Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
Órgão Segunda Turma Recursal DOS JUIZADOS ESPECIAIS DO DISTRITO FEDERAL
Processo N. RECURSO INOMINADO 0702206-30.2017.8.07.0017
RECORRENTE(S) ANDREZA NASCIMENTO DE SOUSA e MARIA LOURDES FERREIRA NASCIMENTO
RECORRIDO(S) ADILSON ALMEIDA DOS SANTOS
Relator Juiz ARNALDO CORRÊA SILVA
Acórdão Nº 1138569
EMENTA
AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
E JULGAMENTO PRESIDIDA POR SERVIDORA E NÃO PELO JUIZ. INCOMPETENTE. NECESSIDADE DE PRESIDÊNCIA POR JUIZ COMPETENTE. SENTENÇA NULA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
I - Verifica-se que o áudio anexado nos ID 5995514 e ID 5995509 refere-se à Audiência de Instrução e Julgamento. É possível observar que a audiência foi presidida por servidora do Juizado Especial Cível e Criminal do Riacho Fundo, do início ao fim, o que é causa de nulidade absoluta do ato.
II - No sistema dos Juizados Especiais Cíveis, o art. 37 da Lei 9.099/95 prescreve que: “A instrução poderá ser dirigida por Juiz Leigo, sob a supervisão de Juiz Togado”. Conduto, pelo que existe nos autos, a instrução foi presidida por servidora, a qual não tem nomeação como “juíza leiga”.
III - A função do servidor público do Tribunal é apenas a da lavratura de termo que conterá, em resumo, o ocorrido na audiência, sob ditado do juiz, conforme artigo 367 do CPC/2015.
IV - Em que pese a Ata da Audiência constar que o ato teria sido presidido pelo Juiz Sentenciante, o contrário ficou comprovado no áudio que gravou a audiência, donde se conclui que sua excelência não presidiu e nem supervisionou o ato processual.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ARNALDO CORRÊA SILVA - Relator, ALMIR ANDRADE DE FREITAS - 1º Vogal e JOÃO LUIS FISCHER DIAS - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Juiz ALMIR ANDRADE DE FREITAS, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. RECURSO PROVIDO. SENTENÇA ANULADA. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 21 de Novembro de 2018 Juiz ARNALDO CORRÊA SILVA Relator
RELATÓRIO
Ação de indenização, na qual ambas as rés interpuseram recurso inominado contra a sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais para condená-las a pagar indenização por dano material em decorrência de acidente de veículo.
O autor alegou que na inicial que teve seu veículo abalroado por culpa das autoras (proprietária e condutora), atribuindo a culpa à condutora do veículo por não ter respeitado a preferência. Por isso, pugnou pela condenação das rés a pagar indenização por danos materiais e morais.
Nas suas razões recursais, as rés (proprietária e condutora) arguem a nulidade da audiência de instrução e julgamento, alegando ter sido ela presidida por pessoa incompetente para tal, pugnando pela nulidade da sentença.
A primeira requerida alega a incompetência do juizado especial em decorrência da necessidade de prova pericial, fala sobre a ausência de prova da responsabilidade das recorrentes e a ausência de prova do dano causado. A segunda requerida argumenta sobre o cerceamento de defesa e ilegitimidade passiva.
Contrarrazões apresentadas, defendendo a legalidade dos atos praticados e atribuindo a má-fé às recorrentes.
É o relatório.
VOTOS
O Senhor Juiz ARNALDO CORRÊA SILVA - Relator
Em preliminar, defenderam a nulidade da sentença sob o fundamento de que a audiência de instrução e julgamento não foi presidida por juiz togado e sim pela Secretária do Juiz. Sendo assim, para se permitir o enfrentamento do mérito do recurso, a preliminar tem de ser enfrentada por se tratar de questão processual prejudicial.
DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. Verifica-se que o áudio anexado nos ID 5995514 e ID 5995509 refere-se à Audiência de Instrução e Julgamento. É possível observar que a audiência foi presidida por servidora do JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL DO RIACHO FUNDO, do início ao fim, o que é causa de nulidade absoluta do ato.
