassez.

Já o conflito apresenta qualidades distintas, visto que é marcado pela oposição per se entre as partes, desprovida de um terceiro elemento externo, pautada na imediação do antagonismo. Uma das principais motivações do conflito, em seara concorrencial, é o controle, do lado de um dos envolvidos, dos recursos necessários para a persecução dos objetivos dos agentes. Dessa forma, a eliminação direta da parte dominante é a condição de ingresso no mercado, e, por tanto, de instauração de uma relação de competição.

A cooperação, por sua vez, é a combinação - assim como na competição - centrada num objeto comum e sustentada pelos acordos entre os participantes do mercado.

Coser concebe a cooperação em âmbito concorrencial como a forma mais instável de socialização, considerando muitas vezes a natureza de

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contraposição que subjaz entre os cooperantes - a cooperação antagônica à qual remete Simmel - e a própria característica conjuntural que enseja a combinação, nascente em determinado cenário de mercado, mas que muitas vezes se altera e faz com que aquele acordo perca seu próprio sentido e, por conseguinte, sua estabilidade.

Observa-se que estas três categorias, como bem indica Stern, podem estar simultaneamente presentes nas tomadas de decisões de um agente. Ora, a ação coordenada entre participantes do mercado para eliminar um player que não integra o acordo envolve tanto a cooperação, do lado dos cartelizados e o conflito, pela busca por eliminação direta e "pessoal" do ente ingressante. Ora, Lewis Coser, ao mencionar Cooley, tange a inexorabilidade da relação entre conflito e cooperação.

Todavia, é mister ressaltar que estes conceitos não podem ser valorados abstratamente, como nos aponta Coser. Um juízo de valor sobre a ideia de competição só tem sentido enquanto critério de análise da situação concreta - isto é, da relação social à qual se refere.

Como exemplo, vemos que socialmente, a cooperação geral de indivíduos de uma sociedade por uma finalidade comum é tradicionalmente tomada como algo "positivo", ao passo que a cooperação de agentes econômicos costuma resultar em uma série de danos ao interesse coletivo, de modo que é tipificada como crime. Portanto, o que se quer dizer é que não se pode considerar "cooperação" ou "competição" como positivos ou negativos em si mesmos, mas tão somente quando inseridos numa relação social concreta.

Para além das três categorias já citadas, o mesmo vale para a ideia de "traição", que, conforme aponta George Simmel ao se debruçar sobre a valoração moral deste conceito e daquele que o autor chama de "seu oposto lógico", o segredo.

Se a ideia de traição é acompanhada, tradicionalmente, nos costumes sociais de uma carga valorativa negativa, no âmbito concorrencial pode se revestir de um valor distinto. A celebração de Acordos de Leniência é

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baseada no ato de trair determinada forma de interação cooperativa entre agentes econômicos. Assim, a traição alinha-se com o interesse público na medida em que permite a apuração de práticas ilícitas.

A revelação de um segredo - e o próprio trânsito de informação em matéria de competição - merecem, como visto, especial atenção sob o prisma da sociologia da concorrência.

A inserção de um terceiro elemento - o objeto da competição, a "terceira parte amada", como indicam Ramos e Werron - não só qualificam a competição enquanto tal, as trazem dois planos de análise do papel da informação em matéria concorrencial, e por consequência, ensejam distintas formas de tutela jurídica.

Temos o plano de informações entre os próprios concorrentes e entre os agentes econômicos e os consumidores, o público alvo. A transmissão de informações entre competidores é algo que suscita consideráveis preocupações concorrenciais, e tende a ser enquadrada como ilícito, tendo em conta a grande preocupação do CADE com o fornecimento de "informações concorrencialmente sensíveis". Não por outro motivo, a autarquia fornece uma série de instrumentos para assegurar confidencialidade de determinados dados apresentados nos processos em curso.

Já no plano de informações entre os agentes econômicos e o "público", há sempre uma busca por parte dos primeiros em obter o máximo de conhecimentos possíveis em relação aos primeiros, para assim adaptar sua produção à demanda efetiva existente no mercado. Os autores até trazem as "figuras intermediárias", cujo papel é identificar as expectativas desse público. O maior domínio de informações sobre o objeto da competição permite a um agente econômico atendê-lo com maior eficiência, e portanto em maiores condições de superar seus concorrentes.

Assim, vemos novamente como uma categoria pode ter uma valoração distinta, não somente em termos sociais, mas também no aspecto

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jurídico, conforme esta se insere nas relações travadas entre os entes - indivíduos, empresas e/ou grupos formados por ambos.

Referências

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