O CPC/2015, em seus artigos 358 e 359, prescreve que o juiz declarará aberta a audiência de instrução e julgamento no dia e na hora designados e, instalada a audiência, tentará conciliar as partes. O artigo 364 determina que o juiz dará a palavra ao advogado do autor e ao do réu após a instrução. Por fim, o artigo 366 prevê que o juiz proferirá sentença em audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias quando encerrado o debate ou oferecidas as razões finais.
No sistema dos Juizados Especiais Cíveis, o art. 37 da Lei 9.099/95, prescreve que: “A instrução poderá ser dirigida por Juiz Leigo, sob a supervisão de Juiz Togado”. Conduto, pelo que existe nos autos, a instrução foi presidida por servidora, a qual não tem nomeação como “juíza leiga”. Vejamos o que a lei de regência dos juizados prescreve a respeito da produção da prova:
Das Provas
Art. 32. Todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não especificados em lei, são hábeis para provar a veracidade dos fatos alegados pelas partes.
Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
Art. 34. As testemunhas, até o máximo de três para cada parte, comparecerão à audiência de instrução e julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, independentemente de intimação, ou mediante esta, se assim for requerido.
§ 1º O requerimento para intimação das testemunhas será apresentado à Secretaria no mínimo cinco dias antes da audiência de instrução e julgamento.
§ 2º Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz poderá determinar sua imediata condução, valendo-se, se necessário, do concurso da força pública.
Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir técnicos de sua confiança, permitida às partes a apresentação de parecer técnico.
Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado.
Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no essencial, os informes trazidos nos depoimentos.
Art. 37. A instrução poderá ser dirigida por Juiz leigo, sob a supervisão de Juiz togado”.
conciliação e até tomar depoimentos, contudo a instrução caberá ao Juiz. Confira-se:
Art. 15. Serão designados, na forma da legislação dos Estados e do Distrito Federal, conciliadores e juízes leigos dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, observadas as atribuições previstas nos arts. 22, 37 e 40 da Lei no9.099, de 26 de setembro de 1995.
§ 1 Os conciliadores e juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros,
preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de 2 (dois) anos de experiência.
§ 2 Os juízes leigos ficarão impedidos de exercer a advocacia perante todos os Juizados Especiais da Fazenda Pública instalados em território nacional, enquanto no desempenho de suas funções.
Art. 16. Cabe ao conciliador, sob a supervisão do juiz, conduzir a audiência de conciliação.
§ 1 Poderá o conciliador, para fins de encaminhamento da composição amigável, ouvir as partes e testemunhas sobre os contornos fáticos da controvérsia.
§ 2 Não obtida a conciliação, caberá ao juiz presidir a instrução do processo, podendo dispensar novos depoimentos, se entender suficientes para o julgamento da causa os esclarecimentos já constantes dos autos, e não houver impugnação das partes”.
Evidentemente, como a prolação de sentença é ato privativo de Juiz Togado, ele é que deveria colher a prova em audiência de instrução.
A função do servidor público do Tribunal é apenas a da lavratura de termo que conterá, em resumo, o ocorrido na audiência, sob ditado do juiz, conforme artigo 367 do CPC/2015.
Assim sendo, a audiência de instrução e julgamento deverá ser presidida pelo Juiz, seja ele Leigo ou Togado, sendo recomendável sua presidência pelo Juiz de Direito que se encontra lotado no juízo. Pelo que consta dos autos, aquele juizado tem Juiz de Direito Titular, não havendo razão para ele não presidir as audiências de instrução de seu juízo. Do contrário, é de se reconhecer a nulidade do ato processual diante da afronta à legalidade, o que leva a anulação do processo a partir da realização da audiência.
Em que pese a Ata da Audiência constar que o ato teria sido presidido pelo Juiz Sentenciante, o contrário ficou comprovado no áudio da audiência, donde se conclui que sua excelência não presidiu e nem supervisionou o ato processual.
Em face do exposto, conheço do recurso das rés e lhes dou provimento para decretar a nulidade do processo a partir da realização da audiência de instrução e, consequentemente, dos atos posteriores, a fim de que se realize a instrução conforme previsto na lei.
Sem custas em razão da concessão da gratuidade de justiça. Sem honorários em razão do provimento recursal.
. É como voto
O Senhor Juiz ALMIR ANDRADE DE FREITAS - 1º Vogal Com o relator
O Senhor Juiz JOÃO LUIS FISCHER DIAS - 2º Vogal Com o relator
DECISÃO